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Em meio ao surto do vírus Zika que impactou milhares de famílias pelo Brasil, entre 2015 e 2016, nasceu a pequena Nicole, em Salvador, na Bahia. Enquanto a mãe Ingrid Graciliano aguardava a chegada da filha, que completa 4 anos este mês, o susto: um diagnóstico de microcefalia. A doença da filha a afetou emocionalmente. Ingrid passou a desenvolver os primeiros sintomas da depressão pela novidade, pela quebra de expectativa e por imaginar os cuidados e a luta que seria criar Nicole.

Hoje, ela é a presidente da Associação de Anjos da Bahia e compara a situação a um luto, o que levou à depressão, doença que atinge muitas mães e cuidadoras de crianças afetadas pela síndrome congênita do Zika. “A depressão veio depois que eu tive Nicole e se potencializou ainda mais. Olhava para ela e via que não me acompanhava com o olhar porque tinha baixa visão, né. Aquilo me doía muito. Eu amamentava e ela não olhava pra mim. Não é um luto passageiro, é um luto eterno porque a gente sempre vai procurando aquela criança que a gente sonhou”, disse.

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Segundo ela, a situação da filha gera um desgaste psicológico muito grande. “Eu me separei do meu marido, tive um quadro de depressão muito crítico, pensamentos suicidas, comecei a tomar ansiolítico. Tinha uma vida plena antes, trabalhava, estudava e não poderia me colocar no mercado de trabalho porque tinha de cuidar daquela criança ali.”

Ingrid disse também que a falta de apoio familiar e suporte de políticas públicas para os cuidadores das crianças influencia no agravamento do quadro depressivo. Segundo a presidente da associação, quase 80% das crianças afetadas pelo Zika foram deixadas pelo pai e dez mães da associação já tentaram suicídio.

“É preciso cuidar de quem cuida”. É o que defende, com unhas e dentes, a psiquiatra Darci Neves, também epidemiologista e professora do instituto de saúde coletiva da Universidade Federal da Bahia, depois que realizou um estudo preliminar sobre quem cuida das crianças afetadas pelo vírus. “A expectativa de uma família perante algo tão inusitado como foi a síndrome congênita do Zika, nos fez pensar que pudessemos aliviar esse sofrimento. Pensamos em cuidar de quem cuida. Se isso não for feito, a criança também não é beneficiada”, afirmou a médica.

Segundo a psiquiatra, o estudo foi realizado com famílias de 165 crianças que foram impactadas, de alguma forma, com o surto do zika vírus, entre 2015 e 2016, em Salvador. O resultado, de acordo com ela, era previsto na literatura médica, mas a confirmação de que uma a cada três pessoas que cuidam dessas crianças apresentam diagnóstico de depressão. E a maior parte, 90%, é de mães.

Para a especialista, a síndrome congênita do Zika vírus gera o fator surpresa na família e ocasiona o estresse que pode levar à depressão. Além disso, ela considera necessária a elaboração de políticas públicas que deem suporte a quem cuida dos pequenos, principalmente as mães.

Estudo

Com o título Desenvolvimento Infantil na Comunidade, a equipe que a médica coordena acompanhou as 165 crianças de até 3 anos de idade, em Salvador. Todas foram afetadas, de alguma forma, pelo surto do Zika: podendo ser microcefalia, hidrocefalia ou sem interferência na aparência do bebê, mas de caráter neurológico.

Nessa avaliação sobre o desenvolvimento dessas crianças, a pesquisa analisou três fatores: cognição, motricidade e linguagem. No fim das contas, o estudo aponta uma idade mental de 1 ano de idade, em crianças de 3 anos. “Há muitas outras alterações neurológicas que não necessariamente acontecem na cabeça. Essas alterações que atingiram o cérebro da criança tem um poder de dano muito grande. Observamos que as funções cognitivas estão abaixo do que disseram. A gente encontrou esses percentuais elevados para funções cognitivas, para a função motora e de linguagem”, disse Darci.

No desenvolvimento motor, por exemplo, foi avaliada a capacidade de agarrar objetos, andar e pular. Em mais de 80% das crianças avaliadas apresentaram atraso, em relação a outras crianças da mesma idade. A capacidade cognitiva, como percepção, memória e raciocínio foi afetada pelo Zika em 79% dos pequenos. E quanto à linguagem, o estudo revelou um atraso em relação à idade em 78% das crianças avaliadas.

Foi na capital baiana que o vírus da doença foi identificado pela primeira vez, em 2015, em pacientes infectados. A microcefalia se tornou a complicação mais conhecida em bebês de mães que tiveram o vírus Zika, mas existem outras complicações, como problemas motores e neurológicos que podem afetar a visão, a audição e o desenvolvimento da criança.

Cerca de 60% das mães participaram da pesquisa, coordenada pela professora da UFBA, Darci Neves, com financiamento de agências de pesquisa Capes e CNPq e do Ministério da Saúde. Caso o financiamento seja mantido, o próximo passo do estudo é analisar o desenvolvimento dessas crianças na fase escolar, nos próximos anos. Só assim vai ser possível embasar a elaboração de políticas públicas às crianças e familiares afetados pelo Zika.

O vírus da zika é capaz de infectar o tecido cerebral de adultos - e não apenas de fetos como se acreditava. Feito por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o novo estudo explica complicações neurológicas apresentadas por adultos durante o surto da doença em 2015. Alguns pacientes apresentaram confusão mental, perda de memória e até dificuldades motoras.

O trabalho foi publicado na manhã desta quinta-feira, 5, na "Nature Communications", uma das mais prestigiadas revistas de divulgação científica do mundo. A descoberta revela que a infecção pode ter sérios desdobramentos, ainda desconhecidos, no longo prazo. Os recentes cortes das bolsas do CNPQ e da Capes, no entanto, devem interromper a continuidade da pesquisa, alertaram os cientistas envolvidos.

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Cientistas do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho infectaram com o vírus da zika amostras de tecido cerebral de adultos humanos. Para surpresa dos pesquisadores, o vírus se mostrou capaz de infectar os neurônios e se multiplicar.

"Para tentar entender as implicações disso, passamos, então, a usar, camundongos", explicou o professor Sérgio Teixeira Ferreira, um dos coordenadores do estudo. "Constatamos que a reação inflamatória disparada no cérebro dos animais permanece muito tempo depois de o vírus não estar mais presente. A inflamação provoca ainda a degeneração das sinapses (responsáveis pela ligação entre os neurônios), interrompendo a comunicação."

Estudos feitos até hoje tinham comprovado que o vírus contraído por mulheres grávidas tinha causado má formação do cérebro dos fetos e gerado vários casos de microcefalia. "Achávamos que o vírus infectava apenas os chamados precursores neuronais e os neurônios imaturos dos embriões em desenvolvimento", contou Ferreira. "Agora constatamos que ele afeta também os tecidos adultos."

Para o pesquisador, é necessário que a pesquisa tenha continuidade, que os adultos que apresentaram sequelas neurológicas sejam acompanhados no longo prazo, para que se estabeleça o real impacto do vírus.

Outra descoberta importante do estudo foi que um medicamento anti-inflamatório atualmente usado no tratamento da artrite reumatoide pode amenizar os problemas neurológicos causados pelo vírus. Os cientistas acreditam que as descobertas podem contribuir para o estabelecimento de políticas públicas de tratamento e também para o desenvolvimento de novas terapias.

"Os bebês que nasceram com microcefalia estão sendo acompanhados, mas não sabemos o que aconteceu com os adultos", disse o cientista. "Seria muito importante acompanhar também os adultos, investigar as consequências neurológicas."

A neurocientista Cláudia Pinto Figueiredo, da Faculdade de Farmácia da UFRJ, que também coordenou a pesquisa, teme pelo futuro do estudo diante dos cortes das bolsas do CNPq e da Capes.

"Com o corte dessas bolsas, ocorre uma paralisação de toda a ciência e tecnologia do País", afirmou a cientista. "Não temos força de trabalho visto que, nas universidades brasileiras, não existem postos de pesquisadores, só de professores. Quem ocupa os postos de pesquisador são os alunos de mestrado, doutorado e pós-doutorado."

A pesquisadora Fernanda Aragão, aluna do doutorado, que participou do estudo, já sabe que não conseguirá renovar a bolsa. "Eu tenho bolsa de doutorado até fevereiro, quando me formo", explicou. "Mas não há previsão de novas indicações pra bolsistas nas principais agências de fomento do Brasil. Então, eu não tenho perspectiva de conseguir uma bolsa de pós-doutorado. Eu apliquei para editais que foram suspensos. Ou seja, não poderei continuar pesquisando."

"Além da questão das bolsas", ressalta Ferreira, "há uma redução dramática do financiamento às pesquisas; recursos para projetos já aprovados não vêm sendo pagos".

Para o cientista, a situação é gravíssima. "Esse estudo foi iniciado em 2016, mas, posso dizer que, se estivesse sendo iniciado hoje, não teríamos condições de concluir o trabalho."

O Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira, dia 5, traz a Medida Provisória 894, que institui pensão especial destinada a crianças com microcefalia decorrente do zika vírus, nascidas entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de dezembro de 2018, beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC).

A MP foi assinada na quarta-feira (4) em cerimônia realizada no Palácio do Planalto. O valor da pensão vitalícia é de um salário mínimo. Segundo o governo, há 3.112 crianças com microcefalia, nascidas nesse período, que recebem o BPC. Famílias elegíveis, que optarem pela pensão especial, não poderão acumular os dois benefícios e deixarão de receber o BPC em caso de concessão da pensão, cujo valor também é de um salário mínimo.

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A diferença é que o BPC está vinculado a uma faixa de um quarto do salário mínimo per capita de renda mensal da família. Acima disso, não é possível requerer o BPC. Dessa forma, algumas mães que conseguem emprego acabam perdendo o benefício. A pensão especial é intransferível e não gerará direito a abono ou a pensão por morte.

Uma Medida Provisória assinada pelo Governo Federal concede às crianças com microcefalia, que já são beneficiárias do Benefício de Prestação Continuada (BPC), uma pensão especial vitalícia no valor de um salário mínimo. A MP assinada nesta quarta-feira (4), define que os responsáveis que optarem pela pensão especial terão que abrir mão do BPC em caso de concessão do benefício vitalício. 

A medida foi proposta pelo Ministério da Cidadania. O órgão aponta que atualmente mais de 3 mil crianças com microcefalia, nascidas entre 2015 e 2018, recebem o Benefício de Prestação Continuada. A pensão vitalícia deverá ser solicitada no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e concedida após a realização de perícia médica que deve confirmar a relação entre a microcefalia  o virus Zika.

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O ministro Osmar Terra aponta que a medida assegura tranquilidade às mães. “São famílias que enfrentam dificuldade financeira para oferecer os cuidados necessários às crianças, que terão muitas dificuldades por toda a vida”, diz.

Um estudo feito com bebês de mulheres infectadas pelo zika na gestação mostra que um terço deles registrou algum atraso no desenvolvimento até dois anos e oito meses após o nascimento. O achado indica que o vírus pode provocar problemas neurológicos, visuais e auditivos mesmo em bebês nascidos sem microcefalia ou qualquer outra anormalidade.

Responsáveis pelo estudo, os pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vêm acompanhando 216 bebês nascidos entre 2015 e 2016 no País. Todos eles são filhos de mulheres que tiveram a infecção pelo vírus confirmada em algum momento da gravidez.

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De acordo com a pesquisa, publicada na última segunda-feira na revista científica Nature Medicine, 68 das 216 crianças avaliadas (31,5%) tiveram problemas neurológicos detectados no período de 7 a 32 meses de idade.

"O problema mais comum foi atraso no desenvolvimento da linguagem, mas observamos também atrasos motores e cognitivos", destacou a pediatra Maria Elisabeth Moreira, pesquisadora da Fiocruz. "Nossa intenção é monitorar essas crianças até a idade escolar", destaca a médica.

De acordo com a especialista, embora não seja possível afirmar que todos os casos de atraso sejam sequelas do zika, há uma associação entre a infecção e os problemas no desenvolvimento. "Há outras causas para atrasos no desenvolvimento, mas vemos uma associação porque temos um grupo controle de bebês, de mães que não foram infectadas pelo zika, e, nesse grupo, o índice de bebês com problemas no neurodesenvolvimento é de 15%, metade do registrado no grupo de bebês de mães com zika", explica ela.

Os resultados da pesquisa reforçam descobertas feitas pelo mesmo grupo logo após o início da epidemia de zika e microcefalia no País. Na época, os cientistas já verificavam que as sequelas da infecção poderiam aparecer meses após o nascimento.

Agora, com as crianças mais velhas e a possibilidade de um tempo maior de monitoramento, os cientistas concluem que o aparecimento dos problemas pode ser ainda mais tardio.

Inverso

Os cientistas também acharam entre os bebês monitorados casos inversos, ou seja, nos quais o bebê nasceu com alguma anormalidade e se desenvolveu normalmente depois.

Do total de crianças acompanhadas, 49 apresentavam algum problema logo após o nascimento, mas 24 delas (49%) tiveram avaliações normais no segundo e terceiro anos de vida.

Entre os bebês com alguma anormalidade, oito haviam sido diagnosticados com microcefalia. Destes, dois voltaram a ter um crescimento cerebral adequado, sem apresentar, no decorrer do crescimento, qualquer problema neurológico, motor, visual ou na linguagem.

Maria Elisabeth destaca que esses dois bebês puderam ter uma boa evolução porque, embora tivessem perímetro cefálico abaixo do adequado ao nascer, não tinham lesão cerebral, diferentemente da maioria dos bebês com microcefalia.

Para a especialista, ambos os achados do estudo reforçam a necessidade de monitoramento constante dessas crianças para detecção de eventuais sequelas tardias e do início precoce das terapias de estimulação para que eventuais anormalidades detectadas no nascimento possam ser revertidas ou minimizadas.

Esse cenário, porém, ainda está longe de ser alcançado no Brasil. De acordo com dados do Ministério da Saúde, dos 3,3 mil bebês nascidos com má-formação causada pelo zika entre 2015 e 2018, só 35% têm acesso à estimulação precoce.

Outro problema é a falta de recursos para pesquisas que mostrem o impacto das terapias de estimulação nessas crianças. "Precisamos de mais investimentos. Tentamos, mas não conseguimos financiamento para essa pesquisa", diz Maria Elisabeth. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

De janeiro a junho de 2019 já foram confirmados no Brasil 596,3 mil casos de dengue, com 366 mortes por causa da doença e outras 453 em processo de investigação. Os dados são do Ministério da Saúde. O número de casos provisórios, ou seja, ainda não confirmados como dengue, saltaram de 173,6 mil em 2018 para 1,1 milhão em 2019, um crescimento de mais de 560%.

Os estados de Minas Gerais e São Paulo registram 96,5% do total de casos prováveis do país. 

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O mosquito transmissor da dengue, Aedes Aegypti, também transmite outras doenças como febre amarela, Zika e Chikungunya. O levantamento registrou ainda um aumento nos casos de chikungunya, de 61,4 mil para 65,8 mil casos prováveis. Até o momento 15 mortes por causa da doença já foram confirmados e outros 46 estão sob investigação, sendo 19 no estado de Pernambuco.

Os casos de Zika também cresceram de 5 mil para 6,5 mil casos provisórios. Ainda não há mortes confirmadas pela doença. Entre as gestantes, dos 1,6 mil casos prováveis 299 foram confirmados. As maiores incidências foram no Rio de Janeiro, com 39,4% dos casos, seguido do Espírito Santo com 16,7%.

 

A Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado debateu nesta semana a liberação do aborto por grávidas infectadas pelo vírus Zika. O assunto está na pauta de votação do Supremo Tribunal Federal (STF), com julgamento marcado para o dia 22 de maio. Convidados da comissão apresentaram dados que mostram um impacto do vírus em fetos muito menor do que se imaginava quando a epidemia da doença se espalhou em algumas regiões do país, em 2016.

Na ação que está no Supremo desde 2016, a Associação Nacional de Defensores Públicos (Anadep) defende, dentre outras medidas, a descriminalização do aborto no caso de grávidas infectadas pelo Zika. Raphael Parente, do Conselho de Medicina do Rio de Janeiro, afirmou que se sabe muito mais sobre o vírus hoje do que se sabia na época.

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“Quando a Adin [ação direta de inconstitucionalidade] foi proposta, o conhecimento sobre o [vírus] Zika era muito incipiente. O conhecimento aumentou muito de lá pra cá. Um estudo publicado na revista The New England mostrou que apenas 15% dos bebês expostos ao Zika tiveram algum tipo de problema grave. Uma pesquisa mais recente, do CDC [Centro de Controle e Prevenção de Doenças] dos Estados Unidos, mostrou 5%”, disse Parente.

Lenise Garcia, doutora em microbiologia e presidente do Movimento Brasil Sem Aborto, apresentou dados do Ministério da Saúde divulgados em maio de 2017. No estudo, a microcefalia foi confirmada em menos de 20% dos casos, depois de alguns meses do nascimento da criança. Em 42% dos casos a doença foi descartada após investigação.

“Se mesmo depois de nascida a criança, é descartada a microcefalia em mais de 50% dos casos, imaginem como é incerto fazer um pré-diagnóstico intrauterino”, disse Lenise. Ela acrescentou que, na Polinésia Francesa, de onde se suspeita ter vindo o vírus, 1% das crianças nasceram com microcefalia, em um universo onde 66% da população foi contaminada pelo vírus.

“Nós temos o dado de que só 1% das crianças são afetadas quando a mãe tem a doença. Estudo científico com dados totais; não é amostragem da epidemia na Polinésia Francesa. Isso nos traz um questionamento a mais sobre usar a zika como justificativa para liberação do aborto”, acrescentou a microbióloga.

O autor do requerimento para a audiência pública, senador Eduardo Girão (Pode-CE), citou uma pesquisa realizada no Reino Unido sobre o impacto do aborto nas mulheres. “A mulher que faz aborto tem propensão muito maior a crises de ansiedade, a depressão, envolvimento com álcool e drogas e suicídio. Nesse aspecto é um caso de saúde pública sim. Quanto mais a gente debate esse assunto, mais a verdade vem à tona.”

Lenise acredita que, mesmo quando é confirmado um caso de microcefalia em um feto, seu direito à vida não pode ser negado. “E é particularmente problemático que se justifique o aborto em função de uma deficiência, porque é um preconceito com a pessoa com deficiência. Estou desconsiderando essa vida como uma vida digna de ser vivida.”

Três cidades brasileiras irão realizar a etapa final do método "Wolbachia" para o combate ao mosquito Aedes aegypti antes da sua incorporação ao Sistema Único de Saúde (SUS). A nova fase do projeto World Mosquito Program Brasil (WMPBrasil) da Fiocruz em parceria com o Ministério da Saúde será restado em Petrolina, no Sertão de Pernambuco; Campo Grande-MS e Belo Horizonte-MG. O investimento é de R$ 22 milhões.

De acordo com o Ministério da Saúde, a tecnologia é inovadora, autossustentável e complementar às demais ações de prevenção ao mosquito. O método consiste na liberação do Aedes com o microorganismo Wolbachia na natureza, reduzindo a capacidade de transmissão de doenças.

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O anúncio da etapa final de avaliação da Wolbachia foi feito pelo ministro da Saúde, Henrique Mandetta, na segunda-feira (15), durante a abertura do evento “Atualização em Manejo Clínico da Dengue e febre do chikungunya e no controle vetorial do Aedes aegypti”, em Campo Grande (MS). O evento tem como objetivo capacitar médicos, enfermeiros, coordenadores e supervisores de Controle de Vetores dos 79 municípios do estado de Mato Grosso do Sul em relação à técnica de manejo, controle do mosquito e operação de campo.

De acordo com o ministro, o anúncio significa um grande passo no combate ao Aedes aegypti. "Tínhamos duas linhas de trabalho, sendo uma voltada ao controle do mosquito com o uso de inseticidas, e outra direcionada ao controle biológico, que é o caso do uso da Wolbachia. Essa última pesquisa foi muito bem em todas as etapas, desde a parte teórica até o ensaio clínico em laboratório, e no teste em cidades de pequeno porte. E agora, vamos testar em cidades acima de 1,5 milhão de habitantes”, afirmou Mandetta.

As três cidades, onde serão trabalhadas a última fase, vão servir de base para verificar a eficácia da metodologia nas regiões do Centro-Oeste, a partir de Campo Grande; Nordeste, por meio de Petrolina; e Sudeste, a partir da experiência em Belo Horizonte. Em breve, novas cidades devem receber o método.

O teste nas três cidades terá início no segundo semestre de 2019 com duração de cerca de três anos. O método é seguro para as pessoas e para o ambiente, pois a Wolbachia vive apenas dentro das células dos insetos.

A medida é complementar e ajuda a proteger a região das doenças propagadas pelos mosquitos, uma vez que o Aedes aegypti com Wolbachia - que têm a capacidade reduzida de transmitir dengue, Zika, chikungunya – ao serem soltos na natureza se reproduzem com os mosquitos de campo e geram Aedes aegypti com as mesmas características, tornando o método autossustentável. Esta iniciativa não usa qualquer tipo de modificação genética.

As liberações de mosquitos são precedidas por uma série de ações educativas e de comunicação, com o objetivo de informar a população sobre o método Wolbachia. Esta etapa tem o apoio e a participação de parceiros do WMP no território, como lideranças comunitárias e associações de moradores, unidades de saúde, escolas e organizações não-governamentais.

A Wolbachia é um microrganismo presente em cerca de 60% dos insetos na natureza, mas ausente no Aedes aegypti. Uma vez inserida artificialmente em ovos de Aedes aegypti, a capacidade do Aedes transmitir o vírus da zika, Chikungunya e Febre Amarela fica reduzida. Com a liberação de mosquitos com a Wolbachia, a tendência é que esses mosquitos se tornem predominante e diminua o número de casos associado a essas doenças nos três municípios.

Desde 2011, o Ministério da Saúde em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates e National Institutes of Health já investiram no método Wolbachia R$ 31,5 milhões. As primeiras liberações dos mosquitos contendo Aedes aegypti com wolbachia no Brasil ocorreram em 2015 nos bairros de Jurujuba em Niterói e Tubiacanga na Ilha do Governador ambos no estado do Rio de Janeiro.

Em 2016 a ação foi ampliada em larga escala em Niterói e em 2017 no município do Rio de Janeiro. Atualmente o WMP Brasil atende 29 bairros na cidade do Rio de Janeiro e 28 bairros de Niterói. No total, já são 1,3 milhão de pessoas beneficiadas no estado com o método Wolbachia. Além do Brasil, também desenvolvem ações do programa países como: Austrália, Colômbia, Índia, Indonésia, Sri Lanka, Vietnã, e as ilhas do oceano pacífico Fiji, Kiribati e Vanuatu.

Com informações da assessoria

Após a confirmação de casos de dengue com o vírus do tipo 2, a prefeitura de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, planeja para amanhã (16) uma nebulização veicular ("fumacê") para combater o mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus da dengue e também de zika e chikungunya.

A nebulização vai percorrer as ruas do bairro Parque Alvorada, onde foram confirmados os casos, e também do Jardim Lenize, onde foram registrados 46 dos 361 casos de dengue já confirmados na cidade em 2019. No Parque Alvorada o fumacê vai passar amanhã (16) às 18h. Já no Jardim Lenize, a ação acontece nos dias 17 e 18 (quarta e quinta-feira), também a partir das 18h.

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Durante a nebulização, os moradores e seus animais domésticos devem permanecer dentro de casa, para que não sejam atingidos diretamente pelo inseticida. No entanto, as portas, janelas e cortinas precisam permanecer abertas, para que o produto tenha contato com o interior da casa. Aquários e gaiolas com aves ou roedores domesticados precisam ser cobertos.

A constatação de que o tipo 2 da dengue já circula em Guarulhos se deu após o Instituto Adolfo Lutz confirmar a presença do vírus em exame de sangue de uma moradora do bairro, de 32 anos, que não se deslocou para outras regiões ou estados (caso autóctone). 

O histórico dos casos já confirmados em Guarulhos nos últimos sete anos mostra que a maior parte foi causada pelos vírus dos tipos 1 e 4. Essas pessoas não são imunes ao vírus do tipo 2, por isso correm o risco de contrair novamente a doença, que tende a se manifestar com sintomas mais fortes do que da primeira vez. 

Só é possível identificar o tipo de vírus causador da dengue por exame de sangue, que tem que ser coletado no máximo até três dias após o aparecimento dos primeiros sintomas. Por isso, é importante procurar um serviço de saúde assim que houver suspeita de dengue. 

Atualmente, além do caso do Parque Alvorada, o município recebeu mais dois resultados positivos para dengue do tipo 2, um homem de 55 anos residente na Água Chata e uma mulher de 44 anos moradora do Cabuçu.

 

Uma nova técnica para detecção do vírus zika, mais sensível e barata que a PCR em tempo real, que é o padrão para diagnóstico molecular da doença, se mostrou eficiente nos testes com amostras de mosquitos. O teste foi desenvolvido em uma pesquisa de mestrado com a participação de pesquisadores da Fiocruz Pernambuco. A pesquisa foi publicada na conceituada revista científica Nature.

A tecnologia, denominada amplificação isotérmica medida por alça (RT-Lamp), também tem a vantagem de ser bem mais rápida do que a PCR, diminuindo de cinco horas para menos de uma hora o tempo necessário para obter o resultado. Segundo a Fiocruz, trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada em qualquer lugar, na forma de kit rápido, pois não depende de equipamentos caros e sofisticados, restritos a laboratórios especializados, como é o caso da PCR.

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Outra vantagem é o custo de cada teste, de apenas um R$ 1. O PCR tem custo individual de R$ 40. Segundo pesquisador Lindomar Pena, que orientou a pesquisa, a técnica se mostrou 10 mil vezes mais sensível que o PCR e, em alguns casos, foi capaz de detectar carga viral onde a PCR deu negativa. “Trata-se de um exame específico para zika, que não apresentou reação cruzada para outras arboviroses”, relata.

Foram utilizadas 60 amostras de mosquitos Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus na pesquisa, infectados naturalmente ou em laboratório com os vírus zika, dengue, febre amarela e chikungunya. A próxima etapa será a conclusão dos testes com amostras humanas.

De acordo com a Fiocruz, na época que o projeto foi lançado, não havia trabalho semelhante. Ao longo do seu desenvolvimento surgiram em torno de 15 projetos nesse campo. O diferencial desse trabalho, conforme a Fiocruz, é o pequeno número de etapas necessárias para a reação, o baixo custo e a simplicidade do teste.

Na sua forma simplificada, o teste consiste em colocar a amostra de mosquito em um tubo com reagente. Após aguardar cerca de 20 a 40 minutos, observa-se a cor da mistura. Se ficar laranja, o resulto é negativo, mas se o líquido se tornar amarelo,  há presença do vírus zika. “A ideia é que se possa coletar, macerar o mosquito em campo – em plena Amazônia, por exemplo - e obter o resultado lá mesmo”, afirma o pesquisador. Com humanos, se poderá coletar saliva ou urina do paciente com suspeita de zika, realizar o teste e obter a resposta na mesma hora.

Um novo estudo liderado por pesquisadores da Fiocruz Bahia, Fiocruz Pernambuco, Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Escola Pública de Yale demonstrou que pessoas que possuíam anticorpos contra a dengue tinham menor probabilidade de serem infectadas pelo zika durante o surto. Ocorrido entre 2015 e 2016, o surto da zika foi uma das maiores emergências de saúde pública do Brasil.

A revelação de que a imunidade decorrente da infecção gerada pelo vírus da dengue protegeu indivíduos da zika foi obtida a partir do acompanhamento de 1453 pessoas, moradores do bairro Pau da Lima, em Salvador, Bahia. Na área utilizada para o estudo, 73% dos indivíduos tiveram contato com o vírus zika.

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Os vírus da zika e da dengue compartilham várias semelhanças genéticas e circulam nas mesmas regiões. Segundo a Fiocruz, ainda estava em aberto uma questão-chave: se os anticorpos que são gerados a partir de uma infecção por dengue poderiam proteger as pessoas ou as tornam mais suscetíveis a uma infecção por zika. "Este estudo é o primeiro a avaliar esta questão e demonstrar que a imunidade à dengue pode proteger contra uma infecção por zika em populações humanas", disse Federico Costa, pesquisador visitante da Fiocruz Bahia e professor do Instituto de Saúde Coletiva da UFBA. A pesquisa constatou que quando o nível de anticorpos duplicava de uma pessoa para outra, havia redução no risco de infecção por zika em 9%.

O estudo indicou que, embora a taxa geral de infecção tenha sido alta em Pau da Lima, os pesquisadores descobriram grandes diferenças no risco de infecção pelo zika, em curtas distâncias. Dependendo de onde as pessoas viviam, as taxas de infecção variavam de um mínimo de 29% a um máximo de 83%. Os autores defenderam que, embora houvesse áreas da comunidade que não foram atingidas pelo zika durante o surto, a grande maioria da população estava infectada com o vírus altamente transmissível e por isso desenvolveu imunidade a esse vírus, o que, por sua vez, levou à extinção da transmissão e causou o declínio do surto. “A pandemia de zika criou altos índices gerais de imunidade a esse vírus nas Américas, o que será uma barreira para os surtos nos próximos anos”, disse Isabel Rodriguez-Barraquer, professora assistente da Universidade da Califórnia, em San Francisco.

O estudo foi apoiado pela Escola de Saúde Pública de Yale, Ministérios da Saúde, Educação e Ciência e Tecnologia do Brasil e os Institutos Nacionais de Saúde.

Com informações da assessoria

 

Especialistas confirmam que beber cerveja aumenta o número de picadas de mosquito. Os estudos foram realizados no Japão e em Burkina Faso, país da África Ocidental, que verificaram que a ingestão de cerveja atrai mais mosquitos para o bebedor e, consequentemente, o risco de doenças como o Zika, Chikungunya e Malária.

Segundo publicação da BBC Brasil, na pesquisa japonesa foi testada uma dose de 350 ml de cerveja feita de cevada, para a atração do Aedes albopictus, parente próximo do Aedes aegypti. Já em Burkina Faso, os estudiosos deram aos participantes uma quantidade não informada de cerveja feita com sorgo, localmente chamada de dolo, para verificar o resultado sobre a espécie Anaphoneles gambiae, responsável pela transmissão da malária.

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Nos dois estudos, se notou um aumento significativo na atração dos insetos. O professor titular do Departamento de Microbiologia, imunologia e parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Carlos Brisola Marcondes, em entrevista à BBC, diz que os autores supuseram que com a cerveja haveria maior produção de cairomônios, que são substâncias voláteis vindas dos bebedores - o que atrairia os mosquitos.

O Rio de Janeiro iniciou o ano com menor número de casos de arboviroses transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, na comparação com o ano passado. Dados da primeira quinzena de janeiro mostram 351 ocorrências de dengue e 15 de zika. Não houve ainda nenhum óbito. Na primeira quinzena de janeiro de 2018, foram registrados 781 casos de dengue e 133 de zika.

Embora o quadro epidemiológico possa gerar otimismo, a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ) se mantém alerta contra a febre chikungunya, doença que inspira uma atenção especial. Em relação a essa arbovirose, o número de casos revela um quadro mais próximo daquele observado no ano passado. Na primeira quinzena de janeiro de 2019, ocorreram 563 casos, somente 20 a menos do que no mesmo período de 2018.

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Segundo o subsecretário de Vigilância em Saúde, Alexandre Chieppe, a preocupação com a chikungunya existe por ser um vírus relativamente novo no estado e pela maior parte da população não ser imunizada. No ano passado, o Rio de Janeiro registrou 39.082 casos da doença, com 18 mortes.

"A chikungunya vem se comportando com a ocorrência de surtos isolados bastante intensos, com o acometimentos de um número significativo de pessoas em algumas localidades. Não existe vacina e a maioria das pessoas nunca teve a doença, o que faz com que elas sejam, portanto, suscetíveis ao vírus. Então, estamos em alerta e nos preparando para que, em caso de aumento do número de casos, possamos agir de forma rápida", disse.

A reduzida ocorrência neste verão observada até o momento não minimiza as preocupações. "Os números por enquanto são baixos, o que nos dá uma certa tranquilidade. Mas não é ainda o período de maior risco de transmissão de arboviroses no estado. Geralmente temos picos de transmissão no mês de abril", acrescenta Chieppe. De acordo com o subsecretário, é normalmente a partir de fevereiro que as tendências conseguem ser visualizadas com mais clareza.

Monitoramento

Em relação à zika e dengue, o subsecretário afirma que há um cenário epidemiológico mais tranquilo, considerando o histórico das doenças e a previsão para este ano. "O monitoramento dos casos não mostrou um aumento no final do ano passado. E não tivemos nenhum fato novo como a entrada de um novo vírus da dengue. Então, a perspectiva para 2019 é de baixa transmissão dessas duas doenças."

Chieppe atribui o quadro mais favorável à combinação de fatores que vão desde ações do governo e conscientização da população até a influência do clima. "Estamos com mês de janeiro muito seco. Isso, de certa forma, inibe a formação de novos criadouros de mosquito. Ao mesmo tempo, há uma ação também intensa do poder público seja estadual ou municipal."

Visando tanto a melhoria do atendimento das pessoas infectadas como a redução do numero dos casos, a SES-RJ preparou ações para os primeiros 60 dias do ano, algumas das quais já estão em curso. Equipes de saúde estão sendo capacitadas em todo o estado e edifícios públicos vêm recebendo visitas regulares para aplicação de inseticida e larvicida.

Algumas medidas envolvem parcerias com outros órgãos do governo. Em ação conjunta com o Corpo de Bombeiros, está em andamento um mapeamento de áreas onde há risco de transmissão. Também há um acordo com a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) para incluir o assunto no currículo do ensino infantil. "A ideia é começar a trabalhar no dia a dia das atividades escolares o tema de forma transversal", diz Chieppe.

A maior parte das casas tem poucos ornamentos. É uma pequena árvore com pisca-pisca no chão, é uma pelúcia de gorro vermelho para ser pendurada na porta, mas que ainda repousa em um móvel da sala. Os ambientes só não estão mais decorados porque falta tempo. Mas todas elas concordam: as casas são um presente de Natal.

O Conjunto Habitacional Fazenda Suassuna, erguido no bairro da Muribequinha, em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR), foi entregue na metade de novembro. Entre os beneficiados, estão 31 famílias com crianças com microcefalia.

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A falta de tempo é algo comum na vida dessas mães. Toda a atenção é voltada para seus filhos, que precisam de muitos cuidados. A conquista da casa própria vem como um importante suspiro, é um problema a menos para enfrentar.

  Na avaliação de Kellyn (lê-se Keulyn) Lima, de 20 anos, o banheiro é tão grande que parece outro quarto. Ela morava em uma casa menor em UR-05, no Ibura, Zona Sul do Recife. É a primeira vez que ela fala para imprensa. Diz que sua filha mudou seu jeito de ser, inclusive lhe tirando um pouco da timidez. Nunca imaginou ter forças para travar as lutas que travou pelo bem estar de Milena, de três anos. “Aqui é bem melhor. A sala enorme. Dá para meu filho brincar. É espaçoso”, diz a jovem. O filho ao qual ela se refere é o enérgico Miguel, de oito meses, que está o tempo todo circulando pela casa e sorrindo.

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Milene segurava Davi, a segunda criança oficialmente identificada com microcefalia em Pernambuco, durante uma das vezes em que foi agredida pelo ex-companheiro. Decidiu se mudar para a casa da mãe. Ela já havia sido espancada outras vezes, mas o pai de Davi pedia desculpas e prometia mudança.

Além de Davi e Milene, a nova casa abriga seus dois outros filhos, Richard, de seis anos, e Ângelo, cinco, além do seu atual companheiro. Milene também está grávida de oito meses. “Estou muito preocupada. Eu não queria mais ter filho por causa da situação de Davi, que tem que ir para médico, terapia, e também tem as coisas dele para comprar. É complicado ter mais outro filho”, ela comenta.

Com os gastos com aluguel e os filhos, acabava faltando itens importantes na casa. “Eu pagava as coisas que estava devendo e depois pensava em alimentação. Então sempre faltava uma coisinha, inclusive para o Davi”, ela lembra.

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Germany até morava em uma casa maior, mas por isso mesmo o custo de vida estava caro. Ainda que a empresa de logística em que trabalhava tivesse três turnos e de ela ter defendido que conseguiria conciliar o trabalho com a criação da filha, acabou demitida. O companheiro trabalha sem carteira assinada, para evitar perder o Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social (BPC), de um salário mínimo. A pequena Giovanna, de três anos, é esperta. Fala o tempo todo. Teve o lado cognitivo do cérebro bastante preservado, mas tem sérias restrições motoras.

“Ter essa casa foi a realização de um sonho”, afirma Germany. “Todo mundo sonha ter uma casa própria e sair do aluguel”. A mulher já pensou em ter uma segunda criança, mas tem receio de não conseguir estar presente por causa dos cuidados especiais que Giovanna precisa.

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Pessoas melhores

Não há muito no armário de Ketuly Gomes. Poderia ter, se ela não tivesse doado uma das duas cestas básicas que recebeu. “Saio doando tudo, fico com quase nada praticamente”, ela explica. É mãe do pequeno Lucas, de dois anos e 11 meses, e diz que foi o filho quem lhe ensinou a parar de dar importância para coisas pequenas.

Foi durante um banho que Lucas teve a primeira convulsão de muitas que viria a ter. “Eu pensei ‘meu Deus, meu filho vai embora e a gente fica brigando por coisas tão fúteis, tão pequenas’”, recorda Ketuly. Desde então, a criança teve pneumonia, coqueluche, desidratação, desnutrição, refluxo grave, perdeu a capacidade de comer pela boca. Há cinco meses ele começou a apresentar melhoras. Chegou a ter cerca de 15 convulsões por dia, agora elas estão mais ocasionais.

Ketuly não esconde o cansaço, porém tem se sentido feliz como nunca antes. “Comecei a ter mais empatia. Comecei a entender que tudo nessa vida passa e a gente tem que aproveitar tudo. Não adianta brigar por coisa pequena. Mesmo com a dificuldade toda, não poder sair, não poder ir para um show. Antes eu era egoísta, agora não sou mais”.

Não foi só Ketuly que se sentiu uma pessoa melhor, após o nascimento do filho com a síndrome congênita do vírus Zika. Germany confessa que não se importava com a situação de deficientes, mas que hoje não pode ver um cadeirante precisando de algo que já corre para ajudar. Kellyn se tornou uma mulher mais forte e guerreira, mesmo com apenas 20 anos. Milene era mais raivosa, batia bastante nos filhos mais velhos. “Eu era bem explosiva. Hoje eu só faço mais falar”, resume.

As moradias foram entregues através do Programa Minha Casa, Minha Vida, uma conquista da União de Mães de Anjos (UMA). “A UMA é uma associação que cuida e acolhe mães e familiares de crianças com a síndrome congênita do zika vírus”, explica Germana Soares, uma das fundadoras. A associação tem sede no Recife e nove filiais que vão até o Sertão de Pernambuco. São 409 associados.

“Quando eu tive Guilherme, eu e o pai dele resolvemos se esconder e não contar para ninguém da patologia dele. Quando ele estava com um mês, a gente conheceu Gleise, mãe de Maria Giovanna, e criamos um grupo no WhatsApp com oito mães. Em menos de dois meses havia duzentas”, lembra Germana.

A aceitação é um dos desafios lidados por essas mães. Muitas só descobriram que a criança tinha microcefalia no momento do nascimento. Tendo ouvido ao longo do pré-natal que a criança estava bem, se recusavam a aceitar a síndrome. Ketuly dizia para si que Lucas não tinha microcefalia, mas as toucas que ficavam folgadas na cabeça dele apontavam o contrário. Em negação, Kellyn passou semanas para procurar ajuda. Germany achou que sua médica estava ‘doida’ quando ela sugeriu que fizessem exames para confirmar a microcefalia. Após um mês com a possibilidade martelando na cabeça, ela e o companheiro decidiram ir ao hospital. “Giovanna me ensinou a aceitar, aceitar que ela tinha deficiência, que precisaria de uma cadeira de rodas e que não é agora que ela vai andar. Aí ela começou a falar e já foi uma vitória”, destaca Germany. “Devido à coragem e luta das outras mães foi que eu tive coragem de expor o drama que eu estava vivendo”, relembra Germana.

A UMA foi fundada no dia 22 de dezembro de 2015, na época em que vários casos da síndrome estavam sendo computados. O grupo identificou em um levantamento que em torno de 80% das famílias comprometiam a partir de 40% de sua renda para o aluguel de casa. Atualmente, cerca de 60 famílias vítimas do zika já receberam suas moradias no Estado.

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250 cidades do Estado de São Paulo estão em estado de alerta devido ao surto de dengue, zika e chikungunya, segundo o Ministério da Saúde.

Desse total, 208 cidades estão em alerta e outras 42 em risco de surto das doenças. Outras 388 estão em situação adequada e outros cinco municípios usaram armadilha, método usado quando a infestação do mosquito é muito baixa ou inexistente. A capital do estado está em situação satisfatória. Em São Paulo, a maior parte dos criadouros foi encontrada em depósitos domiciliares (4.456), seguida de depósitos de lixo (1.899) e água (629).

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No país, 5.358 municípios, 96,2% da totalidade de cidades, fizeram um monitoramento do mosquito transmissor dessas doenças, sendo 5.013 por levantamento de infestação do Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) e 345 por armadilha.

O Ministério da Saúde pede que os municípios façam ao menos quatro vezes ao ano o LIRAa.  

Um novo estudo, promovido pelo Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, sugere que a infecção pelo vírus Zika também possa trazer complicações para os homens. Segundo a pesquisa, liderada pela infectologista Vivian Avelino-Silva, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), o zika pode causar infertilidade.

Quatorze homens infectados pelo vírus em 2016 participaram do estudo. Cinco deles fizeram o exame de espermograma e, em quatro, os resultados ficaram fora dos parâmetros de normalidade estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

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“Observamos que, dentre os cinco homens em que fizemos a coleta de sêmen, quatro tinham o valor fora do normal, considerando a normalidade com referência da OMS. Isso sugere que pode existir um efeito de infecção por Zika que a gente ainda não conhecia, que é uma alteração prolongada, talvez até permanente, de infertilidade entre os homens”, disse Vivian em entrevista à Agência Brasil.

O estudo não é conclusivo e aponta a necessidade de que novas pesquisas sejam feitas. A pesquisadora destacou que a amostra era pequena e que a equipe não tinha exames desses cinco homens antes da infecção para comprovar que a alteração foi feita pelo zika.

“Não conseguimos provar, mas já existem estudos em animais que sugerem resultados semelhantes. Por isso achamos que o resultado é importante para que seja feito um estudo com um número maior de homens”, ressaltou a pesquisadora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias.

Nos últimos três anos, o mundo da ciência entrou no cotidiano e na casa das mães de bebês que nasceram com a Síndrome Congênita do Zika. A epidemia mobilizou recursos e estudiosos, que realizaram uma infinidade de pesquisas e estudos para entender a doença ainda desconhecida.

Enquanto a academia, de uma forma geral, se dedicou inicialmente às questões relacionadas à epidemiologia, algumas pesquisas focaram suas análises no aspecto social da epidemia. A professora Soraya Fleischer, do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), que coordena um trabalho de acompanhamento da rotina dessas mulheres, ressalta que foi colhido muito material genético das crianças desde o início do surto.

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 “Os cientistas precisaram do material biológico dessas crianças, dessas mães e dos seus companheiros. Então, muito sangue, unha, pedaço de cabelo, pele, saliva, urina, tudo foi muito coletado para alimentar a máquina científica. E essas mulheres submeteram seus filhos a muita pesquisa biológica, de bancada, muita coisa experimental pra saber se resultava em alguma coisa, se conseguiam avançar e entender melhor o fenômeno.”

A professora ouviu queixas das mulheres a respeito da falta de explicações imediatas e dos resultados das pesquisas. A ausência de respostas e de diagnósticos precisos dificultou a comprovação da associação entre o vírus e a deficiência das crianças, e muitas delas foram impedidas de pleitear benefícios e direitos.

“Nessa relação muito nova que elas tiveram com a ciência, por um lado abriu portas, elas tiveram acesso a acompanhamento médico, a exames, por outro lado criou uma desconfiança e uma decepção muito grande com a ciência. E agora elas estão num momento de rebelião, refratárias, negando a relação com a ciência, elas não querem mais participar de nenhuma pesquisa.”

Incertezas

O Instituto Ageu Magalhães, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz, em Pernambuco, coordenou uma pesquisa em parceria com a London School e o Instituto Fernando Figueira, do Rio de Janeiro, em busca da identificação do impacto humano da epidemia sobre as famílias.

Por meio de entrevistas e questionários aplicados a mais de 480 pessoas, entre mães, cuidadores, mulheres grávidas, profissionais de saúde (ginecologistas, obstetras, neurologistas, oftalmologistas, fisioterapeutas), os pesquisadores buscaram fazer um inventário sobre a qualidade de vida daqueles que cuidam das crianças e analisar também a saúde reprodutiva das mulheres.

Os resultados completos da pesquisa serão apresentados às mães no próximo dia 30 de novembro, em um seminário que será realizado no Instituto Ageu Magalhães. A instituição também faz paralelamente um estudo para verificar quantas pessoas tiveram zika, dengue e chicungunya.

A doutora em saúde pública e integrante do Departamento de Saúde Coletiva da Fiocruz em Pernambuco, Tereza Lyra, conta que uma das questões que chamam a atenção no estudo é o ônus emocional e financeiro que recaiu sobre as mulheres, que em sua maioria vivem em contextos de maior vulnerabilidade social e bairros precários, com problemas de saneamento ambiental.

“Essas mulheres têm gastos enormes, pois além dos deslocamentos, a alimentação dessas crianças é caríssima, muitas são alimentadas por sonda, então, há produtos que são de alto custo. “Foram as mulheres que tiveram que abandonar seus empregos para poder criar e cuidar das crianças. Isso significou uma queda da renda familiar. Por outro lado, o Benefício de Prestação Continuada (BPC) só é cedido para famílias em condições de miserabilidade.”

Benefícios

Para receber o benefício, é necessário que o total da renda do portador da deficiência e sua família seja menor que um quarto do salário mínimo vigente. Considerando o salário mínimo atual, que é de R$ 954, a família não deve receber mais do que R$ 238,50 para ter direito ao BPC.

Segundo o Ministério de Desenvolvimento Social, 2,8 mil crianças com microcefalia receberam o BPC entre novembro de 2015 e agosto de 2018. A pasta informou à Agência Brasil que os números referentes aos meses de setembro e outubro de 2018 ainda estão sendo consolidados.

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Os casos de dengue e zika em Pernambuco tiveram aumento em 2018 se comparado a 2017. É o que aponta os dados divulgados pelo Ministério da Saúde na terça-feira (13). De acordo com a pasta, até 27 de outubro deste ano foram registrados 11.537 casos de dengue. O número é 62% maior se comparado ao ano passado, que teve 7.092 registros.

Em relação à zika, houve aumento de 336%, passando de 25 casos em 2017 para 109 em 2018. De acordo com o Ministério da Saúde, houve redução de 31% na chikungunya - passando de 1.647 casos em 2017 para 1.136 neste ano. Ainda na terça, o Ministério lançou campanha publicitária de combate ao mosquito Aedes aegypti que objetiva mobilizar toda a população sobre a importância de intensificar, neste período que antecede o verão, as ações de prevenção contra o mosquito, que transmite dengue, zika e chikungunya.

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Com o slogan "O perigo é para todos. O combate também. Faça sua parte", a campanha ressalta que a união de todos, governo e população, é a melhor forma de derrotar o mosquito, e que a vigilância deve ser constante. Os meses de novembro a maio são considerados o período epidêmico para as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, porque o calor e as chuvas são condições ideais para a proliferação do mosquito.

DADOS EPIDEMIOLÓGICOS

DENGUE – Até 27 de outubro, foram notificados 220.921 casos de dengue em todo o país, uma pequena redução em relação ao mesmo período de 2017 (223.171). A taxa de incidência, que considera a proporção de casos por habitantes, é de 106,4 casos/100 mil habitantes. Com relação ao número de óbitos, a queda é de 22,1% em relação ao mesmo período do ano anterior, passando de 167 mortes em 2017 para 130 neste ano.

CHIKUNGUNYA – Até 27 de outubro, foram registrados 80.940 casos de febre chikungunya, o que representa uma taxa de incidência de 39,0 casos/100 mil habitantes. A redução é de 55,7% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foram registrados 182.587 casos. A taxa de incidência no mesmo período de 2017 foi de 87,9 casos/100 mil/hab. Neste ano, foram confirmados laboratorialmente 34 óbitos. No mesmo período do ano passado, foram 189 mortes confirmadas.

ZIKA – Foram registrados 7.544 casos prováveis de zika em todo país, até 27 de outubro, uma redução de 54,6% em relação a 2017 (176.616). A taxa de incidência passou de 8,0 em 2017 para 3,6 neste ano. No total, sete estados apresentam aumento de casos em relação ao mesmo período de 2017. Entre eles, destaca-se o Rio Grande do Norte, com 14,9 casos/100 mil habitantes.

Imagine se o vírus da zika, além de ser transmitido entre pessoas por mosquitos urbanos, como ocorre com a dengue, também pudesse infectar macacos selvagens e se tornar endêmico na natureza, como acontece com a febre amarela. Esse é o panorama contemplado por um estudo publicado nesta terça-feira, 30, na revista Scientific Reports.

A pesquisa identificou o vírus da zika em dezenas de micos e saguis mortos em São José do Rio Preto (SP) e na região metropolitana de Belo Horizonte (MG). Os animais foram mortos por pessoas durante a epidemia de febre amarela no Sudeste, no início de 2017, quando havia o medo - injustificado - de que eles fossem os responsáveis por disseminar o vírus.

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Os cientistas resolveram investigar as carcaças para ver se os animais estavam mesmo infectados e não encontraram o vírus da febre amarela, mas o da zika, que é um parente próximo. Dos 82 macacos analisados, 32 tinham o vírus. "O vírus saiu dos seres humanos e passou para os macacos", diz o pesquisador Maurício Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp), que coordena o estudo.

O receio é de que os macacos se tornem reservatórios selvagens do vírus da zika, o que tornaria a erradicação dele praticamente impossível. Os cientistas ainda coletaram mosquitos Aedes aegypti das mesmas regiões em que os macacos viviam e verificaram que muitos deles tinham o vírus da zika. Por enquanto não há evidências de que tenha havido transmissão de macacos para seres humanos.

"Não sabemos ainda a quantidade de vírus que os macacos podem produzir, e se isso é suficiente para infectar o mosquito de volta", diz Nogueira. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Fiocruz Pernambuco iniciou nesta semana o "inquérito de Arboviroses do Recife", que irá identificar os números de casos, novos e antigos, de zika, chikungunya e dengue em diferentes níveis socioeconômicos e faixas etárias da cidade. Uma das finalidades do trabalho é tentar esclarecer se fatores ambientais podem ter interagido com o vírus zika e aumentado os casos de microcefalia.

Nas visitas aos domicílios escolhidos por sorteio, uma equipe de dez pessoas identificadas será responsável por aplicar um questionário para reunir dados sociodemográficos e de história anterior de adoecimento por arboviroses. Amostras de sangue serão coletadas para a realização de exames sorológicos e moleculares.

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No caso das pessoas que estiverem com sintomas das arboviroses na ocasião da visita da equipe ou nos últimos 30 dias, serão coletadas também amostras de urina, saliva e fio de cabelo para serem submetidos a testes mais específicos. Todo o material coletado será encaminhado ao Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco.

As visitas aos domicílios ocorrerão das 17h às 21h, de segunda a quinta-feira, e das 9h às 12h, nos sábados. Todos os participantes receberão os resultados dos testes e orientações sobre eles. Aqueles sintomáticos serão encaminhados para atendimento na rede de saúde municipal. Segundo a Fiocruz, deverão ser visitadas 990 residências e coletadas amostras de, aproximadamente, 3.105 pessoas, com idade entre 5 e 65 anos, residentes nos domicílios selecionados.

“Com esse estudo será possível conhecer a dimensão das epidemias de zika e chikungunya e avaliar a situação atual da dengue, no Recife. Zika e chikungunya são confundidas com dengue por terem sintomas semelhantes e há muitos casos assintomáticos, o que leva à subnotificação”, explica a coordenadora do inquérito, a pesquisadora Cynthia Braga. De acordo com ela, a pesquisa ajudará a identificar a população mais vulnerável a zika (homem, mulher, criança, pessoa em menor condição socioeconômica, etc) e a quantidade de mulheres em idade fértil que ainda não têm imunidade contra essa arbovirose. “Serão conhecidos, ainda, os fatores de risco associados a essas arboviroses e as áreas mais afetadas. De posse desses dados os governantes podem planejar ações para evitar epidemias futuras”, completou a coordenadora.

O estudo será desenvolvido com aporte financeiro do Ministério da Saúde, da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e do Consórcio Internacional Zikalliance. O trabalho conta com apoio da Secretaria de Saúde do Recife.

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