Tópicos | Saúde Mental

Antes da pandemia, a ex-bordadeira de richelieu Dirce de Souza Rodrigues, de 64 anos, ia toda semana dançar no forró do Clube da Terceira Idade, na cidade de Muriaé, interior de Minas Gerais. Ela diz que gosta muito de dançar e se manter ativa, por isso também frequenta os passeios, as atividades do clube e ainda as aulas de ginástica cerebral em uma escola especializada em cursos para melhorar as habilidades como concentração, raciocínio e memória.

“Também faço hidroginástica e caminhada, procuro evitar carboidratos, gordura e açúcar, vou aos médicos, sempre meço minha pressão. Acho que estou sabendo administrar minha vida nessa minha idade, estou achando uma etapa maravilhosa, porque eu levo uma vida ativa. Minha expectativa de vida é que, aos 90 anos, eu quero estar bem e lúcida, se Deus quiser me dar vida e oportunidade de estar nesta terra”, disse Dirce, que é viúva, mãe de um filho e avó de três netos.

##RECOMENDA##

Assim como Dirce, a aposentada Neusa Pereira de Souza, de 80 anos, diz que a vida mudou muito depois dos 60 anos, mas que ela tenta se manter ativa. “Vou muito na igreja, faço caminhada todo dia de manhã, e o serviço da casa, não paro, vou fazendo devagar e acho melhor. A gente tem que ter uma coisa para fazer, se você parar acho que aí fica doente, velho não pode parar não!”, brinca.

Ela disse que, se chegar aos 90 anos, quer estar bem esperta. “Minha mãe morreu com 100 anos, e ela sempre foi esperta, não quero viver 100 anos. Mas, até os 90 anos, acho que vai dar!”, acredita a aposentada, que também é viúva, mãe de dois filhos e avó de três netos.

Dirce e Neusa fazem parte dos 28 milhões de brasileiros com mais de 60 anos, número que representa 13% da população do país, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o IBGE, esse percentual tende a dobrar nas próximas décadas, segundo a Projeção da População, divulgada em 2018 pelo órgão.

Neste domingo, 27 de setembro, é comemorado no Brasil o Dia do Idoso, data criada para valorizar a vida depois dos 60 anos, uma fase em que é cada vez mais comum manter uma rotina ativa, com atividades físicas, intelectuais e de diversão, como fazem Neusa e Dirce.

Mas, é também nesse período da vida que surge uma das principais preocupações dos idosos e de seus parentes: como fica a capacidade de raciocínio, a memória e a clareza mental de quem já passou dos 60 anos.

Doença de Alzheimer

Aos primeiros sinais de lapso de memória ou de falha nas capacidades cognitivas, muitas pessoas passam a temer o diagnóstico da Doença de Alzheimer, um transtorno neurodegenerativo progressivo que se manifesta pela deterioração cognitiva e da memória, comprometimento progressivo das atividades diárias e alterações comportamentais.

No entanto, a confusão mental pode ter outras causas, explica o professor da disciplina de gerontologia da Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná, o médico geriatra Rubens de Fraga Júnior. “Efeitos colaterais de medicamentos podem causar sintomas semelhantes à Doença de Alzheimer. Doenças como depressão e hipotireoidismo podem também causar confusão mental em idosos”.

O neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad completa que sempre é importante diferenciar entre quadros confusionais agudos ou lentos e progressivos. “Quadros agudos muitas vezes são associados ao que chamamos de delirium e as principais causas são infecciosas e metabólicas. Já quadros como déficits cognitivos, que se instalam lentamente, devem ser investigados para doenças neurodegenerativas, mas, sempre excluindo causas como déficits de vitaminas (b12 principalmente), hipotireoidismo e mesmo infecções tardias como sífilis”.

Fraga Junior explica que, para a Doença de Alzheimer, um novo exame de sangue mostra grande promessa no diagnóstico da doença. “Em pessoas com risco genético conhecido podem ser capazes de detectar a doença 20 anos antes do início da deficiência cognitiva, de acordo com um grande estudo internacional publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA)”.

“Estamos vivendo um novo boom de pesquisas em medicações para tratamento de Alzheimer”, completa Haddad. “A perspectiva é que nos próximos dez anos teremos inúmeros tratamentos voltados a própria fisiopatologia da doença, como drogas que agem nas proteínas beta amiloides e proteína tau”.

Por enquanto, a Doença de Alzheimer não tem uma forma de prevenção específica, mas um bom estilo de vida, iniciada durante a juventude, pode ajudar no tratamento desta doença e de outras comuns para os idosos. “O jovem pode cuidar de si, assumindo um estilo de vida saudável: alimentação sadia, atividade física regular, controlar o estresse, não fumar e não beber. E, durante o confinamento procurar ter uma rotina no seu dia a dia”, aconselha o professor.

Pandemia e terceira idade

A pandemia impôs um confinamento bem rigoroso aos idosos, já que a faixa etária após os 60 anos é classificada como grupo de risco para a Covid-19, doença do novo coronavírus.  Por isso, muitos idosos deixaram de procurar os atendimentos médicos, disse o neurologista do Hospital 9 de Julho, Diogo Haddad. “Idosos são um grupo de risco para a Covid-19, e por isso necessitam de maiores cuidados, principalmente voltados ao isolamento, porém muitos deixaram de acompanhar doenças crônicas por medo e, neste momento, estão procurando atendimento de urgências por descontrole de suas doenças crônicas”.

Ele ainda destaca que, o isolamento aumentou os sintomas de ansiedade nesta faixa etária. “É um grupo que tende a ter poucas atividades externas e nesse momento o isolamento não permite essas interações e atividades sociais, o que também tem provocado um aumento importante de sintomas ansiosos nesta população”.

Apesar das inseguranças, a Dirce confia que logo uma vacina virá. “A pandemia ainda está ameaçando. Enquanto a gente não tiver uma vacina, não vamos ficar tranquilos. Tomara que venha a vacina logo e em grande quantidade para todo mundo”, disse. Ela conta ainda que a pandemia tem sido uma lição de vida para todos.  

“O isolamento social foi preciso, então eu, na idade de risco, fiquei muito preocupada, me isolei em casa; e como moro sozinha, só saio se necessário, com máscara e álcool em gel. Por este lado, a pandemia foi boa porque mudamos os costumes de higiene e porque ajudamos muitas pessoas. Então o incentivo da solidariedade falou mais alto ainda nessa hora da pandemia”.

Ao falar ainda um pouco mais de si, disse que gostou da própria companhia durante o isolamento. “Eu descobri uma coisa muito importante, que eu sou uma ótima companhia para mim mesma, faço minhas tarefas e até me acostumei a ficar em casa. Está sendo uma lição de vida essa pandemia, a gente está aprendendo a ter mais higiene, quantos micróbios a gente mata com este álcool gel, com a limpeza da casa”.

Para a Dona Neusa, a pandemia está sendo horrível. “A gente fica dentro de casa. Se você não morre da doença, morre de tédio, pois não pode estar em qualquer lugar...apesar que eu vou ao médico, no mercado, mas eu me cuido, com a máscara, não fico batendo papo no meio das pessoas, mas parou né, a gente fica muito triste, não vejo a hora disso aí ir embora!”, disse se referindo à Covid-19. 

Saúde mental

Uma pesquisa da American Association of Geriatric Psychiatry indicou que 20% da população, acima dos 55 anos, têm algum tipo de problema de sua saúde mental. Os mais frequentes são comprometimento cognitivo severo e transtornos de humor, como depressão, ansiedade e bipolaridade.

Mas, segundo Fraga Junior, é possível tratá-las e preveni-las. “O médico geriatra, o psiquiatra e o psicólogo são profissionais aptos a tratar as doenças mentais em idosos. A prevenção está na adoção de um estilo de vida saudável, mantendo contato social (durante a pandemia através de meios digitais como Zoom e WhatsApp) e realizando atividades ocupacionais que estimulem um propósito de vida”.

Suicídio na terceira idade

O Setembro Amarelo é uma campanha de prevenção ao suicídio e pretende conscientizar sobre a importância de discutir o tema. Dados do Ministério da Saúde, divulgados em 2018, apontam para a alta taxa de suicídio entre idosos com mais de 70 anos. Nessa faixa etária, foi registrada a taxa média de 8,9 mortes por 100 mil nos últimos seis anos. A taxa média nacional é 5,5 por 100 mil.

“Devemos analisar que esses valores têm relação direta com o aumento de doenças como ansiedade e depressão nessa idade e que muitas vezes são negligenciadas por familiares e pelos próprios pacientes, que apresentam muita resistência em procurar ajuda. Fica o alerta para que alterações comportamentais e dificuldades cognitivas novas devam ser encaminhadas para a avaliação de um profissional competente e não encarnadas como parte de um envelhecimento normal”, alerta Haddad, que concorda com seu colega Fraga Junior no que diz respeito a hábitos a juventude para um envelhecimento saudável.

“Um estilo de vida saudável para que se tenha um envelhecimento saudável deve compreender boa alimentação (com menor consumo de produtos industrializados), atividade física regular (em média 30 a 60 minutos todos os dias), boa qualidade de sono,  ter momentos de relaxamento assim como objetivos e metas, além de evitar cigarro e consumo excessivo de álcool”, disse.

Whindersson Nunes está curtindo uns dias de férias em Tulum, no México. Porém, ao que parece, as lindas praias e paisagens do lugar não estão suprindo certas necessidades do humorista. Alguns tweets do rapaz mostraram que ele não está indo muito bem e os fãs ficaram preocupados. 

Na madrugada desta quarta (23), Whindersson postou em seu Twitter: “Eu tenho saudade de quando era feliz o dia inteiro”. O humorista já veio à público, certa vez, assumir que estava enfrentando uma depressão e o término de seu casamento com a cantora Luisa Sonza, seguido da repercussão do novo namoro dela com Vitão, fizeram acender um sinal de alerta entre os fãs de Nunes em relação à sua saúde mental. 

##RECOMENDA##

Após a mensagem, os seguidores responderam com bastante carinho e demonstrações de apoio. “Cê tá precisando de alguém pra conversar, bicho? Seus últimos tweets revelam uma angústia acumulada aí dentro. Não deixa isso te dominar não. Põe pra fora”, “Tu é LUZ paizinho. Não deixa isso apagar em ti”; “Se quiser conversar com alguém ou desabafar estou aqui, sério de coração”; “Você é uma pessoa muito especial cara, o mundo não te merece”. 

Solidão, tédio, ansiedade e depressão precisaram de maior atenção durante a pandemia. Os problemas desencadeados durante esse período se juntam à preocupação do Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pessoa se suicida no mundo a cada 40 segundos, e o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Em meio a pandemia, onde muitos estão lidando com o luto da perda de entes ou amigos, tratar o assunto com sensibilidade, empatia e cautela se faz ainda mais necessário. 

##RECOMENDA##

A psicóloga clínica Ana Carolina Boian afirma que, normalmente, o ato tem ligação com alguma patologia, como depressão, esquizofrenia e dependência química. Porém, a especilista ressalva que essa não é uma regra. "Entendemos que, um tema de tamanha complexidade e importância, ainda é tratado com muita relutância e preconceito. O que se dá pela falta de informação e diálogos sobre o assunto", diz Ana.

De acordo reportagem publicade pela Folha de São Paulo, durante a pandemia, publicações sobre suicídio aumentaram no Brasil. A psicóloga Ana afirma que em comunidades específicas, como LGBTQIA+ e mulheres que sofrem algum tipo de violência o suicídio cresceu, assim como em casos de policiais, que supera o número de mortes por operações no país.

Entre os dogmas e achismos que permeiam o assunto, a psicóloga esclarece que os mitos são os maiores inimigos na hora de estabelecer um diálogo e que falar sobre o assunto é extremamente necessário. "Muitas vezes, pelo medo do julgamento e do preconceito, o indivíduo guarda para si seus sentimentos, alimentando negativamente. Abrir diálogos onde tais questões possam ser abordadas, ser empático e estar disposto a ouvir é a melhor forma de ajudar", orienta.

Segundo a psicóloga, tratar do assunto com seriedade apenas no mês de setembro não traz grandes mudanças. É necessário abordagem e educação que tragam o assunto de forma didática e informativa. "Casos de depressão e outros transtornos que levam ao suicídio acontecem em qualquer momento. Por isso, devemos levar o espírito desse Setembro Amarelo, de empatia e auxílio ao próximo, para todos os meses do ano", finaliza. 

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece atendimento voluntário e gratuito 24 horas por dia, por meio do número 188, a quem está com pensamentos suicidas ou enfrenta outros problemas.

 

População tem sofrido desgaste emocional diante dos resquícios da pandemia. Cenário é preocupante, mas pode ser combatido. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

##RECOMENDA##

Dedos entrelaçados em sinal de oração, mãos aos céus como forma de agradecimento, rezas ante o mar e uma sintonia de esperança celebravam o novo ano. Sob fogos brilhosos e respingos de champanhe, 2020 chegou. Fotografei abraços e presenciei dizeres otimistas para o ciclo que começara. Tomado pela atmosfera comemorativa do réveillon, não imaginaria naquele momento eufórico que, meses depois, vivenciaríamos o início da mais crítica e enlutada crise de saúde dos últimos tempos. Os mesmos amigos e familiares que, com os pés na areia da praia festejavam o ano novo, hoje pedem às suas crenças que o período corrente leve consigo doença, medo, luto, mazelas, intolerâncias, desemprego, corrupção, entre outros males. O novo coronavírus, literalmente, atormentou o ano novo.

Não tão longe do litoral, *José Silva, 35 anos, reflete em seu apartamento - uma espécie de refúgio ante o cenário desolador da pandemia de Covid-19 -. Em isolamento social – séria e correta medida indicada pelos órgãos competentes de saúde para combater a proliferação da doença -, da janela do edifício ele observa as ruas situadas no coração do Recife, uma das capitais fortemente atingidas pelo novo coronavírus. Praticamente não há pessoas no local, antes de intensa movimentação. *José observa. Analisa. Questiona sua própria mente: “por que isso está acontecendo”?. Também rememora momentos em família, ao sentir falta dos abraços, do calor carinhoso característico da mãe idosa. São meses sem vê-la, sem tocá-la; tudo por amor a ela.

*José observa. Reflete. Agitada, sua mente não cansa, não para. Ao direcionar novamente sua atenção às ruas vazias, paralelamente sente um vazio de incertezas quanto ao seu futuro e das pessoas que ama.

*José viu, repentinamente, sua rotina tomar uma proporção antes inimaginável. Obrigatoriamente e de maneira consciente, afastou-se dos amigos, da família e do local de trabalho. Na mídia, alimentou-se de informações a respeito da problemática e complexa Covid-19, cujo rastro de estrago e morte marca países do mundo todo. *José acompanha, diariamente, as contagens de casos e óbitos, além dos efeitos oriundos da pandemia, que reverberam, além da saúde, na educação e economia de um país desigual, socialmente falando, desde os primórdios. Para *José, a pandemia potencializou os diversos problemas sociais e políticos que acometem o povo brasileiro, assim como instaurou desconfortos mentais.

A mente de *José não pausa. Todos os dias, durante a pandemia, é tomada por uma tempestade de pensamentos; seu corpo já sente os efeitos da ansiedade. Coração e mente acelerados, enquanto as noites não mais servem como um momento reparador, uma vez que, em várias ocasiões, o sono não vem. “Fiquei bastante tenso quando a quarentena, no início de março, começou a se estender. Diversos sentimentos de impotência brotaram em mim. Estou há quase seis meses sem ver minha família, e todo o meu pensamento vai para cada um que está distante de mim. Apesar de conversas por chamadas de vídeo, o contato físico faz falta. Não aguento mais ficar isolado por tanto tempo em casa, longe de quem eu gosto. Minha saúde mental está indo embora”, desabafa.

O medo cerca *José. Ele teme, por exemplo, perder pessoas queridas. Teme, ainda, que a crise econômica acarrete demissões. “É no silêncio da noite que a minha mente projeta um turbilhão de dúvidas e medos. Não sei como mudar a rota do meu pensamento para que eu sinta um certo alívio, de fato, de que as coisas irão realmente melhorar. Meus questionamentos estão sempre relacionados ao meu lado financeiro. Acho que, desde o início da pandemia, sinto instabilidade profissional. Não vejo com entusiasmo a capacidade que eu tenho de desenvolver o meu trabalho”, descreve ele.

É perceptível como *José trava uma luta emocional na qual é difícil desenvolver soluções imediatas. Talvez isso se dê pelo fato de que ele, sozinho, não detém o controle do atual cenário, pois, em suas mãos, não estão as soluções que possam, de uma vez por todas, colocar fim aos resquícios da pandemia em seu cotidiano. Nesse contexto, *José não consegue cessar os próprios medos e nem planejar o próprio futuro.

“Só espero que esse caminho de incertezas e de negatividade que estamos trilhando não deixe marcas profundas na alma, ao ponto de lembrarmos futuramente de tudo isso que estamos presenciando com tristeza e amargor. Me preocupa bastante ver que estou desacreditando a cada dia que se passa do meu potencial, da minha entrega, da garra que um dia eu lutei intensamente para conquistar o meu lugar. Ainda não passou pela minha cabeça buscar apoio psicológico para me dar um norte em meio a esse caos instalado pela pandemia. Não faço a mínima ideia se tenho a capacidade de sair desse mar de consternação sozinho”, diz *José.

*José Silva – nome fictício. Personagem preferiu preservar a sua identidade.

Doença pandêmica, mente em perigo

Mais de 23 milhões de casos confirmados no mundo. Quase 816 mil mortes. Assustadores, os dados globais da pandemia do novo coronavírus, informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu mais recente balanço, expõem quão crítico é o cenário. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto da Covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública Internacional, patamar de alerta mais alto da instituição. Localmente, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa baseado nas informações das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil registra mais de 3,7 milhões de pessoas diagnosticadas com o vírus e o número de óbitos passa de 117 mil. Além desse panorama, existem comprovações de que a pandemia tem bombardeado suas consequências na condição mental da população.

Em comunicados oficiais, a OMS já alerta que a pandemia da Covid-19 tem, de fato, forte impacto na saúde mental das pessoas. A entidade demonstra preocupação e orienta os países a tomarem medidas necessárias para ajudar suas nações.

À frente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom explica que os efeitos econômicos e sociais da pandemia, da forma acelerada como se expandem e causam estragos, tendem a aumentar casos prejudiciais à saúde mental dos indivíduos. Depressão, ansiedade e transtornos mentais por uso de substâncias são alguns dos problemas citados pelo diretor-geral da OMS.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, pede atenção às questões relacionadas à saúde mental. Foto: OMS

Antes mesmo da pandemia, os números de transtornos mentais despertavam preocupação na Organização Mundial da Saúde. De acordo com a entidade, foram registrados 322 milhões de casos de transtorno depressivo em todo o mundo, bem como 264 milhões de pessoas eram acometidas por transtorno de ansiedade. Ainda sobre o período pré-pandemia, o estudo aponta que, no Brasil, 9,3% da população sofria distúrbios relacionados à ansiedade, correspondendo a um quantitativo de 18.657.943 cidadãos.

Se antes da Covid-19 a sociedade já ansiava aportes em relação à saúde mental, agora, mais do que nunca, segundos os especialistas, há a necessidade de cuidarmos com mais afinco de nossas mentes. Os resquícios pandêmicos são, metaforicamente, como uma imensa bola de neve que vai agregando problemas e mazelas, ao ponto de atingir a mente da população. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mortes, luto, desemprego, crise econômica, risco de contágio, incertezas sobre a vida são alguns dos fatos pandêmicos que impulsionam dores emocionais. “Todos esses problemas juntos podem criar um quadro de ansiedade e depressão muito grande. Algumas dessas pessoas, tanto pela ansiedade quanto pela depressão, podem aumentar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas. A gente tem também, além da depressão, ansiedade e do transtorno do estresse pós-traumático, o aumento do consumo de drogas, tanto álcool, quanto maconha e cocaína. Muitas crises já vinham acontecendo e já comprometiam a qualidade de vida da população”, explica a médica psiquiatra.

Dados e indícios preocupam

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), instituição vinculada à OMS, estão sendo levantados dados globais que ratificam os indícios de aumentos de ansiedade, depressão, entre outros males psíquicos, em virtude do novo coronavírus, bem como instituições passaram a traçar estratégias preventivas. Em maio deste ano, por exemplo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou um relatório sobre políticas públicas para a saúde mental com uma série de orientações aos governantes. “Luto pela perda de entes queridos. Choque com a perda de empregos. Isolamento e restrições à circulação. Dinâmicas familiares difíceis. Incerteza e medo do futuro. Problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade são algumas das maiores causas de miséria no nosso mundo”, alertou Guterres. “À medida que nos recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Apelo aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que se reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia”, acrescentou o secretário-geral da ONU, conforme informações do site da Organização.

O relatório das Nações Unidas destaca, inicialmente, que embora a crise da Covid-19 seja, a priori, de saúde física, ela propagará sementes de uma grande crise de saúde mental, caso ações preventivas não sejam realizadas. O documento aponta que boa saúde mental é “fundamental” para o funcionamento da sociedade, devendo também ser pauta de cada país durante o enfrentamento ao novo coronavírus. Conforme o relatório, pesquisas realizadas em 2020 revelam alta prevalência de sofrimento na população durante a pandemia de Covid-19, como na China, em que 35% da população está angustiada. Nos Estados Unidos esse índice de angústia sobe para 45%, enquanto no Irã o percentual é ainda mais alarmante: 60%.

Ao analisarmos o cenário brasileiro, fica ainda mais evidente a necessidade de o País intensificar, prontamente, um combate dedicado aos problemas oriundos da pandemia que reverberam na saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos revelou que quatro em cada dez brasileiros sofrem sintomas de ansiedade como consequência da pandemia. Segundo o estudo, as mulheres são mais afetadas, representando 49% dos casos, enquanto o percentual dos homens é de 33%. O levantamento aponta que o índice de 41% coloca o Brasil na primeira posição entre os países mais ansiosos em decorrência do novo coronavírus. “A gente diz que o Brasil é um país feliz e não é. Na verdade, é um país que tem muita desigualdade, muita gente vivendo em condições grandes de pobreza, o que cria um quadro de ansiedade e depressão muito grande”, acrescenta a psiquiatra Fátima Vasconcelos.

 

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

Aliado fundamental do bem-estar, o sono, antes reparador, perdeu efeito para muitas pessoas. A pesquisa do Instituto Ipsos indica que, de dia, a preocupação é com a utilização segura de máscaras e com a limpeza correta das mãos e objetos, enquanto ao anoitecer, a luta de muitos brasileiros é contra a insônia. Segundo o levantamento, 26% da população nacional relatou dificuldades para dormir na pandemia; as mulheres são as mais afetadas, apontou a pesquisa. De novo, o Brasil aparece nas primeiras posições, quando analisamos os efeitos da falta de sono entre os países: no topo da tabela está o México, com 38% da população afetada, e em segundo lugar está o Brasil, com o percentual de 26%; em terceiro estão a África do Sul e a Espanha, ambos com 25% dos seus povos atingidos pela insônia. Em contraponto, as nações menos afetas foram Japão (6%), Coreia do Sul (10%) e Austrália (12%).

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Ipsos, um em cada dez entrevistados no Brasil disse estar enfrentando sintomas depressivos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Fátima Vasconcelos reitera que existe uma relação muito clara com a disseminação dos sintomas e as mazelas pandêmicas. “Na pandemia, nós já temos mais de 100 mil pessoas mortas no Brasil. Claro que tivemos índices de recuperação, mas como ficaram os familiares das pessoas que já faleceram? E mais: há o risco de mais pessoas falecerem. Algumas se internaram para o tratamento da Covid-19 e se recuperaram, mas se recuperaram com um grau de sofrimento muito grande. Existem mães que perderam filhos e mães que tiveram filhos e esperaram um mês para vê-los. Depois da pandemia, todo mundo de alguma forma foi atingido”, comenta a psiquiatra.

Já no recorte das nações em que a população menos sente os sintomas de depressão, a pesquisa mostra que chineses (4%), japoneses e franceses (5%), e por fim os alemães (8%), são os povos menos deprimidos. Ainda segundo o Instituto Ipsos, a pesquisa aponta que, no Brasil, apenas 22% dos entrevistados disseram que não foram impactados por nenhum dos problemas identificados no estudo.

O próprio Ministério da Saúde brasileiro oficializou, publicamente, sua preocupação com a piora dos índices de problemas emocionais atribuídos aos efeitos da pandemia. A pasta realizou a “Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel)” e apresentou, no fim de maio, seus resultados, entre eles os oriundos da saúde mental da população. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 2 mil pessoas foram ouvidas neste estudo. Confira, a seguir, os problemas relacionados à saúde mental que incomodaram os cidadãos entrevistados no levantamento e seus respectivos percentuais das pessoas afetadas:

Após os resultados oriundos da Vigitel, o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância em Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, reforçou a necessidade de o Brasil oferecer atenção especial às questões de ordem mental, segundo ele, em alguns momentos colocadas de “lado”. Para o diretor, “eventos relacionados à saúde mental muitas vezes são colocados de lado numa situação como a que estamos vivendo”. Ele complementa: “Mas é fundamental serem monitorados e acompanhados”.

Cresce o número de atendimentos psiquiátricos durante a pandemia

Pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, realizada em maio deste ano, identificou que, entre seus médicos associados, 47,9% dos entrevistados notaram aumento em seus atendimentos após o início da propagação do novo coronavírus. Levando em consideração esse grupo, o levantamento revelou um crescimento de até 25% nos atendimentos, quando comparados ao período anterior à pandemia para cerca de um terço dos participantes.

Um dos objetivos do trabalho estatístico da ABP foi identificar os atendimentos a novos pacientes. De acordo com a Associação, quase 68% dos psiquiatras entrevistados receberam pacientes novos após o começo da pandemia; são pessoas que nunca apresentaram sintomas psiquiátricos anteriormente. A apuração do estudo informa também que 69,3% dos médicos disseram que receberam pessoas que já haviam tido alta médica, porém, sofreram o reaparecimento de seus sintomas mentais; esses pacientes voltaram aos consultórios ou realizaram novos contatos para atendimentos. Ao todo, médicos de 23 estados, além do Distrito Federal, participaram da avaliação.

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

O levantamento da ABP, no que diz respeito aos médicos que não notaram aumento nos atendimentos, identificou um cenário contrário ao mencionado anteriormente: queda na quantidade de demandas. Esse decréscimo, no entanto, também pode ser entendido como uma consequência da proliferação do novo coronavírus, uma vez que entre os principais motivos revelados sobre a queda, está a interrupção do tratamento porque o paciente sente medo de sair de casa e ser contaminado pela Covid-19. Diminuíram, claramente, atendimentos às pessoas do grupo de risco, tais como idosos e brasileiros afetados por comorbidades, bem como foram empecilhos para os acolhimentos presenciais as restrições de circulação determinadas pelo poder público em algumas cidades.

"Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio", avalia o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da entidade.

De acordo com os especialistas, a quebra da rotina também é um fator que pode potenciar desgastes emocionais na sociedade. Adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, como nos casos do home office e das restrições impostas pelo isolamento social, é difícil e cria desafios. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados a trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata", acrescenta o presidente da ABP ao site da instituição.

Sentimentos revelados

Um levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, entidade vinculada ao Centro Universitário Maurício de Nassau, reuniu informações acerca dos efeitos do novo coronavírus na rotina de moradores do Recife. Um dos pontos abordados na capital pernambucana analisou a relação da Covid-19 com a saúde mental dos populares.

Segundo o Instituto, a pesquisa teve como objetivo “investigar a opinião da população residente na área de abrangência em relação à pandemia do novo coronavírus”. O universo do estudo corresponde a eleitores com 18 anos ou mais de idade, cujo grau de instrução vai do ensino fundamental incompleto ao nível superior concluído, entre outras características. No total, foram realizadas 628 entrevistas, no período de 11 a 14 de junho de 2020

Ao questionar os entrevistados sobre questões ligadas à saúde mental em meio à pandemia, a pesquisa reuniu vários sentimentos. As revelações expressaram incertezas quanto ao futuro, medos, angústias, entre outros declínios emocionais demonstrados pelos cidadãos. Acompanhe informações apuradas pela pesquisa no vídeo a seguir. Também registramos o comentário da psiquiatra Catarina Moraes, médica associada à Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, acerca dos efeitos pandêmicos nas questões psicológicas.

Indicativos ou transtornos em vítimas da Covid-19

Pesquisadores e profissionais da saúde já admitem que pessoas acometidas pelo novo coronavírus podem desenvolver transtornos mentais e até problemas neurológicos. Um estudo da Universidade Oxford, da Inglaterra, publicado no dia 16 de agosto, revelou que uma em cada 16 vítimas da Covid-19 desenvolveu alguma espécie de transtorno mental no período de três meses após a doença. Segundo a pesquisa, o risco é duas vezes maior para as pessoas que necessitaram de hospitalização por causa dos efeitos do vírus.

A pesquisa da Universidade de Oxford avaliou mais de 60 mil pessoas que apresentaram recuperação após o diagnóstico do vírus pandêmico, bem como o estudo científico identificou que indivíduos que já apresentam doença mental têm um risco maior de serem acometidos pela Covid-19. Nas avalições, foram realizadas comparações com o surgimento de transtornos durante o tratamento de outras enfermidades, entre elas infecções respiratórias e de pele, pedra na vesícula e nos rins, fraturas consideradas graves e influenza.

O estudo da universidade inglesa somou seus resultados aos de outras pesquisas que também provaram relação entre transtornos mentais e o novo coronavírus. Cientistas ainda apontam que, mesmo sendo uma doença nova, cujo vírus acomete pessoas de faixas etárias diferentes, a Covid-19 pode castigar o cérebro e o sistema vascular, além do coração, pulmões, intestino e os rins.

Em outra conclusão científica, pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, publicaram um artigo, em julho deste ano, em que mostra uma análise de 43 pessoas vitimadas pelo novo coronavírus. Segundo o artigo, os pacientes apresentaram complicações neurológicas, tais como psicose, delírio, tremores e até danos ao cérebro, ocasionando derrame.

A comunidade científica brasileira também tem desenvolvido importantes estudos acerca da relação da pandemia com a sanidade mental da população. A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, realizou uma pesquisa que tem como principal questionamento “Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro?”. O trabalho foi financiado pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI).

De acordo com a Unifor, a pesquisa revelou que os piores índices de saúde mental aconteceram com pessoas que já foram diagnosticadas com a Covid-19, além das que integram o grupo de risco, residem com pessoas desse grupo ou concordam com o isolamento social indicado pelos órgãos competentes. O mesmo estudo mostrou também que apresentaram maiores indícios de adoecimento as pessoas em maior nível de adesão aos protocolos de combate à pandemia.

Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora do projeto de pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Cynthia Melo, explanou os resultados dos principais pontos do estudo. Uma das constatações indica que quem teve Covid-19 apresentou maior nível de ansiedade. Para a docente, isso se explica pelo fato de que as vítimas vivenciaram um risco alto de óbito. “É uma possibilidade de morte muito maior do que quem não teve a doença. Essa pessoa sabe da gravidade da doença mais de perto do que os outros”, esclarece.

Cynthia Melo é coordenadora do estudo desenvolvido pela Universidade de Fortaleza. Foto: Cortesia

O estudo da Unifor indicou, ainda, que os entrevistados que moram com pessoas do grupo de risco apresentaram mais indícios de adoecimento mental. De acordo com a coordenadora da pesquisa, uma das hipóteses para esse resultado é que os indivíduos temem sair de casa com receio de se contaminar com o novo coronavírus e, se saírem, colocarão em risco todas as pessoas com as quais moram. Há, portanto, um clima de tensão.

Em outro recorte do levantamento, foi identificado que quem concorda com o isolamento social apresenta indicadores de pior saúde mental. No entanto, a professora Cynthia alerta veemente que o isolamento é uma estratégia fundamental no combate à Covid-19, devendo, portanto, ser respeitado e praticado conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde.

“O isolamento e o distanciamento social, apesar de necessários - devendo ser respeitados para a contenção da doença -, podem causar estresse. Por esses e outros fatos, a pandemia nos convoca a cuidados com a saúde mental. Além de ser um problema de crise epidemiológica com alto nível de contágio e de mortalidade, ela também é uma crise do ponto de vista psicológico. Tudo que envolve a doença, sensação de vulnerabilidade, risco de morte, incertezas sobre o futuro e isolamento, é adoecedor”, explica a professora.

A docente continua sua fala orientando a população sobre ações que contribuem para o bem-estar social durante o isolamento: “Para a população, existe a necessidade de se cuidar, de se prevenir, organizando os espaços da casa; tem o lugar certo para cada coisa, organizando a rotina, melhorando a ambientação do lar e fazendo uso de espaços verdes. Tenha hábitos que fazem bem, tais como aula de exercício físico ou assistindo uma live de um cantor que você gosta, ou conversando com os amigos em vídeo conferência. Pode estudar, ver um filme. Conseguimos manter essas práticas de forma adaptada. Além disso, algumas cidades abriram os espaços públicos; existem espaços verdes que são muito bons para serem usados, com liberdade e sem colocar os outros em risco, respeitando o distanciamento”.

No total, 2.705 brasileiros participaram da pesquisa da Universidade de Fortaleza. Além de Cynthia Melo, outros professores – doutores - trabalharam no levantamento e na análise das informações reveladas pelos entrevistados, bem como contribuíram para o projeto alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. A coordenadora ressalta que o estudo apresenta indicadores de depressão, ansiedade e estresse, mas não crava que, de fato, as pessoas ouvidas sofrem literalmente esses transtornos mentais, porque, para a conclusão dos diagnósticos, devem ser feitas avaliações contínuas com instrumentos psicossociais.

A história e o anseio humano pelo bem-estar mental

Somos movidos a realizações. Buscamos - às vezes desenfreadamente - conquistas pessoais e profissionais, assim como bem-estar físico e mental. Nesse processo, porém, as pessoas podem encarar de diferentes formas êxitos, frustrações e problemas. Historicamente, a humanidade viveu desafios, transformações sociais, conflitos e fatos – acontecimentos históricos com impactos na condição mental dos indivíduos -, ao mesmo tempo em que caminha ao encontro da paz física e emocional.

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental como um “estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode funcionar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

“O ser humano sempre está, de certa forma, em busca de uma felicidade, de bem-estar, de ter satisfação na vida. Isso acontece desde a primeira infância, depois na pré-adolescência, adolescência, vida adulta e entre os idosos. O ser humano tem algo dentro de si que vai buscando sentindo na vida, seja na escolha profissional ou mesmo na criança, por exemplo, quando ela faz a escolha de jogos que dão prazer. É a relação com a vida que tenha significado. Quando isso não acontece, os problemas aparecem. Problemas emocionais, sofrimentos, isso faz parte da vida humana, só que quando esses sofrimentos acabam por incapacitar as pessoas de trabalhar, estudar, de conviver em grupo, acabam se tornando transtornos, muitos deles de base genética, com componente hereditário muito forte”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Instituto de Psicologia da instituição de ensino, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, em entrevista ao LeiaJá.

Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Instituto de Psicologia da USP, alerta que problemas emocionais fazem parte da vida humana. Porém, quando começam a incapacitar as pessoas, eles podem virar transtornos mentais. Foto: Cortesia

Na corrida pelo bem-estar mental e físico, há pessoas que sentem a necessidade de expor à sociedade essa condição de realização humana. No entanto, isso não quer dizer que, verdadeiramente, elas vivenciam esse bem-estar. “Vários sociólogos falam que a gente vive em uma sociedade acelerada, cansada, ou a sociedade dos espetáculos. A gente tem hoje um ritmo acelerado de cotidiano. Você é acordado por um despertador, pula da cama, se arruma e vai trabalhar. E depois volta, corre, vem e vai. Você não tem tempo para o outro, não tem tempo para pensar no seu dia, no seu cotidiano, na sua vida. Ao mesmo tempo, a gente vive na sociedade dos espetáculos. É essa sociedade em que eu posso até não viver bem, mas eu tenho que mostrar, aparecer que estou bem. No Orkut, Facebook e Instagram. Às vezes, a gente está em um restaurante, e você vê um casal, amigos, cada um com o seu celular e não vivem o momento. Às vezes nem estou curtindo o restaurante, mas já estou ali fazendo uma foto para mostrar que estou no restaurante, mesmo que fisicamente apenas. É a sociedade que mostra que está tudo perfeito e as relações são muito descartáveis. Como dizem os jovens nas relações amorosas, a fila não anda, ela voa. As coisas vão girando. E no meio da Covid-19, essa sociedade se viu obrigada a parar. Pela primeira vez, nós fomos obrigados a parar”, reflete Cynthia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O filósofo coreano Byung-chul Han defende a ideia de que a sociedade contemporânea é marcada por um excesso de positividade. Para o estudioso, essa característica pode resultar em patologias psicológicas. “O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. O que torna doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho”, defende o filósofo.

O estudioso continua: “Mas em relação à elevação da produtividade não há qualquer ruptura: há apenas continuidade. Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho: 'A carreira da depressão começa no instante em que o modelo disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”. No áudio a seguir, o professor de filosofia e sociologia João Pedro Holanda traz mais detalhes acerca das ideias de Byung-chul Han. Clique na barra cinza:

Nos registros históricos, existem descrições de como o homem debatia questões sobre saúde mental. “Essa discussão sobre saúde mental é anterior à Segunda Guerra Mundial, porque já no final do século 19, começam a chegar discussões sobre isso. Freud já discutia a questão do homem moderno e as questões relativas ao mundo moderno, que têm muito do impacto da Revolução Industrial. Com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, aconteceram os famosos traumas de guerra, resultando no aumento dessas discussões. O próprio Freud tratou alguns soldados. Alguns livros são bem emblemáticos sobre isso, como ‘Nada de novo no front’, escrito por Erich Maria Remarque, ex-soldado que vivenciou os conflitos. É um romance de um autor que lutou na guerra, em que ele fala como era o cotidiano no front e como isso impactava os soldados”, explica a professora de história Thais Almeida. “Essas discussões, porém, ganham os espaços públicos a partir da década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Foucault, por exemplo, publica o livro ‘História da Loucura’ em 1961”, complementa a docente.

Para o médico psiquiatra e historiador da Associação Brasileira de Psiquiatria, Walmor Piccinini, cuja atuação na medicina soma 54 anos de experiência, a Segunda Guerra Mundial marcou de maneira emblemática a psiquiatria. “No meu ponto de vista, embora a gente possa traçar vários aspectos filosóficos, a Segunda Guerra Mundial mudou a maneira de se olhar os problemas emocionais e mentais, porque os psiquiatras aprenderam a lidar com os soldados em estado de choque, em estado de crise, e a lidar de uma forma de recuperá-los para eles voltarem ao combate. Durante a guerra, não se fazia mais internamentos em hospitais, o atendimento era feito na linha de frente, e isso mudou a maneira de se ver o doente, porque, até então, o doente mental era recolhido para o asilo e lá ele era isolado. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram medicamentos”, explica Piccinini.

De acordo com o historiador da ABP, a partir dos anos 90 a depressão passou a ter um crescimento expressivo. “Também a partir dos anos 90, existe um lado bem concreto disso tudo, que é o aumento das licenças médicas para o trabalho por depressão. Nós tivemos um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, a maioria das pessoas foi tratada nas comunidades com antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Isso aconteceu em todo o mundo”, recorda o médico psiquiatra.

Outras pandemias, ao longo da história, também desencadearam efeitos de ordem mental na sociedade. Há mais de dez anos, a proliferação da H1NI deixou sequelas físicas e, consequentemente, emocionais nos acometidos pela doença, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com o vírus teve ansiedade, 25% apresentou depressão e em 40% dos pacientes foi identificado risco de transtorno pós-traumático. Por outro lado, ao analisarem o período após a epidemia de SARS na Ásia, ocorrida em 2003, os estudiosos documentaram um sentimento positivo: 60% dos pacientes passaram a valorizar mais a família, em uma comprovação de que, o isolamento social também pode aproximar as pessoas e fomentar uma atmosfera de solidariedade e união.

Acolhimentos e estratégias em prol da sanidade mental em meio à Covid-19

Sob o risco de uma crise global de ordem mental, instituições públicas e privadas tentam intensificar acolhimentos psicológicos e psiquiátricos durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos profissionais realizam atendimentos de forma remota, uma vez que os serviços estão autorizados nesse formato durante a pandemia, em virtude da necessidade de manter o distanciamento social. A Lei 13.989/2020 regulamenta e autoriza a telemedicina nesse período, assim como os respectivos conselhos regionais de psicologia, orientados pelo Conselho Federal da área, permitiram os acolhimentos por meio de comunicação a distância.

Um dos serviços de acolhimentos remotos é desenvolvido em Campina Grande, na Paraíba, por meio do trabalho da Clínica Escola da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. Antes mesmo da pandemia, a instituição de ensino oferecia atendimentos psicológicos presenciais de forma gratuita à comunidade acadêmica e ao público externo, porém, após o agravamento da Covid-19 no Brasil e da necessidade de valorizar o distanciamento social, o projeto passou a disponibilizar escutas de forma on-line, mediante a marcação dos interessados por meio da internet. O serviço se manteve sem custo para os usuários.

A psicóloga do serviço de acolhimento da UNINASSAU, Carla Correia, explica que os atendimentos anteriores à pandemia continuam sendo feitos, mas de maneira remota, somados às novas demandas advindas do período pandêmico. “A gente já oferecida os serviços presencialmente. Com a pandemia e diante da preocupação da universidade com a saúde mental dos alunos, colaboradores e da comunidade, sentimos a necessidade de estender o serviço e dar continuidade às escutas de forma on-line. Como o Conselho Federal de Psicologia permite, os psicólogos puderam atender de forma remota. Para isso, é preciso fazer um cadastro no e-Psi, um site do Conselho. Pessoas da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, entre outros estados, estão sendo atendidas no nosso projeto. O atendimento é realizado por meio de vídeo chamadas”, explana a psicóloga. De abril deste ano até agosto, mais de 160 pessoas foram acolhidas pela iniciativa, apresentando, principalmente, sintomas relacionados à depressão e ansiedade. “A própria pandemia desencadeou muitos sintomas obsessivos compulsivos, como na questão de aferir a temperatura repetidamente, por várias vezes ao dia. Na ansiedade, por exemplo, uma das características é a falta de ar e, em alguns momentos, nessa falta de ar, as pessoas se confundiam com alguns sintomas da Covid-19. Muitas vezes não tinham relação com o vírus e sim era algo relacionado à ansiedade. Notamos intensificação do medo, da insegurança. Tivemos pacientes de todas as faixas etárias, a partir de 18 anos; foi algo bem misto”, acrescenta Carla Correia.

Na visão da psicóloga, o atendimento remoto, diante do cenário difícil imposto pelo novo coronavírus, surge como uma alternativa importante para os acolhimentos dos pacientes. “Foi algo realmente novo para alguns profissionais, visto que o atendimento on-line só se dava apenas em alguma vezes, quando, por exemplo, um paciente viajava. No atendimento remoto, o lugar do paciente e do psicólogo não se altera, visto que é a fala - o que está sendo dito - que é relevante. Diante desse momento de pandemia, o atendimento on-line veio realmente para somar”, opina.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Brasil tem registrados 375 mil psicólogos. Diante da proliferação do novo coronavírus e consequentemente da necessidade de realização dos atendimentos psicológicos de maneira remota, o site e-Psi – plataforma de cadastro dos profissionais que almejam atender remotamente – registrou um crescimento superior a 800%.

No âmbito do poder público, a Prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, é uma das gestões municipais que oferecem acolhimento remoto a pessoas com sofrimento mental durante a pandemia, além de encaminhamentos para aportes presenciais quando necessário. No caso de Olinda, a cidade é integrada à Rede de Atenção Psicossocial preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo funcionamento ocorria antes mesmo da Covid-19. A partir da pandemia, em março deste ano, foram necessários ajustes na oferta dos serviços, porque com o isolamento social, as escutas precisaram ser feitas em formato remoto, bem como os profissionais da rede municipal previram que com as mudanças bruscas ocasionadas pela propagação do vírus, havia o risco de aumento nos números de casos relacionados à saúde mental entre a população.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Olinda, Cíntia Mota, os teleatendimentos foram oferecidos, desde marco, a pessoas que, antes do contexto pandêmico, não apresentavam sintomas de transtornos emocionais. “Nós deixamos disponíveis dez números telefônicos, dos quais dois foram específicos para profissionais de saúde, porque a gente também percebeu um aumento desses profissionais em sofrimento mental, alguns na linha de frente do combate ao coronavírus”, explica a coordenadora. 

Também houve aumento de demanda nos atendimentos presenciais nos três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “O acolhimento individual presencial começou a aumentar muito. Em um Caps que a gente tinha por dia de cinco a dez acolhimentos de porta aberta, chegamos a ter 25 pessoas e um único dia, para que a equipe pudesse dar conta de fazer o primeiro atendimento, acolhimento e orientação. Na população em geral, sintomas de ansiedade estão muito presentes. Sintomas ligados a depressão também aumentaram, assim como as ideações suicidas, que são outras questões ligadas a sofrimento mental”, detalha Cíntia.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, cerca de 2 mil intervenções são realizadas por mês em cada Caps da cidade. No que diz respeito especificamente aos teleatendimentos como suporte psicológico durante a pandemia de Covid-19, mais de 600 acolhimentos foram registrados até o momento. No áudio a seguir, em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora de saúde mental detalha como são feitas as escutas telefônicas:

Cíntia ainda alerta que os usuários do SUS não devem ter preconceito contra os atendimentos psicossociais, uma vez que, principalmente no atual cenário, qualquer pessoa corre o risco de sofrer desgaste emocional. “A gente previu que isso aconteceria e criamos estratégias para atender a essa população mesmo de forma isolada. Costumo dizer que produzimos em 2020 mais tecnologias de cuidado do que anos atrás. Em saúde mental, ainda existe muito preconceito no acesso a serviços especializados, porque a gente tem o adoecimento mental distante das nossas vidas, como se a gente não estivesse propenso a isso. E a pandemia aproximou muito a população geral ao sofrimento mental. Ou seja, eu posso adoecer porque não estou preparado para todas as dificuldades da vida. Por mais que tenhamos um repertório de estratégias para lidar com as dificuldades, a pandemia apresentou um cenário muito novo, de muita incerteza, que causou muito sofrimento”, comenta a coordenadora de saúde mental de Olinda.

Os teleatendimentos são gratuitos e estão disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mesmo horário de funcionamento dos Caps. Confira os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial, além dos números para contatos no teleatendimento.

Recife, cidade-irmã de Olinda, também apostou no teleatendimento psicossocial para tentar diminuir as dores emocionais da população. Por meio da Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o serviço foi batizado de “teleacolhimento” e, desde março deste ano, oferece escutas gratuitas via vídeos e telefones a pessoas que estão sentindo impactos na saúde mental. Os agendamentos são realizados por meio da ferramenta Atende em Casa, criada pelo poder público com a finalidade de promover atendimentos iniciais em formato digital, direcionando os usuários para profissionais de saúde que dão orientações em casos suspeitos de Covid-19. Após passar por um questionário, o público é perguntado se precisa de apoio emocional; havendo resposta positiva, é feito o direcionamento ao teleacolhimento.

Segundo a coordenadora do serviço, Angélica Oliveira, mais de 2 mil atendimentos relacionados a sofrimento mental foram realizados até o momento. Além do agendamento para o público geral, existe um e-mail exclusivo para profissionais da rede municipal de saúde do Recife, que estão atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

Angélica Oliveira, coordenadora do teleacolhimento oferecido pela Secretaria de Saúde do Recife. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“O que mais aparecem são ansiedade, depressão e, de junho para cá, começou a surgir muito luto, pessoas sofrendo pela perda de parentes. Há muito medo de pegar a Covid e medo de perder o emprego. Por isso que o apoio é psicossocial, porque existem muitos problemas de ordem financeira”, explica a coordenadora.

O projeto conta com um trabalho multiprofissional, envolvendo 80 servidores municipais, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outras funções. A coordenadora do teleacolhimento ressalta que o serviço não oferece consultas e nem receita medicamentos, pois, para isso, são necessárias avaliações presenciais e criteriosas com médicos psiquiatras da rede municipal de saúde ou em hospitais privados. “Por isso que nós chamamos de acolhimento psicossocial”, enfatiza Angélica, complementando que, havendo necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os serviços presenciais. “É uma escuta qualificada e, quando necessário, fazemos o encaminhamento com qualidade, fazendo o contato com o serviço; a gente diz como a pessoa vai chegar e passa os contatos. Fazemos toda uma regulação desse cuidado para que quando ele – usuário - chegue no lugar do atendimento presencial, o local já esteja sabendo e o atenda de uma forma benéfica. É um trabalho integrado”, acrescenta Angélica.

Ainda de acordo com a coordenadora do teleacolhimento, os atendimentos específicos aos profissionais de saúde devem ocorrer de maneira continuada. “A gente está com uma demanda, desde junho, regular de profissionais que apresentam todos os tipos de sofrimento, tais como medo de pegar a Covid-19 e porque estão na linha de frente. Esse acompanhamento vai durar até o final da pandemia”, finaliza.

O cidadão que necessita do aporte psicológico, dependendo da situação, pode ser acolhido em mais de uma ligação ou vídeo. Caso apresente sofrimento grave, ele deve, ainda, ser encaminhado a um serviço presencial. O teleacolhimento está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Veja endereços dos Caps, indicados a quem precisa de socorro presencial.

No vídeo a seguir, a coordenadora – e psicóloga de formação - do teleacolhimento dá mais detalhes a respeito do serviço, bem como revela dicas sobre como a sociedade pode combater desgastes psicológicos. Também participa da entrevista o assistente social Airles Ribeiro, que divide com Angélica a coordenação do teleatendimento da Prefeitura do Recife. Assista:

Quarta onda – Entre os profissionais de saúde mental, existe um entendimento de que os efeitos da pandemia da Covid-19 desencadearam uma nova “onda”. Miriam Gorender, professora de psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), detalhada as etapas: “A primeira onda é da doença em si. A segunda seria das complicações trazidas pela doença, como pessoas que ficam com lesões no pulmão, neurológicas e cardiológicas. Você tem ainda uma terceira onda das pessoas que adoecem de enfermidades que vinham sendo tratadas, como diabetes e pressão alta, e que deixam de ser tratadas porque toda a atenção está na Covid-19. Nesse caso, a pessoa fica com medo de ir ao médico, se consultar para continuar o seu tratamento, ou não tem uma UTI. A quarta onda é de doença mental, que deve acompanhar a gente por muitos anos, porque doença mental é crônica”.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva reitera o alerta e enfatiza a necessidade de ações imediatas. "A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, defende Antônio.

Durante entrevista ao LeiaJá, a psiquiatra Fátima Vasconcelos – também vinculada à ABP – elencou uma série de atitudes que podem ajudar as pessoas, mesmo em casa, a tentar diminuir os impactos emocionais e o agravamento de casos da quarta onda. A médica alerta, porém, que não se trata de uma receita pronta, uma vez que nem todas as atividades são indicadas a todas as pessoas de maneira generalizada, já que cada indivíduo tem suas preferências cotidianas e particularidades. Acompanhe as dicas:

1 – Crie uma rotina: você irá sentir-se mais calmo e no controle de suas emoções; leia livros, veja televisão, filmes, series, documentários, mas evite ficar o tempo todo vendo notícias. É importante se informar, mas, o excesso de informação gera estresse. Ao invés disso, ligue para seus amigos e sua família. Uma rede de suporte social faz toda a diferença. A solidão pode levar a depressão.

No home office, crie uma rotina. Acorde, vista uma roupa confortável e comece seu o trabalho, mas, estabeleça horários. Para se distrair, jogue com crianças e idosos – desde que preservados os protocolos de saúde -, respeitando suas preferências. Um dos aspectos positivos do “fique em casa” foi a maior aproximação das famílias, que estão em home office e podem conviver mais com seus filhos e pais.

2 – Faça atividades físicas: caso não tenha a orientação de um profissional, a pessoa pode optar por realizar exercícios simples, como pular corda, realizar apoios, abdominais, agachamentos e polichinelos. É indicado variar o tipo de treino a cada dia, evitando a monotonia. Este tipo de atividade pode ser realizado tanto por adultos quanto por idosos que não possuam nenhuma doença cardiovascular, respiratória ou nas articulações.

3 – Mantenha uma boa alimentação: alimentar-se de forma saudável é fundamental para superar essa pandemia. Uma dieta equilibrada evita não apenas o ganho de quilos extras, garante também uma boa imunidade do corpo. Sendo assim, evite refrigerantes, doces e pratos gordurosos. Dê preferência aos alimentos naturais como frutas, verduras, vegetais e cereais e beba bastante água. O ideal mesmo é procurar um nutricionista para montar uma dieta adequada às necessidades do seu corpo. Evite bebidas alcoólicas. Definitivamente, neste momento não abuse de bebidas.

4 – Durma bem: é quase impossível dormir quando se está ansioso ou preocupado. Uma boa ideia para regular o sono é manter-se ativo durante o dia. Quanto mais atividades físicas fizer, mais cansado ficará e melhor será o seu sono e, por consequência, sua saúde.

5 - Tenha uma boa rotina de higiene: se for necessário quebrar o isolamento social, siga estes passos: use máscara quando sair; carregue álcool em gel a 70% para higienizar as mãos na rua; lave bem as mãos quando voltar; retire os sapatos na porta de casa; coloque as roupas usadas para lavar; tome um banho e lave os cabelos. Além disso, higienize tudo que veio do supermercado e mantenha a casa sempre limpa, inclusive maçanetas, puxadores e controles remotos. Lavar as mãos antes de preparar os alimentos sempre foi um hábito básico de higiene, mas é necessário reforçar essa dica em tempos de coronavírus.

Também em entrevista ao LeiaJá, o coordenador do Instituto de Psicologia da USP, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, destacou orientações para a população que corre risco de sofrimento mental. Entre elas está a busca de informações em fontes confiáveis, como as produzidas pelos cientistas das universidades. Para casos graves, o coordenador também exalta o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida, por meio do telefone 188. Ouças as dicas no áudio a seguir:

O médico psiquiatra Walmor Piccinini compactua da ideia que é importante filtrar informações sobre o novo coronavírus. Receber um fluxo intenso de notícias negativas pode potencializar adoecimento psicológico, segundo o especialista. “As pessoas têm que evitar passar o dia inteiro presas no WhatsApp, na tevê, recebendo informações negativas. É preciso preservar a sanidade. Não se deixar bombardear por informações negativas. Também não adianta imaginar soluções mágicas: a pessoa tem que ter tranquilidade e saber o melhor a fazer no momento. Ficar mais em casa, se for possível, evitar o contato, diminuir essa ansiedade de ir à praia, de ir a um mercado, enfim, a pessoa deve se expor o menos possível tanto psicologicamente e quanto fisicamente. É indicado ouvir uma boa música, brincar com os filhos”, aconselha Piccinini.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou, em seu site oficial, uma série de orientações para a população e profissionais de saúde que devem ser compartilhadas durante a pandemia. "Com o intuito de orientar seus associados e a população em geral, a ABP tem publicado informações voltadas aos cuidados em saúde, tanto física quanto mental, direcionadas aos diversos públicos que a acompanham", destaca a ABP. Também no site da instituição, foi publicado um comunicado com o presidente da Associação; confira no vídeo produzido pela entidade:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), umas das instituições mais atuantes no combate à pandemia de Covid-19, por meio do seu Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES), publicou o documento em que traz recomendações à população. Intitulada “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19”, a publicação explica por que estamos sob o risco de uma carga grande de estresse.

“Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento”, diz um trecho do documento.

Segundo as orientações da Fiocruz, a sociedade deve seguir ações de cuidado psíquico. São elas:

“Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenham usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas; investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade”.

Ainda de acordo com a Fiocruz, “caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas”. Leia o documento na íntegra.

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02), Alda Roberta Campos, é preciso deixar claro que sofrimento psíquico é algo comum em meio ao cenário conturbado da pandemia. “Sofrimento psíquico todo ser humano tem, uns mais, outros menos. Em um momento de pandemia, todo mundo vai sofrer de algum jeito, pelo medo, dificuldade de sono, aumento de ansiedade, diminuição ou aumento de apetite. Vai ter interferência na vida, ninguém está imune ao sofrimento psíquico. Sofrimento não é doença”, comenta a presidente.

Alda Campos orienta que o autocuidado é um comportamento importante no processo de combate ao sofrimento psíquico, uma vez que caso esse sofrimento comece a impedir que o indivíduo realize suas atividades cotidianas, como trabalho, estudos, projetos, convivência social e higiene pessoal, começarão os indícios de que a pessoa pode, de fato, estar sendo acometida por um adoecimento mental.

“Olhar para si, se autoconhecer para entender qual é a sua demanda e quais são os seus limites. O que você consegue fazer? Qual o reconhecimento do seu sentimento? A partir disso, você faz o seu projeto. Não existe uma receita de autocuidado. Oriento que olhe para você, enxergue o seu contexto. Como você pode acolher e ser acolhido? Com quem você conta? Amigos, amigas, familiares são as pessoas que você pode contar. O que você tem feito em relação à construção da rotina, para ressignificar seu dia e seu tempo? O autocuidado é isso, é olhar para si mesmo, para tornar esse período menos difícil”, explica psicóloga.

Saiba mais - No site da Organização Pan-Americana de Saúde, órgão ligado à OMS, são publicadas informações sobre autocuidados durante da pandemia de Covid-19. Entre eles, está uma série de infográficos que destacam atividades importantes para o nosso dia a dia que nos ajudam a preservar o bem-estar e, por consequência, a nossa saúde mental. Confira, a seguir, um deles:

Folheto produzido pela OMS traz orientações sobre saúde mental em meio à pandemia do novo coronavírus. Imagem: Divulgação - Opas/OMS

Atuação do poder público é necessária. Saúde é um direito de todos os brasileiros

O LeiaJá ouviu especialistas em saúde mental e fontes de entidades que representam a atuação de profissionais da área, para refletirmos a respeito de ações e políticas, por parte do poder público, que possam ajudar a população brasileira a se proteger dos sofrimentos psicológicos e do adoecimento mental. Alda Campos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, compartilhou a sua análise, projetando iniciativas em prol da saúde – física e psíquica - da sociedade.

Para Alda, inicialmente é preciso compreender que o conceito de saúde envolve um bem-estar que possui várias esferas. Questões financeiras, de moradia, perspectivas de vida, acesso à transporte, alimentação saudável, lazer, educação, entre outras, são algumas dessas vertentes. Segundo a presidente do CRP-02, combater desigualdades é um dos primeiros passos para garantir o bem-estar dos cidadãos. “Quando a gente está falando de saúde mental, não estamos falando apenas de ter ou não um diagnóstico. Estamos falando de uma qualidade de vida que precisa ser cumprida diante da nossa Constituição. Na nossa Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado”, destaca. “A nossa orientação em relação ao poder público é que ele deve oferecer cuidado interdisciplinar e intersetorial para a população, isso quer dizer, condições de vida, acesso à educação e à água, por exemplo. Como vai lavar a mão quem não tem água? É dever do poder público promover condições melhores de moradia, de acesso à educação e à saúde”, complementa.

Na visão da presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, a pandemia denunciou uma falta de assistência à nossa população e potencializou as diferenças e desigualdades sociais que o povo enfrenta, tais como saúde e educação precárias. Segundo Alda Campos, o Governo Federal precisa pensar um cuidado de reestruturação e reorganização social para a redução dessas desigualdades. “Essas desigualdades têm um impacto imenso na saúde mental das pessoas”, comenta Alda.

De acordo com a gestora do CRP-02, é importante que o Governo Federal, por meio dos Estados e municípios, fortaleça a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde. “Precisamos de cuidados multidisciplinares. São zelos com vários profissionais que vão ofertar cuidados interdisciplinares. O governo precisa aumentar investimentos na saúde coletiva, com acompanhamento médico, psicológico, com terapia ocupacional, assistência social, enfermagem. Cuidado não só através do SUS, mas também com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Proponho ações do governo que vão ofertar, por exemplo, centros de convivência, locais de apoio onde as pessoas podem pernoitar, como as pessoas em situação de rua, acessando uma alimentação adequada. A gente precisa ter trabalhos que vão fazer a oferta de profissionalização. É um cuidado geral”, complementa.

Sobre o oferecimento de profissionalização, estratégia para o campo social e, inclusive, da saúde, Alda defende que o trabalho é um instrumento essencial na vida do brasileiro. “O trabalho garante a sobrevivência e traz a ideia de perspectiva de projetos. Precisamos resgatar na população o desejo de crescimento, de sonhos, projetos. Quando a gente pensa em um trabalho psicoterápico da psicologia, buscamos tratar o outro com igualdade para ele entenda que precisa cuidar dele próprio. A população precisa mais do que cesta básica, precisa voltar à possibilidade de a pessoa desejar e querer crescer, tendo projetos e geração de renda”, opina.

Outro ponto mencionado pela psicóloga diz respeito ao sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, 257 mil profissionais de saúde foram infectados pela doença até então; 226 morreram. Na análise da presidente do CRP-02, o autocuidado é peça fundamental para que esses trabalhadores sigam firmes no acolhimento da população. “Estamos trabalhando o autocuidado, os profissionais precisam se cuidar para puder ter uma oferta de cuidado maior para o outro. A ideia do autocuidado é você poder garantir o cuidado com a sua saúde para cuidar das outas pessoas. É necessário para todas as pessoas, mais ainda para quem está na linha de frente. Terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, médicos, todos os profissionais que estão tendo cuidado direto com a população que está buscando saúde. Vigilantes, pessoal da cozinha, copa, pessoal da limpeza, nutricionistas, pessoas na reta guarda e na linha de frente dos hospitais também precisam desse cuidado, porque é um sistema de saúde composto por uma série de profissionais que estão envolvidos. Todo mundo precisa dessa atenção, acolhimento e escuta especializada”, alerta Alda Campos.

Por fim, a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco destaca a necessidade do zelo pelos psicólogos e psiquiatras. “As pessoas têm uma ideia de que os psicólogos não têm problema. Fazem uma associação do profissional de saúde, de uma forma geral, com heróis e heróis passam a ideia de que têm super poderes, que são imbatíveis. Mas nós temos um índice de mortalidade grande entre profissionais de saúde. Nós somos profissionais que precisamos de equipamento de proteção individual, de acolhimento, de salários dignos, respeito, descanso. São pessoas que estão com medo, preocupadas em contaminar a própria família, que adoecem. Não existem heróis no sentido mágico de super poderes. São pessoas que escolheram uma profissão, que se dedicam à ela e precisam de condições mínimas de trabalho”, reivindica.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, reitera que políticas públicas de saúde mental são essenciais para a sociedade brasileira. No entanto, na visão da presidente, o Governo Federal não tem valorizado essas políticas nos últimos anos. “Se a gente não tiver um investimento efetivo nas políticas públicas de saúde e assistência social que garantem à população serviços de qualidade, teremos problemas, principalmente em um país com o nível de desigualdade como o nosso. O que a gente vê no Brasil, infelizmente, é o processo oposto. A Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos investimentos em políticas públicas, como saúde e educação, a curto, médio e longo prazo, tende a trazer uma desassistência de forma muito marcante para a população em geral”, critica.

Ana Sandra Fernandes, presidente do Conselho Federal de Psicologia. Foto: Comunição CFP

Para a presidente do CFP, o Estado precisa aplicar recursos financeiros em políticas públicas com financiamento adequado. “Deve investir nos sistemas que já existem e facilitar a criação e a promoção de políticas públicas que, efetivamente, garantam o acesso da população a serviços essenciais, garantindo desde as coisas mais simples, como a presença dos insumos necessários para o funcionamento de um serviço, até a presença de profissionais qualificados, enfim, tudo isso é necessário e tudo isso precisa ser garantido. A população tem direito constitucional a esses serviços”, comenta.

Ana Fernandes ainda tece uma crítica aos poderes públicos de uma forma geral. Segundo a presidente do CFP, o País não apresentou, até então, uma política pública de aporte à saúde mental da população durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, a gente não tem acesso à política pública, a um projeto explícito, de um programa de saúde mental, posto, principalmente, para o País nesse contexto de pandemia que a gente está vivendo. Nós desconhecemos qual é o projeto, qual é a proposta, qual é o plano dos órgãos governamentais para uma política efetiva de saúde mental. Até hoje, o Conselho Federal de Psicologia nunca foi chamado para a construção de um projeto. Sinto pessoalmente falta de uma política clara, definida, sobre como esse enfrentamento vai ser feito neste momento e no pós-pandemia”, diz a presidente.

Ainda de acordo com a gestora do Conselho Federal de Psicologia, cabe aos governos federal, estaduais e municipais promoverem o funcionamento de suas redes de atenção psicossocial e de todos os seus equipamentos, bem como os gestores públicos devem garantir o acesso da população – principalmente da parcela mais pobre - a elementos básicos, como alimentação, educação e até internet – ferramenta que propicia os atendimentos psicológicos remotos -. “Nós somos um ser integrado, não é possível falar de saúde fazendo recortes. Para que a gente possa ter saúde em uma visão muito mais ampla, que tem a ver com saúde mental, física, entre outras esferas, precisamos estar bem do ponto de vista físico, e precisamos ter as nossas necessidades garantidas socialmente. Acredito que a saúde mental entra em um conjunto de bem-estar, não só importante, mas também fundamental. O Governo Federal precisa trabalhar para que a gente viva de uma forma mais organizada, em uma sociedade mais justa e mais igual, porque isso também contribui de uma forma significativa para o nosso processo de saúde física e de saúde mental por consequência”, finaliza sua análise a presidente do Conselho Federal de Psicologia.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Monteiro, enxerga um cenário preocupante nos serviços públicos de saúde mental. De acordo com o docente, essa é uma das áreas mais carentes entre os segmentos de saúde direcionados à população. “A assistência em saúde mental já é um problema, uma área muito subvalorizada. Área muito pouca vista, é a última vista entre nas gestões públicas, em sua maioria. Você tem uma carência de serviço, pouco ambulatório, pouca psicoterapia, pouco médico psiquiatra. Os Caps não dão conta. Não estou vendo iniciativa no sentido de incremento do cuidado em saúde mental das populações”, avalia o professor, alertando que já havia, antes do cenário pandêmico, um contexto muito sério em relação à saúde mental da sociedade, potencializado após a Covid-19. “Já está tendo uma explosão de adoecimento mental, a pandemia potencializa e desencadeia um estado de mal-estar que já está presente nas pessoas. Sem pandemia, a situação da saúde mental já era um problema, as pessoas estavam muito ansiosas, deprimidas, tensas”, adverte o educador universitário.

Nascimento indica uma orientação que tem a ver com a forma que os governantes conduzem seus trabalhos sob os efeitos sociais do novo coronavírus. Segundo o professor da UFPE, os discursos dos gestores devem transmitir conforto. “Uma medida de saúde mental nessas horas é um grande sentimento de apaziguamento dado pelas autoridades. A medida terapêutica para aplacar o sofrimento dessas pessoas é tudo o que os políticos não estão fazendo agora. É o cara cuidar bem dessa população, dizer que está tomando as medidas: ‘vocês podem contar com a gente nisso, teremos assistência aqui, vai estar sendo resguardado financeiramente ali’. Claro que as pessoas vão precisar de um psicólogo e eventualmente de uma medicação. Mas, além disso, a forma como é conduzida a catástrofe, por parte do poder público e das autoridades sanitárias, também tem influência sobre a saúde mental das pessoas”, explana.

Ao sugerir possíveis estratégias de combate aos males mentais, o professor da UFPE destaca que são fundamentais o planejamento e a execução de ações emergenciais por parte dos governos. Entretanto, o docente de psiquiatria não acredita na celeridade dos poderes públicos nesse sentido. “O Ministério da Saúde, fundamentado nas instituições consultivas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, que é uma entidade de referência técnica, deveria criar políticas públicas cuja a tradução seja a implantação de algumas medidas específicas em curtíssimo prazo, começando com as medidas para dar uma acalmada na população, propiciando espaços de lazer, de convivência segura presencial ou on-line. No último estágio, deve haver o aumento da assistência à saúde, com maior disponibilidade de mais psicólogos e psiquiatras para a população. É fundamental um aumento da oferta e disponibilidade de profissionais de saúde mental, sobretudo psicólogos e psiquiatras na rede pública. A gente sabe que vai ser muito difícil de ser implementado”, diz o professor da UFPE.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também reforçou seu alerta em orientação aos chefes de poder de todos os países que enfrentam a problemática pandemia do novo coronavírus. “Devemos aproveitar esta oportunidade para criar serviços de saúde mental adequados para o futuro: inclusivos, baseados em comunidades acessíveis. Porque, em última análise, não há saúde sem saúde mental”, frisa o gestor da OMS.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LeiaJá também entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de um representante que pudesse nos responder questionamentos a respeito da postura do Governo Federal no âmbito da saúde mental em meio ao cenário pandêmico. Por meio da sua assessoria de imprensa, a pasta respondeu com informações oriundas de suas equipes técnicas. Confira:

LeiaJá - A partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, tais como crise econômica, luto, medo da doença, entre outros, profissionais e entidades ligadas à saúde mental alertam que o Brasil pode ter aumento de casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. O Ministério da Saúde concorda com esses alertas? De que maneira a pasta interpreta e explica o atual cenário de saúde mental da população? 

Ministério da Saúde - A literatura científica sugere que medidas restritivas como quarentena, isolamento e distanciamento social têm um impacto sobre o bem-estar psicológico das pessoas, bem como reações em decorrência do medo da contaminação e/ou do luto pelos óbitos de pessoas próximas. As reações psicológicas às pandemias incluem comportamentos desadaptativos, angústia emocional e respostas defensivas como: ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse, comportamentos de esquiva, assim como diversas outras manifestações psíquicas e/ou físicas. Esse é o fenômeno que os especialistas estão chamando de “quarta onda da evolução da pandemia de Covid – 19”. 

LeiaJá - Quais são as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, a nível federal, em prol da saúde mental da população? E durante a pandemia, quais ações foram criadas para atender os usuários do SUS? 

Ministério da Saúde - A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental, visando fortalecer a autonomia, o protagonismo e promover uma maior integração e participação social destas pessoas. A atenção às pessoas com necessidades relacionadas aos transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, são assistidas nos pontos de atenção à saúde da Rede de Atenção Psicossocial, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é composta atualmente pelos serviços Atenção Primária à Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)  em suas diversas modalidades, Serviços de Residência Terapêutica (SRT), Unidades de Acolhimento, Unidades de Referência em Saúde Mental em Hospitais Gerais, Leitos em Hospitais Psiquiátricos Especializados e Equipes Multiprofissionais em Saúde Mental. 

No âmbito Nacional, já foram realizadas diversas ações relativas à saúde mental no contexto da pandemia: 

Nota Técnica elaborada pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD), com as recomendações à Rede de Atenção Psicossocial sobre as estratégias de organização no contexto da infecção de Covid – 19; 

Parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) com a oferta de uma campanha para promover a saúde mental no contexto de Covid-19, através de materiais voltados aos profissionais de saúde, familiares, idosos e cuidadores e população em geral, com o objetivo amenizar os efeitos negativos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros. 

Projeto Telepsi, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19 - e mais recentemente ampliada para os trabalhadores dos serviços essenciais. 

Desenvolvimento de um questionário on-line através do FormSUS, com o objetivo avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 e do distanciamento social na saúde mental da população brasileira. 

Lançamento de uma série de ações com o objetivo de informar à população sobre questões envolvendo doenças mentais, na expectativa de promover saúde e bem-estar do brasileiro diante da pandemia da Covid-19. A primeira iniciativa consiste em três eventos virtuais do programa “Mentalize: sinal amarelo para atenção à saúde mental” que está marcado para os dias 25, 26 e 27 de agosto, sempre às 19h, no canal do Youtube do Ministério da Saúde. Serão encontros on-lines, abertos ao público em geral, que reunirão especialistas para falar sobre temas que envolvem saúde mental com o foco na saúde da criança e do adolescente, dos trabalhadores e dos idosos. O objetivo é desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. Acompanhe: youtube.com/minsaudeBR.

LeiaJá - De que forma o Ministério da Saúde trabalha, em parceria com os estados e municípios, para oferecer serviços gratuitos de atendimentos psicológicos e psiquiátricos, além dos serviços de acolhimento psicossocial?  

Ministério da Saúde - A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite, ou seja, compete à União, aos estados e aos municípios a prestação de ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde atua por meio de repasse de recurso financeiro de incentivo e de custeio para habilitação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 

LeiaJá - Psiquiatras alertam que, no pós-pandemia, pode haver um aumento expressivo em casos de ansiedade e de pressão. Quais são os planos do Governo Federal para combater um possível surto de transtornos mentais no pós-pandemia?  

Ministério da Saúde - O Ministério da Saúde tem trabalhado para ampliação dos serviços de atendimento à saúde mental, em 2020 foram incentivadas as aberturas de 18 novos CAPS, 8 Serviços de Residência Terapêutica (SRT) e 29 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Está prevista a habilitação de 77 novos CAPS, 100 SRT e 144 leitos em hospitais gerais. 

LeiaJá - Em 2019, quanto foi investido em serviços de saúde mental e quanto já foi investido em 2020? Já há uma projeção de recursos para 2021? 

Ministério da Saúde - Em 2019 foi incorporado no teto dos Fundos Municipais e Estaduais de Saúdeo valor de R$ 85,9 milhões. Foram ainda investidos R$ 12 milhões para estruturação e abertura de novos serviços. 

Em 2020, foi incorporado o valor de R$ 5,4 milhões no teto e pago R$ 814 milhões de incentivo para abertura de 18 CAPS, 8 SRT e 29 leitos em hospital geral. Está em tramitação a habilitação de novos serviços que alcançarão um total de R$ 66,6 milhões/ano. Para 2021, o planejamento orçamentário ainda está em elaboração. 

De acordo com estudo feito pelo professor de psicologia Gary Lupyan, da Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, falar sozinho, ou seja, consigo, contribui com a saúde mental.

Segundo a pesquisa, o hábito pode ajudar a combater a solidão, organizar as ideias de maneira eficiente e melhorar a lógica de raciocínio. A prática também pode ser efetiva em crianças, pois ajuda a desenvolver habilidades criativas.

##RECOMENDA##

Muitos consideram o ato de conversar consigo "coisa de gente louca", mas, na verdade, o estudo indica que ouvir a própria voz pode aliviar angústias, como depressão e ansiedade.

Este não é o primeiro estudo que aponta os benefícios de falar sozinho. Diversos outros pesquisadores já relataram que a prática também pode indicar alto nível de QI e inteligência elevada.

A pandemia de Covid-19 causou uma "crise de saúde mental" sem precedentes no continente americano, alertou a Opas nesta terça-feira (18), enquanto as infecções mais uma vez dispararam alarmes na Espanha e iniciaram uma nova fase na região Ásia-Pacífico.

De acordo com o escritório regional da OMS para as Américas, com base em pesquisas nos Estados Unidos, Brasil e México, os três países americanos mais atingidos pelo coronavírus mostram que quase metade dos adultos sofre com a emergência sanitária, que também gerou a um "aumento da violência doméstica".

A América Latina e o Caribe, onde mais de 243 mil mortes e 6,2 milhões de casos já foram registrados desde o início da pandemia, segundo balanço da AFP, responderam por praticamente metade das mortes por coronavírus no mundo na última semana.

Desde seu aparecimento na China no final do ano passado, a pandemia causou 775.726 mortes no mundo e quase 22 milhões de infecções, de acordo com uma contagem da AFP com base em números oficiais.

Na Europa, com mais de 211 mil mortes por coronavírus e 3,5 milhões de casos, um dos países onde os surtos são mais preocupantes é a Espanha, que registrou mais de 16 mil infecções entre sexta e segunda-feira.

- "Nacionalismo" de vacinas -

O surgimento cada vez mais factível de uma vacina gera esperança, mas também requer planejamento.

Nesta terça-feira, a OMS pediu aos seus países-membros que se unam a seu programa de acesso à vacina contra o Covid-19, combatendo o "nacionalismo das vacinas".

Uma vez que as vacinas estejam disponíveis, a OMS propõe que sejam distribuídas em duas fases, a primeira proporcional e simultaneamente a todos os países participantes do programa, com o objetivo de reduzir o risco global, e a segunda em que será levada em consideração a ameaça e a vulnerabilidade dos países, explicou o diretor da OMS.

A vacina russa, batizada de Sputnik V e da qual já foi anunciado um primeiro lote, desperta desconfiança entre os pesquisadores ocidentais, mas recebeu o apoio do presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, nesta segunda-feira.

"Eu seria o primeiro a me deixar vacinar, porque é muito importante para mim, mas temos que saber bem o que está acontecendo, garantir que seja algo eficaz e que esteja ao alcance de todas as pessoas", disse o presidente.

Já na Austrália, o governo anunciou que chegou a um acordo com o grupo farmacêutico AstraZeneca sobre a vacina que está desenvolvendo com a Universidade Britânica de Oxford e, se for eficaz, será fabricada e distribuída gratuitamente a todos os cidadãos.

- Nova fase -

A OMS também apontou a região da Ásia-Pacífico, que disse ter entrado em uma "nova fase" na qual a doença se espalha entre aqueles com menos de 50 anos, que costumam ser assintomáticos.

Pessoas infectadas sem sintomas ou com sintomas leves correm o risco de infectar idosos ou pessoas com problemas de saúde, de acordo com Takeshi Kasai, diretor da OMS para o Pacífico Ocidental, em uma entrevista coletiva.

"A epidemia está mudando. Pessoas na faixa dos 20, 30 ou 40 anos são cada vez mais uma ameaça". Não estamos apenas vendo um novo crescimento, vejo sinais de que entramos em uma nova fase", acrescentou Kasai.

- México, em "queda" -

Em contraste com os tristes registros de saúde na América Latina, o governo mexicano disse nesta terça-feira que a pandemia entrou em uma "fase de declínio" no país, avaliação que levanta dúvidas dado o baixo número de testes realizados.

O México, de 128,8 milhões de habitantes, registrou 531.239 casos confirmados e 57.774 mortes por Covid-19 na segunda-feira.

A economia regional, gravemente afetada pela pandemia, voltou a apresentar números decepcionantes em uma de suas principais economias.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Chile caiu 14,1% no segundo trimestre, afetado pelas restrições sanitárias que causaram quedas em todos os setores exceto mineração, informou o Banco Central do país na terça-feira.

"Já no início do terceiro trimestre estamos passando por uma virada, estamos vendo a luz no fim do túnel, e isso deve nos encher de otimismo", disse o ministro da Economia, Lucas Palacios.

Contra as previsões iniciais do governo, o saque antecipado dos fundos de pensão - permitido de forma excepcional para aliviar a crise - reativa o consumo das famílias em dificuldades chilenas.

A vizinha Argentina ultrapassou a barreira de 300 mil infecções por Covid-19 na terça-feira, com 235 mortes nas últimas 24 horas, um dos maiores números desde o início da pandemia do coronavírus.

Os dados foram divulgados um dia depois de uma passeata da oposição no centro de Buenos Aires para exigir do governo o fim das medidas de isolamento social, por considerá-las uma forma de restringir a liberdade.

Ainda no cone sul do continente, o Uruguai, considerado um exemplo regional na gestão da pandemia, vai reabrir suas fronteiras para a entrada de turistas da União Europeia (UE), embora ainda não tenha uma data definida.

O Uruguai mantém suas fronteiras fechadas desde março, quando detectou os primeiros casos de coronavírus.

Atualmente, apenas nacionais, estrangeiros residentes ou membros de corpos diplomáticos podem entrar no país, entre outras exceções. Também permite a entrada, caso a caso, por razões humanitárias ou de trabalho.

Depressão, ansiedade, estresse: a pandemia de COVID-19 causou uma "crise de saúde mental" sem precedentes em todo o continente americano, e gerou um "aumento da violência doméstica", alertou a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), nesta terça-feira (18).

"A pandemia de COVID-19 provocou uma crise de saúde mental em nossa região em uma escala que nunca vimos antes", disse a diretora da Opas, Carissa Etienne.

##RECOMENDA##

De acordo com as pesquisas, nos Estados Unidos, Brasil e México, os três países americanos mais afetados pelo coronavírus, aproximadamente metade dos adultos estão estressados devido à pandemia.

Isso aumentou o consumo de drogas e álcool, o que "pode agravar os problemas de saúde mental", alertou Etienne.

As medidas para conter a pandemia, somadas com os impactos sociais e econômicos do vírus, "estão aumentando os riscos de violência doméstica: a casa não é um local seguro para muitos", acrescentou, ao destacar a multiplicação dos pedidos de ajuda por abusos na Argentina, Colômbia e México.

Por outro lado, devido à interrupção de certos serviços de apoio e ao isolamento das vítimas, "é provável que o alcance real da violência doméstica durante a COVID-19 seja subestimado", disse.

Para a chefe da Opas, as crescentes necessidades de atenção da saúde mental e os recursos reduzidos para abordá-las criam uma "tempestade perfeita" em muitos países.

"É urgente que o apoio à saúde mental seja considerado um componente fundamental da resposta à pandemia", pediu.

Com quase 11,5 milhões de casos e mais de 400.000 mortos, o continente americano continua sendo o mais afetado pela COVID-19 no mundo, com 55% dos novos casos registrados na semana passada, segundo dados da Opas.

"As Américas têm aproximadamente 13% da população mundial, mas somam até agora 64% das mortes mundiais registradas oficialmente", disse Etienne.

Estados Unidos e Brasil são os países mais afetados, mas têm-se observado uma tendência crescente em regiões estáveis há várias semanas, como o Caribe.

Entre os países que registraram novos casos, ela destacou a República Dominicana, Jamaica, Bahamas e Trinidad e Tobago, além do Peru.

Uma pesquisa coordenada pelo Hospital Universitário de Brasília (HUB) pretende identificar sinais de esgotamento profissional e adoecimento mental em residentes da área da saúde durante a pandemia. O questionário deve ser respondido até o dia 29 de agosto por profissionais de saúde que fazem curso de pós-graduação em medicina e outras áreas da saúde (multiprofissionais) na modalidade residência.  

O questionário integra a pesquisa Force Fellow e leva, no máximo, cinco minutos para ser respondido. Além de ficar disponível para acesso de qualquer residente do país, o formulário será enviado aos pouco mais de 7 mil residentes dos hospitais universitários federais vinculados à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

##RECOMENDA##

A amostra inicial permitirá identificar aqueles que apresentam algum sinal de esgotamento profissional (burnout) ou adoecimento mental, como ansiedade, estresse, problemas do sono e depressão. Esse grupo receberá um novo questionário após 12 semanas para reavaliação. Os primeiros resultados devem ser obtidos em setembro e o relatório final deve sair em janeiro de 2021. 

De acordo com a Universidade de Brasília (UnB) a expectativa é coletar dados de pelo menos 1.144 pessoas. O HUB conta atualmente com 253 profissionais nos programas de residência, sendo 202 médicos e 51 de áreas multiprofissionais. As respostas e as informações de cada participante são confidenciais e protegidas por sigilo, garantindo que nenhum preceptor ou supervisor que têm contato com os programas de residência tenha acesso aos dados individuais.  

"Faremos várias comparações entre o grupo de controle, que não apresenta sinais de adoecimento, e o de exposição. A proposta é obter um retrato da prevalência de sintomas indicativos de transtornos mentais e de síndrome do esgotamento profissional entre os residentes no contexto da pandemia", explica uma das pesquisadoras, enfermeira e chefe da Unidade de Monitoramento e Avaliação do HUB, Rebeca Lucena Pinho, segundo informações divulgadas pelas UnB. 

Vale pontuar que o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Medicina (FM) da UnB e conta com o apoio da Ebserh. Dúvidas sobre a pesquisa podem ser tiradas pelo e-mail saude.residentes@ebserh.gov.br.

Entre as muitas dificuldades enfrentadas pelas pessoas durante a pandemia do coronavírus, a solidão pode ser uma inimiga da saúde psicológica. Para aqueles que estão enfrentando a fase de isolamento social morando com a família, o espaço limitado da casa reduz as interações apenas aos moradores mas, para quem mora sozinho, esse momento pode ser ainda mais desafiador. 

A enfermeira Pamela Almeida (23) relata que sua relação com o momento tem sido "um pouco bipolar" - em alguns dias ela percebe que seu humor está mais alegre, em outros esse humor se deprime. 

##RECOMENDA##

O mesmo tipo de variação também está sendo sentido pela esteticista Pamela Freire, (22). Ela morava com os pais, que decidiram se isolar em Santa Catarina, enquanto ela permaneceu em São Paulo.

"Estando sozinha, tive que ter a iniciativa de fazer algo para ocupar a mente. Para mim, a música é uma das melhores coisas. Também ando buscando estudar diversos assuntos que me agregam e mudem meu estilo de vida, me deixando mais focada e interessada’’, afirma a esteticista. 

A psicóloga Ana Carolina Boian explica que enfrentar o desafio da pandemia junto a outras pessoas ajuda no processo de superação, mesmo que haja momentos de estresse. Para quem está passando pela pandemia morando sozinho, manter contato com amigos e familiares é importante para a manutenção da saúde mental. 

Outra dica da psicóloga para quem mora sozinho é procurar manter uma rotina organizada entre trabalho, lazer, atividades físicas e boa alimentação. É recomendável que essas pessoas desenvolvam um projeto de vida.   

Ana Carolina explica que o ser humano é gregário, ou seja, necessita viver em comunidade, mas é possível aproveitar esse período de isolamento forçado para um momento de introspecção.

"Há também a grande oportunidade de conhecer a si mesmo e olhar para dentro. Observar suas qualidades, pontos a desenvolver, se atentar às emoções, sentimentos e ações que levam a um sofrimento também é uma forma de lidar com o isolamento sozinho’’, ensina a psicóloga. 

Pessoas que já tinham problemas como depressão e ansiedade antes da pandemia poderão ter mais dificuldade, com o agravamento dos sintomas. Nesses casos, a recomendação é manter o tratamento que já estava sendo realizado, com acompanhamento profissional. Se a pessoa ainda não estava em tratamento, a sugestão é buscar ajuda profissional. 

Para entender quais fatores podem preponderar para facilitar o contágio da Covid-19, o Ministério da Saúde desenvolveu a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel), feita a partir da coleta de informações de mais de 2 mil pessoas. Um dos destaques é a constatação de que 41,7% dos entrevistados apontaram distúrbios do sono, a exemplo de dificuldade para dormir ou dormir mais do que de costume. Além disso, um grupo de 38,7% relataram falta ou aumento de apetite.

Segundo os números obtidos, 87,1% dos adultos precisaram sair de casa pelo menos uma vez na semana anterior à data da entrevista. Os principais motivos para o deslocamento foram: compra de alimentos (75,3%), trabalho (45%), procurar serviço de saúde ou farmácia (42,1%), tédio ou cansaço de ficar em casa (20,5%), ajudar um familiar ou amigo (20,2%), visitar familiares e amigos (19,8%), praticar atividades físicas (13,6%) e caminhar com animal de estimação (5,6%). A faixa etária que mais quebrou o isolamento fica entre 35 e 49 anos (89,8%), com mais saídas entre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste (89%).

##RECOMENDA##

A Coordenadora-Geral de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis, Luciana Sardinha, destaca a importância do estudo para o monitoramento do cenário atual. “Essa pesquisa é muito oportuna para o momento que estamos vivendo. Os resultados que obtivemos com ela vão nos ajudar a entender de que forma a população brasileira está enfrentando a pandemia", comenta.

Mudança de comportamento

Os problemas de saúde mental durante a quarentena, mais precisamente nas duas semanas antes da entrevista, também foram investigados. Para 35,3% falta interesse em fazer as coisas; 32,6% disseram se sentir para baixo ou deprimidos; 30,7% se sentem cansados, com pouca energia; 17,3% descreveram lentidão para se movimentar ou falar ou disseram estar muito agitados ou inquietos; 16,9% relataram dificuldade para se concentrar nas coisas; 15,9% disseram se sentir mal consigo mesmos ou achar que decepcionaram pessoas queridas.

Higiene

Sobre as práticas de higiene preventivas ao novo coronavírus, a pesquisa destrinchou que o percentual de adultos que relataram higienizar as mãos e objetos tocados com frequência foi maior em mulheres (88,6%).

Com o tema ‘Saúde Mental do Professor Universitário’, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) promove, nesta terça-feira (26), às 20h, live para discutir a sobrecarga de trabalho e aprendizagem dos educadores, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

A transmissão é em parceria com o Programa Florescer, que tem a coordenação da Professora Rosângela Vital. A palestra será ministrada pela docente e pesquisadora, Mariana Arantes, da UFRPE.

##RECOMENDA##

A ação é gratuita e pode ser acessada através deste link. Além disso, os participantes receberão certificado.

Em face à pandemia do novo coronavírus, o isolamento social foi uma das medidas tomadas para combater à doença. Em meios às incertezas econômicas e sociais que o país está vivendo, trabalhadores estão com medo de perder seus empregos, e os que já perderam, não sabem o que fazer para manter a saúde mental neste momento de crise.

A psicóloga Márcia Monteiro explica que o medo de perder o emprego está no consciente da população e pode prejudicar se não houver uma busca pelo equilíbrio. “O medo de perder o emprego neste período é algo bastante real, até porque estamos passando por um momento de incertezas econômicas e sociais. Desta forma, as pessoas vão vivenciar momentos de instabilidade emocional e assim precisarão buscar um equilíbrio”, diz.

##RECOMENDA##

Juliana Maria, auxiliar de produção em um restaurante localizado no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, conta que, mesmo com a esperança de voltar a trabalhar, se sente insegura. "Nós (os funcionários) não sabemos como vai ficar a nossa situação no restaurante quando tudo isso acabar. Mesmo eles dizendo que estamos assegurados, essa situação me traz muita insegurança, medo e ansiedade", conta. O medo vem sendo uma das palavra mais utilizas neste momento de crise sanitária.

O Grupo Abril, em parceria com o instituto de pesquisas digitais Mind Miners, entrevistou 4.693 homens e mulheres de todas as regiões do país para analisar o sentimento dos brasileiros com relação ao novo coronavírus. O medo é, segundo a pesquisa, a palavra mais citada como o sentimento que mais revela o estado mental dos entrevistados.

Márcia Monteiro esclarece que as pessoas, principalmente os trabalhadores que estão em isolamento, precisam entender que cuidar da saúde mental neste período é uma necessidade básica. “Precisamos evitar o pânico para controlar as emoções e buscar agir com a razão. Não estamos vivendo a terceira guerra mundial, mas sim, lutando contra algo invisível aos olhos”, orienta a psicóloga. Ela ainda faz um alerta: “A Organização Mundial da Saúde (OMS) destacou o Brasil como um dos países mais ansiosos do mundo. Por isso, é preciso evitar o bombardeio de informações falsas”, conclui.

Qualificação em meio à crise

A Fox Human Capital, consultoria de capital humano, em um levantamento feito na primeira semana de abril de 2020, com mais de 200 lideranças da área de recursos humanos, identificou como as empresas estão negociando com seus funcionários as próximas etapas. A pesquisa revela que 38,7% das companhias não visam a demissão de funcionários em meio à pandemia do novo coronavírus e 21,4% talvez diminuam o número de funcionários. Já 23,7% ainda não tinham tomado uma decisão final.

O psicólogo clínico e organizacional Cleyson Monteiro diz que o medo de perder o emprego tem sido pauta de muitos pacientes que vão ao seu atendimento. Monteiro dá dicas aos profissionais que estão em casa: “Uma coisa significativa para os profissionais fazerem neste período de isolamento social é buscar sua qualificação, procurando destinar uma hora ou duas para fazer cursos on-line”.

O especialista explica que algumas atitudes são fundamentais para as pessoas manterem o seu equilíbrio emocional; uma delas é planejar o dia a dia. “As pessoas podem definir a hora que vão acordar, por exemplo. Além disso, cuidar da saúde física, da alimentação, buscar equilibrar a mente arrumando a casa, fazer algum exercício físico, pode ajudar.

”A psicóloga Márcia também fala da necessidade de estabelecer uma rotina para a busca do equilíbrio. “A dica é estabelecer rotinas, saber aproveitar o tempo livre para colocar os cursos on-line em dia, ler um livro, ter um momento para si, porque quando tudo isso passar, o mundo vai precisar de pessoas que estejam prontas para entrar na onda do conhecimento e do saber”, conclui a especialista.

Cleyson Monteiro ainda lista sete dicas de como as pessoa podem controlar a ansiedade e o medo neste período de pandemia. Confira.

1 - Mantenha a rotina Manter ou criar uma rotina com hábitos que melhorem suas aptidões físicas e psíquicas são importantes.

2 - Leia um livro Ler um livro pode ajudar tanto no desenvolvimento humano quanto no processo de aprendizagem e é um ótimo passa tempo.

3 - Reserve um tempo para entrar em contatos com as pessoas importantes Tire um tempo para seus primos, amigos, parentes que estão distantes. Tente encontrar e reencontrar pessoas que são importantes, mas que você não fala a um tempo.

4 - Procure interagir com a família Fazer atividades com a família pode ajudar muito. Ajudar com o dever de casa dos filhos, criar brincadeiras lúdicas que incentivam os cuidados higiênicos, pegar um caderno de desenho com as crianças e pintar, são atividades que ajudam a relaxar.

5 - Busque por uma boa alimentação Preferencialmente 6 vezes ao dia, ou seja, faça o café da manhã, um pequeno lanche, almoce com toda a família, prepare outro lanche à tarde, depois faça o jantar, e, por último, coma um lanche à noite assistindo com sua família.

6 - Durma no horário certo Procure dormir a quantidade de horas que seu corpo necessita. Se não conseguir à noite, procure durante o dia ter um momento de sono, mesmo que seja após o almoço. 1h ou uma 1h30 são o suficiente para descansar o corpo.

7 - Mantenha a regularidade do horário de trabalho Home Office Se você trabalha de 8h às 12h, ou de 13h às 17h, por exemplo, separe um ambiente confortável para focar no trabalho durante aquelas horas e desenvolver suas atividades.

"Tenho extrema ansiedade", diz Debbie Sánchez, enfermeira que cuida de pacientes com coronavírus em um hospital do Bronx, um dos distritos de Nova York mais afetados pela pandemia que matou mais de 14.400 pessoas nesta cidade em pouco mais de um mês.

"Tudo mudou na minha vida, isso é estressante", explica à AFP essa enfermeira de 57 anos, que agora trabalha 12 horas por dia e fins de semana no epicentro da crise nos Estados Unidos, tentando manter vivos os pacientes internados em terapia intensiva no Hospital Montefiore.

Ela não vê a neta, ou a mãe, há mais de um mês por medo de infectá-las. Também está preocupada em errar, pois até antes da crise trabalhava na sala de emergência e não possui treinamento em terapia intensiva. "Eu tenho problemas para dormir", confessa.

Parte das bilhões de pessoas isoladas ao redor do mundo sofre de ansiedade e depressão. Mas para os profissionais da saúde na linha de frente da batalha contra a Covid-19, que enfrentam a doença e a morte todos os dias e correm alto risco de contágio, a realidade é incrivelmente dura.

"Estes são os momentos que testam nossa resiliência", afirma Jonathan Ripp, médico que administra o programa de bem-estar interno da Rede Hospitalar Mt. Sinai em Nova York e que deixou de fazer visitas domiciliares a idosos para tratar pacientes com Covid-19 na sala de emergência.

- Meditação e tai chi -

Ripp é coautor de um estudo que busca entender as fontes de ansiedade entre o pessoal médico durante a pandemia. O trabalho foi publicado este mês no Jornal da Associação Médica Americana (JAMA).

"Enquanto lidam com as mesmas mudanças na sociedade e com fatores de estresse emocionais em todo mundo, os profissionais da saúde correm um risco maior de exposição, cargas de trabalho extremas, dilemas morais" e, às vezes, um ambiente de trabalho desconhecido, aponta o estudo das escolas de medicina de Mt. Sinai e da Universidade de Stanford.

"Teremos equipamento de proteção suficiente? Como vou trabalhar? Quem cuidará dos meus filhos? Como será trabalhar em outra unidade que eu não conheço? O que acontecerá se eu estiver com pacientes gravemente enfermos que estão morrendo?", são algumas das preocupações, de acordo com Ripp.

O Mt. Sinai tenta responder a todas as perguntas dos profissionais da saúde, fornece informações em um site, criou uma linha direta de saúde mental 24 horas, possui grupos de apoio virtual e oferece aulas de meditação, ioga e tai chi.

Profissionais de saúde mental também entram em contato proativamente com a equipe na frente de batalha para perguntar como se sentem.

- "Sinais de trauma" -

O pior dia para Heather Isola, uma assistente médica de 36 anos que chefia mais de 900 colegas nos oito grandes hospitais da rede Mt Sinai, foi quando um deles foi diagnosticado com Covid-19 e hospitalizado em estado grave.

"Eu estava exausta, e era o pico da doença, o pico [da capacidade] no hospital; nesse dia eu desmoronei. Eu tive que pedir ajuda à minha família e aos meus amigos", lembra.

"A mesma coisa se repete todos os dias, e isso é desgastante (...) Como isso nos afetará? Ansiedades, estresse pós-traumático. A experiência da morte, de morrer. A maioria dos funcionários nunca tinha visto tanta morte", diz Isola.

Pelo menos 26 funcionários de hospitais públicos de Nova York morreram de COVID-19, conforme dados oficiais divulgados na sexta-feira passada.

"É impossível não se ver refletido naquele paciente de 30 ou 40 anos que pode ser a exceção, que não tinha nenhum problema e que acabou conectado a um respirador por razões que ainda estamos tentando entender. Ver isso torna muito real e aumenta o medo e a ansiedade", acrescenta Ripp.

Para Dawn Brown, diretora da linha de atendimento da Aliança Nacional para Doenças Mentais (NAMI), "esta é uma situação realmente trágica".

"Estamos começando a ver sinais de trauma" nos profissionais de saúde, "e isso tem consequências de longo alcance", disse ela à AFP.

Sánchez tenta não consultar o Facebook e se desconectou do grupo do WhatsApp que tinha com colegas.

"É muito estresse (...) Às vezes me sinto triste e quero chorar", desabafa, incapaz de conter a emoção.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) o Brasil é o país que lidera o número de pessoas mais ansiosas do mundo e os dados concluídos, através da pesquisa realizada pela organização, mostram que 18,6 milhões de brasileiros sofrem de ansiedade. Portanto separamos quatro dicas de autocuidado para praticar sempre.

Aceite a vulnerabilidade

##RECOMENDA##

Permita-se viver o momento que não te agrada tanto. Aceitar que muitas vezes as coisas não acontecerão como planejado e que isso foge ao seu controle é o caminho para se tornar uma pessoa mais flexível quando as coisas saírem um pouco da linha.

Lembre-se da importância do lazer

O lazer é um extremo aliado na manutenção da saúde mental. Escolha ler um livro, ouvir músicas que agradam, assistir filmes ou sair com os amigos. Os momentos de descontração são pessoais e há inúmeras atividades que podem ser desenvolvidas nesse processo.

Saiba dizer não

Agradar a todos não é o melhor caminho para uma saúde mental estável, explicam as psicólogas Gabriela Lumi e Karine Santos. "Muitas vezes, na tentativa de evitarmos um conflito ou uma longa conversa, acabamos dizendo sim para tudo, seja no trabalho ou em nossa casa. Fale de uma forma assertiva o porquê de não querer fazer algo que lhe é requisitado. Lembre-se de se respeitar e se priorizar, isso não é egoísmo".

Mantenha-se no momento presente

A mente humana tende a vagar em períodos já vividos ou fantasiar coisas que possam acontecer, isso faz com que as pessoas não vivam com qualidade o momento mais importante, que é o presente. "Sempre que ficar angustiado e ansioso e sua mente ficar acelerada, concentre-se em sua respiração, ela é a âncora para estarmos no momento presente. Pergunte-se se esses pensamentos são produtivos e o levam para alguma ação concreta ou se são improdutivos e que não auxiliam na resolução de algo que esteja lhe causando incômodo", comentam Gabriela e Karine.

As consequências psíquicas do confinamento, que afeta quase 4,5 bilhões de pessoas no planeta, preocupam os profissionais da saúde mental, que pedem mais atenção para este problema.

"A prorrogação do confinamento era esperada, mas a notícia será uma decepção esmagadora para muitas pessoas", afirmou Linda Bauld, professora de Saúde Pública da Universidade de Edimburgo, após o anúncio, na quinta-feira, da extensão por mais três semanas do "lockdown" na Grã-Bretanha.

##RECOMENDA##

"Mas as consequências mais amplas do confinamento estão se acumulando rapidamente. Pesquisas recentes mostram aumentos preocupantes de ansiedade e depressão" na população em geral, completou.

A constatação se repete em todos os países submetidos a esta medida drástica, que as sociedades modernas haviam esquecido.

Na França, um consórcio de unidades de pesquisa, que inclui a Escola de Estudos Superiores em Saúde Pública, iniciou o COCONEL (ooronavírus e confinamento), um "estudo longitudinal" com mil pessoas.

Um estudo longitudinal é uma pesquisa que observa durante muitos anos o mesmo grupo de pessoas.

Ao final da segunda fase, iniciada em 8 de abril, antes do anúncio da prorrogação de outro mês de confinamento, em vigor desde 17 de março na França, "37% dos investigados apresentavam indícios de angústia psicológica", sem uma variação notável na comparação com a primeira fase publicada em março.

"A comparação com os últimos dados coletados entre a população geral em 2017 sugere uma deterioração da saúde mental durante o confinamento. Se a situação se prolongar ainda por várias semanas, isto pode provocar o surgimento de patologias psiquiátricas severas e um aumento da necessidade de receber atendimento médico quando o confinamento for concluído, situação para a qual é necessário estar preparado", alertam os coordenadores da pesquisa.

A mesma preocupação existe nos Estados Unidos, onde "mais de um terço dos americanos (36%) afirmam que o coronavírus afeta seriamente sua saúde mental", destaca a Associação Psiquiátrica Americana (APA) em uma carta enviada em 13 de abril ao Congresso.

No texto, a APA alerta para o risco de que existam "ainda mais americanos com necessidade de tratamento psiquiátrico" e pede mais investimentos para as necessidades imediatas "e para o período de recuperação", sobretudo para teleconsultas e acesso ao atendimento médico.

Na Grã-Bretanha, 24 profissionais também fizeram um "pedido de ação" na revista Lancet Psychiatry, divulgado na quinta-feira, data do anúncio da prorrogação do confinamento no país. Eles pedem, sobretudo, o reforço da vigilância do impacto psicológico gerado pela pandemia, que é maior, segundo as pesquisas, que o próprio medo de ser infectado pelo vírus.

"Isolamento social crescente, solidão, preocupação com a saúde, estresse e colapso econômico: as condições estão reunidas para abalar o bem-estar e a saúde mental", resumiu um dos signatários, Rory O'Connor, da Universidade de Glasgow, em uma conferência por telefone.

"O problema é muito importante para ser ignorado, tanto em termos humanos como de impacto social mais amplo", destacou.

De fato, os médicos "começam a ver a incidência, tanto em pacientes que já eram acompanhados como nos novos", afirma o professor Antoine Pelissolo, diretor do departamento de Psiquiatria do hospital CHU Henri-Mondor, na região de Paris. "E vamos ter outras complicações, assim como as consequências psicossociais da crise que virá depois e devem gerar, sem dúvida, angústia".

Portanto, o que está em jogo é a ajuda profissional para a saída da crise.

"O fim da estigmatização é fundamental", afirma Anne Giersch, diretora da unidade de Neuropsicologia na Universidade de Estrasburgo. "Por exemplo, há um vínculo entre o isolamento e as alucinações. Quando se apresentam certos sintomas, parece normal fazer uma consulta por um infarto, por quê não na psiquiatria?"

Por Aliny Bueno

Diante da crise instaurada pela pandemia de Covid-19, como se manter emocionalmente saudável? Além dos fatores estressantes já presentes no cotidiano das grandes cidades, agora a preocupação com a pandemia e com seus impactos podem contribuir para desencadear ou agravar transtornos psicológicos como o estresse e a ansiedade. É um momento desafiador para todos. Sair de casa envolve o risco de se infectar. Por outro lado, passar semanas em isolamento e enfrentar uma quarentena também pode causar impactos na saúde mental do indivíduo.

##RECOMENDA##

A psicóloga Alessandra Dinelli explica que a mudança repentina na rotina social e pessoal pode provocar sentimentos como medo, ansiedade e fobia. Ela esclarece que o fenômeno do isolamento social ocorre por diversas situações, podendo ser voluntário ou involuntário. “Trazendo um pouco mais para o contexto que estamos vivendo, por ser uma situação atípica, esse isolamento faz com que a gente fique mais ansioso, ocioso também, e perca um pouco da noção de pertencimento, principalmente porque se vê em um cenário onde toda a sua rotina é mudada de forma repentina e não pode fazer nada”, diz.

Adaptação: difícil porém necessária

Encontrar maneiras de se adaptar à nova rotina e não criar pânico contribui para tornar o período de quarentena menos penoso. O universitário Gustavo Laia, 20 anos, diz que sua rotina mudou completamente, pois sempre teve uma vida muito ativa. “Meus dias vêm sendo um teste. Sou muito ativo e gosto de sair com meus amigos e conviver, como qualquer outro. Estudava antes de a quarentena chegar, não é fácil, porém, necessário”, comenta.

O estudante conta que tem buscado no entretenimento uma forma de evitar pensamentos negativos, sem deixar de lado a preocupação com a atual situação: “Fico imaginando como está o mundo e o que eu poderia fazer para ajudar. Aí penso que o melhor é ficar em casa, sendo distraído pelos filmes”, reflete. Um dos fatores que prejudicam a mente é a incerteza de não saber o que vai acontecer. A adaptação a uma nova forma de viver pode complicada, especialmente para pessoas que já sofriam com algum distúrbio psicológico antes de a pandemia se instalar.

Ansiedade 

A psicóloga alerta que a mudança de rotina repentina e forçada, a que toda a população está exposta, pode provocar diversos sentimentos, principalmente de ansiedade. “As pessoas se sentem presas e, por estarem acostumadas a viver em uma rotina corrida e ativa, pensar e ficar em casa sem nada aparentemente para fazer, sem saber exatamente o que fazer e quando tudo vai acabar, aumenta muito o nível de ansiedade, pensamentos negativos, preocupações e sentimento de tédio. A rotina em casa de repente se torna algo massivo e difícil”, descreve.

Alessandra explica que o período de quarentena pode desencadear um quadro de ansiedade em pessoas que não apresentavam o distúrbio antes da epidemia. “Estamos vendo um número alarmante de pessoas com quadros de ansiedade. Tanto pessoas que já lidavam com isso quanto pessoas que nunca passaram por nada do tipo. A quarentena e toda a situação relacionada à pandemia têm gerado também um sentimento de pânico. Muitas pessoas têm apresentado crises de ansiedade e ataques de pânico também, com sintomas como falta de ar, insônia, tremores, medo constante de que algo ruim está para acontecer”, diz a psicóloga.

"Tortura"

A universitária Juliana Macedo tem 21 anos e sofre de ansiedade há quatro. Com as rotinas profissional e de estudos suspensas, ela agora passa a maior parte do dia sozinha em casa, o que considera quase “uma tortura”. “É complicado porque a ansiedade para ser amenizada exige o contato, o convívio. A ansiedade é não conseguir ficar sozinha e em silêncio”, conta.

Segundo Juliana, a abundância de tempo livre desperta nela uma sensação de desespero. “No meu caso, eu me ocupo até não poder mais, para não ficar em silêncio. Estou sendo obrigada a me ouvir”, relata.

Estratégias

Criar uma rotina com afazeres foi a estratégia adotada pelo auxiliar de escritório Bruno Oliveira, 25 anos. Ele conta que tem buscado praticar atividades que preencham o tempo, como forma de não pensar tanto na pandemia e para manter mente saudável: “O primeiro dia de quarentena foi tranquilo, assistindo ao noticiário e me mantendo informado sobre os casos. Já no segundo e no terceiro dias, a mente já pede convivência com outras pessoas. A leitura e as séries têm sido importantes para manter a mente oxigenada”, afirma.

Para Bruno, limitar a busca por notícias sobre a pandemia ajuda a manter a calma. “Acho que ao mesmo tempo em que é importante, também se torna prejudicial, porque acaba submergindo demais as pessoas no assunto e acho que isso pode causar um ‘parafuso’ na mente”, conta.

Infodemia: um mal contemporâneo

Televisão, sites de notícias, redes sociais e até grupos de Whatsapp trazem constantemente uma avalanche de informações e notícias sobre a pandemia. A abundância de informação, que a princípio poderia ser uma coisa boa, pode acabar se tornando prejudicial à saúde mental das pessoas.

O excesso de informação sobre algum assunto pode deixar as pessoas aflitas, em pânico e confusas sobre as atitudes que devem tomar. Esse fenômeno recebe o nome de infodemia, termo que mistura “informação” e “epidemia”.

Formada em Gestão de Recursos Humanos, Jéssica Dallo, de 24 anos, afirma que o intenso fluxo de informações sobre a nova doença tem prejudicado o seu discernimento quanto ao que acreditar. “As informações me afetam, pois às vezes nem é caso para tanto, mas a quantidade de informações que você absorve acaba te colocando na dúvida. Será que estou me preocupando demais? Será que estou me preocupando pouco? Será que eu já estou com o vírus e estou espalhando? São muitos ‘se’”, desabafa.

Dicas

A psicóloga Alessandra Dinelli dá algumas dicas para se cuidar durante o período de isolamento social. Estabelecer uma rotina, evitar o bombardeio de informações, utilizar a tecnologia para manter contato com as pessoas e fazer terapia online. Ela também recomenda que as pessoas aproveitem a quarentena para se dedicar a alguma atividade que gostem de fazer. “As pessoas podem começar a melhorar a qualidade da rotina durante a própria quarentena e saber a lidar melhor com ansiedade e com o tempo durante o período de quarentena”, aponta.

A morte de duas técnicas de enfermagem do Hospital Getúlio Vargas (HGV), no Recife, pela Covid-19 tem apavorado a categoria. Profissionais da linha de frente têm convivido com o estresse e o adoecimento mental enquanto o número de casos do novo coronavírus continua a subir em Pernambuco. 

Mônica Nascimento, de 49 anos, é técnica de enfermagem do HGV. Era amiga há mais de 25 anos de Ana Cristina Tomé, uma das técnicas que faleceram no último sábado (4) e cujo diagnóstico do novo coronavírus foi confirmado nesta segunda-feira (6). Mônica está de licença, mas se preocupa com o retorno ao trabalho. “Estou sem condições psicológicas nenhuma de trabalhar. A morte da minha amiga me abalou muito”, conta.

##RECOMENDA##

Quem também está de licença é Elisângela Patrícia Ferreira, técnica de enfermagem do Hospital da Restauração (HR), no centro do Recife, que foi diagnosticada com transtorno depressivo, transtorno de pânico e estresse. Ela diz que seu quadro de saúde  se agravou após descobrir que teria apenas três máscaras para trabalhar 12 horas. "Cheguei no plantão e encontrei minha colega desesperada chorando porque agora seriam só três máscaras. Fui conversar com a chefe do setor, falar do desespero da colega, que eu não tinha condições de trabalhar daquele jeito, mas ela disse que não podia fazer nada.” Elisângela é mãe de um menino de 11 anos com cardiopatia e teme levar a doença para casa. Mesmo relatando a condição do seu filho, ela não conseguiu nem ao menos ser transferida para um setor mais tranquilo do hospital. “Meu desespero foi tão grande que eu não conseguia assimilar as coisas direito. Fui procurar um médico para conseguir um laudo e pedi no telefone que o rapaz do consultório digitasse  o endereço porque as palavras não estavam se juntando na minha cabeça”, diz. 

Elisângela recebeu um laudo liberando ela do trabalho por 45 dias. "Eu estou em isolamento por amor ao meu filho. Se eu morrer ele vai ficar com quem? A chefe do setor disse que pode chegar o momento de não ter máscara para se proteger e a gente ter que ir mesmo assim. Ela disse que estamos numa guerra. Eu disse a ela 'numa guerra o soldado não vai desarmado'.”

A reclamação de racionamento de EPIs é geral na categoria. Viviane Paula, que é representante dos técnicos de enfermagem e profissional do HGV, diz que a categoria tem recebido apenas duas máscaras por plantão na unidade. “Meu plantão seria ontem à noite [domingo], mas não tive condições de trabalhar. Eu fiquei com palpitação. Estava muito agoniada. Não teria condições de me responsabilizar pelos pacientes e isso está acontecendo com várias pessoas”, diz.

A técnica de enfermagem Renata Marques era do mesmo setor de Ana Cristina Tomé no HGV. “O clima no hospital é de tensão. Todas nós estamos com medo. São quatro noites que não durmo”, comenta. Renata diz que não tem tirado a máscara nem no seu horário de repouso por medo de ser infectada. 

O secretário de Saúde de Pernambuco, André Longo, destacou na tarde desta segunda-feira (6) que os hospitais contam com núcleos de apoio psicossocial e que o governo vai garantir o afastamento daqueles profissionais que adoecerem durante o período. Questionado sobre as denúncias de baixo repasse de material, ele negou que estejam sendo entregues só duas máscaras por plantão. Segundo o secretário, o funcionário pode pegar quatro desses itens. 

Longo afirmou que Pernambuco tem conseguido fazer aquisição dos insumos médicos e que mais de 1,2 milhão de itens como máscara, luva e capote foram enviados para 52 unidades da rede de saúde. Na última semana, foram recebidas 150 mil unidades de máscaras N95. Dessas, 50 mil estão sendo distribuídas hoje. Mais um milhão desse tipo de máscara foi adquirido pelo Estado, que aguarda a entrega pelo fornecedor, e outras 80 mil chegarão por meio da Justiça Federal. "Elas desempenhavam suas funções com louvor", disse o secretário sobre as técnicas do HGV que faleceram.

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) criou, no último mês, uma Rede de Apoio e Acolhimento em Saúde Mental para profissionais da unidade hospitalar que estão atuando no enfrentamento ao novo coronavírus. Serão oferecidos atendimentos psicológico e psiquiátrico, além de práticas integrativas e complementares em saúde, como sessões de reiki, biomagnetismo, entre outras. Nem a Secretaria Estadual de Saúde e nem a Secretaria de Saúde do Recife informaram ter projeto semelhante.

Na tentativa de conter a epidemia do coronavírus (Covid-19), médicos e especialistas orientam as pessoas a não saírem de suas casas para evitar contatos físicos. Apesar de necessário, o atual estado de quarentena pode afetar a saúde psicológica de muitas pessoas.

A educadora física Kaline Pessoa, 26 anos, conta que a mudança de rotina, como não poder ir trabalhar ou frequentar a academia, é o que mais tem impactado sua ansiedade. "Para manter a mente ocupada tenho feito cursos a distância e utilizado aplicativos que me auxiliam em atividades físicas. Estou tentando fazer o que eu sempre fiz, porém adaptado".

##RECOMENDA##

Segundo a coordenadora do curso de Psicologia na Universidade Guarulhos (UNG), Sílvia Maia, pessoas que sofrem com o transtorno da ansiedade precisam buscar atividades que lhe causem prazer. "Além dessas tarefas, também praticar exercícios físicos em casa e criar canais virtuais de comunicação com amigos. Desenvolver novos hábitos de entretenimento evita que o desconforto e o desamparo os abatam emocionalmente", afirma.

Pessoas com depressão e ansiedade estão mais sujeitas ter crises. "Quem tem diagnosticado quadros de depressão e transtorno de ansiedade não deve, neste momento, ter ou buscar muitas informações intensificadas sobre o coronavírus", orienta a psicóloga.

De acordo com Sílvia, durante o isolamento social, os que já são diagnosticados com transtornos depressivos ou de ansiedade podem procurar por atendimentos online, por serem altamente eficazes e por auxiliarem a minimizar os quadros de desorganização psíquica, sejam moderadas ou severas.

"O ser humano é o único com a capacidade de adaptação. Somos dotados de inteligência, sabemos que a situação é temporária e prima por um objetivo maior. É importante garantir uma melhor saúde e equilíbrio emocional", conclui Sílvia.

A pandemia do coronavírus tem colocado boa parte do mundo em quarentena. Por ter um alto nível de transmissão, o isolamento social se faz primordial para a contingência do vírus e ficar dentro de casa  tem sido a recomendação maior dos órgãos de saúde. No entanto, o isolamento pode ter consequências sérias, não só na economia mas, também na saúde emocional. Atentos a esse problema, profissionais de psicologia estão reforçando orientações e atendimentos, ainda que à distância, para manter a saúde mental da população em dia. 

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o Brasil é o país mais ansioso do mundo. Em pesquisa recente, identificou-se uma verdadeira epidemia de ansiedade em solo nacional com 18,6 milhões de brasileiros convivendo com tal transtorno. Esse número pode aumentar diante de uma crise como a do coronavírus, como explica a psicóloga clínica e hospitalar, Eliane Lima: "A saúde mental (das pessoas) já está sendo afetada com essa pandemia porque somos seres sociais, naturalmente somos programados para viver com os outros, não isolados. Então, quando se impõe um isolamento, mesmo que seja como uma forma de prevenção, a tendência é a gente burlar isso". 

##RECOMENDA##

Diante da orientação de restringir o convívio social, os atendimentos psicológico online surgem como uma solução para pacientes e médicos. Essa modalidade de acompanhamento já é praticada por profissionais da área, para pessoas com algum tipo de dificuldade de locomoção ou outras condições que as impossibilite de ir até um consultório. Para aumentar a possibilidade desses atendimentos, em tempos de quarentena, o Conselho federal de Psicologia autorizou as consultas online dispensando, nos meses de março e abril, o cadastro no e-Psi - plataforma  para psicólogos que atendem à distância. 

Segundo Eliane, uma situação de crise como a atual pode desencadear o  aumento da ansiedade agravando os sintomas de quem já convive com o transtorno e levando pessoas que nunca sofreram com esse tipo de problema a desenvolvê-lo. Ela ratifica a importância de se procurar um acompanhamento profissional e evitar a automedicação com antidepressivos e ansiolíticos. "Um psicólogo pode ajudar a atravessar esse momento de crise sem precisar se apoiar em meios artificiais. Existem muitos profissionais que estão oferecendo atendimento online".

Algumas plataformas de atendimento psicológico à distância também estão intensificando seus serviços. O site A Chave da Questão está disponibilizando atendimento gratuito para assinantes e não assinantes. A página oferece orientação online, grupos públicos e privados de discussão e acesso direto aos 11 profissionais da área cadastrados. Para solicitar atendimento é preciso fazer uma inscrição prévia. Um outro canal, o Vittude, também está oferecendo orientações, atendimento remoto e um ‘Diário da Quarentena’ com conteúdos sobre saúde emocional e bem-estar. 

Além disso, há outras alternativas para cuidar da saúde mental mesmo confinado em casa, como indica a psicóloga Eliane. "Há uma enxurrada de informações durante o dia inteiro, é preciso tomar cuidado com as fake news, é muito danoso para saúde mental você ficar propagando fake news. Então, é bom dar um tempo nas notícias, não é preciso passar o dia inteiro exposto a elas. Também não faz bem você ficar disseminando negativismo em cima das notícias. Se a gente está numa pandemia, todo mundo está sendo afetado e com medo, propagar o medo é péssimo. O legal de se fazer é você fazer uma live com seus amigos, pela internet, ligar para alguém, conversar. Dentro de casa fazer coisas que você gosta, como cozinhar, fazer cursos online que estão sendo disponibilizados. Fazer coisas que lhe façam bem e não achar que a todo custo vai pegar o novo coronavírus. Eu acredito que em quanto mais a gente fizer isso mais em breve a gente vai ter superado juntos essa situação".  

Profissionais da saúde

Na linha de frente do combate à pandemia do Covid-19, os profissionais da área da saúde também precisam redobrar a atenção em relação à sua saúde emocional. Médicos, técnicos de enfermagem enfermeiros, psicólogos e assistentes sociais, que não podem se isolar, devem buscar apoio nesse momento. "Existe uma rede de atendimento online a esses profissionais pelo SUS e é muito importante", diz Eliane. 

A campanha Janeiro Branco, que marca o primeiro mês do ano com ações para promover a saúde mental humana, teve divulgação maciça em diversos canais midiáticos. Seguindo o caminho de outras ações de sucesso, como Outubro Rosa e Novembro Azul, a iniciativa conscientiza a população sobre a importância dos cuidados com o equilíbrio psicológico e permite o acesso ao acompanhamento clínico que pode salvar vidas.

No Brasil, um levantamento da plataforma on-line Vittude, atuante no ramo da saúde mental, aponta que 86% da população sofre com algum tipo de transtorno como ansiedade e depressão. Com o baixo poder aquisitivo da maioria do povo brasileiro, muitos acabam deixando de lado a preocupação com o tratamento psicológico. Sabendo que esta escolha pode ser fundamental para a continuidade de uma vida sem transtornos, algumas instituições da capital paulista e da região metropolitana oferecem acompanhamento gratuito ou a preços simbólicos para pessoas de baixa renda em vários pontos da cidade.

##RECOMENDA##

Confira:

Clínica de Psicologia da Universidade Guarulhos (UNG)

Endereço: Rua Dr. Nilo Peçanha, 47, Centro, Guarulhos - SP

Telefone: (11) 2464-1676

Atendimento de segunda a sexta-feira das 8h10 às 21h10.

Para se inscrever, é necessário comparecer ao Campus Centro da UNG. Para saber em quais datas o atendimento estará disponível, entre em contato pelo telefone.

 

Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP)

Av. Prof. Mello Moraes, 1.721, Bloco D, Cidade Universitária

Telefones: (11) 3091-8248 / 3091-8223

E-mail: clinica@usp.br

As vagas para triagens são abertas de acordo com a disponibilidade da clínica, que varia nos diferentes períodos do ano.

 

Pontifícia Universidade Católica (PUC)

Rua Almirante Pereira Guimarães, 150, Pacaembu

Telefone: (11) 3862-6070

Atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 20h

É necessário entrar em contato pelo telefone para agendar a triagem.

 

Clínica Social Casa 1

Endereço: Rua Condessa de São Joaquim, 277, Bela Vista

Voltado para a população LGTBQI+, a Casa 1 tem atendimento gratuito em datas estabelecidas de maneira prévia. O local também oferece acompanhamento a um custo considerado acessível. Mais informações pelo centrocasaum@gmail.com.

 

Universidade Ibirapuera (UNIB)

Endereço: Avenida Interlagos, 1.329, Chácara Flora

Telefone: (11) 5694-7961

Atendimento de segunda a sexta-feira, das 13h às 21h, e aos sábados, das 8h às 13h

 

Universidade Nove de Julho (Uninove) Campus Vergueiro

Endereço: Rua Vergueiro, 235, Liberdade

Telefone: (11) 2633-9000

A clínica de Psicologia atende às segundas-feiras (8h até às 17h30) e aos sábados (8h até às 11h30), com agendamento prévio. Para se inscrever, é necessário comparecer ao campus para realizar a triagem. A seleção acontece nos mesmos dias de atendimento segundas-feiras (das 9h até às 18h) e sábados (das 8h até às 12h).

 

Universidade Paulista (Unip)

Endereço: Rua Apeninos, 267, Vergueiro

Telefones: (11) 3341-4250 / 3347-1000

Atendimento de segunda a sexta-feira, das 7h até às 19h

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando