A prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, anunciou a transferência do feriado do Dia dos Professores, comemorado no próximo sábado (15), para a próxima segunda-feira (17).
De acordo com a nota publicada pela Prefeitura, a decisão foi tomada em comum acordo com a Secretaria de Educação do município e os 1.800 professores que compõem o quadro educacional da cidade.
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O calendário de todas as 73 escolas do município volta ao normal na terça-feira (18).
Preparar materiais, pesquisar, gravar aulas, corrigir provas e organizar os conteúdos são apenas uma parte da jornada de trabalho dos professores. Trabalhadores essenciais durante a pandemia do novo coronavírus, os docentes não tiveram as atividades interrompidas. No período mais crítico da Covid-19 no Brasil, as aulas presenciais foram suspensas e a sala de casa ou o quarto dos docentes se transformou em espaço de ensino. Os desafios passaram a ser outros.
Os profissionais da ducação conviveram, além dos baixos salários e da falta de reconhecimento, com o excesso de carga horária, dificuldade para o uso de plataformas digitais que os auxiliavam a ministrar aulas remotas e com preocupação, quase que constante, de perder o emprego. Tudo isso somado às incertezas geradas pela crise sanitária causou impactos na saúde mental dos docentes.
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Lecionando há nove anos e dividindo os dias entre duas instituições de ensino da rede pública e privada, do ensino fundamental 2, além das demanadas pessoas, Arline Vasconcelos iniciou nas aulas remostas em maio de 2020. Diferente de boa partes dos educadores, Arline já tinha familiaridade com as plataformas utilizadas pelas escolas. No entanto, a sobrecarga não diminuiu por isso.
"A demanda de atividades e criações de conteúdos atrativos, além do isolamento, tornaram o trabalho exaustivo. Comecei a sentir [a sobrecarga] no segundo semestre, quando acontecem as conclusões do ano letivo", conta.
Ao LeiaJá, a professora fala sobre os fatores que contribuíram para o desgaste mental neste período. "Incertezas sobre o futuro, preocupações com a saúde dos meus pais, preocupação com o desenvolvimento dos conteúdos, levaram que eu desenvolvesse crises de ansiedade fortes", relata. A profissional precisou buscar acompanhamento especializado e contar com o apoio de familiares para seguir.
Home office não é sinônimo de redução de carga horária
O argumento de que trabalhando em home office os professores e professoras desempenhavam as funções com horários flexíveis e com jornada reduzida é falacioso. As demandas, principalmente para as mulheres, aumentaram, como observa a coordenadora geral do Sindicato Municipal dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (Simpere), Cláudia Ribeiro, em entrevista ao LeiaJá.
“A educação básica dos anos iniciais é composta majoritariamente por mulheres. Portanto, ao terem que transformar a casa em sala de aula, acumularam no mesmo ambiente o trabalho e as atividades domésticas e cuidado com os próprios filhos e idosos que estivessem sob sua responsabilidade", afirma.
De acordo com dados colhidos pelo Grupo de Estudos sobre Políticas Educacionais e Trabalho Docente (Gestrado), vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), houve aumento das horas de trabalho durante o ensino remoto tanto em instituições do setor privado quanto público. Confira os gráficos:
Valores de acordo com a pesquisa do Gestadro (UFMG). Arte: Elaine Guimarães/LeiaJáImagens
Valores de acordo com a pesquisa do Gestadro (UFMG). Arte: Elaine Guimarães/LeiaJáImagens
Sobrecarga e falta de apoio
Em frente à tela do notebook ou do celular, os alunos acompanhavam os conteúdos e os esforços dos educadores para que o distanciamento social não afetasse o processo de aprendizagem. As preocupações dos docentes não estavam apenas restritas ao quesito conteudístico, como pontua o professor do Programa de Pós-Graduação em Estado e Sociedade da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) e pesquisador do Gestrado (UFMG), Gustavo Gonçalves: “Os professores viam seus alunos em situação de risco: trabalho infantil, violência, gravidez na adolescência, transtornos mentais. Isso também refletia nos docentes.”
"Os desgastes físico e, sobretudo, mental desses profissionais, são reflexo da angústia diante de uma possível perda de familiares, retorno ao presencial sem a vacinação contra a Covid-19, ausência ou baixa interação do alunos durante as aulas remotas, gravação de vídeo, envio de atividade, registro das atividades e retorno dos alunos, preenchimento de frequência. Tudo isso de forma remota, com poucos recursos e estrutura”, salienta Cláudia.
Partindo da mesma premissa, Gustavo Gonçalves menciona que o desgaste ocorreu de forma acelerada porque "os professores e professoras foram solicitados a mudar rapidamente sua forma de trabalhar, muitos, sem recursos necessários e também contando com pouco apoio de colegas, que também estavam isolados, e apoio institucional". "Muitos professores se queixaram de passar a utilizar seus próprios aparelhos de comunicação pessoal para fazer o trabalho da escola, quando o correto seria o trabalhador contar com o fornecimento de seu instrumento de trabalho", expõe.
O momento também é de reflexão e mudança
Com a retomada das aulas presenciais em diversos Estados e a vacinação contra a Covid-19 avançando, os questinamentos por parte dos docentes passam a ser outros. "Muito se fala sobre condições de biossegurança nas escolas para que o retorno seja de fato seguro", aponta Gonçalves.
De acordo com o pesquisador do Gestrado (UFMG), "os impactos negativos na saúde mental, que de fato ocorreram de modo pontual, abrem um processo de reflexão sobre as situações escolares no período pandêmico que é muito maior e poderia trazer mudanças na organização do trabalho escolar no médio prazo", explica.
E analisa: "Esse processo poderia ser positivo na medida em que incorporasse o aprendizado recente, fosse apropriado pelos sindicatos e coletivos e compartilhado entre os pares, sendo também reconhecido pela sociedade, criando a base para novas estratégias de planejamento que considerassem a jornada de trabalho real dos professores e também os riscos derivados das situações de vulnerabilidade próprias dos alunos".
O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicou um um mapa do perfil profissional dos professores do Brasil. Os dados fazem parte do Censo Escolar 2020 e do Censo da Educação Superior 2019.
Segundo o levantamento, o ensino básico concentra a maior parcela dos profissionais, cerca de 63%, o que significa 1.378.812 docentes. Desse total, 85% possuem o ensino superior completo. No comparativo entre 2016 e 2020, o número de pós-graduados foi de 34,6% para 43,4%. O percentual também aumentou no que diz respeito à formação continuada, partindo de 33,3%, em 2016, para 39,9%, em 2020.
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O número de graduados também subiu em todas as etapas da educação básica (infantil, fundamental e médio). O ensino médio se destaca por ter o maior percentual de docentes com nível superior completo, dos números apresentados o total de profissionais nessa etapa é de 505.782 que atuaram nessa etapa, em 2020, o que representa um quantitativo de 97,1% docente com graduação. Nessa etapa, 89,6% possuem licenciatura e 7,4%, bacharelado. Apenas 2,9% têm formação de nível médio ou inferior.
Vínculo
O Censo Escolar 2020 também revela que os professores seguem trabalhando em uma mesma escola por mais tempo. O Indicador de Regularidade do Docente (IRD), que avalia a permanência destes profissionais no mesmo ambiente de trabalho, apresentou um avanço em relação a 2019. O percentual de escolas na faixa média-alta do indicador passou de 42,6%, em 2019, para 45,8%, em 2020.
Também foi observado um aumento na faixa alta: de 10,1%, em 2019, para 13,1%, em 2020. As escolas privadas representam o maior percentual nessa faixa em comparação com as outras redes de ensino. O percentual de escolas da rede privada na faixa alta do IRD foi de 16%, em 2019, para 20,4%, em 2020. Já na rede pública, o percentual nessa mesma faixa passou de 8,6% para 11,3%.
Mudança de ambiente
Na Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis) 2018, os professores dos anos finais do ensino fundamental foram perguntados se gostariam de mudar para uma nova escola, caso fosse possível. Destes, 13% afirmaram que sim. O percentual é considerado positivo e está abaixo da média dos países participantes da Talis (21%), além de figurar como um dos mais baixos entre os países latino-americanos. Somente na Cidade Autônoma de Buenos Aires, foi constatado um percentual ainda menor (12%). Em países como Colômbia e Chile, o percentual é de 25%. Já no México, o índice foi de 27%.
Entre os professores brasileiros do ensino médio, a manifestação por uma possível mudança de local de trabalho também é considerada baixa. O percentual do Brasil (14%) se iguala ao da Dinamarca. Ambos estão bem distantes de Taiwan, que apresentou o maior percentual de professores que mudariam de escola, caso fosse viável (42%).
O Relatório Nacional da Talis 2018 ainda traz informações sobre os tipos de contrato de trabalho dos professores — o que retrata as condições de estabilidade na profissão. Disponível no portal do Inep, o documento mostra que o percentual de docentes brasileiros nos anos finais do ensino fundamental com contrato por tempo indeterminado chega a 79%. O percentual está próximo da Média Talis (80%) e supera os percentuais de todos os outros países/economias latino-americanos participantes da pesquisa: Chile (62%), México (72%), Cidade Autônoma de Buenos Aires (72%) e Colômbia (76%).
O Brasil é um dos 48 países/economias que participaram da mais recente edição da Talis, realizada entre 2017 e 2018. No País, responderam à pesquisa 2.447 professores e 185 diretores de escolas dos anos finais do ensino fundamental (6º ao 9º ano), além de 2.828 docentes e 186 diretores de escolas do ensino médio, das redes pública e privada.
A Talis tem sido aplicada a cada cinco anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Os dados revelados pelo estudo são comparáveis internacionalmente e refletem questões relacionadas à aprendizagem e às condições de trabalho de professores e diretores em diversos países. As informações são apuradas por meio de questionários que, no Brasil, são aplicados pelo Inep, em parceria com as secretarias estaduais de Educação.
Na educação superior, 54,3% dos professores que atuam no setor são vinculados a instituições privadas e 45,7%, ao sistema público de ensino. Quanto à qualificação, o Censo da Educação Superior 2019 mostra que 37,5% (144.874) dos docentes possuem mestrado e 45,9% (177.017), doutorado. Nesse sentido, os dados da pesquisa refletem a superação da meta 13 do PNE, já que a diretriz estabeleceu o objetivo de ampliar a proporção de mestres e doutores do corpo docente em exercício para 75%, sendo, do total, no mínimo, 35% doutores.
Nos cursos de licenciatura, 59,9% dos professores têm doutorado. Já nos bacharelados e superiores em tecnologia, 55,1% e 31,9% dos docentes são doutores, respectivamente. O censo também mostra que a maioria dos professores de cursos presenciais é composta por profissionais com doutorado. Já na modalidade a distância (EaD), a maior parte é de mestres. Nos presenciais, 88,2% dos docentes possuem mestrado ou doutorado. Em contraponto, nos cursos à distância, esse percentual é de 89,1%.
Toda pessoa que se preze guarda dentro de si alguns ensinamentos obtidos em sala de aula. Seja durante a infância ou na fase adulta, o aluno carrega na sua bagagem educacional a admiração por aquele professor que sempre fez de tudo para que os estudos ocupassem o primeiro lugar, em qualquer circunstância. Na TV e no cinema, a dedicação dos docentes se mistura com a realidade.
Estrelando grandes produções, os atores que interpretam educadores acabam conquistando o público pelo fato de resgatarem uma certa nostalgia escolar. Para celebrar o Dia dos Professores, nesta quinta-feira (15), o LeiaJá relembra cinco mestres do ensino que movimentaram a história da ficção.
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Professor Raimundo
Na Globo, a Escolinha do Professor Raimundo continua encantando os telespectadores. Antes interpretado por Chico Anysio, e hoje defendido por Bruno Mazzeo, o personagem Raimundo Nonato leva os telespectadores às gargalhadas quando aparece educando os seus alunos com humor. Mesmo com o salário baixo, professor Raimundo não desiste de explorar o ensino.
Professora Helena
Quem assistia ao SBT na década de 1990, mais precisamente o público infantil, fazia de tudo para não perder a novela Carrossel. A trama mexicana abordava o amor que a professora Helena tinha pela educação. Lidando com os dramas e as aventuras de cada aluno, a personagem interpretada pela atriz Gabriela Rivero prendia a atenção da criançada com sua doçura em sala de aula.
Professor Girafales
Assim como Carrossel, o seriado Chaves fez um tremendo sucesso no Brasil. Entre os destaques da produção do México, idealizada por Roberto Gómez Bolaños, professor Girafales era uma peça fundamental para a história. Dedicado, Girafales não desistia dos seus alunos, mesmo que a sua paciência fosse testada sem dó e piedade.
Senhorita Honey
O filme Matilda, de 1996, continua até hoje no imaginário das pessoas. A pequena Matilda não tinha o carinho dos pais, mas encontrou na senhorita Honey um lugar de aconchego. Estudando na escola da diretora Trunchbull, a personagem surpreendia a professora pela sua inteligência e poderes mágicos. A senhorita Honey lutava por um ensino melhor, mesmo deixando a malvada Trunchbull irritada.
Minerva Mcgonagall
É impossível relembrar os filmes Harry Potter e não comentar a intensidade de Minerva Mcgonagall. A professora de transfiguração era bem rígida, mas mesmo assim ajudava Harry em atividades que não eram muito de acordo com as regras de Hogwarts.
Salas de aula cheias, estudantes atentos aos conteúdos, dinâmicas de classe e outras atividades há meses não são mais realidade na vida dos estudantes e professores brasileiros. Mas isso não significa que a rotina, sobretudo dos docentes, está mais tranquila. Muitas escolas adaptaram seu modelo de ensino ao remoto e, hoje, eles precisam dar conta do cronograma de aulas de uma forma totalmente nova, em meio ao crítico cenário da pandemia do novo coronavírus.
O Brasil, segundo o Censo Escolar da Educação Básica 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), abriga mais de 2,5 milhões de professores. A maior parte deles está ensinando na educação básica - mais ou menos 2,2 milhões -, enquanto o restante encontra-se no ensino superior.
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A maioria dos docentes tem entre 30 e 39 anos. As mulheres, por sua vez, ocupam 70% da categoria. As estatísticas mostram apenas números daqueles que são fundamentais na vida e na construção profissional - e até mesmo pessoal - de qualquer pessoa.
Os docentes são os que acolhem dúvidas, esclarecem, ensinam e, por muitas vezes, atuam junto à família no processo de construção do ser humano. Mesmo assim, a categoria reclama constantemente do sucateamento da profissão. No Japão, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor. Isso se explica pelo fato de que os japoneses acreditam que onde não há docentes, não podem haver imperadores. Mesmo não sendo uma sabedoria brasileira, o costume oriental mostra muito do valor desses profissionais da educação.
Seria uma bela realidade para o Brasil, mas existe um abismo cultural que, de certa forma, tolhe a valorização desses profissionais. Com a retomada gradual das aulas nos estados brasileiros, muitos professores decretaram greves na categoria e se posicionam ainda contra as medidas de volta às aulas, garantindo que o convívio contínuo pode fazer com que os próprios docentes, assim como os estudantes, sejam contaminados pela Covid-19.
Por isso, o Dia dos Professores, comemorado nesta quinta-feira (15), em todo o Brasil, tem um gosto diferente dos demais. Ante os desafios impostos pelos efeitos da Covid-19, os educadores, acostumados a propagar conhecimento, agora tiveram que enfrentar mudanças e abraçar aprendizados para se adequarem ao novo modelo do mercado educacional.
E para marcar a data, o LeiaJá publicao especial “Lições", que busca retratar os aprendizados, as diversas formas de empenho, trabalho, dificuldades e até mesmo as alegrias vividas por esses profissionais tão importantes e que marcam a vida de tantas pessoas, durante a pandemia do novo coronavírus. Confira todas as reportagens:
Ensinar não é um trabalho fácil. Afinal, professores são responsáveis pela base da educação e conseguem, por meio disso, transformar pessoas, criar momentos inesquecíveis e, até mesmo, tornar sonhos ‘impossíveis’ em realidade. Inspirado em histórias que têm a educação como fonte, o LeiaJá conversou com a docente em matemática, Débora Meneghetti, de 67 anos, moradora do bairro do Parnamirim, Zona Norte do Recife, que conta as lições que aprendeu durante toda sua trajetória, principalmente neste período pandêmico. Ela expressa, por meio da alegria de ser quem é, o prazer de ser, essencialmente, uma educadora.
“Eu sempre fui muito boa em matemática, sempre tirei boas notas e assim cheguei à faculdade. Dou aula há mais de 40 anos e já passei por diversas escolas do Brasil. Eu realmente adoro o que faço”, diz.
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História
Vida escolar de Débora registrada em fotos antigas. Foto: Cortesia
Entre um sorriso e um mar de memórias, a educadora relembra, na entrevista, o momento da infância que se sentiu uma pequena professora. “Eu nunca pensei em ser outra coisa desde muito nova, visto que, à medida em que fui sendo alfabetizada, fui ensinando a moça que trabalhava na casa da minha mãe, a Valdeia. Eu ensinava ela a escrever e a fazer cálculos”, conta. Ela ainda recorda como ministrou suas primeiras aulas. “No muro da área de serviço, que era de cimento batido, eu molhava o giz para ele poder escrever e ali passava as tarefinhas. Isso, na verdade, já era a professora que existia dentro de mim”, relata.
Para conseguir ensinar, a pequena Débora sabia que não poderia se manter desatualizada em relação aos conteúdos e se esforçava para tirar boas notas, afinal, ela tinha sua primeira aluna, a Valdeia. E entre vários professores que a marcaram e lhe serviram como exemplos, ela resgata nas memórias uma lição que aprendeu na infância com dois docentes didaticamente diferentes. “Eu tive uma professora, por exemplo, que quando tinha um feriadão, passava muita tarefa e dizia que era para nós não esquecermos dela. Aquilo me dava uma raiva e eu pensava: ‘Meu Deus do céu, quando eu vou poder descansar um bocadinho, vem essa mulher e passa esse monte de exercícios’. Daí eu também pensava assim: 'Eu nunca vou fazer isso porque eu não quero que meus alunos sintam o que eu estou sentindo em relação à ela'. Depois disso, eu tive um outro professor que não assustava a gente com o título do conteúdo, ele explicava tudo e quando acabava dizia assim: 'Vocês acabaram de aprender equação do segundo grau', isso para a gente não se assustar antes de aprender”, conta.
Feedback
Recentemente, Débora precisou dar uma aula por meio de recursos tecnológicos. No entanto, inicialmente, sentiu algumas dificuldades, o que a levou a chorar durante uma aula remota. Depois da repercussão que causou uma onda de solidariedade nas redes sociais, logo após uma de suas alunas publicar seu caso, Débora Meneghetti, que ensina no colégio GGE, localizado em Boa Viagem, Zona Sul de Recife, descreve a chuva de carinhos que começou a receber pela internet, principalmente de ex-alunos.
“Eu me senti muito acarinhada por todos, principalmente pelos alunos que, sinceramente, são a parte que mais me interessa. Mas eu recebi carinho de ex-alunos que me procuraram através das redes sociais de várias maneiras e ainda satisfeitos por eu estar dando aulas, dizendo: 'Ah, você foi a melhor professora que eu tive'. E pelos meus colegas de trabalho que também me ofereceram muita ajuda”, comenta.
Após receber todo o apoio, a educadora, que está ministrando aulas remotamente devido à pandemia do novo coronavírus, fala que aprendeu outra lição nesse processo, uma lição que ela pretende levar profissionalmente adiante. “A primeira coisa que eu observei foi o ritmo das aulas; como eu não estou vendo a expressão dos alunos, parto do princípio que ninguém está entendendo nada, por isso estou falando mais lentamente, porque agora eu só tenho como recurso a minha voz e a imagem que estou disponibilizando. Eu estou usando isso e pretendo manter quando nós voltarmos para as aulas presenciais. Quero manter esse ritmo mais lento porque o resultado é melhor e atende a uma gama maior de alunos. Fora que eu estou achando o máximo dar aulas on-line”, explica.
Ela ainda comemora o resultado da didática que aprendeu neste período. “Eu recebi um feedback da coordenação falando que os alunos estão amando as aulas e o resultado das provas foi o melhor”, conta.
Lições
Professor é uma carreira que transcende aquele breve momento em sala de aula e traz, agora por trás das câmeras, muito esforço, preparo, conhecimento, pesquisa, tempo, dedicação e, principalmente, comprometimento. É o caso de Débora Meneghetti que carrega uma bagagem educacional de anos e hoje, em meio à pandemia, conta as lições que tem aprendido.
“Primeiro, a empatia. Eu acho que tudo isso veio acontecer para a gente pensar mais no próximo, pensar que um necessita muito do outro e que nós devemos ajudar o próximo sempre que possível, porque nós somos o próximo para alguém. Assim a humanidade inteira se ajuda. E eu espero que essa solidariedade que a gente tem visto sendo divulgada até pela mídia, não acabe com a pandemia, que isso continue, que a humanidade se torne um pouco melhor do que era antes”, diz.
Ela comenta outra lição que aprendeu trabalhando: “Segundo, a preocupação com o visual das aulas. Por exemplo, um dia desses eu estava dando aula de geometria plana para os primeiros anos e precisava desenhar as figuras. Antes, eu utilizava o quadro branco para isso, agora uso o powerpoint nas apresentações e construo, através dos recursos da plataforma, a imagem como se eu tivesse mesmo no quadro desenhando. Eu vou montando, desenho o triângulo, a altura, traço o bissetriz e capricho bastante na imagem, ou seja, uma aula em que eu preparava em 15 minutos, hoje eu levo quatro horas preparando, mas eu faço questão de fazer bem direitinho o passo a passo como se estivesse escrevendo no quadro, acho que isso ajuda bastante com o aluno visualmente, já que agora eles contam com a minha voz e o visual das aulas que precisa ser atrativo e bem claro para atraí-los. Eu confesso que nunca tinha feito esse negócio, dá um trabalho arretado porque o editor de matemática é muito complicado”, relata.
A educadora ainda descreve a terceira lição que mais aprendeu neste período: “O carinho, a forma como nós lidamos com as pessoas. Nós temos que colocar amor em tudo que a gente faz, principalmente quando é uma coisa que nós gostamos muito, como é o fato de eu dar aula. A forma de lidar com essas situações tem que ser uma coisa branda, uma coisa suave. Eu confesso que era uma pessoa muito explosiva, por exemplo, eu sempre coloquei na minha cabeça assim: 'eu não tenho que ter paciência com alunos, já que eu não dou aula para criancinha e sim para adolescentes, que não queiram prestar atenção a aula, ou seja, eu não tenho que ter muita paciência com eles.' Eu era muito ríspida, muito rigorosa com esses alunos, agora eu já entendo, exercitando principalmente a empatia, que eles devem ter motivos para não querer assistir aula, e eu tenho que fazer com que eles se liguem na aula sem rispidez e com carinho; talvez eu consiga um resultado mais rápido. Eu aprendi muito disso com esse período em que estamos tendo muito tempo para refletir”, conclui.
Reportagem integra o especial "Lições", produzido pelo LeiaJá. O trabalho traz histórias sobre os aprendizados dos professores em meio aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Veja, a seguir, as demais reportagens:
“Continuamos aprendendo, pois não foi uma escolha. Foi necessidade”. É com essa afirmação que o professor de ciências e biologia André Luiz Vitorino de Souza, 52 anos, explica como tem sido sua rotina profissional com a chegada da pandemia do novo coronavírus (Covid-19). Ele, que faz parte dos 83,2% dos docentes com licenciatura por todo o Brasil, teve que se reinventar para continuar exercendo a profissão conforme a formação acadêmica. Os dados são do Censo Escolar da Educação Básica 2019, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
Nesta quinta-feira, 15 de outubro de 2020, o Dia do Professor é celebrado diante de uma pandemia. Para exaltar a figura dos educadores, a série “Lições” traz, agora, reportagem sobre como professores estão lidando com o processo de aulas remotas e como isso se diferencia do ensino a distância, o EAD.
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Trajetória e o “novo normal”
O ano de 2020 chegou exigindo que estudantes e professores se adaptem ao “novo normal” na educação, em que escolas tiveram que suspender aulas presenciais no mês de março. O motivo é conhecido: o período pandêmico carregou essas pessoas das salas de aulas físicas e as colocaram em salas de aulas virtuais, com as chamadas aulas remotas.
No entanto, antes de mais nada, o que são aulas remotas? De acordo com a com a especialista em psicopedagogia Joice Nascimento da Hora, trata-se de “uma metodologia de ensino de cunho emergencial”. Ou seja, acontece de forma síncrona ou, a de forma mais simples, ao mesmo tempo com o objetivo de atender às demandas geradas com o período pandêmico.
Essa metodologia é diferente da modalidade de “Ensino à Distância” ou EAD, como é mais conhecido e consolidado pelo Ministério da Educação (MEC). Neste caso, a mediação pedagógica não ocorre ao mesmo tempo em que é feita, mas há possibilidade do estudante consultar apoio aos professores que ministram aula nesse modelo.
Partindo desse ponto, podemos entender melhor os desafios enfrentados por alguns docentes - como André Luiz, que também é especialista em educação ambiental -, que tiveram que aprender novas lições para a vida profissional. “Com a chegada da pandemia, as aulas passaram a ser todas remotas e tivemos que aprender mesmo fazendo, tentando, acertando, e errando”, afirma o professor. “Mas creio que aprendemos e continuamos aprendendo”, conclui, em tom firme.
Ao falar sobre sua trajetória, André relembra que começou “ministrando aulas como estagiário na prefeitura do Recife e Estado, em 1993 passei no concurso do estado de Pernambuco, onde estou até então. Desde 1994 ministro aulas em escolas particulares de Recife, Olinda, Paulista, Caruaru e outras [cidades], como também em pré-vestibulares”, rememorou o docente.
Ao longo de 32 anos de profissão, André relata que essa foi uma das mudanças de rotina mais significativas em sua carreira. Além disso, o professor de biologia salienta que hoje não tem maiores dificuldades, "mas no início foi aprender a mexer nessa tecnologia”.
Apesar de ter superado parte dos contratempos, a sensação de cansaço é inegável, pois o professor ainda produz aulas que são gravadas todos os dias e ficam disponíveis para revisão dos alunos e alunas. “A preparação das aulas remotas demanda muito tempo, e durante uma aula remota se aborda bem mais conteúdos”, detalha André. “São aulas bastante cansativas”, argumenta.
Há dias em que o docente trabalha mais de 12 horas por dia, conforme explica André durante entrevista concedida por telefone ao LeiaJá. Por outro lado, ele afirma que não existe cobrança excessiva por parte dos donos de escolas e secretarias de educação. "As cobranças são normais”, finaliza.
Rendimento pela web
Em Pernambuco, há mais de 93 mil professores atuantes na educação básica - que vai do ensino infantil ao médio, de acordo com último Censo Escolar, publicado pelo IBGE. Esse quantitativo está distribuído por todo o Estado, com o objetivo de atender mais de 1,9 milhão de estudantes matriculados, segundo o mesmo levamento.
Podemos ver uma disparidade entres os dados, em relação a oferta de profissionais e a demanda, que seriam os alunos a dar conta. Em análise a esse contexto, e trazendo para a sua realidade, o professor observa que “a participação dos alunos ao meu ver não é boa, principalmente na rede pública”. Enquanto que “na rede particular, [os estudantes] participam mais, pois são acompanhados”, declarou.
No entanto, mesmo com essas diferenças “no geral os rendimentos baixaram muito”, em comparação com as atividades presenciais antes da pandemia. Para André, “o que me dá segurança em fazer [as aulas no modelo remoto] é o domínio dos conteúdos que adquiri com o passar dos anos”, expressou com alegria.
Agora, outras ferramentas são utilizadas para ensinar (Foto: Reprodução/Instagram)
Proximidade virtual
Entre aulas gravadas e on-line, o professor aprende uma nova forma de ensinar e manter os alunos engajados nos preparativos para avaliações semestrais ou o tão esperado Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020, que será realizado nos meses de janeiro e fevereiro de 2021.
Ele sempre aproveita os momentos para demarcar sua presença na construção dos saberes e compartilhar os mais diversos sentimentos, assim como também faz em suas redes sociais.
A psicóloga Márcia Karine, comenta que o papel do educador no sentido emocional tornou-se ainda mais desafiador. “Percebemos que os alunos adoram o movimento de estarem perto, mesmo longe, então fortalecer esses vínculos tornou-se a chave para o sucesso das aulas”, explica a psicóloga.
“O professor é o responsável por transmitir esse conhecimento, esse conteúdo, então permitir que seu alunos participem, incentivar que eles leiam durante as aulas, que apresentem trabalho, tudo isso ajuda a estreitar os laços que foram cortados com a pandemia”, complementa.
Esbarrando nessas outras possibilidades para manter laços com os alunos, André pontua há uma ebulição de sentimentos envolvidos. “Lamento muito que tudo isso tenha acontecido, pandemia, mortes, desempregos, caos na saúde, na educação, e na economia”, comenta. Ele ainda observa que os alunos e alunas “são muito tecnológicos, mas não para estudar”, pois “estudar no nosso país é um desafio a ser superado”, conclui.
Além da falta de familiaridade com os recursos tecnológicos voltados para estudar, os pernambucanos passam por outro drama ainda mais significativo. Em levantamento do Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi constatado que 908 mil residências do Estado não têm acesso a internet, por não saber usar ou por não possuir condições financeiras para usufruir do serviço. A pesquisa também informa que há dificuldade de acesso a equipamentos - como notebook e smartphone - para assistir às aulas virtuais, sobretudo para pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Após o expediente
Saindo um pouco da sala de aula e convívio com outros docentes, que em parte compartilham dos mesmos sentimentos relatados durante a reportagem, vamos à casa do nosso entrevistado. Morador do bairro das Graças, na Zonna Norte do Recife, André diz que entre as atividades profissionais e a vida pessoal, encontra caminhos que possam o ajudar a manter a saúde física e mental.
“Me cuido muito, mesmo durante a pandemia, venho mantendo uma higienização mental e fazendo exercícios físicos, não todos os dias mas fazendo”, disse. Ele admite que tem “uma personalidade forte” e “determinada”, que um coloca no curso dos seus objetivos como educador. “Estou sempre positivamente para frente, assim a parte mental se mantém”, declara.
Ele também reforçou que a situação atual, “não interferiu em minha relação familiar, continuo o mesmo com os membros de minha família”, afirma. A realidade do professor de biologia André Luiz, pode ser facilmente confundida com a dinâmica profissional de outros docentes, assim como ele mesmo comentou.
Reportagem integra o especial "Lições", produzido pelo LeiaJá. O trabalho traz histórias sobre os aprendizados dos professores em meio aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Veja, a seguir, as demais reportagens:
Desde que as aulas presenciais foram suspensas no país, em março, devido à pandemia do novo coronavírus (Covid-19), o modelo de ensino remoto foi adotado pelas instituições como medida para não prejudicar os estudantes. No entanto, essa mudança inesperada fez com que os docentes tivessem que se adaptar a uma nova forma de dar aula e de interagir com os alunos. Mas, como essa mudança foi recebida pelos professores? O que o futuro reserva para os profissionais da educação no período pós-pandemia? Nesta reportagem, você poderá conferir a opinião de especialistas que podem ajudar a chegar a um consenso sobre o assunto.
Nesta quinta-feira, 15 de outubro de 2020, o Dia do Professor é celebrado diante de uma pandemia. Para exaltar a figura dos educadores, a série “Lições” traz, agora, reportagem sobre os desafios que os professores têm enfrentado durante a pandemia e as perspectivas da profissão para o futuro, segundo especialistas.
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O professor de física Eduardo Peres conta que o seu dia a dia neste período de pandemia tem sido de trabalho duro, devido ao uso de novas ferramentas atreladas às tarefas inerentes a um docente, mas que está gostando dos mecanismos que tem usado. “O meu dia a dia no período de pandemia tem sido de muito trabalho, primeiro a adaptação ao novo, uso de plataformas novas, tecnologia e outras coisas mais, somadas às obrigações básicas de um professor, mas confesso que tenho gostado das ferramentas que tenho utilizado, tem sido muito enriquecedor”, conta.
Sobre a maior dificuldade que teve na mudança do formato de aulas, Peres revela que o momento mais complicado foi no começo do processo, em que ele teve que investir em ferramentas que lhe auxiliassem em seu trabalho. “Minha maior dificuldade foi no início, a falta de aparato tecnológico, onde precisei fazer um investimento em material, computador novo, internet rápida, luminosidade, quadro branco, ou seja, precisei montar um estúdio improvisado, depois vem a questão de adquirir o conhecimento necessário para o uso deste aparato”, pontua.
Para Eduardo, o grande desafio do ensino remoto é conseguir manter a atenção do aluno na aula, uma vez que em casa ele está próximo de mais distrações, desviando sua atenção do professor. “O maior desafio do ensino remoto é manter o aluno focado, onde sabemos que em casa, todo tipo de distração está próximo a ele, dificultando a manutenção da atenção no professor. O esforço para mantê-lo motivado é muito maior, exige muita autonomia do aluno e infelizmente nosso aluno não foi preparado para isso”, conta.
Questionado sobre estar se sentindo mais cansado durante esse período de aulas remotas, Eduardo conta que, a princípio, estava, mas à medida que o tempo foi passando, se adaptou a nova realidade. “No início, estava me sentido cansado, sim, mas com o passar do tempo, fui me acostumando com a rotina”.
Peres conta, ainda, as lições – positivas e negativas – que tem aprendido durante o período de pandemia. “As lições positivas são o conhecimento em relação a novas tecnologias e o contato mais próximo com as redes sociais para levar o conhecimento a lugares mais distantes. E as negativas são a falta do contato mais próximo com o aluno e incertezas quanto ao futuro”, destaca ele.
O professor conta que, durante esse período de pandemia, procura estar em contato com os alunos por meio das redes sociais para auxiliá-los. No entanto, não é a mesma coisa que estar em contato físico. “Procuro manter contato com os alunos por meio das redes sociais para tirar suas dúvidas e mantê-los motivados, mas o contato humano é indispensável, olhar nos olhos, ver a expressão facial, ainda mais alunos de ensino médio que convivem com pressão do vestibular”, explica.
Eduardo revela, também, qual é a sua expectativa, enquanto professor, para o período pós-pandemia. “A meu modo de ver a educação deu salto de 10 anos em poucos meses, acho que a tecnologia, as aulas remotas, vieram para ficar, as aulas jamais serão as mesmas, por questões práticas e financeiras, as plataformas digitais irão ganhar um destaque que jamais foi visto na educação e aquele que não se adaptar infelizmente possui grande chance de ficar fora do mercado”, finaliza.
Veja, abaixo, o vídeo do professor Eduardo Peres:
Sobre como os professores estão lidando com a modalidade de ensino remoto, a professora titular do Centro de Educação (CE) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenadora do Fórum Estadual de Educação de Pernambuco (FEEPE), Márcia Angela Aguiar, conta que pelo fato de muito docentes não terem tido a formação necessária para uso das TICs no cenário de ensino-aprendizem, foram necessários muitos esforços para uma rápida adaptação à nova realidade. De acordo com ela, essa questão tem causado problemas para alguns docentes. “Com a transmissão rápida do novo coronavírus (Covid-19), os países tiveram que se adaptar a uma situação de excepcionalidade em todos os setores. Não foi diferente com o setor da educação no Brasil. E, uma das primeiras medidas das autoridades governamentais consistiu na suspensão das aulas presenciais e na prescrição da adoção de atividades remotas. Tais medidas alteraram, também, a rotina dos professores que, repentinamente, foram ‘obrigados’ a se adaptarem a uma diferente forma de articulação com a direção da escola, com os estudantes e suas famílias. Essa nova configuração acarretou mudanças na vida dos professores que passaram a lidar intensamente com ferramentas tecnológicas para a comunicação com os estudantes. Considerando que muitos não tiveram a formação adequada para o uso das TICs em situação de ensino-aprendizagem, foi necessário dispender esforços para uma rápida adaptação às condições de excepcionalidade. Isto tem provocado situações de desconforto e sofrimento para muitos”, relata.
Questionada sobre se a aceitação a esse formato de ensino foi bem recebida pela maioria dos professores ou houve algum tipo de resistência ou dificuldade, a especialista em educação afirma que vários relatos de docentes e resultados de estudos mostram que a realidade atual encarada pelos professores tem desencadeado uma série de problemas emocionais, como estresse e depressão. “Inúmeros depoimentos de docentes e resultados de algumas pesquisas mostram que a situação enfrentada pelos professores tem acarretado mudanças em sua rotina e provocado stress, depressão e outras dificuldades de ordem emocional. O medo do desemprego, a ausência de infraestrutura para o desenvolvimento das atividades remotas têm sido fonte de aflições para a maioria. Aqueles que conseguem uma adaptação mais rápida, inclusive, com apoio institucional têm procurado formas pedagógicas mais adequadas para lidar com os estudantes”, explica Márcia.
De acordo com Márcia, o futuro dos docentes no período pós-coronavírus será definido a partir da capacidade dos governos de elaborarem políticas públicas que garantam o direito total à educação. “O futuro dos professores no cenário pós-pandemia dependerá da capacidade dos governos de traçarem políticas públicas, orientadas pelo Plano Nacional de Educação 2014-2024, que assegurem o direito pleno à educação. Neste sentido, faz-se necessário prover condições materiais efetivas para que as escolas funcionem de forma satisfatória, bem como garantir as condições indispensáveis (formação continuada, salário, carreira) para o exercício do magistério”, pontua.
Sobre a possibilidade de exclusão do mercado de trabalho dos professores que não se adaptarem ao formato de ensino remoto, a especialista fala que a pandemia mostrou como o papel do professor é fundamental. Devido a isso, se faz necessário que as autoridades competentes se encarreguem da promoção da especialização contínua dos professores em função de projetos político-pedagógicos institucionais. “Essa pandemia provou o quanto o professor é essencial para a formação das novas gerações. Daí, que as autoridades competentes deverão prover formas de aperfeiçoamento permanente da atuação docente em função de projetos político-pedagógicos institucionais”, destaca Márcia.
Questionada se estão sendo pensadas ações para ampliar o modelo de ensino remoto mesmo em um cenário pós-pandemia, Márcia conta que a utilização das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) foi acelerada pela pandemia, no entanto o seu uso no trabalho dos professores deverá ser supervisionado, preferencialmente por sindicatos que representem a categoria dos docentes. “A pandemia provocou a aceleração do uso pedagógico das TICs que continuará ocorrendo. Mas, o uso dessas tecnologias no trabalho docente deverá ser submetido ao controle social, em especial, dos sindicatos que representam os professores, de modo a evitar sobrecarga de trabalho e precariedade dos vínculos profissionais. Ao professor deverá ser assegurado aperfeiçoamento contínuo, plano de carreira, condições materiais e salários dignos”, finaliza.
O professor de história da rede privada de ensino e secretário geral do Sindicato dos Professores de Pernambuco (Sinpro), Luciano Paz, conta como a mudança do ensino presencial para o remoto foi vista pela entidade. “A mudança foi vista com muita preocupação, em virtude das incertezas que se apresentavam naquele momento de interrupção das aulas presenciais, por se tratar de uma realidade distante da maioria esmagadora das escolas privadas do Estado, e por que não, do país”, explica.
Sobre a aceitação dos professores para esse modelo de ensino de forma tão inesperada, Luciano afirma que aceitar esse formato não foi uma opção, mas, sim, uma imposição. “Não tivemos o direito de aceitar, no máximo, tivemos que nos adaptar, com formações muitas das vezes oferecidas sem planejamento, extrapolando a jornada de trabalho contratual, contando também com as dificuldades materiais, de equipamentos, internet, mobiliário, além da falta do hábito ou da prática com a tecnologia para ministrar aulas, no formato remoto”, desabafa.
“E o que mais chocou e ainda revolta muitos professores, é o fato de não termos sido ressarcidos nos custos para a montagem da estrutura para a elaboração e transmissão das aulas. Não recebemos, na maioria das escolas, sequer ajuda de custo para pagamento da energia elétrica, e muito menos para pacotes de internet, aquisição de computadores, smartphones”, continua.
Acerca da expectativa do sindicato para a volta às aulas, Luciano revela que espera-se que o volume de trabalho aumente. “Já estamos com uma carga de trabalho excessiva, sem termos os períodos de descansos respeitados por coordenações e direções de escolas. O ensino presencial, que vai ter que conviver com o remoto, no que se convencionou chamar de ensino híbrido, trará sérias complicações para os professores, principalmente em relação ao excesso de trabalho, as complicações de ordem emocional, psicológica, além do risco da contaminação nos locais de trabalho, já que não temos a certeza de respeito das normas do protocolo do governo do Estado. As escolas não respeitam a distribuição mínima de espaço por aluno nas salas de aula, que é um metro quadrado para cada aluno, vai garantir o distanciamento de 1,5? Por certo que não”, afirma o secretário geral do Sinpro.
Questionado sobre se mesmo com a volta às aulas o ensino remoto continuará sendo visto como uma boa opção para docentes e discentes, Luciano fala que é uma alternativa necessária para que sejam evitados excessos, principalmente no que diz respeito à exploração do trabalho dos professores. “Vemos como uma opção necessária, mas que carece de regulamentação, para que se evitem os excessos, sobretudo na exploração do trabalho dos professores. Precisamos que o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Estadual de Educação, o Ministério Público do Trabalho, apresentem elementos para que sejam estabelecidos os limites, os procedimentos, para que tenhamos condições de garantir a proteção dos professores no instrumento que regula as relações de trabalho nas escolas privadas que é a Convenção Coletiva de Trabalho”, finaliza ele.
A reportagem integra o especial "Lições", produzido pelo LeiaJá. O trabalho traz histórias sobre os aprendizados dos professores em meio aos desafios impostos pela pandemia de Covid-19. Veja, a seguir, as demais reportagens:
Nesta quinta-feira (15), o projeto Vai Cair No Enem realiza uma live em homenagem ao Dia dos Professores. O momento e será transmitido das 11h às 12h, por meio do canal youtube.com/vaicairnoenem.
O principal objetivo do programa é que os professores revelem detalhes de sua rotina durante a pandemia do novo coronavírus, além de dar suas opiniões sobre o novo modelo de educação para o pós-pandemia. A transmissão será apresentada pela jornalista Thayná Aguiar.
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O programa irá receber os professores Sandro Curió, de matemática; Fernanda Bérgamo, de linguagens e redação; e os docentes de biologia e ciências André Luiz e Arthur Cabral. Além disso, o programa contará com a professora Klebia Sampaio, de redação.
“A live do dia dos professores é, não só uma forma de conhecer mais esses profissionais, suas rotinas e opiniões sobre esse período que a educação vem vivendo na pandemia, como também uma maneira de prestar uma homenagem a todos eles”, explicou Thayná. “Vale lembrar que também será um espaço de troca entre os docentes e o público do Vai Cair no Enem”, enfatizou a apresentadora.
O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), lembrou em Plenário que nesta terça-feira (15) é comemorado o Dia do Professor. Segundo ele, os desafios da categoria são enormes, especialmente na educação básica da zona rural, onde 345 mil educadores atuam em condições adversas, com salas de aula improvisadas e elevada evasão escolar.
Humberto Costa citou avanços ocorridos na educação ao longo dos governos do PT, ao lembrar que o orçamento do setor saltou de R$ 18 bilhões em 2003 para mais de R$ 100 bilhões em 2016. Programas como o Caminho da Escola, voltado ao transporte de estudantes, aumento do número de universidades públicas e institutos federais e elevação da jornada de mais de 57 mil escolas públicas são alguns exemplos de medidas adotadas nas gestões dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, informou o senador. Para ele, o cenário atual é marcado pelo bloqueio do orçamento e pelo patrulhamento ideológico dos professores em sala de aula.
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"Esse é um governo que odeia a educação, que a sataniza, que atira ofensas contra o seu patrono, o educador Paulo Freire, um dos nomes de maior relevo do mundo nessa área. É um governo para o qual a universidade virou um antro de marxismo e da esquerda, na visão de que ela precisa de um grande expurgo, para voltar às mãos da elite", disse.
Nesta terça-feira (15), o Vai Cair no Enem, produzido em parceria com o LeiaJá, irá realizar uma transmissão ao vivo com professores sobre as dicas finais para o Exame Nacional do Ensino Médio. A live será exibida às 20h, pelo perfil no Instagram da plataforma de estudos e pelo canal no YouTube.
O encontro trará os docentes de biologia Ramon Gadelha, André Luiz Vitorino, Luiz Phillipe Simões e Tayrine Rocha; de química, Josinaldo Lins e Berg Figueiredo; e história, Mardock, Hilton Rosas e Luiz Neto. A transmissão também contará com os professores de Linguagens e redação Josicleide Guilhermino, Lourdes Ribeiro e Edu Sival. Além disso, estarão presentes Carlos Júnior, Ricardo Rocha, Antonio Junior e Dino Rangel, de física, matemática, filosofia e sociologia e geografia, respectivamente.
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Além de celebrar o Dia dos Professores, o encontro também será a oportunidade de sanar as dúvidas dos estudantes, já que os docentes aproveitarão o momento para dar as dicas finais antes da prova do Enem. O Exame será realizado nos próximos dias 3 e 10 de novembro, em todo o Brasil, e contará com disciplinas das áreas de Ciências Humanas e suas Tecnologias, Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Linguagens, matemática e redação.
Ser professor é um desafio no Brasil. Salário aquém para o desempenho exercido, trabalho excessivo e falta de valorização são pontos negativos que estão na lista da profissão de docente. Entretanto, há aqueles que carregam a vontade de mudar e de acompanhar cada estudante, assim como ajudar com as necessidades de cada um. Segundo o último Censo do Professor, divulgado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2017, o Brasil tem 1.882.961 docentes.
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Muito além de ensinar em escolas tradicionais, há professores que encaram a missão de ingressar em instituições de ensino dentro de presídios, como parte do processo de ressocialização. Pernambuco contém 23 unidades prisionais, além dos espaços socioeducativos da Fundação de Atendimento Socioeducativo (Funase), localizados em dez municípios do Estado.
Clóvis Benvindo da Silva e a Banda Liberdade
A Escola Pastor Amaro Sena é uma das unidades de ensino mantidas pela Secretaria de Educação de Pernambuco, e tem duas realidades bem distintas. A primeira é o dia a dia de sua sede, localizada na Rua Sete do bairro de Caetés 2, em Abreu e Lima. O amplo e aberto espaço é local onde estudam 692 alunos dos ensinos fundamental e médio, que têm rotinas normais de aula. A segunda realidade é a do seu anexo, dentro do Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) Abreu e Lima, uma das unidades da Funase. Lá, os 221 socioeducandos matriculados na escola, ao finalizarem as aulas, saem das salas para suas celas, localizadas dentro de dois blocos, conhecidos como “pátio” e “quadrado”.
E é nesse ambiente onde trabalha o professor Clóvis Benvindo da Silva, de 50 anos. O docente de matemática atua no Case há um ano e quatro meses, quando decidiu mudar de vida. “Foi um desafio e a Funase me abraçou”, conta Clóvis. Oriundo da educação regular em escolas públicas estaduais, o professor percebeu que era melhor tratado dentro das dependências do Case. “Tive uma surpresa, aqui eu sou respeitado, algo que lá fora eu não era, os alunos até me mostravam que andavam com armas na outra escola onde eu dava aula”, conta Clóvis.
E foi pela mudança de realidade que o docente resolveu levar esperança aos seus estudantes. Juntamente com o agente socioeducativo Arthur Silva, Clóvis fundou a Banda Liberdade. Atualmente composta por nove alunos da unidade prisional da Escola Pastor Amaro Sena, a atividade extracurricular mudou o comportamento dos socioeducandos.
“A banda foi uma forma que eu vi de aprender respeito e de querer mudar quando chegar lá no ‘mundão’”, diz o socioeducando S.J., de 17 anos. Na unidade há quase um ano, o jovem decidiu mudar de vida. “Quando eu sair daqui, vou em busca de emprego e de terminar meus estudos, fazer uma faculdade de administração e trabalhar administrando as lojas da minha família”, conta. Clóvis, além de professor de matemática, toca baixo na Banda Liberdade e ensina música aos alunos.
Usando uniformes com a frase “Alguém acreditou em mim”, a Banda Liberdade é o xodó do professor. “Com a banda, eu vejo que é o momento em que os alunos podem desopilar, mudar a atenção, o foco, fazer diferente, mudar o comportamento”, reconhece. E é nesse momento, segundo Clóvis, em que o papel da socioeducação faz sentido. “Com a banda, a gente pode contribuir para que os alunos saiam daqui realmente mudados”, conta, esperançoso.
A banda é disputada. Clóvis aponta que faltam materiais para inserção de novos “músicos” na banda. “O que faltam são os instrumentos. Eles sempre pedem para entrar e a gente vai avaliando o comportamento, mas não precisa ter um conhecimento prévio em música; ensinamos tudo aqui”, conta. Hoje, os alunos tocam zabumba, triângulo, ganzá e pandeirola. Além disso, eles têm a oportunidade de ser os astros do vocal.
Recentemente reformada, a Escola Pastor Amaro Sena agora tem "cara de escola". Antes, o espaço funcionava nos fundos do Case. Embora sejam de grupos rivais, os socioeducandos do “quadrado” e do “pátio” faziam o mesmo percurso para chegar às dependências escolares. Apesar de ventilado, o espaço era pouco acolhedor: corredor escuro, salas escuras, ambiente de prisão.
Com o novo espaço erguido para os estudos, os alunos agora frequentam um local que lembra uma escola estadual. Oito salas com lousas e carteiras, corredor, banheiro e uma quadra de beach soccer fazem parte do anexo construído no pacote de reformas feitas dentro da unidade da Funase.
E quem aprovou a mudança foi o professor Clóvis, indicando que o novo ambiente será inspirador para as aulas e para as apresentações da banda. “Com essa reforma, os alunos tiveram um ganho de 1.000%”, brinca o docente.
Gilzete Dias da Silva e o respeito imposto por “Doutora Gil”
Com seu jeito sério, a professora Gilzete Dias da Silva dá aulas na Escola Dom Hélder Câmara, localizada no Presídio de Igarassu (PIG), Região Metropolitana do Recife. Lá, ela ensina alunos do primeiro ao nono ano do ensino fundamental, por meio da sua titulação de polivalente que recebeu ao concluir o magistério. Sem expressar muita emoção, a docente é categórica quando diz que aceitou o convite da antiga diretora da escola porque tinha uma missão no local.
“Eu vim para aqui com muita fé em Deus porque eu não sabia como era o espaço; e acredito que vim aqui para cumprir uma missão de ajudar, de colaborar, de ouvir e de respeitar acima de tudo, cada um com suas falhas - e eu com as minhas”, relembra a docente.
A seriedade de Gilzete em frente às câmeras da reportagem do LeiaJa.com não é reflexo da sua relação com os alunos em sala de aula. O dia da entrevista coincidiu com o aniversário da docente. A festa foi em sala, juntos com os estudantes do primeiro ano do ensino fundamental. Seus alunos não mediram esforços e escreveram, no quadro, mensagens de congratulações à professora. Rabiscado, também havia um desenho dela. A mesa de Gilzete virou uma mesa de festa e nela havia um grande bolo a ser repartido entre eles. Em círculo, as cadeiras foram posicionadas para abrir espaço para a homenagem.
O respeito também faz parte do dia a dia da docente. “Muito diferente de como é lá fora, o respeito aqui é imenso, isso é algo que eu vou levar para o resto da vida. Aqui eu sou doutora Gil”, diz a professora, afirmando não ter tido qualquer medo ao entrar em uma escola localizada dentro de uma unidade prisional. E assim como uma escola comum, a Escola Dom Hélder Câmara também oferece atividades realizadas em outras instituições de ensino fora de áreas prisionais. “Aqui é igual lá fora. Dia das crianças, dia dos professores, dia dos pais, dia das mães, tudo é comemorado”, explica Gilzete.
Aos 40 anos, Josué Nascimento da Silva está há pouco mais de dois anos no PIG. Lá, ele encara o colégio como um refúgio. “Aqui os estudos são tudo para mim. Lá fora, eu tive mais que trabalhar do que estudar”, conta. Com a “professora Gil”, como Gilzete é conhecida entre os alunos, a relação vai além do ensinar. “Ela trata a gente como um filho, não gosta que ninguém mexa com a gente”, revela Josué. Quando cumprir sua pena, o cortador de tecidos afirma que vai usar os conhecimentos que teve na escola para ajudar em seu trabalho.
Gestão
Segundo do diretor da Escola Dom Hélder Câmara, Wagner Cadete, os 530 alunos matriculados na unidade de ensino localizada dentro de uma presídio de segurança máxima, em Pernambuco, são ensinados por um corpo docente de 12 professores. Na última quarta-feira (10), outros sete profissionais de ensino chegaram à instituição, para compor a grade que irá atuar com os matriculados no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Projovem Urbano), ação que visa recuperar alunos entre 18 e 29 anos não concluintes do ensino fundamental e que saibam ler e escrever.
Para Cadete, uma das maiores dificuldades em aprimorar o nível dos alunos se dá na falta de bagagem que eles chegam à escola. “O maior desafio é ter um público que não construiu uma boa relação com a escola; é passar para eles que a vida escolar não está presa”, ressalta. As estratégias de combate à evasão, segundo o diretor, estão na conversa e acompanhamento do aluno.
Segundo a Secretaria de Educação de Pernambuco, a rede estadual de ensino conta 15 escolas prisionais, em todo Estado, do ensino fundamental ao ensino médio, na modalidade de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). Ao todo, 5.480 estudantes são atendidos.
Tão importante quanto a figura familiar, os professores são essenciais não só na formação acadêmica dos alunos, mas também, na construção do caráter e personalidade dos futuros cidadãos. Ao acompanhar o crescimento no decorrer da vida acadêmica, os docentes desenvolvem o sentimento de compromisso com os estudantes, que durante sua trajetória, levam um pouco daquele professor, que o ensinou não só matemática, história ou geografia, mas também, as disciplinas da vida, formando acima de tudo, um ser humano. Exemplo em sala de aula, muitos deles são tidos como heróis, nos quais, os educandos se espelham.
Alguns deixam marcas indeléveis na história pessoal dos estudantes; outros criam laços afetuosos que durarão para o resto da vida. Com certeza, cada um que passou pelo ambiente escolar, lembra-se daquele ou daquela professora pela qual sempre obteve um sentimento de afeto, carinho e identificação. No Colégio Damas, que fica no bairro das Graças, Centro do Recife, os laços construídos entre aluna e professora passaram de geração a geração.
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De mãe para filha
A esteticista Thatiane Marroquim relembra com carinho das aulas de educação física da professora Olindina Mendonça. A ex-aluna relata que Olindina sempre a tratou como uma filha, de maneira afetuosa e carinhosa, sempre com os braços abertos e um olhar sincero, de uma profissional que ama o que faz. “Ter aula com tia Olindina para mim foi uma honra. Ela sempre me tratou de forma muito amorosa, com certeza é uma professora que marcou a minha vida”, destacou.
O carinho e admiração pela professora fizeram com que Thatiane matriculasse sua filha, a pequena Isadora Marroquim de apenas seis anos, nas aulas da educadora. “A minha filha fala dela com o mesmo entusiasmo que eu tinha quando participava das aulas. Tia Olindina se envolve com os alunos como se fossem filhos. Eu guardo um carinho muito grande por ela, principalmente porque agora ela cuida da minha filha”, falou.
O reconhecimento e gratidão de Thatiane Marroquim é confirmado na confiança que deposita na professora, para ensinar sua filha de seis anos / Foto: Reprodução/TV LeiaJá
Alunos vêm e vão, as lições ensinadas pelos professores ficam. Ser professor é bem mais do que apenas algumas horas em sala de aula, ser professor é ter responsabilidade com o futuro. Antigos estudantes, hoje homens e mulheres já formados, reconhecem a grandeza desses profissionais. Thatiane é grata por ter encontrado em sua trajetória, professores como Olindina Mendonça, que com cuidado, atenção e paciência, ajudaram na formação acadêmica e pessoal da cidadã que é hoje. “Profissionais como a professora Olindina devem ser parabenizados por todo amor e compromisso que durante todos os anos de trabalho sempre dedicaram a nós alunos. Isso fica marcado para sempre em nossas vidas e com certeza passa para nossos filhos, como é o meu caso, que tenho a honra de ver minha filha sendo ensinada por uma profissional talentosa como ela”, afirmou.
Uma vida dedicada à educação
Olindina Mendonça Bezerra tem 39 anos de profissão, todos dedicados à educação infantil. Estar rodeada por crianças é o desejo de uma recifense que ama o que faz. Segundo a professora, a vocação de lecionar para os pequenos vem com ela desde quando decidiu se tornar uma profissional de educação. Com a emoção no olhar, Olindina relata a satisfação de ver os ex-alunos retornarem ao ambiente escolar com seus filhos, trazendo com sigo um abraço apertado e um “obrigado”, de quem reconhece a importância do trabalho feito com dedicação e muito amor. “Com certeza é criado um laço de afeto com meus ex-alunos, e vê-los já grandes, trazendo seus filhos para ter aula comigo depois de anos, é muito gratificante, demonstra o carinho e confiança de uma pessoa que desde pequena contribuí em sua formação acadêmica e pessoal”, disse.
Professores carregam e deixam marcas dos alunos, guardam consigo os detalhes de cada turma que passou por suas mãos. Muitas vezes os papeis se invertem, e os tutores também aprendem com os pupilos. O prazer de ter os pequeninos todos os dias faz com que Olindina ame o que faz. “A minha vida é isso aqui, eu amo isso, eu os amo, meus alunos para mim são tudo, não tem como eu viver sem eles. A parte mais gratificante do meu dia é quando eles chegam e me dão um abraço apertado, esse carinho é o que me move para ser uma profissional cada vez melhor. Eu amo ser professora, educar para mim é tudo”, falou emocionada.
Um dia seria pouco para homenagear esses profissionais fundamentais para o desenvolvimento da sociedade. Professores são dádivas, presentes que são dados os estudantes ainda pequeninos e que permanecem em sua memória e coração para o resto da vida. Valorizar esses profissionais é mais que um dever, é uma obrigação. Olinda conta que já educou famílias; pais, mães e agora filhos. A da marca da professora está presente nos lares de cada um que já recebeu suas instruções. Neste dia 15 de outubro, a docente revela que o maior presente que pode receber é a gratidão e o reconhecimento. “Eu os vejo voltar e me abraçar, agradecendo por tudo que ensinei, pela contribuição que dei para sua vida, isso é o meu presente, é extremamente gratificante ver o reconhecimento desses ex-alunos”. O agradecimento mais profundo a esses profissionais que marcam, ensinam e educam gerações.
A 2ª edição do Festival do Livro do Litoral Sul, que acontece em Ipojuca, promete programação especial em comemoração ao Dia das Crianças e ao Dia do Professor com shows, lançamentos de livros e palestras.
Mais de 100 editoras e distribuidoras estarão presentes no festival que começou no dia 09 de outubro e segue até o dia 15. O evento é promovido pela Associação Nordeste das destribuídoras e Editoras de Livros - Andelivros e traz uma programação para crianças, jovens e adultos com o tema 'História, Poesia, e Cultura em Terras de Santa Cruz'.
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Serviço
2° Festival do Livro do Litoral Sul
9 à 15 de outubro - 9h às 21h
Clube Municipal de Ipojuca - Rua Subida do Clube, 7, Ipojuca
O Dia dos Professores, data comemorada no Brasil nesta quarta-feira (15), é o tema do Doodle do Google. Quem entrar na página inicial do buscador vai visualizar uma ilustração que traz as letras que formam o nome da empresa dando aulas de química, educação física, matemática, entre outras disciplinas escolares.
A data dia 15 de outubro como o Dia do Professor foi oficializada no Brasil em 1963, através do decreto federal 52.682 que estabeleceu o feriado escolar. Esse foi também o dia em que, em 1987, o imperador Pedro I decretou a criação do ensino elementar no País. O decreto, que inclui diversas questões como o currículo escolar e o salário dos professores e como seriam contratados, só foi cumprido 120 anos depois.
Hoje em dia, apesar de inúmeros avanços, a categoria sofre em muitos aspectos. Baixos salários, descumprimento da lei do piso salarial, infraestrutura precária em muitas escolas públicas e falta de planos de cargos e carreiras são reclamações recorrentes dos docentes, que de tempos em tempos recorrem à greve como forma de reivindicar uma escola de melhor qualidade. A luta não se limita apenas ao ensino básico. Neste ano, os professores das instituições de ensino superior da rede federal passaram semanas em greve e encerraram a mobilização sem serem plenamente atendidos.
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Esses problemas têm afastado estudantes dos cursos de pedagogia e licenciatura. De acordo com a Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação, ligado ao MEC, há um déficit de 300 mil professores na escola pública do Brasil. O número representa cerca de 15% do total de dois milhões de educadores em atividades em todo o País.
“Os adolescentes sonham em ter status e estabilidade. Ser professor não está enchendo os olhos de ninguém”, frisou a diretora do Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), Rosilene Correia. Segundo ela, a política de terceirização adotada atualmente não supre as carências. “Nós precisamos preencher as vagas com professores concursados. A terceirização deve ser usada para situações emergenciais”, recomendou. “Esse déficit gera um desgaste nos profissionais. O professor não pode nem ficar doente, porque quando fica, os alunos não têm aula. Os pais estão certos de reclamar a falta de aula, mas não podem colocar a culpa no professor, mas sim na má gestão da rede, que não tem estrutura para providenciar uma substituição”, ressaltou.
A falta de pagamento do piso salarial também é uma reclamação. Atualmente, o pagamento mínimo deveria ser de R$ 1.187 para professores que têm uma jornada de 40 horas semanais, mas nem todos os estados cumprem a determinação. “O DF paga acima do piso, mas quando comparamos o salário dos professores com o de outras categorias, percebemos que temos umas das menores remunerações”, analisou Rosilene Correia. “Sem contar que a estrutura da escola nem sempre é boa. Não tem quadra, biblioteca, laboratórios. Claro que temos escolas muito boas, mas elas não representam a realidade da maioria”, finalizou.
Paulo Freire, o patrono da educação no Brasil, já dizia que "ensinar não é apenas transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou construção". As palavras do educador pernambucano refletem a iniciativa de muitos professores que vão além do ensino das disciplinas obrigatórias, mas também investem na formação do cidadão e vão além das quatro paredes da sala de aula.
No Colégio Sagrado Coração de Maria, de Brasília, a aula de língua portuguesa do 7º ano do fundamental levou os alunos ao posto de saúde. Não como pacientes, mas para conhecer a realidade da infraestrutura e atendimento à população de São Sebastião, uma das cidades-satélites. Depois de assistirem ao filme Patch Adams – O amor é contagioso e produzirem um relatório, a ideia era humanizar dois postos, inicialmente com a instalação de biblioteca e videoteca. A ideia foi além. Espantados com a realidade, bem diferente do que veem na propaganda do Governo do Distrito Federal, os alunos quiserem apoiar o trabalho médico com adolescentes grávidas de 12 a 14 anos.
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“Nós olhamos os estudantes de 11 e 12 anos e os vemos como crianças, mas eles são muito mais espertos que nós. Nossa escola estimula o protagonismo e foi isso que esse projeto proporcionou a eles. Nós apontamos o caminho e eles deram a solução”, destacou a professora Thailise Maressa. Com o apoio do Serviço de Orientação Religiosa (SOR), os alunos arrecadaram kits com fraldas, pomadas e produtos de higiene de bebês durante a gincana anual do colégio. Tudo será entregue às mães no dia 24 de outubro, quando os alunos e o médico do posto farão palestras sobre cuidados com o bebê e pré-natal.
Apesar de o trabalho ainda não ter acabado, os resultados já podem ser vistos na aula de redação. “Os alunos tiveram o prazer de escrever, porque eles vivenciaram tudo”, disse a educadora. E o benefício vai além. “Queremos que os nossos alunos sejam cidadãos com conteúdo, porque o conteúdo sem a vida acaba se perdendo. É preciso dar sentido ao que fazemos”, salientou Thailise, que defende que o professor vá além do conteúdo curricular. “O conteúdo sufoca. Não tem cara, não tem nada. É preciso dar vida. O que essas crianças precisam é de amor e de alguém que as estimule a se posicionar no mundo”, finalizou.
Aprendizado e diversão
Foto: Arquivo pessoal
Iniciativas de dinamizar as aulas não ocorrem apenas nas instituições particulares. Nas escolas públicas, também há docentes que tornam as aulas mais atraentes e transmitem o conhecimento de uma forma inusitada. É o caso do professor João Marcelo Mendes, que leva os alunos das escolas estaduais Maria Amália e São Miguel, ambas do Recife, para uma aula de física num parque de diversões. Participam da aula os alunos do 9º ano do ensino fundamental e do ensino médio.
Na montanha-russa e no bate-bate, o assunto é inércia. No Thunder, uma espécie de pêndulo giratório que atinge até 25 metros de altura, as lições são sobre força, trabalho, potência e gravidade. “Eles adoram porque sabem que é uma aula diferente, sem ‘quadro’. Eles aprendem brincando”, garantiu o professor.
Foto: Vitória Pirro/CAB/Divulgação
E que tal ser avaliado através de uma gincana? Essa é a ideia do professor de biologia Kilder Alves, que há 13 anos realiza a Biogincana com os estudantes do ensino médio do Colégio Americano Batista, de Recife. A proposta deu tão certo que há sete anos tornou-se transdisciplinar, envolvendo as demais áreas do conhecimento. “A ideia surgiu da nossa insatisfação com o método tradicional do ensino que se baseia na totalidade por notas e avaliações. Queríamos algo que estimulasse os alunos e valorizasse o talento e sensibilidade numa visão maior, que aliada à cidadania pudesse transformar e acrescentar ao ambiente da escola a realidade social e de pesquisa”, explicou Kilder.
Engana-se quem pensa que obter a nota 10 nesse formato de avaliação seja fácil. A organização das turmas dura meses e culmina com a realização da gincana, que dura três dias. No primeiro deles, os estudantes recebem as tarefas e nos dias seguintes realizam experimentos científicos, painéis sobre temas previamente elaborados por uma banca de professores, produções que unem gêneros literários e assuntos de diversas disciplinas, além de apresentações culturais e tarefas que estimulam a cidadania. “É visível o crescimento e aprendizado dos nossos jovens após participarem de um evento desse porte. Há uma melhora significativa não só em termos de notas, mas de comportamento e de visão de mundo”, destacou a professora de física Kátia Cunha, que também organiza a Biogincana.
Para os professores, a satisfação está em contribuir para a formação dos estudantes. “Somos mais que formadores de opiniões, somos formadores de sonhos e os sonhos devem ser vividos. Eu creio nisso e me sinto satisfeita e sou feliz com a profissão que escolhi. Logo, tenho valor independente de ter valorização”, frisou Kátia. O professor Kilder também destacou a importância do trabalho conjunto da escola com a família e sociedade. “Fazemos a nossa parte, mas devemos lembrar que, se não houver a família e a sociedade apoiando o desenvolvimento da criança e adolescente, nem sempre o nosso trabalho irá dar bons frutos. Acredito que, segundo Larissa Betfuer, existem escolas que são gaiolas e há escolas que são asas. Preferimos voar e ensinar a voar”, ressaltou.
No dia 15 de outubro, data em que é celebrado o Dia dos Professores, os profissionais do setor privado de Pernambuco poderão comemorar também o recebimento da primeira parcela do 13º salário. O resultado representa mais uma conquista da campanha salarial 2012 do Sindicato dos Professores em Pernambuco (Sinpro/PE).
A segunda parcela será paga até o dia 20 de dezembro, de acordo com a Lei nº 4.090. Os valores das parcelas terão como base o salário recebido pelo professor no mês anterior.
Os professores da rede municipal terão ponto facultativo nesta segunda-feira (17). Isso porque o dia dedicado aos mestres caiu em pleno sábado (15), quando não há expediente nas escolas. A decisão do prefeito João da Costa foi anunciada, na noite desta sexta-feira (14), durante a festa em homenagem ao Dia do Professor, realizada no Clube Português.
A festa em homenagem aos educadores foi animada pelo cantor Adilson Ramos, e contou com a participação de vários DJs da cidade.
A comemoração do Dia do Professor, no Recife, acontece nesta sexta-feira (14), no Clube Português, a partir das 20h. O cantor Adilson Ramos, a Orquestra Super Oara e vários DJs são as atrações que animarão a festa dos educadores.
Para garantir a entrada, os professores do município devem levar um documento com foto juntamente com a senha, que é pessoal e intransferível, e deve ser retirada na Diretoria Geral de Tecnologia na Educação (DGTEC), na Boa Vista, no horário das 8h às 17h.
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Além das atrações musicais, os docentes terão direito a buffet e sorteio de brindes. “A Festa do Professor é uma forma de proporcionar à categoria momentos de lazer, além de celebrar a data. O educador se sente valorizado, lembrado no seu dia com uma festa dedicada só a ele”, revela a secretária de Educação, Esporte e Lazer, Ivone Caetano.
Esta é a terceira vez que a Prefeitura da Cidade do Recife promove uma festa para comemorar a data. O prefeito João da Costa também participará do evento.