Tópicos | HIV

A Polícia Civil divulgou, nesta segunda-feira (11), o retrato falado de um segundo suspeito de ter furado pessoas com seringa durante este Carnaval. A vítima contou ter sido furada por ele por volta das 13h do domingo (3) no Alto da Sé, em Olinda, Região Metropolitana do Recife (RMR).

Segundo o relato, o folião estava acompanhado de uma amiga. No momento em que sentiu a furada no braço, ele notou a presença de um homem fantasiado de anjo. Mais para frente, a amiga também sentiu a agulhada e o mesmo homem fantasiado estava próximo. “É um indício de que ele possa ser o autor”, resume o chefe da Diretoria Integrada Metropolitana (DIM), Ivaldo Pereira.

##RECOMENDA##

Anteriormente, a polícia já havia divulgado o retrato falado do primeiro suspeito. Segundo a corporação, o primeiro retrato divulgado é de um homem que teria agredido a vítima na terça-feira (5), por volta das 18h30, no Bonfim, também em Olinda.

Era aguardada para esta segunda-feira a divulgação de um terceiro retrato falado, desta vez de uma mulher. A divulgação foi cancelada, entretanto, porque eram necessários maiores detalhes e informações, segundo Pereira. “A investigação prossegue para descobrir se essas pessoas dos retratos estão envolvidas e se mais pessoas também estão envolvidas”, diz o delegado.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), 108 pessoas procuraram o Hospital Correia Picanço, na Zona Oeste do Recife, por terem sido picadas por agulhas durante os festejos em Recife e Olinda. Todos os pacientes foram admitidos no Hospital Correia Picanço, na Zona Norte do Recife, que é referência estadual em doenças infecto-contagiosas.

Após triagem, 75 dos 108 pacientes tiveram indicação para fazer o tratamento padrão utilizado nos casos de acidentes com materiais biológicos, a profilaxia pós-exposição (PeP), que é usada na prevenção da infecção pelo HIV. Os demais ou se recusaram a fazer o teste rápido, que é pré-requisito para o uso da medicação, ou já tinham passado da janela de 72 horas preconizadas para início do tratamento. Com isso, serão acompanhados, de forma rotineira no Hospital Correia Picanço, para monitorar possíveis infecções.

Os pacientes medicados foram liberados com orientação de retorno após 30 dias para conclusão do tratamento. A Secretaria Estadual de Saúde destaca que os índices de transmissão por meio de picadas com agulhas infectadas são considerados baixos, em média 0,3%.

Do último sábado (2) até a manhã desta quinta-feira (7), foram notificadas 108 ocorrências de pessoas que alegam terem sido furadas por seringa durante o Carnaval de Recife e Olinda. Todos os pacientes foram admitidos no Hospital Correia Picanço, na Zona Norte do Recife, que é referência estadual em doenças infecto-contagiosas.Após triagem, 75 dos 108 pacientes tiveram indicação para fazer o tratamento padrão utilizado nos casos de acidentes com materiais biológicos, a profilaxia pós-exposição (PeP), que é usada na prevenção da infecção pelo HIV. Os demais ou se recusaram a fazer o teste rápido, que é pré-requisito para o uso da medicação, ou já tinham passado da janela de 72 horas preconizadas para início do tratamento. Com isso, serão acompanhados, de forma rotineira no Hospital Correia Picanço, para monitorar possíveis infecções.Os pacientes medicados foram liberados com orientação de retorno após 30 dias para conclusão do tratamento. A Secretaria Estadual de Saúde destaca que os índices de transmissão por meio de picadas com agulhas infectadas são considerados baixos, em média 0,3%.O hospital e a secretaria já estão em contato com a Polícia Civil para colaborar com as investigações. A unidade de saúde tem orientado todos os pacientes a registrarem os respectivos boletins de ocorrência junto aos órgãos competentes.

Pela segunda vez no mundo, um paciente viu diminuir sua carga de vírus HIV-1, causador da aids, e é provável que tenha sido curado, anunciaram, nesta terça-feira (5), os pesquisadores.

Dez anos após o primeiro caso confirmado de uma pessoa infectada que se livrou da doença, um homem conhecido apenas como "o paciente de Londres" não mostrou sinais do vírus por quase 19 meses após passar por um transplante de medula óssea e tratamento, informaram os pesquisadores na revista Nature.

Ambos os pacientes foram submetidos a um transplante de medula óssea para tratamento de cânceres no sangue, recebendo células-tronco de doadores com uma mutação genética incomum que impede que o HIV se entrincheire.

"Ao alcançar a remissão em um segundo paciente usando um método semelhante, mostramos que o 'paciente de Berlim' não era uma anomalia", declarou o autor do estudo, Ravindra Gupta, professor na Universidade de Cambridge, mencionando a primeira pessoa curada.

Milhões de pessoas infectadas com o HIV em todo o mundo mantêm a doença sob controle com a chamada terapia antirretroviral (ARV), mas o tratamento não elimina o vírus dos pacientes. "Neste momento, a única maneira de tratar o HIV é com drogas que retardam o vírus, que as pessoas devem tomar durante toda a vida", disse Gupta.

"Isso representa um desafio particular nos países em desenvolvimento", onde milhões ainda não recebem tratamento adequado, acrescentou. Quase 37 milhões de pessoas vivem com o HIV em todo o mundo, mas apenas 59% recebem ARV.

Quase um milhão de pessoas morrem todos os anos por causas relacionadas ao HIV, além da crescente preocupação com uma nova forma de vírus resistente aos medicamentos.

Gupta e sua equipe enfatizaram que o transplante de medula óssea, um procedimento perigoso e doloroso, não é uma opção viável para o tratamento do HIV.

Mas um segundo caso de remissão e possível cura após um transplante desse tipo ajudará os cientistas a reduzir a gama de estratégias de tratamento, disseram.

- 'Cura factível' -

Tanto o paciente de Londres quanto o de Berlim receberam transplantes de células-tronco de doadores portadores de uma mutação genética que impede a expressão de um receptor do HIV conhecido como CCR5.

"Encontrar uma maneira de eliminar completamente o vírus é uma prioridade global urgente, mas é particularmente difícil porque o vírus se integra aos glóbulos brancos", explicou Gupta.

O estudo descreve um paciente anônimo do sexo masculino da Grã-Bretanha que foi diagnosticado em 2003 e que está em tratamento antirretroviral desde 2012.

Naquele mesmo ano, ele foi diagnosticado com linfoma de Hodgkin avançado, um câncer mortal. Ele passou em 2016 por um transplante de células-tronco hematopoiéticas de um doador com duas cópias de uma variante do gene CCR5, portada por aproximadamente 1% da população mundial.

O CCR5 é o receptor mais usado pelo HIV-1. As pessoas que têm duas cópias mutadas do CCR5 são resistentes à maioria das cepas do vírus HIV-1, o que frustra as tentativas do vírus de entrar nas células.

Assim como o câncer, a quimioterapia pode ser eficaz contra o HIV, porque mata as células que estão se dividindo. Mas a substituição de células imunitárias por aquelas que não possuem o receptor CCR5 parece ser a chave para evitar que o HIV se recupere após o tratamento.

Após o transplante de medula óssea, "o paciente de Londres" permaneceu em tratamento ARV por 16 meses, quando foi descontinuado. Desde então, testes regulares não detectaram carga viral no paciente.

"O paciente de Berlim", que mais tarde foi identificado como Timothy Brown, tratado para leucemia, recebeu dois transplantes e foi submetido a irradiação total do corpo, enquanto o paciente britânico recebeu um transplante e apenas a quimioterapia menos intensiva.

"Não queria ser a única pessoa no mundo que foi curado de HIV", escreveu Brown em uma revista médica em 2015. "Quero dedicar minha vida para apoiar a pesquisa e encontrar uma cura para o HIV".

A equipe de pesquisa apresentará os resultados em uma conferência em Seattle (noroeste dos Estados Unidos).

"O segundo caso reforça a ideia de que é possível encontrar uma cura", disse à AFP Sharon R Lewin, diretora do Instituto Doherty Peter para Infecções e Imunidade da Universidade de Melbourne.

"Um transplante de medula óssea como uma cura não é viável. Mas podemos tentar determinar qual parte do transplante fez a diferença e permitiu que esse homem parasse de tomar seus medicamentos antivirais".

No próximo domingo (17), a partir das 14h, o trailer do Projeto Quero Fazer vai disponibilizar testes rápidos de HIV e sífilis, além de preservativos, na praça do Marco Zero, localizada na Região Central do Recife. A parceria com o Programa Estadual de IST (infecções sexualmente transmissíveis) /Aids vai atender até 70 pessoas.

Além dos testes, que duram em média 30 minutos, os pernambucanos e turistas vão receber aconselhamentos sobre saúde sexual. Caso seja diagnosticado, o paciente será encaminhado para uma unidade de referência, onde iniciará o tratamento. Vale lembrar que os exames já são disponibilizados em diversos postos de saúde do município, Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e ONGs.

##RECOMENDA##

O Google está promovendo em sua página inicial, nesta terça-feira (24), uma homenagem à militante transexual brasileira dos direitos LGBT Brenda Lee. Conhecida pelo seu amplo trabalho em prol das pessoas que vivem com o vírus HIV, ela foi brutalmente assassinada em 28 de maio de 1996, na cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul.

Brenda nasceu em 1948 na cidade de Bodocó, em Pernambuco. Desde pequena era alvo de preconceito por ser mais afeminada que os outros meninos. Antes de se mudar para São Paulo, adotava o nome de Caetana e, assim que se instalou na capital, passou a se chamar Brenda Lee.

##RECOMENDA##

Ela tornou-se uma figura conhecida e, em 1984, comprou um espaço para transformá-lo em uma pensão e começou a acolher pessoas com HIV em uma época onde a desinformação e o preconceito reinavam.

Posteriormente, o local passou a acolher também pessoas da comunidade LGBT que haviam sido rejeitadas por parentes, além de oferecer assistência social e médica. Após sua morte, o espaço virou uma ONG chamada Casa de Apoio Brenda Lee.

O trabalho da ativista foi interrompido precocemente. Aos 46 anos, Brenda Lee foi brutalmente assassinada a tiros no dia 28 de maio de 1996 e seu corpo foi encontrado dentro de um veículo em um terreno baldio, na capital paulista. Na época, Brenda Lee estava se formando em psicologia pela Universidade Católica de Pelotas (UCPEL).

LeiaJá também

--> Google Brasil abre programa de estágio para jovens negros

Os dados confidenciais de 14.200 pessoas infectadas com o vírus do HIV, muitas delas estrangeiras, foram roubados e publicados na Internet - anunciaram as autoridades de Singapura na segunda-feira (28) à noite, no que parece ser a segunda falha de segurança informática na cidade-Estado em alguns meses.

O Ministério da Saúde acredita que os dados foram publicados por um americano condenado várias vezes pela Justiça. O suspeito os teria obtido por meio de seu parceiro, um médico de Singapura que tinha acesso ao registro nacional de pessoas portadoras de HIV.

Durante outro ataque informático importante em junho e julho, os dados médicos de 1,5 milhão de cidadãos de Singapura, incluindo os do primeiro-ministro, Lee Hsien Loong, foram roubados. As autoridades de Singapura disseram suspeitar, naquele caso, de que o ataque estava ordenado por um Estado, sem especificar qual.

"Uma pessoa não autorizada obteve informações confidenciais de 14.200 indivíduos portadores de HIV até 2013 e as coordenadas de 2.400 delas", indicou o Ministério em um comunicado.

"Essas informações foram publicadas on-line", acrescentou o Ministério, desculpando-se "pelas preocupações e pelo desespero" das vítimas.

Os dados publicados incluem nomes, identificadores, coordenadas, resultados de testes de HIV e outras informações médicas.

As pessoas afetadas por esse roubo são 4.500 singapurianos, diagnosticados como infectados pelo vírus até janeiro de 2013, e 8.000 estrangeiros diagnosticados como portadores do HIV até dezembro de 2011.

Cidade-Estado do Sudeste Asiático, Singapura conta com vários estrangeiros expatriados entre seus 5,6 milhões de habitantes.

O Ministério identificou um cidadão americano, Mikhy K. Farrera Brochez, que viveu em Singapura de 2008 a 2016, como o suspeito de possuir os dados roubados.

Foi condenado por fraude e por delitos relacionados com as drogas em março de 2017 e expulso de Singapura após cumprir sua pena. Hoje, ele não se encontra em Singapura, indicaram as autoridades.

Brochez mantinha uma relação com Ler Teck Siang, um doutor singapuriano que foi condenado em setembro por ter ajudado o parceiro em suas atividades criminosas e condenado a 24 meses de prisão. Ele apelou da sentença.

Testes gratuitos de HIV e sífilis serão oferecidos nesta semana em Jaboatão dos Guararapes, Região Metropolitana do Recife (RMR). O Programa Estadual de Infecções Sexualmente Transmissíveis da Secretaria Estadual de Saúde (SES) promove os exames nesta terça (22) e na quinta-feira (24). As avaliações serão feitas das 9h às 13h.

Nesta terça, o ônibus ‘Prevenção para Tod@s’ está na Praça Ministro Marcos Freire, no bairro de Marcos Freire. Já na quinta, ele estaciona na área de lazer abaixo do Viaduto de Prazeres. Ao todo, 50 pessoas serão atendidas por dia.

##RECOMENDA##

A ação da prefeitura do município em parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), também vai entregar preservativos e sachês de gel lubrificante. Os testes duram cerca de 30 minutos, pois, além do exame, os populares receberão aconselhamento. Em casos positivos, o paciente será encaminhado para o tratamento em alguma unidade de referência.

A importância do diagnóstico precoce

Com 536.825 testes de HIV realizados até setembro de 2018, a gerente do Programa Estadual de IST/Aids/HV da SES Camila Dantas, relatou sobre a importância do diagnóstico precoce e onde são feitos os exames no dia-a-dia. “Os testes rápidos estão disponíveis nos postos de saúde, nos Centros de Testagem e Aconselhamento (CTA) e em outras unidades de saúde, como maternidades e UPAs. Quanto mais rápido o diagnóstico, mais rápido o início do tratamento. Isso é essencial para dar qualidade de vida para a população vivendo com HIV, para tratar a sífilis e as hepatites virais”, reforçou.

Surtos de doenças preveníveis por vacinação, altas taxas de obesidade infantil e sedentarismo, além de impactos à saúde causados pela poluição, pelas mudanças climáticas e pelas crises humanitárias. Estes são alguns dos itens que integram a lista das 10 principais ameaças à saúde global em 2019, divulgada nesta semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

A entidade pretende colocar em prática um novo plano estratégico, com duração de cinco anos, com o objetivo de garantir que 1 bilhão de pessoas a mais se beneficiem do acesso à saúde e da cobertura universal de saúde; estejam protegidas de emergências de saúde; 1 bilhão desfrutem de melhor saúde e bem-estar.

##RECOMENDA##

De acordo com a OMS, são as seguintes as questões que vão demandar mais atenção da organização e de seus parceiros neste ano:

Poluição do ar e mudanças climáticas

A estimativa da Organização Mundial da Saúde é que nove em cada 10 pessoas respiram ar poluído todos os dias. Poluentes microscópicos podem penetrar nos sistemas respiratório e circulatório, danificando pulmões, coração e cérebro, o que resulta na morte prematura de 7 milhões de pessoas todos os anos por enfermidades como câncer, acidente vascular cerebral e doenças cardiovasculares e pulmonares.

Doenças crônicas não transmissíveis

Dados da entidade mostram que doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, câncer e doenças cardiovasculares, são responsáveis por mais de 70% de todas as mortes no mundo – o equivalente a 41 milhões de pessoas. Isso inclui 15 milhões de pessoas que morrem prematuramente (entre 30 e 69 anos), sendo que mais de 85% dessas mortes prematuras ocorrem em países de baixa e média renda.

Pandemia de influenza

O mundo enfrentará outra pandemia de influenza – a única coisa que ainda não se sabe é quando chegará e o quão grave será. O alerta é da própria OMS, que diz monitorar constantemente a circulação dos vírus para detectar possíveis cepas pandêmicas.

Cenários de fragilidade e vulnerabilidade

A entidade destacou que mais de 1,6 bilhão de pessoas – 22% da população mundial – vivem em locais com crises prolongadas (uma combinação de fatores como seca, fome, conflitos e deslocamento populacional) e serviços de saúde mais frágeis. Nesses cenários, metade das principais metas de desenvolvimento sustentável, incluindo saúde infantil e materna, permanece não atendida.

Resistência antimicrobiana

A resistência antimicrobiana – capacidade de bactérias, parasitos, vírus e fungos resistirem a medicamentos como antibióticos e antivirais – ameaça, segundo a OMS, mandar a humanidade de volta a uma época em que não conseguia tratar facilmente infecções como pneumonia, tuberculose, gonorreia e salmonelose. “A incapacidade de prevenir infecções pode comprometer seriamente cirurgias e procedimentos como a quimioterapia”, alertou.

Ebola

No ano passado, a República Democrática do Congo passou por dois surtos de ebola, que se espalharam para cidades com mais de 1 milhão de pessoas. Uma das províncias afetadas também está em zona de conflito ativo. Em dezembro, representantes dos setores de saúde pública, saúde animal, transporte e turismo pediram à OMS e seus parceiros que considerem 2019 um "ano de ação sobre a preparação para emergências de saúde".

Atenção primária

Sistemas de saúde com atenção primária forte são classificados pela entidade como necessários para se alcançar a cobertura universal de saúde. No entanto, muitos países não têm instalações de atenção primária de saúde adequadas. Em outubro de 2018, todos os países-membro se comprometeram a renovar seu compromisso com a atenção primária de saúde, oficializado na declaração de Alma-Ata em 1978.

Vacinação

Segundo a OMS, a relutância ou a recusa para vacinar, apesar da disponibilidade da dose, ameaça reverter o progresso feito no combate a doenças evitáveis por imunização. O sarampo, por exemplo, teve aumento de 30% nos casos em todo o mundo. “[A vacina] é uma das formas mais custo-efetivas para evitar doenças – atualmente, previnem-se cerca de 2 milhões a 3 milhões de mortes por ano", diz a OMS. Além disso, 1,5 milhão de mortes poderiam ser evitadas se a cobertura global de vacinação tivesse maior alcance.

Dengue

Um grande número de casos de dengue é comumente registrado durante estações chuvosas de países como Bangladesh e Índia. Dados da OMS mostram que, atualmente, os casos vêm aumentando significativamente e que a doença já se espalha para países menos tropicais e mais temperados, como o Nepal. A estimativa é que 40% de todo o mundo esteja em risco de contrair o vírus – cerca de 390 milhões de infecções por ano.

HIV

De acordo com a entidade, apesar dos progressos, a epidemia de Aids continua a se alastrar pelo mundo, com quase 1 milhão de pessoas morrendo por HIV/aids a cada ano. Desde o início, mais de 70 milhões de pessoas adquiriram a infecção e cerca de 35 milhões morreram. Atualmente, cerca de 37 milhões vivem com HIV no mundo. Um grupo cada vez mais afetado são as adolescentes e as mulheres jovens (entre 15 e 24 anos), que representam uma em cada quatro infecções por HIV na África Subsaariana.

O Chile fornecerá, a partir do primeiro trimestre de 2019, um comprimido que previne o HIV em populações de alto risco, para enfrentar o aumento dos contágios deste vírus, que dobraram nos últimos sete anos.

A chamada profilaxia pré-exposição (PrEP) faz parte de um novo plano contra o HIV/aids implementado pelo governo chileno e será aplicada como tratamento preventivo para populações de alto risco, explicou nesta quinta-feira (27) em coletiva de imprensa o ministro da Saúde, Emilio Santelices.

"O que estamos definindo agora é quais serão os protocolos", para implementar o tratamento durante o primeiro trimestre de 2019, acrescentou.

A pílula diminuiria em quase 90% o risco de contágio, e o valor comercial do tratamento mensal chegaria a 600 dólares.

O plano oficial inclui também campanhas de prevenção em meios de comunicação tradicionais e redes sociais, além da realização de testes rápidos em universidades, penitenciárias e zonas de colheita, onde há milhares de trabalhadores temporários, entre outros lugares públicos.

As medidas foram adotadas após a constatação de que os contágios por HIV dobraram no Chile nos últimos sete anos, passando de 2.900 infectados confirmados em 2010 a 5.816 em 2017.

Jovens e adolescentes - com uma média de idade de 25 anos - formam o grupo de maior risco, de acordo com as autoridades, que acreditam, no entanto, que o número real de afetados supera bastante as cifras oficiais.

Os dados apontam principalmente para uma mudança na conduta sexual dos jovens chilenos e para a falta de educação sexual adequada desde ao menos uma década.

As terapias retrovirais no Chile são fornecidas de forma gratuita a todos os portadores do vírus.

Mais de 2,1 milhões de pessoas vivem com HIV na América Latina e Caribe. E apenas 1,6 milhão de pessoas (76%) sabem que estão com o vírus, de acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).

Segundo as Organizações das Nações Unidas (ONU), o conhecimento do HIV associado ao aumento do acesso ao tratamento antirretroviral fez o número de mortes relacionadas à AIDS na América Latina cair 12% entre 2010 e 2017. No Caribe, o índice foi de 23%.

##RECOMENDA##

A taxa de novas infecções por HIV na América Latina não mudou. São cerca de 100 mil por ano, apenas em 2010 que houve uma redução de 1%. Já no Caribe, o avanço foi mais rápido, com uma queda de 18% desde 2010.

Neste sábado (1º), Dia Mundial de Luta Contra a Aids, o deputado federal Jean Wyllys (Psol) voltou a causar ao afirmar por meio das redes sociais que há uma tentativa de destruir o programa de combate ao HIV/AIDS no Brasil.

Segundo ele, o programa sofreu um impacto negativo, principalmente após o golpe parlamentar de 2016 e afirmou, também, que houve negligenciamento no governo Michel Temer.

##RECOMENDA##

"A perspectiva para o futuro não são as melhores", alertou. Jean também disparou contra o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). "O fascista que se elegeu presidente, apesar de todos os nossos alertas, já declarou anteriormente em entrevistas que o poder público não deve custear o tratamento das pessoas com HIV, que cada indivíduo deve se virar por conta própria, tirar do seu bolso e correr atrás dos medicamentos", pontuou.

"O futuro ministro da saúde que integrará esse governo desastroso já declarou que não acredita na efetividade das campanhas de prevenção e educação continuada em escolas ou unidades básicas de saúde, que o combate e prevenção ao HIV deve se restringir ao âmbito familiar", complementou.

O deputado reeleito também pontuou que era necessário somar esforços para salvar o programa em defesa da dignidade das pessoas convivendo com o HIV. "Temos que defender, sobretudo, a saúde pública do nosso país", finalizou.

Uma reportagem especial do LeiaJá, elaborada pela repórter Eduarda Esteves, destaca que o país tem registrado, anualmente, uma média de 40 mil novos diagnósticos de Aids nos últimos cinco anos. Apesar disso, houve uma redução de 16% no número de detecções nos últimos seis anos. A matéria aborda a luta de uma recifense desde a descoberta da Aids.

LeiaJá também

--> Famosos que perderam a luta contra a Aids

De 2007 até junho de 2018, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) 247.795 casos de infecção pelo HIV no Brasil. Nesse período, o levantamento aponta um total de 169.932 (68,6%) diagnósticos em homens e 77.812 (31,4%) em mulheres. Embora qualquer um possa ser infectado pelo HIV, estão mais vulneráveis homens que fazem sexo com homens, mulheres trans, trabalhadores sexuais, jovens, pessoas que usam álcool e outras drogas e pessoas privadas de liberdade.

Em 2013, quando tinha 33 anos, o estudante Mauro Santos*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, foi diagnosticado com o vírus em um dos exames rotineiros que fazia anualmente. Ele não preferiu se estender ao contar o contexto em que foi infectado, mas relembra que estava em um relacionamento sério com outro homem e que teria se tornado soropositivo através dele, por um descuido no preservativo.

##RECOMENDA##

Mauro reconhece que estava em um grupo de risco, apesar da vivência em movimento social desde o ano de 2002, atuando na prevenção de doenças sexualmente transmissíveis, alertando sobre os perigos da Aids em escolas e ambientes de aprendizado. “Eu não era um completo ignorante. Eu sabia de tudo e aceitei o risco quando me expus ao meu companheiro na época”, diz.

"Ao receber a notícia, a sensação foi de desespero porque é algo que todo mundo está sujeito, mas ninguém quer para si. Eu procurei me recompor porque sabia da importância do meu psicológico para tocar a minha vida e foi o que eu fiz", relembra.

Mauro convive com o HIV há cinco anos e confessa já ter passado por altos e baixos. Ele iniciou seu tratamento no Hospital Correia Picanço, em 2014, para tomar a medicação e lhe foi informado que o melhor horário para se medicar seria à noite por causa dos efeitos colaterais. “A tontura é angustiante e mistura com a depressão, causa um desespero. Tive que fazer de tudo para que a minha mãe não percebesse. Em uma das minhas primeiras quedas, eu me sentia acabado, passei o dia mal. Era o início de tudo, estava me acostumando”, relata.

“Eu não era um completo ignorante. Eu sabia de tudo e aceitei o risco quando me expus ao meu companheiro na época”, diz. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O estudante decidiu que não contaria a família sobre sua saúde porque tinha medo da reação deles e preferiu viver em silêncio sobre esse assunto. “Até hoje a minha família não sabe, e eu prefiro que seja assim porque é outra cultura, minha mãe já é mais velha e tenho receio dela não aceitar. Só quem sabe são poucos amigos porque precisei desabafar”.

Reconstruir a vida na condição de soropositivo é uma batalha diária porque a sociedade ainda é muito reativa quando se fala em Aids. E Mauro sentiu isso na pele. No último relacionamento que se envolveu, após duas semanas conhecendo melhor a outra pessoa, precisou revelar a sua condição de saúde porque a preocupação com o outro é fundamental para acabar com o HIV de uma vez. “Estava com esse homem e quando contei, o resultado não me surpreendeu. Ele preferiu se afastar e seguimos em frente no caminho oposto”, conta.

Muitas pessoas ainda acham que a doença pode ser transmitida pelo ar, no beijo, ou em um simples abraço. Mas longe dos gestos afetuosos transmitirem algo de ruim.  “O preconceito é algo que eu já sentia por ser gay, mas agora é duplo porque quando alguém fala algo negativo de um soropositivo, eu ouço e me sinto ofendido, mas nem sempre posso falar algo”, afirma.

O tratamento contra o HIV disponível atualmente no Sistema Único de Saúde (SUS) é um coquetel de três medicamentos responsáveis por inibir o máximo possível a reprodução do vírus no corpo, enquanto mantém o sistema imunológico atuante e protege contra infecções oportunistas.

Mauro relata que sabe dos riscos de ficar sem a medicação e condena o sistema de saúde de Pernambuco porque em 2018 foram no mínimo duas semanas com a medicação em falta. “A minha sorte foi que eu nunca deixo meus remédios acabarem, sempre pego antes. Então eu tinha certo estoque, mas muitos amigos me ligaram pedindo, desesperados sem saber o que fazer e a quem recorrer nessas horas”, comenta o estudante, que diz fazer parte de um grupo de WhatsApp para soropositivos trocarem informações e se ajudarem.

Um dos sonhos que ele carrega para diminuir o impacto da doença na sua vida é que criem uma vacina para tomar mensalmente. “Evitaria da gente ter que tomar as medicações todos os dias, vai ser muito melhor”, opina esperançoso.

Uma pesquisa internacional avaliou o efeito de injeções espaçadas de dois antirretrovirais em mais de 200 pacientes. Em dois anos, 87% dos que receberam a dose uma vez ao mês suprimiram o vírus. Mas, para que o estudo possa se expandir e se tornar seguro e efetivo, precisa passar por uma nova fase de pesquisas com um número bem maior de voluntários. Ainda não há expectativa para que seja aplicado ao mercado.

Aos 23 anos uma médica informou que o resultado do seu exame tinha sido reagente e que ele estava com o vírus. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

O profissional do sexo José Carlos* - nesta reportagem ganhou nome fictício -, 27, que trabalho com o corpo desde os 14 anos, lamenta não ter conhecido a Profilaxia Pré-Exposição ao HIV antes de ser diagnosticado com o vírus. O PrEP é o uso preventivo de medicamentos antes da exposição reduzindo a probabilidade da pessoa se infectar com vírus e pode ser utilizada por grupos de alto risco, gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH); pessoas trans; trabalhadores/as do sexo e parcerias sorodiferentes (quando uma pessoa está infectada pelo HIV e a outra não).

Não deu tempo. Aos 23 anos, uma médica informou que o resultado do seu exame tinha sido reagente e que ele estava com o vírus. José era casado e tinha uma filha. Quando decidiu contar a sua esposa, teve medo de dizer como poderia ter pego porque a prostituição era algo secreto e ela nem desconfiava. “Fui muito irresponsável, falei que tinha pego com alguma mulher porque tinha a traído na rua, mas não tive coragem de revelar a forma que ganhava dinheiro”, esclarece.

A mãe e o pai ficaram em choque, sem entender direito como seria a vida do filho daquele momento em diante, mas José sempre demonstrou tranquilidade porque fez pesquisas, passou a frequentar reuniões no GTP+ e em outras ONGs, e as conversas no ciclo de amigos próximos também o acalmavam. “A minha mãe ainda se preocupa muito comigo, quando saio para beber e perco noites de sono. A gente sabe que não pode exagerar porque a doença chega muito rápido. Mas minha mente sempre foi mais aberta, consigo me acalmar para poder tranquilizar quem está ao meu redor”.

José se considera heterossexual e que o fato de transar com homens em seu trabalho não altera sua sexualidade. “Gosto de mulheres, quero encontrar uma para que eu possa me apaixonar de novo, espero que ela me aceite. Mas, são negócios e mantenho relações sexuais com homens principalmente para sobreviver”. Ele conta que já frequentou saunas gays, cinemas, e pontos de prostituição por muitos anos, mas agora mantém um caso com um pastor de uma igreja evangélica que pediu “exclusividade”.

Mas, apesar disso, continua trabalhando com programa quando aparece alguma oportunidade. “É um trabalho que não tem crise, não abala, quem quer sexo vai procurar isso, eles pagam para isso. Quem me conhece, me procura porque gosta de mim. Mas sei que ficando velho, vou perder clientes e essa é a tendência, os mais novos são mais procurados”.

Mesmo sendo portador do HIV, ele diz que leva uma vida tranquila, saudável e sempre que vai fazer sexo, faz o uso da camisinha. Com os medicamentos que fazem parte do coquetel, as perspectivas de vida para soropositivos estão cada vez melhor. Pior mesmo é o preconceito que só aumenta. “O desconhecimento é muito grande, tenho medo de nunca conseguir casar de novo. É um assunto que parece um monstro para tantas pessoas e é tão simples de ser entendido. A gente sofre demais, mas não me entrego”, admite.

Para ele, os casos de HIV entre jovens aumentaram porque falta conscientização, principalmente nas periferias, em que o acesso a educação sexual é mais precário. “Muitas pessoas se drogam, precisam trabalhar com o corpo, e estão vulneráveis. O estado precisa intervir urgente e criar novas medidas mais eficazes para essa molecada ter mais conhecimento”, opina.

José não se arrepende de ter entrado na prostituição para se manter e por consequência ser infectado, mas sente mágoa de seu passado e presente e gostaria de largar o sexo por dinheiro de uma vez por todas. “Quero ter um trabalho como qualquer outro, uma vida mais digna, me cuidar mais. Só que nem tudo é tão simples assim, o dinheiro fácil é atrativo, mas da mesma forma que ele vem com facilidade, vai embora também”, analisa.

[@#video#@]

Conheça outras histórias de pessoas que convivem com o vírus do HIV clicando nas imagens a seguir:

 

 

 

 

 




 

 

 

 

 

 

— No velório do meu companheiro, a família dele jogou cal em seu corpo, lacrou o caixão com madeira e prego e pediu que ninguém tocasse nele porque tinha morrido com Aids.

##RECOMENDA##

Emocionado ao relembrar um dos momentos mais difíceis de sua trajetória, Wladimir Reis, 58, hoje se tornou coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), fundado em 2000 por pessoas com HIV e seus familiares.

Na década de 1990, Wladimir Reis e o seu companheiro trabalhavam na mesma empresa no Porto de Suape, na cidade do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, em uma indústria náutica. Ele relembra que Alberto, seu namorado, era homossexual, mas havia casado com uma mulher porque ela tinha engravidado e eles precisavam manter a aparência para a sociedade. Longe dos holofotes, os dois eram só amores. Alberto gostava de se cuidar, era vaidoso, andava sempre com os cabelos arrumados e as unhas cortadas, se recorda Wladimir, em tom de saudosismo.

Em 1994, em três semanas, ele percebeu que Alberto estava mudado, com o físico abalado, sem se cuidar e o aspecto de doente. “Ele dizia que não estava legal, mas não sabia o que estava acontecendo. Eu também não tinha ideia do que estava por vir”, relembra. Poucos dias depois de perceber a mudança, ele recebeu a ligação da esposa de Alberto e foi informado de que ele estava passando mal. “Eu ainda me lembro, consegui um carro com a minha chefe na época, ela também me ajudou a marcar uma consulta em uma clínica no centro do Recife. Fui buscá-lo na casa dele o fomos direto para o consultório do médico”.

Alberto já não se locomovia, estava fraco. Quando o doutor fez a radiografia, apontou que o quadro de saúde era de pneumonia, mas que não era grave e que ele podia ir para casa. “Era uma sexta-feira e o médico me disse para levá-lo ao Otávio de Freitas na segunda-feira, e lá poderiam conseguir interná-lo, mas que ele ficaria bem”, destaca Wladimir.

E o procedimento que o médico informou foi seguido. Wladimir levou Alberto de volta à casa de sua família e teve que realizar uma viagem a trabalho para o interior de Pernambuco. Na segunda-feira, logo pela manhã, recebeu a ligação fatídica. A esposa de Alberto informava que ele faleceu a caminho do hospital. “Ele tinha uns 40 anos, era jovem e não teve tempo de chegar à unidade médica. Eu não acreditei porque foi tudo muito rápido. Fiquei desolado”, assume.

Na terça-feira, no retorno para o Recife para participar do velório de seu companheiro, Wladimir teve o primeiro contato com o preconceito contra Aids. Caixão lacrado, olhares desconfiados, ninguém podia chegar perto ou pelo menos essa era a orientação repassada pelos próprios familiares do falecido. “Ele morreu com Aids, não toquem”, diziam. Aquele dia foi marcante na trajetória de luta e resistência de Wladimir. “Considero o primeiro impacto com a doença. Eu não conhecia muito, só lia pelos jornais quando se falava da epidemia na Europa, não se falava disso no Brasil, a gente sabia muito pouco”, aponta.

Com a pouca informação da época, ele acrescenta que não tinha o menor preconceito com o corpo de seu amado, diferente da maioria das pessoas que passou pelo velório para prestar condolências aos familiares. “Ele não merecia isso, era trabalhador, tinha um bom emprego, dava uma boa condição financeira para a família, mas todos os desprezavam naquele momento de tristeza”, garante o coordenador do GTP+.

Passado os dias, Wladimir precisou retomar a vida e voltou a trabalhar em Suape. Mas logo percebeu que o futuro seria diferente, os olhares desconfiados não tinham sido enterrados junto ao corpo velado de Alberto. Eles permaneceram e permanecem até hoje. No trabalho, foi questionado por seus colegas se poderiam comer ao seu lado ou dar um simples abraço ou aperto de mão.

“Conheci outras pessoas com HIV e ela sofriam igual. Vi muitas delas subir no Hospital das Clínicas e pular. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“A sociedade começou a me matar aos poucos. Decidi ir ao Hospital das Clínicas e lá fui acolhido e me descobri HIV. Até a pessoa que tirava o meu sangue era um psicólogo e me tranquilizava. Ele sabia como era difícil estar com o vírus dentro de uma sociedade discriminatória. Foi aí eu criei forças para lutar e dar continuidade a minha vida e continuar escutando se eu podia comer no mesmo prato, tomar água no mesmo copo”, alega.

A Aids só começou a ser diagnosticada em 1981, pelo Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos, que anunciou a descoberta de uma infecção que afetava cinco homossexuais americanos. Eram os primeiros casos identificados de Aids, doença que se transformou no mal do século XX. No Brasil, os primeiros casos foram identificados em 1982.

Em contato com outras pessoas soropositivas, Wladimir passou a perceber que o preconceito não era só com ele. “Conheci outras pessoas com HIV e ela sofriam igual. Vi muitas delas subir no Hospital das Clínicas e pular. O peso é muito grande porque a gente vive em uma sociedade que não valoriza princípios e valores”, aponta.

Ao longo da década de 1990, os anos foram difíceis. Com o diagnóstico oficial de que era soropositivo, as pessoas começaram a ir embora de sua vida. Amigos que saíam para tomar cerveja, para ir à boate, foram sumindo. Todo mundo foi embora, não fosse pelo apoio dos avós, ele destaca que não sabe se teria suportado a dor.

[@#podcast#@]

“Eu antes participava de uma instituição em que a gente se encontrava uma vez por semana em hospitais e na outra semana quatro, cinco tinham morrido. As pessoas diziam que iam se matar, logo que se descobriam positivas porque o afeto se perdia e não tinham esperanças”, relembra. Com a chegada do AZT, primeiro antiviral, nos anos 1990, as vítimas ganharam uma nova perspectiva de futuro.

Nessa época, Wladimir destaca que a Aids também começou a atingir os pobres, porque antes era algo propagado em classes mais ricas. “Daí, então, a comunidade começa a se organizar para enfrentar a epidemia junto a nova população que estava sendo acometida com o vírus. A gente montou um grupo de teatro porque era fácil de levar a mensagem com a arte cênica e interagir com diferentes classes sociais”, afirma.

Eles foram convidados para se apresentar em diversos locais na Região Metropolitana do Recife e no interior do Estado. “Nos deparamos com situações de mulheres que não podiam mais vender doces e salgados porque ninguém mais comprava já que elas tinham HIV. Pessoas proibidas de andar nos coletivos e nos carros de saúde dos municípios. Começamos a nos organizar”.

Em 2000, com o apoio de colegas, fundou o Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), uma das primeiras ONGs a oferecer ajuda especializada em tratar o vírus no Nordeste. Wladimir lembra que uma instituição alemã apoiou a estruturação da ONG, doando equipamentos e verba para custos de aluguel.

O foco do atendimento ainda hoje é nos profissionais do sexo e pessoas vivendo com HIV em situação de vulnerabilidade social. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

A instituição atende jovens, homossexuais, bissexuais, mulheres travestis, mulheres transexuais, mulheres cisgênero, pessoas vivendo com HIV/Aids, profissionais do sexo, priorizando pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Nos últimos anos, no entanto, Wladimir afirma que o apoio internacional diminuiu bastante e eles dependem da abertura de editais municipais e estaduais para captar recursos para projetos no intuito de conseguir se manter. A sede do GTP+ fica no centro da capital pernambucana e atualmente se encontra com nove aluguéis atrasados, bem como a estrutura do primeiro andar está danificada. “Eu sinto que esse público marginalizado só é do interesse dos nossos políticos na época da eleição e não para construir políticas públicas de saúde, de educação”, lamenta. Mundialmente, existem agora mais de 17 milhões pessoas que vivem com HIV e com acesso a medicamentos antirretrovirais.

“A gente procura realizar eventos, promover o nosso bazar, pedir ajudar as entidades, mas está cada vez mais difícil. Atendemos pessoas aqui vulneráveis, que não tem nem passagem, nem dinheiro para se alimentar. O mundo diz que quer acabar com a Aids até 2030, mas da forma que as coisas andam, acho muito difícil. Não somos prioridade”, alerta Wladimir. Acabar com a epidemia de AIDS até 2030 é uma parte central dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. No Brasil, entre 2007 e 2016, foram registrados 136.945 novos casos de infecção por HIV.

De acordo com a gerente do programa estadual de IST/Aids e hepatites virais, Camila Dantas, da Secretaria Estadual de Saúde (SES), a gestão busca sempre dialogar com as ONGs e reconhece o trabalho dessas instituições na rotina de quem precisa desse acolhimento. Atualmente, Camilla aponta que apesar das denúncias no inicio deste ano, não há falta de medicamentos na rede estadual de distribuição.

Em Pernambuco, são 37 unidades especializadas na assistência à portadores de HIV/Aids que dispõem de equipe multiprofissional e oferecem o tratamento retroviral. "Aqui em Pernambuco a gente vem trabalhando bastante para uma detecção precoce do HIV. Porque se diagnosticado precocemente, a pessoa pode iniciar o quanto antes o tratamento e essa terapia retroviral no intuito de evitar que o quadro evolua para a Aids. Nossa inteção é que ela consiga alcançar a carga viral indetectável e passe a não transmitir o HIV".

Ainda de acordo com a SES, a PrEP está presente em todo o estado de Pernambuco nos hospitais de assistência especializada de HIV. "Atuamos na prevenção combinada, não só pensando no uso do preservativo, mas sim em uma série de estratégias que possam fortalecer esse diálogo, observando o estilo de vida de cada pessoa. Além do preservativo, temos a PEP e a PrEP para pessoas que se expõem bastante. Um equipe multiprofissional do estado analisa a melhor estratégia dependendo dos casos e da vulnerabilidade de cada pessoa. Outros pontos que a gente procura trabalhar é na quebra do preconceito. As pessoas podem viver com o HIV e não morrer com Aids. É preciso perder esse medo", afirma Camilla.

Sobre os altos índices no estado, a gerente do programa estadual de IST/Aids e hepatites virais alega que é preciso conversar ainda mais sobre sexualidade nas escolas. "A gente procura trabalhar com professores para que eles acolham esses alunos e sejam receptivos aos questionamentos desses estudantes", aponta. Ela destaca que a gestão estadual tem um projeto para 2019 de trabalhar diretamente com as gerências regionais de educação em todo o estado para fortalecer o diálogo entre professores e alunos. "Estamos desenhando o projeto de prevenção das infecções as escolas e a ideia é que ele saia do papel o quanto antes", conclui.

Na visão de Wladimir, a válvula de escape para sair desse labirinto da falta de apoio governamental e do alto índice de infecção no Estado é apostar no apoio coletivo e na sensibilização da sociedade civil. Ele assume que não há uma receita pronta para conseguir alcançar esses objetivos. “Talvez um caminho seja a quebra do preconceito, a humanização das pessoas soropositivas. Traçar um caminho em que o mundo se torne mais humano e habitável para os corpos diferentes. Enquanto isso, resistimos todos os dias, bravamente, lutando para viver”, finaliza.

[@#video#@]

Conheça outras histórias de pessoas que convivem com o vírus do HIV clicando nas imagens a seguir:

 

 

 

 

 



 

 

 

 

 

 

 

 

Há 30 anos, em 1⁰ de dezembro é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a Aids. A data foi instituída em 1987 pela Assembleia Mundial de Saúde e Organização das Nações Unidas (ONU), para buscar mais solidariedade a quem foi infectado pelo HIV/Aids. A Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida) é causada pelo vírus do HIV e acomete o sistema imunológico. De 1980 a junho de 2018, foram identificados 926.742 casos da doença no Brasil. O país tem registrado, anualmente, uma média de 40 mil novos diagnósticos de Aids nos últimos cinco anos. Apesar disso, houve uma redução de 16% no número de detecções nos últimos seis anos.

De acordo com o Boletim Epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde, em 2017, quando analisada a taxa de mortalidade nos estados, Pernambuco tem números acima da média nacional, que foi de 4,8 óbitos por 100 mil habitantes, e também lidera os casos no Nordeste, tendo uma taxa de óbitos entre soropositivos de 5,6. Dados divulgados pelo Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP)+ apontam que no Estado, uma média de duas pessoas morrem por dia com a doença e a cada seis horas uma contrai o vírus.

##RECOMENDA##

A pernambucana Maria da Silva*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, se tornou parte dessas estatísticas assustadoras; há 22 anos precisou criar uma rotina e foi informada de que seria para a vida toda. Todos os dias, todas as manhãs, ela se levanta, pega um copo de água e coloca goela adentro três comprimidos responsáveis por manter o seu corpo funcionando bem. “Eles me dão anos de vida e mais tempo com os meus filhos”, garante a diarista, que aos 18 anos foi diagnosticada como portadora do vírus HIV, oito dias após ter dado a luz a um de seus oito filhos.

Aos 40 anos, a recifense sente que já viveu dez décadas e renasceu várias vezes. Ganhou chances de resistir aos problemas que enfrenta por ter o vírus. Se viu no limite entre a vida e a morte ainda jovem, deitada na cama de um hospital habitado por estranhos, sem a presença dos parentes ao seu redor. Perdeu as contas de quantas vezes precisou ser socorrida, caiu doente e tudo se repetiu. O semblante de Maria na década de 1990, na época da descoberta, era esmorecido. “Fui abandonada pela minha mãe e a família. Achavam que eu estava com a pior doença do mundo, não tive apoio. Colocavam água quente no meu lençol como se eu fosse uma indigente”, lamenta.

Aos 40 anos, a recifense sente que já viveu dez décadas e renasceu várias vezes. Ganhou chances de resistir aos problemas que enfrenta por ter o vírus. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A vida de Maria nunca foi fácil, mas os percalços aumentaram quando aos nove anos, a mãe se separou de seu pai e ele a abandonou com 15 filhos para criar. Era maria e mais 14 irmãos que vagavam nas periferias do Recife procurando o que comer. Desde então, passaram muitos padrastos e todos molestavam ela e as suas irmãs. “Passei pouco tempo com minha mãe na infância porque vivia fugindo de casa, não gostava deles, era abusada. Fui muito danada e sempre fugia de casa, não aceitava aquilo”, relembra.

Não restaram tantas escolhas senão ir morar na rua. Arrumava confusões, se escondia, foi levada para a Fundação do Bem Estar do Menor, na época a Febem, atual Funase e aos 14 anos saiu de lá após uma rebelião. “Prometi a deus e a mim de que nunca mais cairia naquele lugar. Só queria estar ali porque tinha alimentação e um dormitório. A rua era muito violenta, mas não queria estar encarcerada, eu tinha vontade de viver”, detalha.

Maria vagava pelo Recife, teve filhos, engravidou de novo, se mudou para o Rio de Janeiro e foi morar em um colégio interno para grávidas. Por lá, passou três anos, não se recorda bem o tempo, mas nunca se acostumou com a estadio dos cariocas. Eram rudes, preconceituosos e não havia emprego por lá. No Recife, precisou se prostituir nas esquinas para alimentar seus filhos porque era uma forma de conseguir um trocado com o corpo.

Grávida de cinco meses de uma das filhas, ela foi orientada a fazer um exame de HIV pelo seu histórico de vida sem muitos cuidados, principalmente nas relações sexuais. Mas, na época, o exame demorava para ser entregue pelo serviço público e foi liberado quando ela já estava amamentando a pequena há oito dias.

Foram meses de espera e o resultado positivo trouxe espanto por Maria não saber do que se tratava o vírus, perigo e o medo do futuro. “Ainda me lembro, os médicos me orientaram a parar imediatamente de amamentar a minha filha e por um milagre divino ela não foi infectada pela doença. Considero isso um livramento porque pelo leite eu poderia ter passado algo que odeio ter para a minha filha, sem culpa alguma nisso”. Ela não sabe com quem pode ter pego a doença, mas admite que a vida desregulada e sem cuidado tem poucos caminhos possíveis, sendo um deles esse.

Pouco tempo depois, Maria passou a tomar a medicação e desde então não pode esquecer nenhum dia dos remédios, com quem tem uma relação de ódio e amor. “Sei da importância dos comprimidos, mas as vezes passamos por muita humilhação, sabe? Eles têm um efeito colateral muito forte e causam enjoos e tontura”, conta. Ela se refere ao período em que ainda trabalhava fazendo faxinas na casa de algumas pessoas, mas sempre que tomava a medicação, passava mal e precisava largar mais cedo. “Eles ficavam desconfiados e sempre descobriam do HIV de alguma forma. E aí, eu me sentia presa na doença porque mais uma vez era mandada embora, humilhada”.

Na comunidade onde vive, o assunto ainda é um tabu. Maria é mulher negra, moradora de periferia, pobre e portadora do HIV. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

São 22 anos convivendo com o preconceito ao seu redor, alimentando a esperança de que um dia a cura será viabilizada para todos, sem a interferência da indústria farmacêutica. Maria encara a vida como uma batalha a cada dia, ao acordar agradece pela vida e por ter filhos companheiros ao seu lado. “Eles nunca me abandonaram. Tenho muito orgulho disso e sempre procuro explicar que eles também precisam se proteger ao ter relações sexuais. O mundo é difícil e tem muita maldade”.

Na comunidade onde vive, o assunto ainda é um tabu. Maria é mulher negra, moradora de periferia, pobre e portadora do HIV. Ela mora em uma casa de um só vão e logo na entrada, onde fica a cozinha, já conseguimos enxergar o quarto, bicicletas no teto, panelas penduradas nos canos e fios expostos. As paredes laterais são coladas com as dos vizinhos e a espessura que as divide é pequena. Por isso, a família evita falar alto sobre Aids, HIV e medicações para os outros moradores do beco não descobrirem a doença. “Sei que eles desconfiam, mas eu tenho medo de retaliações, de rejeição, assim como aconteceu com a minha família quando eu era jovem. Prefiro me preservar”, explica.

Após ser diagnosticada com HIV, Maria da Silva nunca conseguiu um emprego formal. O sonho de ser auxiliar de cozinha, no entanto, ainda é vivo e ela pretende batalhar para conseguir um espaço em algum restaurante da cidade. Recentemente, ela fez um curso com duração de seis meses para se especializar na área, voltou a estudar e está aprendendo a ler e escrever em um colégio do bairro. “Já sei escrever até meu nome”, revela. Mas, na última tentativa em uma cozinha, foi informada de que por conta de sua aparência não seria aceita. “Meus dentes estão todos quebrados, tenho muitas bolhas no braço, também. Mas é tudo por causa do HIV, da diabetes e das sequelas que fiquei das vezes que quase morri nos hospitais”.

Ter as portas abertas de algum empreendimento realizaria um dos sonhos de Maria para poder dar uma melhor condição de vida aos filhos e netos. Hoje ela consegue se manter com o benefício que conseguiu do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), um salário mínimo e com o auxílio de ONGs que ajudam pessoas positivas em Pernambuco. “Tem época que a medicação falta no Estado e a gente fica aqui doido. Aí como conhecemos muitos amigos que também se tratam, pegamos emprestado porque a gente não pode ficar sem. Meu corpo estoura, a minha imunidade fica muito baixa, pego doenças oportunistas como a pneumonia e minha vida não segue”.

Nascida de sete meses, ela avalia que é impaciente e após sofrer tanto na vida, perdeu um pouco a fé na empatia das pessoas ao seu redor. “Hoje em dia eu nem tento mais explicar que Aids e HIV não são bichos, são completamente controlados por remédios. Ninguém quer saber, prefiro me resguardar porque a vida me tornou essa pessoa dura, não tenho mais paciência”.

[@#video#@]

Conheça outras histórias de pessoas que convivem com o vírus do HIV clicando nas imagens a seguir:

 











 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

— Eles me bateram bastante e me levaram para o Cotel. E lá, quando eu entrei, nem os agentes penitenciários tiveram a sensibilidade de me informar porque eu estava encarcerada. Eu só descobri que era traficante quando procurei um canto para dormir na cela e os outros presos pediram a minha “nota de culpa” e eu entreguei o papel. Nele dizia que eu tinha sido presa em flagrante em posse de R$ 32 e 18 pedras de crack.

Há oito anos, Cleide Gomes*, que nesta reportagem ganhou nome fictício, hoje com 26 anos, era presa e nem imaginava que passaria pelo pior pesadelo da sua vida. Ela trabalhava como profissional do sexo nos principais pontos de prostituição do Recife, sempre migrando. Em uma dessas temporadas, optou por trabalhar no centro da capital pernambucana e o local ficava próximo a pontos chave do tráfico de drogas, além de ser violento. Para que as profissionais se sentissem mais seguras, elas se organizavam e pagavam R$ 50 cada para policiais que faziam a ronda na área ficarem de olho.

##RECOMENDA##

Mas, Cleide relembra que o clima nunca foi tão amistoso com os agentes públicos, eles a revistavam, escolhiam algumas para bater, levavam na cadeia e depois soltavam. Em uma dessas abordagens, uma policial mulher começou a revistar o corpo de Cleide. Ela a apalpava em todos os locais do corpo e quando chegou na região da genitália, descobriu que a profissional do sexo era uma mulher travesti e ficou indignada. “Eles não perguntavam nada, só vinham, começavam a tocar os nossos corpos e a gente era obrigada a aceitar tudo. A policial ficou muito irritada por ter tocado no meu pinto sem saber e começou a me bater, me bateram muito e cortaram o meu cabelo”, relembra Cleide.

Cleide entrou para o mundo da prostituição ainda jovem, não sabia que travesti podia fazer outra coisa". Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Pouco tempo depois do ocorrido, ela tentou firmar um acordo com as outras travestis que trabalhavam na região, de que não iriam mais pagar nenhum centavo aos policiais, já que eles estavam batendo nelas e atrapalhando o desenrolar do local de trabalho das mulheres. “Eu lembro que nem todo mundo concordou, algumas meninas continuaram a pagar aos guardas e a gente dava nelas. Eu ficava revoltada e isso começou a ser percebido por eles, que eu batia de frente e colocava a minha voz sem medo nenhum”, destaca Cleide, admitindo que ir de encontro a voz da polícia para quem é marginalizado é muito perigoso.

Em uma dessas noites, de acordo com Cleide, como ela já estava “marcada” pelos agentes, foi algemada e apanhou muito. Depois, foi levada a central de plantões e logo em seguida presa. Cleide sempre alegou inocência e afirmava rotineiramente que nunca tinha traficado e seu trabalho era outro.

Encarcerada, para ela injustamente, sem direito a nenhuma voz, começou a perder as esperanças no Estado e na Justiça. Passou a encarar a nova realidade como parte de sua rotina e aceitou por algum tempo que seu futuro seria na prisão.

Cleide entrou para o mundo da prostituição ainda jovem, não sabia que travesti podia fazer outra coisa. Ao contar a família que queria viver como travesti foi expulsa de casa e passou a morar na rua com outras colegas. Aos 15 anos, encontrou uma transgênero e se identificou. “Ela me disse que se eu quisesse ser mesmo, meu único trabalho era programa. Eu me vi nela, percebi que isso era eu. Também queria aquela aparência de mulher. Foi aí que comecei a modificar o meu corpo. Tinha acabado o ensino médio e na época fui aprovada no vestibular para cursar enfermagem”, cita.

A família dela nunca a aceitou bem e apesar de seu companheiro na época não ter gostado da sua escolha, teve de conviver com ela. “Ele foi o meu primeiro e único amor. Mas mesmo com o olhar estigmatizado da travesti, eu quis ser”. Trabalhou em Pernambuco, em outros estados e também na Europa. Em uma semana boa e movimentada, Cleide conta que chegava a apurar R$ 15 mil. “Eu confesso que sempre quis sair da vida de fazer programa, mas eu não via outras alternativas. Travesti não podia ter emprego formal. As pessoas eram e ainda são preconceituosas. É só olhar ao redor e contar quantas estão atuando profissionalmente em áreas distintas”. lamenta.

Em 2010, assim que foi presa, ela relata que para sobreviver na prisão, precisava realizar trabalhos tipicamente femininos, na lavagem de roupas, na massagem de outros presos e também se prostituindo para ter onde dormir. Mas, por ela ter o curso técnico de enfermagem, conseguiu certo “privilégio” trabalhando nas enfermarias dos presídios. Foi transferida muitas vezes, sempre que acontecia uma rebelião, a levavam para outro presídio e a colocavam na enfermaria.

Após dois anos presa, Cleide foi transferida para o antigo presídio Aníbal Bruno, hoje transformado no Complexo Prisional do Curado, na Zona Oeste do Recife. Ela e mais duas travestis foram colocadas dentro de uma cela com mais de cem homens. Eram 103 pessoas dividindo um espaço minúsculo, em que não mal cabiam vinte presos. “Quando eu cheguei, o preso mais velho da cela, geralmente é o mais respeitado, me deu a mão, me ofereceu um canto para dormir e consegui até comer. Durante o dia ele foi gentil comigo e me preservou”. Ela detalha ainda que não imaginava que seria estuprada.

“De início, eu não fiquei preocupada quando fui colocada com mais duas travestis para uma cela com cem homens. Eu tinha certa ascensão lá dentro, trabalhava e era de certa forma respeitada, eles me conheciam e não imaginei que fossem me fazer mal. Mas, mesmo assim, pedi aos agentes que não deixassem nós três lá. Não adiantou”, conta. Cleide relembra que a noite se aproximou muito rápido e detento mais velho da cela a segurou pela mão e disse que queria ter relações sexuais.

“Eu não queria. Entrei em uma briga corporal e ele me furou com um pedaço de madeira. Fiquei toda machucada e cedi. Ele me estuprou a noite toda, por vários dias. Ele gostava da minha aparência feminina, era um objeto sexual. Ele me preservava porque me queria só para ele, apesar de outros homens também me estuprarem. As outras meninas também estavam sendo abusadas. Foi um pesadelo e não tinha o que ser feito. Tive que aceitar”.

Cleide relembra que quando retornou à cela após a triagem, apontou o homem que a estuprava todas as noites e foi informada pela enfermeira: “ele é soropositivo”. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Após vários dias de estupro, uma das travestis apresentou uma fissura anal de tanto ter relações com os outros presos e o sangramento de uma levou as três mulheres à sala da enfermaria para realizar uma triagem. Elas denunciaram a situação que acontecia nas noites, dentro da cela. “Estavam trancafiadas por vinte dias sendo molestadas. Eu contei a enfermeira e pedi para que saíssemos daquele local. A gente podia ser transferida. Mas nada foi feito. Mais uma vez. Naquela época não tinha pavilhão específico para LGBTs”.

Cleide relembra que quando retornou à cela após a triagem, apontou o homem que a estuprava todas as noites e foi informada pela enfermeira: “ele é soropositivo”. A gestão do presídio nada fez, no entanto. Sem muita informação dos processos que poderiam ser adotados após se expor à prática sexual sem preservativos, o corpo de Cleide começou a enfraquecer alguns meses depois. “Eu não sabia dos métodos que poderiam ser aplicados a mim, como hoje conheço a PEP*. Mas eles existiam. E era obrigação do Estado me proteger. Eles falharam comigo. Os presos continuaram me estuprando e eu não podia me prevenir, achava que era o meu fim”, lamenta.

*PEP – Profilaxia Pós-Exposição – é o uso de medicamentos antirretrovirais por pessoas após terem tido um possível contato com o vírus HIV em situações como: violência sexual; relação sexual desprotegida (sem o uso de camisinha ou com rompimento da camisinha), acidente ocupacional (com instrumentos perfurocortantes ou em contato direto com material biológico). A PEP deve ser iniciada logo após a exposição de risco, em até 72 horas; e deve ser tomada por 28 dias.

Ainda no ano de 2012, Cleide descobriu que estava infectada pelo HIV e caiu em depressão. Continuou na cela com os mesmos homens até o fim do ano. “Não tive o acompanhamento básico, não conseguia me prevenir, não tive tratamento humanizado e só comecei a tomar a medicação alguns meses depois do diagnóstico sair”, relata. Seu corpo era usado todos os dias. Ela só conseguiu observar um futuro diferente quando conheceu Maria Clara, agente de direitos humanos do Projeto Mercadores de Ilusão, que promove a prevenção, a cidadania, o protagonismo e autonomia dos profissionais do sexo, bem como tem representações em instâncias e espaços de controle social, atuando na promoção dos direitos humanos.

No cárcere, Cleide conheceu Clara e pela primeira vez descobriu que uma travesti também podia trabalhar muito além da prostituição. “O projeto me ajudou muito a conseguir realizar exames e ganhar os medicamentos de forma correta, além de explicar o que eu tinha, como deveria me tratar e trabalhar para eu me aceitar e seguir em frente”, analisa.

Três anos se passaram e quando Cleide já estava desacreditada na inocência, em 2013, conseguiu ser absolvida da pena e foi liberado. Após uma investigação, descobriram a filmagem de uma câmera de segurança de um hotel na rua onde a travesti foi presa em flagrante. As imagens mostravam que os policiais roubaram a bolsa dela e colocaram o dinheiro e a droga para forjar o crime de tráfico. “Assim que fui inocentada, eu comecei a processar o Estado. Fui presa injustamente, fui estuprada e infectada com HIV. Sofri muito”.

Decidida a ganhar a causa, Cleide precisou deixar de lado o processo porque recebeu visitas intimidadoras dos policiais que participaram da sua prisão, já que eles conseguiam o endereço que ela residia com facilidade. Fora da prisão, voltou a morar com seu companheiro de vida e conseguiu um trabalho fixo com carteira assinada, que preferiu não detalhar para não se expor.

No segundo semestre de 2018, ela estava indo visitar o marido no cárcere e enquanto aguardava a liberação do lado de fora do presídio, foi atingida por um tiro no centro do peito. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Oito anos depois, ela conta que parou de trabalhar como profissional do sexo para se preservar porque as pessoas soropositivas precisam de uma vida mais regrada e com mais cuidados. Ainda sente muita dor ao olhar para o passado e converte a revolta de seu corpo em militância na causa LGBT e no movimento Aids, a quem ela considera como único acolhedor nesse processo de descoberta e tratamento. “Eu tive a sorte de conhecer o GTP+, tiveram sensibilidade comigo e com meu corpo, era vista como ser humano”.

Tudo que aconteceu na vida de Cleide gerou muita revolta não só nela, mas também no seu marido, que hoje se encontra preso por cometer assaltos. “O sistema não é justo. Nossas ações muitas vezes liberam o nosso sentimento de raiva, por tudo que passamos”, comenta. No segundo semestre de 2018, ela estava indo visitá-lo no cárcere e enquanto aguardava a liberação do lado de fora do presídio, foi atingida por um tiro no centro do peito. “Eu estava sentada na kombi, esperando dar a hora de ir embora, quando começou um tiroteio. A bala entrou e não saiu”, conta. Ela foi socorrida, internada e conseguiram salvá-la. Ganhou uma cicatriz para se lembrar por toda a vida da posição que ocupa, à margem.

Mas isso não a fez uma pessoa fraca, pelo contrário, foram muitas situações difíceis que teve de enfrentar para estar viva e pronta para ajudar outras pessoas. “Eu aprendi muito sobre tudo, principalmente sobre a importância de se prevenir, de lutar pelos seus direitos e de entender que a vida pode ser tranquilamente vivida por uma pessoa soropositiva, mas o alerta tem que estar ligado a tudo. Porque a gente pode também decair muito rápido, se o tratamento não for seguido à risca”, finaliza.

[@#video#@]

Conheça outras histórias de pessoas que convivem com o vírus do HIV clicando nas imagens a seguir:









 

 

 

 

 

 

 

 

Durante entrevista a um programa na TV americana, em 2015, o ator Charlie Sheen repercutiu nos quatro cantos do mundo com a declaração de que era portador do vírus HIV. A notícia chocou os fãs do artista, que sempre o acompanharam em papéis engraçados no cinema. Assim como Charlie, o Brasil já passou por momentos de tristeza quando alguns astros do entretenimento abriram o coração para revelar que tinham a mesma doença.

Ícone do rock nacional, Cazuza, na década de 1980, foi um dos famosos que abriu discussão para as pessoas que passavam pelo mesmo problema de saúde, chegando a falecer em 1990 por complicações avançadas do vírus. Neste sábado (1º), é celebrado o Dia Internacional da Luta contra a Aids, reforçando a necessidade da prevenção para combater a doença e descontruir qualquer tipo de preconceito.

##RECOMENDA##

Relembre cinco famosos que deixaram saudade e que perderam a batalha contra a Aids.

Cazuza

Batizado como "o poeta" da música popular brasileira, Agenor Neto, o Cazuza, fez história com a sua rouca e rasgada o comando do Barão Vermelho. Querendo alcançar outros objetivos, o cantor partiu para a carreira solo. Sempre aclamado pela crítica, Cazuza, em 1986, começou a sentir os sintomas da Aids. Em tratamento nos Estados Unidos durante dois meses, o filho de João e Lucinha Araújo retornou ao Brasil para produzir o disco "Ideologia". Assumindo abertamente que tinha sido infectado pelo vírus HIV em 1989, Cazuza faleceu um ano depois em decorrência a um choque séptico.

Freddie Mercury

Sucesso em todo o mundo, Freddie Mercury imortalizou os vocais do Queen. Performático em todos os shows, Freddie arrastava uma multidão por onde passava, a exemplo de quando lotou o Rock in Rio em 1985. Dois anos depois da sua passagem pelo Brasil, o astro do rock recebeu o diagnóstico de que estava com Aids. Negando sempre quando lhe perguntavam se tinha a doença, Freddie Mercury decidiu revelar o problema de saúde em novembro de 1991, um dia antes de morrer. Em 2018, o eterno líder do grupo Queen recebeu uma homenagem através do cinema no filme "Bohemian Rhapsody", contando sua história na banda.

Renato Russo

No comando da Legião Urbana, Renato Russo mostrou genialidade em suas composições. Percorrendo o Brasil ao lado de Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e Renato Rocha, Russo ganhou o carinho do público jovem através dos clássicos "Pais e Filhos", "Faroeste Caboclo", "Índios", "Tempo Perdido", "Vento no Litoral", entre outros, vendendo aproximadamente 20 milhões de discos. O que o brasiliense não esperava era que o seu legado ficasse para os fãs tão cedo. Trilhando carreira solo, Renato Russo faleceu em 1996 por complicações causadas pela Aids. No dia 27 de julho, o público pernambucano conheceu um pouco do artista através do espetáculo "Renato Russo - O Musical". A peça contando um pouco da vida de Renato invadiu o Parque Treze de Maio gratuitamente.

Wagner Bello

Nos anos de 1990, a TV Cultura prendia a atenção das crianças quando exibia a história mágica do "Castelo Rá-Tim-Bum". Nino e toda sua trupe divertiam os telespectadores mirins com situações lúdicas, dando a oportunidade de cada criança construir seus mundos particulares. Entre os assuntos didáticos abordados no programa infantil, um personagem de outro planeta encantava com sua aparência colorida. O ator Wagner Bello fez muita gente rir com as trapalhadas do extraterrestre Etevaldo. Sucesso também no teatro, Bello foi vítima do HIV. Em 1994, aos 34 anos, o inesquecível Etevaldo faleceu semanas antes de gravar sua participação no "Castelo Rá-Tim-Bum".

Sandra Bréa

O talento da atriz Sandra Bréa invadiu todas as vertentes da arte. Interpretando personagens de grande importância para a história da teledramaturgia, Sandra teve que viver um roteiro pessoal que não estava anunciado. Por volta de 1993, a atriz decidiu contar publicamente que também era uma das vítimas portadoras do vírus HIV. No primeiro semestre de 2000, Sandra Bréa veio a óbito no condomínio que morava no Rio de Janeiro, Zona Oeste da cidade. A artista faleceu quando tinha 47 anos. A última aparição de Sandra em novelas da Globo foi em "Zazá", em 1997. 

Fotos: Reprodução/Youtube/Divulgação

O Terminal Jabaquara, em São Paulo está oferecendo testes gratuitos de HIV e sífilis até às 15h30. O teste acontece na plataforma A do Terminal. A ação tem o objetivo de orientar os usuários quanto à importância da prevenção para evitar as doenças. Ao todo serão ofertados 300 testes rápidos de HIV e sífilis.

Além disso, haverá distribuição de 8 mil preservativos masculinos e folhetos informativos sobre os testes realizados. A ação faz parte do “Dezembro Vermelho”, mês da conscientização e combate à Aids.

##RECOMENDA##

O teste rápido detecta anticorpos no fluido oral e o resultado é obtido em cerca de 30 minutos. “É simples, rápido e indolor, realizado com privacidade e sigilo, indicado para todas as pessoas que têm vida sexual”, afirma a coordenadora-adjunta do Programa Estadual DST/AIDS-SP, Maria Clara Gianna.

 

O cientista chinês He Jiankui, que alega ter desenvolvido bebês resistentes ao vírus HIV, anunciou nesta quarta-feira (28) uma "pausa" em sua pesquisa, que é alvo de críticas na comunidade científica por suspeita de eugenia.

He diz ter criado uma técnica de engenharia genética que reescreve o DNA do embrião para permitir que ele seja resistente à Aids. Gêmeas que teriam sido submetidas a esse procedimento vieram à luz no mês passado, e uma segunda gravidez está em curso.

##RECOMENDA##

Durante um congresso sobre edição de genoma em Hong Kong, na China, o cientista disse que oito casais estavam envolvidos no experimento - outra mulher chegara a engravidar, mas sofreu um aborto espontâneo pouco depois -, porém acrescentou que decidiu "dar uma pausa" na pesquisa.

Segundo ele, todos os casais sabiam dos riscos inerentes à manipulação genética, mas decidiram implantar os embriões mesmo assim. He também admitiu que o experimento ocorreu fora da Southern University of Science and Technology, situada em Shenzhen e onde ele trabalhava até fevereiro passado.

O anúncio do nascimento dos gêmeas geneticamente modificadas suscitou protestos no mundo todo, inclusive na própria China, onde mais de 120 cientistas assinaram uma carta condenando a técnica e a chamando de "loucura". A Comissão Nacional de Saúde abriu um inquérito para apurar o caso.

Apesar disso, He defendeu seu trabalho. "Se há tecnologia disponível, podemos ajudar as pessoas", disse ele em Hong Kong. O gene modificado é o CCR5, usado pelo HIV para atacar o sistema imunológico. 

Da Ansa

Um pesquisador chinês revelou nesta segunda-feira (26) que ajudou a criar bebês resistentes ao vírus do HIV. Os gêmeos teriam nascido no mês passado, com o DNA modificado graças a uma nova técnica de engenharia genética chamada Crispr, um "potente instrumento" que reescreve o código genético.

Um cientista americano, que alega ter colaborado com o trabalho do pesquisador He Jiuankui, contou que foi utilizada uma técnica de edição genética vetada nos Estados Unidos. As mudanças genéticas são o temor do mundo científico, porque arriscam causar danos a outros genes.

##RECOMENDA##

Caso essa descoberta seja comprovada, trata-se de um salto do ponto de vista científico. He Jiuankui disse que alterou os embriões de sete casais durante o tratamento de fertilidade, com somente uma gravidez resultada até o momento. O seu objetivo era atribuir a capacidade de resistir a possíveis infecções por HIV, vírus causador da Aids.

A pesquisa não foi publicada em periódicos independentes da área, e alguns cientistas denunciaram o experimento. Os resultados não foram confirmados por pesquisadores, mas somente declarados em uma conferência internacional sobre edição de genes pelo próprio He Jiuankui.

O experimento, que vem descrito em um documento da Universidade de Ciência e Tecnologia, da cidade chinesa de Shenzen, intervém no principal receptor no qual se liga o vírus HIV, o CCR5. A pesquisa foi noticiada pela revista do Instituto americano de Massachusetts, o MIT, onde se lê que fora conduzida com o consenso do Comitê Ético. He Jiuankui disse que os pais envolvidos não quiseram ser identificados ou entrevistados, por isso, não se sabe onde eles moram ou onde o trabalho foi feito. O cientista informou apenas que os bebês gêmeos são duas meninas, batizadas de Lulu e Nana.

Por unanimidade, a 3ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJRJ) decidiu pela prisão de um homem condenado a dois anos e oito meses em regime aberto por ter transmitido Aids à namorada. Segundo o tribunal, ele manteve relações sexuais com a mulher sem usar preservativos e sem contar que era portador do vírus HIV.

O homem foi condenado na primeira instância, recorreu da sentença, mas teve o recurso negado. O relator do processo, desembargador Antônio Carlos Nascimento Amado, destacou em seu voto que “o contágio da parceira com enfermidade incurável, por se tratar de ofensa à saúde corporal, caracteriza a violência doméstica contra a mulher a atrair a incidência da Lei Maria da Penha”.

##RECOMENDA##

Uma infectologista arrolada como testemunha no processo disse que a recomendação é que seja usado preservativo independente do tempo de relacionamento.

Com informações da assessoria

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando