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Embora a flexibilização de alguns segmentos da economia em meio à crise do coronavírus tenha trazido esperança para a conquista de novas oportunidades de negócios, a taxa de desemprego voltou a ter elevação no Brasil. Dados do Instituto Brasileiros de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados na última sexta-feira (2), mostram que, até a segunda semana do último mês de setembro, os desempregados representavam 14,1% da população.

A situação fica ainda mais complicada para as mulheres durante a pandemia. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no último mês de julho 6,2 mil pessoas do sexo feminino ficaram sem emprego em São Paulo. É o exemplo da monitora de teleatendimento Bruna Santos, 36 anos, sem trabalho há pouco mais de 15 dias. "Estou procurando oportunidade de trabalho dentro das minhas qualificações e infelizmente, dentro do segmento do call center, o trabalhador se desvalorizou nesses últimos meses. Praticamente todas as empresas que tenho visto padronizaram benefícios e o valor do salário mínimo", conta.

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 A monitora de teleatendimento Bruna Santos | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo Bruna, os problemas para a conquista da oportunidade vão além dos ganhos de pouco mais de R$ 1.045 mensais. Para ela, muitas firmas ainda vêem as mães de família como um problema. "Mulheres com filho tem mais dificuldade de se recolocar no mercado. A empresa prefere oferecer a vaga a pessoas que não são 'risco' por terem que cuidar da criança", considera.

A profissional afirma que, por enquanto, consegue manter uma renda por estar munida dos recursos indenizatórios, mas está preocupada com o cenário. "Além da monitoria, tenho experiência como atendente e back office [suporte de cobrança], e o mercado está oferecendo o mesmo salário do operador de telemarketing. Muitas pessoas aceitam por experiência e para não ficar desempregado. Vai ser bem difícil me realocar de uma maneira justa", observa.

Desalento e esperança nos concursos

A auxiliar administrativa Fabiana da Glória, 41 anos, está entre os trabalhadores desalentados. O termo é utilizado pelo IBGE para contabilizar pessoas que deixaram de procurar emprego. Ela conta que há cinco anos saiu do grupo educacional em que trabalhava, procurou emprego durante um período, mas resolveu estudar para ser servidora pública. "No início procurei por muito tempo, até decidir pelo concurso público. Ser mulher, negra, mãe de filho pequeno é um empecilho e tanto no mercado de trabalho", protesta a trabalhadora, que agradece aos pais pelo apoio e pelo auxílio na criação do menino. "Se não fosse pelos meus pais, teria que jogar meus diplomas no fundo de uma gaveta e trabalhar em qualquer oportunidade que me fosse apresentada. Mas enquanto eu puder vou seguir estudando e aguardando meu nome no Diário Oficial", enfatiza.

 A auxiliar administrativa Fabiana da Glória e o filho Bernardo | Foto: Arquivo Pessoal

Ainda segundo Fabiana, além da estabilidade, a carreira como servidora pública a retira da obrigação de participar de processos que a envolvem em entrevistas como dinâmicas de grupo em que, de acordo com ela, trazia frustração. "Por ser uma pessoa muito retraída, tenho dificuldade de me expressar nas entrevistas, muitas vezes via pessoas representando um papel para conseguir um emprego e isso me frustrava ainda mais", comenta. "Meus dois últimos empregos foram por indicação e acho que se, por algum motivo desistisse do concurso público, só seria recolocada no mercado por indicação novamente", complementa.

Indicações da especialista

Ana Chauvet, especialista em Recursos Humanos, aponta a disparidade existente no mercado de trabalho entre homens e mulheres como um dos fatores responsáveis pelo desequilíbrio histórico de gênero no mercado de trabalho, que segue sendo prejudicial em tempos de crise. "No Brasil, grande parte da população feminina acaba tendo que ser a única provedora da casa e, além disso, administrar o lar e a família em uma jornada tripla. Isso faz com que as profissionais do sexo feminino sejam mais prejudicadas em ocasiões de crise", declara.

Ainda segundo Ana, outro aspecto que precisa ser desconstruído com urgência é o fato das empresas verem o público feminino como custo ou risco."As empresas entendem as mulheres como prejuízo e desconsideram que elas são as grandes responsáveis pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em todos os países do mundo", ressalta.

De acordo com a especialista, a união entre as próprias mulheres pode fazer a diferença em tempos de crise sanitária e financeira. Há algumas plataformas criativas de busca de emprego em que se viabiliza a solidariedade para divulgar vagas para os mais diferentes perfis femininos. "Tem o 'Mulheres no e-commerce', destinado para as que buscam vagas no mercado eletrônico; 'Garotas no poder', grupo no Facebook de mulheres que buscam por igualdade de gênero no mercado de trabalho; 'Indique uma mina', com o intuito de divulgação de vagas, porém com visibilidade para mulheres trans também; 'Contrate uma mãe', rede de apoio de mulheres que buscam pela realocação, aumentando a autoestima das mães; e a 'She works!', plataforma internacional disponível no Brasil, que conecta empresas com mulheres que buscam trabalhos freelas e/ou home office na área da comunicação", indica Ana.

Com o fechamento do trimestre encerrado em julho, a taxa de desemprego no Brasil chegou a 13,8%, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados nesta quarta (30). A porcentagem equivale a 13,1 milhões de pessoas e representa o recorde de desemprego no país na série história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde 2012.

No trimestre anterior, encerrado em abril, a taxa de desemprego era de 12,6%. Já em janeiro, a porcentagem era de 11,2%. A população ocupada (82,0 milhões) também é a menor da série, com queda de 8,1% (menos 7,2 milhões pessoas) em relação ao trimestre anterior e 12,3% (menos 11,6 milhões) em comparação com o mesmo trimestre de 2019.

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O número de desalentados (5,8 milhões), isto é, os trabalhadores que gostariam de trabalhar, mas não procuraram empregos por acreditarem na escassez de vagas, foi recorde, com altas de 15,3% (mais 771 mil pessoas) em relação ao trimestre anterior e 20,0% (mais 966 mil pessoas) frente ao mesmo trimestre de 2019. A quantidade de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado, estimado em 29,4 milhões, foi a menor da série, com queda de 8,8% (menos 2,8 milhões de pessoas) frente ao trimestre anterior e de 11,3% (menos 3,8 milhões de pessoas) na comparação com o mesmo trimestre de 2019.

Os brasileiros que trabalham menos horas do que gostariam, ou seja, os subutilizados, agora são 32,9 milhões. Com isso, eles atingiram o recorde de 30,1%, alta de 4,5 pontos percentuais comparado a abril.

Segundo dados da pesquisa PNAD Covid-19, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a taxa de desemprego em Pernambuco aumentou pelo quarto mês seguido. De acordo com o levantamento, 574 mil pessoas que já estavam desempregadas e buscaram ativamente um emprego, não obtiveram sucesso no mês passado.

Em maio, primeiro mês da pesquisa, 382 mil pessoas estavam nessa situação. A pesquisa mostra ainda que a taxa de informalidade em Pernambuco aumentou 1 ponto percentual entre julho e agosto, saindo de 40,7% para 41,7% da força de trabalho ocupada e chegando a 1 milhão e 326 mil trabalhadores, 42 mil a mais do que no mês anterior. 

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Em agosto, o índice de desempregados chegou a 15,3%, contra 13,5% em julho, 12,6% em junho e 10,5% em maio. Por outro lado, o número de pessoas ocupadas no estado parou de cair no mês passado. Em julho, eram 3 milhões e 153 mil e, em agosto, esse número passou para 3 milhões e 177 mil pessoas, um discreto aumento de 24 mil trabalhadores. 

Já a quantidade de pessoas ocupadas e afastadas do trabalho, devido ao distanciamento social, também diminuiu pelo quarto mês consecutivo. Em julho, eram 313 mil; em agosto, não passavam de 170 mil, uma queda de 45,6% entre um mês e outro. Os números também caíram sensivelmente em relação a maio, passando de 28,8% para 5,3% da população ocupada. Ainda segundo a pesquisa, 9,5% da população pernambucana ocupada e não afastada do trabalho trabalharam de forma remota no último mês, frente a 10,7% no mês de julho.

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), usou o Twitter, nesta terça-feira (28), para rebater o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que, mais cedo, ironizou o fato do gestor comunista ter proposto que o mandatário nacional se reúna com os governadores para traçar estratégias e criar um “Pacto Nacional pelo Emprego”.

Para Dino, o desemprego no Brasil deve ser levado a sério e não pode ser tratado no que chamou de “cercadinho” do Palácio da Alvorada, residência oficial do presidente. 

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“Considero que o desemprego não é assunto a ser tratado com ironias. Espero que o presidente da República leve a sério a urgência de ações efetivas. É impossível tratar do tema no ‘cercadinho’ do Alvorada. Por isso, insisto na ideia do Pacto Nacional pelo Emprego”, escreveu o comunista.

“O presidente Bolsonaro, além de ironizar indevidamente o tema do desemprego, está desinformado sobre o Maranhão. Estamos com praticamente 100% das atividades econômicas funcionando, há muitas semanas”, emendou fazendo menção à frase dita por Bolsonaro mais cedo aos apoiadores: “Tem governador agora que quer pacto pelo emprego, mas ele continua com o Estado dele fechado".

Com a pandemia, suas vidas viraram de cabeça para baixo. Trabalhadores fixos ou temporários, ricos ou pobres, no turismo, no setor aéreo ou na restauração: todos perderam o emprego e vivem em angústia, vergonha e até humilhação.

Com a crise causada pela Covid-19, o Fundo Monetário Internacional (FMI) espera uma recessão de 4,9% neste ano.

Segundo a economista-chefe da instituição, Gita Gopinath, "são as famílias de baixa renda com trabalhadores pouco qualificados que mais sofrerão". Milhões de pessoas no mundo estão, ou estarão, desempregadas em 2020.

De Paris ao México e de Kiev a Madri, jornalistas da AFP conversaram com funcionários e trabalhadores dos setores mais afetados - turismo, transporte aéreo, restauração, digital -, que compartilharam suas vidas diárias de sacrifícios, projetos abortados e medo para o futuro.

Estes são seus testemunhos.

Neuilly-sur-Marne (França) - "Precariedade" na restauração

"Eu caí na precariedade". Há dez anos, Xavier Chergui, um francês de 44 anos, cumpria contratos pontuais no setor da restauração como garçom na região de Paris. Ganhava entre 1.800 e 2.600 euros por mês (entre 2.000 e 2.900 dólares), com máximos de 4.000 euros (4.500 dólares).

"E aí veio a COVID-19, e tudo desmoronou. Em 13 de março, eles me anunciaram: 'Xavier, você não vai mais vir, acabou'", conta.

"Não paguei meu aluguel (950 euros) em março, abril, maio (...). Continuo pagando 250 euros da prestação do carro, mas não a eletricidade. Tenho que encher a geladeira. Iríamos sair de férias por 15 dias no sudoeste da França, mas cancelamos".

"Perdemos tudo. Psicologicamente, temos que assumir isso", diz.

Com a esposa, que não trabalha, e os dois filhos, vivem com os 875 euros (quase US$ 990) da Renda de Solidariedade Ativa, que garante um mínimo de dinheiro na França para pessoas sem recursos.

"Minha esposa está deprimida, chora todos os dias", diz Xavier.

"O que me resta é esperar a tempestade passar. Em setembro, a atividade será retomada e, no início de outubro, a primeira renda entrará".

"Isso se o vírus não voltar", acrescenta.

Medellín (Colômbia) - Reconversão forçada

Roger Ordóñez nasceu em Medellín há 26 anos, formou-se em uma escola técnica estadual e esperava ser piloto. Ingressou na companhia colombiana Avianca como comissário de bordo em 2017. Antes, teve empregos informais "com salários muito baixos".

"Você entra na Avianca e se adapta a uma certa vida, porque tem um bom salário e pode viajar", diz Ordóñez, que como funcionário da companhia aérea passou férias em seis países e levou sua família ao exterior pela primeira vez.

"Conheci México, Brasil, Uruguai, Argentina, Chile e várias cidades dos Estados Unidos", conta.

No final de março, Ordóñez concordou em tirar uma licença não remunerada de 15 dias, a pedido da Avianca. Mas o período durou até o final de maio, quando Ordóñez recebeu uma carta em que a empresa o notificou que seu contrato, que expirava em 30 de junho, não seria renovado.

Enquanto isso, a segunda maior companhia aérea do país decretou falência.

Sua vida e seus projetos mudaram. "Estou procurando emprego, mas é complicado, porque meu campo de trabalho é o turismo, que é o mais afetado pela COVID".

Agora, ele considera voltar a estudar algo "relacionado à (...) administração, comércio, ou vendas".

Embora Ordóñez não tenha um lar sob sua responsabilidade, garante que sua saída da Avianca atingiu sua família, uma vez que seu salário, superior ao de seu pai, ou de seus irmãos, permitia-lhe ajudar a "pagar algumas contas".

Madri - "A vergonha" da ajuda alimentar

Para encher a geladeira e dar o que comer ao filho, filha e neto, Sonia Herrera não tem escolha a não ser depender da ajuda alimentar.

"Fico um pouco envergonhada de pedir ajuda". E sente culpa, ao dizer que "talvez outros precisem mais", desabafa essa hondurenha de 52 anos.

Empregada doméstica sem carteira assinada, ganhava 480 euros por mês (US$ 540) até ser dispensada pelos patrões, quando o confinamento começou, em março.

Sem carteira assinada, não tem direito a nada, a nenhuma proteção social.

Sua filha Alejandra, de 32 anos, cozinheira em uma creche por cerca de 1.000 euros por mês, também perdeu o emprego com o fechamento dos centros educacionais durante o confinamento.

Alejandra é uma trabalhadora formal, regularizada, e recebe o seguro-desemprego de 600 euros, com o qual toda sua família vive.

Com a renda apertada, "mal" podem pagar as contas e o aluguel.

"Antes podíamos sair para comer, de vez em quando, tomar um sorvete... Agora não mais".

Kiev - "Choque" para uma privilegiada

Natalia Murashko, cientista da computação ucraniana de 39 anos, seria promovida. Há quatro anos trabalhava como engenheira de controle de qualidade para o grupo de viagens americano Fareportal.

Quando a epidemia chegou, a empresa demitiu cerca de 15 funcionários em 31 de março. Ela acreditava que sobreviveria, já que seus chefes a tranquilizaram sobre isso. No dia seguinte, porém, recebeu duas semanas de aviso prévio.

"No começo, pensei que fosse uma piada de mau gosto", conta. "Foi um choque total".

Natalia Murashko faz parte da casta de cientistas da computação que, na Ucrânia, pode ganhar milhares de euros por mês, enquanto o salário médio mal excede os 300 euros.

Até então, com seu salário confortável (ela prefere não revelar o valor), tinha uma empregada doméstica, ia ao salão de beleza e comprava roupas.

De um dia para o outro, sua situação mudou. Vive de suas economias e de pequenos trabalhos. No mês passado, a jovem, responsável por dois adolescentes e por sua mãe, de 73 anos, ganhou 600 euros.

Sua busca por emprego não deu resultado: em seu setor, as ofertas no mercado ucraniano caíram muito.

Agora, limita-se a gastar "o que é estritamente necessário".

"O que não interrompi foi minha psicoterapeuta", comenta. Desde que foi demitida, sofre de insônia e ansiedade.

Paris - Angústia por medo de demissão

Marie Cédile, uma francesa de 54 anos, espera angustiada para saber se estará entre os trabalhadores que serão demitidos pela empresa de calçados André, que entrou com pedido de falência em 21 de março, no início do confinamento.

A única oferta de retorno ao trabalho em cima da mesa envolve apenas metade dos quase 450 funcionários.

"Fiz toda a minha carreira na André e, aos 54 anos, vivo agora com um salário mínimo e, talvez, vá ficar na rua", lamenta. "Se tivesse 20 anos, não diria nada, mas agora isso pode ser complicado".

Ela já esteve assustada há dois anos, quando o portal Spartoo comprou a André. Sua loja fechou, mas ela foi realocada. Ainda assim, nunca tentou mudar de profissão.

"Sabe, quando você passa 30 anos em uma empresa, mesmo que te pague um salário mínimo, é porque você gosta! Tenho clientes que vi crescer!", explica.

"Minha filha de 29 anos morreu de câncer no cérebro no ano passado, é difícil... Felizmente, eu tinha meu trabalho, o vínculo com o cliente. Isso ajuda".

Marie Cédile ganha 1.250 euros, o marido está desempregado, e eles têm outra filha de 24 anos. Não têm empréstimos para pagar, mas têm "um aluguel bastante alto, 1.040 euros" pelo apartamento em Morangis, subúrbio de Paris.

"Faz falta dois salários para chegar (ao final do mês). Meu marido está desempregado, mas é mais jovem que eu, deve encontrar um emprego. Farei qualquer coisa, se for demitida, até mesmo limpar casas. Vou encontrar alguma coisa".

México - O guia de turismo que chegou 'ao fundo do poço'

Há vários dias, Jesús Yépez, um guia turístico no México, dorme em um abrigo. No início de julho, foi despejado do quarto que alugava no centro histórico.

"Nasci em um colchão de plumas, em Coyoacán (bairro da capital), mas a vida me arrastou para baixo", diz este homem de 65 anos à beira das lágrimas.

Antes da crise, cobrava 500 pesos (cerca de US$ 22) por excursões de uma hora. Com a pandemia, museus e galerias do México fecharam as portas no final de março, exatamente quando a alta temporada começava, e ele ficou sem emprego, assim como tantos outros que vivem do turismo no país. O setor representa 8,7 % do Produto Interno Bruto (PIB) mexicano.

No começo, Jesús tinha algumas economias. Mas elas terminaram. Não há mais turistas, nem nada para visitar. Seus diplomas em arquitetura, relações internacionais, inglês e francês são pouco úteis para ele agora.

Suas roupas estão muito gastas e "não tem para onde ir".

"O que estou procurando é sair daqui para um lar de idosos (...), ter uma velhice digna. Não estou prostrado, ou tenho doenças, mas já estou cansado da vida, de alguma forma. Sinto-me sozinho", lamenta.

A proliferação do novo coronavírus impactou a saúde global e causou a mais séria crise econômica dos últimos anos. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), só entre março e maio deste ano, mais de um milhão de postos de trabalho foram fechados no Brasil. O cenário também se apresenta prejudicial aos trabalhadores quando analisamos uma pesquisa realizada pela consultoria ‘Mercer’, que apontou o seguinte: 19% das empresas indicam redução de salário e da jornada de trabalho de seus funcionários.

Os efeitos da pandemia da Covid-19 no mercado de trabalho brasileiro estarão em pauta, nesta quarta-feira (15), às 16h30, em mais uma edição do programa “Quando passar”. O tema é “Das reduções salariais ao home office: qual será o destino do trabalhador brasileiro?”, e todos os detalhes poderão ser acompanhados no YouTube do LeiaJá, no YouTube do projeto Vai Cair No Enem e no Instagram do projeto Vai Cair Na OAB.

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Participam da live a procuradora do Ministério Público do Trabalho (MPT) em Pernambuco, Débora Tito, a mestre em direito do trabalho Schamkypou Bezerra, além do secretário de Trabalho, Emprego e Qualificação do Estado, Alberes Lopes. A mediação é do jornalista Nathan Santos.

O ‘Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?’ é uma idealização do LeiaJá em parceria com o projeto Vai Cair No Enem. O programa é exibido todas as quartas-feiras, às 16h30, no Youtube do LeiaJá.

Proposta - Os convidados do programa não apresentam “verdades absolutas” sobre a futura sociedade do período pós-pandemia, uma vez que há muitas dúvidas acerca de como os países se recuperarão das consequências causadas pela proliferação do vírus em diferentes áreas. Porém, eles revelam projeções, a partir das suas vivências pessoais e principalmente profissionais, que possam nos apresentar possíveis panoramas. As temáticas abordadas nas lives serão diversas, permeando áreas como educação, mercado de trabalho, esportes, política, medicina, ciência, tecnologia, cultura, entre outras.

Serviço

Programa 'Quando passar... Como será o mundo após a pandemia?'

Quando: nesta quarta-feira (15)

Horário: 16h30

Tema: “Das reduções salariais ao home office: qual será o destino do trabalhador brasileiro?”

Convidados: Débora Tito (procuradora do MPT), Schamkypou Bezerra (mestre em direito do trabalho) e Alberes Lopes (secretário de Trabalho, Emprego e Qualificação de Pernambuco)

Onde assistir:

youtube.com/leiajaonline

youtube.com/vaicairnoenem

Instagram @vaicairnaoab

Veja, abaixo, a transmissão:

Depois de cinco meses de trabalho sem registro na carteira profissional em uma metalúrgica em Guarulhos, na Grande São Paulo, Diego Souza recebeu a notícia que mais temia no começo da pandemia: a empresa ia demiti-lo. Logo depois, outra má notícia: por atrasar em um mês o aluguel de R$ 500, a proprietária pediu as chaves do quarto onde morava. Sem emprego e sem teto, o torneiro mecânico de 33 anos pensou, em abril, que teria mais chances na capital. Nada melhorou. Ele chegou a viver seis dias na Praça da República, no centro, dormindo sob a marquise do Cine Marabá. Ainda está sem trabalho, mas conseguiu uma vaga para dormir no Centro Temporário de Acolhimento Alcântara Machado, na zona leste.

Mesmo como centro da pandemia no País, São Paulo também pareceu a melhor opção de emprego para o mineiro Rogério Anselmo, de 45 anos. Tendo trabalhado já como vigilante e auxiliar de produção, ele chegou à capital paulista na terça-feira passada, sem ter onde ficar. Após problemas com a família, ele já morava nas ruas de Belo Horizonte. "Lá já não havia emprego antes. Eu só fazia bicos. Com a pandemia, tudo ficou pior. Só preciso de uma chance para tentar me colocar de pé de novo", diz o pai de quatro filhos - todos vivem com as mães.

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A crise causada pela pandemia tem empurrado para as ruas desempregados e migrantes. Um indicador desse crescimento está nas vagas de acolhimento da Prefeitura. Em abril, eram 594. No início de julho, saltaram para 1.072, sendo 672 em oito equipamentos emergenciais e outras 400 em quatro Centros Educacionais Unificados (CEUs). O porteiro Paulo Ricardo Araújo, de 32 anos, carioca da Ilha do Governador, conseguiu uma vaga no Centro Temporário de Acolhimento (CTA) da Mooca. Desempregado há um mês, depois de sair de uma empresa de logística, ele tem direito a quatro refeições por dia, banho e um lugar para dormir. Solteiro, com uma filha no Ceará, Ricardo passa o dia procurando emprego. "O prazo para ficar no abrigo é o final da pandemia", diz.

Antonio, que revela só o primeiro nome, ainda não conseguiu espaço nesses abrigos. Ajudante de serviços gerais, ele dorme sob o Viaduto Bresser, no Belém, desde o início de junho. Espera a chegada de um primo de Itabaiana (BA) que vai trazer roupas e dinheiro. Prefere não ser fotografado. "É uma situação vergonhosa. Não tenho dinheiro para comprar um sabonete", diz o baiano de 35 anos.

A empregada doméstica Alessandra Rodrigues também ficou sem opções. Não conseguiu vaga nos centros de acolhimento da prefeitura e era impossível dormir na rua com Luana, sua filha de dois anos e seis meses. Assim, ela recorreu a uma ocupação irregular conhecida como Castelo, na Avenida Alcântara Machado, a Radial Leste. A (falta de) opção indica outra válvula de escape para as famílias sem renda durante a pandemia: os imóveis abandonados. "Eu não consegui nenhuma diária de limpeza porque as famílias estão sem dinheiro e com medo da covid. Eu não podia ficar na rua com minha filha, né?", diz a paulistana de 42 anos.

No mesmo endereço de Alessandra, moram 20 famílias (antes da pandemia eram 15). A empregada doméstica conta que as doações, que eram poucas, praticamente desapareceram. Outros moradores que preferem não se identificar afirmam que existem pelo menos mais sete ocupações na região do Belém e boa parte das doações acaba parando nesses endereços. Os itens mais necessários para as famílias que vivem ali são roupas e cestas básicas. Alessandra vive em um cômodo que serve como sala, quarto e cozinha e não tem despesas como água e luz. Conseguiu a vaga ali porque os líderes da ocupação se sensibilizaram com sua história. O café da manhã da mãe e da filha é feito na Igreja São Miguel Arcanjo, na Mooca. E as outras refeições? A pergunta fica sem resposta enquanto Alessandra levanta os ombros. "Nessa pandemia, a gente depende da ajuda das pessoas, mas nem todo mundo está podendo ajudar."

Rotina

Dramas pessoais como esse viraram rotina em São Paulo. Depois da eclosão da pandemia, a quantidade de pessoas sem casa, ou com casa, mas sem comida, explodiu na cidade. E essa situação, visível nas ruas, é ainda ausente nas estatísticas oficiais, como apontam várias instituições filantrópicas ouvidas pelo Estadão. "Tem mais gente procurando café da manhã", afirma o padre Júlio Lancelotti, da Paróquia São Miguel Arcanjo e da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo.

Antes da pandemia, cerca de 150 pessoas apareciam todas as manhãs no café oferecido pela paróquia, que fica na Mooca. "Hoje temos 400 a 500 pessoas." Desemprego, inadimplência, situações de aperto material e emocional têm levado mais gente para as ruas, diz o vigário. Na zona central, o frei Angélico do Coração de Jesus, da congregação religiosa Fraternidade O Caminho, conta que há moradores que vieram do Nordeste e até de fora do País. Eles perderam o emprego e, sem rede de proteção, foram parar em albergues e nas ruas.

"Notamos um aumento por causa da pandemia", diz frei Angélico. Antes, de 40 a 50 pessoas apareciam diariamente na primeira refeição oferecida . "Hoje são 200, no mínimo, no café da manhã." Para agravar a situação, algumas instituições deixaram de oferecer ajuda por causa do risco de aglomerações.

Instalada no Largo de São Francisco, zona central da cidade, a Tenda Franciscana foi aberta exatamente por causa do aumento da procura desses carentes por refeições. Frei João Paulo Gabriel, coordenador do projeto, afirma que no início da pandemia houve aumento "considerável" da procura por comida. "Tem gente vindo aqui porque perdeu a casa. Outras porque não têm casa nem comida." Levantamento preliminar do Serviço Franciscano de Solidariedade revela que 21% dessas pessoas têm casa, mas buscam comida. Outros 74% são pessoas em situação de rua e 5% vivem em ocupações.

Segundo a Prefeitura, de acordo com o Censo da População em Situação de Rua de 2019 havia 24.344 pessoas nessa condição na capital. O padre Júlio Lancelotti chegou a considerar que esses resultados estavam subestimados. Nas suas contas, na época, eram cerca de 30 mil pessoas. "Tudo ficou mais muito difícil para eles", lembra. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A rotina de quem está desempregado, que já não é fácil em situações normais, ficou ainda pior por causa da pandemia de coronavírus. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta terça-feira (30), mostram que até o mês de maio cerca de 7,8 milhões postos de trabalho foram extintos devido à crise. 

Na contramão do momento desfavorável, muitos brasileiros batalham para conseguir uma vaga e se recolocar no mercado de trabalho. A recepcionista Mariane Gonçalves, 22 anos, está há 11 meses desempregada. Segundo ela, apesar das inúmeras tentativas na busca por emprego por meio de recrutadoras virtuais, ela ainda não conseguiu uma vaga.

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"Entro na Internet todos os dias, redes como o LinkedIn, outros sites que sempre consulto, me inscrevo mas na maioria é sem sucesso", conta.

Mariane Gonçalves, que já buscava emprego antes da quarentena, afirma que a pandemia dificultou a situação. Foto: arquivo pessoal

Para Mariane, o decreto de pandemia, feito no último mês de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS), complicou ainda mais o caminho rumo à conquista profissional. "A pandemia tem deixado muitas pessoas sem emprego e quem já estava desempregado encontra maior dificuldade para conseguir algo", considera.

A procura, que antes era de acordo com sua área de atuação, passou a ser menos seletiva e mais abrangente. "A princípio procurei mediante experiência, mas agora estou enviando para todo e qualquer lugar que anuncie vagas", afirma a recepcionista, que mesmo correndo alguns riscos, segue distribuindo currículos pelas firmas que encontra funcionando.

"Procuro trabalho desde a primeira semana que fiquei desempregada, parei no início da pandemia e mesmo que nem todas as empresas estejam abertas, já voltei a entregar", conta.

Nenhuma entrevista

Com experiência no setor comercial, a operadora de caixa Daiana dos Santos, 31 anos, foi dispensada em novembro do ano de 2019. A vontade e a necessidade de estar empregada a fez buscar recolocação mesmo tendo direito a receber o seguro-desemprego.

"Procuro emprego desde que saí da empresa, mesmo recebendo o seguro-desemprego, mas atualmente não recebo mais o benefício", lamenta a profissional, que já teve experiências em funções como vendedora e atendente.

Daiana dos Santos está disposta a trabalhar em outras áreas mas não teve nenhum retorno das vagas às quais se candidatou. Foto: arquivo pessoal 

De acordo com Daiana, ela ainda não foi escolhida para participar dos processos seletivos em que se inscreveu desde que voltou à procura de trabalho. "Ainda não fiz nenhuma entrevista e nem recebi resposta dos aplicativos do qual enviei o currículo. Sempre envio pela plataforma e para o e-mail das empresas, mas ainda não tive retorno", relata.

Daiana diz que gostaria de trabalhar nas áreas em que já tem prática, mas afirma que está aberta a oportunidades em outras áreas. "Procuro trabalho no segmento que já possuo experiência, porque o mercado de trabalho pede de seis meses a um ano de experiência na função, mas se pintar alguma outra vaga eu aceito", enfatiza.

Demitido na quarentena

Já o jornalista Vinicius Lecci, 36 anos, foi alvo da demissão em meio à crise propiciada pelo novo coronavírus, no último dia do mês de março. O comunicador, que optou por procurar trabalho pela internet, chegou a participar de um tipo de entrevista de emprego por telefone.

O jornalista Vinicius Lecci foi demitido bem no início da quarentena e tem buscado recolocação pela internet. Foto: arquivo pessoal

"Foi um bate-papo bem informal para uma das vagas, onde o recrutador tirou algumas dúvidas sobre minha carreira, meu currículo e me passou informações sobre o trabalho", lembra.

Além das suas especialidades, que são a redação e a produção de conteúdo, Lecci conta que tem explorado novas possibilidades na tentativa de recolocação. "Quando vejo algo relacionado, como vagas de social media que tenha foco em conteúdo, me inscrevo também", relata o profissional.

"Em tempos de crise econômica e de pandemia, me mostro bem aberto a aceitar algo que vier", completa.

Mesmo com a crise que também atingiu algumas redações jornalísticas em todo o país, Lecci acredita que o mercado deve voltar se movimentar quando o período de recessão acabar, mas teme pela redução nos rendimentos mensais da categoria.

"Como demitiram, vão precisar recontratar. Porém, vejo que empresas dispensaram  profissionais com salários maiores do que pretendem oferecer, mesmo que para a mesma função", projeta o jornalista, que aguarda o fim da pandemia para dar sequência em alguns processos seletivos em que se inscreveu.

Dicas 

A analista e consultora de Recursos Humanos Priscila Siciliano alerta os candidatos a recolocação profissional a se manter sempre preparados e aproveitar o potencial sem temer.

"Existem várias pessoas com potencial gigantesco mas que se limitam por medo. O medo não pode ser inimigo e sim um aliado. Indico sempre a  ampliação da rede de contatos, currículo sempre atualizado para que possa desfrutar das oportunidades", pontua.

Para ela, em tempo de pandemia, as próprias contratantes tomaram a frente e alteraram o modelo de diversos processos seletivos. "As conferências se tornaram tendência e nossas dinâmicas de grupo estão sendo abolidas. Hoje o pessoal se ajusta rápido ao que a empresa necessita", explica a especialista.

Segundo ela, o processo que envolvia muitos profissionais em um ambiente está sendo substituído por um diálogo junto aos postulantes às vagas. "Quando necessário, há a substituição por conversas com psicólogos, que realizam a interlocução com os candidatos direcionando ao cargo que irá desempenhar e suas peculiaridades", realça.

A especialista ainda recomenda pontos que podem ser diferenciais no momento de procurar emprego no período de crise sanitária. "A escolha de um local menos conturbado da casa, a pontualidade e a opção pelo uso de trajes adequados em uma entrevista remota são fundamentais", aponta.

Segundo Priscila, além de se preocupar com os detalhes que podem fazer a diferença na seleção, é importante ser claro com o recrutador nos aspectos profissionais e até mesmo se houve interferências externas durante o tempo de entrevista.

"Caso algum ruído externo ocorra, peça um instante ao interlocutor e continue a conversa. Durante a conferência, procure olhar sempre para câmera e deixe um copo com água próximo para que, nos intervalos das considerações dele, você possa recuperar o fôlego e se sentir mais confortável com a explanação", complementa.

A pandemia do coronavírus levou ao fechamento de 1,487 milhão de vagas com carteira assinada entre março, quando foi registrado o primeiro caso de covid-19 no país, e maio. De acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgados nesta segunda-feira, 29, pelo Ministério da Economia. No mês de maio, o saldo líquido entre a abertura e o fechamento de vagas foi negativo em 331.901 empregos.

O resultado de maio decorre de 703.921 admissões e 1,035 milhão de demissões. Esse foi o pior resultado para o mês da série histórica, que tem início em 1992. Em maio de 2019, houve a abertura de 32.140 vagas.

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No acumulado do ano, o saldo do Caged foi negativo em 1,144 milhão de vagas, o pior desempenho da série histórica disponibilizada (2010).

Atingido em cheio pela Covid-19, o mercado de trabalho pode ter visto seu pior momento em maio, mas um forte aumento do desemprego ainda está por vir, mostram os primeiros dados de uma nova pesquisa semanal do IBGE. A taxa de desemprego passou de 10,5% na primeira semana de maio, para 11,4% na última semana, porém, quando são consideradas também as pessoas que não procuraram emprego, mas gostariam de trabalhar, a taxa sobe para 30,2%. São 36,6 milhões de brasileiros sem trabalho, o equivalente a quase toda a população do Canadá.

Foram os primeiros números de maio do IBGE sobre o mercado de trabalho, calculados na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Covid (Pnad Covid), feita totalmente por telefone. No trimestre encerrado em abril, a Pnad Contínua, pesquisa que segue sendo a oficial para medir o mercado de trabalho nacional, havia mostrado uma taxa de desemprego de 12,6% -- mas os dados não são comparáveis, segundo o IBGE.

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De acordo com Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), neste período inicial da crise, há uma "falsa estabilidade da taxa de desemprego", porque os trabalhadores estão perdendo o emprego, mas, num primeiro momento, não estão buscando novas vagas - pela metodologia internacional dos estudos sobre trabalho, só é considerado desempregado quem busca um emprego.

O total de desempregados foi de 9,8 milhões na primeira semana de maio para 10,9 milhões na segunda, alta de 10,8%. Como o total de ocupados se manteve no mesmo nível - em torno de 84 milhões nas quatro semanas, indicando que não houve demissões generalizadas -, é possível que os desempregados tenham vindo do grupo de trabalhadores que estavam fora de força de trabalho, ou seja, não estavam procurando emprego, disse o diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, Cimar Azeredo. Esse é o movimento esperado para os próximos meses, nas projeções de Duque, do Ibre/FGV.

A Pnad Covid calculou que, entre as pessoas fora da força de trabalho, 25,7 milhões não procuraram um emprego, mas gostariam de trabalhar. Somados aos desempregados, somam os 36,6 milhões sem emprego. No grupo dos que não procuraram um emprego, mas gostariam de trabalhar, 17,7 milhões não o fizeram especificamente por causa da pandemia de covid-19 ou por falta de trabalho em sua região.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A taxa de desemprego no país subiu para 12,6% no trimestre encerrado em abril deste ano, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é superior aos 11,2% do trimestre encerrado em janeiro.

Em relação ao trimestre encerrado em abril de 2019, a taxa ficou estatisticamente estável, já que o índice de desemprego daquele período era de 12,5%.

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Com empresas cortando gastos devido à pandemia, aqueles que perderam o emprego tem usado a criatividade para driblar a crise. Alguns encontraram uma alternativa para gerar renda dentro da própria casa, já que respeitam a quarentena, e, assim, aproveitaram o fogão, as panelas e o tempero de família para produzir marmitas.

Preparar refeições caseiras tem sido a rotina da vendedora Bianca Dolloski, 21 anos desde que perdeu o emprego em uma loja de móveis e eletrodomésticos. Com o apoio da família, ela tem prepardo cerca de cinco encomendas por dia no valor de R$ 25 cada. "Precisava fazer dinheiro de alguma forma, e sempre elogiaram minha comida. Pensei que daria certo e deu. Estou vendendo mais do que imaginava", conta. "Tivemos a ideia e logo compramos as embalagens de conserva em mercados de atacado e começamos a preparar. Na cozinha, sou eu e minhas tias, e meu primo faz as entregas", complementa.

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Para evitar perdas, Bianca mantém carnes e aves refrigerados e só os descongela de acordo com o pedido. Assim, conseguiu estabelecer uma organização e higiene assegurando a qualidade das refeições, que são alteradas duas vezes por semana. "Até o momento, atendo com opções de frango frito, de segunda a quarta, e carne bovina, de quinta a sábado, além do tradicional arroz e feijão e salada de folhas verdes", explica.

Na expectativa de que as vendas aumentem quando divulgar as marmitas caseiras nas internet, Bianca gostou da nova atividade e pretende mantê-la após a pandemia. "Já estou trabalhando em uma arte para a criação de panfletos, assim como um perfil nas redes sociais. Se continuar uma demanda igual a que estamos recebendo, não vejo o porquê não investir e transformar a culinária na minha nova profissão", finaliza.

O papa Francisco manifestou nesta segunda-feira (11) sua preocupação pelas milhões de pessoas em todo o mundo que vivem da economia informal e ficaram sem trabalho pelas medidas contra o coronavírus.

"Nestes tempos, tantas pessoas perderam o trabalho...", lamentou o papa ao iniciar a tradicional missa matutina na capela de sua residência no Vaticano.

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"Muitos deles trabalhavam de forma informal. Oremos por estes nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de trabalho", pediu Francisco.

O papa argentino, extremamente sensível aos problemas sociais, costuma pedir e orar quase todos os dias pelas vítimas diretas e indiretas do coronavírus e envia inclusive ajuda econômica aos setores mais frágeis da sociedade, tanto na Itália quanto em outros países afetados pela pandemia.

No início de maio, o esmoleiro do papa Francisco, o cardeal Konrad Krajewski, doou dinheiro a um grupo de transexuais, a maioria latino-americanos, que se dedicam à prostituição em Roma e que, ao ficarem sem clientes, pediram ajuda ao pároco de Torvaianica, uma localidade marítima nos arredores da capital.

Os transexuais gravaram um áudio em espanhol para agradecer o pontífice pela sua ajuda.

Francisco, que quando era um simples religioso na Argentina costumava visitar os presos e pobres dos bairros marginais, quis manter essa relação desde que foi eleito pontífice em 2013.

Recentemente, enviou uma carta aos movimentos populares do mundo na qual reconhece que chegou a hora de "um salário universal" diante do aumento da diferença entre pobres e ricos.

No domingo, pediu aos líderes da União Europeia (UE) que enfrentem o impacto social e econômico desencadeado pela pandemia de coronavírus.

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, disse que a taxa de desemprego no país, que chegou a 14,7% em abril, ainda pode piorar. "Os números relatados provavelmente vão piorar antes de melhorarem", afirmou, em entrevista à Fox News. "Mas é por isso que estamos focados na reconstrução dessa economia. Nós teremos um terceiro trimestre melhor, um quarto trimestre melhor e o próximo ano será um ótimo ano." Segundo ele, o desempenho de viagens, varejo e lazer influenciou negativamente a taxa em abril. "Isso não é uma surpresa. Fechamos grande parte da economia", afirmou.

Questionado se o número real não estaria mais próximo de 25%, similar ao observado na Grande Depressão, Mnunchin admitiu que isso é "possível". "Ao contrário da Grande Depressão, quando tivemos problemas econômicos que levaram a isso, nós fechamos a economia. Não seria uma surpresa, se você fechasse a economia, que metade da força de trabalho, metade das pessoas não trabalhasse", afirmou. "Isso não é culpa das empresas norte-americanas, não é culpa dos trabalhadores norte-americanos, isso é resultado do vírus." Mais 3,2 milhões de trabalhadores dos EUA solicitaram auxílio-desemprego na semana passada, elevando o total nas últimas sete semanas para 33,5 milhões.

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Segundo Mnuchin, os EUA devem ter um segundo trimestre "muito, muito ruim" mas haverá uma recuperação na sequência, a partir de um ponto de referência baixo. Conforme o secretário, essa expectativa se baseia na taxa de reabertura, em relatos sobre vacinas e medicamentos em teste e na testagem para Covid-19, que darão a confiança para uma reabertura "de forma cuidadosa e deliberada".

Ao ser questionado se não haveria risco em uma reabertura da economia, o secretário afirmou que há "um risco considerável em não reabrir", o que poderia causar "um dano econômico permanente para o público norte-americano". "Vamos reabrir de uma maneira muito ponderada", afirmou.

Além dos prejuízos na saúde, os impactos causados pelo surto do novo coronavírus (Covid-19) também atingem o mercado de trabalho. Segundo especialistas, a estimativa é de que o número de pessoas sem emprego formal no país alcance os 20 milhões. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) já havia registrado 12 milhões de desempregados. Já no cenário dos informais, o número levantado pelo órgão é de 38 milhões.

Uma das vítimas do corte de funcionários devido à pandemia foi a técnica em publicidade Midori Saito, 51 anos. Há mais de cinco anos em uma multinacional japonesa de fast-food, ela conta que ficou surpresa com a demissão. "Havia muitos planos de expandir a empresa para o interior, então me pegaram de surpresa mesmo", diz. De acordo com Midori, a rede não descartou a possibilidade de crescer no Brasil, mas isso não a tranquilizou. "Eles querem me recontratar depois de um ano, mas eu não pretendo esperar tanto tempo. Na minha idade e sem formação superior fica ainda mais difícil encontrar um outro emprego", complementa.

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A técnica em publicidade Midori Saito não pretende aguardar um ano para ser recontratada pela empresa que a demitiu | Foto: arquivo pessoal

Já a jornalista Natalia Beatriz, 25 anos, estava no comando das redes sociais de uma indústria de cosméticos após ficar dois anos sem emprego. Ela fez parte do quadro de funcionários da empresa por apenas dois meses. "Eles dependem muito do comércio para se sustentar e, como tudo está fechado, o lucro caiu muito", considera. Assim, Natalia tem usado o tempo livre para investir na sequência da carreira e ficar com a família, mas confessa que sente falta da rotina de serviço. "Não há nada melhor do que estar no ambiente de trabalho com os colegas, poder sair de casa e, mesmo tendo que enfrentar o transporte público lotado, já sinto falta dessa rotina cansativa".

A jornalista Natalia Beatriz ficou pouco mais de 60 dias no novo emprego após dois anos sem trabalho | Foto: arquivo pessoal

Com o isolamento social, a recomendação de manter bares e restaurantes sem a presença de frequentadores também prejudicou os atendentes dos estabelecimentos. O garçom Ulisses Frutuoso, 43 anos, foi demitido após o bar em que trabalhava desde 2016 anunciar uma reestruturação devido à pandemia. "No começo, não achava absurdo ser demitido, mas o dono disse que o jeito era ficar em casa, recebendo metade do salário. Dias depois, fui surpreendido com a notícia. Nem deu tempo de entender direito", lembra ele, que estava registrado como funcionário há oito meses.

O garçom Ulisses Frutuoso trabalhava em um bar e foi desligado do emprego durante a pandemia | Foto: arquivo pessoal

Segundo o garçom, o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e as parcelas do Seguro Desemprego se tornaram as únicas rendas para ajudar a mãe de 86 anos nas despesas da casa. "O fato de não pagar aluguel, não ter filho e ter uma reserva com os direitos trabalhistas dão uma segurança por um período nesses novos tempos", pondera. "Não tem lado bom numa pandemia que devasta principalmente o trabalhador pobre assalariado e os informais", complementa.

O que diz a especialista

Para a analista e consultora de Recursos Humanos Priscila Barrera Siciliano, é fundamental que o profissional saiba que seus direitos como trabalhador estão assegurados mesmo em tempos de pandemia. "Os direitos trabalhistas são adquiridos e firmados para serem seguidos em sua totalidade, independente da situação", aponta. Além disso, a especialista considera importante que o profissional não desanime, confie no próprio potencial e avise amigos e familiares que está disponível para o mercado de trabalho. "O positivismo é um grande aliado de uma mente saudável e ajuda muito na busca pela recolocação", destaca.

Para Priscila, até mesmo a própria empresa que realizou o desligamento do funcionário pode, no cenário atual, incentivá-lo no processo de retomada. "O profissional de recursos humanos deve motivar seu ex-colaborador, ajudando a enxergar novos horizontes, pois, ele, no momento da ruptura, não conseguirá visualizar boas perspectivas", orienta.

A mudança que afeta quase todos os segmentos, deve alterar o processo de contratação. Além de dispor as aptidões de modo objetivo no currículo, é necessário que o trabalhador cite as atividades da nova era. "A habilidade com trabalho home-office, em utilizar ferramentas de conference-call, serão um coringa. Inclua as informações no currículo e coloque em prática, pois elas são confrontadas na entrevista e observadas no cotidiano de uma empresa".

Os trabalhadores devem se manter atentos às vagas disponíveis no ambiente virtual e estarem preparados para entrevistas de emprego, inclusive, por meio de videoconferência. "Esteja logado no horário combinado, com trajes devidamente apropriados para a ocasião de uma entrevista, em um local mais reservado com o menor ruído possível e nada de estar em um ambiente bagunçado", explica a analista.

A pandemia de Covid-19 forçou as pessoas a ficarem em casa e empresas a fecharem as portas por todo o mundo para proteger a saúde da população, uma vez que ainda não se conhecem nenhuma vacina ou tratamento eficaz para a doença. O isolamento social é, de acordo com as autoridades de saúde, o único meio eficiente de reduzir o número de contágios.

Com a redução do faturamento e sem reservas ou auxílio suficiente para se manter durante esse período, muitas empresas têm fechado ou demitido funcionários. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), que faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 30 milhões de postos de trabalho fecharam ainda no primeiro trimestre de 2020, no mundo inteiro, devido ao Sars-Cov-2. No Brasil, a realidade não é diferente.

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Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) prevê que o desemprego chegue a 17,8% em 2020. A auxiliar em saúde bucal Maria joelma Alves Barboza de Souza, de 37 anos, foi demitida no dia 17 de março após três anos trabalhando em um consultório. “Não foi impactante porque era esperado para a situação que estávamos vivendo, dependemos dos lucros do consultório e ele foi fechado. O dono chamou na sala, explicou a situação e aceitei, não há o que fazer, entendi a situação dele em não poder custear os gastos. Estamos todos esperando uma onda de boas notícias; estamos nos encorajando porque a esperança nos fortalece”, diz.

Situação semelhante é enfrentada por Kaline Batista de Lima, de 28 anos, que trabalhava há 3 meses como correspondente bancária em uma pequena empresa recém-aberta. Inicialmente, os trabalhadores foram enviados para home office, porém, duas semanas depois, as demissões foram comunicadas. “Aqui na minha família, menos mal que só eu perdi o emprego, mas mesmo assim a gente está dependendo quase que praticamente do salário da minha irmã e a empresa já ameaçou fazer cortes em salários e no quadro de funcionários. O sentimento de desamparo, impotência, uma incerteza grande demais do que vai acontecer daqui para a frente. O governo muito provavelmente vai cuidar primeiro dos empresários prejudicados, para só então o proletário ter chance de algo”, afirma.

Por que a divulgação parou?

Uma pergunta muito importante e pertinente de ser respondida pelas autoridades nesse momento é a seguinte: Quantas pessoas perderam o emprego por causa do novo coronavírus? No Brasil, até então, não há resposta oficial. Desde janeiro de 2020, o Governo Federal não divulga dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que é um registro permanente de admissões e dispensa de empregados, publicado mensalmente pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

De acordo com uma nota oficial à imprensa divulgada no dia 30 de março, a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho do Ministério da Economia afirma que “a falta de prestação das informações sobre admissões e demissões por parte das empresas” inviabilizou a consolidação dos dados do Caged, e que “na presença de subdeclaração, podem comprometer a qualidade do monitoramento do mercado de trabalho brasileiro”.

Assim, o Ministério da Economia declara que a suspensão da divulgação dos dados foi decidida “no intuito de não comprometer o uso, o rigor metodológico e a qualidade dos dados do Caged” e também que “tem entrado em contato com as empresas para que retifiquem e reenviem os dados e tem expedido comunicados no portal do eSocial a fim de reforçar a importância do preenchimento das informações”.

O único dado oficial disponível sobre desemprego atualmente é fornecido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através da medição da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua, que não registra apenas trimestres usuais, mas também períodos móveis, como fevereiro, março e abril, ou março, abril e maio. A última taxa divulgada pelo Instituto apontava para um desemprego em ascensão de 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro, atingindo 12,3 milhões de trabalhadores.

Há, segundo especialistas, outra razão além das dificuldades enfrentadas pelas empresas devido ao novo coronavírus para que o Caged não esteja sendo divulgado. De acordo com o professor do departamento de Sociologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Sidartha Soria e Silva, que também é coordenador do Observatório do Mercado de Trabalho da UFPE, uma das razões é a migração de diversas bases de dados do governo para o Sistema de Escrituração Digital das Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial), a fim de unificá-las. “Desde 2018, no âmbito do Ministério da Saúde, trabalho, previdência, trabalho e assistência social, estava rolando uma conversa de unificar as bases de dados, estavam promovendo um processo de transição para o eSocial. Começou a gerar problema no fluxo dos dados ao longo do ano passado e como esse processo estava dificultado, os técnicos tiveram que ir resolver esse quebra-cabeça. Com a pandemia, você começa a ter fechamento de escritórios de contabilidade que faziam esse processo de prestação dos registros das empresas que entram no parafuso”, explica o professor.

Os Observatórios do Mercado de Trabalho têm como objetivo realizar monitoramentos, com apoio do Ministério do Trabalho, gerando estudos, análises de dados e pesquisas aplicadas sobre o mercado para as superintendências regionais do trabalho de cada estado, além de atender a outros órgãos - que encomendem estudos  -e à imprensa. Para o professor Sidartha, que coordena o observatório da UFPE, não é possível realizar estudos e análises sem dados oficiais consolidados e existe um terceiro fator que causa o apagão de dados oficiais sobre o desemprego na pandemia de Covid-19: a falta de interesse do governo em sua publicidade. “Não é novidade que eles não têm apreço pela ciência e estudo das questões que pautam a esfera pública. Os observatórios foram sofrendo ao longo dos anos porque começou com o Temer e piorou com Bolsonaro. Para mim, está claro que não é prioridade do governo ter dados disponíveis para população o mais rápido possível, porque você mostraria o número de demissão e isso obviamente para esse governo seria muito ruim. Porque permite que ele possa inventar narrativas em redes sociais se eximindo de governar. Se você não sabe o que está acontecendo, pode dizer qualquer coisa, isso é o maior problema de estar voando às cegas sem informação sobre o que está acontecendo com o emprego”, afirma o coordenador do Observatório da UFPE.

As consequências do apagão de dados oficiais sobre mercado de trabalho são as mais diversas possíveis e vão desde a dificuldade de elaboração de políticas públicas para geração de trabalho e renda até a fuga de investidores estrangeiros do país. “Se o gestor sabe onde os empregos somem mais, pode fazer uma política mais localizada. A gente não tem como fazer nada disso. Se nós não temos como dizer, além de ver a olho nu os comércios fechando e a geração ruim de vagas, como o governo vai pensar em geração de emprego e renda se não sabe como vai o mercado de trabalho? Como vai pensar economia, como vai administrar a economia? É grave no ponto de investimentos. Que investidor estrangeiro vai colocar dinheiro no Brasil sem saber o que está acontecendo aqui? Seria assinar um cheque em branco, eles não vão fazer isso. O governo não consegue planejar políticas de emprego e renda, o investidor privado não consegue planejar política de negócio sem dados”, diz o professor Sidartha.

O professor de economia da UFPE e consultor de empresas Ecio Costa considera importante a divulgação dos dados oficiais de empregabilidade para que se tenha uma real dimensão do cenário de emprego no país durante a pandemia, além de destacar outra consequência danosa causada pela falta da divulgação dessas informações: dificuldades na retomada econômica. “No período de retomada econômica após a pandemia, se você não tem o número de desempregados sendo informado, você também vai ter dificuldades para poder fazer políticas de recolocação das pessoas no mercado de trabalho. Aquela modalidade de carteira de trabalho verde amarelo, modalidade de contrato, quando você tem uma taxa de desemprego muito alta e ela é apresentada à sociedade, uma política como essa provavelmente mais facilmente seria aprovada a nível de congresso se você tivesse uma informação como essa”, afirma o especialista.

A impossibilidade de monitoramento da efetividade das medidas adotadas pelo governo para tentar retomar os empregos também fica prejudicada, na visão do professor, uma vez que a sociedade não tem acesso aos dados de emprego e desemprego. “Como que a gente vai saber se a política está sendo eficaz, se ela está sendo utilizada realmente, quais os resultados para manutenção dos empregos? O governo anunciou que até o momento foram mantidos 4,6 milhões de empregos através dessa política, mas a gente não vê os dados sendo publicados para afirmar isso”, aponta o professor.

Ele também indica uma dificuldade para estruturar e mensurar programas sociais diante do desconhecimento não apenas da empregabilidade, mas consequentemente do nível de renda da população e de sua disposição ao consumo. “À medida que você tem uma queda no emprego, a renda disponível para o consumo também cai, então quando você não mede essa taxa de desemprego, você não sabe como a renda disponível para consumo vai estar funcionando, como vai estar disponível e qual o montante dela. Além disso, os programas sociais ficam difíceis de serem mensurados, porque você não tem a informação oficial sendo apresentada”, afirma Ecio.

A Espanha registrou 282.891 novos desempregados em abril, principalmente no turismo, depois de ter contabilizado mais de 300.000 em março, pelo impacto da pandemia de coronavírus, anunciou o ministério do Trabalho.

O volume de ajudas públicas aos desempregados atingiu um recorde histórico, com uma alta em ritmo anual de 137% em abril, segundo o ministério.

Os benefícios incluem os casos de regulamentação de emprego (ERTEs): centenas de milhares de trabalhadores em desemprego temporário, graças a um mecanismo apoiado pelo governo para evitar que as empresas demitam as pessoas em definitivo.

O dado indica que o "sistema de benefícios garante a renda de 22% da população ativa", afirma um comunicado. Com o aumento, o total de pessoas à procura de emprego supera 3,83 milhões de pessoas na Espanha, 8% a mais que em março.

Com 219.128 pessoas a mais, boa parte dos novos desempregados de abril se concentra no setor de serviços, que inclui o turismo, área que representa 12% do PIB espanhol, destacou o ministério.

O comunicado destaca que a crise de saúde "começou a repercutir consideravelmente a partir de 13 de março", ou seja, quando o governo decretou estado de alarme, que incluiu um confinamento estrito da população, flexibilizado nos últimos dias.

A saída do ex-juiz Sergio Moro do governo deixa o presidente Jair Bolsonaro ainda mais isolado e com uma base de apoio reduzida para o desafio de enfrentar a crise do coronavírus. Ao considerar esse cenário, a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior em Washington do Peterson Institute for International Economics, projeta um quadro para a economia do País com forte recessão e impactos pesados na curva de desemprego.

"Eu já trabalhava com um cenário de queda de PIB de 6% a 9%, sendo 6% com o governo fazendo alguma coisa e 9% com ele não fazendo quase nada para resolver os problemas. A saída de Moro deixa o governo mais próximo de não fazer nada", afirma.

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Para Monica, países que têm atuado de forma organizada para reduzir os impactos da crise sanitária na economia já devem enfrentar uma forte recessão, além de precisar de algum tempo para retomar a economia nos patamares pré-coronavírus. No Brasil, a falta de foco e as crises pelo caminho, como a que tomou Brasília ontem, devem tornar tudo mais imprevisível.

"O Brasil está no começo da crise, longe de conhecer o pico da curva de infecção. Fica muito difícil fazer previsões nesse cenário. Mas, com o que se vê do governo, o desemprego, que já seria alto, agora vai à Lua, acima dos 20% com toda a certeza", afirma a economista.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a tese de que "o desemprego e o vírus precisam ser combatidos juntos" e afirmou, durante transmissão ao vivo, que "se a renda cair, a morte chega mais cedo". Segundo Bolsonaro, "está na casa de milhões o número de pessoas que perderam emprego formal". O presidente também afirmou que o "emprego vem sendo destruído desde lá trás".

"Entre o Brasil, que tem uma renda per capita e uma economia, e um país pobre, de um outro continente, o africano, por exemplo, a expectativa de vida é maior aqui ou lá de Zimbábue?", perguntou Bolsonaro ao presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, que participava da transmissão. "É maior aqui", respondeu Guimarães. "Por quê? Porque tem a renda maior", emendou Bolsonaro.

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"Eu estou respondendo a processo dentro e fora do Brasil e sendo acusado de genocídio por ter defendido uma tese diferente da OMS. O pessoal fala tanto em seguir a OMS, né? O diretor-presidente da OMS é médico? Não é médico", afirmou Bolsonaro.

Sem emprego e sem dinheiro por causa da pandemia de coronavírus, milhões de pessoas fazem fila durante horas nos Estados Unidos para poder receber comida grátis.

Os bancos de alimentos, que já atendiam uma população vulnerável, ampliaram sua distribuição, mas temem não conseguir mantê-la por causa do aumento da demanda.

As mesmas cenas se repetem por todo o país, de New Orleans a Detroit, passando por Nova York, onde o governo municipal oferece café da manhã, almoço e jantar gratuitos em vários pontos da cidade.

São imagens de uma população desesperada, que no geral perdeu seu emprego e sua renda, à espera da chegada do pagamento que lhes será concedido pelo governo federal, que aprovou no final de março um grande plano de apoio à economia.

Mas para alguns, como milhões de imigrantes sem documentação, não haverá pagamento, alertou o governo de Donald Trump.

- "Estou sem nada" -

"Já tem dois meses que não trabalho porque quase fui um dos primeiros a pegar o vírus, e não tenho trabalho e dinheiro", disse à AFP Domingo Jiménez, um imigrante que estava numa fila que ocupava mais de três quadras na última sexta-feira para receber comida no Queens, em Nova York.

"Venho aqui para que me deem um pouco de alimento, o que for, porque praticamente estou sem nada", ressaltou.

Na terça-feira, mais de 1.000 veículos esperavam na fila de distribuição organizada pelo banco de alimentos de Pittsburgh, na Pensilvânia, cuja demanda aumentou 38% em março.

Em oito operações como essa, foram entregues cerca de 227 toneladas de alimentos, contou Brian Gulish, vice-presidente desse banco de alimentos.

"Muitas pessoas estão usando os nossos serviços pela primeira vez", observou.

"É por isso que as filas são tão longas. Eles não conhecem nossa rede" de mais de 350 pontos de coleta no sudoeste da Pensilvânia, acrescentou.

Em 9 de abril, em San Antonio, Texas, cerca de 10.000 veículos formaram uma fila em um banco de alimentos, alguns permanecendo da noite até a manhã do dia seguinte.

"Há meses não temos mais trabalho", diz Alana, uma latina que prefere não revelar o seu sobrenome, enquanto mora na cidade de Chelsea, nos arredores de Boston, a mais afetada pela pandemia no estado de Massachusetts.

"Ontem vi uma mulher com um bebê de 15 dias e duas outras crianças. O marido está desempregado e ele não tem mais comida em casa. Eu dei a ele o que tinha", disse à AFP durante uma distribuição de alimentos por soldados da Guarda Nacional.

Em Akron, em Ohio, as buscas por bancos de alimentos aumentaram 30%.

"Ao longo dos anos, construímos uma cadeia de suprimentos que poderia atender a certas necessidades", disse Dan Flowers, CEO do Akron-Canton Regional Foodbank.

"Aumentar em 30% da noite para o dia é quase impossível", acrescentou Flowers.

Os bancos de alimentos, incluindo as 200 afiliadas locais da rede Feeding America, estão recebendo grandes doações.

Colaborador usual dos bancos, a gigante J.M. Smucker (que produz o café Folgers) fez doações em Ohio, e a Ugly Dog Distillery, de Michigan, doou um caminhão cheio de álcool gel em garrafas de bebidas alcoólicas, contou Flowers.

Após um mês sob tensão, a rede de bancos de alimentos se mantém, mas a preocupação aumenta.

"O que temos é ainda suficiente, mas não sabemos como será daqui a um mês", ressalta Brian Gulish.

O plano de apoio à economia prevê US$ 850 milhões em comida para esses bancos, disse Flowers, que espera receber os primeiros benefícios em junho.

"O que mais me tensiona são as próximas seis a oito semanas", alertou.

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