O presidente russo, Vladimir Putin, se dirigiu à nação neste sábado (27) e prometeu defender o país e seu povo da rebelião armada declarada pelo líder mercenário Ievgeni Prigozhin do grupo Wagner. Putin também disse que rebelião é uma "punhalada nas costas" e prometeu "ações decisivas" para punir os "traidores".
Em discurso de cinco minutos à nação, Putin disse que as funções militares e civis da cidade haviam sido "essencialmente bloqueadas", parecendo reconhecer algum sucesso do Prigozhin, que na manhã de sábado reivindicou o controle de partes do quartel-general militar do sul das Forças Armadas russas.
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Putin disse que o motim representava "uma ameaça mortal à nossa condição de Estado" e prometeu "ações duras" em resposta. "Todos aqueles que prepararam a rebelião sofrerão uma punição inevitável. As forças armadas e outras agências governamentais receberam as ordens necessárias", disse Putin.
Ele chamou as ações de Prigozhin, sem se referir ao proprietário da empresa militar privada Wagner pelo nome, de "traidor" e afirmou que "aqueles que estão sendo arrastados para esse crime não cometam um erro fatal, trágico e único, e façam a única escolha certa - pare de participar de atos criminosos".
Putin condenou a rebelião no que disse ser um momento em que a Rússia estava "travando a mais dura batalha pelo seu futuro" com sua guerra na Ucrânia. "Toda a máquina militar, econômica e de informação do Ocidente está sendo usada contra nós", disse Putin.
"Essa batalha, quando o destino de nosso povo está sendo decidido, exige a unificação de todas as forças, unidade, consolidação e responsabilidade." Uma rebelião armada em um momento como esse é "um golpe para a Rússia, para seu povo", disse o presidente.
"Aqueles que planejaram e organizaram uma rebelião armada, que levantaram armas contra seus companheiros de armas, traíram a Rússia. E eles responderão por isso", disse Putin.
Em resposta. Priogozhin disse que Putin está "profundamente enganado" e que seus combatentes não irão se entregar.
O conflito que se desenrola nas ruas das cidades russas é uma reviravolta dramática para a guerra de Putin, parecendo configurar o maior desafio à sua autoridade desde a invasão.
Os governadores das regiões ao longo da principal rodovia M-4, que liga Rostov-on-Don a Moscou, disseram que equipamentos militares estavam sendo transportados pela rodovia e pediram aos moradores locais que ficassem longe do corredor.
"Estamos bloqueando a cidade de Rostov e indo para Moscou", diz Prigozhin em um vídeo que veio à tona na madrugada de sábado, verificado pelo The New York Times, mostrando-o na companhia de homens armados no pátio do quartel-general, perguntando pelo chefe do Estado-Maior das Forças Armadas russas e pelo ministro da Defesa russo, Sergei K. Shoigu.
Prigozhin declarou que, enquanto Wagner "não tiver o chefe do Estado-Maior russo, Valery Gerasimov, e o ministro da Defesa, Sergey Shoigu, em seu poder, seus mercenários bloquearão a cidade de Rostov" e "avançarão em direção a Moscou".
Um assessor do presidente ucraniano Volodmir Zelenski disse no sábado que a crise causada pela rebelião do grupo paramilitar Wagner na Rússia está apenas começando.
"Isso é apenas o começo na Rússia", disse o assessor presidencial Mikhail Podoliak no Twitter. "A divisão entre as elites é evidente demais. Concordar e fingir que tudo está resolvido não funcionará", acrescentou.
Prigozhin responde
O chefe do Grupo Wagner, Ievgeni Prigozhin, respondeu ao apelo do presidente Vladimir Putin por unidade e fim do que ele chamou de "uma rebelião armada". Ele afirmou que o grupo não irá recuar ou confessar qualquer culpa.
"Em relação à traição à pátria, o presidente está profundamente enganado", disse Prigozhin em uma mensagem de áudio postada por seu serviço de imprensa, referindo-se aos comentários de Putin dizendo que Wagner traiu a Rússia ao encenar hostilidades dentro do país.
"Somos patriotas, lutamos e continuamos lutando, todos do Wagner, e ninguém pretende ir confessar ou se entregar a pedido do presidente, do FSB [Serviço de Segurança Federal] ou de quem quer que seja, porque nós não queremos que o país continue a viver na corrupção, na falsidade e na burocracia", completou Prigozhin.
Entenda o caso
Prigozhin, cuja empresa militar privada ajudou a Rússia a tomar a cidade ucraniana de Bakhmut, o único ganho territorial significativo de Moscou este ano, acusou os militares russos na sexta-feira de realizar um ataque a um campo de Wagner e pareceu ameaçar Shoigu, declarando: "Essa escória vai ser detida!"
Em uma rara declaração no final da noite, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que o presidente Vladimir Putin havia sido informado sobre a situação e que "todas as medidas necessárias" estavam sendo tomadas.
Em janeiro, segundo os documentos secretos do Pentágono vazados na plataforma Discord, Prigozhin afirmou que se Kiev retirasse seus soldados da área ao redor de Bakhmut, ele daria a Ucrânia informações sobre as posições das tropas russas que a Ucrânia poderia usar para atacá-los. Prigozhin transmitiu a proposta a seus contatos no diretório de inteligência militar da Ucrânia, com quem manteve comunicações secretas durante a guerra.
Suposto ataque a acampamento
Na sexta-feira, Prigozhin postou um vídeo que supostamente mostrava o ataque ao acampamento onde, segundo ele, muitos de seus combatentes foram mortos. O vídeo mostrava fumaça crescente e sinais de destruição, mas nenhuma evidência do grande número de vítimas que ele alegou.
Após uma reunião que ele descreveu como um conselho de comandantes de guerra de Wagner, Prigozhin postou uma mensagem de áudio no Telegram no final da sexta-feira avisando que "aqueles que destruíram nossos homens hoje e dezenas de milhares de vidas de soldados russos serão punidos. Peço a ninguém que resista".
Qualquer resistência seria considerada uma ameaça e imediatamente destruída, incluindo bloqueios de estradas e aeronaves, declarou ele.
Prigozhin, um bilionário, ganhou sua fortuna e o apelido de "chef de Putin" por meio de contratos de aprovisionamento com o governo, inclusive para escolas e militares. Além de ser um dos fundadores da Wagner, ele é proprietário da Internet Research Agency, uma notória operadora de "fazendas de trolls", e se gaba de ter se intrometido nas eleições dos Estados Unidos, pelo que foi colocado sob sanções pelo Departamento do Tesouro dos EUA. (Com agências internacionais)