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Armadilhas de garrafa PET, bactéria, aplicativo de celular e até uma tinta para paredes estão entre as novas estratégias para combater o Aedes aegypti, famigerado mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya.

Trazida pelo Brasil pelo empresário Roberto Lucena, uma tinta desenvolvida pela empresa espanhola Inesfly promete ser uma arma fatal para os mosquitos. O produto está na reta final dos trâmites de aprovação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e deve chegar às prateleiras neste ano.

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"É uma tinta inseticida", resume Lucena. "Em viagens e contatos feitos na Espanha, fui apresentado ao produto e convidado a representá-lo no País. Acreditei imediatamente, não só pela eficácia mas também pelo apelo no combate dos vetores de doenças como dengue, zika e chikungunya."

Apesar de novidade por aqui, a tinta existe há mais de dez anos e já é utilizada em 12 países - muitos deles africanos, onde a ênfase é no combate aos mosquitos do gênero Anopheles, transmissores da malária. A tinta é composta por microcápsulas em suspensão, que contêm inseticidas e reguladores do crescimento de insetos. Esses ingredientes são liberados de modo gradual no ambiente.

Lucena acredita que, se o produto for bem recebido, em breve a empresa deve fabricá-lo no Brasil. "Não tenho dúvidas de que este será o próximo passo", afirma. "Já tenho sido procurado por redes de lojas de tinta interessadas em contar com o produto tão logo ele seja lançado." A tinta poderá ser aplicada em um procedimento comum, por qualquer pintor. A ideia é que o produto chegue ao mercado com preço sugerido de R$ 526,10 (lata de 4 litros).

Armadilhas

E esta não é a única novidade para a próxima temporada das chuvas. Um projeto experimental lançado em Rio Branco no início do ano pela organização não governamental WWF-Brasil deve chegar ao Recife até o fim do ano. A ideia é engajar a população para a produção de armadilhas para o mosquito. São simples, feitas de garrafa PET. No interior, uma infusão de grama serve como atrativo para que fêmeas depositem ali seus ovos.

Uma vez recolhidos, os ovos são fotografados e contados. Em seguida, tudo vai para um aplicativo, o Aetrapp. "Conforme vamos expandindo o projeto, esperamos que se torne como o Waze ou o Tinder do Aedes", compara Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil.

Então, as pessoas poderão saber, por geolocalização, qual o nível da presença do inseto na sua vizinhança. "Sem falar que os ovos recolhidos são descartados, ou seja, diminui a reprodução do Aedes na natureza", afirma o especialista.

Na nova fase do projeto, o app estará conectado às redes sociais. "As pessoas gostam de mostrar engajamento no Facebook", comenta Oliveira. "Esperamos que, assim, mais gente se anime a participar do projeto."

O projeto Eliminar a Dengue, esforço internacional no Brasil capitaneado pela Fundação Oswaldo Cruz, também chega a uma nova fase. Depois de espalhar mosquitos contaminados com a bactéria Wolbachia pipientis em regiões do Rio no ano passado, agora a ideia é que até o fim de 2018 tais insetos estejam em uma região mais abrangente, habitada por 2,5 milhões no Estado.

Presente em mais de 70% dos insetos do mundo, a bactéria Wolbachia não é infecciosa nem é capaz de infectar vertebrados, incluindo humanos. Mas cientistas da Austrália demonstraram que ela consegue bloquear a transmissão do vírus da dengue no Aedes. No mosquito infectado por ela, o vírus da dengue não se estabelece. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O vírus da zika pode ser usado para ajudar no tratamento de glioblastoma, um tipo de câncer mortal do cérebro. O estudo que propõe essa teoria foi publicado nesta terça-feira (5), na revista cientifica “The Journal of Experimental Medicine”. A pesquisa foi realizada por cientistas norte-americanos da Universidade de Washington, em Saint Louis, e da Universidade da Califórnia, em San Diego, nos Estados Unidos.

O estudo propõe que da mesma forma que o vírus da zika ataca as células neuroprogenitoras nos cérebros dos bebês durante a gestação, causando microcefalia, ele possa também ser útil contra as células-tronco do glioblastoma, auxiliando no tratamento da doença.

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Atualmente o glioblastoma é tratado com radioterapia e quimioterapia. Mas o tratamento atinge apenas grande parte da doença e não elimina as células-tronco, fazendo com que a doença volte a crescer em cerca de seis meses.   

Segundo Milão Chheda, um dos autores do estudo, a ideia é usar o vírus para combater as células-tronco da doença, enquanto o tratamento convencional atingiria o tumor já formado.

O possível tratamento utilizando o zika só poderia ser realizado em uma cirurgia, pois o vírus teria que ser aplicado diretamente na região do cérebro afetada. Caso o zika fosse aplicado em outras regiões do corpo, o sistema imunológico humano eliminaria o vírus de forma natural antes que ele pudesse chegar ao cérebro.

Os cientistas afirmam que o vírus da zika não seria letal em contato com um cérebro humano desenvolvido (cérebro de adultos), pois a zika atinge primordialmente as células neuroprogenitoras, que existem apenas em cérebro em formação, como os dos bebês.

O glioblastoma é a forma mais comum de câncer no cérebro. De acordo com o Ministério da Saúde, são diagnosticados 120 mil casos da doença no Brasil. Pacientes humanos com esse tipo de câncer vivem em média um ano após diagnóstico.

As autoridades da cidade de Bolonha, na Emília-Romana, na Itália, informaram que um caso de zika foi registrado na localidade nesta segunda-feira (21). A pessoa, que não teve o sexo e a idade revelados, contraiu a doença após uma "viagem para áreas tropicais".

Por precaução, foi iniciado um processo de desinfestação na residência e nas áreas próximas à casa do italiano contaminado, que fica, basicamente, na chamada "área universitária", entre as ruas Zamboni, De Rolandis, San Giacomo, Irnerio, Belle Arti e as praças Puntoni e Porta San Donato.

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Os agentes estão entrando nas residências e prédios para verificar possíveis focos de criação de mosquitos e orientaram os moradores a buscarem ajuda médica caso notem algum sintoma da doença.

Cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco descobriram uma substância que pode bloquear a produção do vírus Zika em células epiteliais e neurais. O estudo a respeito da 6-metilmercaptopurina ribosídica (6MMPr) foi publicado na última sexta-feira (11) na revista International Jornal of Antimicrobial Agents, mas a instituição divulgou hoje (15) a descoberta.

A substância atua contra o tipo de zika que circula no Brasil. Os testes foram realizados in vitro pelo Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco.  Em mais de 99% dos testes a produção do vírus diminuiu com a 6MMPr, usando diferentes dosagens e tempos de reação.

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O estudo também identificou que a 6MMPr é menos tóxica para as células neurais, uma boa notícia para futuros tratamentos de infecções no sistema nervoso. “Diante das manifestações neurológicas associadas ao vírus Zika e os defeitos congênitos provocados pelo mesmo, o desenvolvimento de antivirais seguros e efetivos são de extrema urgência e importância”, afirma o coordenador da pesquisa, Lindomar Pena, conforme texto enviado pela Fiocruz. 

A investigação da substância começou há um ano, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (Facepe). O próximo passo da pesquisa é uma avaliação in vivo, ou seja, feita em um organismo vivo.

O genoma do vírus Zika, coletado no organismo de mosquitos do gênero Culex, foi sequenciado por cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco. Com o sequenciamento, foi descoberto que o vírus consegue alcançar a glândula salivar do animal, o que indicaria, segundo a instituição, que o pernilongo pode ser um dos transmissores do vírus Zika.

Os resultados foram publicados hoje (9) na revista Emerging microbes & infections, do grupo Nature. O artigo é intitulado “Zika virus replication in the mosquito Culex quinquefasciatus in Brazil” e pode ser encontrado na íntegra na internet.

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Os mosquitos do gênero Culex foram colhidos na Região Metropolitana do Recife, já infectados. A equipe do Departamento de Entomologia da instituição conseguiu, então, comprovar em laboratório que o vírus consegue se replicar dentro do mosquito e chegar até a glândula salivar. Foi fotografado por microscopia eletrônica, também pela primeira vez, a formação de partículas virais do Zika na glândula do inseto.

Também foi comprovada a presença de partículas do vírus na saliva expelida do Culex, coletadas pelos cientistas. De acordo com a Fiocruz, o artigo “demonstra” a possibilidade de transmissão do vírus Zika por meio do pernilongo na cidade. Será analisado agora “o conjunto de suas características fisiológicas e comportamentais, no ambiente natural, para entender o papel e a importância dessa espécie na transmissão do vírus Zika”, como informou a instituição em seu comunicado.

O genoma do zika já havia sido sequenciado em 2016 pelo Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz Pernambuco, em parceria com pesquisadores da Universidade de Glasgow, mas na ocasião foi usada uma amostra humana. Esse sequenciamento é uma espécie de mapa de cada gene que forma o DNA do vírus. Agora, pela primeira vez no mundo, o mapeamento é feito a partir do mosquito.

A Secretaria de Saúde do Estado divulgou nesta quarta-feira (2) um levantamento mostrando que as doenças provocadas por mosquitos tiveram redução de 94,78% de 1º de janeiro a 15 de julho de 2017 na Paraíba. Neste período, foram notificados 2.239 casos suspeitos de dengue na Paraíba; em 2014, 2015 e 2016, no mesmo período, foram registrados, respectivamente, 5.661, 23.221 e 42.931 casos suspeitos da doença.

Até a 28ª semana epidemiológica deste ano, 106 notificações de casos suspeitos de infecção pelo Zika vírus foram notificadas. Apontando uma redução de 97,77% comparada ao mesmo período de 2016, quando foram registrados 4.761 casos. Em relação às notificações de suspeita de chikungunya foram registrados 905 casos suspeitos de 1º de janeiro a 15 de julho de 2017. Mostrando uma redução de 95,36% comparada ao mesmo período de 2016, em que foram notificados 19.512 casos suspeitos.

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Também foram notificadas 16 mortes com suspeita de causa de arboviroses nos municípios de Bayeux (2), João Pessoa (2), Conceição (1), Caaporã (1), Santa Rita (2), Cabedelo (1), Massaranduba (1), Bom Jesus (1), Boqueirão (1), Santa Luzia (1), Sousa (1), Piancó (1) e Esperança (1). Entre as 16 mortes, duas foram confirmadas como infecção por arbovirose, uma em Bayeux e outra em Caaporã, e quatro foram descartadas.

Como destacado pelo boletim epidemiológico, óbitos com suspeita de arboviroses devem ser informados imediatamente, ou seja, no período de até 24 horas, conforme Portaria 204 de 17 de fevereiro de 2016. Já que a notificação dos casos de doença aguda pelo vírus Zika é essencial para nortear as ações de combate ao Aedes aegypti.

Foram realizados pelos municípios paraibanos, no período de 3 a 7 de julho de 2017, o 3º LIRAa (Levantamento de Índices Rápido do Aedes aegypti) e o LIA (Levantamento de Índices Amostral do Aedes aegypti). Segundo os resultados enviados pelos 223 municípios, 82 (36,8%) municípios apresentaram índices que demonstram situação de risco para ocorrência de surto, 120 (53,8%) encontra-se em situação de alerta e 21 (9,4%) municípios estão em situação satisfatória; destes seis (2,7%) apresentaram Índice de Infestação Predial zero.

Uma pesquisa realizada no Recife avaliará a persistência do zika vírus em fluidos de seres humanos. O vírus já foi detectado em sangue, urina, sêmen, fluidos cerebrais e espinhais, saliva e líquido amniótico. O estudo será realizado pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Fundação Oswaldo Cruz Pernambuco (Fiocruz-PE) com o financiamento e coordenação da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Intitulada ZikaBRA, a pesquisa mapeará por quanto tempo o zika vírus pode ficar ativo no organismo, podendo provocar a transmissibilidade da doença entre humanos e se o vírus pode permanecer inativo e reaparecer em uma fase superior. O zika é transmitido pelos mosquitos Aedes aegypti, responsáveis por transmitir também dengue e chikungunya. 

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Os pacientes diagnosticados com a arbovirose pela Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá e por postos de saúde dos bairros da Várzea e Engenho do Meio, Zona Oeste do Recife, terão uma agenda de coleta de seus fluidos no HC para o acompanhamento da pesquisa. “A transmissibilidade sexual, por exemplo, já está comprovada. Mas por quanto tempo o vírus atua? É importante avaliar o impacto dessa doença ao longo do tempo”, explica o professor da UFPE e médico do Hospital das Clínicas Carlos Brito, coordenador da parte clínica do projeto no Recife.

Os fluidos corporais serão recolhidos durante 24 meses. O resultado do levantamento está previsto para meados de 2019. Além do Recife, a pesquisa será feita em Manaus e Rio de Janeiro. 

Com informações da assessoria

Os pesquisadores do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) descobriram uma planta que poderá ser usada contra o mosquito Aedes aegypti. Denominada "Aninga", a planta será utilizada para criar um larvicida, produto que destrói larvas, e um repelente.

A pesquisa começou há dez anos, após a constatação de ribeirinhos de que não havia mosquitos transmissores da malária nos locais onde era encontrada a Montrichardia linifera, nome científico da aninga.

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"Isso nos motivou a levar ao laboratório, estudar a composição química e fazer ensaios com a aninga. Vimos que, realmente, os extratos dessa planta inibiram o crescimento dos ovos do Plasmodium falciparum, que é o parasita causador da malária. Repetimos os testes e começamos a ter resultados positivos", relata uma das pesquisadoras, Cristine Bastos. 

De acordo com informações do Ministério da Saúde, em 2016, pelo menos 794 pessoas morreram no País em consequência de doenças transmitidas como dengue, zika e chikungunya.

O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil, conduzido pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), conseguiu chegar a 90% de sucesso na substituição de mosquitos Aedes aegypti comuns por outros que não conseguem transmitir dengue, zika e chikungunya.

O projeto-piloto, que faz parte do programa internacional Eliminate Dengue: Our Challenge, liberou mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia na localidade Ponto Final, no bairro de Jurujuba, em Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro. A bactéria é natural e existe em outros insetos, e no Aedes aegypti tem a capacidade de impedir a transmissão das doenças.

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A bactéria é retirada da mosca da fruta e inoculada no ovo do Aedes aegypti para que o mosquito se desenvolva com a Wolbachia em seu organismo de forma intracelular. Os mosquitos modificados são liberados no ambiente e, com o tempo, a população de insetos é naturalmente substituída, de forma gradual, pelos que não têm condição de transmitir os vírus. “Significa que 90% dos mosquitos daquela área têm redução na capacidade de transmitir as doenças. O mosquito continua lá, mas não vai transmitir dengue, zika e chikungunya”, disse o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, que lidera o projeto no Brasil.

A substituição dos mosquitos ocorre com o cruzamento entre eles, segundo o pesquisador, com a transmissão da bactéria pela fêmea aos seus filhotes. “Para os mosquitos com Wolbachia se estabelecerem, a gente precisa que, por um tempo, a gente faça a soltura e eles vão procriando e cruzando com os mosquitos do campo e isso faz com que a bactéria seja passada para os seus descendentes e vá aumentando em número até chegar a um tempo quem que não precisa mais soltar”, acrescentou.

O projeto também está sendo desenvolvido em Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte do Rio, onde, segundo o Moreira, vem obtendo resultados semelhantes aos registrados em Niterói. “Fizemos liberações de mosquitos de agosto de 2015 até janeiro do ano passado. Desde de janeiro, a gente parou de soltar mosquitos e faz o monitoramento. Toda semana vai a campo, coleta os mosquitos nas armadilhas e vê se estão positivos para a Wolbachia. A gente viu que a porcentagem foi aumentando ao longo do tempo e hoje cerca de 90% dos mosquitos estão positivos. Pensando que faz mais de 15 meses que não soltamos mosquitos ali, é um grande sucesso”, destacou.

Jurujuba e Tubiacanga foram escolhidas para mostrar que a técnica é eficaz em diferentes ambientes. “Tubiacanga é mais urbana e Jurujuba tem mais floresta perto. A gente queria mostrar que os mosquitos com Wolbachia conseguiam se estabelecer em diferentes situações”, disse Moreira.

Expansão

De acordo com o pesquisador, os mosquitos modificados estão sendo liberados em mais dois locais de Niterói: São Francisco e Charitas, e a ideia é expandir, em junho, para os bairros Cafubá, Jacaré, Jardim Ibuí, Piratininga, Santo Antônio e Camboinhas, na Região Oceânica do município. Pelos cálculos da Fiocruz, a iniciativa ajudará a proteger mais 32 mil habitantes dessas doenças.

Para o segundo semestre, a intenção é espalhar os mosquitos em mais áreas da Ilha do Governador, chegando também a outros bairros do Rio, que ainda serão escolhidos. De acordo com o pesquisador, devem ser beneficiados mais de 2 milhões de habitantes. “Tudo é feito juntamente aos municípios. A gente tem parceria com as secretarias e o plano é feito em comum acordo pensando também na incidência de dengue, na presença de mosquitos, o processo que ocorre na cidade e na cobertura do Programa de Saúde da Família”, disse.

Segundo a Fiocruz, o protocolo da fase de expansão do Projeto no Brasil foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) após rigorosa avaliação sobre a segurança para a saúde e para o meio ambiente.

O projeto tem apoio do Ministério da Saúde e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, com contrapartida da Fiocruz. Cabe às secretarias de Saúde de Niterói e do Rio de Janeiro, como parceiros, fornecer pessoal e logística. O projeto também tem recursos internacionais da Fundação Bill & Melinda Gates, via Universidade Monash (Austrália), e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. 

O Ministério da Saúde anunciou nesta quinta-feira (11) o fim da emergência nacional para zika. A decisão foi tomada diante da redução do número de casos da doença e seis meses depois de a Organização Mundial da Saúde (OMS) suspender o estado de emergência internacional pelo vírus.

O estado de emergência teve início em novembro de 2015. À época, no entanto, a emergência era específica para microcefalia, uma má-formação até então considerada rara e que teve um aumento inexplicado no período, sobretudo nos Estados de Pernambuco e Paraíba. Na ocasião, já havia a suspeita de que a explosão de nascimentos de bebês com o problema era provocada pela infecção do vírus zika. A hipótese foi confirmada meses depois.

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Desde então, o Brasil registrou 13.490 casos suspeitos de microcefalia, dos quais 2.653 foram confirmados. Há, no entanto, quase 2.900 casos ainda em investigação. Justamente por isso, o anúncio do fim da emergência nacional dividiu integrantes do Ministério da Saúde, de acordo com informações obtidas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

O receio maior é o de que, com o fim da emergência, a assistência a crianças com o problema, que hoje já é considerada falha, seja duramente afetada. Opositores da medida argumentam que, somente neste ano, já foram quase 1 mil novos casos suspeitos de microcefalia notificados. Embora bem menor do que o registrado no passado, é uma marca ainda considerada extremamente preocupante. Além disso, há ainda 3 mil crianças em investigação, com suspeita da doença.

A Secretaria de Vigilância em Saúde justifica o fim da emergência no Regulamento Sanitário Internacional.

Dois estudos brasileiros indicam que a infecção pelo zika pode causar mais danos do que os conhecidos ou provocar sequelas meses após o nascimento.

Em uma das pesquisas, cujos resultados foram publicados no periódico Acta Neuropathologica, um grupo de patologistas analisou amostras de tecido cerebral de dez bebês que morreram após o parto e cujas mães haviam sido infectadas pelo zika na gestação. Os cientistas verificaram que cinco crianças haviam desenvolvido hidrocefalia (acúmulo de líquido no cérebro).

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"Nesses casos, a lesão provocada pelo zika era muito mais grave, estava no tronco cerebral. Ali, a calcificação e a destruição eram muito intensas", explica a líder do estudo, Leila Chimelli, neuropatologista do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer, membro da Sociedade Brasileira de Patologia e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Outro achado nesse estudo foi o caso de um bebê com indícios de insuficiência renal possivelmente associada à infecção pelo zika. O vírus foi encontrado nos rins da criança.

Um segundo estudo, ainda em andamento e coordenado pelo médico Saulo Duarte Passos, professor da Faculdade de Medicina de Jundiaí, descobriu o caso de um bebê nascido sem microcefalia, mas cuja cabeça parou de crescer aos dois meses de vida. "Hoje o bebê tem seis meses e o perímetro cefálico está estagnado desde então. Esse caso mostra a importância do acompanhamento também dos bebês que nascem sem nenhuma anormalidade", conta.

O estudo foi iniciado há um ano para acompanhar 700 gestantes da região de Jundiaí e seus respectivos bebês, independentemente da ocorrência de zika na gravidez. Do total, 526 já deram à luz e 46 crianças nasceram com microcefalia. "A incidência da má-formação na região surpreendeu, até porque inicialmente o grande número de casos estava concent

Os primeiros testes de uma vacina contra o vírus zika desenvolvida por cientistas do Instituto Evandro Chagas, órgão do governo federal sediado em Belém (PA), e da Universidade do Texas, nos EUA, deram resultados positivos.

Em estudo publicado na revista especializada "Nature Medicine", os pesquisadores disseram que o medicamento, aplicado por meio de apenas uma dose, se mostrou "eficaz" e "seguro" em camundongos.

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Com uma vacina que usa o vírus vivo, mas atenuado, os cientistas conseguiram inibir completamente o desenvolvimento da doença nos ratos testados. Ao inserir o zika no corpo, o medicamento estimula o sistema imunológico a criar anticorpos para combater a patologia.

"Uma vacina de sucesso exige um equilíbrio correto entre eficácia e segurança: as vacinas à base de vírus atenuados geralmente oferecem imunização com dose única, rápida resposta imunológica e proteção prolongada, mas às vezes com reduzida segurança. Já os vírus inativos oferecem maior segurança, mas podem exigir diversas doses. Uma vacina viva atenuada e segura é ideal para países em desenvolvimento", afirmou Pei-Yong Shi, autor sênior do estudo.

O próximo passo é testar o medicamento em macacos, etapa que deve durar até o fim de abril. Em seguida, talvez ainda em 2017, a vacina será experimentada em humanos.

Uma vacina experimental contra o Zika vírus, desenvolvida pelas Instituições Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, mostrou resultados promissores em testes com humanos.

O Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas realizou uma segunda rodada de testes nesta semana para verificar a segurança da vacina em humanos, bem como sua capacidade de estimular uma resposta do sistema imune e sua eficácia contra o zika.

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O estudo deve envolver cerca de 2.500 participantes em seis diferentes países americanos. Os primeiros resultados poderão ser disponibilizados ainda neste ano, segundo Anthony Fauci, diretor do instituto.

As vacinas com tecnologia genética podem ser rapidamente desenvolvidas e manufaturadas ao inserir genes relacionados a determinados vírus e bactérias em trechos de DNA sintético. As vacinas tradicionais são desenvolvidas a partir do cultivo de vírus e bactérias, num processo que pode levar meses.

Se os testes forem positivos, a doença do zika pode ser a primeira a contar com uma vacina de DNA aprovada para uso humano. Fonte: Associated Press.

Os efeitos da infecção por zika ficam mais severos após uma infecção por outros flavivírus - como os vírus da dengue e da febre do Oeste do Nilo -, de acordo com uma nova pesquisa. Publicado nesta sexta-feira, 31, na revista Science, o estudo confirmou, com testes em camundongos, uma suspeita que já havia sido levantada por diversos cientistas a partir de ensaios em culturas de células.

De acordo com o autor principal do estudo, Jean Lim, da Escola de Medicina Icahn, do Hospital Mount Sinai, em Nova York (Estados Unidos), caso as conclusões do estudo em camundongos sejam válidas também para humanos, será preciso ter cuidado no desenvolvimento de vacinas: em tese, uma pessoa vacinada contra um dos flavivírus, ao ser infectada por zika, poderia ter seus sintomas agravados.

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"É urgente fazer novos estudos para saber se isso de fato pode ocorrer em humanos", afirmou Lim. No novo estudo, os cientistas injetaram em camundongos anticorpos humanos de 141 indivíduos infectados com dengue e de 146 outros infectados com a febre do Oeste do Nilo.

Depois de infectados, os camundongos - que foram geneticamente modificados para se tornarem suscetíveis aos flavivírus - foram expostos à infecção pelo vírus da zika. Outro grupo de animais foi infectado com zika sem receber os anticorpos.

Entre os animais que não receberam os anticorpos, a taxa de sobrevivência à infecção por zika foi de 93%. Já os camundongos que receberam anticorpos, tiveram alta taxa de mortalidade. A infecção foi mais agressiva entre os que receberam anticorpos de dengue: a taxa de sobrevivência foi de apenas 21%.

O estudo descreve o estado dos camundongos que receberam os anticorpos da dengue e o vírus da zika como "seriamente doentes", com sintomas que incluíam perda de peso, surdez, febre, paralisia e morte. Os níveis de vírus da zika encontrados em seus tecidos foram 10 vezes maiores que os registrados nos animais que não receberam anticorpos.

Segundo os pesquisadores, os resultados representam um grande desafio para o desenvolvimento de vacinas contra esse grupo de vírus. Eventualmente, a exposição a um vírus resulta em uma doença mais grave quando é sobreposta à infecção por vírus semelhantes - um fenômeno que os cientistas chamam de aumento dependente de anticorpos.

Caso seja confirmado futuramente que o aumento dependente de anticorpos também ocorre em humanos, isso poderia ajudar a explicar a explosão da recente epidemia no Brasil, onde em algumas comunidades 90% da população foi infectada por dengue, segundo os autores do estudo.

Os camundongos que receberam os anticorpos da dengue ou da febre do Oeste do Nilo também apresentaram níveis mais altos do vírus da zika nos testículos e na medula espinhal que os animais do grupo de controle.

"Aparentemente, por causa do aumento dependente de anticorpos, o vírus foi capaz de se introduzir em áreas que normalmente são relativamente protegidas", disse Lim.

Segundo o cientista, isso poderia aumentar os casos de transmissão sexual da zika. A presença de níveis mais altos do vírus na medula espinhal dos camundongos também ajudaria a explicar dois dos problemas do sistema nervoso central ligados à zika: a microcefalia em bebês e a síndrome de Guillain-Barré em adultos.

No artigo, os autores destacam já ser conhecido o fato de que o aumento dependente de anticorpos pode agravar as infecções por dengue: o vírus que provoca essa doença tem quatro diferentes subtipos e a segunda infecção por um subtipo diferente desencadeia os casos mais severos.

Segundo os cientistas, isso ocorre porque os anticorpos da primeira infecção podem se encaixar em um local do vírus e em outro local das células. Assim, em vez de bloquear a infecção, os anticorpos acabam agravando-a, levando à dengue hemorrágica.

Uma proteína existente na superfície do vírus da zika, que é o alvo preferencial dos anticorpos, é extremamente semelhante às que existem nos vírus da dengue e da febre do Oeste do Nilo.

No ano passado, um estudo liderado por Gavin Screaton, do Imperial College London, já mostrava que a semelhança entre os vírus da zika e o da dengue pode agravar os problemas. Em estudos in vitro, ele demonstrou que o vírus da zika tem muito mais probabilidade de infectar células humanas quando elas entram antes em contato com anticorpos da dengue.

Estudo feito por uma equipe médica do Hospital de Base de São José do Rio Preto, interior de São Paulo, demonstrou que o vírus da zika é mais agressivo em pacientes submetidos a transplantes de órgãos, como rim e fígado, do que em outras pessoas. Nesses casos, os sintomas resultantes da infecção em nada se parecem com os da dengue, como era consenso até então pelo mundo.

O estudo dos pesquisadores da Faculdade Regional de Medicina de Rio Preto (Famerp) e da Fundação Faculdade Regional de Medicina (Funfarme) ganhou a capa da edição de março do American Journal of Transplantation, a publicação mundial de maior prestígio na área.

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O grupo acompanhou quatro pacientes - dois transplantados renais e dois hepáticos. Segundo o virologista Maurício Nogueira, havia consenso de que a zika era uma doença benigna para os doentes acometidos, exceto grávidas. "Quando vimos aqueles pacientes com sintomas mais graves, achávamos que era dengue, mas nos exames encontramos o zika."

O acompanhamento dos casos mostrou que a ação do vírus, também transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, se potencializa em pacientes imunodeprimidos. "Tudo indica que o mesmo efeito deve ser encontrado em pessoas com diabete ou em tratamento contra o câncer. Para essa população, em especial, o zika não é aquela doença benigna que se pensava."

Alerta

O nefrologista Horácio Ramalho, diretor executivo da Funfarme, acredita que o estudo fará com que o zika seja incluído nas pesquisas virológicas que acompanham os transplantes. "A descoberta serve como alerta mundial para que centros transplantadores façam a pesquisa de mais esse vírus."

Um novo estudo realizado por cientistas americanos revela pela primeira vez que a infecção por zika pode causar problemas cardíacos. Os pesquisadores acompanharam nove pacientes com zika - e sem histórico de problemas no coração - atendidos em um hospital de Caracas, na Venezuela. Oito deles apresentaram uma perigosa arritmia e em dois terços foram registrados sintomas de insuficiência cardíaca.

A pesquisa, liderada pela cardiologista Karina Gonzalez Carta, pesquisadora da Clínica Mayo, nos Estados Unidos, foi apresentada nesta quinta-feira, 9, na reunião científica anual do American College of Cardiology, em Washington.

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"Nosso estudo fornece claras evidências de que há uma relação entre a infecção pelo vírus da zika e complicações cardiovasculares", afirmou Karina.

A pesquisadora recomenda que pessoas com suspeita zika devem ficar atentas a sintomas relacionados às doenças cardiovasculares. "A pessoa com sintomas de zika que também apresentar sintomas como fadiga, falta de fôlego e palpitações no coração deve ver um médico imediatamente", disse.

Segundo Karina, a equipe de cientistas não ficou surpresa com o resultado do estudo, já que outras doenças semelhantes como dengue e chikungunya também afetam o coração. Mas ela afirma que a severidade dos problemas cardíacos e a rápida progressão das arritmias entre os pacientes não eram esperadas.

Os cientistas acompanharam nove pacientes do Instituto de Medicina Tropical de Caracas, na Venezuela, que haviam relatado sintomas de zika uma semana antes e que em seguida relataram sintomas de problemas cardíacos.

Os sintomas incluíam principalmente palpitações, perda do fôlego e fadiga. Apenas um dos nove pacientes já havia apresentado um problema cardiovascular no passado - uma alta pressão sanguínea já totalmente controlada.

Depois de preencher um formulário registrando todos os sintomas, os nove pacientes foram submetidos a um eletrocardiograma. Oito deles apresentaram problemas na taxa - ou ritmo - de batimentos cardíacos.

Com esse resultado, os cientistas resolveram realizar uma bateria completa de exames cardíacos nos pacientes, incluindo ecocardiogramas e monitoramento por ressonância magnética cardíaca. Eles então foram monitorados por seis meses, a partir de julho de 2016.

As arritmias detectadas em oito dos pacientes incluíam três casos de fibrilação atrial (caracterizada por batimentos rápidos e irregulares), dois casos de taquicardia atrial não sustentada (um tipo de arritmia benigna) e dois casos de arritmias ventriculares (que pode ser mortal). Foram registrados seis casos de insuficiência cardíaca.

Efeito disfarçado

De acordo com Karina, os dados revelaram que os sintomas de problemas cardiovasculares apareceram, em média, 10 dias após as primeiras queixas de sintomas de zika pelos pacientes.

"Como a maior parte das pessoas com infecção por zika apresentam sintomas leves ou não-específicos, e como os sintomas de complicações cardiovasculares podem não ocorrer imediatamente, precisamos fazer um alerta sobre essa possível associação", disse a médica. Segundo a pesquisadora, é provável que muito mais casos de sequelas cardíacas relacionadas à infecção pelo vírus sejam diagnosticados no futuro.

"É provável que muita gente tenha sido afetada, levando em conta que muitos médicos podem não ter feito a conexão entre os sintomas. Precisamos agora de estudos maiores e sistemáticos para entender o verdadeiro risco de problemas cardíacos relacionados à zika - e descobrir o que leva alguns pacientes a serem mais suscetíveis", disse.

Mães que tiveram manchas avermelhadas pelo corpo durante a gestação e seus filhos, inclusive os que nasceram saudáveis, estão sendo recrutados para pesquisa sobre zika em Pernambuco. As mães estão sendo procuradas desde fevereiro de 2016, mas o processo continua para identificar se as crianças desenvolveram tardiamente ou virão a desenvolver agravos relacionados à síndrome congênita.

Após aceitarem participar, as mulheres são entrevistadas em seus domicílios, dando informações sobre histórico da gravidez, uso de medicação, de bebidas alcoólicas e condições socioeconômicas. Em seguinda, têm o sangue coletado para confirmar se contraíram ou não zika. Já as crianças são encaminhadas para consulta com pediatra para fazer ultrassom e coleta de sangue. Segundo a Fiocruz, também são agendadas consultas com neurologistas, otorrino e oftalmologista. As crianças serão acompanhadas por quatro anos.

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Desde o ano passado, 600 mães/gestantes foram procuradas, mas apenas metade dos bebês nascidos dessas mulheres foram examinados pelas equipes multidisciplinares. A microcefalia é o agravo mais sério entre os bebês, mas não é o único que pode ser apresentado, como explica o coordenador da pesquisa, professor Ricardo Ximenes. 

“Há crianças que nascem aparentemente normais mas não se sabe se elas vão apresentar algum problema no futuro. Trazer as crianças para serem vistas por especialistas que estão na pesquisa permitirá uma intervenção mais precoce, caso seja detectado algum sintoma antes não percebido. Além disso, gera conhecimento que será importante para orientação das futuras grávidas”, comenta Ximenes. Há regitros nas crianças de casos de epilepsia, deficiências auditivas e visuais e atraso no desenvolvimento psicomotor. 

As mães notificadas pela Secretaria Estadual de Saúde são o alvo da pesquisa. Mulheres que apresentaram manchas vermelhas na gestação e não procuraram ajuda médica, entretanto, podem participar do estudo, entrando em contato com a equipe médica pelos números (91) 2123-7846 e 9 9750-0158.

Com informações de assessoria

Dois sistemas de teste rápido para detectar o vírus Zika em pessoas, e também em larvas e mosquitos Aedes aegypti, estão dando resultados promissores em uma pesquisa feita pelo Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika), da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). A previsão é de que um dos sistemas seja implantado como projeto-piloto na rede pública de saúde do estado no segundo semestre deste ano.

De acordo com o professor José Luiz de Lima Filho, diretor do Lika, os sistemas utilizam tecnologias distintas para chegar ao mesmo resultado. Um deles, de menor custo e mais simples, utiliza um anticorpo para detectar a presença do vírus. “Coloca a amostra num papelzinho e se tiver a presença do vírus, surge uma linha dentro do sistema indicando positividade”, explica.

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Lima Filho afirma que esse modelo, caso chegue à etapa final de produção em larga escala, pode ser disponibilizado em postos de saúde e até mesmo em farmácias, para que o próprio paciente faça o teste. Isso porque, como o Zika muitas vezes apresenta sintomas leves e até mesmo imperceptíveis, a doença acaba subnotificada.

“No caso do Zika, muitas vezes as pessoas não vão ao posto de saúde, então a epidemiologia é muito difícil. Você imagina se as pessoas tivessem essa disponibilidade”, diz o professor. Ele relata que em mais de um caso positivo, na fase de testes, o resultado saiu de um voluntário que seria a amostra padrão. A pessoa dizia nunca ter sentido os sintomas, mas a análise acabou identificando a presença do vírus.

Essa tecnologia foi desenvolvida inicialmente para testagem em humanos, mas os cientistas perceberam depois que poderia ser utilizada para identificar a presença do vírus nos hospedeiros. “Se soubesse que tinha o mosquito infectado, o serviço público poderia intensificar as ações naquele local e evitar a disseminação da doenças”.

O outro teste é feito por um aparelho que amplifica a presença do material genético do vírus na amostra e dá o resultado em uma tela com gráficos coloridos  - uma linha para cada arbovírus, já que também é capaz de detectar dengue e chikungunya. Segundo o diretor do Lika, esse modelo demora mais, cerca de 10 minutos. “A vantagem é que mede qualquer tipo desses vírus”. O equipamento tem cerca de 20 centímetros e não necessita de profissionais especializados para usá-lo, basta um treinamento curto.

Produção em larga escala

Os sistemas estão em fases diferentes de desenvolvimento. O de 10 minutos já é testado na universidade, e os pesquisadores esperam certificar a tecnologia ainda no primeiro semestre. Na segunda metade do ano, protótipos devem ser colocados à prova em unidades de saúde públicas de Pernambuco.

O de três minutos passará por testes até o segundo semestre. “A gente já viu que funciona e está mudando a substância que marca a presença para ficar mais eficiente. Isso vai começar em março”, informa o professor.

Os pesquisadores esperam disponibilizar as tecnologias no mercado em 2018. O desafio agora é tornar os métodos viáveis financeiramente – o cálculo de produção em larga escala ainda não está fechado. “Como qualquer produto tecnológico, o início é caro. Inclusive, os protótipos são muito caros porque você investe muito dinheiro para certificar. Mas a gente espera que, em larga escala, seja bem mais barato para usar nos postos de saúde”, afirma o diretor do Lika.

Como a pesquisa é feita em parceria com duas empresas japonesas de equipamentos médicos, Toshiba Medical Systems Corporation e Fujirebio Inc., a previsão é de que a patente fique com elas. “Infelizmente, a gente pode montar os equipamentos, mas no país não há fábrica de semicondutores. Temos uma limitação tecnológica grande nessa área, então ainda vamos ficar dependentes dos outros por algum tempo”, acrescenta Lima Filho.

A pesquisa envolve também o Núcleo de Saúde Pública e Desenvolvimento Social da UFPE, a National Institute of Infectious Diseases (NIID) e a Universidade de Nagasaki, por meio das empresas japonesas. O desenvolvimento do método de diagnóstico rápido é a primeira etapa. Em um segundo momento, o foco será a produção de remédios e vacinas.

Com a aplicação de uma só dose, uma nova candidata a vacina contra o vírus da zika foi capaz de tornar camundongos e macacos imunes à infecção em testes pré-clínicos, de acordo com um novo estudo publicado nesta quinta-feira (2) por pesquisadores americanos, na revista científica Nature.

A nova vacina foi desenvolvida por um grupo liderado por cientistas da Universidade da Pensilvânia, da Universidade Duke e do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, na sigla em inglês) - todos dos Estados Unidos.

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"Observamos uma imunidade rápida e durável, sem efeitos adversos. Acreditamos que essa candidata a vacina represente uma estratégia promissora para a luta global contra o vírus da zika. Esperamos iniciar os testes clínicos dentro de 12 a 18 meses", disse um dos autores do estudo, Drew Weissman.

Depois das recentes epidemias de zika na América Latina e em partes dos Estados Unidos, pesquisadores de todo o mundo têm trabalhado intensamente para desenvolver candidatas a vacinas - e várias já foram testadas em animais.

Segundo os autores do estudo da Nature, a nova vacina é a primeira a proporcionar uma proteção tão potente e duradoura sem utilizar o vírus vivo. "A diferença crítica entre a nossa vacina e as outras é que ela não utiliza o vírus vivo. Isso faz com que ela seja muito mais segura e muito mais fácil de produzir", declarou Weissman.

Em vez de utilizar o vírus vivo, o grupo coordenado por Weissman utilizou pequenos pedaços específicos de RNA - o código genético do vírus - que comandam produção de duas proteínas importantes para que o vírus consiga aderir às células e infectá-las: a proteína pré-membrana (prM) e a proteína do envelope externo do vírus (Env).

O RNA utilizado pelos cientistas foi modificado para passar despercebido pelo sistema imune do animal ou paciente. Ao ser injetado nos animais, ele penetra em suas células e as induz a produzirem as proteínas virais, desencadeando assim a reação do organismo do paciente contra o vírus.

Em junho de 2016, um grupo de cientistas brasileiros e americanos já havia testado, com sucesso, uma vacina experimental de RNA contra o zika, utilizando as proteínas prM e Env. Na época, o coordenador da pesquisa no Brasil, Paolo Zanotto, da Universidade de São Paulo (USP), disse ao Estado que a vacina forneceu 100% de proteção aos camundongos que, depois de vacinados, foram infectados e não apresentaram a presença do vírus no organismo, indicando que a infecção não progrediu.

No novo estudo, coordenado por Weissman, os cientistas utilizaram uma única injeção da vacina em camundongos - contendo 30 milionésimos de grama dos fragmentos de RNA - e conseguiram assim induzir os organismos dos animais a produzir uma rápida resposta imune.

Duas semanas mais tarde, os cientistas injetaram o vírus da zika nas veias dos camundongos, que se mostraram protegidos: alguns dias após a infecção, os animais não tinham qualquer traço detectável do vírus na corrente sanguínea. A mesma proteção foi alcançada em camundongos que foram expostos à zika cinco meses após a vacinação.

Os testes em macacos também revelaram que uma única dose de 50 microgramas forneceu forte proteção contra a exposição à zika cinco semanas mais tarde. Em ambos os casos, os testes de neutralização do vírus indicaram que a vacina induziu à produção de altos níveis de anticorpos que bloqueiam a infecção. A concentração de anticorpos atingiu um pico algumas semanas após a vacinação, mas, depois, permaneceu alta o suficiente para continuar oferecendo proteção.

"Nosso trabalho, até agora, sugere que essa nova estratégia de vacina induz a níveis de neutralização do vírus 25 vezes maiores, depois de uma única dose, em comparação às vacinas convencionais", disse Weissman.

Pauliana da Silva Souza tinha 15 anos quando largou a escola e foi morar com o namorado, de 18, em uma casa de um bairro pobre do Recife. No ano seguinte, acabou engravidando. A adolescente que há pouco havia saído da infância tinha, a partir daí, a missão de cuidar de uma criança. O desafio mostrou-se ainda maior após o nascimento da pequena Ágatha, mais uma vítima da epidemia de microcefalia, que foi declarada emergência internacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) há exatamente um ano.

A emergência foi suspensa em novembro, mas, assim como Pauliana, 767 brasileiras com menos de 20 anos deram à luz crianças com a má-formação em apenas um ano, conforme dados inéditos do Ministério da Saúde obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo por meio da Lei de Acesso à Informação. Pela classificação da OMS, todas ainda estavam na adolescência.

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O número equivale a um de cada quatro (24%) dos 3,1 mil casos confirmados da má-formação registrados pelo governo federal de novembro de 2015 a setembro de 2016 e incluem registros de microcefalia provocada por todas as causas, não só pelo vírus zika.

Desse total, 35 jovens tinham entre 10 e 14 anos, dado ainda mais preocupante, segundo especialistas. "É uma estatística assustadora porque isso é estupro presumido. Quando vemos meninas sendo mães nessa idade, alguma coisa para essa população falhou. É um momento muito precoce, que vai causar um impacto para a vida toda", diz a antropóloga Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília (UnB) e pesquisadora do Anis Instituto de Bioética.

Vulnerabilidade

Os números do ministério também indicam que a gravidez na adolescência é mais prevalente entre mães de bebês com microcefalia do que na população em geral, na qual o índice de gestantes entre 10 e 19 anos é de 18%. Outros dados sobre o perfil das mulheres afetadas pela epidemia da má-formação também mostram que as crianças nascidas com microcefalia parecem estar em famílias com maior situação de vulnerabilidade.

Além do alto porcentual de adolescentes, quase metade (48%) das mães de bebês com microcefalia é solteira, ante 40% na população em geral, e 76% dessas mulheres são pretas ou pardas, enquanto no restante da população, esse mesmo índice é de 59%.

"Por mais que o Aedes aegypti possa estar em toda parte, é muito claro que as consequências da proliferação do mosquito estão mais presentes onde há mais vulnerabilidade social", afirma a antropóloga. Há desigualdades também no perfil das mães por Estado. No Amazonas e em Alagoas, por exemplo, o índice de mulheres que deram à luz bebês com microcefalia antes dos 20 anos chega a 40%.

Apesar de o Ministério da Saúde não ter divulgado os dados de renda das mães de bebês com microcefalia, uma pesquisa feita pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Estado com o maior número de casos da má-formação, mostra que 90% das famílias de crianças com o problema tinham renda per capita de até R$ 220, conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo em 6 de novembro. A pesquisa foi feita com 211 famílias cadastradas em um núcleo estadual de apoio.

Dificuldades

Pauliana, hoje com 17 anos, não gosta quando relacionam sua idade ao fato de já ser mãe. "Não é porque sou jovem que não tenho responsabilidade, mas também não vou dizer que é fácil. É uma situação que a bebê fica dependente de mim, eu que tenho que levá-la para as terapias e não posso deixá-la com ninguém por causa do problema dela", conta.

Na maioria das vezes, a adolescente enfrenta sozinha a rotina de tratamentos da menina. "Dependendo de onde é a terapia, tenho de pegar dois ônibus para chegar e às vezes tenho de ir em pé porque ninguém dá o lugar", conta. O companheiro de Pauliana costuma passar o dia trabalhando. "Foi muito difícil esse primeiro ano porque a gente brigava muito. Cheguei até a me separar dele e voltar para a casa da minha mãe quando a Ágatha estava com 6 meses, mas voltamos quatro meses depois." Hoje, a bebê está com 1 ano e 4 meses.

Contando apenas com a renda de pedreiro do rapaz, o casal tem enfrentado dificuldades para custear todas as despesas. "Ainda bem que tenho conseguido doações. Pego leite, fraldas em uma associação de mães de bebês com microcefalia. Senão, a situação estaria pior." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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