A delação do fim do mundo, como está sendo chamado o conjunto de depoimentos dos executivos da Odebrecht na operação Lava Jato, atinge frontalmente os políticos mais poderosos do País, dos mais diversos partidos, a começar pelo atual inquilino do Palácio do Planalto, o presidente Michel Temer (PMDB). As revelações agravam profundamente a crise política e deixam o País atolado num cenário de incertezas e depressão.
O PT, que a princípio comemora o tiro certeiro da primeira delação em Temer, disparado pelo executivo Cláudio Melo Filho, que disse que o presidente pediu R$ 10 milhões para campanhas de aliados, pode tirar o cavalinho da chuva. É o único partido que não pode atirar pedras em ninguém. Ferida na ética e campeã em malandragem, a legenda é a que tem o maior número de filiados graduados envolvidos na gatunagem que quase faliu a Petrobras.
Se os principais líderes petistas imaginam que as bombas estouradas a cada delação dos 77 executivos tendem a ferir de morte apenas Temer e o PMDB, partido, como o PT, carimbado pelo símbolo da corrupção e da ladroagem, estão tremendamente equivocados. PT e PMDB são irmãos siameses em trelas. Sendo assim, serão igualmente arrastados para a jaula dos leões.
Pelo jeito, não escapa ninguém. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que elegeu no primeiro turno o prefeito da capital, tirando o PT do poder, motivando a leitura de que havia se fortalecido na disputa presidencial de 2018, foi alvejado por um tiro de canhão. Aécio Neves, que por pouco não derrota Dilma na eleição passada, é carta fora de baralho por tudo que vem sendo citado e investigado na Lava Jato.
O PT, que enche as ruas com o fora Temer, achando que uma antecipação da eleição presidencial transformaria Lula num potencial candidato a presidente, é melhor se preparar para o pior. Chefe do esquema que assaltou a Petrobras, enriqueceu empreiteiros e financiou campanhas de políticos, Lula responde por crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa. É, politicamente, um morto-vivo.
No jogo eleitoral, a morte de Lula, Aécio, Alckmin, Serra e Temer abre a janela do imponderável para as eleições de 2018. Corrompidos, perderam o respeito e a admiração do povo brasileiro, órfão de lideranças. A orfandade é um perigoso caminho para abrigar aventureiros. A última aventura, a vitória de Collor, o então caçador de marajás, em 89, levou o País à bancarrota.
PENCA DE POLÍTICOS– Nas 82 páginas de seu depoimento de delação premiada na Lava Jato, o ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, cita os nomes de 51 políticos de 11 partidos. Ele era o responsável pelo relacionamento da empresa com o Congresso e trabalhava na Odebrecht há 27 anos, sendo 12 deles em Brasília. Cláudio era homem de confiança de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira que está preso em Curitiba. Em março, Cláudio foi levado pela Polícia
Federal para prestar depoimento na 26ª fase da Lava Jato, batizada de operação Xepa, que descobriu o setor exclusivo para pagamento de propinas que funcionava na Odebrecht.
Cadê a força de Fernando Filho?– Subsidiária da Petrobras Transportes S.A, a Transpetro, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, pilotado pelo pernambucano Fernando Bezerra Filho, está tomando uma decisão equivoca com ônus político para o ministro: o fechamento do escritório jurídico no Recife, que funciona há mais de 12 anos. Pelo que está sendo decidido, sem que Fernando Filho tenha dado um só pio contra até agora, o escritório de São Paulo passará a centralizar todo o serviço de pareceres eletrônicos e o contencioso judicial. A medida, segundo o blog apurou, ao invés de reduzir custos, como se imagina, só vai aumentar as despesas com a emissão de passagens, diárias e hospedagens de advogados enviados da sede paulista para resolver pendências locais.
A rejeição de Temer – A popularidade do presidente Michel Temer (PMDB) despencou desde julho, acompanhada da queda na confiança na economia a níveis pré-impeachment, segundo pesquisa Datafolha. De acordo com o levantamento, 51% dos brasileiros consideram a gestão do peemedebista ruim ou péssima, ante 31%, em julho. O levantamento foi realizado entre 7 e 8 de dezembro, antes de virem à tona novos detalhes de delação da Odebrecht com menções a Temer. Aqueles que veem o governo do presidente como regular reduziram-se a 34%. No levantamento anterior, durante a interinidade do peemedebista, eram 42%.
Forças Armadas– A participação das Forças Armadas nas ações de segurança do Estado foi pedida pelo governador Paulo Câmara a Michel Temer durante a visita do presidente a Surubim e Floresta, na sexta. No dia seguinte, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, já estava no Recife com representantes do Estado Maior das Forças Armadas. Serão 3,5 mil soldados do Exército, Marinha e Aeronáutica que atuarão até o dia 19 deste mês, reforçando os batalhões da Polícia Militar. "Foi uma medida de precaução importante e necessária. Não podemos, de nenhuma maneira, colocar em risco a população. Diante de movimentos ilegais que vimos ontem, eu tinha o dever, como governador, de alertar o Governo Federal", justificou o governador.
Não é só Uchoa– Com reeleição, hoje, garantida para o quinto mandato, portando dez anos como presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Guilherme Uchoa (PDT) não é o único com tamanha longevidade no cargo. No Piauí, Themístocles Filho (PMDB) bateu um recorde: oito mandatos consecutivos, estando de fato há 16 anos na função. Outro que não larga o osso é Jorge Picciani (PMDB), presidente da Assembleia do Rio de Janeiro. Uchoa será escolhido numa chapa consensual com um candidato dissidente sem a menor chance: Edilson Silva, do Psol. “Minha escolha se dá pela folha de serviços prestados”, diz Uchoa, que destaca, dentre outras ações, a construção do novo prédio do Poder Legislativo.
CURTAS
VAZAMENTO- O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, solicitará abertura de investigação para apurar o vazamento, para a imprensa, de "documento sigiloso" que seria relativo à colaboração premiada de um dos executivos da Odebrecht, o ex-diretor da empresa, Cláudio Melo Filho. O vazamento do documento que constituiria objeto de colaboração, além de ilegal, não auxilia os trabalhos sérios, segundo o MP.
CITAÇÕES- No acordo de delação premiada, Cláudio Melo Filho dedica um capítulo ao relacionamento que tinha com o presidente Michel Temer. O nome do presidente é citado 43 vezes no seu depoimento. O ex-diretor afirma que Temer atuava de forma muito mais indireta, não sendo seu papel, em regra, pedir contribuições financeiras para o partido, embora isso tenha ocorrido "de maneira relevante" no ano de 2014.
Perguntar não ofende: O Brasil ainda tem salvação?