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Manu, 44 anos: “A minha experiência de estar presa...eu aprendi muita coisa. Aprendi que a liberdade da gente não tem preço, nem com todo o dinheiro do mundo. Porque o que tu vê, o que tu passa dentro de uma cadeia, é uma coisa que tu não deseja nem para o teu pior inimigo.”

De cabelos presos em um coque, batom vermelho, sempre com um sorriso. Está sentada em um banco de cimento do Bosque Rodrigues Alves, em Belém, Manuela, de 44 anos, mais conhecida como Manu. O fim de tarde está ensolarado, mas com algumas nuvens anunciando a chuva. A entrevista começa após o expediente. Ela trabalha no Bosque há três anos, em um projeto de ressocialização da Susipe (Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará).

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Por oito anos esteve entregue à vida do crime, fazendo o transporte de entorpecentes de Manaus para Belém, Fortaleza, Imperatriz, no Maranhão, e até Guiana Francesa e Itália. Em uma dessas viagens, trabalhando como “mula” (expressão dada a quem carrega a droga), Manu foi detida pela polícia, em Belém, com 12 quilos de pasta base de cocaína e condenada a doze anos de prisão.

“Foi o surgimento de dinheiro fácil, na verdade. E de adrenalina também. Eu conheço pessoas no mundo do tráfico que entraram por influência de amigos, isso também aconteceu comigo”, diz.

Manu ainda cumpre pena domiciliar, que se encerra somente em 2022. Voltou para a sociedade e para sua vida normal há três anos. Passou cinco anos presa no regime fechado, e dois anos no semiaberto.

A vida na prisão não é nada fácil. Diferentemente do que muitos bradam em discursos nas redes sociais e em conversas do dia a dia, de que há privilégios e mordomias nas cadeias, lá dentro o “bagulho é doido”. Higiene mínima, ambiente totalmente insalubre, disputa de camas e espaço para dormir, sem falar na violência policial.

A situação piora quando o indivíduo em questão, dentro do cárcere, é homossexual. A primeira “ala gay” no Brasil foi criada em 2009, com o objetivo de evitar práticas de violência e garantir a integridade física dos homossexuais. Em 2014, foi determinada pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos a ampliação da medida para todos os presídios do país, porém não é o que de fato acontece.

No Pará, há somente celas exclusivas, sem alas. Pesquisadores consideram a ação como algo paliativo, em razão de um contexto de fragilidade e insegurança nas prisões brasileiras.

Durante sua passagem pelo sistema penitenciário, de 2011 a 2017, Manu, que é mulher transgênero, vivia em uma cela com cerca de 35 homens. Nesse período, o presídio em que estava custodiada, no CTM 1 do Conjunto Satélite, periferia de Belém, não possuía as celas somente para homossexuais. Manu foi exposta a todo tipo de constrangimento, humilhação e discriminação. Ela relata que chegou a sofrer tentativa de abuso sexual.

“Na minha vida dentro do cárcere, eu enfrentei e vi muita coisa. Não foi fácil pra mim, que sou homossexual, conviver no meio de 400 presos. No meio de muitos homens eu sofri preconceito, sofri ataques. Então eu tive que me impor, tive que pôr minhas regras. Tive que me respeitar e aprender a ser respeitada como sou até hoje. Foi bem difícil, eu morava com 35 homens dentro de uma cela 6 por 8, e só eu de homossexual dentro”, relata.

Ela ainda conta que só se sentiu segura e tranquila quando casou na cadeia com um chefão do tráfico. O casamento, no entanto, não foi nos moldes tradicionais, com cerimônia, como acontece na maioria dos casos. Eles apenas passaram a viver juntos. Depois de um certo tempo, Manu descobriu que o companheiro era portador do vírus HIV. Após seis anos e seis meses se separaram, mas os dois mantêm uma amizade até hoje.

“Já sofri ameaças, em termo de me pegarem para fazer alguma coisa, mas sempre fui precavida. Casei com um homem muito forte no tráfico de drogas, então eu tive a proteção dele. A gente sempre se preveniu, mas só depois ele foi me contar que era portador do HIV. Fiquei assim mesmo, porque eu gostava dele. Casei lá dentro da cadeia.

Ainda que contasse com o cuidado e segurança por parte do marido, em muitos momentos ela se via sozinha. Totalmente indefesa. À mercê da violência. Era quando a Tropa de Choque visitava o presídio.

A ida à cadeia, de surpresa, era para realizar revistas, em busca de armas e drogas. Todos os internos ficam nus. Manu, sendo mulher transgênero, tem seios. No ato da revista policial, tirava toda a roupa, menos uma miniblusa para não se sentir tão desprotegida e exposta aos olhares de centenas de homens. Não adiantava. Era obrigada a tirar a peça.

“Quando a Choque invade lá dentro, quando ela entra de madrugada, tu tens que sair nu. Eles entram invadindo, quebrando tudo, batendo nos presos. A gente fica pelado numa área muito grande, um encostado no outro. Eles vêm para fazer a revista, mas no meio dessa revista nós somos espancados. A gente leva tiro de borracha e os cachorros que eles colocam para assustar e amedrontar, os rottweilers, os pitbulls, às vezes ainda mordem. Tem muitas coisas que eu já passei. Policiais me deixavam por último só para me bater. Rasgavam minha blusa. Como eu sou mulher trans e tenho peito, então eu não podia sair toda nua. Mas a tropa de choque, toda vez que ia lá, eles queriam me puxar e rasgar minha roupa. Um deles saiu me arrastando e me deu porrada de cassetete”, revelou.

“Então é uma coisa que você se revolta. Só não aconteceu mais porque eu tinha advogado e falei que queria que ele fosse lá nos Direitos Humanos. Porque querendo ou não, quando invadem o cárcere privado, têm que saber que tem pessoas diferenciadas no meio. Que no caso são os homossexuais, que não têm defesa para nada”, conta.

Abandono e preconceito

Manu sabe muito bem o que é lidar com o preconceito e abandono. Na infância, o pequeno Reginaldo da Silva Costa, nascido no interior do Maranhão, foi expulso de casa aos 12 anos de idade pelo pai. Os trejeitos e o comportamento afeminado, que indicavam a homossexualidade, motivaram o pai a tomar atitude drástica: tirá-lo do convívio com a família, pais e seis irmãos.

Ao ser obrigado a sair de casa, Manu perambulou e morou na rua durante a infância. Lutou para sobreviver. Comeu comida do lixo. Foi criado pelo mundo. Não teve o momento de brincadeiras, de ser criança. Já não era mais Reginaldo, adotou um novo nome: Manuela. Dormia em casas, prédios e carros abandonados, ao relento. Uma criança cuidando de outras crianças: parou de estudar aos 12 anos e começou a trabalhar como babá. Em troca de comida e de um lugar para ficar, começou a namorar um homem mais velho, aos 16 anos, mesmo não gostando. Um senhor com idade para ser seu pai.

“Hoje em dia eu já tenho contato, mas é eles lá e eu aqui. Depois de 30 anos reencontrei todo mundo de novo. Eu não tive amor por eles. Aquele amor que tu tens por um pai, por uma mãe. Não tive porque eu fui criada só. Pra mim eles são estranhos. Eu queria só um perdão da minha mãe, dela dizer: ‘Minha filha eu errei,’ mas nunca tive. Me sinto triste porque todo mundo sente falta de sua família, mas no momento eu não posso contar com mais nada. É só eu e pronto”, contou com um semblante de tristeza.

Manu fugiu para Manaus aos 17 anos. A nova cidade parecia trazer um ar de recomeço para sua vida. Foi lá que começou a cortar cabelo. Estudou e aprendeu mais sobre estética e em seguida conseguiu montar seu próprio negócio, um salão de beleza. Arranjou um namorado. Tudo parecia ir bem, parece que de fato tinha conseguido vencer as adversidades do passado e viver uma nova história. Até descobrir que seu namorado era envolvido com o tráfico de drogas. O momento da descoberta foi com a polícia batendo em sua porta. Já era tarde. Foram encontrados entorpecentes dentro de sua mochila. Foi levada junto com ele. Ficou sete meses presa.

No tempo em que ficou presa pela primeira vez, fez amizades e conheceu como funciona o mundo do crime e se jogou de cabeça no tráfico de drogas. Após deixar a cadeia, começou a trabalhar como “mula”. Viajava para outras cidades entregando a droga. Ficou oito anos nessa ocupação, até ser presa novamente. Dessa vez, o tempo enclausurada em uma cadeia seria bem maior. Foi condenada a doze anos de prisão.

Durante o período em que esteve presa, Manu começou a desenvolver atividades dentro da cadeia, como cortar o cabelo dos internos, devido à sua experiência quando era cabeleireira. Também fazia artesanato. Manu conta que as tarefas foram fundamentais para lhe tirar da ociosidade dentro da cela e ocupar seu tempo. Além de preencher o vazio e tristeza que sentia por não receber visitas.

“Me ajudou muito, porque eu não sofri tanto como os outros sofreram. De ficar o tempo todo encarcerado atrás das grades. Eu tinha uma coisa para ocupar minha mente. Diferente dos outros que ocupavam a mente só em pensar besteira, em pensar em suicídio, pensar em muitas coisas erradas”, disse.

Após o término da pena no regime fechado e saída da prisão, começou a procurar emprego, porém fracassou. Afinal, quem daria oportunidade para uma pessoa que já esteve presa? Após uma entrevista de emprego, ao puxar a ficha criminal de um candidato (a), o preconceito e o medo são fatores decisivos. Foram longos seis meses à procura de uma vaga, mas graças ao laço de carinho e amizade que criou com alguns funcionários da Susipe, no tempo em que esteve presa, conseguiu um emprego ofertado por eles. Começou a trabalhar no setor de serviços gerais, na sede da Susipe, limpando as salas e escritórios.

Após um ano e três meses, foi remanejada para um novo trabalho, no qual permanece até hoje. Ao todo são 17 ex-presidiários que trabalham no Bosque Rodrigues Alves, exercendo diversas funções. Manu faz de tudo um pouco. Realiza a limpeza de canais, limpeza das trilhas e ajuda na cozinha. Ela conta que o projeto “Ressocializando” foi uma verdadeira transformação em sua vida, em razão de lhe permitir voltar a sonhar novamente e viver de forma digna.

“Me sinto muito feliz porque foi uma oportunidade que me proporcionou muitas coisas boas. Hoje eu moro em um apartamento bom, pago meu aluguel. Hoje em dia vivo bem, vivo feliz”, diz.

Manu se preocupa com o futuro de projetos como esse, que têm o objetivo de oferecer uma melhor qualidade de vida a ex-presidiários. “Apesar de serem poucos, mas os poucos que têm já ajudam bastante. Os presos têm medo de os projetos acabarem. Ninguém sabe como vai ficar, mas eu acho que não vai acabar, porque facilita muito o Estado. Não tem aquela coisa de carteira assinada, direitos trabalhistas, não tem nada disso. O Estado ganha e o preso também ganha”, afirmou. 

A lenta mudança de vida

“Muitos querem uma oportunidade, passam necessidade, muita gente não abre porta de emprego. Muitos têm medo de contratar um reeducando. Preconceito de contratar uma pessoa que já foi presa. Eu acho que deveriam dar uma oportunidade para as pessoas, porque todos querem mudar. Todo mundo merece uma segunda chance. O que mais me toca é isso, de oportunidade de trabalho. A questão de voltar, a gente volta aos poucos, conquistando a confiança das pessoas. Contando a verdade que a gente já foi preso, que a gente passou por isso e aquilo. Isso é uma luta. Uma batalha que a gente tem até hoje, de enfrentar esse preconceito de ter sido preso.”

Com tudo o que passou, Manu adquiriu alguns traumas devido a situações de extremo sofrimento e crueldade. Precisou tomar remédios para amenizar a dor emocional. Contudo, carrega no olhar a esperança de um futuro melhor e pretende retomar sonhos que foram interrompidos. “A minha perspectiva de vida agora é tocar a minha vida pra frente. Montar o meu próprio negócio, comprar a minha casa. Eu quero abrir o meu salão de novo e me inscrever no ‘Minha Casa Minha Vida’.”

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“Aqui existia muita solidariedade", tudo que existia na sociedade existia aqui também.”

Nos anos de 1940 a 1960, isolados dentro dos muros da colônia de Marituba, os doentes precisavam encontrar forças e esperança para conseguir ver graça na vida. Com os laços familiares cada vez mais desgastados, precisavam suprir o vazio com os seus companheiros e irmãos de dor e sofrimento.  Criavam várias maneiras de se divertir e esquecer a saudade do mundo lá fora.

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Dentro da colônia de Marituba existiam times de futebol, blocos carnavalescos, festas juninas, grupo de teatro, cinema. Umas das rivalidades mais acirradas que existia era a dos blocos carnavalescos chamados Casadinho e Traz Aqui. Tudo era preparado com bastante dedicação e entusiasmo. Todos ali queriam mostrar que estavam cheios de vidas e poderiam dar o seu melhor.

Geraldo Cascaes, formado em Direito pela Universidade Federal do Pará (UFPA), chegou na colônia em 1954 aos 10 anos de idade e afirma que as pessoas procuravam reproduzir um pouco do mundo lá fora, como se fosse uma encenação da vida social.

Cascaes, como é conhecido dentro e fora do abrigo João Paulo II, explica que começou a sentir os primeiros sintomas da doença aos 7 anos. O tempo foi passando e as manchas e dores ficaram cada vez mais acentuadas. Quando completou 10 anos de idade, sua família desconfiou que ele estava com a doença e o levou ao médico. Ele contou que chegou a tomar alguns medicamentos, mas sem sucesso, e o jeito foi ser internado na colônia.

“A minha sorte foi que a minha família nunca me abandonou. No meu pavilhão tinham uns 15 meninos; desses 15, só uns sete tinham visitas, outros vez ou outra, e alguns nem tinham”, disse.

Logo nos primeiros dias na nova morada, Cascaes estranhou bastante, mas logo se enturmou nas brincadeiras com os amigos do pavilhão. Sempre muito esforçado e inteligente, ele queria estudar. A dúvida, na época, era escolher entre o Direito e a Pedagogia, mas optou seguir pelos caminhos da justiça. Terminou o segundo grau e se preparou para prestar vestibular, ele e mais um amigo da colônia.

Em 1977, os dois ouviram no rádio a notícia que mudaria os seus destinos: foram aprovados na Universidade Federal do Pará (UFPA). “Foi uma alegria enorme comemorar esse dia”, recordou Cascaes.

Passado o entusiasmo da aprovação, o sentimento que tomou conta foi o medo de encarar uma universidade. As sequelas da doença já eram visíveis em suas mãos. “Fui frequentar a universidade, a gente ficou temeroso. Eu já tinha defeitos nas mãos, e meu amigo que passou, também. Aí tinha que fazer um exame pra entrar na UFPA, mas falamos com o Dr. Chaves, diretor da colônia, ele mandou a gente levar um documento, passamos pela inspetoria e nossa entrada foi liberada. Durante as aulas eu não tive problema nenhum. Eu não falava que morava aqui, mas o pessoal sabia que eu tinha a doença. Eu nunca passei vexame. Eu usava perna mecânica, porque a doença tinha afetado meus nervos e eu tive que amputa”, explicou.

Geraldo também se casou na colônia e teve dois filhos que foram levados para o educandário, mas isso não impediu que lutasse pelos seus objetivos. Quando se formou, em 1982, retirou os seus filhos do internato compulsório. A menina tinha 11 e o rapaz, 9 anos.

Dentro de todos os hospitais-colônias do Brasil existia uma participação muito grande da igreja católica. Em Marituba, não foi diferente. Padres e freiras foram responsáveis pelas grandes mudanças e perspectivas melhores aos doentes.

Embora o decreto nacional de desativação das colônias tivesse sido instituído em 1970, a colônia de Marituba realizou internações até fevereiro de 1982, e no decorrer do mesmo ano internos da colônia receberam a visita do papa João Paulo II, que proferiu palavras de esperança e fé aos internos que estavam preocupados com o que iria acontecer com seu futuro.

Geraldo explica que a visita foi um dia único na vida de todos que estavam ali. “O papa veio aqui quando a gente estava com aquele pensamento: o que vai acontecer com a gente, porque não se interna mais ninguém. O papa veio em boa hora, e dirigiu umas palavras muito fortes para gente. Foi um dia esplendoroso”, recordou.

Após essa visita, as coisas mudaram significativamente na colônia. Lembram do Jorge da Silva, do início da reportagem? Ele escreveu um poema que retratou em palavras o quanto a segregação foi devastadora na vida de quem foi acometido pela hanseníase, e também falou sobre a mudança da colônia para o abrigo.

DO INFERNO AO PARAISO

Outrora, um cárcere privado,

Que da sociedade escondia seres humanos,

Acometidos de um mal quase sem cura.

Crianças, jovens, adultos aqui chegavam,

Sem esperanças de sobreviverem, a uma vida difícil e tão dura.

Intensa mata virgem de frondosas árvores,

Circundavam aquele exílio, transformando-se

Em poderosas muralhas,

Que isolavam do resto do mundo,

Aquele povo, já marcado e escravizado,

Pela tão temida desgraça.

Um presídio onde pessoas

Fingiam sorrir, para suas tristezas esconder,

Fingiam cantar, enquanto as dores dos sofrimentos

Por dentro os faziam chorar

Pareciam eternos, os dias de angústia e solidão,

Para que alguém ali pudesse se acostumar.

Mas dos altos céus, um poderoso Deus tudo via.

E traçou em suas mãos um destino novo,

Para aquele povo que ali sofria.

Ungiu quatro amigos, uniu quatro vidas,

E entrelaçou-as em um só coração,

Para lutarem por um só ideal,

Transformar vidas sofridas,

Em calmaria real [...]

Lembrá-los hoje não é tudo,

Tudo é viver as lições de vida,

Que hoje aqui estamos a desfrutar.

Dom Aristides, João Calábria,

Marcello Cândia e João de Deus,

Servos do senhor, que por aqui

Passaram, queremos aqui homenageá-los

E agradecer-vos em espírito,

Por este paraíso abençoado,

Que por vós foi reformado,

Libertando do cativeiro,

Um povo sofrido, mas por vocês tão amado,

Salve o dia 14 de novembro, dia em que o abrigo João Paulo ll foi por Deus abençoado.

(Jorge Silva, morador da colônia de Marituba)

Reportagem e texto: Adrielly Araújo.

Edição: Antonio Carlos Pimentel.

 

O Portal LeiaJá foi vencedor do 41º Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. O livro-reportagem em quadrinhos “Tira” levou o prêmio na categoria “Arte”. O material tem apuração e redação de Nathallia Santos Fonseca e Eduardo Nascimento, com ilustração e diagramação de Roberta Veras.

“Tira” conta a história de três mulheres que realizaram aborto clandestino em Pernambuco. Só em 2015, 200 mil mulheres foram atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) do país em decorrência de complicações em procedimentos de aborto ilegal.

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O Prêmio Vladimir Herzog reconhece trabalhos que valorizam a democracia e os direitos humanos. Nesta edição, houve recorde de inscrições: 692 trabalhos enviados por jornalistas, artistas e repórteres fotográficos. A solenidade de premiação ocorrerá no dia 24 de outubro em São Paulo, com roda de conversa entre os premiados.

Confira o livro-reportagem em quadrinhos.

A Sociedade Brasileira de Hansenologia aponta que não existia nenhum embasamento científico para o isolamento no intuito de controlar a transmissão da doença. Sabia-se apenas que o contágio era feito de indivíduo doente para indivíduo sadio. Porém, os meios de transmissão ainda não estavam totalmente claros.

Atualmente, os casos ainda são muitos. Em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 143 países reportaram 214.783 casos novos de hanseníase, o que representa uma taxa de detecção de 2,9 casos por 100 mil habitantes. No Brasil, no mesmo ano, foram notificados 25.218 casos novos, uma taxa de detecção de 12,2 a cada 100 mil habitantes. Esses parâmetros classificam o país como de alta carga para a doença, sendo o segundo com o maior número de casos novos registrados no mundo. O Morhan aponta que uma das maiores dificuldades para essa diminuição é o preconceito, ainda muito latente.

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Segundo Erving Goffman, pesquisador autor de "Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada" (1988), cada sociedade estabelece para seus membros os atributos que ela considera como comuns, aceitáveis. O autor complementa que as relações sociais são mediadas por esses atributos e quando somos apresentados a alguém, a pessoa é avaliada segundo tais códigos sociais e categorias específicas.

Quando esse "estranho" não corresponde aos padrões e códigos, logo é enquadrado numa categoria rebaixada, sendo classificado como inferior. Goffman relaciona três tipos de estigma. Em primeiro lugar, as chamadas ‘abominações do corpo’ – relativo às várias deformidades físicas. Em segundo, as culpas ou distúrbios de caráter mental. E, finalmente, os estigmas de raça, nação, religião.

A ‘lepra’ se enquadraria no primeiro tipo de estigma. Mesmo nem todos os doentes apresentarem sintomas aparentes da doença (lesões físicas). Mesmo assim, o passado histórico e sua referência bíblica a caracterizam como uma ‘abominação do corpo’.

Os olhares da sociedade distanciavam cada vez mais os internos de uma realidade próxima a normalidade. Ao mesmo tempo em que essas práticas de exclusão iam sendo impostas, táticas de resistência eram inventadas cotidianamente por esses doentes para escaparem dessa rede de exclusão. Muitos não aguentavam a vida dentro do hospital-colônia e fugiam.

Thiago Flores, diretor do Morhan, alega que tudo não passou de uma crime de estado, além da dor e sofrimento. "O brasil desde 1968 não poderia mais seprar compulsoriamente pessoas com hanseniase e nem isolar os seus filhos. Mas ao contrário da lei, até o ano de 1986 as pessoas com hanseníase eram obrigadas a viverem isoladas nas colônias do país", denunciou.

Frei Guido, o homem mais respeitado da Mirueira

Quadro do Frei Guido pendurado na sede do Centro Social da Mirueira. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O religioso franciscano Frei Guido Fiekers contriu a hanseníase quando participava de uma caravana missionário no norte do Brasil. Ele decidiu se tratar e logo foi transferido para a então Colônia da Mirueira. Passou a morar na Vila dos Casados do hospital. O Franciscano encontrou uma realidade desafiadora, um ambiente de pobreza, cenário de grandes dramas sociais.

O alemão deu início a uma ação pastoral interna. Realizava celebrações na própria residência, catequizava e ajudava na alimentação de alguns carentes. Ele optou por permanecer na Colônia mesmo depois de sua liberação hospitalar. Em 1967, é nomeado Capelão do Sanatório Padre Antônio Manoel, passa a morar junto ao pórtico principal do hospital, próximo a igreja, numa pequena casa, depois reformada e designada Residência do Capelão. Reformou a entrada da igreja, com intuito de facilitar aos doentes com sequelas motoras, o acesso aos atos religiosos ali celebrados.

Frei Guido também foi responsável por ajudar os pais a localizar os filhos afastados. Muitas vezes doava terrenos para que as famílias pudessem buscar as crianças e começar uma nova vida. Fundou uma escola no bairro da Mirueira porque os filhos dos internos não podiam estudar nos colégios tradicionais por causa do preconceito. Havia, naquele tempo, medo de contágio e isso causava uma forte discriminação e rejeição aos que de alguma forma eram atingidos pela doença.

Frei Guido criou em março de 1970 a Escola Centro Social da Mirueira, que oferecia material didático, fardamento e merenda a seus alunos. Em 31 de maio de 1980, Frei Guido vem a falecer de infarto em sua residência, dentro do Hospital da Mirueira. Dois anos depois, a Escola fundada por ele, recebe o nome de Grupo Escolar Frei Guido.

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Não há respeito nem a memória dos enterrados no cemitério do hospital Atualmente o Hospital Geral da Mirueira, apesar de ainda ser considerado referência no atendimento à hanseníase, também realiza o tratamento para recuperação do alcoolismo.

O enfermeiro Randal Medeiros, coordenador do Morhan Recife. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Para Randal Medeiros, coordenador do Morhan, o tratamento para os hansenianos deixa a desejar. Ele aponta que o centro médico não disponibiliza as melhores condições para os pacientes.

"Não há ambulatório estruturado, o local de internação é precário e pode perceber que as alas de hanseníase ficam bem no fim do hospital. Eles agoram atuam na questão do álcool porque é o que dá mais dinheiro. A gente percebe que há um abandono por lá, o mato muito grande e parece que a história vai se apagando aos poucos", destaca Randal.

No cemitério, onde as memórias deveriam ser preservadas com dignidade, o cenário de abandono é visível. Lápides com muitas pixações, sem os devidos nomes dos que já partiram. O mato tomou conta do local que parece não passar por uma obra de preservação há anos. O local do velório não existe mais.

Apesar do abandono, os pacientes que restaram fazem questão de serem enterrados lá. Querem descansar ao lado de seus companheiros de vida. A gestão do hospital coloca a culpa no município e vice-versa. Não bastasse o sofrimento cometido contra essas pessoas em vida, a morte também parece ser uma dificuldade.

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Clique nas fotografias abaixo para ter acesso às reportagens:



"O passado presente presente e a dor do afastamento pela hanseníase"

"Helena Bueno, afastada de seus pais no dia do nascimento"

"Achei que nunca mais ia rever meus filhos", assume mãe





"Maus-tratos e abusos eram práticas comuns no orfanato"



"Me chamavam de filho de leproso safado", lamenta idoso

Zilda Pereira da Silva, 69, não se lembra do começo de sua vida. A primeira recordação é ao acordar no Instituto Guararapes, que ficava localizado no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. O preventório é para onde as crianças afastadas dos pais eram encaminhadas pelo Estado. Atualmente a sede do instituto está sob responsabilidade da Igreja Católica e o orfanato não funciona mais.

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Ela chegou por lá ainda bebê e diz que no início a rotina era normal. Eles podiam brincar, tinham aulas e conviviam bem. Mas, bastava uma criança fazer algo fora da curva que ela já era espancada e castigada de forma severa. Nas palavras de Zilda é possível perceber que ela ainda não sabe a gravidade do que passou naquele local, quando estava sob responsabilidade do governo. Afirma não ser sido humilhada, mas conta que era torturada pelas mulheres que trabalhavam no local.

“Elas batiam nas nossa cabeça, esmurravam, e nos colocavam no milho para rezar”, detalhou. Um episódio que aconteceu no Instituto Guararapes causa problemas até hoje para Zilda, décadas depois. Ela estava no balanço brincando com os colegas e um garoto atirou em sua direção uma lata de doce, daquelas de ferro. “Ela pegou em cheio no meu dos meus peitos. Sangrou muito e inflamou, eu me lembro. Como ninguém tratou até hoje sou prejudicada, já fiz cirurgia e tomo muitas medicações porque dói muito, minha filha”.

Entrada do antigo Instituto Guarrapes, na Várzea. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

A aposentada nunca conseguiu conhecer a sua mãe. Parece que a história se repete em círculos. Ela também foi uma filha afastada dos braços maternos e imagina até hoje como teria sido uma vida diferente caso tivesse o apoio de uma mãe. Quando ficou mais velha descobriu como a mãe morreu e o trauma só aumentou.

“Foi assim minha filha, ela vivia aqui dentro da Mirueira internada. Aqui eles casavam e tinham filhos porque só podiam conviver entre eles. Ela não sabia que estava grávida e mandaram ela pra uma hospital daqui de Paulista. Ela chegou lá e eles viram que ela ia ter o bebê. Mas olharam o prontuário dela e viram que era hanseniana. Não sei se ficaram com medo, mas não fizeram nada e ela continuou sangrando. Mandaram a minha mãe de volta para a Mirueira e ela, não sei ao certo, não conseguiu parir. O meu irmão nasceu deformado e morreu. Ela também morreu, muito jovem”, chora Zilda ao argumentar que a mãe não teve os cuidados necessários que um ser humanos precisa.

Zilda conseguiu sair do Instituto Guararapes só aos 18 anos e foi morar com uma familiar. Ela entrava escondido no hospital para conversar com o pai e teve tempo de conhecê-lo. Sua vida também girou em torno da região do bairro da Mirueira e é assim até hoje. Casou, teve filhos, uma delas também foi diagnosticada com hanseníase, mas se tratou e vive saudável. Ela nunca conseguiu criar os filhos devido as condições financeiras. “Meu sonho era tê-los criado, mas não deu. Pelo menos estão bem e com saúde”, disse aliviada, enquanto se despede e pergunta se a entrevista pode ajudá-la de alguma forma.

Zilda também participa de reuniões com outros filhos separados com o intuito de lutar por uma indenização pelos danos causados pela seu afastamento dos familiares. Ela exita em culpar o estado, o hospital ou a direção do Instituto Guararapes. Acredita que tudo acontece por um motivo e que deus só dá o fardo para quem pode aguentar. Mas, se questionada sobre as violências sofridas por toda uma vida, as memórias ressurgem e ela fala como se tudo tivesse acontecido ontem.

Casa onde funcionava a antiga maternidade do Hospital da Mirueira. Hoje o local foi reformado e é utilizado para fins administrativos. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Ao entramos no hospital, atualmente com cerca de 11 hectares de terra, nos deparamos com um local que parece não ter fim. É imenso. Ladeiras, igrejas, muito mato e funcionários para todos os lados. No fim da rua principal fica o espaço destinado aos últimos moradores que também são pacientes. Ficaram por lá porque já são idosos e não têm mais familiares dispostos a cuidar da enfermidade. Do período da compulsoriedade ainda residem na área asilar 23 pacientes.

Já aposentada, Maria José de Souza, 70, chegou no auge de sua vida ao hospital. Não se lembra com clareza dos números, mas desconfia que tinha vinte anos. Ela estava grávida da terceira filha, as duas primeiras já não tinham convivência com ela e foram morar em São Paulo com a família do pai.

Diagnosticada com hanseníase, ela sabia que ao ter o neném não poderia ficar com a filha para criar, um sonho antigo. Mas também não imaginava que ela lhe fosse tirada exatamente no mesmo dia em que nasceu. Ela conta que pariu na maternidade da Mirueira e só conheceu a criança um mês depois, após conseguir uma licença e ir visitá-la na Várzea. E foi assim por anos. Visitas esporádicas e uma relação abalada.

Maria José recebe ligações às vezes das filhas, mas é nas novelas que se apega. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Ela mora sozinha uma casa simples dentro do condomínio ‘Gil de Campos’, onde pacientes mais antigos residem. Recentemente pintou a casa toda de cor de rosa para ficar charmoso. Por muito tempo fez questão de cozinhar sua própria comida, mas pelas limitações físicas Maria José aguarda rotineiramente pela alimentação que já vem preparada da enfermaria. Recebe ligações às vezes das filhas, mas é nas novelas que se apega. “Gosto de assistir porque é a única coisa que me restou para fazer”, disse.

Durante a tarde, conversa com o vizinho na calçada e observa a antiga praça onde viveu momentos marcantes ao lado dos amigos também internos. Ela se locomove com uma cadeira de rodas improvisada feita de madeira e com rodinhas de poltronas de escritório. É da cama para a porta de casa e vice versa todos os dias. O tom de saudosismo e os olhos marejados aparecem quando ela relembra as décadas passadas.

“Aqui tinha festa para toda época do ano. A gente vivia isolado, mas tinha muitas pessoas, mais de 400. Era uma cidade, tinha festa de são joão, nessa época mesmo as bandeirinhas já estavam penduradas por aí. Tinha quadrilha, comida e muita música. A gente era feliz, apesar de tudo. Hoje em dia é assim. Um silêncio absoluto”, destacou Maria.

Única fotografia mais jovem que guardou. Nessa época ela já estava internada na Mirueira. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Um pouco mais a frente da casa de Maria José, na praça que hoje se encontra mal cuidada, uma senhora tira um pano do bolso e enxuga a testa de tanto suor. Ela está vestida com uma roupa azul e chapéu para se proteger do sol forte, quando o relógio se aproxima das 15h. Caminha de um lado para o outro limpando o mato com uma vassoura de jardim metálica e ao ser chamado diversas vezes por uma das colegas, prefere não olhar e continua o serviço.

Após a insistência, Carmem Lúcia Cavalcanti, 54, decide parar por alguns segundos e topa conversar um pouco desde que não a atrase nos afazeres. Ela trabalha como ajudante de serviços gerais no Hospital da Mirueira há mais de trinta anos. Coleciona histórias do que já fez pelo local e diz que é feliz trabalhando na colônia, apesar do salário ser pouco e atrasar muito.

Prefere ser chamada de ‘Cainha’ porque não gosta do seu nome. Ela nasceu na Paraíba e ainda muito garota sua família descobriu que ela tinha hanseníase. Foi morar na ala dos doentes no Instituto Guararapes porque não podia ficar mais em casa para não passar a doença aos irmãos.

Cainha trabalha no hospital há mais de trinta anos. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

O pai descobriu a doença quando retornou no quartel e foi transferido para a Mirueira. “Ele não podia ficar com a gente porque o tratamento só era feito se ele estivesse internado. A mãe de Cainha tinha cinco filhos, dois deles também fizeram o procedimento médico e o resultado deu positivo para hanseníase. Clóvis e Cainha foram ainda jovens morar no preventório, na Várzea.

“Se eu tivesse um filho hoje com esse mesmo problema eu nunca internaria eles lá. Foi a pior fase da minha vida”, relembrou. Ela chegou com oito anos e saiu aos 19. O discurso é o mesmo de quase todos que passaram por ali. Sofrimento, tortura e muitos castigos.

Antigo pavilhão onde ficavam os dormitórios no Instituto Guararapes. Foto: Júlio Gomes/LeiaJáImagens

Os quartos das crianças com hanseníase era isolado dos outros para não correr o risco da disseminação da doença. Cainha também sempre sofreu de esquizofrenia e precisava tomar remédios controlados. Quase sempre fazia xixi na cama e como castigo, dormia no chão porque a cama estava molhada.

Quando recebia visitas da mãe, sempre chorava e pedia para voltar para casa. Anos afastada da família, Cainha garante que não houve um dia sequer que não sonhou com a volta para a casa. No ano em que o pai já estava melhor de saúde, comprou uma casa no bairro da Mirueira e trouxe a esposa e parte da família. “Foi quando a minha mãe veio buscar a gente, eu e meu irmão”.

Ao reencontrar a família dos vinte anos em diante, sentiu o que era um vínculo familiar pela primeira vez. Conseguiu ainda jovem um emprego no Hospital da Mirueira, onde ela e seu pai se tratavam.

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"O passado presente presente e a dor do afastamento pela hanseníase"

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"Achei que nunca mais ia rever meus filhos", assume mãe




"Me chamavam de filho de leproso safado", lamenta idoso



"Isolamento desnecessário não controlou surto de hanseníase"

Antônio José Cisneiros ainda criança no preventório. Foto: Arquivo Pessoal

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Antônio José foi afastado dos pais e só conviveu três meses com a mãe. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Antônio José Cisneiros, 75, passou doze anos da vida no Instituto Guararapes. Foi mais uma criança separada da mãe e do pai, que permaneceram internados no hospital. Só conviveu com a mãe por três meses, ela veio a falecer noventa dias após ele sair do orfanato. Conversava com ela pessoalmente e nunca se esqueceu das lembranças daquele tempo.

Passou anos morando na rua e passando fome, após ser retirado do orfanato por uma suposta tia, que o fazia de empregado. Vendeu jornal, fez biscaite e a vida só melhorou quando aprendeu a dirigir e um conhecido lhe ofereceu um emprego para trabalhar de motorista. Ele foi empregado pelo governo do estado e passou a dirigir o carro do Hospital da Mirueira.

Ao lado da filha Irene Lopes, 49, José relembrou as etapas vencidas de sua trajetória. Conviveu com o pai durante alguns anos quando dirigia para o hospital e guarda ótimas lembranças. O tempo que passou no Instituto Guararapes ainda provoca arrepios pelo tratamento que sofreu.

Irene ao lado do pai. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Thiago Flores, diretor nacional do Morhan, Diretoria Jurídica e Diretoria de Filhos Separados, luta também para que os filhos afastados ganhem uma indenização do governo. “É aos moldes da Indenização da Lei 11.520/07, ao qual indeniza todas as pessoas com hanseníase no Brasil que foram separadas compulsoriamente, essa luta tem 9 anos e ninguém ainda foi indenizado, não existe ainda a lei. Alguns filhos já entraram na justiça pedindo danos morais, mas o tempo é um dificultador, a maioria dos magistrados consideram que os "crimes" estão prescritos.”, explicou.

Pai de cinco filhos e casado desde 1964, Antônio ainda espera receber a indenização em vida. "Quando chega dia de finados, eu venho ao hospital para acender velas. Eles estão enterrados aí. Esse dinheiro não vai pagar o sofrimento, mas é justo que a gente receba pelos danos", comentou. 

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Deitado em uma cama dentro da enfermaria para hansenianos no Hospital da Mirueira, o aposentado José Ancelmo, 80, é integrante do pequeno grupo que restou por lá. Um papel ofício colado na parede ao seu lado o identifica de longe. Com letras escritas por um hidrocor preto, qualquer pessoa ao entrar na sala já sabe quem é aquele senhor. O procedimento é praxe para todos pacientes, mas não precisaria estar ali como auxílio para o lembrete. Todos no hospital conhecem seu Ancelmo e sua história de vida. Carismático e muito querido, o senhor é lembrado pela lucidez e simpatia para conversar com qualquer um, conhecido ou não.

Ancelmo é cego desde os 38 anos e também não pode mais se locomover sozinho. Por causa das consequências da hanseniase, precisou amputar os dois pés e as mãos ficaram sequelados e com tremores constantes. Ele está bem acomodado com uma fralda descartável e parece até que voltou a ser criança. Não fosse a tonelada de histórias que carrega, poderia voltar a ser um bebê.

Ele aproveitou a vida ao máximo até quando sua saúde permitiu. Gostava de tomar chopp em barzinhos, ouvir Nelson Gonçalves e dançar. A vida era um barato para Ancelmo, que antes mesmo de iniciar a conversa já canta versos que o fazem lembrar dos tempos da boemia, no centro do Recife.

Senhor,
Aqui estou eu de joelhos
Trazendo os olhos vermelhos
De chorar, porque pequei

Senhor, 
Foi um erro de momento
Não cumpri o mandamento
O nono de vossa lei

Senhor,
Eu gostava tanto dela
Mas não sabia que ela
A um outro pertencia

Perdão,
Por este amor que foi cego
Por esta cruz que carrego
Dia e noite, noite e dia

Senhor,
Dai-me a vossa penitência
Quase sempre a inconsciência
Traz o remorso depois

Mandai,
Para este caso comum
Conformação para um
Felicidade pra dois...

É nas letras da canção 'Novo Mandamento', de Cauby Peixoto, que a memória se faz viva e presente. A juventude bem aproveitada orgulha Ancelmo, que também adorava dançar. 

Ancelmo entrou no hospital aos 16 anos, mas passou períodos morando nos arredores da região da Mirueira, quando tinha melhora. Depois adoecia novamente e aí voltava.  Ele é natural da Paraíba e nasceu na roça. Desde os cinco anos já aparentava estar doente, mas a família não sabia ao certo o que poderia ser. Um dia seu primo montou com ele em um cavalo e foram a um povoado próximo para o atendimento médico. 

Quando relembra deste dia, o senhor lamenta a humilhação sofrida. O médico explicou o que ele tinha e falou na frente de todos que ao retornar para sua casa, todos seus pertecens precisavam ser separados, até mesmo o copo de água. "Voltei chorando muito no cavalo, nunca tinha sido tratado daquele jeito", lamentou.

"Era 1954. Estava em casa sofrendo muito e meu cunhado me levou em Serra Branca. Fiquei aguardando o atendimento. O dono da farmácia me colocou logo na frente da fila porque eu estava muito doente. O médico mandou logo eu me afastar. Perguntou se eu tinha mãe ou pai. E continou escrevendo em um papel. Ele me entregou a receita médica e tinha que tomar cinco injeções todos os dias e eu saí chorando. Quando eu cheguei em casa e contei a minha mãe, ela disse para eu não me preocupar", detalhou Ancelmo.

Registro de um aniversário de Ancelmo. Ele canta ao lado de uma amiga. Foto: Arquivo Pessoal

Anos depois foi transferido para se tratar no Hospital Geral de Mirueira e entre as saídas e retornos, fez muitos amigos, conquistou corações e repensou a vida. “Sou internado há 64 anos e estou vivendo mais alegre e feliz”, disse.

Ancelmo conhece cada esquina do hospital. Mesmo após as reformas com o passar dos anos, ele ainda sabe onde cada instalação fica. Frequenta atualmente o centro espírita porque foi na religião que encontrou paz. 

Casou duas vezes. Com a segunda esposa, que também estava internada na colônia, teve uma filha. A criança nasceu no dia 8 de março de 1965 e no mesmo dia foi enviada ao preventório, como era o costume da época. . “Eu me arrependo de colocar a minha filha lá, mas não havia outra maneira. Eu já estava com uma condição física ruim e minha família era toda sertaneja, não tinha ninguém para tomar conta dela", afirmou. 

A pequena Dolores Anselmo Barbosa passou os primeiros anos de vida na Várzea. Os pais conseguiam tirar a licença vez ou outra para encontrá-la. Os internos podiam sair do hospital por algumas horas ou alguns dias. Bastava fazer os exames e ser detectado que estava “negativo”. O médico dava uma licença que valia mais do que qualquer outro documento. Esse papel dizia o tempo que os pacientes podiam ficar na rua. “Era um documento que se a gente fosse chamada atenção na rua, podíamos mostrar e ficava tudo bem", disse ele.

Na conversa, Ancelmo relembra o primeiro encontro com a filha, aos quatro anos. Ouça abaixo:

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Quando a criança completou onze anos, ele teve uma melhor condição e tirou a filha daquele local. "Ela não ficou aqui e foi morar na casa do meu enteado em Santo Amaro", contou. Atualmente, ele e Dolores são próximos. Ela está com 54 anos e visita o pai na Mirueira com frequência. O neto vai ao hospital todos os dias para dar banho no avô. "Logo mais ele chega por aí, o meu netinho Diego Anselmo", falou.

A saudade de casa sempre foi grande, mas a necessidade do tratamento era uma realidade "Esse era o mundo de todos internados. Era aqui. Aos poucos foram se espalhando. Uns pediam alta e iam embora. Outros a família vinha buscar e outros partiam para um mundo melhor. A vida é boa de se viver, só quem não sabe viver a vida é quem sofre muito. Eu não sofro".

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"O passado presente presente e a dor do afastamento pela hanseníase"

"Helena Bueno, afastada de seus pais no dia do nascimento"

"Achei que nunca mais ia rever meus filhos", assume mãe

"Maus-tratos e abusos eram práticas comuns no orfanato"



"Isolamento desnecessário não controlou surto de hanseníase"

Maria José em sua casa no bairro da Mirueira. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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A aposentada Maria José Nascimento, 71, hoje vive cercada de seus oito filhos. Embora muitos tenham casado e constituído família, eles não saíram das redondezas do bairro onde vive a mãe. Ela gosta de ter todos eles próximos para se reunirem nos fins de semana, na laje de um dos filhos. O desejo de manter essa proximidade com os herdeiros remonta às décadas passadas, em que foi obrigada a se afastar dos maiores amores de sua vida ao ser diagnosticada com hanseníase.

Maria José é natural de Escada, cidade localizada na Zona da Mata Sul de Pernambuco, distante 60 quilômetros do Recife. Trabalhou por muitos anos na roça, capinando e plantando principalmente macaxeira e batata. De família humilde, casou-se ainda muito jovem e foi morar no Recife ao lado do esposo. Com ele teve nove filhos; posteriormente, um deles faleceria. A aposentada lembra que não tinha boas condições financeiras para cuidar da saúde e começou a sentir fortes dores no corpo ainda jovem.

Foi em diversos hospitais, postos e clínicas e ninguém sabia o que ela tinha. As dores não eram constantes, ela apareciam em períodos e podiam sumir, também. "Sentia um formigamento, parecia que tinha algum bicho andando pelos meus braços, sabe. Era um queimor danado", descreveu a aposentada. 

O marido decidiu que a família se mudaria para o Rio de Janeiro por mais opções de trabalho. Mesmo com dores, Maria José ficou alguns meses por lá trabalhando como doméstica nas casas de família. A viagem não fez bem. Os fortes sintomas voltaram e ela não conseguia sequer andar. Ficou de cama e os seus ossos doíam bastante. Os filhos ajudavam a dar banho, preparar a comida, mas todos queriam saber qual a solução para tamanho sofrimento da mãe.

O companheiro dela a abandonou e mandou todos de volta para o Recife. Na capital pernambucana, Maria foi instruída a procurar o Hospital da Restauração, referência em tratamento médico na Região Metropolitana do Recife. Não demorou muito para que de lá ela fosse transferida para o Hospital Geral da Mirueira, em Paulista, também chamado Sanatório Padre Antônio Manuel, na época. O diagnóstico confirmou a hanseníase, então lepra. Ela não sabia o que era a doença e nem desconfiava da existência do leprosário, local onde os pacientes eram isolados da convivência externa.

A colônia da Mirueira funcionava como uma micro-cidade e foi fundada em 1941 para atender às recomendações do Serviço de Profilaxia da Lepra. Projetado com ruas, praças, templo religioso, prefeitura, escola, área de lazer, além dos complexos médicos necessários, o local era símbolo do isolamento social dos acometidos pela doença em Pernambuco.

"Em Mirueira, sítio pitoresco, que fica em Beberibe, no extremo da zona rural do Recife, o govêrno nacional construiu uma cidade, provida de todas as instalações necessárias para o fim humano a que se destina. Parques de diversão, cinema, campos de cultura, a vida que se pode viver nas grandes cidades, fora dos recolhimentos e dos hospitais, em contacto com a natureza e a civilização, os doentes vão ter ali".

No dia 9 de julho de 1941, o jornal Folha da Manhã publica a nota acima acerca das obras de construção do Hospital-Colônia da Mirueira, inaugurado 17 dias depois, em 26 de agosto de 1941.

Fotografia antiga do Hospital da Mirueira. Foto: Acervo do Hospital Geral da Mirueira

Em 1970, quando chegou ao hospital, Maria José acrescenta que se assustou com o que viu. As pessoas estavam muito piores do que ela, muitas delas já deformadas, sem membros e fragilizados psicologicamente. O ambiente do hospital, por ser isolado, facilitava com que ela conhecesse a fundo a realidade de outros pacientes que por ali estavam há anos, muitos desde jovens.

"Muitos diziam a versão bíblica de que era um castigo para o corpo, outros falavam que era um problema de saúde herdada da família e diziam que era muito contagioso. Muita desinformação", lamentou Maria. 

Ao descobrir do que se tratava a “lepra”, parte de sua família virou as costas e não ofereceu suporte. Ela só tinha o pai e a mãe, essa última doente de cama e sem condições de oferecer muita ajuda. O pai foi o responsável por acolher as nove crianças no interior do Estado enquanto ela estava internada sem poder ter contato com ninguém do mundo externo.

“Meu pai não ganhava bem, não era aposentado e nada. Trabalhava no interior para cuidar de tudinho. Ele me disse que ia mandar cada um para uma casa de parente distante porque ele não tinha como dar comida e cuidar, precisava trabalhar. Me desesperei achando que nunca mais ia encontrar meus filhos”, relembrou Maria José.

A filha Maria de Fátima Santana, hoje com 50 anos, foi levada com o irmão Ronaldo para a casa de um parente distante no Engenho Jundiá, nas proximidades da cidade de Escada. Ela tinha dez anos e diz que apesar de tentar apagar as memórias ruins daquele tempo, elas ainda são vivas e presentes. “Meu avô dizia assim, ‘Eu não quero dar vocês não, mas a mãe de vocês está muito mal, de cama. Vou ter que espalhar vocês pelo interior’. Eu fui para a casa do irmão do meu avô e os outros foram sendo distribuídos. Não dava para a gente encontrar o outro porque era muito distante”, contou.

Ela relembrou que a família humilhava os filhos porque tinham medo deles terem a doença também. “Eu sofri muito nessa casa, trabalhava demais e ouvia muita coisa ruim”, lamentou ao relatar sobre o início da adolescência. Abuso sexual, espancamento e falta de carinho. Dos dez aos treze anos foi assim. Separados da mãe e sem perspectiva de um reencontro.

Outro filho de Maria José, o vigilante Paulino Santana, 45, tinha apenas sete anos quando precisou deixar os braços da mãe para que ela fosse se tratar da doença. Não entendia bem o que estava acontecendo e passou a viver com um "estranho" tendo apenas um irmão mais novo como vínculo familiar. 

O 'tutor' os obrigava a roubar frutas da casa do vizinho e os espancava com frequência. "Eu tive que fugir um dia. Não aguentei mais. Saí correndo por dentro do mato quando vi ele bater muito no meu irmão. Entrei dentro das canas sem nem saber onde ia parar. Saí em outra parte do engenho e fui parar na casa de uma tia distante. Pedi pelo amor de deus para me esconder em baixo da cama dela e prometi que não daria trabalho", frisou Paulino. 

A tia dizia que não podia ficar com ele porque se o marido soubesse ia mandá-lo de volta para a casa de onde veio. Ele se escondeu por muito tempo e aos dez anos o dia mais feliz de sua vida chegou. 

Maria José deixou o hospital e foi visitar os filhos no interior. Ela ainda não estava totalmente bem da saúde, mas conseguiu a licença. Fez a promessa a todos de que assim que estivesse melhor e com uma casa viria buscar todos e o pesadelo acabaria. O reencontro foi muito doloroso para Maria de Fátima. Ela não queria deixar a mãe retornar ao hospital. "Eu queria tanto voltar com ela, estava cansada daquele tratamento desumano". 

Maria José voltou e começou a trabalhar no Hospital Geral da Mirueira. Ela se tratava lá e também prestava serviços. "Naquela época só quem trabalha lá eram os doentes porque ninguém sadio queria esse contato com os leprosos, eles chamavam a gente assim. Mas quase não recebia o salário direito, vivia das doações", relembrou. 

Pouco tempo depois, o Frei Guido, um dos admistradores e um dos religiosos mais respeitados na luta contra a hanseníase, doou uma casa no bairro da Mirueira para Maria José. A casa não tinha piso, nem móvel e ainda precisava ser melhor estruturada para servir de moradia. Ela não quis saber. No mesmo dia voltou ao interior e foi buscar todos os filhos. Ela destaca que os mais novinhos nem se lembravam mais dela. Mas trouxe um por um. 

"Foi o dia mais feliz da minha vida", garantiu Maria de Fátima. A família permanece morando no bairro da Mirueira atualmente. As consequências do afastamento afetaram a vida daquela família. Os filhos não tiveram acesso a uma educação de qualidade e até hoje sentem as sequelas disso. "A gente tinha que trabalhar para ajudar a mãe e para ter comida dentro de casa, não dava tempo de estudar", confirmou Paulino. 

Maria José ao lado de quatro filhos. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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A agente de saúde Eliene Alves, 50, trabalha para a Prefeitura do município de Paulista há trinta anos. Entrou na área da saúde porque passou em um concurso público e era uma oportunidade de ter uma maior estabilidade. Na profissão, buscou se especializar no tratamento contra a disseminação da hanseníase. 

O principal motivo foi porque ela nunca conheceu o seu pai, Anastácio José. Ele era doente e foi praticamente arrancado da família para ser internado na Mirueira. Quando ele morreu ela tinha 13 anos e nunca pode dar um abraço sequer. 

A irmã mais velha, Josefa da Silva Falcão, 61, ainda teve o privilégio de conviver alguns anos com seu pai. Apesar disso, também carrega as memórias que insistem em nunca sair da mente. "Tiraram o meu pai da nossa família sem nem perguntar a ele o que queria fazer e como", criticou a doméstica. 

Josefa e Eliene, as irmãs. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Ela era jovem quando Anastácio foi diagnosticado com hanseníase e esperou por um reencontro que nunca aconteceu. Visitava o pai no hospital mas o contato era praticamente proibido. Como ele era o responsável por sustentar a família, a mãe de Josefa decidiu se mudar para o Recife porque poderia morar no Instituto Frei Guido, na época um colégio criado pelo religioso para filhos de hansenianos. 

"Viemos todo porque e mãe trabalhava lá e a gente praticamente morava", acrescentou. Josefa chora ao lembrar das humilhações que passou apenas por seu pai ser doente. Os maus tratos começavam logo da família mais próxima, sem deixar que eles brincassem com os primos porque tinham medo da doença contagiar todo mundo. "Meu pai sofreu muito e a gente também. Ele não aceitava estar lá e não queria", complementou Josefa. 

Eliene não coleciona memórias do pai que nunca conheceu. Hoje ela atua na organização de reuniões com filhos separados que desejam receber uma indenização do governo federal. Conhece o bairro da Mirueira desde nova e busca sempre conscientizar a população sobre os cuidados que devem tomar caso desconfiem que estão doentes. 

Josefa segura a única fotografia do seu casamento que o pai Anastácio aparece. Ele está do lado direito da imagem. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Cerca de 30 mil casos de hanseníase são registrados por ano no Brasil. Esses números colocam o país como o segundo lugar com mais casos da doença, atrás apenas da Índia, de acordo com o Ministério da Saúde. Apesar do avanço no tratamento do hanseniano no Brasil, o medicamento até hoje não promoveu a erradicação da doença. Uma das razões apontadas por Eliene é o preconceito associado à hanseníase. 

"Eu sei que hoje diminuiu muito o estigma de um hanseníano. Mas aquelas pessoas que foram acometidas no passado não conseguiram se inserir na sociedade. E aí os filhos também tiveram essa dificuldade. É uma herença muito negativa e precisamos reverter isso. Aqui em Paulista, em janeiro, fazemos uma espécie de passeata com música em busca de desmistificar o hansen e pedir mais respeito", explicou Eliene. 

Ela também analisou a diminuição do preconceito com relação ao bairro da Mirueira. Antigamente, por sediar o hospital, o local era alvo de muitos comentários negativos. Hoje não mais", agradeceu. 

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Quatro crianças internas no Asilo-Colônia Aimorés em Bauru, São Paulo. Foto: Arquivo Pessoal/Jaime Prado

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A série de reportagens ‘O passado presente e a dor do afastamento pela hanseníase', produzida pelo LeiaJá, conta histórias de famílias partidas, afastadas do convívio muitas vezes no dia do parto. Danos irreversíveis, sofrimento do passado que ainda abala o presente, a falta de um abraço de despedida e de reencontros que nunca aconteceram.

No começo do século XX, a então chamada ‘lepra’ passou a integrar a lista das “doenças de notificação compulsória”. Em 1920, com o surgimento do Departamento Nacional de Saúde Pública, criou-se uma legislação específica que determinou a internação compulsória de todas as pessoas diagnosticadas, em consonância com o cenário internacional.

Com os pais e mães internados, muitas crianças foram afastadas do convívio familiar.  De acordo com uma lei, os enfermos tinham de viver isolados nos chamados hospitais colônias e os filhos desses pacientes eram encaminhados aos educandários, preventórios ou a algum familiar que estivesse disposto a cuidar da criança.

Não há dados oficiais sobre o número de crianças que foram afastadas de seus pais devido à hanseníase. O Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) estima que, em 60 anos, 40 mil filhos tenham sido separados dos pais em todo o Brasil.

Crianças afastadas dos pais. Foto: Jaime Prado

Adolescentes no Educandário Santa Terezinha. Foto: Jaime Prado

Devido à precariedade dos registros, aos longos períodos de internação e às constantes transferências entre instituições de abrigo, muitas crianças nunca mais encontraram os pais. O Morhan também calcula que uma média de 14 mil crianças, hoje com mais de 50 anos, estejam vivas.

O repórter cinematográfico Jaime Prado, 66, possui um dos maiores arquivos de fotografia dos hospitais-colônia de São Paulo. Ajudou a unir novamente ao menos sete famílias, que se reencontraram muitos anos depois. “Foi assim, 46, 48, 54, 56, 59, 64 e 73 anos de separação de famílias que consegui unir novamente com as minhas fotos sem usar nenhum dinheiro público, apenas doação de amigos e o meu trabalho voluntário”, relatou.

Encontros e reencontros marcaram a vida de Jaime. O último deles foi através de uma publicação no Facebook. “Um homem me ligou e disse que se viu em uma das fotografias que publiquei. Ele saiu da colônia bebezinho e foi pro Educandário Santa Terezinha. Navegando pela internet, observou a foto de uma criança em um cesto e descobriu meu número. Me ligou chorando e dizendo que era ele”, disse Jaime, ao se emocionar pela sua trajetória na causa da hanseníase.

Jaime relembra que conheceu pela primeira vez o Asilo Colônia Aimorés, atual Instituto Lauro Souza Lima, em Bauru, São Paulo, após entrar clandestinamente no local para conhecer um outro mundo, em 1967. Sabia da história de primos que tinham sido arrancados dos pais por causa do internamento. "Eu vinha da roça, semianalfabeto e com pouco dinheiro. Tinha três perguntas sem respostas. Queria entender os motivos de separarem os filhos, porque os isolavam e em que contexto isso se dava. Era o mundo dos excluídos da sociedade. Eles carregavam o preconceito e o estigma de uma doença dos tempos bíblicos", explicou o fotógrafo.

Em 1976 conseguiu um emprego lá, como operador de caldeira, e foi conhecendo um pouco mais da realidade dos enfermos, criando vínculos e colecionando histórias. Decidiu montar um estúdio de comunicação por ter mais aproximação com a área. Conviveu por anos com os hansenianos e viu mães e pais morrerem sem ao menos um abraço dos filhos. Cartas com pedidos de informações, mensagens-viagens e muita solidariedade resumem o trabalho de Jaime, que apesar de hoje ser aposentado, ainda continua com seu trabalho ajudando muitas famílias a se encontrarem. “Meu medo é que essa história se acabe quando todos morrerem e ninguém saiba que esse crime aconteceu no Brasil, por isso converso sobre o assunto e divulgo”, revelou.

Hanseníase, uma das enfermidades mais estigmatizadas da história

Arte: João de Lima

Arte: João de Lima 

Desde 1976, o Ministério da Saúde substituiu o termo ‘lepra’ por hanseníase nos atendimentos de serviços de saúde e nas campanhas de divulgação sobre a doença (televisão, rádio e distribuição de materiais educativos), visando minimizar o preconceito e as atitudes de discriminação. A regra da segregação também foi revogada no mesmo ano, mas o isolamento continuou ocorrendo por pelo menos mais dez anos.

Com a aprovação da lei nº 11.520, em setembro de 2007, as pessoas que foram atingidas pela hanseníase e compulsoriamente internadas em colônias hospitalares no Brasil podem solicitar uma pensão mensal do Estado. Atualmente, o Morhan luta para que o governo federal também pague uma indenização pela separação forçada da família e pelos traumas sofridos na infância. Esse dinheiro seria de direitos dos filhos, por terem sido tão afetados como os pais.

Neste especial, o LeiaJá retrata histórias de filhos e pais que por anos tiveram suas memórias presas, por medo de falar do passado e serem ainda mais estigmatizados.

Ao mergulhar nesse universo pouco conhecido, encontramos histórias de abusos sexuais, espancamento e tortura nos orfanatos, a dor da distância da família e pessoas que não tiveram tempo de conhecer quem lhes deu à luz. Um capítulo triste nas páginas da história do Brasil.

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O LeiaJá foi o grande vencedor da 15ª edição do Prêmio Urbana de Jornalismo, que reconhece as melhores reportagens de Pernambuco sobre transporte público e mobilidade urbana. O trabalho “Patrimônio afetivo, história ferroviária padece na RMR” ficou em primeiro lugar entre todas as categorias.

Os vencedores foram anunciados na noite desta terça-feira (22), em uma cerimônia realizada no Recife. Esta é a segunda vez consecutiva que o LeiaJá conquista o Urbana. Nesta edição, 38 trabalhos concorreram nas modalidades Jornalismo Impresso – Matéria Especial; Jornalismo Impresso – Série de Reportagem; Estudante; Radiojornalismo; Fotojornalismo; Telejornalismo e Jornalismo Online.

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O conteúdo é de autoria da repórter especial Marília Parente e retrata a realidade de estruturas do patrimônio ferroviário de Pernambuco, fundamentais na formação urbana das cidades onde estão localizadas. As estruturas estão abandonadas, em uma situação precária que entristece as pessoas que viveram o período.

“Duas conquistas importantes e dignas do bom trabalho que o núcleo de reportagens especiais do LeiaJá vem fazendo. Produzimos um material importante para entender como as cidades da RMR se constituíram", declarou Marília Parente.

O designer João de Lima exaltou a conquista. “Fico muito em presenciar esta vitória da reportagem de Marília Parente. Vejo esse material como um serviço de extrema importância para a sociedade, principalmente por abordar uma área por vezes esquecida do todo que é o transporte urbano”, comentou.

O repórter fotográfico Júlio Gomes comemorou a vitória e destacou o trabalho do LeiaJáImagens. “Eu contei a história de uma situação de abandono. Inacreditável chegar em uma estação em Jaboatão dos Guararapes em ruínas”, acrescentou Gomes.

No ano passado, o LeiaJá também venceu o Prêmio Urbana de Jornalismo na categoria “Online”. Na ocasião, o portal foi reconhecido por meio do especial “Um passeio para guardar na memória”, que retrata a história do transporte público na Região Metropolitana do Recife. Em 2019, nosso portal também conquisto o Grande Prêmio MPT de Jornalismo, com o especial “Trabalhador - Herança escravista, pobreza e irregularidades”.

Confira a reportagem premiada: Patrimônio afetivo, história ferroviária padece na RMR

*Por Nathallia Fonseca e Duardo Nascimento

Em parceria com o LeiaJá, TIRA está disponível pela primeira vez online. O livro-reportagem em quadrinhos conta as histórias reais de três mulheres pernambucanas que realizaram abortos clandestinos no país onde cerca de meio milhão de pessoas recorrem a essa prática anualmente.

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Confira reportagem completa:

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Desde 2001, o dia Mundial do Rádio é comemorado em 13 de fevereiro. A data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e é uma oportunidade para emissoras e profissionais reverenciarem o veículo ao redor do mundo. Para comemorar o momento, é impotante refletir: qual o papel do rádio ontem e hoje? Em form de áudio, conheça mais sobre o veículo que consegue superar barreiras e se adaptar às mudanças de produção e às tecnologias pela voz daqueles que trabalham com o veículo como forma de vida. 

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*Esta reportagem foi publicada originalmente no site institucional do grupo Ser Educacional

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A jornada para concluir a graduação superior não é nada fácil. Sue Anne Calixto, 22 anos, Trayce Melo, 22, e Yasmim Bitar, 21, concluintes do curso de Jornalismo da UNAMA – Universidade da Amazônia, decidiram encarar um desafio ainda maior: apresentar um projeto experimental como Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) - veja vídeo abaixo. A iniciativa serviu como aprendizado e amadurecimento das novas jornalistas, no início de suas carreiras profissionais.

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Sue Anne decidiu escrever crônicas jornalísticas. Autora do projeto “Crônicas da cidade”, ela falou de Belém em uma série de textos, sob diversos pontos de vista. “Sempre gostei muito de crônicas desde que entrei no curso de Jornalismo, sempre foi algo que eu gostei de estudar. Resolvi falar sobre Belém para poder vivenciar todas as crônicas que escrevi, falando sobre as características da cidade e o clima, de acordo com o que eu observava”, declarou. Os textos de Sue Anne estão sendo publicados no site Expedição Pará.

“Um processo de trabalho de redação de jornal, com roteiro de entrevista, colocando de fato o que era importante perguntar, correndo atrás de entrevistados para escrever. Revisei várias vezes a reportagem até chegar no resultado final”, disse Yasmim Bitar, que produziu uma reportagem sobre “A crise do jornal impresso depois da criação da internet”.

Para escrever uma série de reportagens sobre as pessoas em situações de rua em Belém, Trayce Melo destacou o quanto teve que se aprofundar no tema. “Eu vivenciei de perto, saindo da minha zona de conforto, conheci pessoas incríveis e o trabalho voluntário. Foi uma coisa nova. Cheguei a trabalhar oito horas de um sábado à noite fazendo entrega de donativos. Foi muito importante para o projeto e para o meu crescimento pessoal”, disse. “É muito gratificante passar pelo TCC, aquilo acaba tomando conta da gente e ainda mais de receber o convite para publicação. Dá para ver que o nosso trabalho foi importante, principalmente para a nossa universidade, que nos deu todo o auxilio”, finalizou Trayce Melo.

Outros dois projetos experimentais ganharam destaque no final do semestre. A concluinte Maria Rita Kapazi escreveu uma reportagem sobre transtorno de ansiedade e Carol Boralli publicou um livro-reportagem sobre o autismo, a partir da experiência de uma família. Os textos foram publicados no LeiaJá.

LeiaJá também:

A cidade dos invisíveis: a vida e dor de quem mora na rua

(Por Trayce Melo)

O futuro do jornal impresso: reinvenção ou morte

(Por Yasmim Bitar)

Transtorno de ansiedade: o mal do século XXI

(Por Maria Rita Kapazi)

Crônicas da cidade

(Por Sue Anne Calixto)

Concluinte de Jornalismo escreve livro sobre o autismo

(Reportagem sobre o trabalho de Carol Boralli)

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Em uma conversa descontraída, Neide Cereja, 55 anos, conta que vive há mais de 40 anos nas ruas de Belém. É artesã, sua barraquinha fica em frente à Praça da República, ela vende bijuterias, pulseiras, colares, brincos, apanhadores de sonho, objetos de decoração. Todas as peças são feitas à mão, confeccionadas por ela mesmo. “Não nasci com o alicate na mão, mas foi um dom que Deus me deu”, conta.

A artesã decidiu viver nas ruas por causa de uma decepção familiar. Mas às vezes, aos domingos, ela volta para casa, em Benevides, município distante cerca de 30 quilômetros de Belém, onde moram seus dois filhos. Uma das coisas de que ela mais sente falta, estando na rua, é da família. Por isso a visita. Para Neide, a vida nas ruas chega a ser uma troca de energias positivas, em que ela passa e recebe felicidade. 

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Geralmente, Neide dorme no calçadão em frente às lojas Americanas da avenida Presidente Vargas, no centro da capital paraense. Ela lembra do primeiro dia em que dormiu na rua. Diz que não foi um momento tão sofrido, “porque anjos enviados por Deus” a protegeram. Quando chegou e sentou em sua mochila, estava muito assustada. Em seguida, pessoas estenderam a mão para ajudá-la e dar apoio. Neide diz que é espírita. Para ela, a “liberdade espiritual” é tudo: “Não troco por nada”.

No calçadão, afirma Neide, todos são muito unidos. Semanas antes da entrevista, uma mulher que trabalhava como prostituta foi baleada. Por esse motivo, o grupo de moradores de rua estava tentando arranjar dinheiro para ajudá-la com os remédios, curativos e documentos. Neide e um outro amigo levaram a vítima para o Pronto- Socorro da Quatorze de Março, para os primeiros socorros.

Segundo a artesã, é comum matarem pessoas que vivem na rua pela área do comércio de Belém, principalmente pessoas que trabalham durante a noite. Muitas são alvo de balas perdidas em perseguições a usuários de drogas.

Neide informou que faz tratamento psiquiátrico em um dos Centros CAPS de Belém - Centro de Atenção Psicossocial –, que são unidades que prestam serviços de saúde de caráter aberto e comunitário, com equipe multiprofissional voltada ao atendimento às pessoas com sofrimento ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Ela diz que o tratamento é somente por uma questão de crises de ansiedade e para o equilíbrio mental e que não faz uso de nenhuma substância química a não ser as medicações com tarja preta que são prescritas pelo médico.

Descobri Neide em uma das ações do “Tem palhaço na rua”, da Trupe dos Palhaços Curativos. Conhecida dos voluntários, ela realmente é incrível. Acredito que não foi o grupo que levou assistência a ela, foi ela que nos deixou uma lição.

Vaidosa, sempre vestida com um vestido diferente longo e florido, de um coração bondoso e muito simpática, Neide gosta de falar da sua habilidade como artesã. As  peças que ela confecciona são muito bonitas, feitas com sementes, caroço de açaí, capim dourado e outros materiais regionais.

Sempre aberta para o diálogo, Neide esbanja simpatia e educação. Costuma dizer que tudo vai ficar bem, nos dias ruins. Como ela pode ser tão otimista e tão feliz ao mesmo tempo depois de tanta coisa que lhe aconteceu? Talvez seja essa sua missão, fazer das ruas um lugar melhor para todos.

Reportagem: Trayce Melo.

Edição de texto: Antonio Carlos Pimentel.

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Cidade dos invisíveis: a vida e a dor de quem mora na rua

Cidade dos invisíveis: jovens levam afeto aos esquecidos

 

 

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Falar sobre os transtornos de ansiedade divide a opinião da população  quando se trata de abordar a maneira como as pessoas vivem. Profissão, rotina e até mesmo alguma situação vivida podem resultar diretamente no aparecimento de algum tipo de transtorno ansioso. Do psiquiatra ao nutricionista, todos os profissionais entrevistados nesta reportagem acreditam que a forma como se leva a vida é fundamental para a saúde mental e reforçam que o acompanhamento de alguém capacitado no assunto é imprescindível para cuidar do quadro.

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Para a psicóloga Sandra Dutra, 57 anos, há uma fartura de informação das mídias sociais sobre saúde mental. “Muita informação equivocada, inclusive que resulta no reverso e causa uma confusão e não um esclarecimento. É quase uma inflação do simbólico derramando-se sobre o imaginário”, afirma.

Segundo o psiquiatra Elenilson José dos Santos, 50 anos, o fator genético e a rotina estressante podem desencadear vários tipos de transtornos. “Levar uma vida tranquila e sem estresses excessivos pode evitar o início de um transtorno”, declara. 

Segundo a nutricionista Natália Diniz, 33 anos, a alimentação pode ser uma grande aliada para quem quer manter uma mente saudável, estimulando o corpo a produzir serotonina, que é um hormônio diretamente ligado ao bem-estar.  No meio de tantas visões a respeito da ansiedade, algumas declarações podem servir para muitos brasileiros que sofrem com o mal.

A ansiedade está no dia a dia da sociedade brasileira, por mais que a população prefira não falar do assunto. O sentimento está na inquietação de uma resposta que será dada pela manhã ou para um evento que ocorrerá à noite, ao evitar uma situação ou um certo lugar que instigue o medo, ou no pensamento excessivo sobre qualquer assunto. A ansiedade em si acaba sendo um alerta natural para proteção, mas em alguns casos esse sentimento se torna algo muito prejudicial. Existem variados tipos de transtornos em diferentes graus e com diversos tratamentos. 

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O que a Psicologia diz a respeito da ansiedade? 

A Psicologia trata a ansiedade como parte da vida, mas em algumas pessoas o quadro é diagnosticado como patologia. “As pessoas estão vivendo de uma forma tão intensa e acelerada que não estão dando conta disso”, afirma a psicóloga Sandra Dutra. Segundo ela, as pessoas precisam buscar qualidade de vida, ou seja, ir desacelerando. “A ansiedade exagerada pode afetar o dia a dia da pessoa que se encontra nesta condição e pode levar à depressão. A pessoa pode sofrer ataques de pânico, fobias, pensamentos obsessivos e paralisações. Geralmente quem sofre com esses transtornos tem sua rotina prejudicada, relações pessoais abaladas e simples tarefas de sua rotina acabam virando um sacrifício a ser realizado”, diz a psicóloga.

Há diversas alternativas para enfrentar as ansiedades. Uma delas é buscar por um profissional capacitado na área que poderá orientar o paciente ou, dependendo do caso, fazer tratamentos que envolvem o uso de remédios ou apenas sessões de terapia.  

A psicóloga Sandra Dutra diz que são muitos os métodos utilizados com pacientes que apresentam transtorno de ansiedade. Para ela, o psicólogo acaba sendo parte do primeiro contato de quem lida com a doença. “Na maioria dos hospitais brasileiros você nunca vai encontrar um psiquiatra de plantão. O paciente vai encontrar a recomendação de ser atendido primeiramente por um psicólogo. É necessário que o profissional seja sempre capaz de fazer uma triagem psiquiátrica adequada e assumir o caso e levar ao encaminhamento devido”, relata.

Sandra diz que o psicólogo deseja que o paciente fale porque acredita que falando ele simboliza seus sofrimentos e assim consegue dissolver sua angústia e realizar o tratamento adequado. “Geralmente os pacientes em nível muito grande de ansiedade, quando procuram imediatamente o pronto-socorro, chegam com queixas de que estão morrendo, de que estão tendo ataque do coração ou chegam desmaiados, com relatos dos familiares de que sofreram uma convulsão”, diz. Ela complementa que após o atendimento médico da emergência de um hospital, nesses casos, geralmente não é encontrado nada de orgânico no fato. O paciente é medicado com calmante e logo é dispensado com frases do tipo “ você não tem nada”, “isto é emocional”. Esses pacientes costumam receber diagnósticos como síndrome conversiva, histeria, síndrome do pânico, distúrbio neurológico ou outros rótulos pejorativos como “chilique” e “piripaque”, afirma Sandra. 

A psicóloga diz que “o psicólogo deve fazer o diagnóstico correto e providenciar o encaminhamento para tratamento adequado”. "Não é verdade que o paciente não tem nada. Ele tem, sim. Acontece que o problema que ele tem não aparece em nenhum exame, pois o que ele tem é transtorno de ansiedade que chega a constar no CID 10, que é a classificação internacional de doenças", afirma.

 Para Sandra Dutra, o psicólogo tem o dever de ajudar um paciente que se encontra em crise. “Os ensinamentos e leituras acadêmicas nunca se comparam ao que realmente acontece no momento de crise. Por mais que haja horas de leitura e reflexão teórica sobre a temática, o psicólogo terá que aprender na prática, pois cada caso é único e requer muita atenção e cuidado”, afirma. 

Sandra cita que uma predisposição genética pode, sim, ter um papel importante no desencadeamento da doença. “Os transtornos de ansiedade podem estar sobrepostos entre si a outros tipos de transtorno mentais, como depressão, alcoolismo, abusos ou dependência de drogas. Estudos mostram que os transtornos de ansiedade ocorrem com uma grande frequência na população. No entanto, boa parte das pessoas que são acometidas por transtorno de ansiedade não procuram tratamento. Os transtornos que ocorrem com maior frequência na população são as fobias”, observa a psicóloga.

 Para Sandra, quando se fala de traço de personalidade, não se pode deixar de pensar na influência que eles têm na maneira como o indivíduo lida com a vida. Ela acredita que desse modo todos estão sujeitos a terem algum medo ou fobia durante toda a vida. A forma como se encara é que faz a diferença. “Vai de cada um achar a melhor forma de solucionar seu problema, sendo através de um psicólogo, religioso ou amigo. Buscar uma solução e evitar um problema é sempre melhor do que solucioná-lo quando o caso tiver progredido”, afirma a psicóloga.

O que sentem as pessoas que lidam com os transtornos de ansiedade? 

Há uma grande curiosidade sobre a rotina de quem lida com a ansiedade diariamente. Fobias, ataques do pânico, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), ansiedade mista, transtorno alimentar, tricotilomania (arrancar os cabelos). Há quem não conheça essas doenças ou não tenha encontrado a solução do seu caso.

A senhora R., 80 anos, aposentada, sofre de ansiedade há cerca de 60 anos e convive diariamente com a doença (a pedido dos entrevistados, algumas identiades foram omitidas no texto). “Eu não tinha vontade de viver”, diz R. Sua infância pacata no interior deixou boas lembranças. Nada era preocupação, a vida era tranquila. Com o passar dos anos ela se mudou para a capital, Belém, conheceu um rapaz, namoraram, casaram e tiveram filhos. O relacionamento começou a não dar certo. Brigas e desentendimentos eram cada vez mais constantes.

 A mulher alegre que sonhava em ser feliz é cada dia mais tolhida. A vida passou a girar em torno da família. Cuidar da casa e dos filhos era sua obrigação. “Eu arrumava a casa mais de quatro vezes por dia. Tudo tinha que estar impecável”, afirma R. Isso desencadeou um transtorno para toda a vida.

R. conta que a ansiedade foi aos poucos tomando sua vida. O primeiro sintoma apareceu primeiramente com uma tristeza profunda e uma falta de interesse em todos os âmbitos da vida. “Eu não tinha vontade pra nada, e qualquer coisa era desculpa para eu não sair de casa, quando eu preciso fazer algo eu me preocupo demais, é como se viesse um turbilhão de pensamentos. Nessas horas é melhor não fazer nada do que tentar solucionar”, disse.

No caso de R., a rotina estressante e a cobrança excessiva no sentido de superar as expectativas e ser uma mulher perfeita desencadearam o quadro de transtorno de ansiedade mista e depressão. O uso de remédios controlados foi necessário e acompanha a paciente até hoje.

  Uma pessoa ansiosa busca a todo momento resolver imediatamente o que nem aconteceu, o que está previsto e o que pode vir a acontecer. A pessoa se consome de maneira excessiva e luta a todo momento com o seu pensamento. Segundo o psiquiatra Elenilson José Santos, 50 anos, os tratamentos recomendados para quem sofre de transtorno de ansiedade são: psicoterapia, psicotrópico (medicação), terapia ocupacional e uma dieta rica em triptofano, aminoácido precursor de serotonina, neurotransmissor responsável pela sensação de prazer. 

A senhora F., 58 anos, é servidora pública. Apresenta desde criança transtorno de ansiedade. Sempre sofreu principalmente por não aceitar seu corpo. “Desde pequena eu me sentia retraída, sempre tive muita vergonha, não falava muito e não me abria com as pessoas, acredito que isso tenha me feito muito mal e já podia ser algum sinal”, diz F. 

Com o passar dos anos, a falta de diálogo e atenção com a doença aumentavam. Os problemas que apareciam na vida de F. eram sinônimo de desespero. “Eu já fiz um buraco na minha cabeça. Era a única maneira de liberar alguma emoção, de fazer algo. Eu queria resolver meus problemas, mas eu estava paralisada. Foram os piores anos da minha vida”, disse. 

 Há transtornos em que as pessoas se mutilam, e querem de qualquer maneira solucionar seus problemas. O caso da paciente foi detectado pelo psiquiatra que lhe acompanhava como tricotilomania (arrancar os cabelos). O ato é feito inconscientemente e pode levar à calvície. Segundo o psiquiatra Elenilson Santos, quando a doença estiver atrapalhando a rotina é hora de procurar ajuda médica. “É muito difícil você aceitar que tem um problema desse. Minha primeira experiência em arrancar meu cabelo veio mais ou menos nos 30 anos de idade. Começou com uma preocupação excessiva em relação a tudo que aparecia. Eu ficava na sala pensando e quando via já tinha arrancado vários cabelos. Eu nem sentia dor, mas percebi que não era algo normal e procurei ajuda médica”, disse F..

Segundo F., o maior desafio é ter que encarar alguma situação passando por uma crise. “Você tem uma obrigação, mas nesse dia está mal, e não quer sair de casa. É terrível.”  A falta de compreensão das pessoas é um fator relevante na vida de quem sofre de transtornos de ansiedade. Falta esclarecimento para a maior parte da população. Os transtornos mais comuns, segundo o psiquiatra Elenilson, são: transtorno do pânico, agorafobia (medo de ficar em espaços públicos), TOC, transtorno de ansiedade mista.

O psiquiatra complementa que, devido às alterações hormonais do ciclo menstrual e do climatério, mulheres são mais suscetíveis a desenvolverem algum tipo de transtorno de ansiedade. Mas ainda há casos de crianças, idosos e homens que sofrem com a doença.  

É o caso de L., 27 anos, militar. Aos 15 anos de idade L. se deparou com suas primeiras crises. Não queria sair de casa, tinha pânico de ser assaltado, medo de morrer. Logo depois vieram os pensamentos perturbadores. “Eu pensava algo surreal, eu sei, era impossível de acontecer, mas na minha cabeça ia acontecer de qualquer forma”, disse L., que no primeiro momento contou apenas com a ajuda da mãe. 

Aos 23 anos L. teve uma crise intensa. Os pensamentos eram cada vez mais perturbadores e os medos ficavam mais frequentes. L. não queria sair de casa e quando isso acontecia se sentia paralisado, chorava nos locais e tinha muito medo. 

Segundo o psiquiatra Elenilson Santos, os transtornos de ansiedade se intensificam na maioria dos casos na transição da vida adolescente para adulta. Os conflitos internos são maiores e as dúvidas em relação ao futuro aumentam. Tudo vira novidade e isso pode contribuir para o desencadeamento da doença, além do fator genético e da rotina estressante. 

L. diz que usou medicamentos por um período de três anos, mas com a melhora do quadro não faz mais uso de nenhum tipo de remédio. Esporadicamente tem consultas com sua psicóloga e consegue levar uma vida normal. Segundo o psiquiatra Elenilson Santos, a partir de dois anos com o quadro clínico estável sem apresentar sintomas da doença a pessoa pode ser liberada do uso de medicamentos.

O psiquiatra diz que o uso de remédios é recomendado quando a ansiedade é apresentada em grau moderado e grave. A pessoa precisa buscar tratamento. Quando a doença não é tratada de maneira correta é praticamente impossível o paciente obter cura, e a doença pode evoluir e se agravar até a morte. 

A senhora P., 56 anos, trabalha como autônoma e se viu desesperada após o fim do casamento. A paciente sentia necessidade de comer tudo o que via. “Eu tinha 30 anos na época. Meu casamento não estava indo bem e me separei. Parece que tudo ia mal. A minha forma de descontar era na comida. Eu comia sem prazer nenhum, eu só queria liberar de alguma forma aquilo que eu estava sentindo, mas era pior, depois eu me sentia mais mal ainda.”

P. conta que sentia um misto de emoções, e nada parecia fazer sentido. “Tinha horas que nem eu sabia o que eu queria, mas graças a Deus, quando eu comecei meu tratamento e uso de remédios, eu me vi melhor”, disse. Os remédios são os ansiolíticos, antidepressivos ou beta-bloqueadores, por exemplo, e só devem ser usados se forem indicados pelo clínico geral ou psiquiatra. Há também quem busque métodos naturais e aposte na alimentação, complementa o psiquiatra Elenilson. 

A alimentação  como aliada no controle da ansiedade

A nutricionista Natália Diniz, 33 anos, especializada em Terapia Nutricional, apontou a importância da alimentação no controle da ansiedade. “O que poucos sabem é que os alimentos influenciam diretamente nesse processo”, diz a nutricionista. “Sentir ansiedade antes de situações consideradas desesperadoras é natural. Mas existem formas de equilibrar os níveis de ansiedade e aquilo que você come influencia no seu organismo de dentro para fora”, completa.

A nutricionista fala que é necessário o alerta em relação aos tipos de alimentos consumidos e principalmente à qualidade deles. Ela reforça que os alimentos pobres em nutrientes e ricos em açúcares, sódio e gorduras saturadas acabam escondendo a ansiedade por pequenos períodos e pioram o quadro.  “O consumo excessivo de açúcares pode ter ligação com mudanças na flora bacteriana do intestino. Esses consumos podem permitir o crescimento de bactérias que se alimentam preferencialmente de açúcares e estas bactérias desenvolvem a capacidade de inibir a produção cerebral de serotonina”, afirma Natália. 

A nutricionista reforça que é importante introduzir na rotina alimentos que transportam neurotransmissores ao cérebro. “São eles que regulam o humor, energia, apetite e levam informação ao cérebro” , complementa 

Segundo Natália, os piores alimentos para aumentar a ansiedade e que precisam ser evitados, além de carboidratos, frituras e alimentos processados, são:

açúcar e álcool - provocam alteração no humor e o aumento da ansiedade, mudam níveis de serotonina e causam danos;

café - aumenta o nível de ansiedade, deve ser reduzido para 1 xícara ao dia.

Os melhores alimentos para aliviar o nível de estresse e controlar os transtornos de ansiedade e que são eficazes contra a depressão e relaxam os nervos, segundo a nutricionista, são:

gordura EPA - encontrada principalmente no ômega3, peixes gordurosos, frutos do mar, linhaça, chia, nozes e óleos de peixe;

cálcio - encontrado na couve, gergelim, sardinhas, grão de mostarda, brócolis, amêndoas, agrião e quiabo;

vitamina B12 Kefir - encontraa no salmão selvagem, ovos, aves domésticas, peixes e vegetais verdes (folhosos);

magnésio - encontrado no salmão, figo, abacate, coentro, algas, castanha de caju, espinafre, acelga, banana e chocolate amargo.

As vitaminas B12 e B também são essenciais para manter e apoiar a saúde do sistema neurológico, energia e equilíbrio hormonal, o que influencia no humor e no bem-estar. A vitamina B ajuda a produzir serotonina. “Vale ressaltar que a reeducação alimentar é benéfica para o bom funcionamento do corpo e da mente. Assim como a qualidade de vida em geral. Nunca deixe de procurar um bom profissional médico”, destacou a nutricionista.

Por Maria Rita Kapazi, jornalista, especialmente para o LeiaJá.

 

 

Amanhã é dia de festa para os fãs da considerada Rainha da Ciranda, Lia de Itamaracá. Nesta sexta-feira (11), no Recife Antigo, será lançado o livro “Lia de Itamaracá: 75 anos cirandando com resistência, sorrisos e simplicidade”. O evento acontece, a partir das 17h30, no Espaço Sinspire, localizado no Recife Antigo. 

A obra reúne momentos que sobre a vida da cantora e compositora, que estavam guardadas até agora como o casamento com o músico Toinho, a difícil relação com o poder público e a luta para manter de pé um trabalho voltado para a cultura popular.

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O livro de memórias reúne textos que foram extraídos do livro-reportagem “O mito, a mulher, a ciranda”, do jornalista pernambucano Marcelo Henrique Andrade, conterrâneo também é da Ilha de Itamaracá. O trabalho é o produto final do Mestrado em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba, concluído em 2018. “As pessoas sabem quem é a artista Lia, a cantora que está no palco ou fazendo ciranda. Poucos sabem que é a mulher, a resistente e a história de vida que ela carrega”, conta

 A curadoria é de Maria Luciana Nunes, criadora do Sinspire Hub, com apoio da Jeep, que se propôs a incentivar o material comemorativo. “O coletivo é capaz de realizar muitas coisas. Esse trabalho é resultado do encontro de diversas pessoas e da Jeep, que se disponibilizaram para homenagear um ícone da nossa cultura. Lia merece todas as homenagens”, ressaltou Luciana. 

No evento também haverá uma exposição do fotógrafo Alfeu Tavares e de objetos da cirandeira como vestidos usados nos shows. Ainda será exibido sessões de cinema no Cine Lia, com curtas que contam a história da Negra Cirandeira. As exibições serão entre às 10h30 e 11h da manhã e das 16h às 18h até o fim da exposição. 

O acesso à exposição e aos shows terá uma entrada simbólica de R$ 15. Todo o dinheiro arrecadado com a bilheteria e com a venda do livro será revertido para as ações sociais e culturais do Centro Cultural Estrela. 

O LeiaJá é duplo finalista na 25ª edição do prêmio CNH Industrial de Jornalismo. A lista com os concorrentes da edição de 2018 da premiação foi divulgada nesta terça-feira (16). Ao todo, 675 reportagens foram inscritas e o tradicional prêmio também recebeu o total de 364 fotografias para a avaliação. Uma comissão julgadora selecionou 40 reportagens e 12 fotografias finalistas. São quatro categorias: Agronegócio, Macroeconomia, Construção e Transporte.

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As reportagens "Um passeio para guardar na memória", de Geraldo de Fraga, Nathan Santos, Eduarda Esteves e Marília Parente, e "Pedreiras, uma vila inteira construída só por mulheres", de Eduarda Esteves, foram classificadas para disputar a final do prêmio no dia 22 de novembro de 2018, durante cerimônia que acontece em Belo Horizonte, Minas Gerais.

‘Um passeio para guardar na memória’ é finalista na categoria Transporte e mostra a história do transporte coletivo no Recife e Região Metropolitana, relembrando momentos marcantes do espaço urbano, como a época dos bondes, ônibus elétricos, trens, criação do atual sistema de transporte, entre outros acontecimentos.

Os autores das reportagens do LeiaJá são Geraldo de Fraga, Nathan Santos, Eduarda Esteves e Marília Parente. Os vídeos e fotografias foram produzidos por Chico Peixoto, Paulo Uchôa e Rafael Bandeira. A pós-produção e arte são de Raphael Sagatio, enquanto que a montagem e edição dos vídeos são de Danilo Campello. A coordenação de web é de Thiago Azurém.

A reportagem "Pedreiras, uma vila inteira construída só por mulheres" é finalista na categoria Construção e conta a história das fundadoras da Vila das Mulheres Pedreiras, comunidade localizada no bairro de Peixinhos, em Olinda, Região Metropolitana do Recife. Em um ambiente predominantemente masculino, pedreiras, ferreiras, pintoras, azulejistas, ceramistas e eletricistas ganharam espaço.

Um grupo de 78 mulheres atuou em regime de mutirão durante o ano de 1994 para a edificação de casas que seriam posteriormente habitadas por elas e suas famílias. O material é de autoria de Eduarda Esteves, já os vídeos e fotografias foram produzidos por Chico Peixoto, enquanto que a montagem e edição dos vídeos são de Danilo Campello.

Sobre o Prêmio CNH Industrial de Jornalismo

A comissão julgadora é formada por jornalistas, economistas, acadêmicos, especialistas e representantes de associações e órgãos públicos e privados. Há 25 anos, o Prêmio CNH Industrial de Jornalismo prestigia e reconhece os profissionais que explicam e traduzem as informações econômicas e sociais que acontecem no Brasil e no mundo. Assim, tornou-se, nestas mais de duas décadas, uma das premiações mais respeitadas do setor, com muita credibilidade e grande prestígio no meio jornalístico.

CONFIRA OS FINALISTAS:

AGRONEGÓCIO

A nova economia da floresta Revista Globo Rural

Eliane Silva e José Alberto Gonçalves Pereira

A nova geração do agro

Revista Globo Rural

Bruno Cirillo, Raphael Salomão e Vinícius Galera

Campo fértil

Você S/A

Eliane Quinalia

Donas da boiada

Revista Claudia

Flávia G. Pinho

O agronegócio "incubado"

Folha de Londrina

Victor Lopes de Moraes

Órfãos da cana

Folha de S. Paulo

Marcelo Toledo e Joel Silva

Ouro rosa

Diário de Pernambuco

Ed Wanderley

Resistência sertaneja

Diário do Nordeste

Fernando Maia

Especial: a força do campo

Correio Braziliense

Antonio Temóteo

Sozinhas

Diário Catarinense

Ângela Bastos

 

MACROECONOMIA

A dura matemática do gasto social no Brasil

Gazeta do Povo

Fernanda Trisotto

A guerra sem fim e sem êxito 

Revista Época

Aline Ribeiro e Hudson Corrêa

A vida no lixo

A Gazeta

Luísa Torre, Mikaella Campos e Natalia Bourguignon

Brasília na seca: um ano sem água 

Correio Braziliense

Pedro Grigori e Flávia Maia

Educação, emprego e futuro

Jornal do Commercio

Luiza Freitas e Margarida Azevedo

Em defesa da globalização

Revista EXAME

Carlo Cauti

Especial Fome 

Portal Folha PE, da Folha de PE

Tatiana Notaro

Na Grande SP, a pobreza extrema cresce 35% em um ano 

Valor Econômico

Bruno Villas Bôas e Ligia Guimarães

Reinventar - O novo mundo do trabalho 

Jornal do Commercio

Adriana Guarda

Uma jornada pela crise econômica a bordo do Uber

Metrópoles

Diego Ponce de Leon, Manoela Alcântara, Márcia Delgado e Suzano Almeida

 

CONSTRUÇÃO

Arranha-céu de madeira

Revista Grandes Construções

Marcelo de Valécio

Cadeia produtiva emprega 12 milhões de pessoas

Diário do Comércio

Mara Bianchetti

Canteiros sem cinza

Diário de Pernambuco

André Clemente, Rochelli Dantas e Thatiana Pimentel

Copa da Rússia chegou e Brasil ainda não terminou 41 obras de 2014

BBC News Brasil

André Shalders, Leandro Machado e Luiza Franco

Esquecidas, redes de esgoto estão sem uso

O Estado de S. Paulo

Renée Pereira

Mina de conflitos

O Tempo

Queila Ariadne Batista e Ana Paula Pedrosa

No meio do caminho tinha um advogado

Revista Época

Aline Ribeiro

O fantasma do amianto

UOL

Rafael Moro Martins

Pedreiras, uma vila inteira construída só por mulheres

Portal Leia Já

Eduarda Esteves

Transposição: as águas que mudaram a vida dos paraibanos

Portal T5

Dennison Vasconcelos

 

TRANSPORTE

Futuro das cidades depende do deslocamento das crianças

Diário de Pernambuco

Anamaria Nascimento e Alice de Souza

Perigo nas águas

Revista CNT Transporte Atual

Diego Gomes

Perigo nos rios

O Estado de S. Paulo

Karla Mendes

Processados pela Vale

Agência Pública

Thiago Domenici e Andressa Zumpano

Revolução acelerada

Revista EXAME

Rafael Kato e Anderson Figo

Rodovia do medo, BR-153 está abandonada

O Estado de S. Paulo

André Borges

Rodoviários: "máquinas" sem manutenção

Jornal do Commercio

Mayra Cavalcanti de Melo, Bruno Vinícius Luiz da Silva e Nathália Sá Pacheco de Macêdo

Safra de Mato Grosso usa mais ferrovia para chegar ao Porto de Santos

Globo Rural

Roger Marzochi

Salgueiro, a cidade que ficou no meio do caminho

The Intercept Brasil

Mariama Correia

Um passeio para guardar na memória

Portal Leia Já

Maria Eduarda Ribeiro Esteves, Nathan Santos, Geraldo de Fraga e Marília Parente

 

AGRONEGÓCIO

Finura e maciez sentidas no toque

Zero Hora

Tadeu Vilani

Produtores de soja se preocupam com o preço

Diário de Santa Maria

Charles Guerra

Tradição em alto-mar

Diário do Nordeste

Natinho Rodrigues

 

MACROECONOMIA

A volta da água

Folha Mais de Pernambuco

Brenda Alcântara

Fim de semana de Santa Maria em dança

Diário de Santa Maria

Charles Guerra

Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, entra em fila de privatizações

Jornal do Commercio

Heudes Regis

 

CONSTRUÇÃO

Com a cabeça para o alto e os pés fora do chão

Diário de Pernambuco

Rafael Martins

Desabamento de prédio em SP expõe falta de controle público

Folha de S. Paulo

Danilo Verpa

Linhas, luzes e cores do Rio

O Globo

Márcia Foletto

 

TRANSPORTE

86 anos de vida, seis décadas de estrada

Zero Hora

Mateus Bruxel

A lenta volta da economia à normalidade

Diário de Pernambuco

Sebastião Ricardo

Vida nova ao carro: retífica é a opção para deixar o motor 'zero de fábrica'

Gazeta do Povo

Albari Rosa

O LeiaJá conquistou mais um prêmio jornalístico na noite desse domingo (2). A reportagem ‘Cidade do Medo e da resistência’, que retrata histórias de pessoas diagnosticadas com hanseníase e que foram vítimas do isolamento obrigatório, venceu a categoria ‘Mídia Online’ do Prêmio NHR Brasil de Jornalismo. A cerimônia de entrega do título foi realizada no Centro de Convenções de Pernambuco, em Olinda, durante o 54º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.

A reportagem premiada é do jornalista Nathan Santos, com fotos de Chico Peixoto, edição de vídeos de Danilo Campello e artes de Raphael Sagatio. Multimídia, a matéria traz fortes depoimentos de pessoas com hanseníase que viveram em um período de isolamento obrigatório, no atual Hospital da Mirueira, em Paulista. Promovido pela Netherlands Hanseniasis Relief – Brasil, o Prêmio nacional reconheceu, nas categorias Impresso, Rádio, TV e Mídia Online, trabalhos sobre a doença e seus impactos na sociedade brasileira.

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Comemorando seu sétimo prêmio de jornalismo, o jornalista Nathan Santos ressaltou o valor histórico da reportagem. “Conseguimos encontrar pessoas que viveram um dos períodos mais críticos da saúde brasileira, em um local que ainda guarda toda a estrutura da época dos hospitais colônias. É um prêmio muito importante porque teve grandes trabalhos a nível nacional e também porque trata de um tema voltado à saúde”, declarou Santos.

Para o repórter fotográfico Chico Peixoto, a reportagem faz um apanhado imagético de relevância social. "As fotos e o vídeo são um resgate histórico do que passou, mas ao mesmo tempo reforçam as denúncias que atualmente são feitas por grupos de pesquisadores sobre a persistente negligência em relação não apenas a hanseníase, mas também a outras doenças contagiosas", declarou Peixoto.

Premiações - O LeiaJá já conquistou os Prêmios Sebrae de Jornalismo, Ministério Público do Trabalho, Abrafarma, Fecomércio, Correios de Jornalismo e Urbana de Jornalismo. O site também chegou a finais de premiações como Cristina Tavares, CNT de Jornalismo e Estácio de Jornalismo. 

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A Universidade da Amazônia (Unama) recebeu, na segunda-feira (5), a visita da equipe do programa Profissão Repórter, da Rede Globo. Acadêmicos e professores da universidade acompanharam atentamente as orientações sobre o projeto GloboLab, iniciativa da Globo Universidade que tem como objetivo selecionar reportagens de alunos do curso de Comunicação Social para exibição no programa Profissão Repórter.

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Pelo projeto GloboLab, os acadêmicos selecionados terão a oportunidade de passar uma semana na redação da Globo em São Paulo. “A gente pretende estimular os alunos a fazerem reportagens no estilo do Profissão Repórter, algo mais trabalhado. A nossa expectativa é de conseguir encontrar temas e, posteriormente, tentar usá-los  no programa, como já feito antes”, disse a jornalista do Profissão Repórter Eliane Scardovelli.

A equipe do programa está viajando pelo Brasil. Segundo Caio Cavechini, editor-executivo do programa, que participou do evento em Belém, dez cidades serão visitadas. A Unama foi a primeira instituição a receber os jornalistas do GloboLab. Nos eventos, além de lançar o projeto, também são apresentados a dinâmica de trabalho, modos de cobertura dos fatos, entre outros pontos. Nesta terça-feira (6), a palestra será realizada na Universidade Federal do Pará (UFPA) e nas sedes de coletivos pré-selecionados.

Para a responsável pelo projeto Globo Universidade, Milana Bernartt, a visita possibilita uma maior captação de material de boa qualidade. “Vamos passar por vários locais acadêmicos em todo o Brasil, para reunir jovens que trabalham com comunicação. Queremos captar as dez primeiras matérias e reportagens para o GloboLab”, afirmou.

Na palestra realizada na Unama Alcindo Cacela foram apresentados o processo de inscrição, etapas do projeto e critérios para adesão. Dez duplas serão selecionadas. O resultado será divulgado no dia 15 de maio. “As inscrições ficarão abertas até 16 de abril, para o envio dos materiais produzidos. É bom que já venham com boa edição e produção, para poder ter uma melhor interação com os profissionais, posteriormente”, acrescentou Milana Bernartt.

Estudantes e profissionais da área da Comunicação Social compareceram em bom número ao auditório David Muffarej. “Para mim foi algo surpreendente, por conta das dicas que os profissionais proporcionaram. A experiência que eles têm é algo esclarecedor para nós. É um momento que nos ajuda bastante”, salientou a estudante de Jornalismo da Unama Brenda Moraes.

“O curso de Comunicação Social da Unama já tem parceria com outros projetos, como o Canal Futura, e ter mais uma, com o GloboLab, é algo muito importante. Essa junção traz profissionais que proporcionam conhecimento, experiência e interação com os alunos da universidade. Através desse momento, os acadêmicos aprendem o novo jeito de fazer o telejornalismo”, explicou o coordenador de Comunicação Social da Unama, professor Mário Camarão.

Por Luiz Antonio Pinto.

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Enquanto o repórter Pedro Figueiredo estava ao vivo no "RJTV 2ª edição", jornal local da Globo no Rio de Janeiro, um fato curioso chamou a atenção de quem acompanhava o noticiário da emissora. Os telespectadores, que estavam sendo informados sobre o grande número de tiroteios na cidade, foram surpreendidos com um "gato de óculos" passeando de moto com o dono durante à passagem do jornalista na comunidade da Rocinha, mas foi o suficiente para virar assunto na internet.

O animal em questão chama-se Chiquinho e já é conhecido por uma boa parte dos cariocas. Alexandre Goulart, o dono, já participou com o felino de alguns programas de TV, incluindo o matinal "Mais Você" da própria Globo. A cena inusitada foi ao ar no último sábado (27), porém ganhou repercussão nesse domingo (28).

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Imagem: Reprodução / RJTV / TV Globo

Um homem invadiu uma transmissão ao vivo durante o Jornal Hoje deste sábado (25) e gritou "Globo lixo". O repórter falava sobre o estado de saúde do presidente Michel Temer no momento da interrupção. 

"Só um minutinho, vou esperar...peço desculpa", disse o jornalista, visivelmente desconcertado. Em seguida, a transmissão voltou para o âncora Fábio William.

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Com poucos minutos, o termo "Globo Lixo" já foi parar nos Trending Topics do Twitter. É o assunto mais comentado do Brasil e também está entre os mais citados mundialmente.

Esta não é a primeira vez que o mesmo homem aparece ao vivo na Globo também falando "Globo lixo". Em outubro, um repórter foi interrompido pelo sujeito durante o telejornal SP1. Naquela ocasião, o termo "Globo lixo" também foi bastante comentado nas redes.

"Bom, nós tivemos um problema aí, você vê que nem todo mundo é capaz de compreender como as coisas devem ser. Existem outras maneiras de mostrar a própria opinião", comentou neste sábado o âncora Fábio William, após a interrupção. 

 

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