Diariamente, a curva de crescimento do novo coronavírus no Brasil é detalhada pela imprensa. Na última semana do mês de maio, o Ministério da Saúde registrou 438.238 casos de Covid-19 e, desde as confirmações, o isolamento social e o fechamento de estabelecimentos não essenciais têm sido uma das medidas mais sugeridas pelos órgãos de saúde para combater a disseminação da doença.
Devido a isso, os pequenos negócios, neste momento de "quarentena", estão tendo que se reinventar para conseguir se manter no mercado. “Os pequenos negócios precisam buscar novas formas de se reinventarem para não ter grandes prejuízos com a crise. Os empresários que estiverem trabalhando com caixa apertado podem se prejudicar mais nessa época de instabilidade econômica”, é o que diz o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
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Thayane Gabriele, dona da loja de roupas ‘Use e Abuse’, diz que antes da pandemia não havia pensado ainda em um plano de crise, mas após passar por uma dificuldade nas vendas, desenvolveu uma estratégia para se reinventar e hoje ela comemora o crescimento nas comercializações.
“Antes da pandemia, eu nunca tinha pensado em um plano de crise ou em uma uma situação de risco. Quando percebi que as coisas estavam apertando, entrei em pânico com medo de não conseguir manter as vendas, afinal, a loja, mesmo que virtual, é o meu emprego. Eu não tinha capital para investir em novos produtos, precisava queimar o estoque 'antigo' para pode pensar em algo novo", conta a empreendedora.
Ela revela suas estratégias: “Precisei pegar dinheiro emprestado com minha mãe para poder reinvestir na loja. Agora eu deixo um certo valor reservado para emergência como se fosse um crédito para o próprio negócio. Mudei também todas as minhas ações na loja, pois eu precisava chamar meu público para junto de mim, humanizar mais a relação, e isso deu muito certo. Comecei a aparecer mais nos stories e falar sobre a própria loja. Antes eu não investia em personalizados, depois disso, tive a oportunidade de fazer sacolas personalizadas e isso foi um grande divisor de águas, pois toda cliente te marca em um story, porque achou a sacola bonita; é mesmo que ganhar ouro”.
A dona da loja ‘Use e Abuse’ comemora aumento nas transações, mesmo neste período de crise. “As vendas triplicaram, o estoque que eu passava três semanas para vender, agora mal dá para uma semana. Acredito que antes eu mesma não enxergava a loja como um negócio de verdade, precisei passar por uma dificuldade para entender que não pode se acomodar e ficar na mesma coisa sempre”, finaliza.
A empreendedora Thais Ferreira, dona do pequeno negócio ‘Brownie do rolê’, atuante na Zona Norte do Recife, fala sobre as reinvenções que teve que fazer para levar seu negócio adiante, mesmo com limites de produção e entrega. Ela e sua equipe estão utilizando esse tempo para trabalhar home office e pensar em uma forma para se consolidar no mercado pós crise.
“Num momento como esse, foi necessário testar a flexibilidade do nosso negócio. Nós investimos em novas estratégias de divulgação, fizemos promoções, ajustes na logística de entregas e nos dias de produção. Além disso, alteramos a logística de compra de materiais e redobramos o cuidado na produção”, conta. A empresária ainda diz: “Para diminuir a exposição das nossa equipe e preservar a saúde de todos, nossos dias de produção e entrega foram limitados. Por outro lado, o aumento de atividades do e-commerce fez com que nosso público se expandisse e acabamos alcançando novas pessoas. Estamos tentando prezar pela sobrevivência e melhora do nosso negócio em relação a produtos e serviços. Agora o negócio está parado neste período de Lockdown, mas este tempo está sendo utilizado para reorganizar o cardápio e serviços em home office. A vontade é sobreviver a isso tudo e conseguir nos consolidar no cenário pós crise”, conclui.
Em entrevista ao LeiaJá, a empreendedora Amanda Tavares, dona da loja de roupas on-line ‘SrtaManalu’, conta que no começo do mês de março, quando os casos da Covid-19 ainda estavam sendo confirmados no país, ela não havia entendido a gravidade da situação e depois que viu todos os grandes centros de compras fechados, passou um mês sem vender direito. “Passei exatamente 1 mês sem produzir, o dinheiro acabou. Por várias vezes eu pensei 'e agora?'".
"Alguns fornecedores voltaram a funcionar e mesmo sem poder viajar, comecei divulgar toda a coleção nas redes sociais. Porém, eu sabia que não era o suficiente, tinha que ter algo a mais. Com um pequeno valor que sobrou, fiz 100 balinhas personalizadas da loja e produzi um cartão lindo com um texto que eu mesma elaborei”, relembra. Ela continua: “Quando postei nas redes sociais que todas as clientes da semana ganhariam um mimo, foi um sucesso, porque todas queriam saber o que era. Toda a coleção já chegou vendida. E quando todas as meninas fizeram stories, automaticamente começara, a chegar mais clientes e os pedidos dobraram. Tudo isso por causa de um cartão com uma balinha e um atendimento diferenciado”, pontua.
Amanda Tavares investiu em mimos personalizados. Foto: Cortesia
Dicas para os pequenos negócios
Para auxiliar os pequenos empreendedores, o LeiaJá entrevistou o analista do Sebrae, Danilo López, que pontuou algumas dicas para os empreendedores que desejam sobreviver no mercado e se reinventar neste momento de crise. Confira:
1- Pesquisa de mercado
O primeiro passo é fazer uma pesquisa de mercado, pois tem que ser sensível a essas mudanças. Pesquisar o cliente e os concorrentes e, acima de tudo, entender quais são as necessidades e as oportunidades.
2 - Fazer um planejamento
Tem que fazer um planejamento para você estruturar como vai ser o plano operacional, como vai ser o marketing e até o financeiro. Ou seja, como vai produzir? Como vai se legalizar? Quais são a infraestrutura e os equipamentos necessários? Como vai divulgar? Em quais canais você conversa melhor com seu público?
3 - Fazer um plano financeiro
É bom para estabelecer qual é o investimento correto. Quanto você deve vender para pagar o que foi adquirido? É preciso entender a viabilidade financeira e as metas que você tem que ter para gerar lucro. Fora que, é importante testar o mercado, pois cautela é a palavra de ordem nesse momento.
4 - Testar o mercado
A dica é criar versões menores do que você deseja introduzir no mercado. Não atender uma região muito extensa e sim mais locais como a vizinhança ou bairros próximos. Sempre testando e sentindo o mercado. Se um produto está parado, é importante criar estratégias para colocar ele para frente e depois trocá-lo por outros produtos mais interessantes. "A situação está complicada, mas a inovação e a reinvenção muitas vezes surgem do caos. Se você quer ver resultados diferentes, você tem que agir diferente; e esse agir diferente mexe na zona de conforto e com a atitude empreendedora que nós devemos ter neste momento", conclui o analista do Sebrae.