Criminosos estão se aproveitando da fragilidade e do drama vivido por familiares e amigos de pacientes internados em hospitais públicos em todo o País para conseguir dinheiro fácil, no chamado "Golpe do hospital". No Pará, algumas ocorrências foram registradas pela Polícia Civil, que já investiga os casos. Somente neste início de ano, a Divisão de Investigações e Operações Especiais (Dioe) recebeu cerca de dez denúncias de estelionato com essas características.
Segundo o delegado Neyvaldo Silva, diretor da Dioe, a abordagem é feita sempre apresentando alguma vantagem ou necessidade urgente que demanda o repasse de valores para a sua realização, utilizando para isso informações sobre o estado de saúde dos pacientes. "Este tipo de criminoso se aproveita do momento delicado que a pessoa passa, cita nomes e a urgência de algum procedimento. Na agonia, os parentes acabam fazendo o pagamento e só depois se dão conta de que foram enganados", afirmou o delegado.
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O policial alerta, ainda, que os hospitais públicos do Estado fazem parte do Sistema Único de Saúde (SUS) e os serviços prestados são totalmente gratuitos. Não há qualquer tipo de cobrança, pois todos os procedimentos são por conta do Estado ou do município. "Se houver alguma abordagem ou pedido de valores para a realização de atendimento ou exames complementares a pessoa tem que desconfiar sempre", enfatizou o delegado Neyvaldo Silva.
A orientação é procurar imediatamente o médico que está atendendo o paciente ou a direção do hospital para verificar a veracidade da informação e a delegacia de polícia mais próxima para fazer a denúncia, mesmo quando não houver o pagamento da quantia solicitada. A informação também pode ser repassada por meio do serviço 181, Disque-Denúncia. A ligação é sigilosa e anônima. "Só assim conseguiremos identificar se a informação partiu de pessoas de dentro ou de fora do hospital, prender os envolvidos e coibir esse e outros tipos de golpes contra os usuários do SUS", frisou o policial. O mesmo procedimento de verificação é válido para atendimento em hospitais particulares. O crime de estelionato prevê pena de 1 a 5 anos de reclusão e a punição é aplicada em dobro se o delito for cometido contra idoso.
Entre os casos mais recentes está o de pacientes internados no Hospital Jean Bitar, em Belém. De acordo com a direção da instituição, familiares de pacientes receberam ligações de supostos funcionários cobrando por procedimentos que precisavam ser feitos com urgência. O caso só foi descoberto a partir de notificações feitas pelas famílias envolvidas no Serviço de Atendimento ao Usuário (SAU), no início desta semana.
Entre as vítimas está um senhor que estava com a cunhada internada. Segundo ele, um homem ligou pela manhã se passado por médico e informou que a paciente precisava fazer exames complementares, pois teriam identificado a possibilidade de câncer no sangue. "Ele falou que o hospital não teria o equipamento necessário para a realização e por isso teria um custo. Pediu R$ 1.500,00, que deveriam ser depositados em conta bancária. Desconfiado, imediatamente fui até a direção hospital pedir mais informações e descobri que tudo não passava de um golpe", relatou.
De acordo com o diretor executivo do HJB, o administrador hospitalar Giovani Merenda, já estão sendo adotadas todas as providências para coibir essa prática criminosa, inclusive com Boletim de Ocorrência para iniciar as investigações. “Até onde sabemos, foram três famílias vítimas dos estelionatários e infelizmente uma delas chegou a depositar dinheiro em conta bancária. As outras duas desconfiaram das cobranças e procuraram a unidade hospitalar para esclarecer a situação”, comentou Giovani.
Situação semelhante também foi descoberta na Fundação Hemopa, há pouco mais de um mês, quando usaram indevidamente o nome do hemocentro para obtenção de patrocínio. Uma pessoa se passando por servidor do Hemopa entrou em contato com uma instituição privada que presta serviço ao hemocentro para pedir um valor em dinheiro para aquisição de produtos esportivos para um suposto maratonista paraense. O golpe foi evitado graças ao gestor da empresa privada ter consultado a Fundação Hemopa para conferir as informações.
O hemocentro esclarece que suas parcerias são firmadas, imprescindivelmente, através de ofício assinado pela presidente da instituição, Ana Suely Leite Saraiva. Ainda assim, toda e qualquer solicitação de apoio e/ou parceria deve ser verificada junto ao hemocentro. Assim como no Jean Bitar, todas as providências cabíveis foram tomadas para coibir a prática criminosa.
Por Lidiane Sousa, da Agência Pará (colaboração de Vera Rojas - Ascom Jean Bitar).