Se você pesquisou por viagens aéreas recentemente, provavelmente ficou impressionado com os preços disponíveis, especialmente para trechos domésticos. Nem mesmo o esforço para ser flexível com as datas de viagem e aeroportos de destino têm sido suficientes para garantir um bom negócio, ainda que a escolha seja durante a baixa temporada e na categoria promocional.
Com as tarifas aéreas em gráfico crescente, as companhias aéreas não foram tímidas em dizer aos viajantes que os preços só tendem a ficar mais altos, seja inverno ou verão. Esse problema já dava sinais no início da pandemia, com o grande número de cancelamentos e reagendamentos dos voos nacionais. A demanda diminuiu abruptamente em todo o mundo e companhias tiveram demissões em massa para dar conta de deixar as portas abertas.
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Apesar do retorno gradual das atividades e do turismo, a crise ainda é realidade para o setor. Recentemente, as passagens passaram a ter momentos pontuais de queda, mas é necessário bastante procura e rapidez para encontrar um trecho que se assemelhe aos valores anteriores. Um dos principais motivos para a nova alta é a disputa por combustível de preço competitivo em todo o globo.
O último aumento foi anunciado em março, há menos de um mês, e as empresas foram transparentes ao afirmar que o consumidor pagaria parte da conta. No último dia 18, a Latam comunicou que iria suspender temporariamente, a partir de abril, 21 rotas nacionais por conta do aumento dos combustíveis. O anúncio veio quatro dias após a empresa comunicar, em nota, que o impacto nos custos das companhias em decorrência da guerra na Ucrânia é "inegável" e que a alta do preço do querosene da aviação afetará o valor das passagens.
“A elevação do preço do petróleo e seus derivados, dentre eles o querosene de aviação, tem impactado significativamente nos custos do setor aéreo, a elevação dos custos é repassada para o preço das passagens. Outro fator que tem contribuído para a elevação dos preços são as restrições de ocupação das aeronaves na pandemia; se antes da pandemia um Boeing 737 transportava 149 pessoas, uma restrição de 50% da capacidade derrubaria pela metade a receita com a venda de passagens, ou seja, o mesmo trajeto e custo, porém com 50% da receita, as companhias tiveram que aumentar os preços”, aponta Djalma Guimarães, economista e professor entrevistado pela LeiaJá, como fatores iniciais.
O LeiaJá consultou comparadores e os buscadores de passagens aéreas de diferentes companhias, em plataforma on-line, para acompanhar as alterações de preço. Do início da pandemia até agora, o pior ano para comprar passagem aérea foi o de 2021, com destaque ao período de agosto a dezembro, entrando para janeiro de 2022, considerado mês de alta demanda.
Atualmente, os valores seguem em alta, com baixas pontuais para voos mais longos e em dias comerciais. É possível encontrar passagens de Recife para Salvador com um preço promocional de R$ 636 a R$ 721, para uma pessoa, com ida e volta entre maio e setembro deste ano — antes da pandemia, um trecho considerado promocional para o mesmo trecho seria entre R$ 250-400.
Outro trecho aéreo que chama atenção é o de Recife-Rio de Janeiro, com destino ao RIOgaleão - Aeroporto Internacional Tom Jobim (GIG), que fica um pouco mais distante do centro da capital carioca, mas apresenta chegadas mais baratas. Em 2020, antes da pandemia, era possível pagar R$ 1.006,20, tipo ida e volta, para dois passageiros com assento confortável em um plano acima do básico (equivalente ao plano Topázio) da Azul Linhas Aéreas. Abaixo, é possível conferir um bilhete comprado com um mês e quatro dias de antecedência, para a alta temporada na cidade maravilhosa, em pleno Carnaval.
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O mesmo itinerário escolhido atualmente, com o mesmo período de antecedência e também para duas pessoas está custando R$ 4.111,78. Mas há diferenças: o voo é no plano básico da mesma companhia aérea e para um mês de baixa temporada (maio) e de muitas chuvas no Grande Rio. De acordo com os buscadores, os melhores preços para a capital estão no mês de setembro, com passagens de aproximadamente R$ 1.100 para uma pessoa, ida e volta. Em setembro, mês do Rock in Rio, os preços disparam novamente.
“Não se pode cravar um cenário de redução no curto prazo pois vivemos um momento de incertezas na economia mundial. De um lado, o fim das restrições tenderia a estimular uma redução de preços, mas, por outro lado, a Guerra entre Rússia e Ucrânia tende a elevar o preço do barril de petróleo contribuindo para elevação do valor das passagens. Enquanto não tivermos um horizonte mais previsível sobre a situação da guerra, não se pode vislumbrar redução nos preços”, comenta o economista Djalma Guimarães sobre a variação nos preços.
O especialista explica, também, que essa elevação dos preços das passagens aéreas acompanha um comportamento geral da economia. “O encarecimento das passagens tende a reduzir a procura do setor de turismo, de forma que a recuperação das atividades deste setor no pós-pandemia fica ainda mais comprometida. Sem falar no efeito que a inflação tem provocado na renda do trabalhador, com carne e outros alimentos mais caros, sobra menos dinheiro para turismo e lazer para a população das classes de renda mais baixa”, acrescenta.
Os aumentos pegaram desprevenida a classe média do país, que já vinha sofrendo com a inflação desde 2013. Em 2017, houve uma disparada na utilização do serviço, que junto à hotelaria e ao turismo local, conseguiu um rendimento acima da média. A reversão do cenário hoje se dá não só com o preço alto, mas com a insatisfação dos passageiros com as companhias. O serviço perdeu qualidade e o relacionamento com o cliente tem deixado a desejar, principalmente com o ‘BIG 3’ brasileiro: Gol, Latam e Azul.
Os Procons receberam, de janeiro a setembro de 2021, quase 65 mil reclamações relacionadas ao transporte aéreo, 36% a mais do que em igual período de 2020. Os consumidores reclamaram, dentre outras coisas, de dificuldades na remarcação de passagens.
“A classe média brasileira tem vivido um período de redução de seu poder de compra na última década. Desta forma, as viagens a turismo se tornam cada vez menos prioritárias para um grupo que perde poder de compra a partir de uma combinação de inflação alta e queda no rendimento médio. Assim, viajar não se tornou algo indisponível, mas caiu na fila de prioridades da classe média, que precisa pagar por um grupo de serviços que apresentam tendência crescente no seu nível de preços (planos de saúde, escolas, etc.)”, continua o entrevistado.
Dicas para pagar menos
O economista Djalma Guimarães compartilhou com o LeiaJá hábitos de compra que podem ajudar a aliviar o preço da passagem aérea para quem tem procurado o serviço.
1. O uso consciente do cartão de crédito pode auxiliar o consumidor a acumular milhas que podem ser utilizadas para aquisição de passagens aéreas.
2. Comprar com bastante antecedência: esta é talvez uma das dicas mais importantes. Comprar a passagem com meses de antecedência reduz significativamente o valor.
3. Utilizar sites e apps que monitoram promoções no preço de passagens e aproveitar tais possibilidades.
Toda companhia aérea possui um plano próprio de “benefícios” ou “recompensas”, como costumam chamar. Bancos também possuem a própria plataforma de utilização de pontos e podem ser vantajosos. É importante estar sempre a par dos próprios benefícios e entender as vantagens oferecidas por cada plano pago, pois elas têm tempo para expirar e não podem ser recuperadas.
Outra dica é fazer um bom uso dos buscadores on-line. O Google e demais sites de uso cotidiano possuem uma política de cookies e captação de dados intensa, então pode ser mais interessante usar a aba anônima, para não permitir que informações de pesquisas anteriores atrapalhem a busca pelo melhor preço.
O Skyscanner, por exemplo, é uma ferramenta que compara os preços de diversas companhias aéreas para determinado trecho. O Google Flights faz o mesmo tipo de serviço, ainda mostrando no calendário os preços mais interessantes por dia. Ambos são gratuitos.
O Decolar e a 123 Milhas são sites que trabalham exclusivamente com preços promocionais. O Hotel Urbano (Hurb) também oferece suporte na área, tendo foco em pacotes com os preços mais baixos do mercado atualmente, porém, a plataforma é de viagens com datas flexíveis. Ou seja, o comprador escolhe o período no qual quer viajar (ex.: 2023-2024 ou janeiro a abril de 2023) e em até 90 dias antes, o Hurb envia a data escolhida para a viagem. O cancelamento é gratuito.
Em todos os casos, é preciso realizar bastante pesquisa e ter paciência, pois não é o melhor momento para viajar. É indicado fazer a compra somente após ter comparado com todas as opções possíveis, considerando também gastos com assento, bagagem e a distância entre o aeroporto de desembarque e o destino.
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