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O ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, anunciou nesta quinta (30), na capital paulista, mudanças na aplicação da Lei Federal de Incentivo à Cultura, conhecida como Lei Rouanet.

Com as alterações, a nova instrução normativa da lei teve o número de artigos reduzido de 136 para 73.

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Em coletiva no Instituto Tomie Ohtake, onde participava do 9.º Encontro do Fórum Brasileiro pelos Direitos Culturais, Sá Leitão disse que as mudanças trazem regras mais claras, que visam promover dinamismo e desburocratização ao processo, desde a aprovação do projeto até a prestação de contas. A ideia é atrair mais investimentos para o setor cultural. A Lei Rouanet é o principal mecanismo de fomento à cultura no país.

Entre os itens alterados, está a possibilidade de o incentivador do projeto promover sua marca com ações de marketing e de reforço na promoção dos projetos apoiados, o que antes era considerado vantagem indevida. De acordo com o Ministério da Cultura, "não fazia sentido restringir que as empresas fizessem essas ações relacionadas ao seu patrocínio, usando recursos próprios".

"O mecanismo de fiscalização será a análise rigorosa do orçamento dos projetos. Desta forma, teremos clareza de que não há previsão de destinação de recurso incentivados para ações de marketing das empresas", disse o ministro.

Atuação na área

De acordo com a norma anterior os interessados precisavam comprovar atuação em área cultural relacionada ao projeto, exigência que agora caiu, admitindo projetos de empreendedores recém inseridos no mercado.

"Isso não propicia irregularidades nem fraudes, porque todo o processo de habilitação e análise de orçamento e fiscalização permanece. O que observamos é que essa exigência era barreira de entrada para jovens. Queremos estimular que mais jovens pensem, criem e produzam projetos de cultura".

A partir da nova instrução, os projetos de valor superior a R$ 3 milhões devem apresentar estudo de impacto econômico, para que a cultura seja reconhecida como geradora de valor econômico e social, além de criar indicadores de melhores práticas para a execução de projetos culturais.

"Precisamos mudar a forma como encaramos as atividades culturais e criativas no país. A cultura é um dos mais importantes segmentos da economia brasileira, respondendo por 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB)".

Incentivo

As novas regras permitem ainda o incentivo ao investimento em regiões estados com histórico de poucos projetos culturais. Além das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que já estão contempladas na norma anterior, passarão a ser contempladas a Região Sul e os estados de Minas Gerais, que terão os valores aumentados em relação a São Paulo e Rio de Janeiro.

"Criamos alguns indutores, porque estabelecemos limites de números de projetos e valores que os proponentes podem dispor de incentivos e, no caso das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sul, além dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, o limite é mais amplo para estimular os patrocinadores e os produtores culturais. "Por meio dessa instrução normativa, há mais vantagens para projetos culturais nessas regiões", disse o ministro

Foi feito também ajuste de teto da remuneração do proponente, que antes era limitado a 20% do valor total do custo do projeto e agora será limitado a 50%. Os serviços realizados por cônjuge, companheiro, parentes em linha direta ou colateral até o segundo grau, parentes com vínculo de afinidade com o proponente e em empresa coligada que tenha sócio em comum estarão inseridos nesse teto.

Segundo Sá Leitão, também será reajustado o valor do teto dos projetos, de acordo com o tipo de empresa. Isso ocorrerá porque nos últimos anos o teto tem variado em torno de R$ 1,150 bilhão e a expectativa é a de que haja manutenção desse patamar. "O fato é que esse teto não vem sendo atingido e uma das metas com as quais nós estamos trabalhando e a de buscar atingir a meta de 100% de utilização".

Projeto de lei

De acordo com Sá Leitão, até 2018 o ministério vai enviar um projeto de lei ou medida provisória com sugestões de alterações na Lei Rouanet que não podem ser feitas por meio de instrução normativa. O objetivo é incluir na lei mecanismos de fomento como a criação de fundos patrimoniais permanentes de financiamento de museus, companhias de dança, teatro e orquestras (edownment) e o financiamento coletivo de projetos realizados com incentivo fiscal (crowdfunding).

"Hoje, há uma excelente interlocução entre Ministério e Congresso Nacional e nós temos muita clareza do que queremos. Ao longo desse processo de elaboração da instrução normativa, chegamos a várias medidas que não puderam ser incorporadas, porque necessitavam de amparo legal. Será necessário fazer um debate e de pactuação para que haja um encontro de vontades e visões, a fim de que possamos ter um projeto de lei de consenso. Queremos modernizar a Lei Rouanet, mantendo suas características", afirmou.

A chamada pública, promovida pela Riotur, para patrocinar o Carnaval 2018 do Rio de Janeiro se encerrou na última sexta-feira (27) e teve uma única proposta da Uber. A empresa apresentou uma proposta no valor de R$ 10 milhões, captados através da Lei Rouanet, para assumir integralmente os encargos do evento.

A mesma oferta foi lançada durante o primeiro chamamento, realizado em agosto. A proposta será analisada pela comissão julgadora para ser oficializada. Do valor proposto, R$ 6,5 milhões são destinados a 13 escolas de samba do grupo especial e o restante do montante vai para a montagem da infraestrutura dos desfiles do grupo de acesso.

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Em entrevista ao site Extra, o presidente da Riotur, Marcelo Alves, falou que a proposta passará por uma análise minuciosa e, após o resultado, será oficializada. "Estamos felizes com outra resposta positiva à nossa iniciativa, que trouxe ainda mais transparência ao processo comercial do carnaval", afirmou.

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Durante a cerimonia de abertura da 11 Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, nesta sexta (6), o ministro da Cultura, Sérgio Leitão, falou em defesa da Lei Rouanet. Ele lembrou da importância do instrumento que viabiliza projetos culturais há quase três décadas no Brasil e assegurou que, apesar de necessitar de algumas melhorias, esta é uma lei que funciona.

O ministro iniciou falando sobre como a lei Rouanet vem sendo criticada e o quanto o governo brasileiro gasta com ela: "A nossa querida lei federal de incentivo à cultura, a Rouanet, vem sendo muito combatida. Ela foi eleita como a 'Geni' do país, como a responsável por todos os males do Brasil quando ela, e a Lei do Audiovisual, somadas, representam apenas 0,64% de toda renúncia fiscal a nível federal". Leitao também lembrou que, nos últimos 26 anos, a Rouanet tem sido o único fundo de incentivo à cultura nacional e sem ela o país seria "muito mais pobre e infeliz".

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Sérgio Leitão assegurou que seria impossível que uma lei tão longeva estivesse livre de problemas e que muitos destes teriam sido criados por gestões anteriores à sua. "Precisamos modernizá-la para que ela continue funcionando e com muito mais eficácia e resultados para todos", disse.

Um musical sobre a banda Los Hermanos irá sair do papel. O espetáculo ganhou o título de 'Pormenores - Los Hermanos, O Musical', ainda provisório, e recebeu autorização para captar, através da Lei Rouanet, R$ 8.374.290 em recursos para a produção do projeto.

De acordo com a descrição no site da Lei Rouanet, o musical terá cenas e esquetes inspirados nas músicas do quarteto formado por Marcelo Camelo, Rodrigo Barba, Rodrigo Amarante e Bruno Medina, como "Cara Estranho" e "Todo o Carnaval Tem Seu Fim". A direção ficará por conta de João Falcão e a produção musical será de Alexandre Kassin.

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A ideia é que as apresentações ocorram no Rio de Janeiro, na estreia, e sigam para São Paulo, Belém, Recife, Fortaleza, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

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Concentradas em um pacote de mudanças, que vão desde a participação coletiva nos processos de fiscalização de projetos culturais até a regionalização de investimentos, novas regras divulgadas pelo Ministério da Cultura alteram a Lei Rouanet (Lei 8.313/91). Além de definir limites de incentivo e prestação de contas em tempo real para empresas, artistas e produtores culturais, influenciam até o público. O valor médio de ingressos, catálogos ou livros passa a ser R$ 150.

Após denúncias de fraudes, investigadas pela Operação Boca Livre, em outubro de 2016, em projetos aprovados pela Lei Rouanet (Lei 8.313/91), o Ministério anunciou as mudanças na legislação, reunidas em uma nova instrução normativa (1/2017). De acordo com o Ministério da Cultura, cerca de R$ 16 bilhões foram captados por meio da Lei Rouanet. Nos últimos 20 anos, cresceu quase 100 vezes a captação de recursos, de R$ 111 milhões, em 1996, para R$ 1,13 bilhão, em 2016.

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Veja os principais pontos da lei e o que mudou:

O que é a Lei Rouanet?

Criada em 1991, a Lei de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) é conhecida por sua política de incentivos fiscais para projetos e ações culturais: por meio dela, cidadãos (pessoas físicas) e empresas (pessoas jurídicas) podem destinar para esses fins parte do Imposto de Renda devido.

O mecanismo de incentivos fiscais da Lei Rouanet é apenas uma forma de estimular o apoio da iniciativa privada ao setor cultural. Ou seja, o governo abre mão de parte dos impostos para que esses valores sejam investidos na Cultura.

Para que setores vale a Lei Rouanet?

A lei define o enquadramento com base em segmentos culturais, que são: artes cênicas; livros de valor artístico, literário ou humanístico; música erudita ou instrumental; exposições de artes visuais; doações de acervos para bibliotecas públicas, museus, arquivos públicos e cinematecas, bem como treinamento de pessoal e aquisição de equipamentos para a manutenção desses acervos; produção de obras cinematográficas e videofonográficas de curta e média metragem e preservação e difusão do acervo audiovisual. Também estão na lista a preservação do patrimônio cultural material e imaterial e a construção e manutenção de salas de cinema e teatro – que poderão funcionar também como centros culturais comunitários, em municípios com menos de 100 mil habitantes.

Teto de valor do ingresso e cotas

O valor médio máximo dos ingressos será R$ 150, o que equivale a três vezes o benefício do vale-cultura, R$ 50. A cota de 30% de ingressos distribuídos gratuitamente e a de 20% das entradas com preço limitado ao valor do vale-cultura não foram alteradas.

Regras para propor projetos

O proponente deve comprovar ter realizado, nos dois anos anteriores, projeto em área cultural conexa à proposta apresentada. Assim, se o produtor não tiver realizado projeto na área de música nos últimos dois anos, ele não poderá inscrever um novo projeto nesta área utilizando sua pessoa jurídica, e terá de buscar empresa que tenha atuado na área específica nos últimos 24 meses.

Serão liberados da exigência produtores que estejam se inscrevendo pela primeira vez; nesse caso, o ministério delimita um teto de R$ 200 mil por projeto. Antes, o proponente devia comprovar apenas sua atuação na área cultural nos dois anos anteriores, mas sem especificação da área.

Limites dos proponentes

Para distribuir a renúncia fiscal do governo, o ministério estabeleceu novos limites que variam de acordo com o proponente, ou seja, microempresários e pessoas físicas poderão pedir até R$ 700 mil com até quatro projetos por ano. Na outra ponta, sociedades limitadas e outras pessoas jurídicas poderão propor até R$ 40 milhões, com no máximo 10 projetos.

Custo dos projetos

Cada projeto poderá custar até R$ 10 milhões, e a receita bruta com produtos culturais não poderá ser maior do que o custo total do projeto aprovado pela pasta da Cultura. No máximo 20% poderão ser gastos com divulgação.

Além disso, o produto cultural, seja espetáculo, show, teatro, deverá custar no máximo o equivalente a R$ 250 por pessoa do público. Ou seja, um produto com o custo máximo de R$ 10 milhões deverá ter público de 40 mil pessoas para estar dentro da legislação. O objetivo é evitar que projetos muito onerosos atendam a um público restrito.

Valor máximo de captação

Foi estabelecido o valor máximo de captação de R$ 10 milhões por projeto, com limite de R$ 40 milhões a projetos simultâneos de um mesmo proponente. A exceção ao limite (R$ 10 milhões) são projetos de temática de patrimônio, da área museológica e Planos Anuais, que não terão limite do valor.

Teto para projeto audiovisual

Com relação a projetos de audiovisual, serão fixados tetos para projetos de diferentes formatos: R$ 800 mil para média-metragem; R$ 600 mil para mostras e festivais, e R$ 50 a R$ 300 mil para sites e séries na web.

Limite de lucro por projeto

De acordo com a nova instrução, o valor total da receita bruta de cada produto cultural incentivado não pode ser superior ao incentivo fiscal previsto para o projeto.

Incentivos regionais

A pasta também instituiu incentivos regionais. Atualmente, menos de 10% dos projetos apoiados por incentivo fiscal estão nas regiões Norte (0,8%), Nordeste (5,5%) ou Centro-Oeste (2,6%). Os projetos nas três regiões terão limite máximo de R$ 15 milhões, sendo que a divulgação poderá chegar a 30% desse valor. Nessas regiões, o limite de projetos por proponente será flexibilizado. Será possível captar 50% a mais do que o limite estabelecido para cada proponente. A maior parte dos incentivos está no Sudeste (80%) e Sul (11%).

Prestação de contas

Pelas novas regras, quando um projeto é aprovado, uma conta no Banco do Brasil é aberta, e a movimentação dos recursos poderá ser acompanhada em tempo real. A movimentação desses recursos poderá ser visualizada online, e os dados serão disponibilizados no Portal da Transparência. Não será mais necessário o envio de notas fiscais. O pagamento em cheque não será mais utilizado. Os recursos passam a ser movimentados por cartão magnético, e os proponentes passam a ter direito de fazer saques de até R$ 1 mil por dia.

Antes disso, o limite de saque era de R$ 100 por dia e não eram utilizados cartões para movimentar o dinheiro. Além disso, a prestação de contas era manual.

Teto para cachês artísticos

A norma determina que os valores dos cachês sejam no máximo R$ 30 mil para artista ou modelo solo (moda) e R$ 60 mil para grupos artísticos ou de modelos. No caso de orquestras, R$ 1,5 mil por músico e até R$ 30 mil ao maestro. Custos relacionados a direitos autorais e conexos continuam limitados a 10% do total do projeto. Com isso, o Ministério oficializa uma exigência prévia da Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) de 2013. Valores maiores dependerão de aprovação da CNIC – órgão colegiado que subsidia as decisões do Ministério da Cultura na aprovação dos projetos submetidos à Lei Rouanet.

Regionalização

Segundo o ministério, 80% dos projetos incentivados pela Rouanet estão na Região Sudeste. Para propostas a serem realizadas integralmente no Nordeste, Norte e Centro-Oeste, o teto de captação por projeto é 50% maior, ou seja, de R$ 15 milhões. Produtores que atingirem o limite de R$ 40 milhões poderão apresentar novos projetos de até R$ 20 milhões se eles se destinarem a essas regiões. Para tais projetos, os custos de divulgação também podem ultrapassar os 20% do valor do projeto e chegar a 30%.

O cineasta pernambucano Kleber Mendonça Filho será investigado pelo Ministério Público Federal por possíveis atos de improbidade administrativa. O inquérito foi aberto no último dia 9. O processo é fruto de uma denúncia anônima, recebida pelo órgão, ainda em novembro do ano passado.

O diretor é acusado de acúmulo de funções. Durante as filmagens do longa Aquarius, Kleber era coordenador de Cinema da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), cargo que exigia dedicação exclusiva. A ação investigará a compatibilidade entre a função no órgão público e o trabalho no filme.

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Outra acusação é a inscrição de Aquarius no Sistema de Acompanhamento de Leis de Incentivo a Cultura e sua aprovação pela Agência Nacional de Cinema (Ancine) para captação de recursos da Lei de Audivisual. Segundo o órgão, a inscrição foi feita pela produtora Cinemascópio Produções Cinematográficas, que tem Kleber como detentor de 48%. A ação também aponta o cineasta como sócio administrador da Domínio Público Ltda. O regime dos servidores da União veda a participação de funcionários em gerência ou administração de sociedade privada.

Levando isso em consideração, o Ministério Público Federal questiona o recebimento de incentivos por essas empresas. Segundo o órgão, servidor público do Ministério da Cultura não pode receber incentivo pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que regula a Lei Rouanet.

Aquarius foi alvo de polêmica no Festival de Cinema de Cannes de 2016, quando Kleber Mendonça Filho e o elenco do filme protestaram contra o impeachment de Dilma Rousseff. Na ocasião foram exibidos cartazes que exibiam frases como "Parem o golpe no Brasil" e "O Brasil já não é uma democracia".

O Plenário da Câmara aprovou nesta quarta-feira, 15, o pedido de prorrogação dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Lei Rouanet por mais 60 dias. O requerimento foi aprovado por 258 votos a 78.

Na última reunião do colegiado, na terça, a comissão aprovou a convocação do humorista Fábio Porchat, além de empresários e advogados. Outros pedidos para convocação de artistas como Cláudia Leitte e José de Abreu ainda devem ser avaliados.

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Segundo o relator da CPI, deputado Domingos Sávio (PSDB-MG), será necessário mais tempo para ouvir novos depoimentos e concluir o relatório. "Essa comissão já reuniu provas de ilícitos, mas, ao mesmo tempo, nós estamos trabalhando na busca do aperfeiçoamento da legislação", justificou.

Durante a votação, o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), se manifestou contrário à prorrogação dos trabalhos da CPI. "Ela já teve o seu período, não houve nenhum tipo de obstrução, nenhum tipo de impedimento para os trabalhos, então deveria ter sido apresentado o seu relatório", disse.

A CPI, instalada em setembro no ano passado, investiga supostas irregularidades na concessão de benefícios fiscais por parte do Ministério da Cultura para empreendimentos culturais. Para a oposição, o objetivo do colegiado é perseguir artistas que foram beneficiados pela lei durante os governos petistas.

A Polícia Federal indiciou 29 investigados na Operação Boca Livre - apuração sobre desvios de recursos públicos estimados em R$ 30 milhões liberados pelo Tesouro via Lei Rouanet. O relatório final do inquérito da PF atribui a dez empresas parcerias com o esquema supostamente montado pelo Grupo Bellini Cultural, alvo principal da investigação. Foram indiciados empresários, um advogado e executivos de grandes companhias - laboratórios, montadora, farmacêutica e até banca de advocacia -, por estelionato contra a União e associação criminosa. Alguns foram enquadrados também em falsidade ideológica.

Boca Livre foi deflagrada em 28 de junho. Ela precedeu a Operação Boca Livre S/A, que saiu às ruas em outubro e fez buscas em 29 empresas - patrocinadoras que atuaram em conjunto com o Grupo Bellini, 'associando-se aos seus integrantes com o fim exclusivo de desviar recursos'.

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A PF evitou um rombo ainda maior, de mais R$ 58 milhões, com a identificação de projetos fraudados que estavam em curso e que permitiriam ao Grupo Bellini captar recursos nesse montante. O relatório final da primeira operação foi encaminhado ao Ministério Público Federal.

A PF indiciou executivos ou funcionários da Intermédica Notredame, KPMG, Lojas Cem, NYCOMED PHARMA (Takeda), Grupo Colorado, Cecil S/A, Scania, Roldão, Demarest Advogados e Laboratório Cristália.

Os investigadores apontam ainda fragilidades do Ministério da Cultura (Minc) na concessão e fiscalização de recursos públicos que bancaram projetos culturais desde o início da vigência da Rouanet, em 1992, até 2013.

Durante longo período os patrocínios foram aprovados, mas não passaram por auditorias, o que, segundo a PF, permitiu a ação de fraudadores. O relatório final sugere abertura de ação por improbidade administrativa para responsabilização de funcionários da Cultura por 'danos ao erário e omissão'.

No âmbito criminal, a PF deparou com um 'extenso lapso temporal', entre as fraudes e a comunicação formal à corporação, prejudicando a identificação de funcionários do Ministério que teriam alguma ligação com a organização investigada.

A PF só foi informada dos desvios em 2014 por meio de uma Nota Técnica da Controladoria-Geral da União (CGU).

"O que tudo indica é que não existiu uma fiscalização efetiva, o que permitiu essas duas décadas de desvios de recursos da Lei Rouanet", destaca a delegada de Polícia Federal Melissa Maximino Pastor, que presidiu o inquérito. "Quando o Ministério da Cultura deu início à fiscalização dos projetos, em 2012, a associação criminosa começou a aprimorar as fraudes. A investigação demonstra isso empiricamente. Quando se inicia a fiscalização do órgão que libera e controla o recurso público as fraudes ganham sofisticação."

Em 2013, o Ministério da Cultura emitiu uma Instrução Normativa restringindo a quantidade de projetos por pessoas jurídicas e pessoas físicas. Na ocasião, foram bloqueadas contas de três empresas do Grupo Bellini. "O Grupo Bellini, que até então estava com as contas bloqueadas, começa a se utilizar de mais empresas, em nome de funcionários, por isso essa quantidade de indiciados."

A PF identificou nove empresas que fizeram parceria com o Bellini Cultural e outras três que auxiliavam o grupo nas fraudes, além de diversas pessoas físicas. Essa 'estrutura de papel' obteve junto ao Ministério mais de uma centena de projetos. O relatório final da Boca Livre foi encaminhado ao Ministério Público Federal.

O inquérito foi aberto no final de 2014 e seguiu para a Inteligência da PF em novembro de 2015, quando as investigações começaram a ganhar fôlego. O Ministério foi informado dos indícios de irregularidades envolvendo projetos do Grupo Bellini e servidores da Pasta.

"Se a PF tivesse conhecimento das fraudes em primeiro lugar talvez o desfecho da investigação teria sido outro, mas nós não recebemos essa denúncia, apenas três anos depois que o Ministério da Cultura foi avisado", argumenta a delegada. "Um rastreamento preliminar revelou indícios de adulteração de documentos, projetos extremamente similares, um projeto igualzinho ao outro, um dos dois não aconteceu", relata Melissa. "Fotos adulteradas também. Aí o Ministério, em 2013, com base nessa fiscalização, faz um levantamento e encaminha para a CGU que manda à Polícia Federal uma Nota Técnica, já em 2014, dando ensejo à instauração do inquérito policial."

"A falta de fiscalização permitiu a continuidade delitiva até a deflagração da operação, em junho 2016", afirma a delegada federal. "O que é muito interessante é que os depoimentos tomados são uníssonos no sentido de que existia uma lei invisível do mercado cultural. As produtoras culturais tinham que oferecer ou aceitar a exigência de grandes empresas com contrapartidas ilícitas para garantir o aporte no projeto cultural. O objetivo da Lei Rouanet é democratizar o acesso à cultura. Objetivo precípuo da lei é esse. É claro que quando a empresa investe nesse projeto cultural, além da dedução no Imposto de Renda que para ela não deve fazer diferença nenhuma, não vai sair do bolso dela, as empresas tributadas com lucro real de até 4% ao invés de recolher ao erário vai colocando no projeto cultural. Ela já tem uma grande vantagem, vincula o projeto cultural à marca dela, já é uma publicidade gratuita."

Segundo a PF, os indiciados do núcleo central do Grupo Bellini contaram que empresas exigiam contrapartidas - como, por exemplo, bancar festas de final de ano com cantores famosos para grandes públicos em troca de apoio ao projeto.

"A disputa era tão acirrada entre os produtores culturais que se não atendessem às solicitações não iriam conseguir aporte em nenhum projeto cultural", assinala a delegada. "A investigações confirmaram isso. As grandes empresas tiveram inclusive a coragem de formalizar contratos de patrocínio com objetos ilícitos."

O controlador do Grupo Bellini chegou a ser preso quando estourou a Boca Livre. Mas, por ordem do Tribunal Regional Federal da 3.ª Região, Antônio Bellini, o principal investigado, foi colocado em liberdade. A PF apurou que dinheiro da Lei Rouanet foi usado para bancar a festa de luxo do casamento de um filho de Bellini.

Segundo a PF, algumas empresas citadas na investigação apressaram-se em recolher tributos correspondentes aos valores supostamente desviados. Mas essa atitude, na avaliação de Melissa Pastor, não livrará os executivos das companhias.

"Não estamos diante de uma mera sonegação fiscal. Eles contribuíram com o Grupo Bellini em parceria, tinham intuito de que projetos de cunho privativo e corporativo fossem realizados com recursos públicos que deveriam ser destinados a projetos culturais. Essas empresas agiam em conluio para desviar recursos e não cumpriram o objetivo expresso da Lei Rounaet. Isso é muito mais do que um mero não recolhimento de impostos, é querer transformar dinheiro público em evento institucional."

Melissa lembra que 'o espírito da Lei Rouanet é democratizar a cultura'. "A consequência desse desvio de recursos públicos não é somente prejuízo aos cofres públicos. O objetivo principal da lei não foi atendido durante muitos anos. A população menos assistida ou excluída do exercício dos seus direitos culturais, especialmente por condições sócio-econômicas, deixou de ser beneficiada com projetos para os quais a lei destinou recursos visando a democratização da cultura."

A delegada é enfática. "Não é só o desvio. Quantas crianças de colégios estaduais poderiam ter acesso a esses espetáculos que foram aprovados com verba da Lei Rouanet? Essas crianças não tiveram acesso à cultura exatamente porque tudo foi tramado para beneficiar grandes empresas, além do produtor cultural que desviou recursos."

No inquérito da PF, executivos das companhias citadas alegaram que 'não enxergavam esse dinheiro como dinheiro público, mas sim dinheiro do marketing porque eram feitas ações exclusivas de marketing'. "Alegaram isso nos interrogatórios, mas as interceptações telemáticas apontam a fraude", assinala Melissa.

Email resgatado na investigação mostra que um interlocutor fala em 'expectativa de milhões'.

"Em um caso repetiram 14 projetos dedicados a caminhoneiros, tudo copiado um do outro. O que sobra para os verdadeiros projetos culturais? Não sobra nada", protesta Melissa Maximino Pastor.

A reportagem não localizou a defesa do Grupo Bellini nem a assessoria das Lojas Cem. O espaço está aberto para a manifestação de ambos.

Defesas

"O Ministério da Cultura (MinC) não teve acesso ao relatório final da Polícia Federal sobre a Operação Boca Livre, que corre sob sigilo. Ao assumir o Ministério da Cultura, o ministro Roberto Freire encontrou um passivo de 18.631 projetos do mecanismo de incentivo fiscal da Lei Rouanet. Neste momento, o Ministério da Cultura está discutindo a possibilidade de contratação de empresas de auditoria para fazer a análise de prestação de contas deste impressionante passivo - um claro exemplo de desídia de administrações anteriores.

O MinC também trabalha na modernização do sistema para aumentar a segurança na fiscalização. O alinhamento com os órgãos de controle busca maior efetividade das atividades a partir da implementação de trilhas de verificação de risco, métricas para a democratização, novo modelo de conta única, além da prestação de contas em tempo real. "

Cecil

"A Cecil realmente não foi indiciada. Eles estão bastante surpresos com o novo contato da empresa, pois realmente achavam que o assunto tivesse sido esclarecido, uma vez que foram 100% transparentes em depoimento à PF. "

Takeda

"A Takeda Pharma não foi notificada sobre o resultado das apurações da Polícia Federal e por isso não poderá comentar a respeito. Certa do cumprimento da legislação, continuará colaborando com as investigações."

Grupo Notre Dame:

"O Grupo NotreDame Intermédica, até o momento, não recebeu nenhuma notificação oficial dos órgãos competentes. Certos de que não cometemos nenhuma irregularidade ou ato ilícito, continuaremos contribuindo com as autoridades nas investigações."

Laboratório Cristália

"O Laboratório Cristália informa que forneceu toda a documentação necessária para colaborar com a investigação. A Companhia reforça que se pauta por critérios éticos em todas as suas ações e que todos os esclarecimentos quanto aos projetos da Lei Rouanet que participou, foram prestados nos autos."

Grupo Colorado

"O Grupo Colorado figura entre os mantenedores do Instituto Osvaldo Ribeiro de Mendonça (IORM), que, há muito anos, dedica-se a projetos de inclusão social e desenvolvimento cultural (http://iorm.org.br/).

No desempenho dessas atividades, o Grupo Colorado foi procurado por representantes da empresa Bellini Cultural, que desenvolviam projeto de exposição sobre a expansão da cana de açúcar no interior de São Paulo.

Posteriormente, os representantes do Grupo Colorado tomaram conhecimento da existência de investigação para apuração de práticas de má versação dos recursos do projeto, no âmbito da empresa Bellini Cultural.

Em decorrência disso, o Grupo Colorado prestou todos os esclarecimentos às Autoridades Públicas, deixando claro que figura como vítima de tais irregularidades. Além disso, recolheu aos cofres públicos o valor do incentivo fiscal recebido, acrescido dos encargos legais, afastando qualquer alegação de benefício indevido".

KPMG

"A KPMG no Brasil afirma que não recebeu, até o momento, nenhuma citação referente ao caso."

(Fausto Macedo e Mateus Coutinho)

Escolhido para substituir Marcelo Calero no Ministério da Cultura, o deputado federal Roberto Freire (PPS-SP) afirmou, neste sábado (19), em entrevista ao Portal LeiaJá, que pretende gerir a pasta com “diálogo” e “respeito as divergências políticas”. Ele já assume a pasta em meio a polêmica gerada entre Calero e o ministro-chefe da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA). 

O peemedebista baiano foi acusado pelo ex-ministro de usar do próprio cargo para conseguir vantagens pessoais. Em declaração após pedir demissão Calero disse ter sido pressionado por Geddel a liberar um empreendimento imobiliário em Salvador embargado pelo Iphan, onde o articulador político do presidente Michel Temer (PMDB) adquiriu um imóvel.

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Sobre as declarações, Freire amenizou. “A impressão que eu tenho é de que no âmbito do ministério não tem polêmica nenhuma”, ponderou. Já quando a decisão do Iphan, ele pontuou que “já foi decidido”. “Se você tem o organismo técnico e competente não tem por que você como ministro passar por cima de questões. Parece que isto já estava resolvido. O problema que existe lá na Bahia vai ser revolvido judicialmente”, acrescentou. 

Mudanças na Lei Rouanet

Outro assunto que tem gerado discussões dentro do Ministério da Cultura é a Lei Rouanet. De acordo com o substituto de Calero, os “defeitos” da legislação devem ser revistas. “Tem um projeto que tramita no Congresso que modifica a lei [Rouanet]. Ainda tenho que analisá-la detalhadamente para dizer onde, mas mesmo com a critica grande  e o argumento de que ela não deveria existir eu pontuou que ter uma legislação que incentiva a cultura no Brasil é extremamente importante. Se tem defeitos, vamos modificar”, frisou. 

A lei é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara dos Deputados e em junho a Polícia Federal afirmou que o Ministério da Cultura falhou na fiscalização dela. Freire defende que a própria pasta faça uma auditoria nos mecanismos da Rouanet. 

Falta de Verbas

Antes de deixar o comando do Ministério da Cultura, Calero também chegou a disparar contra a falta de verbas para efetuar os projetos. Indagado sobre como pretende lidar com o orçamento enxuto, Roberto Freire foi irônico: “se alguém tiver a expectativa de muitos recursos é melhor ficar em casa”. 

“Tivemos o impeachment pelo desmantelo que o governo anterior deixou a sociedade brasileira e a economia. Ela saiu por conta da irresponsabilidade e do desmantelo, então não podemos pensar que vai ter facilidades. Temos ajustes em andamento no Congresso”, observou, lembrando da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55/2016 que está sendo discutida no Senado, e limita os gastos públicos por 20 anos. 

“Nenhum ministro ou ministério pode achar que vai ter tempo bom. Vai ter aperto e contenção, tenho clareza disso. Vamos usar a criatividade para levar o ministério à frente e sair da crise”, acrescentou. 

Já quanto à condução da pasta, o deputado federal disse que não pretende interromper uma gestão já iniciada por Calero. “Vou conversar com o ministro que saiu, conversar com o presidente [Michel Temer] e discutir o que estava sendo planejado e feito. Vai ser continuidade o que precisar e de mudança, caso necessite. Mas uma coisa importante, que o país já vinha caminhando, é a necessidade de instalar na cultura brasileira o clima de diálogo e o respeita as divergências políticas. Com isso tudo é possível”. 

Os advogados da cantora Claudia Leitte entraram com um recurso no Ministério da Cultura pedindo para que seja revista a decisão que condena a artista a devolver R$ 1,2 milhão oriundos da Lei Rouanet, como penalidade a reprovação da prestação de contas. De acordo com informações da colunista da Folha de São Paulo, Mônica Bergamo, no documento, a defesa da cantora diz que a turnê beneficiada pela legislação “acarretou a democratização do acesso à cultura” deixando entender que sem a verba a baiana só faria shows em cidades ricas. 

O questionamento do Ministério da Cultura na reprovação das contas de Claudia Leitte é com relação a doação de ingressos. No recurso, segundo a coluna, os advogados dizem que houve distribuição e a maioria das entradas foi vendida a um preço inferior ao projeto, de R$ 35. O documento ainda alega que as cidades ponderadas pela pasta – Picos (PI), Ponta Porã (MS) e Cuiabá (MT) – são "localidades que, sem o incentivo, jamais teriam condições econômicas para receber um show do porte da Claudia Leitte".

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Com as justificativas, a defesa da cantora pediu a conversão do resultado da apreciação das contas de “reprovado” para “aprovado com ressalvas”. Para os advogados, deixar Claudia Leitte sem recursos da Rouanet por três anos é injusto porque ela não causou “dano ao erário”. O ministério tem 60 dias para decidir se acata ou não os argumentos. 

A Polícia Federal e a Procuradoria da República em São Paulo identificaram na Operação Boca Livre S/A que a Fosfértil, empresa do ramo de fertilizantes, teria captado R$ 743 mil em 5 projetos via Lei Rouanet para a promoção de eventos musicais com ‘distribuição de ingressos para instituições assistenciais’ que, na verdade, foram usados para bancar um show do cantor sertanejo Sérgio Reis em São Paulo.

Segundo a investigação, ao invés de apresentações musicais pelo País a um preço popular, o dinheiro captado pela empresa teria bancado uma apresentação do cantor e da Família Lima para mil convidados no HSBC Brasil, em São Paulo, em comemoração aos 50 anos da Fosfértil, no dia 29 de maio de 2009.

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Os artistas não são investigados nem suspeitos de nenhuma irregularidade, pois as fraudes teriam sido cometidas pelas empresas, segundo a Polícia Federal.

A PF e a Procuradoria suspeitam que 29 empresas e instituições financeiras estariam envolvidas no esquema. Todas foram alvo de buscas na Boca Livre S.A., deflagrada nesta quinta-feira (27), que cumpriu mandados em dez municípios dos Estados de São Paulo e do Paraná. "O foco são as grandes empresas que receberam contrapartidas ilícitas, que não tinham previsão legal", declarou a delegada da PF Melissa Maximino Pastor. "As contrapartidas obtidas pelas empresas consistiam em shows, festas e eventos privados pagos com dinheiro público da Lei Rouanet."

Boca Livre S.A. é desdobramento da Operação Boca Livre, deflagrada em junho passado e que teve como alvo maior o Grupo Bellini e as empresas integrantes do esquema que supostamente praticavam estelionato contra a União, peculato e outros crimes correlatos desde 1998.

A Assessoria do cantor Sérgio Reis informa que o artista desconhece qualquer irregularidade relacionada com as suas apresentações e que seu comparecimento em shows se dá mediante contratação "e que não é possível aferir de forma efetiva e eficaz quaisquer eventuais problemas que estejam relacionados com os seus contratantes. Informa, outrossim, que o artista está à disposição para colaborar com tudo o que for preciso na apuração de supostas irregularidades relacionadas com os seus shows."

Escritórios de companhias suspeitas de envolvimento no desvio de recursos públicos para patrocínio cultural através da Lei Rouanet - incluídos bancos, montadoras e pelo menos uma grande empresa alimentícia - foram alvo hoje (27) de uma operação de busca e apreensão autorizada pela 3º Vara Federal em São Paulo. O esquema beneficiou 29 empresas, segundo o Ministério Público Federal e a Polícia Federal (PF), que estimam que os prejuízos tenham chegado a R$ 25 milhões.

A ação foi um desdobramento da Operação Boca Livre, deflagrada em junho, que revelou o esquema de fraudes no sistema de renúncia fiscal para fomento à cultura conduzido pela produtora Bellini Cultural. Segundo a delegada Melissa Pastor, que comanda as investigações, nessa fase o foco foi nas contrapartidas ilícitas recebidas pelas patrocinadoras.

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Os recursos, que deveriam apoiar projetos culturais acabavam sendo usados, essencialmente, para a promoção das empresas, segundo Melissa. “Na maior parte dos casos, o interesse era um evento institucional ou a utilização dessa verba como verba de caráter corporativo mesmo”, disse ela, ao mencionar a realização pelas empresas de jantares em restaurantes de luxo, apresentações fechadas de cantores famosos e festas corporativas com recursos da Lei Rouanet.

Ao investir em patrocínio parte do dinheiro que seria usado para pagamento do imposto de renda, a empresa tem direito a algumas contrapartidas, como a veiculação da marca em ações culturais. Existe ainda previsão de que uma pequena parte dos recursos sejam revertidos ao apoiador, como 10% da tiragem de uma publicação que recebeu fomento.

“A ilicitude dessas contrapartidas está no fato de que essas empresas incentivadoras, com base da Lei Rouanet, faziam jus a isenção fiscal sobre os valores que eram aportados nesses projetos. De forma que ao receber essas contrapartidas [eventos e festas] elas estariam lucrando em duplicidade”, explicou a procuradora Karen Loiuse Kahn.

As empresas atuavam, segundo a delegada Melissa, em conluio com o grupo Bellini para desviar os recursos públicos. “Há fortes indícios de que a maior parte dos patrocinadores tinha conhecimento [das fraudes]”, enfatizou. Segundo ela, algumas vezes as vantagens irregulares eram exigidas nos próprios contratos. “A contrapartida ora era oferecida, ora solicitada, ora exigida”, acrescentou.

A partir dos documentos apreendidos hoje, a delegada acredita que possam ser descobertas novas fraudes. “Os resultados dos mandatos de busca e apreensão podem mostrar fraudes em outros projetos que nós não sabemos”, disse ela, ao destacar que algumas empresas patrocinaram vários projetos ainda sob investigação.

Os artistas que foram pagos para participar dos eventos corporativos não estão, segundo a delegada, sob suspeita. “Não há indícios da participação deles”, ressaltou. De acordo com ela, em muitos casos os músicos não tinham nem como saber se havia recursos da Lei Rouanet investidos nos eventos, uma vez que os pagamentos eram feitos por empresas intermediárias.

Boca Livre

Em junho, 14 suspeitos foram presos durante a Operação Boca Livre, que apura um esquema que, de acordo com as investigações, desviou R$ 180 milhões mediante fraudes na Lei Rouanet desde 2001. Estima-se que mais de 250 projetos tiveram recursos desviados. Os acusados de participação atualmente respondem em liberdade.

A Agência Brasil não conseguiu em contato com representantes da Bellini Cultural até a publicação da reportagem.

O deputado Expedito Neto (PSD-RO) quer convocar a artista plástica Tomie Ohtake, morta em fevereiro do ano passado, aos 101 anos, para depor na CPI da Lei Rouanet. Na última sexta-feira, 16, o parlamentar se equivocou e incluiu o nome de Tomie na lista de representantes de instituições que mais receberam recursos por meio da lei de incentivo. Em São Paulo, há um instituto cultural, criado em 2001, que leva o nome da artista.

No requerimento do parlamentar, ele também pede a convocação de representantes da Aventura Entretenimento Ltda., do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, do Instituto Itaú Cultural e da T4F Entretenimento S.A.

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"Requer a convocação dos representantes da Aventura Entretenimento Ltda., Sr. Luiz Calainho, Sócio Diretor, do Instituto Tomie Ohtake, Sra. Tomie Ohtake, do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, Sr. Miguel Gutierrez, Diretor Administrativo Financeiro, do Instituto Itaú Cultural, Sr. Roberto Egydio Setubal, Diretor Presidente e da T4F Entretenimento S.A. Fernando Luiz Alterio, Diretor Presidente para prestar depoimento perante esta Comissão Parlamentar de Inquérito", diz a solicitação.

Um dos argumentos para o pedido de abertura de CPI seria a concentração de benefícios a segmentos e beneficiários específicos, sugerindo que algumas áreas e alguns interessados são favorecidos nas aprovações, especialmente no eixo Rio-SP.

Em outro pedido, Expedito Neto também requer a convocação do ministro da Cultura, Marcelo Calero, para prestar depoimento à CPI. Já o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS) quer convidar os ex-ministros Gilberto Gil e Juca Ferreira para depor.

Na semana passada, o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) foi responsável por protocolar o primeiro requerimento da CPI, convocando o ator José de Abreu e a sua ex-mulher, Camila Mosquella, a prestarem depoimento na CPI. Sóstenes acusa os dois de estarem inadimplentes.

Deputados da CPI que vai investigar supostas irregularidades na Lei Rouanet vão propor mudanças na legislação. O colegiado elegeu, na manhã desta quarta-feira, 14, Alberto Fraga (DEM-DF) como presidente da CPI. Ele vai indicar Domingos Sávio (PSDB-MG) como relator. Sávio já adiantou que, além das investigações e eventuais punições, vai sugerir um projeto para "aprimorar" a lei.

O parlamentar defende mecanismos que garantam maior transparência na escolha e na execução dos projetos. "A empresa é um parceiro no processo, mas o dinheiro que a empresa repassa é o dinheiro que ela teria que pagar de impostos, então é uma injeção na veia da cultura, e é muito bom que se faça isso, só que quando se faz isso de maneira ilícita é a mesma coisa que desviar dinheiro público, é corrupção, é roubo", declarou.

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Para Sávio, mesmo antes de haver denúncias de corrupção já havia questionamentos sobre a aplicabilidade da Lei Rouanet. Ele considera que a lei beneficia poucos artistas e deve ser "descentralizada". "Não podemos permitir que 99% desses recursos fiquem limitados a um segmento ou a uma região do País. Dizem que alguns Estados não produzem cultura, mas é justamente porque não produz cultura é que aquele local precisa ser incentivado."

Fraga negou que haja uma tentativa de boicotar a lei. "Não vamos acabar com a lei, vamos produzir alguma coisa para melhorá-la, esse é o compromisso maior da CPI. Não queremos fazer caça às bruxas, não é disso que se trata", disse Fraga.

Para o presidente, muitos artistas e empresários devem ser convidados para a fase de oitivas e os trabalhos do colegiado devem ser prorrogados para além dos 120 dias previstos no regimento.

Segundo Fraga, o primeiro passo será fazer um trabalho de cooperação com a Polícia Federal e o Ministério Público, que já investigam denúncias relativas à lei. "Vamos partir da premissa do que já existe levantado, são denúncias gravíssimas, já têm pessoas que foram presas, já consta um desvio em mais de R$ 180 milhões, então é um bom início. Quero conversar com a PF e com o MP para trabalharmos alinhados", afirmou.

Inicialmente, o então presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), havia feito um acordo com parlamentares para que Vicente Candido (PT-SP) assumisse a relatoria do colegiado. Fraga, contudo, foi contra a orientação.

Requerimentos

Um dos primeiros requerimentos a ser apresentado na CPI será do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), que solicitará um convite ao ator José de Abreu e a sua ex-mulher. Segundo Sóstenes, os dois estão inadimplentes desde 2007 e precisam prestar esclarecimentos. Apesar de negar que o ato seja uma retaliação, Sóstenes citou em sua fala o episódio em que Abreu, favorável ao governo Dilma, cuspiu em um casal após ser chamado de "ladrão".

O ministro da Cultura, Marcelo Calero, esteve reunido na manhã desta terça-feira, 19, com o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), para manifestar preocupação com a instalação da CPI da Lei Rouanet. Ao deixar o gabinete de Maia, Calero disse que pretendia "externar inquietações" sobre a possibilidade de criminalização do setor cultural. "A inquietação é para que não haja criminalização em geral", disse Calero.

A CPI da Lei Rouanet foi autorizada a funcionar e já está em fase de indicação de seus componentes. Ela ocupa a vaga que seria da CPI da UNE, enterrada pelo antecessor de Maia, deputado Waldir Maranhão (PP-MA). Os trabalhos começarão em agosto, com a escolha do presidente da comissão e do relator.

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"Há de fato malfeitos que precisam ser punidos, mas não pode deixar de levar em conta uma lei responsável por 3.100 projetos", argumentou o ministro. Rodrigo Maia deve receber ainda hoje o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para visita de cortesia.

O Ministério da Transparência, Fiscalização e Controle, antiga Controladoria-Geral da União, encaminhou ao Ministério da Cultura relatório em que recomenda melhorias na Lei Rouanet. O documento aponta "a necessidade de aperfeiçoamento dos controles internos do MinC e revisão das normas legais, de forma a gerar maior eficácia nos projetos financiados".

Fraudes de ao menos R$ 180 milhões na Lei Rouanet são alvo de investigação da Operação Boca Livre. O empresário Felipe Amorim, do Grupo Bellini Cultural, é suspeito de ter financiado o próprio casamento, uma festa de luxo em Jurerê Internacional, com verbas da Lei Rouanet.

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A Pasta recomenda o aprimoramento do Sistema de Apoio às Leis de Incentivo à Cultura (Salic), que disponibiliza informações sobre os projetos inscritos na Lei Rouanet.

"Apesar de disponibilizar dados a todos os cidadãos pela internet, a ferramenta ainda não dispõe dos controles adequados para gestão dos projetos, com informações insuficientes sobre movimentações financeiras e prestação de contas dos proponentes", aponta a Transparência.

A Lei Rouanet foi criada no governo Fernando Collor (hoje senador pelo PTC/AL), em 1991. A legislação permite a captação de recursos para projetos culturais por meio de incentivos fiscais para as empresas e pessoas físicas. Na prática, a Lei Rouanet permite, por exemplo, que uma empresa privada direcione parte do dinheiro que iria recolher em impostos para financiar propostas aprovadas pelo Ministério da Cultura para receber recursos.

Em nota, a ex-CGU informou que o relatório traz fatos apurados pela Pasta a partir de exames documentais, entrevistas, inspeções físicas, mapeamento dos procedimentos internos e cruzamento de bancos de dados corporativos governamentais. O documento, segundo a Transparência, "consolida o resultado de ações de acompanhamento da execução de projetos apoiados com recursos de renúncia de receitas da União", conforme a legislação.

"O relatório será analisado pelo gestor federal para, em conjunto com a Transparência, discutir as soluções a serem adotadas. Somente após essa avaliação, inclusive quanto a eventual existência de trechos sujeitos às hipóteses legais de sigilo, o material será publicado na internet".

A Justiça encontrou apenas R$ 159,71 em cinco contas do empresário Felipe Amorim, alvo da Operação Boca Livre que investiga desvios de R$ 180 milhões liberados para projetos culturais com incentivo da Lei Rouanet. Felipe foi preso em 28 de junho pela Polícia Federal sob suspeita de ter usado verbas públicas obtidas com incentivo fiscal para bancar seu casamento cercado de luxo no Jurerê Internacional, em Santa Catarina, em 25 de maio.

Em outras quatro contas do pai de Felipe, o empresário Antonio Carlos Bellini Amorim, os investigadores não acharam um único centavo. Ao todo, em doze contas dos Bellini, rastreadas pelo Banco Central, foram bloqueados R$ 161,56 - aqui somado o R$ 1,85 localizados em três contas de Bruno, irmão de Felipe e também alvo do confisco.

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O achado de valores tão pífios causou perplexidade entre os investigadores porque o Grupo Bellini recebeu, segundo levantamento preliminar, verbas do Tesouro que somam R$ 4,58 milhões sempre pelo mecanismo de incentivo da Lei Rouanet.

A Boca Livre tem como principal alvo o Grupo Bellini, controlado por Antonio Carlos, pai de Fellipe e Bruno, todos capturados em regime temporário, inicialmente. Depois, em 1º de julho, o juiz Hong Kou Hen, da 3.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, converteu a medida em prisão preventiva, ou seja, por tempo indeterminado.

A PF e a Procuradoria da República fizeram uma varredura na lista de fornecedores arrolados para os projetos culturais - conforme informações prestadas pelo Ministério da Cultura -, e verificaram que pessoas físicas e jurídicas ligadas a Bellini, "bem como o próprio", foram destinatários de pagamentos superiores a R$ 4,5 milhões, o que corresponde a 15,59% da amostra de pagamentos avaliados.

Na decisão que determinou a prisão preventiva de pai e filhos, o juiz Hong Kou Hen chamou atenção para o fato. "Merece destaque, ainda, que determinado o bloqueio de valores sob titularidade dos investigados, restou informado que Antônio possuía saldo ZERO reais nas suas quatro contas, Bruno, o saldo de R$ 1,85 nas suas três contas, e Felipe o saldo de R$ 159,71 nas suas cinco contas, o que, no mínimo é estranho, e levanta suspeitas desfavoráveis aos investigados, considerando que foram movimentados milhões de reais nos últimos anos", afirmou o magistrado.

"No entender deste juízo, não se trata de situação de penúria econômica, mas de provável manobra de esvaziamento das contas bancárias, circunstância que evidencia conduta visando frustrar a aplicação da lei penal", destacou Hong Kou Hen.

A reportagem não localizou representantes do Grupo Bellini. O espaço está aberto para a manifestação do empresário Antonio Carlos Bellini e seus familiares.

As investigações da Operação Boca Livre que apontaram desvios de R$ 180 milhões em contratos de projetos culturais via Lei Rouanet tiveram como origem uma denúncia ignorada pelo Ministério da Cultura (MinC) em 2011. A operação, deflagrada na terça-feira, 28, resultou na prisão temporária de 14 pessoas e buscas e apreensões em dez empresas sediadas em São Paulo, Rio e Brasília.

Relatório da PF sobre a operação não especifica a denúncia, mas diz que a pasta concluiu por "sua improcedência", após investigação interna. A força-tarefa suspeita da prática de prevaricação por parte de servidores da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura, tendo em vista que o Grupo Bellini, principal alvo da operação, continuou operando. A secretaria é responsável pela aprovação, monitoramento e prestação de contas de projetos culturais.

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A conclusão da pasta por arquivar a denúncia, porém, foi revista pela Controladoria-Geral da União (CGU), atual Ministério da Transparência. A revisão atribuiu a Arlicio Oliveira dos Santos, "que ocupava cargos de grande influência na avaliação e acompanhamento e prestação de contas" da secretaria, o delito de "condescendência criminosa". Segundo o ministério, Santos é servidor concursado e ainda trabalha na pasta.

No fim de 2013, o MinC emitiu Nota Técnica apontando "indícios de falsificações" em documentos anexados à organização que teria desviado verbas liberadas por meio da Lei Rouanet. A nota foi entregue à CGU que, então, transmitiu os dados à PF, que abriu inquérito em 2014.

A PF e a Procuradoria da República apontam "inércia" do Ministério da Cultura ante o descumprimento da Lei Rouanet - pelo menos 250 contratos estão sob suspeita, firmados desde 2001. Apenas em 2015, os incentivos fiscais relacionados à Lei Rouanet renderam investimentos de R$ 1,086 bilhão.

Escutas

As suspeitas sobre a participação de servidores do ministério no esquema de fraude relacionado à Lei Rouanet são corroboradas por interceptações telefônicas, realizadas com autorização da Justiça, que captaram diálogos entre os principais alvos operação, os empresários Antônio Carlos Bellini Amorim e sua mulher Tânia Regina Guertas, do Grupo Bellini.

Os diálogos do casal citam um contato no ministério que teria a função de dar curso a projetos ilícitos na pasta, segundo a PF. Bellini e a mulher estão entre os presos na operação.

Investigação

Em nota, o MinC confirma ter recebido uma denúncia sobre desvios em contratos relacionados à Lei Rouanet em 2011. Segundo o ministério, assim que identificou as fraudes, inabilitou as empresas do Grupo Bellini, "que não tiveram mais nenhum processo admitido".

"Ocorre que a organização criminosa desenvolveu estratégias: passou a operar com outras empresas, com outro CNPJ. À medida em que o MinC identificava novas empresas, as inabilitava - e comunicava à CGU", afirma nota enviada pela assessoria de imprensa do ministério. "O Ministério da Cultura realiza análise criteriosa de prestação de contas de projetos - tanto que foi uma investigação do ministério que resultou na Operação Boca Livre."

Com relação à suspeita de participação de Santos nas fraudes identificadas pela operação, o ministério informou que um processo interno apura eventuais desvios de servidores da pasta no caso.

A reportagem não localizou os defensores do Grupo Bellini para comentar as investigações. O servidor do ministério citado no relatório da Polícia Federal também não foi encontrado ontem. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Justiça Federal determinou a prisão temporária de 14 pessoas suspeitas de estarem envolvidas em um esquema de desvio de recursos públicos federais, obtidos para a execução de projetos culturais na Operação Boca Livre, deflagrada pela Polícia Federal nesta terça-feira, 28. A decisão é do juiz federal Hong Kou Hen, da 3ª Vara Federal Criminal em São Paulo/SP.

O magistrado deferiu o pedido de bloqueio e sequestro de bens e valores de alguns dos investigados e a inabilitação temporária das empresas pertencentes ao grupo investigado perante o Ministério da Cultura (MinC) e a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo.

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A investigação cita o Ministério da Cultura, as empresas Bellini Eventos Culturais, Scania, KPMG e o escritório de advocacia Demarest, Roldão, Intermedica Notre Dame, Laboratório Cristalia, Lojas Cem, Nycomed Produtos Farmacêuticos e Cecil.

O inquérito policial havia sido instaurado após a apuração da Controladoria Geral da União (CGU) da suposta prática dos crimes de estelionato, corrupção ativa, corrupção passiva, associação criminosa e condescendência criminosa, por um grupo empresarial proponente de centenas de projetos com utilização de verbas oriundas de incentivo fiscal previstas na Lei Rouanet, por meio de inúmeras fraudes desde 2001.

Os fatos haviam chegado ao conhecimento do Ministério Público Federal, segundo a Justiça, por meio de denúncia anônima, que foi redirecionada ao Ministério da Cultura. A Pasta instaurou investigação, mas concluiu, à época, pela improcedência da denúncia e seguiu aprovando projetos ao grupo. A CGU, por sua vez, identificou incorreção na conclusão do MinC.

Em 2013, afirmou nota da Justiça, o MinC detectou indícios de falsificações nos documentos apresentados para comprovação de despesas, bem como a utilização de terceiros para a proposição de projetos culturais, com o objetivo de se obter a aprovação de um número maior de projetos.

"No curso das investigações, foi possível coletar provas indiciárias da existência de uma organização criminosa voltada à prática de crimes contra a ordem tributária, estelionato, falsidade ideológica e, especialmente, peculato, por identificar os agentes como administradores de recursos públicos, equiparando-se a funcionários públicos para fins penais", afirma Hong Kou Hen.

O magistrado ainda afirma que houve superfaturamento a partir da aprovação de múltiplos projetos tratando do mesmo tema, com o indevido reaproveitamento dos materiais, pesquisas e estruturas anteriormente utilizados como se novo fossem, implicando em acentuada redução de custos e ganho indevido, além de terem utilizado da apresentação de projetos culturais em duplicidade.

A organização criminosa, segundo a Polícia, era dividida em três núcleos. O núcleo principal era formado por pessoas com poder de decisão no grupo empresarial envolvido. Conversas telefônicas que foram interceptadas apuraram que o principal membro do núcleo por diversas vezes afirmou ter captado grandes quantias através da Lei Rouanet ao longo de vários anos por meio de suas empresas e de pessoas ligadas ao grupo. Também havia um núcleo secundário, composto de pessoas que participavam ativamente das fraudes, como funcionários e ex-funcionários do grupo. Por fim, havia um terceiro núcleo que envolvia a participação de incentivadores ou patrocinadores.

Além das prisões temporárias, o juiz determinou medidas de busca e apreensão requerida pela Polícia Federal para "arrecadar as provas que tiverem pertinência com a investigação e que sirvam de elemento de prova de materialidade e autoria dos crimes investigados", ressalvando que "em nenhuma hipótese a autoridade policial poderá devassar o local, apreendendo objetos e documentos de forma aleatória, sem atentar-se minuciosamente à finalidade da medida".

A Lei Rouanet foi criada no governo Fernando Collor (PTC/AL), em 1991. A legislação permite a captação de recursos para projetos culturais por meio de incentivos fiscais para empresas e pessoas físicas. Na prática, por exemplo, a Lei Rouanet permite que uma empresa privada direcione parte do dinheiro que iria gastar com impostos para financiar propostas aprovadas pelo Ministério da Cultura para receber recursos.

Defesa

Em nota, o Ministério da Cultura afirmou: "As investigações para apuração de utilização fraudulenta da Lei Rouanet têm o apoio integral do Ministério da Cultura (MinC), que se coloca à disposição para contribuir com todas as iniciativas no sentido de assegurar que a legislação seja efetivamente utilizada para o objetivo a que se presta, qual seja, fomentar a produção cultural do País."

O escritório Demarest Advogados divulgou nota de esclarecimento sobre a "Operação Boca Livre" da Polícia Federal, que nesta manhã esteve em seu escritório em São Paulo. "O objetivo da visita foi a solicitação de documentos e informações relacionados a empresas de marketing de eventos que prestaram serviços ao escritório no âmbito da Lei Rouanet. Tais empresas são alvo da operação. O escritório enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade, e informa que colaborou e continuará a colaborar com a investigação".

Já a KPMG no Brasil informa que "não é objeto de investigação na denominada Operação Boca Livre conduzida pela Polícia Federal. O fato da PF comparecer ao nosso escritório se deu pelo cumprimento de diligência para coletar documentos referentes a contratos com empresas de publicidade e propaganda (alvos da investigação) e que prestaram serviços para a KPMG no apoio a projetos culturais. A KPMG, certa de que não cometeu qualquer ato ilícito, está e continuará a contribuir com as autoridades de maneira transparente para o fornecimento das informações necessárias."

A Scania informa que tomou conhecimento hoje pela manhã da operação Boca Livre deflagrada pela Polícia Federal. Esclarece que não tem mais informações, mas está colaborando integralmente com a investigação e à disposição das autoridades.

O Laboratório Cristália informa "aos seus clientes, colaboradores e à população em geral que recebeu com surpresa a busca em suas dependências de documentação de agente cultural que lhe prestou serviço de fomento à cultura por meio da Lei Rouanet. Salienta ainda que todos os projetos inscritos na Lei Rouanet foram apresentados na forma da lei pelos agentes culturais como aprovados pelo Ministério da Cultura. A Companhia reforça que está colaborando com a investigação, bem como executa as melhores práticas de governança e ética em suas operações administrativas e comerciais."

Em nota, o Grupo NotreDame Intermédica esclarece: "O comparecimento da PF se deu pelo cumprimento de diligência para coleta de documentos e informações relacionados a empresas terceiras de marketing de eventos (alvos da investigação) que prestaram serviços ao Grupo NotreDame Intermédica no âmbito da Lei Rouanet. O grupo informa que não é objeto de investigação na denominada "Operação Boca Livre" conduzida pela Polícia Federal e enfatiza que não cometeu qualquer irregularidade. Certa de que não cometeu qualquer ato ilícito, informa, ainda, que colaborou e continuará a contribuir com as autoridades na investigação.

As Lojas Cem informaram em nota: "A Polícia Federal esteve na Lojas CEM solicitando documentos e informações sobre empresas que lhe prestaram serviços no âmbito da Lei Rouanet. Prontamente a empresa deu todo o apoio ao bom andamento da diligência e comprometeu-se a prestar toda a colaboração necessária para o esclarecimento dos fatos. Informamos que os projetos culturais nos quais investimos foram feitos, de nossa parte, dentro da mais absoluta regularidade. Como sempre, a postura da Lojas CEM com todas as pessoas e instituições com as quais se relaciona é de total transparência e completa lisura."

Após a Polícia Federal deflagrar a operação Boca Livre, que apontou fraudes em 250 contratos da Lei Rouanet, o ministro da Cultura, Marcelo Calero, afirmou nesta terça, 28, que o escândalo não pode ser utilizado para "demonizar" o instrumento de fomento à cultura.

Nas palavras do ministro, os responsáveis pelas fraudes são "bandidos que formaram uma quadrilha e se valeram do instrumento para finalidades não previstas na própria Lei Rouanet". Calero, que se reuniu mais cedo com o ministro da Justiça, Alexandre Moraes, disse que as duas pastas vão preparar uma portaria interministerial com novos parâmetros de auditoria para a Lei Rouanet, que serão estabelecidos a partir das investigações da Operação Boca Livre.

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"A lei sai fortalecida para aqueles que a utilizam da maneira como deve ser utilizado", disse o ministro. Ele negou, no entanto, que os atuais métodos de fiscalização sejam fracos. "Esses casos só são descobertos na medida em que a gente faz uma auditoria bem feita", disse o ministro.

"Hoje tivemos a demonstração latente de que as instâncias de controle estão funcionando", acrescentou Calero. Isso significa, concluiu o ministro, que os cerca de 3 mil projetos atualmente inscritos na Lei Rouanet não devem ser "criminalizados por conta de desvios perpetrados por bandidos".

Calero também disse que seus antecessores tiveram papel relevante na investigação da Polícia Federal. "Os próprios indícios que levaram à conflagração da operação Boca Livre surgem a partir de investigações e auditorias que foram levadas a cabo pelos meus antecessores no Ministério da Cultura", disse o ministro. Segundo ele, a participação do grupo Bellini na fraude, por exemplo, foi descoberta com a ajuda do ministério.

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