O ministro da Educação, Milton Ribeiro, disse, nesta quinta-feira (16), na Comissão de Educação (CE), que foi mal interpretado em sua defesa do ensino técnico. Ele reafirmou que “não adianta nada ter um diploma de bacharel na parede e estar desempregado”, mas negou que estaria sendo elitista. Ribeiro garantiu que apoia o ensino superior, mas que o mercado demanda por técnicos. Ele também apontou que não falta dinheiro para educação, mas gestão. As posições do ministro dividiram os senadores e foram recebidas com desconfiança por alguns parlamentares.
Ensino técnico
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É o caso de Zenaide Maia (PROS-RN). Ela concordou que os institutos federais e o ensino técnico profissionalizante são importantes, mas lamentou as falas do ministro.
“Indignou ouvir que não faltam recursos para a educação. Não sou contra olhar onde a gestão falha, mas dizer que todos os governos que passaram erraram indigna. Foi bastante infeliz quando disse que era perigoso para sociedade ter a ilusão de que com o diploma a vida estava resolvida. A vida só esta resolvida quando este país entender que educação é investimento e não despesa”, disse Zenaide.
Já o presidente da CE, Marcelo Castro (MDB-PI) classificou as explicações de Milton Ribeiro como esclarecedoras e se comprometeu a atuar no Senado para a ampliação do ensino profissionalizante.
“O senhor foi muito enfático, muito claro, bastante esclarecedor. Quero dizer que vou estar junto nessa cruzada pelo ensino técnico profissionalizante. Acho que é a área mais atrasada. Isso não é em oposição ao curso superior”, apontou.
Ensino superior
O requerimento (REQ 7/2021) para ouvir o ministro foi apresentado pelo senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), que lembrou que as críticas do presidente Jair Bolsonaro e de ex-ministros da Educação, como Ricardo Vélez Rodriguez e Abraham Weintraub, às universidades trouxeram a preocupação de que as manifestações de Ribeiro seriam na direção de enfraquecer o ensino superior.
“No instante em que você tem um governo que ideologiza, temos essa preocupação quando ouvimos o ministro, que registra que foi infeliz nas colocações, e nos lembramos de imediato o que o presidente da República pensa da mesma forma. Foi essa a preocupação. Que as universidades tenham as portas abertas a todos os cidadãos”, reforçou o senador.
Diante das manifestações dos senadores, o ministro da Educação voltou a afirmar que não é contra o acesso de pessoas de famílias pobres ao ensino superior.
“Não estou querendo negar o acesso a pessoas mais humildes, mais simples, ao ensino superior. O que estou querendo dizer é que temos que ter essa interface com o mercado”, apontou.
'Fora do contexto'
Antes, ele já tinha afirmado que sua fala fora tirada do contexto e que não é um elitista:
“Tenho sido muito pragmático no sentido de ajudar dizendo que somente um diploma não vai resolver o problema do jovem. Ele tem que verificar qual é a demanda do mercado e da sociedade. Essa ilusão de que ter diploma apenas vai garantir a ele isso [ emprego] que é um perigo. Tive coragem de dizer e estou pagando esse preço. Não estou querendo acabar com o sonho de ninguém”, disse.
Milton Ribeiro afirmou que sua preocupação com o ensino superior pode ser observada na proposta do Orçamento para o próximo ano, que, segundo ele, prevê um aumento de 17% nos recursos das universidades. Ele ainda lamentou tentativas de atribuir todos os problemas da educação ao governo Jair Bolsonaro. Ele afirmou que o país recebeu uma herança muito ruim.
Izalci Lucas ( PSDB-DF) concordou que o investimento em educação profissional é urgente. E apontou que empresas demandam mão de obra técnica. Flávio Arns (Podemos-PR) também defendeu maior atenção para os institutos federais e pediu que o ministro convença o presidente a colocar a educação como prioridade absoluta do governo.
LGBQTIA+
Quarto titular do MEC no governo do presidente Jair Bolsonaro, Milton Ribeiro é pastor da Igreja Presbiteriana. Fabiano Contarato (Rede-ES) criticou outras falas públicas de Ribeiro desde que assumiu o cargo, principalmente contra a população LGBTQIA+.
Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo", publicada em 24 de setembro de 2020, o ministro disse que adolescentes homossexuais "vêm, algumas vezes, de "famílias desajustadas". Apontou ainda que profesores trans não podem incentivar os alunos "a andarem por esse caminho”.
“Não venho de família desajustada. Orientação sexual não define caráter”, criticou Contarato.
Em resposta a Contarato, Milton Ribeiro lamentou sua fala, afirmou que "misturou sua postura de pastor com a de ministro de um estado laico" e disse que deve respeitar a todos.
*Da Agência Senado