Até o fim deste ano, um banco de dados será atualizado praticamente em tempo real no site do Banco Central com todas as informações do crédito rural brasileiro. Além de dar mais transparência ao setor, o "Big Brother do financiamento agrícola" deve ajudar bancos e governos a reduzir riscos e custos das operações de empréstimos e nas renegociação das dívidas.
Toda e qualquer operação de crédito rural será registrada nesse sistema pelo banco que fechar o negócio, independentemente da fonte de recurso ou da característica: se é financiamento externo, do governo, com equalização, da fatia da exigibilidade, do BNDES ou da poupança rural, para agricultura empresarial ou familiar, entre outras.
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Assim, cada informação que chegar ao sistema do BC será repassada na hora para a planilha na internet e os dados serão atualizados automaticamente para os interessados, como já ocorre com o conhecido "impostômetro", que calcula a quantidade de impostos pagos pelo contribuinte diariamente. O banco é obrigado a incluir as informações no dia que fecha a contratação do empréstimo, segundo o chefe do Departamento do Crédito Rural do BC, Deoclécio Pereira de Souza.
Cada operação de empréstimo agrícola pode gerar até 55 itens de informação, como valor, data, banco que promoveu o empréstimo, destinação, produto e dados da área de plantio. "Serão milhões de possibilidades de cruzamentos diferentes", prevê Souza. Por questões de sigilo, o contratante não é identificado.
O BC passou a compilar essas informações para uso próprio em janeiro de 2013. Quando é demandado internamente ou por órgãos do governo, passa relatórios aos interessados. "Já conseguimos direcionar a supervisão para este ou aquele ambiente de acordo com os dados", explica.
Com informação de mais qualidade e mais atualizada, qualquer interessado poderá buscar o que necessita nesse banco de dados direto no site. "Um prefeito de uma cidade com vocação agrícola, por exemplo, poderá saber quanto o município obtém de crédito rural".
Coordenadas
O "pulo do gato" do projeto é a informação que os produtores darão sobre as coordenadas geodésicas de suas propriedades (longitude, latitude e altitude da área de cultivo), que, atualmente é facultativa. "Esta é uma informação de extrema qualidade. E é também a primeira ação mitigadora de risco do banco. Ele vai financiar uma área que sabe exatamente qual o tamanho", considera Deoclécio Souza.
Essa informação passará a ser um redutor de custo para o governo também, já que o Estado oferece benefícios ao agricultor, como subvenção e equalização, por exemplo. "Isso se dará em cima de uma área real", diz. Dados desencontrados hoje são muito comuns, e não necessariamente por má-fé do produtor, mas por falta de estímulo para que busque os limites de suas propriedades de forma exata.
Por isso, já há incentivos para precisar melhor essas informações. O governo decidiu que a cada 100 operações que estejam com as coordenadas estabelecidas, a fiscalização in loco só precisará ocorrer em 30% dos casos, o que já reduz o custo para os bancos. Vale lembrar que toda e qualquer operação de crédito está sujeita a fiscalização direta pelos bancos, mas hoje a obrigatoriedade de ir até o local pessoalmente é apenas para os casos em que um CPF tenha mais de R$ 300 mil de financiamento. "Um banco X, que quer melhorar a performance de risco e quer reduzir seu custo operacional, que é de fiscalização, pode decidir só trabalhar com produtores de R$ 300 mil para cima, se eles me fornecerem as coordenadas", ilustrou.
As coordenadas geodésicas também poderão reduzir os custos do seguro rural, conforme o técnico, já que uma instituição pode hoje conceder seguro para uma área que tem 100 mil hectares, quando, na realidade, só possui 90 mil hectares. "Isso dá uma propensão a prejuízo."