Em meio à discussão sobre a falta de preservação de imóveis históricos no Recife, como as duas casas geminadas da Avenida Rosa e Silva que são Imóveis Especiais de Proteção (IEPS), mas estão destruídas e saqueadas, o LeiaJá denuncia mais um casarão antigo em situação de abandono. Tijolos aparentes, grades enferrujadas, pintura descascada e muito lixo espalhado. É esse o atual estado do prédio do Liceu de Artes e Ofícios, que em nada mais se parece com aquele imponente edifício inaugurado em 1880.
A reportagem do LeiaJá foi até o local e encontrou tudo fechado e em situação crítica. Um segurança que estava no espaço conversou com a nossa equipe; ele não quis se identificar, mas contou que já faz a patrulha do local há alguns anos e trabalha com medo, já que durante cada turno há apenas um vigia para cuidar de todo o prédio. Em 2016, um vigilante do Liceu foi assassinado por uma pessoa que tentou invadir o imóvel.
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Localizado na Praça da República, n. 281, próximo ao Teatro Santa Isabel, Palácio do Campo das Princesas e Palácio da Justiça, o Liceu é um projeto do engenheiro pernambucano José Tibúrcio Pereira de Magalhães. Tibúrcio é autor de outros importantes edifícios recifenses, como o da Assembléia Provincial, atual Assembléia Legislativa de Pernambuco.
O prédio do Liceu, tombado pelo Estado de Pernambuco, há seis anos aguarda a liberação para que seja feita uma reforma e o espaço se transforme em um centro cultural. A proposta é da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) que é mantenedora do Liceu de Artes e Ofícios desde 1970.
Procurada por nossa equipe de reportagem, a Universidade se limitou a dizer que o projeto não foi finalizado e que ainda não há previsão de quando sairá do papel. Ao se mostrar pouco disposta a dar mais detalhes sobre a requalificação, a Unicap dá margem a questionamentos sobre se o projeto é prioridade no calendário da instituição. Segundo a assessoria, o professor Márcio Waked, coordenador do Católica Business School, está à frente do projeto.
História
Com um estilo classicista imperial, inspirado no neoclassicismo francês, o prédio é composto de dois pavimentos e começou a ser construído no dia 23 de abril de 1871. Nove anos mais tarde, em 1880, foi inaugurado como sede da Escola de Ofícios, mantida pela Sociedade dos Artistas Mecânicos e Liberais de Pernambuco que, na época, ministrava aulas de desenho, arquitetura, aritmética e alfabetização. Em 1950 as atividades foram encerradas e apenas duas décadas depois o acervo e o prédio voltaram a funcionar - desta vez sob a guarda da Universidade Católica de Pernambuco, que passou a oferecer cursos técnicos em administração e contabilidade.
Em 1980 um convênio entre a Unicap e a Secretaria de Educação fez com que o local passasse a funcionar como uma escola filantrópica. Anos mais tarde, em 2006, o local ganhou um novo perfil como Complexo Educacional Nóbrega - o Liceu foi transferido para suas instalações, passando a localizar-se no campus da Católica, no bairro da Boa Vista. Na sua antiga sede passou a funcionar o Centro de Ensino Experimental Porto Digital, que atualmente funciona também no campus da Universidade Católica.
Após a Unicap assinar um novo convênio em 2008 com vários órgãos do Estado, o Liceu passou a ser uma escola de aplicação,entrando definitivamente para a rede estadual de ensino e sendo reconhecido com uma escola pública. A partir daí, a Unicap tem tentado transformar a antiga sede do Liceu de Artes e Ofícios em um centro cultural aberto ao público. O LeiaJá também entrou em contato com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em Pernambuco, mas até a publicação desta matéria não obteve retorno do órgão.