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No início do ano, o prefeito João Campos sancionou a lei municipal que declara a música gospel como patrimônio imaterial do Recife. Mesmo com sua origem na comunidade negra dos Estados Unidos, o vereador Júnior Tércio (Podemos) lançou o projeto de lei com intenção de, segundo ele, “elevar o nível” da manifestação cultural na cidade

Polêmica à parte, o LeiaJá decidiu trazer uma história da música gospel e sua relevância no Recife e em Pernambuco.

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Significado e origem

O termo gospel é usado em diversos países e pode taxar a maioria das músicas tocadas em cultos cristãos, contanto que a temática das letras sejam os ensinamentos de Deus ou aclamações ao Espírito Santo e passagens bíblicas.

A palavra gospel em si é uma expressão inglesa “God spell”, que significa “palavra de Deus” ou “Deus discursa” e pode ser utilizada não só para música, como para filmes e livros, por exemplo.

A história da música gospel taxa o “Negro Spirituals” com os precursores do estilo durante o século 20. Evoluindo e se transformando, na década de 30, cantores gospel solo começaram a surgir nos Estados Unidos, mas não chegaram a ser reconhecidos. Thomas A. Dorsey, pianista de blues e conhecido como Georgia Tom, começou a compor músicas de conteúdo religioso, se tornando, anos depois, o “pai do gospel” de acordo com reconhecimento da revista Score, em 1994.

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O cantor demorou a ter reconhecimento em vida, mas com muita luta, buscou tornar o estilo popular dentro das igrejas e deixou centenas de canções, sendo a mais famosa “If You See My Saviour”. Falecendo em 1993, foi o fundador da Convenção Nacional de Corais Gospel dos Estados Unidos em 1932 e que existe até os dias atuais.

Evolução

Com o tempo passando e os cantores percebendo que a música podia variar de ritmos, o gospel chegou a ser cantado em formato até de rock. O  próprio Elvis Presley se destacou com quatro álbuns, “Peace in The Valley”, “His Hand in Mine”, “How Great Thou Art” e “He Touched Me”. 

Cícero Souza, mestre em História e Ciência da Educação na Universidade Lusófona de Lisboa, relembra um momento histórico para o gênero. “Continuando a ser taxada nos Estados Unidos como um estilo musical basicamente negro, o gospel ficou marcado na história o dia em que Mahalia Jackson cantou na TV pouco antes do discurso emblemático de Martin Luther King ser televisionado”, conta. Uma das maiores da história, Mahalia ainda se apresentou no funeral do pastor ativista político em 1968.

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O Gospel no Brasil

Ainda segundo Cícero, missionários batistas e presbiterianos trouxeram a música gospel no início do século 20 para o país que, ao chegarem nas igrejas, tiveram seus hinos americanos traduzidos para o português e estão até hoje presentes no hinário oficial das Assembleias de Deus no Brasil.

Restrito ao uso em igrejas, os hinos não foram bem disseminados para o público exterior e apenas na década de 80 recebeu visibilidade do público geral por se tornar um estilo bem diferente do vivenciado nos cultos do país.

Transformados em formato de rock e pop e com melodias que traziam a palavra de Deus, o público brasileiro reconheceu o gospel a partir da década de 80 como um estilo musical mais forte e ganharam apelidos como no caso do rock and roll, “rock de crente” ou “rock cristão”.

Hoje o gospel atinge público variado, desde o sertanejo até o reggae com cantores e bandas como Oficina G3, Aline Barros, Arautos do Rei e Fernanda Brum por exemplo.

Projeto de Lei

Analisando historicamente a música gospel, o doutor em História da Religião e professor da UPE, Carlos André, destacou ao LeiaJá sua opinião sobre o projeto de lei Ordinária de número 363/2021 que transforma a música gospel em Patrimônio Imaterial de Recife. “Eu enxergo essa ação e essa lei muito mais como uma proposta específica de um parlamentar para atender um público também específico, do que uma identidade cultural que o ritmo tenha com a cidade”, iniciou. 

“Não vejo nenhuma singularidade ou particularidade que a música gospel possa ter recebido ou feito surgir em Recife para que ela receba o título de patrimônio, a exemplo do frevo. O frevo tem uma singularidade na nossa cultura e nossa história, a música gospel não. A que é tocada aqui já foi e é tocada em diversos outros lugares”, declarou. 

Mesmo destacando as incoerências do projeto, Carlos André salientou a importância da lei para os que vivem a música gospel e serão afetados com o projeto agora ou futuramente. “Para aquelas pessoas que vivenciam e consomem esse tipo de música, é extremamente importante. O município agora vai ter que oferecer condições para que se possua uma salvaguarda do ritmo em diversos momentos do nosso cotidiano”, concluiu.

Pernambuco

Ao justificar o projeto, o vereador Júnior Tércio afirmou que Pernambuco é o estado com o maior número de evangélicos na região Nordeste e disse que a música gospel é usada para os mais variados fins, indo do simples apelo estético aos motivos cerimoniais e, até mesmo, mercadológicos. “O objetivo principal é a evangelização, ou seja, que as pessoas confraternizem e conheçam a palavra de Deus”, explicou.

No Estado, destacam-se nomes como Eliã Oliveira, Canção e Louvor, Ivonaldo Albuquerque, Amanda Vanessa, Mayra Carvalho  e Elísio Neto.

Na tarde de quarta-feira (31), a Capoeira foi declarada Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de Pernambuco em uma cerimônia realizada no Palácio do Campo das Princesas. Na solenidade de assinatura do Projeto de Lei, estiveram presentes o deputado estadual Zé Maurício (PP), autor do PL, o governador do Estado, Paulo Câmara (PSB), os mestres e contra-mestres de capoeira Coca Cola, Galvão, Peu, Macarrão, Dedê, Chê, Melodia e Toupeira e do professor Cajueiro, entre outros.

A Capoeira foi reconhecida pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Imaterial do Brasil no ano de 2008 e pouco depois, em 2014, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) a declarou Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade.

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O PL foi elaborado em parceria com o Professor e Doutor, Henrique Kohl, chefe do Departamento de Educação Física da UFPE, Contramestre de Capoeira, que elaborou um estudo técnico-científico para embasar a lei. “Estamos vivendo um marco. Consagramos com o viés legal uma demanda historicamente acumulada de reconhecimento a nível identitário local", afirmou Kohl.

O governador Paulo Câmara destacou o potencial da Capoeira e de outros esportes de manter os jovens em bons caminhos. “É uma atividade que traz o bem. Queremos os jovens fazendo capoeira e livre de coisas ruins. Esse é um instrumento que protege a memória da nossa cultura. Conversei com o presidente da casa legislativa e o deputado Zé Maurício, fiz questão de sancionar a lei”, afirmou ele.

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O 12° Comitê da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) decidirá, até a próxima sexta-feira (8), se o trabalho dos pizzaiolos entra para a lista de patrimônios imateriais. A iniciativa tem o objetivo de promover a arte da pizza italiana, que é o carro chefe do país.

A cerimônia, na qual será divulgado o resultado, acontecerá no sábado (9), na Coreia do Sul. A delegação italiana é liderada por Pier Luigi Petrillo, especialista jurídico e responsável pela candidatura. Para alcançar o título, os italianos lançaram uma campanha nas redes sociais e a hasthag #PizzaUnesco.

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Cerca de dois milhões de pessoas de diversos países apoiam o reconhecimento da ‘arte dos pizzaiolos napolitanos’. O Comitê Intergovernamental da Unesco é composto por 24 países, entre eles a Áustria e Chipre, que são favoráveis ao título.

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O deputado Kaio Maniçoba (PMDB-PE) vai presidir a comissão especial que vai analisar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC 270/16). A PEC classifica rodeios, vaquejadas e suas expressões artístico-culturais como patrimônio imaterial brasileiro. O texto será relatador pelo deputado Paulo Azi (DEM-BA). 

Para Maniçoba, a prática da vaquejada e do rodeio faz parte da “cultura e tradição” do Brasil. “Vou trabalhar de forma determinada para que a prática da vaquejada seja, de fato, viabilizada em todo o país”, frisou. 

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A PEC é de autoria do deputado pernambucano João Fernando Coutinho (PSB). A comissão foi instalada nessa quarta-feira (15). Paulo Azi disse que até o final de março a comissão deverá finalizar seus trabalhos. Se a PEC for aprovada, será encaminhada para votação no Plenário da Câmara.

Celebrado por muitos, imitado por outros e motivo de chacota para tantos, o sotaque carioca está prestes a se tornar patrimônio imaterial da cidade do Rio de Janeiro. Projeto apresentado em 2013 pelo ex-prefeito e atual vereador Cesar Maia (DEM) foi aprovado pela Câmara Municipal na última quinta-feira (25) e agora está com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), para sanção ou veto.

A lei declara "a pronúncia da língua portuguesa que é característica do Rio de Janeiro" como patrimônio imaterial da cidade. Se sancionada, a Prefeitura do Rio fará os "registros necessários nos livros próprios do órgão competente".

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A ideia do projeto foi do próprio Maia. "O sotaque carioca é quase um dialeto", afirma. Na justificativa ao projeto, o vereador afirma que "segundo o historiador Alencastro, bem antes do advento do rádio e (...) da televisão, os habitantes do Rio já influenciavam a forma de falar dos moradores de outras províncias (...). Dois congressos nacionais, um de Língua Cantada organizado em 1937 e outro de Língua Falada no Teatro realizado em 1956, apontam a pronúncia do Rio de Janeiro como o padrão no que diz respeito ao português brasileiro".

"Com o passar dos anos, com o desenvolvimento do turismo e com as constantes transmissões televisivas dos programas realizados pelos canais de televisão sediados no Rio, a pronúncia (...) do Rio de Janeiro se tornou conhecida em todo o país e em todo o mundo. Essas constatações confirmam a relevância ímpar do sotaque carioca para todo o Brasil", continua o vereador na justificativa.

Cesar Maia admite que o chiado característico do sotaque carioca dificulta sua compreensão. "A dificuldade que os hispânicos têm de conversar é apenas com os cariocas. Reclamam que chiam como se quase todas as palavras tivessem shhhhhhhhh", disse o vereador em entrevista por e-mail.

Segundo estudiosos, o sotaque carioca, que não é seguido por moradores do interior (do Estado) sofreu forte influência do sotaque lusitano (o s chiado e as vogais abertas em palavras como "também" são características comuns a ambos) e dos dialetos africanos. Essa influência é natural: quando veio de Portugal, em 1808, a família real trouxe ao Rio 15 mil portugueses. À época, a cidade tinha 23 mil habitantes, parte deles escravos africanos.

Os pesquisadores e coreógrafos Valéria Vicente e Giorrdani de Souza (Kiran) lançam, na próxima quinta (14), o livro Frevo para aprender e ensinar, primeira obra com informações específicas para a prática do frevo. O lançamento será no Paço do Frevo, às 18h30, e contará com apresentação da Orquestra de Frevo Zezé Correia, mantida pela Sociedade Musical 15 de Novembro de Upatininga (distrito de Aliança, Zona da Mata Norte de Pernambuco).

O propósito do livro é sistematizar a pedagogia do frevo buscando uma reflexão sobre o ensino da dança através de estudos práticos, de forma acessível a diferentes públicos. O objetivo é contribuir para a melhoria dos processos de ensino e aprendizagem do estilo com foco nos princípios do trabalho técnico e especificidades relacionadas a seu ensino.

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O conteúdo de Frevo para aprender e ensinar foi desenvolvido durante a pesquisa Trançados musculares: saúde corporal e ensino do frevo, realizada pelos autores. Eles fizeram um levantamento inédito das demandas de fortalecimento muscular para a prática do frevo, o que acabou gerando mudanças nas práticas dos participantes da oficina do projeto. Foi então constatada a carência de informações básicas para a saúde corporal no ensino da dança. O livro está disponível para compra no site do projeto.   

Serviço

Lançamento do livro Frevo para aprender e ensinar

Quinta (14) | 18h30

Paço do Frevo (Rua da Guia, s/n - Bairro do Recife)

Gratuito

(81) 3355 9527

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