Tópicos | tratamento

Apontando uma estabilização nos números de pacientes com a Covid-19, a Prefeitura de Salvador, Bahia, começou a desativar leitos clínicos e de UTI exclusivos para tratar pessoas com o novo coronavírus, em unidades próprias ou contratualizadas. 

O processo de desativação já começou no Hospital Municipal de Salvador (HMS). A partir desta quinta-feira (17), 10 dos 20 leitos de terapia intensiva implantados para cuidar dos infectados estão disponíveis para outras demandas da unidade de saúde, assim como 30 de enfermaria. Cidade registra 82.391 casos confirmados e 2.478 óbitos provocados pela Covid-19.

##RECOMENDA##

A Secretaria de Comunicação de Salvador aponta que na quarta-feira (16) a capital registrou taxa de ocupação de ocupação de leitos de UTI exclusivos para o tratamento da Covid-19 de 39%. Desde o início da pandemia, 253 leitos intensivos e 271 clínicos foram implantados no sistema de saúde de Salvador. Foram investidos R$ 412 milhões para o enfrentamento à crise sanitária.

"Estamos começando a fazer a reversão desses leitos exclusivos para Covid-19 nos hospitais, a começar pelo HMS e naqueles contratualizados pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Agora, essas estruturas passam a atender pacientes com outras enfermidades.", disse o prefeito ACM Neto.

O chefe do município alerta que isso não significa que a doença acabou na cidade. "O coronavírus ainda está aí e temos que continuar tomando todos os cuidados para que ele não volte a crescer. Essa é uma responsabilidade de todos nós, e não só da Prefeitura. Precisamos ter consciência disso e continuar seguindo as normas sanitárias e os protocolos de segurança", acrescentou.

Além de ser a companheira diária de muitos ouvintes, a música também pode ser utilizada em tratamentos psicoterapêuticos. É neste cenário que atuam os profissionais especializados em musicoterapia, acompanhamento clínico que faz sons musicais virarem combustíveis para modificar o metabolismo cerebral e o estado emocional dos pacientes.

De acordo com a psicóloga Maria Luzinete de Macedo, embora a música seja utilizada em outros tipos de acompanhamentos clínicos, a musicoterapia é a única vertente do segmento que emprega técnicas direcionadas aos tratamentos psicoterapêuticos, e pode ser aplicada em diversos públicos. "As técnicas usadas variam conforme a proposta e o que se pretende alcançar no processo, podendo ser indicada para vários casos e públicos variados. É um trabalho que exige do profissional bastante criatividade e conhecimento da área que deseja trabalhar", afirma.

##RECOMENDA##

Há três anos, a profissional criou um grupo na clínica Espaço S. E. R. e coloca a estratégia em prática para um conjunto de pessoas. "O mais comum é musicoterapia em grupo. Particularmente prefiro, pois fortalece o vínculo fundamental para estabelecer elos de harmonia e segurança. O apoio que o grupo oferece pela identificação com a música facilita e fomenta o objetivo da proposta", explica a musicoterapeuta, que manteve os atendimentos virtuais em meio ao período de pandemia.

Uma das participantes das reuniões é a empreendedora do ramo alimentício Roseli Moreno, 56 anos. Segundo ela, que participa dos encontros desde o ano de 2017, o acompanhamento foi crucial para se libertar de algumas amarras emocionais e obter maior autoconhecimento. "Ali pude perceber como faz sentido a música que ouvimos e como ela reflete nos sentimentos. Tudo é muito natural e conduzido com tanta delicadeza, transforma e ameniza os traumas, as aflições escondidas", comenta.

A diferença entre ouvir música e praticar musicoterapia

Outra especialista que oferece a musicoterapia como opção aos pacientes é a psicóloga Rosangela Sampaio. Segundo ela, embora a Portaria nº 849 do Ministério da Saúde tenha incluído o tratamento entre as regulamentações da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (Pnpic), é indispensável que o paciente procure profissionais qualificados para a avaliação. "Estudos mostram que a musicoterapia pode ser benéfica no tratamento de deficiências de desenvolvimento e aprendizagem, Alzheimer e outras condições relacionadas com o envelhecimento, doenças cardiopulmonares, câncer, autismo e muitos outros. Em todos os casos se faz necessária uma avaliação com profissional qualificado para a definição de estratégia terapêutica", aponta.

Ainda de acordo com a especialista, um ponto a ser esclarecido é a diferenciação entre ouvir música e o tratamento musicoterapêutico. "A musicoterapia é uma técnica aplicada em sessão com começo, meio e fim desenhada para a necessidade do paciente em questão. O ouvir e tocar música reduz o nível de cortisol, o hormônio responsável pelo estresse, mas não podemos comparar a uma sessão de musicoterapia com um especialista", enfatiza Rosângela, que também teve que se adaptar ao modelo de sessões online durante a crise sanitária do coronavírus.

Segundo ela, a utilização do acompanhamento clínico com o recurso musical pode auxiliar de modo considerável no decorrer do período em que se recomenda o isolamento social. "Além de auxiliar a pessoa a orientar-se e a restabelecer as coordenadas de tempo/espaço, ajuda a relaxar nos casos de insegurança ou ansiedade. A musicoterapia potencializa as funções físicas e mentais, além de reforçar a autonomia pessoal", afirma.

A aposentada Maria Aparecida Torres, 63 anos, fazia acompanhamento com a psicóloga e aderiu à musicoterapia como um complemento das sessões semanais. De acordo com a idosa, o método a fez aprender a exercitar o cérebro para se concentrar melhor nos afazeres diários. "Eu não acreditava que fosse conseguir meditar ou me concentrar para isso, porque sou uma pessoa agitada, mas a musicoterapia está me ajudando muito. Principalmente para eu trabalhar concentração e memória, por conta da idade", comenta.

Ainda segundo Maria, a música sempre fez parte da vida em um contexto emocional, mas a possibilidade de manter a mente ativa por meio do recurso terapêutico é mais viável. "Antes eu assistia a um seriado e, às vezes, no final já não me lembrava mais do começo, hoje isso não acontece mais. Quando a gente para de trabalhar, fica apenas com o serviço de casa, o cérebro relaxa mesmo. Eu estava com a mente preguiçosa e, quando sinto isso, ligo o rádio”, complementa.

Uma iniciativa da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) recebe doações de mechas de cabelo em seis estações da capital paulista. A iniciativa, que faz parte da campanha Setembro Dourado contra o câncer infanto-juvenil, ajudará na confecção de perucas que podem alavancar a autoestima das jovens em meio à luta contra a doença. As doações podem ser feitas até 31 de setembro.

Os doadores podem participar da ação durante o horário de funcionamento do Metrô, que opera entre 4h40 e meia-noite. As estações que recebem os totens coletores são Tucuruvi (Linha 1-Azul), Sacomã (Linha 2-Verde), Palmeiras-Barra Funda e Tatuapé (Linha 3-Vermelha), além da Sé (Linha 3-Vermelha e Linha 2-Azul) e da Paraíso (Linha 1-Azul e Linha 2-Verde).

##RECOMENDA##

As perucas são produzidas pela ONG Rapunzel Solidária e distribuídas aos jovens em tratamento no Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (Itaci).

O papa Francisco doou 18 respiradores e seis aparelhos de ultrassom portáteis a unidades hospitalares do Brasil, para o tratamento e terapia intensiva de pacientes e contaminados pela Covid-19. No Rio de Janeiro, o Hospital São Francisco na Providência de Deus (HSF), recebeu quatro ventiladores e um ecógrafo, um tipo de ultrassom portátil.

Os equipamentos foram enviados ao Brasil pelo papa Francisco por meio de uma parceria da Santa Sé com a empresa Hope Onlus Association, especializada no setor. O Hospital São Francisco na Providência de Deus, o único a receber a doação dos aparelhos no Rio de Janeiro, já era conhecido do papa, que, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, visitou a unidade. Atualmente, 15 pacientes diagnósticos com a doença estão em tratamento no HSF, sendo nove no CTI e os outros em leitos de internação.

##RECOMENDA##

Hoje (30), na entrega dos equipamentos, o arcebispo Metropolitano do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta, celebrou uma missa em ação de graças. “O Santo Padre, papa Francisco, tem se preocupado em dar soluções concretas para esse momento em que há muita contaminação pela Covid -19 e tem oferecido a várias situações ambulatórios e hospitais do mundo inteiro alguns aparelhos para ajudar a solucionar o problema. Aqui no Brasil chegaram respiradores, e outros aparelhos também que estão sendo distribuídos de norte a sul do Brasil”, disse dom Orani.

Os médicos italianos Antônio Guizzetti e Paolo Tacchini vieram ao Brasil para representar a empresa que participa da doação e acompanhar a instalação dos equipamentos. No Hospital São Francisco na Providência de Deus, os aparelhos foram montados no CTI e devem entrar em funcionamento nos próximos dias.

Para o diretor do HSF, frei Paulo Batista, a pandemia trouxe situações de muitas tristezas, mas de solidariedade e boas ações. “Com esses equipamentos teremos como salvar mais vidas e cuidar do ser humano. Isso é o que mais importa nesse momento tão delicado”, disse.

População tem sofrido desgaste emocional diante dos resquícios da pandemia. Cenário é preocupante, mas pode ser combatido. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

##RECOMENDA##

Dedos entrelaçados em sinal de oração, mãos aos céus como forma de agradecimento, rezas ante o mar e uma sintonia de esperança celebravam o novo ano. Sob fogos brilhosos e respingos de champanhe, 2020 chegou. Fotografei abraços e presenciei dizeres otimistas para o ciclo que começara. Tomado pela atmosfera comemorativa do réveillon, não imaginaria naquele momento eufórico que, meses depois, vivenciaríamos o início da mais crítica e enlutada crise de saúde dos últimos tempos. Os mesmos amigos e familiares que, com os pés na areia da praia festejavam o ano novo, hoje pedem às suas crenças que o período corrente leve consigo doença, medo, luto, mazelas, intolerâncias, desemprego, corrupção, entre outros males. O novo coronavírus, literalmente, atormentou o ano novo.

Não tão longe do litoral, *José Silva, 35 anos, reflete em seu apartamento - uma espécie de refúgio ante o cenário desolador da pandemia de Covid-19 -. Em isolamento social – séria e correta medida indicada pelos órgãos competentes de saúde para combater a proliferação da doença -, da janela do edifício ele observa as ruas situadas no coração do Recife, uma das capitais fortemente atingidas pelo novo coronavírus. Praticamente não há pessoas no local, antes de intensa movimentação. *José observa. Analisa. Questiona sua própria mente: “por que isso está acontecendo”?. Também rememora momentos em família, ao sentir falta dos abraços, do calor carinhoso característico da mãe idosa. São meses sem vê-la, sem tocá-la; tudo por amor a ela.

*José observa. Reflete. Agitada, sua mente não cansa, não para. Ao direcionar novamente sua atenção às ruas vazias, paralelamente sente um vazio de incertezas quanto ao seu futuro e das pessoas que ama.

*José viu, repentinamente, sua rotina tomar uma proporção antes inimaginável. Obrigatoriamente e de maneira consciente, afastou-se dos amigos, da família e do local de trabalho. Na mídia, alimentou-se de informações a respeito da problemática e complexa Covid-19, cujo rastro de estrago e morte marca países do mundo todo. *José acompanha, diariamente, as contagens de casos e óbitos, além dos efeitos oriundos da pandemia, que reverberam, além da saúde, na educação e economia de um país desigual, socialmente falando, desde os primórdios. Para *José, a pandemia potencializou os diversos problemas sociais e políticos que acometem o povo brasileiro, assim como instaurou desconfortos mentais.

A mente de *José não pausa. Todos os dias, durante a pandemia, é tomada por uma tempestade de pensamentos; seu corpo já sente os efeitos da ansiedade. Coração e mente acelerados, enquanto as noites não mais servem como um momento reparador, uma vez que, em várias ocasiões, o sono não vem. “Fiquei bastante tenso quando a quarentena, no início de março, começou a se estender. Diversos sentimentos de impotência brotaram em mim. Estou há quase seis meses sem ver minha família, e todo o meu pensamento vai para cada um que está distante de mim. Apesar de conversas por chamadas de vídeo, o contato físico faz falta. Não aguento mais ficar isolado por tanto tempo em casa, longe de quem eu gosto. Minha saúde mental está indo embora”, desabafa.

O medo cerca *José. Ele teme, por exemplo, perder pessoas queridas. Teme, ainda, que a crise econômica acarrete demissões. “É no silêncio da noite que a minha mente projeta um turbilhão de dúvidas e medos. Não sei como mudar a rota do meu pensamento para que eu sinta um certo alívio, de fato, de que as coisas irão realmente melhorar. Meus questionamentos estão sempre relacionados ao meu lado financeiro. Acho que, desde o início da pandemia, sinto instabilidade profissional. Não vejo com entusiasmo a capacidade que eu tenho de desenvolver o meu trabalho”, descreve ele.

É perceptível como *José trava uma luta emocional na qual é difícil desenvolver soluções imediatas. Talvez isso se dê pelo fato de que ele, sozinho, não detém o controle do atual cenário, pois, em suas mãos, não estão as soluções que possam, de uma vez por todas, colocar fim aos resquícios da pandemia em seu cotidiano. Nesse contexto, *José não consegue cessar os próprios medos e nem planejar o próprio futuro.

“Só espero que esse caminho de incertezas e de negatividade que estamos trilhando não deixe marcas profundas na alma, ao ponto de lembrarmos futuramente de tudo isso que estamos presenciando com tristeza e amargor. Me preocupa bastante ver que estou desacreditando a cada dia que se passa do meu potencial, da minha entrega, da garra que um dia eu lutei intensamente para conquistar o meu lugar. Ainda não passou pela minha cabeça buscar apoio psicológico para me dar um norte em meio a esse caos instalado pela pandemia. Não faço a mínima ideia se tenho a capacidade de sair desse mar de consternação sozinho”, diz *José.

*José Silva – nome fictício. Personagem preferiu preservar a sua identidade.

Doença pandêmica, mente em perigo

Mais de 23 milhões de casos confirmados no mundo. Quase 816 mil mortes. Assustadores, os dados globais da pandemia do novo coronavírus, informados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em seu mais recente balanço, expõem quão crítico é o cenário. Em 30 de janeiro de 2020, a OMS declarou que o surto da Covid-19 constitui uma Emergência de Saúde Pública Internacional, patamar de alerta mais alto da instituição. Localmente, de acordo com o consórcio de veículos de imprensa baseado nas informações das secretarias estaduais de Saúde, o Brasil registra mais de 3,7 milhões de pessoas diagnosticadas com o vírus e o número de óbitos passa de 117 mil. Além desse panorama, existem comprovações de que a pandemia tem bombardeado suas consequências na condição mental da população.

Em comunicados oficiais, a OMS já alerta que a pandemia da Covid-19 tem, de fato, forte impacto na saúde mental das pessoas. A entidade demonstra preocupação e orienta os países a tomarem medidas necessárias para ajudar suas nações.

À frente da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom explica que os efeitos econômicos e sociais da pandemia, da forma acelerada como se expandem e causam estragos, tendem a aumentar casos prejudiciais à saúde mental dos indivíduos. Depressão, ansiedade e transtornos mentais por uso de substâncias são alguns dos problemas citados pelo diretor-geral da OMS.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, pede atenção às questões relacionadas à saúde mental. Foto: OMS

Antes mesmo da pandemia, os números de transtornos mentais despertavam preocupação na Organização Mundial da Saúde. De acordo com a entidade, foram registrados 322 milhões de casos de transtorno depressivo em todo o mundo, bem como 264 milhões de pessoas eram acometidas por transtorno de ansiedade. Ainda sobre o período pré-pandemia, o estudo aponta que, no Brasil, 9,3% da população sofria distúrbios relacionados à ansiedade, correspondendo a um quantitativo de 18.657.943 cidadãos.

Se antes da Covid-19 a sociedade já ansiava aportes em relação à saúde mental, agora, mais do que nunca, segundos os especialistas, há a necessidade de cuidarmos com mais afinco de nossas mentes. Os resquícios pandêmicos são, metaforicamente, como uma imensa bola de neve que vai agregando problemas e mazelas, ao ponto de atingir a mente da população. De acordo com a psiquiatra Fátima Vasconcelos, integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), mortes, luto, desemprego, crise econômica, risco de contágio, incertezas sobre a vida são alguns dos fatos pandêmicos que impulsionam dores emocionais. “Todos esses problemas juntos podem criar um quadro de ansiedade e depressão muito grande. Algumas dessas pessoas, tanto pela ansiedade quanto pela depressão, podem aumentar o consumo de substâncias lícitas e ilícitas. A gente tem também, além da depressão, ansiedade e do transtorno do estresse pós-traumático, o aumento do consumo de drogas, tanto álcool, quanto maconha e cocaína. Muitas crises já vinham acontecendo e já comprometiam a qualidade de vida da população”, explica a médica psiquiatra.

Dados e indícios preocupam

De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), instituição vinculada à OMS, estão sendo levantados dados globais que ratificam os indícios de aumentos de ansiedade, depressão, entre outros males psíquicos, em virtude do novo coronavírus, bem como instituições passaram a traçar estratégias preventivas. Em maio deste ano, por exemplo, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, lançou um relatório sobre políticas públicas para a saúde mental com uma série de orientações aos governantes. “Luto pela perda de entes queridos. Choque com a perda de empregos. Isolamento e restrições à circulação. Dinâmicas familiares difíceis. Incerteza e medo do futuro. Problemas de saúde mental, incluindo depressão e ansiedade são algumas das maiores causas de miséria no nosso mundo”, alertou Guterres. “À medida que nos recuperamos da pandemia, precisamos transferir mais serviços de saúde mental para a comunidade e garantir que a saúde mental seja incluída na cobertura universal de saúde. Apelo aos governos, à sociedade civil, às autoridades de saúde e a outros que se reúnam com urgência para abordar a dimensão da saúde mental desta pandemia”, acrescentou o secretário-geral da ONU, conforme informações do site da Organização.

O relatório das Nações Unidas destaca, inicialmente, que embora a crise da Covid-19 seja, a priori, de saúde física, ela propagará sementes de uma grande crise de saúde mental, caso ações preventivas não sejam realizadas. O documento aponta que boa saúde mental é “fundamental” para o funcionamento da sociedade, devendo também ser pauta de cada país durante o enfrentamento ao novo coronavírus. Conforme o relatório, pesquisas realizadas em 2020 revelam alta prevalência de sofrimento na população durante a pandemia de Covid-19, como na China, em que 35% da população está angustiada. Nos Estados Unidos esse índice de angústia sobe para 45%, enquanto no Irã o percentual é ainda mais alarmante: 60%.

Ao analisarmos o cenário brasileiro, fica ainda mais evidente a necessidade de o País intensificar, prontamente, um combate dedicado aos problemas oriundos da pandemia que reverberam na saúde mental. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Ipsos revelou que quatro em cada dez brasileiros sofrem sintomas de ansiedade como consequência da pandemia. Segundo o estudo, as mulheres são mais afetadas, representando 49% dos casos, enquanto o percentual dos homens é de 33%. O levantamento aponta que o índice de 41% coloca o Brasil na primeira posição entre os países mais ansiosos em decorrência do novo coronavírus. “A gente diz que o Brasil é um país feliz e não é. Na verdade, é um país que tem muita desigualdade, muita gente vivendo em condições grandes de pobreza, o que cria um quadro de ansiedade e depressão muito grande”, acrescenta a psiquiatra Fátima Vasconcelos.

 

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

Aliado fundamental do bem-estar, o sono, antes reparador, perdeu efeito para muitas pessoas. A pesquisa do Instituto Ipsos indica que, de dia, a preocupação é com a utilização segura de máscaras e com a limpeza correta das mãos e objetos, enquanto ao anoitecer, a luta de muitos brasileiros é contra a insônia. Segundo o levantamento, 26% da população nacional relatou dificuldades para dormir na pandemia; as mulheres são as mais afetadas, apontou a pesquisa. De novo, o Brasil aparece nas primeiras posições, quando analisamos os efeitos da falta de sono entre os países: no topo da tabela está o México, com 38% da população afetada, e em segundo lugar está o Brasil, com o percentual de 26%; em terceiro estão a África do Sul e a Espanha, ambos com 25% dos seus povos atingidos pela insônia. Em contraponto, as nações menos afetas foram Japão (6%), Coreia do Sul (10%) e Austrália (12%).

Ainda de acordo com o estudo do Instituto Ipsos, um em cada dez entrevistados no Brasil disse estar enfrentando sintomas depressivos em decorrência da pandemia do novo coronavírus. Fátima Vasconcelos reitera que existe uma relação muito clara com a disseminação dos sintomas e as mazelas pandêmicas. “Na pandemia, nós já temos mais de 100 mil pessoas mortas no Brasil. Claro que tivemos índices de recuperação, mas como ficaram os familiares das pessoas que já faleceram? E mais: há o risco de mais pessoas falecerem. Algumas se internaram para o tratamento da Covid-19 e se recuperaram, mas se recuperaram com um grau de sofrimento muito grande. Existem mães que perderam filhos e mães que tiveram filhos e esperaram um mês para vê-los. Depois da pandemia, todo mundo de alguma forma foi atingido”, comenta a psiquiatra.

Já no recorte das nações em que a população menos sente os sintomas de depressão, a pesquisa mostra que chineses (4%), japoneses e franceses (5%), e por fim os alemães (8%), são os povos menos deprimidos. Ainda segundo o Instituto Ipsos, a pesquisa aponta que, no Brasil, apenas 22% dos entrevistados disseram que não foram impactados por nenhum dos problemas identificados no estudo.

O próprio Ministério da Saúde brasileiro oficializou, publicamente, sua preocupação com a piora dos índices de problemas emocionais atribuídos aos efeitos da pandemia. A pasta realizou a “Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico COVID-19 (Vigitel)” e apresentou, no fim de maio, seus resultados, entre eles os oriundos da saúde mental da população. Segundo o Ministério da Saúde, mais de 2 mil pessoas foram ouvidas neste estudo. Confira, a seguir, os problemas relacionados à saúde mental que incomodaram os cidadãos entrevistados no levantamento e seus respectivos percentuais das pessoas afetadas:

Após os resultados oriundos da Vigitel, o diretor do Departamento de Análise em Saúde e Vigilância em Doenças Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, Eduardo Macário, reforçou a necessidade de o Brasil oferecer atenção especial às questões de ordem mental, segundo ele, em alguns momentos colocadas de “lado”. Para o diretor, “eventos relacionados à saúde mental muitas vezes são colocados de lado numa situação como a que estamos vivendo”. Ele complementa: “Mas é fundamental serem monitorados e acompanhados”.

Cresce o número de atendimentos psiquiátricos durante a pandemia

Pesquisa da Associação Brasileira de Psiquiatria, a ABP, realizada em maio deste ano, identificou que, entre seus médicos associados, 47,9% dos entrevistados notaram aumento em seus atendimentos após o início da propagação do novo coronavírus. Levando em consideração esse grupo, o levantamento revelou um crescimento de até 25% nos atendimentos, quando comparados ao período anterior à pandemia para cerca de um terço dos participantes.

Um dos objetivos do trabalho estatístico da ABP foi identificar os atendimentos a novos pacientes. De acordo com a Associação, quase 68% dos psiquiatras entrevistados receberam pacientes novos após o começo da pandemia; são pessoas que nunca apresentaram sintomas psiquiátricos anteriormente. A apuração do estudo informa também que 69,3% dos médicos disseram que receberam pessoas que já haviam tido alta médica, porém, sofreram o reaparecimento de seus sintomas mentais; esses pacientes voltaram aos consultórios ou realizaram novos contatos para atendimentos. Ao todo, médicos de 23 estados, além do Distrito Federal, participaram da avaliação.

Arte: João de Lima/LeiaJáImagens

O levantamento da ABP, no que diz respeito aos médicos que não notaram aumento nos atendimentos, identificou um cenário contrário ao mencionado anteriormente: queda na quantidade de demandas. Esse decréscimo, no entanto, também pode ser entendido como uma consequência da proliferação do novo coronavírus, uma vez que entre os principais motivos revelados sobre a queda, está a interrupção do tratamento porque o paciente sente medo de sair de casa e ser contaminado pela Covid-19. Diminuíram, claramente, atendimentos às pessoas do grupo de risco, tais como idosos e brasileiros afetados por comorbidades, bem como foram empecilhos para os acolhimentos presenciais as restrições de circulação determinadas pelo poder público em algumas cidades.

"Essa pesquisa identificou dois cenários preocupantes como consequência de uma única possibilidade. O aumento dos atendimentos foi motivado, em sua maioria, pelo agravamento dos transtornos ou desenvolvimento de novas patologias psiquiátricas devido ao medo da Covid-19. Entretanto, a redução dos atendimentos àqueles que assim identificaram também se deve ao medo da contaminação e às estratégias para evitar o contágio", avalia o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva, conforme informações da assessoria de imprensa da entidade.

De acordo com os especialistas, a quebra da rotina também é um fator que pode potenciar desgastes emocionais na sociedade. Adaptar-se à uma nova realidade de trabalho, como nos casos do home office e das restrições impostas pelo isolamento social, é difícil e cria desafios. “Quando saímos de nossa homeostase, ou seja, o nosso modo usual de funcionamento, cognitivo, comportamental e emocional, temos que usar nossos mais nobres recursos para adaptação. É nesse sentido que muitas pessoas, ao não conseguirem fazer esse ajuste, adoecem e necessitam de atendimento especializado. É de se supor que, num momento de grande mudança e necessidade de adaptação, sintomas de ansiedade, depressão e relacionados a trauma aumentem e precisem de uma abordagem imediata", acrescenta o presidente da ABP ao site da instituição.

Sentimentos revelados

Um levantamento do Instituto de Pesquisas UNINASSAU, entidade vinculada ao Centro Universitário Maurício de Nassau, reuniu informações acerca dos efeitos do novo coronavírus na rotina de moradores do Recife. Um dos pontos abordados na capital pernambucana analisou a relação da Covid-19 com a saúde mental dos populares.

Segundo o Instituto, a pesquisa teve como objetivo “investigar a opinião da população residente na área de abrangência em relação à pandemia do novo coronavírus”. O universo do estudo corresponde a eleitores com 18 anos ou mais de idade, cujo grau de instrução vai do ensino fundamental incompleto ao nível superior concluído, entre outras características. No total, foram realizadas 628 entrevistas, no período de 11 a 14 de junho de 2020

Ao questionar os entrevistados sobre questões ligadas à saúde mental em meio à pandemia, a pesquisa reuniu vários sentimentos. As revelações expressaram incertezas quanto ao futuro, medos, angústias, entre outros declínios emocionais demonstrados pelos cidadãos. Acompanhe informações apuradas pela pesquisa no vídeo a seguir. Também registramos o comentário da psiquiatra Catarina Moraes, médica associada à Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, acerca dos efeitos pandêmicos nas questões psicológicas.

Indicativos ou transtornos em vítimas da Covid-19

Pesquisadores e profissionais da saúde já admitem que pessoas acometidas pelo novo coronavírus podem desenvolver transtornos mentais e até problemas neurológicos. Um estudo da Universidade Oxford, da Inglaterra, publicado no dia 16 de agosto, revelou que uma em cada 16 vítimas da Covid-19 desenvolveu alguma espécie de transtorno mental no período de três meses após a doença. Segundo a pesquisa, o risco é duas vezes maior para as pessoas que necessitaram de hospitalização por causa dos efeitos do vírus.

A pesquisa da Universidade de Oxford avaliou mais de 60 mil pessoas que apresentaram recuperação após o diagnóstico do vírus pandêmico, bem como o estudo científico identificou que indivíduos que já apresentam doença mental têm um risco maior de serem acometidos pela Covid-19. Nas avalições, foram realizadas comparações com o surgimento de transtornos durante o tratamento de outras enfermidades, entre elas infecções respiratórias e de pele, pedra na vesícula e nos rins, fraturas consideradas graves e influenza.

O estudo da universidade inglesa somou seus resultados aos de outras pesquisas que também provaram relação entre transtornos mentais e o novo coronavírus. Cientistas ainda apontam que, mesmo sendo uma doença nova, cujo vírus acomete pessoas de faixas etárias diferentes, a Covid-19 pode castigar o cérebro e o sistema vascular, além do coração, pulmões, intestino e os rins.

Em outra conclusão científica, pesquisadores da University College London (UCL), de Londres, publicaram um artigo, em julho deste ano, em que mostra uma análise de 43 pessoas vitimadas pelo novo coronavírus. Segundo o artigo, os pacientes apresentaram complicações neurológicas, tais como psicose, delírio, tremores e até danos ao cérebro, ocasionando derrame.

A comunidade científica brasileira também tem desenvolvido importantes estudos acerca da relação da pandemia com a sanidade mental da população. A Universidade de Fortaleza (Unifor), por exemplo, realizou uma pesquisa que tem como principal questionamento “Quais os impactos psicossociais que a pandemia do novo coronavírus tem causado na saúde mental do brasileiro?”. O trabalho foi financiado pela Fundação Edson Queiroz, por meio da Diretoria de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (DPDI).

De acordo com a Unifor, a pesquisa revelou que os piores índices de saúde mental aconteceram com pessoas que já foram diagnosticadas com a Covid-19, além das que integram o grupo de risco, residem com pessoas desse grupo ou concordam com o isolamento social indicado pelos órgãos competentes. O mesmo estudo mostrou também que apresentaram maiores indícios de adoecimento as pessoas em maior nível de adesão aos protocolos de combate à pandemia.

Em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora do projeto de pesquisa e professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade de Fortaleza, Cynthia Melo, explanou os resultados dos principais pontos do estudo. Uma das constatações indica que quem teve Covid-19 apresentou maior nível de ansiedade. Para a docente, isso se explica pelo fato de que as vítimas vivenciaram um risco alto de óbito. “É uma possibilidade de morte muito maior do que quem não teve a doença. Essa pessoa sabe da gravidade da doença mais de perto do que os outros”, esclarece.

Cynthia Melo é coordenadora do estudo desenvolvido pela Universidade de Fortaleza. Foto: Cortesia

O estudo da Unifor indicou, ainda, que os entrevistados que moram com pessoas do grupo de risco apresentaram mais indícios de adoecimento mental. De acordo com a coordenadora da pesquisa, uma das hipóteses para esse resultado é que os indivíduos temem sair de casa com receio de se contaminar com o novo coronavírus e, se saírem, colocarão em risco todas as pessoas com as quais moram. Há, portanto, um clima de tensão.

Em outro recorte do levantamento, foi identificado que quem concorda com o isolamento social apresenta indicadores de pior saúde mental. No entanto, a professora Cynthia alerta veemente que o isolamento é uma estratégia fundamental no combate à Covid-19, devendo, portanto, ser respeitado e praticado conforme as orientações da Organização Mundial da Saúde.

“O isolamento e o distanciamento social, apesar de necessários - devendo ser respeitados para a contenção da doença -, podem causar estresse. Por esses e outros fatos, a pandemia nos convoca a cuidados com a saúde mental. Além de ser um problema de crise epidemiológica com alto nível de contágio e de mortalidade, ela também é uma crise do ponto de vista psicológico. Tudo que envolve a doença, sensação de vulnerabilidade, risco de morte, incertezas sobre o futuro e isolamento, é adoecedor”, explica a professora.

A docente continua sua fala orientando a população sobre ações que contribuem para o bem-estar social durante o isolamento: “Para a população, existe a necessidade de se cuidar, de se prevenir, organizando os espaços da casa; tem o lugar certo para cada coisa, organizando a rotina, melhorando a ambientação do lar e fazendo uso de espaços verdes. Tenha hábitos que fazem bem, tais como aula de exercício físico ou assistindo uma live de um cantor que você gosta, ou conversando com os amigos em vídeo conferência. Pode estudar, ver um filme. Conseguimos manter essas práticas de forma adaptada. Além disso, algumas cidades abriram os espaços públicos; existem espaços verdes que são muito bons para serem usados, com liberdade e sem colocar os outros em risco, respeitando o distanciamento”.

No total, 2.705 brasileiros participaram da pesquisa da Universidade de Fortaleza. Além de Cynthia Melo, outros professores – doutores - trabalharam no levantamento e na análise das informações reveladas pelos entrevistados, bem como contribuíram para o projeto alunos de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Unifor. A coordenadora ressalta que o estudo apresenta indicadores de depressão, ansiedade e estresse, mas não crava que, de fato, as pessoas ouvidas sofrem literalmente esses transtornos mentais, porque, para a conclusão dos diagnósticos, devem ser feitas avaliações contínuas com instrumentos psicossociais.

A história e o anseio humano pelo bem-estar mental

Somos movidos a realizações. Buscamos - às vezes desenfreadamente - conquistas pessoais e profissionais, assim como bem-estar físico e mental. Nesse processo, porém, as pessoas podem encarar de diferentes formas êxitos, frustrações e problemas. Historicamente, a humanidade viveu desafios, transformações sociais, conflitos e fatos – acontecimentos históricos com impactos na condição mental dos indivíduos -, ao mesmo tempo em que caminha ao encontro da paz física e emocional.

A Organização Mundial da Saúde define saúde mental como um “estado de bem-estar em que o indivíduo percebe suas próprias habilidades, pode lidar com os estresses normais da vida, pode funcionar de forma produtiva e frutífera e é capaz de dar uma contribuição para sua comunidade”.

“O ser humano sempre está, de certa forma, em busca de uma felicidade, de bem-estar, de ter satisfação na vida. Isso acontece desde a primeira infância, depois na pré-adolescência, adolescência, vida adulta e entre os idosos. O ser humano tem algo dentro de si que vai buscando sentindo na vida, seja na escolha profissional ou mesmo na criança, por exemplo, quando ela faz a escolha de jogos que dão prazer. É a relação com a vida que tenha significado. Quando isso não acontece, os problemas aparecem. Problemas emocionais, sofrimentos, isso faz parte da vida humana, só que quando esses sofrimentos acabam por incapacitar as pessoas de trabalhar, estudar, de conviver em grupo, acabam se tornando transtornos, muitos deles de base genética, com componente hereditário muito forte”, comenta o professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Instituto de Psicologia da instituição de ensino, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, em entrevista ao LeiaJá.

Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, coordenador do Instituto de Psicologia da USP, alerta que problemas emocionais fazem parte da vida humana. Porém, quando começam a incapacitar as pessoas, eles podem virar transtornos mentais. Foto: Cortesia

Na corrida pelo bem-estar mental e físico, há pessoas que sentem a necessidade de expor à sociedade essa condição de realização humana. No entanto, isso não quer dizer que, verdadeiramente, elas vivenciam esse bem-estar. “Vários sociólogos falam que a gente vive em uma sociedade acelerada, cansada, ou a sociedade dos espetáculos. A gente tem hoje um ritmo acelerado de cotidiano. Você é acordado por um despertador, pula da cama, se arruma e vai trabalhar. E depois volta, corre, vem e vai. Você não tem tempo para o outro, não tem tempo para pensar no seu dia, no seu cotidiano, na sua vida. Ao mesmo tempo, a gente vive na sociedade dos espetáculos. É essa sociedade em que eu posso até não viver bem, mas eu tenho que mostrar, aparecer que estou bem. No Orkut, Facebook e Instagram. Às vezes, a gente está em um restaurante, e você vê um casal, amigos, cada um com o seu celular e não vivem o momento. Às vezes nem estou curtindo o restaurante, mas já estou ali fazendo uma foto para mostrar que estou no restaurante, mesmo que fisicamente apenas. É a sociedade que mostra que está tudo perfeito e as relações são muito descartáveis. Como dizem os jovens nas relações amorosas, a fila não anda, ela voa. As coisas vão girando. E no meio da Covid-19, essa sociedade se viu obrigada a parar. Pela primeira vez, nós fomos obrigados a parar”, reflete Cynthia Melo, professora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade de Fortaleza.

O filósofo coreano Byung-chul Han defende a ideia de que a sociedade contemporânea é marcada por um excesso de positividade. Para o estudioso, essa característica pode resultar em patologias psicológicas. “O que causa a depressão do esgotamento não é o imperativo de obedecer apenas a si mesmo, mas a pressão de desempenho. O que torna doente, na realidade, não é o excesso de responsabilidade e iniciativa, mas o imperativo do desempenho como um novo mandato da sociedade pós-moderna do trabalho”, defende o filósofo.

O estudioso continua: “Mas em relação à elevação da produtividade não há qualquer ruptura: há apenas continuidade. Alain Ehrenberg localiza a depressão na passagem da sociedade disciplinar para a sociedade de desempenho: 'A carreira da depressão começa no instante em que o modelo disciplinar de controle comportamental, que, autoritária e proibitivamente, estabeleceu seu papel às classes sociais e aos dois gêneros, foi abolido em favor de uma norma que incita cada um à iniciativa pessoal: em que cada um se comprometa a tornar-se ele mesmo. O depressivo não está cheio, no limite, mas está esgotado pelo esforço de ter de ser ele mesmo”. No áudio a seguir, o professor de filosofia e sociologia João Pedro Holanda traz mais detalhes acerca das ideias de Byung-chul Han. Clique na barra cinza:

Nos registros históricos, existem descrições de como o homem debatia questões sobre saúde mental. “Essa discussão sobre saúde mental é anterior à Segunda Guerra Mundial, porque já no final do século 19, começam a chegar discussões sobre isso. Freud já discutia a questão do homem moderno e as questões relativas ao mundo moderno, que têm muito do impacto da Revolução Industrial. Com os efeitos da Primeira Guerra Mundial, aconteceram os famosos traumas de guerra, resultando no aumento dessas discussões. O próprio Freud tratou alguns soldados. Alguns livros são bem emblemáticos sobre isso, como ‘Nada de novo no front’, escrito por Erich Maria Remarque, ex-soldado que vivenciou os conflitos. É um romance de um autor que lutou na guerra, em que ele fala como era o cotidiano no front e como isso impactava os soldados”, explica a professora de história Thais Almeida. “Essas discussões, porém, ganham os espaços públicos a partir da década de 50, após a Segunda Guerra Mundial. Foucault, por exemplo, publica o livro ‘História da Loucura’ em 1961”, complementa a docente.

Para o médico psiquiatra e historiador da Associação Brasileira de Psiquiatria, Walmor Piccinini, cuja atuação na medicina soma 54 anos de experiência, a Segunda Guerra Mundial marcou de maneira emblemática a psiquiatria. “No meu ponto de vista, embora a gente possa traçar vários aspectos filosóficos, a Segunda Guerra Mundial mudou a maneira de se olhar os problemas emocionais e mentais, porque os psiquiatras aprenderam a lidar com os soldados em estado de choque, em estado de crise, e a lidar de uma forma de recuperá-los para eles voltarem ao combate. Durante a guerra, não se fazia mais internamentos em hospitais, o atendimento era feito na linha de frente, e isso mudou a maneira de se ver o doente, porque, até então, o doente mental era recolhido para o asilo e lá ele era isolado. Depois da Segunda Guerra Mundial, surgiram medicamentos”, explica Piccinini.

De acordo com o historiador da ABP, a partir dos anos 90 a depressão passou a ter um crescimento expressivo. “Também a partir dos anos 90, existe um lado bem concreto disso tudo, que é o aumento das licenças médicas para o trabalho por depressão. Nós tivemos um esvaziamento dos hospitais psiquiátricos, a maioria das pessoas foi tratada nas comunidades com antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos. Isso aconteceu em todo o mundo”, recorda o médico psiquiatra.

Outras pandemias, ao longo da história, também desencadearam efeitos de ordem mental na sociedade. Há mais de dez anos, a proliferação da H1NI deixou sequelas físicas e, consequentemente, emocionais nos acometidos pela doença, segundo pesquisadores da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. De acordo com o estudo, metade das pessoas diagnosticadas com o vírus teve ansiedade, 25% apresentou depressão e em 40% dos pacientes foi identificado risco de transtorno pós-traumático. Por outro lado, ao analisarem o período após a epidemia de SARS na Ásia, ocorrida em 2003, os estudiosos documentaram um sentimento positivo: 60% dos pacientes passaram a valorizar mais a família, em uma comprovação de que, o isolamento social também pode aproximar as pessoas e fomentar uma atmosfera de solidariedade e união.

Acolhimentos e estratégias em prol da sanidade mental em meio à Covid-19

Sob o risco de uma crise global de ordem mental, instituições públicas e privadas tentam intensificar acolhimentos psicológicos e psiquiátricos durante a pandemia do novo coronavírus. Muitos profissionais realizam atendimentos de forma remota, uma vez que os serviços estão autorizados nesse formato durante a pandemia, em virtude da necessidade de manter o distanciamento social. A Lei 13.989/2020 regulamenta e autoriza a telemedicina nesse período, assim como os respectivos conselhos regionais de psicologia, orientados pelo Conselho Federal da área, permitiram os acolhimentos por meio de comunicação a distância.

Um dos serviços de acolhimentos remotos é desenvolvido em Campina Grande, na Paraíba, por meio do trabalho da Clínica Escola da UNINASSAU – Centro Universitário Maurício de Nassau. Antes mesmo da pandemia, a instituição de ensino oferecia atendimentos psicológicos presenciais de forma gratuita à comunidade acadêmica e ao público externo, porém, após o agravamento da Covid-19 no Brasil e da necessidade de valorizar o distanciamento social, o projeto passou a disponibilizar escutas de forma on-line, mediante a marcação dos interessados por meio da internet. O serviço se manteve sem custo para os usuários.

A psicóloga do serviço de acolhimento da UNINASSAU, Carla Correia, explica que os atendimentos anteriores à pandemia continuam sendo feitos, mas de maneira remota, somados às novas demandas advindas do período pandêmico. “A gente já oferecida os serviços presencialmente. Com a pandemia e diante da preocupação da universidade com a saúde mental dos alunos, colaboradores e da comunidade, sentimos a necessidade de estender o serviço e dar continuidade às escutas de forma on-line. Como o Conselho Federal de Psicologia permite, os psicólogos puderam atender de forma remota. Para isso, é preciso fazer um cadastro no e-Psi, um site do Conselho. Pessoas da Paraíba, Bahia, Pernambuco, Alagoas, entre outros estados, estão sendo atendidas no nosso projeto. O atendimento é realizado por meio de vídeo chamadas”, explana a psicóloga. De abril deste ano até agosto, mais de 160 pessoas foram acolhidas pela iniciativa, apresentando, principalmente, sintomas relacionados à depressão e ansiedade. “A própria pandemia desencadeou muitos sintomas obsessivos compulsivos, como na questão de aferir a temperatura repetidamente, por várias vezes ao dia. Na ansiedade, por exemplo, uma das características é a falta de ar e, em alguns momentos, nessa falta de ar, as pessoas se confundiam com alguns sintomas da Covid-19. Muitas vezes não tinham relação com o vírus e sim era algo relacionado à ansiedade. Notamos intensificação do medo, da insegurança. Tivemos pacientes de todas as faixas etárias, a partir de 18 anos; foi algo bem misto”, acrescenta Carla Correia.

Na visão da psicóloga, o atendimento remoto, diante do cenário difícil imposto pelo novo coronavírus, surge como uma alternativa importante para os acolhimentos dos pacientes. “Foi algo realmente novo para alguns profissionais, visto que o atendimento on-line só se dava apenas em alguma vezes, quando, por exemplo, um paciente viajava. No atendimento remoto, o lugar do paciente e do psicólogo não se altera, visto que é a fala - o que está sendo dito - que é relevante. Diante desse momento de pandemia, o atendimento on-line veio realmente para somar”, opina.

De acordo com o Conselho Federal de Psicologia (CFP), o Brasil tem registrados 375 mil psicólogos. Diante da proliferação do novo coronavírus e consequentemente da necessidade de realização dos atendimentos psicológicos de maneira remota, o site e-Psi – plataforma de cadastro dos profissionais que almejam atender remotamente – registrou um crescimento superior a 800%.

No âmbito do poder público, a Prefeitura de Olinda, na Região Metropolitana do Recife, por exemplo, é uma das gestões municipais que oferecem acolhimento remoto a pessoas com sofrimento mental durante a pandemia, além de encaminhamentos para aportes presenciais quando necessário. No caso de Olinda, a cidade é integrada à Rede de Atenção Psicossocial preconizada pelo Sistema Único de Saúde (SUS), cujo funcionamento ocorria antes mesmo da Covid-19. A partir da pandemia, em março deste ano, foram necessários ajustes na oferta dos serviços, porque com o isolamento social, as escutas precisaram ser feitas em formato remoto, bem como os profissionais da rede municipal previram que com as mudanças bruscas ocasionadas pela propagação do vírus, havia o risco de aumento nos números de casos relacionados à saúde mental entre a população.

Segundo a coordenadora de saúde mental da Secretaria de Saúde da Prefeitura de Olinda, Cíntia Mota, os teleatendimentos foram oferecidos, desde marco, a pessoas que, antes do contexto pandêmico, não apresentavam sintomas de transtornos emocionais. “Nós deixamos disponíveis dez números telefônicos, dos quais dois foram específicos para profissionais de saúde, porque a gente também percebeu um aumento desses profissionais em sofrimento mental, alguns na linha de frente do combate ao coronavírus”, explica a coordenadora. 

Também houve aumento de demanda nos atendimentos presenciais nos três Centros de Atenção Psicossocial (Caps) do município. “O acolhimento individual presencial começou a aumentar muito. Em um Caps que a gente tinha por dia de cinco a dez acolhimentos de porta aberta, chegamos a ter 25 pessoas e um único dia, para que a equipe pudesse dar conta de fazer o primeiro atendimento, acolhimento e orientação. Na população em geral, sintomas de ansiedade estão muito presentes. Sintomas ligados a depressão também aumentaram, assim como as ideações suicidas, que são outras questões ligadas a sofrimento mental”, detalha Cíntia.

De acordo com a Prefeitura de Olinda, cerca de 2 mil intervenções são realizadas por mês em cada Caps da cidade. No que diz respeito especificamente aos teleatendimentos como suporte psicológico durante a pandemia de Covid-19, mais de 600 acolhimentos foram registrados até o momento. No áudio a seguir, em entrevista ao LeiaJá, a coordenadora de saúde mental detalha como são feitas as escutas telefônicas:

Cíntia ainda alerta que os usuários do SUS não devem ter preconceito contra os atendimentos psicossociais, uma vez que, principalmente no atual cenário, qualquer pessoa corre o risco de sofrer desgaste emocional. “A gente previu que isso aconteceria e criamos estratégias para atender a essa população mesmo de forma isolada. Costumo dizer que produzimos em 2020 mais tecnologias de cuidado do que anos atrás. Em saúde mental, ainda existe muito preconceito no acesso a serviços especializados, porque a gente tem o adoecimento mental distante das nossas vidas, como se a gente não estivesse propenso a isso. E a pandemia aproximou muito a população geral ao sofrimento mental. Ou seja, eu posso adoecer porque não estou preparado para todas as dificuldades da vida. Por mais que tenhamos um repertório de estratégias para lidar com as dificuldades, a pandemia apresentou um cenário muito novo, de muita incerteza, que causou muito sofrimento”, comenta a coordenadora de saúde mental de Olinda.

Os teleatendimentos são gratuitos e estão disponíveis de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, mesmo horário de funcionamento dos Caps. Confira os endereços dos Centros de Atenção Psicossocial, além dos números para contatos no teleatendimento.

Recife, cidade-irmã de Olinda, também apostou no teleatendimento psicossocial para tentar diminuir as dores emocionais da população. Por meio da Secretaria de Saúde da capital pernambucana, o serviço foi batizado de “teleacolhimento” e, desde março deste ano, oferece escutas gratuitas via vídeos e telefones a pessoas que estão sentindo impactos na saúde mental. Os agendamentos são realizados por meio da ferramenta Atende em Casa, criada pelo poder público com a finalidade de promover atendimentos iniciais em formato digital, direcionando os usuários para profissionais de saúde que dão orientações em casos suspeitos de Covid-19. Após passar por um questionário, o público é perguntado se precisa de apoio emocional; havendo resposta positiva, é feito o direcionamento ao teleacolhimento.

Segundo a coordenadora do serviço, Angélica Oliveira, mais de 2 mil atendimentos relacionados a sofrimento mental foram realizados até o momento. Além do agendamento para o público geral, existe um e-mail exclusivo para profissionais da rede municipal de saúde do Recife, que estão atuando na linha de frente contra o novo coronavírus.

Angélica Oliveira, coordenadora do teleacolhimento oferecido pela Secretaria de Saúde do Recife. Foto: Nathan Santos/LeiaJáImagens

“O que mais aparecem são ansiedade, depressão e, de junho para cá, começou a surgir muito luto, pessoas sofrendo pela perda de parentes. Há muito medo de pegar a Covid e medo de perder o emprego. Por isso que o apoio é psicossocial, porque existem muitos problemas de ordem financeira”, explica a coordenadora.

O projeto conta com um trabalho multiprofissional, envolvendo 80 servidores municipais, como psicólogos, psiquiatras, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais, entre outras funções. A coordenadora do teleacolhimento ressalta que o serviço não oferece consultas e nem receita medicamentos, pois, para isso, são necessárias avaliações presenciais e criteriosas com médicos psiquiatras da rede municipal de saúde ou em hospitais privados. “Por isso que nós chamamos de acolhimento psicossocial”, enfatiza Angélica, complementando que, havendo necessidade, os usuários podem ser encaminhados para os serviços presenciais. “É uma escuta qualificada e, quando necessário, fazemos o encaminhamento com qualidade, fazendo o contato com o serviço; a gente diz como a pessoa vai chegar e passa os contatos. Fazemos toda uma regulação desse cuidado para que quando ele – usuário - chegue no lugar do atendimento presencial, o local já esteja sabendo e o atenda de uma forma benéfica. É um trabalho integrado”, acrescenta Angélica.

Ainda de acordo com a coordenadora do teleacolhimento, os atendimentos específicos aos profissionais de saúde devem ocorrer de maneira continuada. “A gente está com uma demanda, desde junho, regular de profissionais que apresentam todos os tipos de sofrimento, tais como medo de pegar a Covid-19 e porque estão na linha de frente. Esse acompanhamento vai durar até o final da pandemia”, finaliza.

O cidadão que necessita do aporte psicológico, dependendo da situação, pode ser acolhido em mais de uma ligação ou vídeo. Caso apresente sofrimento grave, ele deve, ainda, ser encaminhado a um serviço presencial. O teleacolhimento está disponível de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Veja endereços dos Caps, indicados a quem precisa de socorro presencial.

No vídeo a seguir, a coordenadora – e psicóloga de formação - do teleacolhimento dá mais detalhes a respeito do serviço, bem como revela dicas sobre como a sociedade pode combater desgastes psicológicos. Também participa da entrevista o assistente social Airles Ribeiro, que divide com Angélica a coordenação do teleatendimento da Prefeitura do Recife. Assista:

Quarta onda – Entre os profissionais de saúde mental, existe um entendimento de que os efeitos da pandemia da Covid-19 desencadearam uma nova “onda”. Miriam Gorender, professora de psiquiatria da Universidade Federal da Bahia (UFBA), detalhada as etapas: “A primeira onda é da doença em si. A segunda seria das complicações trazidas pela doença, como pessoas que ficam com lesões no pulmão, neurológicas e cardiológicas. Você tem ainda uma terceira onda das pessoas que adoecem de enfermidades que vinham sendo tratadas, como diabetes e pressão alta, e que deixam de ser tratadas porque toda a atenção está na Covid-19. Nesse caso, a pessoa fica com medo de ir ao médico, se consultar para continuar o seu tratamento, ou não tem uma UTI. A quarta onda é de doença mental, que deve acompanhar a gente por muitos anos, porque doença mental é crônica”.

Presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo da Silva reitera o alerta e enfatiza a necessidade de ações imediatas. "A quarta onda, que é a onda das doenças mentais, já chegou e não temos mais tempo a perder. Temos que atuar firmemente para minimizar os prejuízos que todos terão deste momento, monitorando a saúde mental da população e o atendimento psiquiátrico”, defende Antônio.

Durante entrevista ao LeiaJá, a psiquiatra Fátima Vasconcelos – também vinculada à ABP – elencou uma série de atitudes que podem ajudar as pessoas, mesmo em casa, a tentar diminuir os impactos emocionais e o agravamento de casos da quarta onda. A médica alerta, porém, que não se trata de uma receita pronta, uma vez que nem todas as atividades são indicadas a todas as pessoas de maneira generalizada, já que cada indivíduo tem suas preferências cotidianas e particularidades. Acompanhe as dicas:

1 – Crie uma rotina: você irá sentir-se mais calmo e no controle de suas emoções; leia livros, veja televisão, filmes, series, documentários, mas evite ficar o tempo todo vendo notícias. É importante se informar, mas, o excesso de informação gera estresse. Ao invés disso, ligue para seus amigos e sua família. Uma rede de suporte social faz toda a diferença. A solidão pode levar a depressão.

No home office, crie uma rotina. Acorde, vista uma roupa confortável e comece seu o trabalho, mas, estabeleça horários. Para se distrair, jogue com crianças e idosos – desde que preservados os protocolos de saúde -, respeitando suas preferências. Um dos aspectos positivos do “fique em casa” foi a maior aproximação das famílias, que estão em home office e podem conviver mais com seus filhos e pais.

2 – Faça atividades físicas: caso não tenha a orientação de um profissional, a pessoa pode optar por realizar exercícios simples, como pular corda, realizar apoios, abdominais, agachamentos e polichinelos. É indicado variar o tipo de treino a cada dia, evitando a monotonia. Este tipo de atividade pode ser realizado tanto por adultos quanto por idosos que não possuam nenhuma doença cardiovascular, respiratória ou nas articulações.

3 – Mantenha uma boa alimentação: alimentar-se de forma saudável é fundamental para superar essa pandemia. Uma dieta equilibrada evita não apenas o ganho de quilos extras, garante também uma boa imunidade do corpo. Sendo assim, evite refrigerantes, doces e pratos gordurosos. Dê preferência aos alimentos naturais como frutas, verduras, vegetais e cereais e beba bastante água. O ideal mesmo é procurar um nutricionista para montar uma dieta adequada às necessidades do seu corpo. Evite bebidas alcoólicas. Definitivamente, neste momento não abuse de bebidas.

4 – Durma bem: é quase impossível dormir quando se está ansioso ou preocupado. Uma boa ideia para regular o sono é manter-se ativo durante o dia. Quanto mais atividades físicas fizer, mais cansado ficará e melhor será o seu sono e, por consequência, sua saúde.

5 - Tenha uma boa rotina de higiene: se for necessário quebrar o isolamento social, siga estes passos: use máscara quando sair; carregue álcool em gel a 70% para higienizar as mãos na rua; lave bem as mãos quando voltar; retire os sapatos na porta de casa; coloque as roupas usadas para lavar; tome um banho e lave os cabelos. Além disso, higienize tudo que veio do supermercado e mantenha a casa sempre limpa, inclusive maçanetas, puxadores e controles remotos. Lavar as mãos antes de preparar os alimentos sempre foi um hábito básico de higiene, mas é necessário reforçar essa dica em tempos de coronavírus.

Também em entrevista ao LeiaJá, o coordenador do Instituto de Psicologia da USP, Andrés Eduardo Aguirre Antúnez, destacou orientações para a população que corre risco de sofrimento mental. Entre elas está a busca de informações em fontes confiáveis, como as produzidas pelos cientistas das universidades. Para casos graves, o coordenador também exalta o trabalho do CVV - Centro de Valorização da Vida, por meio do telefone 188. Ouças as dicas no áudio a seguir:

O médico psiquiatra Walmor Piccinini compactua da ideia que é importante filtrar informações sobre o novo coronavírus. Receber um fluxo intenso de notícias negativas pode potencializar adoecimento psicológico, segundo o especialista. “As pessoas têm que evitar passar o dia inteiro presas no WhatsApp, na tevê, recebendo informações negativas. É preciso preservar a sanidade. Não se deixar bombardear por informações negativas. Também não adianta imaginar soluções mágicas: a pessoa tem que ter tranquilidade e saber o melhor a fazer no momento. Ficar mais em casa, se for possível, evitar o contato, diminuir essa ansiedade de ir à praia, de ir a um mercado, enfim, a pessoa deve se expor o menos possível tanto psicologicamente e quanto fisicamente. É indicado ouvir uma boa música, brincar com os filhos”, aconselha Piccinini.

A Associação Brasileira de Psiquiatria divulgou, em seu site oficial, uma série de orientações para a população e profissionais de saúde que devem ser compartilhadas durante a pandemia. "Com o intuito de orientar seus associados e a população em geral, a ABP tem publicado informações voltadas aos cuidados em saúde, tanto física quanto mental, direcionadas aos diversos públicos que a acompanham", destaca a ABP. Também no site da instituição, foi publicado um comunicado com o presidente da Associação; confira no vídeo produzido pela entidade:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), umas das instituições mais atuantes no combate à pandemia de Covid-19, por meio do seu Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (CEPEDES), publicou o documento em que traz recomendações à população. Intitulada “Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Pandemia COVID-19”, a publicação explica por que estamos sob o risco de uma carga grande de estresse.

“Durante uma pandemia é esperado que estejamos frequentemente em estado de alerta, preocupados, confusos, estressados e com sensação de falta de controle frente às incertezas do momento. Estima-se, que entre um terço e metade da população exposta a uma epidemia pode vir a sofrer alguma manifestação psicopatológica, caso não seja feita nenhuma intervenção de cuidado específico para as reações e sintomas manifestados. Os fatores que influenciam o impacto psicossocial estão relacionados a magnitude da epidemia e o grau de vulnerabilidade em que a pessoa se encontra no momento”, diz um trecho do documento.

Segundo as orientações da Fiocruz, a sociedade deve seguir ações de cuidado psíquico. São elas:

“Retomar estratégias e ferramentas de cuidado que tenham usado em momentos de crise ou sofrimento e ações que trouxeram sensação de maior estabilidade emocional;

Investir em exercícios e ações que auxiliem na redução do nível de estresse agudo (meditação, leitura, exercícios de respiração, entre outros mecanismos que auxiliem a situar o pensamento no momento presente, bem como estimular a retomada de experiências e habilidades usadas em tempos difíceis do passado para gerenciar emoções durante a epidemia);

Se você estiver trabalhando durante a epidemia, fique atento a suas necessidades básicas, garanta pausas sistemáticas durante o trabalho (se possível em um local calmo e relaxante) e entre os turnos. Evite o isolamento junto a sua rede socioafetiva, mantendo contato, mesmo que virtual;

Caso seja estigmatizado por medo de contágio, compreenda que não é pessoal, mas fruto do medo e do estresse causado pela pandemia, busque colegas de trabalho e supervisores que possam compartilhar das mesmas dificuldades, buscando soluções compartilhadas; investir e estimular ações compartilhadas de cuidado, evocando a sensação de pertença social (como as ações solidárias e de cuidado familiar e comunitário);

Reenquadrar os planos e estratégias de vida, de forma a seguir produzindo planos de forma adaptada às condições associadas a pandemia;

Manter ativa a rede socioafetiva, estabelecendo contato, mesmo que virtual, com familiares, amigos e colegas; evitar o uso do tabaco, álcool ou outras drogas para lidar com as emoções;

Buscar um profissional de saúde quando as estratégias utilizadas não estiverem sendo suficientes para sua estabilização emocional;

Buscar fontes confiáveis de informação como o site da Organização Mundial da Saúde; reduzir o tempo que passa assistindo ou ouvindo coberturas midiáticas;

Compartilhar as ações e estratégias de cuidado e solidariedade, a fim de aumentar a sensação de pertença e conforto social; estimular o espírito solidário e incentivar a participação da comunidade”.

Ainda de acordo com a Fiocruz, “caso as estratégias recomendadas não sejam suficientes para o processo de estabilização emocional, busque auxílio de um profissional de Saúde Mental e Atenção Psicossocial (SMAPS) para receber orientações específicas”. Leia o documento na íntegra.

De acordo com a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco (CRP-02), Alda Roberta Campos, é preciso deixar claro que sofrimento psíquico é algo comum em meio ao cenário conturbado da pandemia. “Sofrimento psíquico todo ser humano tem, uns mais, outros menos. Em um momento de pandemia, todo mundo vai sofrer de algum jeito, pelo medo, dificuldade de sono, aumento de ansiedade, diminuição ou aumento de apetite. Vai ter interferência na vida, ninguém está imune ao sofrimento psíquico. Sofrimento não é doença”, comenta a presidente.

Alda Campos orienta que o autocuidado é um comportamento importante no processo de combate ao sofrimento psíquico, uma vez que caso esse sofrimento comece a impedir que o indivíduo realize suas atividades cotidianas, como trabalho, estudos, projetos, convivência social e higiene pessoal, começarão os indícios de que a pessoa pode, de fato, estar sendo acometida por um adoecimento mental.

“Olhar para si, se autoconhecer para entender qual é a sua demanda e quais são os seus limites. O que você consegue fazer? Qual o reconhecimento do seu sentimento? A partir disso, você faz o seu projeto. Não existe uma receita de autocuidado. Oriento que olhe para você, enxergue o seu contexto. Como você pode acolher e ser acolhido? Com quem você conta? Amigos, amigas, familiares são as pessoas que você pode contar. O que você tem feito em relação à construção da rotina, para ressignificar seu dia e seu tempo? O autocuidado é isso, é olhar para si mesmo, para tornar esse período menos difícil”, explica psicóloga.

Saiba mais - No site da Organização Pan-Americana de Saúde, órgão ligado à OMS, são publicadas informações sobre autocuidados durante da pandemia de Covid-19. Entre eles, está uma série de infográficos que destacam atividades importantes para o nosso dia a dia que nos ajudam a preservar o bem-estar e, por consequência, a nossa saúde mental. Confira, a seguir, um deles:

Folheto produzido pela OMS traz orientações sobre saúde mental em meio à pandemia do novo coronavírus. Imagem: Divulgação - Opas/OMS

Atuação do poder público é necessária. Saúde é um direito de todos os brasileiros

O LeiaJá ouviu especialistas em saúde mental e fontes de entidades que representam a atuação de profissionais da área, para refletirmos a respeito de ações e políticas, por parte do poder público, que possam ajudar a população brasileira a se proteger dos sofrimentos psicológicos e do adoecimento mental. Alda Campos, presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, compartilhou a sua análise, projetando iniciativas em prol da saúde – física e psíquica - da sociedade.

Para Alda, inicialmente é preciso compreender que o conceito de saúde envolve um bem-estar que possui várias esferas. Questões financeiras, de moradia, perspectivas de vida, acesso à transporte, alimentação saudável, lazer, educação, entre outras, são algumas dessas vertentes. Segundo a presidente do CRP-02, combater desigualdades é um dos primeiros passos para garantir o bem-estar dos cidadãos. “Quando a gente está falando de saúde mental, não estamos falando apenas de ter ou não um diagnóstico. Estamos falando de uma qualidade de vida que precisa ser cumprida diante da nossa Constituição. Na nossa Constituição Federal, saúde é um direito de todos e dever do Estado”, destaca. “A nossa orientação em relação ao poder público é que ele deve oferecer cuidado interdisciplinar e intersetorial para a população, isso quer dizer, condições de vida, acesso à educação e à água, por exemplo. Como vai lavar a mão quem não tem água? É dever do poder público promover condições melhores de moradia, de acesso à educação e à saúde”, complementa.

Na visão da presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco, a pandemia denunciou uma falta de assistência à nossa população e potencializou as diferenças e desigualdades sociais que o povo enfrenta, tais como saúde e educação precárias. Segundo Alda Campos, o Governo Federal precisa pensar um cuidado de reestruturação e reorganização social para a redução dessas desigualdades. “Essas desigualdades têm um impacto imenso na saúde mental das pessoas”, comenta Alda.

De acordo com a gestora do CRP-02, é importante que o Governo Federal, por meio dos Estados e municípios, fortaleça a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), do Sistema Único de Saúde. “Precisamos de cuidados multidisciplinares. São zelos com vários profissionais que vão ofertar cuidados interdisciplinares. O governo precisa aumentar investimentos na saúde coletiva, com acompanhamento médico, psicológico, com terapia ocupacional, assistência social, enfermagem. Cuidado não só através do SUS, mas também com o Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Proponho ações do governo que vão ofertar, por exemplo, centros de convivência, locais de apoio onde as pessoas podem pernoitar, como as pessoas em situação de rua, acessando uma alimentação adequada. A gente precisa ter trabalhos que vão fazer a oferta de profissionalização. É um cuidado geral”, complementa.

Sobre o oferecimento de profissionalização, estratégia para o campo social e, inclusive, da saúde, Alda defende que o trabalho é um instrumento essencial na vida do brasileiro. “O trabalho garante a sobrevivência e traz a ideia de perspectiva de projetos. Precisamos resgatar na população o desejo de crescimento, de sonhos, projetos. Quando a gente pensa em um trabalho psicoterápico da psicologia, buscamos tratar o outro com igualdade para ele entenda que precisa cuidar dele próprio. A população precisa mais do que cesta básica, precisa voltar à possibilidade de a pessoa desejar e querer crescer, tendo projetos e geração de renda”, opina.

Outro ponto mencionado pela psicóloga diz respeito ao sofrimento psíquico enfrentado pelos profissionais de saúde que estão na linha de frente de combate à Covid-19. Segundo o Ministério da Saúde, 257 mil profissionais de saúde foram infectados pela doença até então; 226 morreram. Na análise da presidente do CRP-02, o autocuidado é peça fundamental para que esses trabalhadores sigam firmes no acolhimento da população. “Estamos trabalhando o autocuidado, os profissionais precisam se cuidar para puder ter uma oferta de cuidado maior para o outro. A ideia do autocuidado é você poder garantir o cuidado com a sua saúde para cuidar das outas pessoas. É necessário para todas as pessoas, mais ainda para quem está na linha de frente. Terapeutas ocupacionais, enfermeiros, técnicos em enfermagem, assistentes sociais, médicos, todos os profissionais que estão tendo cuidado direto com a população que está buscando saúde. Vigilantes, pessoal da cozinha, copa, pessoal da limpeza, nutricionistas, pessoas na reta guarda e na linha de frente dos hospitais também precisam desse cuidado, porque é um sistema de saúde composto por uma série de profissionais que estão envolvidos. Todo mundo precisa dessa atenção, acolhimento e escuta especializada”, alerta Alda Campos.

Por fim, a presidente do Conselho Regional de Psicologia de Pernambuco destaca a necessidade do zelo pelos psicólogos e psiquiatras. “As pessoas têm uma ideia de que os psicólogos não têm problema. Fazem uma associação do profissional de saúde, de uma forma geral, com heróis e heróis passam a ideia de que têm super poderes, que são imbatíveis. Mas nós temos um índice de mortalidade grande entre profissionais de saúde. Nós somos profissionais que precisamos de equipamento de proteção individual, de acolhimento, de salários dignos, respeito, descanso. São pessoas que estão com medo, preocupadas em contaminar a própria família, que adoecem. Não existem heróis no sentido mágico de super poderes. São pessoas que escolheram uma profissão, que se dedicam à ela e precisam de condições mínimas de trabalho”, reivindica.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes, reitera que políticas públicas de saúde mental são essenciais para a sociedade brasileira. No entanto, na visão da presidente, o Governo Federal não tem valorizado essas políticas nos últimos anos. “Se a gente não tiver um investimento efetivo nas políticas públicas de saúde e assistência social que garantem à população serviços de qualidade, teremos problemas, principalmente em um país com o nível de desigualdade como o nosso. O que a gente vê no Brasil, infelizmente, é o processo oposto. A Emenda Constitucional 95, que congelou por 20 anos investimentos em políticas públicas, como saúde e educação, a curto, médio e longo prazo, tende a trazer uma desassistência de forma muito marcante para a população em geral”, critica.

Ana Sandra Fernandes, presidente do Conselho Federal de Psicologia. Foto: Comunição CFP

Para a presidente do CFP, o Estado precisa aplicar recursos financeiros em políticas públicas com financiamento adequado. “Deve investir nos sistemas que já existem e facilitar a criação e a promoção de políticas públicas que, efetivamente, garantam o acesso da população a serviços essenciais, garantindo desde as coisas mais simples, como a presença dos insumos necessários para o funcionamento de um serviço, até a presença de profissionais qualificados, enfim, tudo isso é necessário e tudo isso precisa ser garantido. A população tem direito constitucional a esses serviços”, comenta.

Ana Fernandes ainda tece uma crítica aos poderes públicos de uma forma geral. Segundo a presidente do CFP, o País não apresentou, até então, uma política pública de aporte à saúde mental da população durante a pandemia do novo coronavírus. “No Brasil, a gente não tem acesso à política pública, a um projeto explícito, de um programa de saúde mental, posto, principalmente, para o País nesse contexto de pandemia que a gente está vivendo. Nós desconhecemos qual é o projeto, qual é a proposta, qual é o plano dos órgãos governamentais para uma política efetiva de saúde mental. Até hoje, o Conselho Federal de Psicologia nunca foi chamado para a construção de um projeto. Sinto pessoalmente falta de uma política clara, definida, sobre como esse enfrentamento vai ser feito neste momento e no pós-pandemia”, diz a presidente.

Ainda de acordo com a gestora do Conselho Federal de Psicologia, cabe aos governos federal, estaduais e municipais promoverem o funcionamento de suas redes de atenção psicossocial e de todos os seus equipamentos, bem como os gestores públicos devem garantir o acesso da população – principalmente da parcela mais pobre - a elementos básicos, como alimentação, educação e até internet – ferramenta que propicia os atendimentos psicológicos remotos -. “Nós somos um ser integrado, não é possível falar de saúde fazendo recortes. Para que a gente possa ter saúde em uma visão muito mais ampla, que tem a ver com saúde mental, física, entre outras esferas, precisamos estar bem do ponto de vista físico, e precisamos ter as nossas necessidades garantidas socialmente. Acredito que a saúde mental entra em um conjunto de bem-estar, não só importante, mas também fundamental. O Governo Federal precisa trabalhar para que a gente viva de uma forma mais organizada, em uma sociedade mais justa e mais igual, porque isso também contribui de uma forma significativa para o nosso processo de saúde física e de saúde mental por consequência”, finaliza sua análise a presidente do Conselho Federal de Psicologia.

O professor de psiquiatria da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Bruno Monteiro, enxerga um cenário preocupante nos serviços públicos de saúde mental. De acordo com o docente, essa é uma das áreas mais carentes entre os segmentos de saúde direcionados à população. “A assistência em saúde mental já é um problema, uma área muito subvalorizada. Área muito pouca vista, é a última vista entre nas gestões públicas, em sua maioria. Você tem uma carência de serviço, pouco ambulatório, pouca psicoterapia, pouco médico psiquiatra. Os Caps não dão conta. Não estou vendo iniciativa no sentido de incremento do cuidado em saúde mental das populações”, avalia o professor, alertando que já havia, antes do cenário pandêmico, um contexto muito sério em relação à saúde mental da sociedade, potencializado após a Covid-19. “Já está tendo uma explosão de adoecimento mental, a pandemia potencializa e desencadeia um estado de mal-estar que já está presente nas pessoas. Sem pandemia, a situação da saúde mental já era um problema, as pessoas estavam muito ansiosas, deprimidas, tensas”, adverte o educador universitário.

Nascimento indica uma orientação que tem a ver com a forma que os governantes conduzem seus trabalhos sob os efeitos sociais do novo coronavírus. Segundo o professor da UFPE, os discursos dos gestores devem transmitir conforto. “Uma medida de saúde mental nessas horas é um grande sentimento de apaziguamento dado pelas autoridades. A medida terapêutica para aplacar o sofrimento dessas pessoas é tudo o que os políticos não estão fazendo agora. É o cara cuidar bem dessa população, dizer que está tomando as medidas: ‘vocês podem contar com a gente nisso, teremos assistência aqui, vai estar sendo resguardado financeiramente ali’. Claro que as pessoas vão precisar de um psicólogo e eventualmente de uma medicação. Mas, além disso, a forma como é conduzida a catástrofe, por parte do poder público e das autoridades sanitárias, também tem influência sobre a saúde mental das pessoas”, explana.

Ao sugerir possíveis estratégias de combate aos males mentais, o professor da UFPE destaca que são fundamentais o planejamento e a execução de ações emergenciais por parte dos governos. Entretanto, o docente de psiquiatria não acredita na celeridade dos poderes públicos nesse sentido. “O Ministério da Saúde, fundamentado nas instituições consultivas, como a Associação Brasileira de Psiquiatria, que é uma entidade de referência técnica, deveria criar políticas públicas cuja a tradução seja a implantação de algumas medidas específicas em curtíssimo prazo, começando com as medidas para dar uma acalmada na população, propiciando espaços de lazer, de convivência segura presencial ou on-line. No último estágio, deve haver o aumento da assistência à saúde, com maior disponibilidade de mais psicólogos e psiquiatras para a população. É fundamental um aumento da oferta e disponibilidade de profissionais de saúde mental, sobretudo psicólogos e psiquiatras na rede pública. A gente sabe que vai ser muito difícil de ser implementado”, diz o professor da UFPE.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom Ghebreyesus, também reforçou seu alerta em orientação aos chefes de poder de todos os países que enfrentam a problemática pandemia do novo coronavírus. “Devemos aproveitar esta oportunidade para criar serviços de saúde mental adequados para o futuro: inclusivos, baseados em comunidades acessíveis. Porque, em última análise, não há saúde sem saúde mental”, frisa o gestor da OMS.

O que diz o Ministério da Saúde?

O LeiaJá também entrou em contato com o Ministério da Saúde em busca de um representante que pudesse nos responder questionamentos a respeito da postura do Governo Federal no âmbito da saúde mental em meio ao cenário pandêmico. Por meio da sua assessoria de imprensa, a pasta respondeu com informações oriundas de suas equipes técnicas. Confira:

LeiaJá - A partir dos efeitos da pandemia do novo coronavírus, tais como crise econômica, luto, medo da doença, entre outros, profissionais e entidades ligadas à saúde mental alertam que o Brasil pode ter aumento de casos de depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. O Ministério da Saúde concorda com esses alertas? De que maneira a pasta interpreta e explica o atual cenário de saúde mental da população? 

Ministério da Saúde - A literatura científica sugere que medidas restritivas como quarentena, isolamento e distanciamento social têm um impacto sobre o bem-estar psicológico das pessoas, bem como reações em decorrência do medo da contaminação e/ou do luto pelos óbitos de pessoas próximas. As reações psicológicas às pandemias incluem comportamentos desadaptativos, angústia emocional e respostas defensivas como: ansiedade, medo, frustração, solidão, raiva, tédio, depressão, estresse, comportamentos de esquiva, assim como diversas outras manifestações psíquicas e/ou físicas. Esse é o fenômeno que os especialistas estão chamando de “quarta onda da evolução da pandemia de Covid – 19”. 

LeiaJá - Quais são as ações promovidas pelo Ministério da Saúde, a nível federal, em prol da saúde mental da população? E durante a pandemia, quais ações foram criadas para atender os usuários do SUS? 

Ministério da Saúde - A Política Nacional de Saúde Mental compreende as estratégias e diretrizes adotadas pelo País com o objetivo de organizar a assistência às pessoas com necessidades de tratamento e cuidados específicos em Saúde Mental, visando fortalecer a autonomia, o protagonismo e promover uma maior integração e participação social destas pessoas. A atenção às pessoas com necessidades relacionadas aos transtornos mentais, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, são assistidas nos pontos de atenção à saúde da Rede de Atenção Psicossocial, no âmbito do Sistema Único de Saúde. A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) é composta atualmente pelos serviços Atenção Primária à Saúde, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS)  em suas diversas modalidades, Serviços de Residência Terapêutica (SRT), Unidades de Acolhimento, Unidades de Referência em Saúde Mental em Hospitais Gerais, Leitos em Hospitais Psiquiátricos Especializados e Equipes Multiprofissionais em Saúde Mental. 

No âmbito Nacional, já foram realizadas diversas ações relativas à saúde mental no contexto da pandemia: 

Nota Técnica elaborada pela Coordenação Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas (CGMAD), com as recomendações à Rede de Atenção Psicossocial sobre as estratégias de organização no contexto da infecção de Covid – 19; 

Parceria com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) com a oferta de uma campanha para promover a saúde mental no contexto de Covid-19, através de materiais voltados aos profissionais de saúde, familiares, idosos e cuidadores e população em geral, com o objetivo amenizar os efeitos negativos da pandemia da Covid-19 na saúde mental dos brasileiros. 

Projeto Telepsi, realizado em parceria com o Hospital das Clínicas de Porto Alegre, que oferece teleconsulta psicológica e psiquiátrica para manejo de estresse, ansiedade, depressão e irritabilidade em profissionais do SUS que enfrentam a Covid-19 - e mais recentemente ampliada para os trabalhadores dos serviços essenciais. 

Desenvolvimento de um questionário on-line através do FormSUS, com o objetivo avaliar o impacto da pandemia de Covid-19 e do distanciamento social na saúde mental da população brasileira. 

Lançamento de uma série de ações com o objetivo de informar à população sobre questões envolvendo doenças mentais, na expectativa de promover saúde e bem-estar do brasileiro diante da pandemia da Covid-19. A primeira iniciativa consiste em três eventos virtuais do programa “Mentalize: sinal amarelo para atenção à saúde mental” que está marcado para os dias 25, 26 e 27 de agosto, sempre às 19h, no canal do Youtube do Ministério da Saúde. Serão encontros on-lines, abertos ao público em geral, que reunirão especialistas para falar sobre temas que envolvem saúde mental com o foco na saúde da criança e do adolescente, dos trabalhadores e dos idosos. O objetivo é desmistificar e reduzir estigmas sobre doenças mentais. Acompanhe: youtube.com/minsaudeBR.

LeiaJá - De que forma o Ministério da Saúde trabalha, em parceria com os estados e municípios, para oferecer serviços gratuitos de atendimentos psicológicos e psiquiátricos, além dos serviços de acolhimento psicossocial?  

Ministério da Saúde - A gestão do Sistema Único de Saúde (SUS) é tripartite, ou seja, compete à União, aos estados e aos municípios a prestação de ações e serviços de saúde. O Ministério da Saúde atua por meio de repasse de recurso financeiro de incentivo e de custeio para habilitação dos serviços da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). 

LeiaJá - Psiquiatras alertam que, no pós-pandemia, pode haver um aumento expressivo em casos de ansiedade e de pressão. Quais são os planos do Governo Federal para combater um possível surto de transtornos mentais no pós-pandemia?  

Ministério da Saúde - O Ministério da Saúde tem trabalhado para ampliação dos serviços de atendimento à saúde mental, em 2020 foram incentivadas as aberturas de 18 novos CAPS, 8 Serviços de Residência Terapêutica (SRT) e 29 novos leitos de saúde mental em hospital geral. Está prevista a habilitação de 77 novos CAPS, 100 SRT e 144 leitos em hospitais gerais. 

LeiaJá - Em 2019, quanto foi investido em serviços de saúde mental e quanto já foi investido em 2020? Já há uma projeção de recursos para 2021? 

Ministério da Saúde - Em 2019 foi incorporado no teto dos Fundos Municipais e Estaduais de Saúdeo valor de R$ 85,9 milhões. Foram ainda investidos R$ 12 milhões para estruturação e abertura de novos serviços. 

Em 2020, foi incorporado o valor de R$ 5,4 milhões no teto e pago R$ 814 milhões de incentivo para abertura de 18 CAPS, 8 SRT e 29 leitos em hospital geral. Está em tramitação a habilitação de novos serviços que alcançarão um total de R$ 66,6 milhões/ano. Para 2021, o planejamento orçamentário ainda está em elaboração. 

O Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC) emitiu uma recomendação ao prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni (MDB), para que ele não distribua ozônio para aplicação retal no tratamento contra a Covid-19. 

"Considerando notas técnicas e estudos que apontam os riscos à saúde e a falta de comprovação de eficácia no tratamento contra o novo coronavírus, a 13ª Promotoria de Justiça de Itajaí recomendou ao Prefeito Municipal que não disponibilize o ozônio para tratar os pacientes com Covid-19 na rede pública do município", diz o documento assinado pelo promotor de Justiça Maury Roberto Viviani. O prazo dado para acatar a recomendação foi de 24 horas.

##RECOMENDA##

O promotor argumenta ainda que, além dos possíveis riscos à saúde dos pacientes, a distribuição do medicamento sem comprovação de eficácia pela rede pública do município "poderá caracterizar violação da Lei de Improbidade Administrativa". E ressalta o fato de que o uso desse tratamento foi autorizado apenas como procedimento experimental, pois concluiu que há "evidência de dano aos pacientes submetidos à ozonioterapia, podendo inclusive colocar em risco a saúde desses indivíduos".

Em live na última segunda-feira (3), Morastoni anunciou que pretendia adotar a aplicação de ozônio por via retal para os pacientes diagnosticados com a Covid-19. "É uma aplicação simples, rápida, de dois ou três minutinhos por dia, provavelmente vai ser uma aplicação via retal. É uma aplicação tranquilíssima, rapidíssima de dois minutos com cateter fino, e isso dá um resultado excelente", chegou a dizer o gestor, que também é médico.

Ao privar os alunos do espaço físico da escola e do convívio em sala de aula com colegas e professores, a Covid-19 impôs desafios a todos os estudantes, sem exceção, mas não de maneira igualitária: para alguns deles, as dificuldades são ainda maiores devido a algumas particularidades. É o caso, por exemplo, de crianças que enfrentam doenças graves como o câncer e precisam lidar tanto com os desafios do ensino remoto quanto com o tratamento da doença. 

Há iniciativas que podem amenizar as dificuldades de alunos hospitalizados, como a do Centro Infantil Boldrini, em Campinas-SP, especializado em câncer infantil e doenças hematológicas, que preparou espaços para que as crianças possam ter aulas on-line enquanto esperam por tratamento ou exames.

##RECOMENDA##

“Lá eles contam com mesa, cadeira, material, para poderem se conectar à sua escola e assistirem às aulas. Sempre há um profissional da pedagogia também dando um suporte. Normalmente, as crianças vinham fazer tarefas e ter um reforço aqui, mas agora, com a realidade da pandemia, elas trazem o computador ou celular e criamos mesmo o espaço da sala de aula”, disse a coordenadora de pedagogia do hospital, Luciana Mello. 

Giovanna de Morais Moretti, de nove anos, está no quarto ano e usa o espaço pedagógico para assistir aulas enquanto aguarda para fazer seus exames e tratamento para leucemia, que enfrenta há cerca de 3 meses. Sua mãe, Maria Daiane Morais Moretti, conta que logo que começaram as aulas virtuais a menina escolheu não assistir. 

“No início, ela se afastou da escola. Ficou quase dois meses sem aula. Quando começaram as aulas on-line, ela optou por não participar. Ela estava em um processo de aceitação, tinha raspado a cabeça, tinha muito receio do que os amiguinhos iriam falar. Com o tempo, há umas duas semanas, a professora e os amigos de sala fizeram um vídeo para ela, dizendo que estavam com saudades. Esse receio de não ser bem recebida passou e em poucos dias, ela me pediu para conectar e participar da aula. Foi tudo no tempo dela, quando ela se sentiu preparada e isso foi muito importante”, contou a mãe.

Maria, que é bancária, rekata que o apoio das pedagogas e o espaço preparado para as aulas foram muito importantes para sua filha nesse momento. “Eles souberam entender as necessidades da Giovanna no começo de não querer participar, agora entendem quando ela sai da aula ao vivo para a consulta e a professora até se dispôs a ficar mais tempo com ela após as lives para ensinar o conteúdo que ela perdeu nesses primeiros meses”, disse.

A pequena Giovanna, que antes se sentia insegura de interagir com seus colegas, é uma menina estudiosa e se sente feliz de voltar a ter aulas. “Meus amigos foram muito legais comigo. Sou sempre a primeira a acabar as lições. Minha matéria favorita é ciências e quero ser veterinária quando crescer”, explicou ela, animada. 

*Com informações da assessoria de imprensa

LeiaJá também

--> Em casa: como fazer a criança prestar atenção nas aulas?

-->  Alunos e professores podem opinar sobre as aulas remotas

O Ministério da Saúde abriu, nessa quarta-feira (29), consulta pública para receber contribuições sobre o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do Sobrepeso e Obesidade em adultos.

Representantes da sociedade civil e profissionais de saúde podem contribuir por meio de produções científicas ou relatos de experiências até o dia 10 de agosto.

##RECOMENDA##

De acordo com a pasta, o material foi elaborado para subsidiar profissionais, gestores e usuários para a importância de práticas de cuidado multiprofissionais como instrumento para prevenção e controle da obesidade e do sobrepeso no país.

O protocolo tem informações sobre prevenção, diagnóstico e tratamento da condição de sobrepeso e obesidade. Inclui ainda orientações relacionadas ao monitoramento, além de indicações para gestores.

A obesidade é uma das doenças que mais tem crescido nos últimos anos em nível global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os índices de obesidade e sobrepeso quase triplicaram desde 1975. Em todo o mundo, existem pelo menos 650 milhões de obesos.

De acordo com Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), de 2018, no Brasil uma em cada cinco pessoas é obesa e mais da metade da população das capitais estão com excesso de peso.

 A apresentadora e jornalista Zildetti Montiel morreu, na madrugada desta terça-feira (28), em decorrência da Covid-19. Zildetti estava internada no Hospital Bela Vista, em São Paulo, há cerca de 15 dias e teve seu quadro agravado na última semana.

A morte foi confirmada pela filha da apresentadora. Familiares da jornalista chegaram a iniciar uma 'vaquinha' para custear o tratamento da apresentadora.

##RECOMENDA##

Atualmente Zildetti trabalhava com a organização e entrega de prêmios a personalidades e artistas. A apresentadora já trabalhou para a TV Globo, SBT, Record, Bandeirantes e TV Cultura.

O cantor paraibano Genival Lacerda realiza, nesta sexta-feira (24), uma live show direto de Campina Grande, na Paraíba. O cantor havia sofrido um Acidente Vascular Cerebral Isquêmico (AVCI) e segue em recuperação. O evento tem como objetivo ajudar o seu tratamento de saúde.

Aos 89 anos, Genival segue desde o mês de maio fazendo sessões de fisioterapia e tem enfrentado dificuldades para manter a alimentação diferenciada, além das sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e os exames domiciliar.

##RECOMENDA##

A live do Rei da Munganga acontece às 19h e será transmitida através do canal do YouTube de João Lacerda e da TV Maior, afiliada da Rede TV, na Paraíba. No repertório, o músico traz os seus maiores sucessos como “Severina Xique Xique”, “Radinho de Pilha”, “Mate o Véio”, e “Quem me dera”.

Durante a live, Genival recebe os convidados Almir Rouche, Novinho da Paraíba, Cezinha do Acordeon, Nathália Calasans do Forró do Muído, entre outros artistas.

O emir do Kuwait, o xeque Sabah Al-Ahmad Al-Jaber al-Sabah, de 91 anos, viajou aos Estados Unidos para "continuar seu tratamento médico", depois de passar por uma "cirurgia de sucesso" em seu país, anunciou nesta quinta-feira (23) seu gabinete.

O chefe de Estado deste rico país petrolífero do Golfo, no poder desde 2006, foi hospitalizado no sábado (18) e alguns de seus poderes foram transferidos "temporariamente" ao príncipe herdeiro, o xeque Nawaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah.

O emir "deixou o país hoje ao amanhecer para ir aos Estados Unidos para completar seu tratamento médico", informou seu gabinete, citado pela agência oficial Kuna.

Antes, seus colaboradores anunciaram que "por conselho de sua equipe médica e para dar sequência ao tratamento, depois de ser submetido a uma operação com sucesso", o emir viajaria aos Estados Unidos, onde já havia realizou exames médicos em setembro de 2019.

O xeque Sabah, considerado o artífice da política exterior do Kuwait moderno, sofreu vários problemas de saúde nos últimos anos.

Em 2002, teve o apêndice retirado e, em fevereiro de 2000, colocou um marca-passo. Em 2007, operou o trato urinário em um hospital americano.

Considerado um conciliador no Golfo, região envolvida a décadas em embates políticos, o xeque Sabah é um grande aliado de Estados Unidos e Arábia Saudita, mas também mantém boas relações com o rival destes dois países, o Irã.

O Mato Grosso tem vivido dias de colapso na saúde pública por causa da pandemia do novo coronavírus. Contudo, dois políticos milionários do Estado que contraíram a doença não quiseram esperar para ver se necessitariam de um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e fretaram jatinhos para se tratarem da Covid-19 em São Paulo. Foram eles: o presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso, Eduardo Botelho (DEM), e o presidente do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT), Guilherme Maluf. 

De acordo com o site BBC Brasil, após receber o diagnóstico da Covid-19 e saber que seu quadro havia se agravado, Botelho não pensou duas vezes e pegou um avião para se internar no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, no início da semana. 

##RECOMENDA##

Ao chegar ao Sírio Libanês, de acordo com vídeo publicado nas redes sociais do deputado, ele foi encaminhado para uma unidade semi-intensiva, onde permanece.

"Fui informado que se eu continuasse evoluindo assim, poderia precisar de UTI. Com o sistema totalmente colapsado de UTI (em Mato Grosso), eu tinha 50% de chance de precisar de uma já na noite de segunda-feira. 50% é um número bom para jogar na loteria, mas para jogar com a vida não é", declarou Botelho, ao justificar a ida para São Paulo. O deputado também disse estar com 50% dos pulmões comprometidos pela doença. 

Segundo a assessoria de imprensa de Botelho, o quadro de saúde dele é considerado estável. Sobre os custos com o avião, informaram que o parlamentar usou verba própria, mas não soube dizer quem estaria pagando o internamento hospitalar. 

Já Maluf, que também já foi deputado estadual, não esperou o agravamento dos sintomas e logo depois de sentir febre e tosse alugou um jatinho e foi, junto com a esposa, para o hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. O quadro de saúde de Maluf é considerado estável, segundo a assessoria de imprensa.

O presidente do TCE também justificou, por meio da assessoria, que os custos do internamento hospitalar foram pagos pelo plano de saúde que possui e o fretamento do avião foi feito com recursos próprios.

Quadro no Estado - De acordo com o último balanço divulgado pela Secretaria de Saúde do Mato Grosso, o Estado tem 31.717 casos e 1.235 vidas perdidas. A taxa de ocupação está em 92% para UTIs e em 57,42% para enfermarias.

A Unimed de Brusque-SC está distribuindo um "kit Covid-19" com hidroxicloroquina e ivermectina aos médicos cooperados. Fotos que mostram uma pequena caixa com laço verde e uma carta informando como administrar os medicamentos foram publicadas no Twitter e causaram bastante repercussão.

[@#video#@]

##RECOMENDA##

A carta traz no título: "hidroxicloroquina 400mg + vitamida D 50.000UI + ivermectina 06mg + zinco quelado 30 mg". Em seguida, há informações sobre a forma de administrar, a quantidade e como fazer o armazenamento. "Hidroxicloroquina deve ser tomada durante uma refeição ou com um copo de leite", diz o texto.

Em nota, a Unimed do Brasil se manifestou sobre o caso. A operadora de planos de saúde disse que "orienta suas cooperativas a seguirem as diretrizes previstas pelas associações e sociedades de especialidades médicas brasileiras, além dos protocolos aprovados pela OMS."

A Unimed destacou ainda que cooperativas têm autonomia para desenvolver e executar as ações que julgarem pertinentes às suas necessidades. "Médicos que as compõem têm autonomia para indicar tratamentos e procedimentos de acordo com as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Federal de Medicina", acrescentou.

A Unimed de Brusque também comentou o Kit Covid-19. Ressaltou que "oportunizou a profilaxia aos profissionais que atuam na linha de frente e também aos médicos cooperados" por estar preocupada com a crescente perda de trabalho profissional no combate à Covid-19. A unidade disse que se baseou no protocolo utilizado há algumas semanas e amplamente divulgado da Prefeitura de Porto Feliz-SP. 

"A Unimed Brusque informa que a utilização não era compulsória e após compra conjunta dos insumos tão escassos no mercado na atualidade, foi optado pela distribuição aos que desejaram realizar a profilaxia sugerida", afirma. Segundo a unidade em Brusque, foi assinado um termo de consentimento e realizados exames para excluir doenças que possam ser agravadas pelo uso da profilaxia.

Em texto publicado no site oficial, a Unimed destaca que a adoção do chamado tratamento precoce, feito pela Unimed Brusque, tem gerado resultados satisfatórios. "Já na primeira semana de Ambulatório, tivemos dois pacientes positivos, que começaram a ficar graves e em decisão conjunta com eles, optamos em utilizar a medicação, já que não havia nada disponível e era a única alternativa que estava sendo falada, lá no mês de março. Os dois iniciaram o tratamento e em 48 horas de medicação começaram a responder, ficaram bem, estão bem até hoje. Dali para frente intensificamos os estudos, e desde então, o protocolo do Ambulatório Especial da Unimed Brusque foi usar a hidroxicloroquina e a azitromicina por cinco dias em todos os pacientes que apresentaram quadro de pneumonia viral", diz a Dra. Daniela Salvador Alves, pneumologista e coordenadora médica de Serviços em Saúde da Unimed Brusque. 

 Salvador Alves afirma haver um movimento médico no Brasil em prol do tratamento precoce com uso de hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e zinco quelado. "Os pioneiros nesse tratamento são dos estados do Norte e Nordeste do país, em especial devido ao colapso que esses locais enfrentaram no Sistema de Saúde. Desta forma, eles passaram a tratar os pacientes precocemente e urgente. E em 40 dias, o colapso foi revertido, sendo um dos exemplos a Unimed de Belém do Pará, que controlou a situação. Baseado nesse e em demais exemplos, infectologistas começaram a avaliar a eficácia do tratamento precoce."

No Twitter, grande parte dos internautas criticou o Kit Covid-19 da Unimed. "Se alguém tiver problemas sérios de saúde por conta desse kit a culpa é de vocês", escreveu @JaumGodoy. "A OMS não recomenda uso, suspendeu pesquisas porque não foi comprovada eficácia e a Unimed está enviando cloroquina de souvenir? (...) não é possível tamanha irresponsabilidade", assinalou a usuária @mariaapasseio. "O princípio cooperativista de 'independência e autonomia' não tem nada a ver com essa irresponsabilidade de ignorar protocolos internacionais comprovados cientificamente", criticou também o internauta @julianorabujah.

Um paciente de Covid-19 foi preso após fugir do Hospital Regional da Asa Norte, em Brasília, e roubar uma loja de calçados com uma agulha infectada. Ele ameaçou o dono da loja e os policiais, que o detiveram ainda com os acessos intravenosos no braço, nessa segunda-feira (13).  

O homem, de 37 anos, largou o tratamento contra Covid-19 e fugiu para a rodoviária de Brasília, onde usou uma agulha infectada para roubar um par de chinelos. Ele correu em direção à Estação Central do metrô, quando percebido por policiais, que o apreenderam em estado alterado. "Ele gritava que mataria todo mundo e depois se jogaria nos trilhos", relata o soldado Henrique Porto.

##RECOMENDA##

O policial acrescenta que, mesmo na viatura, ele repetia que infectaria todos. O homem foi encaminhado para a 2ª Delegacia da Asa Norte, onde foi acusado de roubo, resistência e desacato.

Após lutar contra um câncer por cerca de dois anos, morreu nessa segunda-feira (13) Stephany Rosa da Silva, que viralizou na internet em 2012 e inspirou um meme que circula até hoje. Na ocasião, ela ficou conhecida como a "bêbada de Curitiba" ao dar uma entrevista enquanto estava detida por dirigir sob efeito aparente de bebida alcoólica.

Stephany, de 30 anos, era consultora de vendas da Mary Kay e descobriu o câncer no ovário em 2018. Desde lá, a jovem passou por três cirurgias e quatro protocolos de quimioterapia. “É um câncer de ovário com características de câncer de intestino, mas só pela posição em que o tumor estava", explicou em um vídeo publicado no Youtube.

##RECOMENDA##

Com fortes dores e sem tratamento adequado, ela ainda promoveu uma vaquinha virtual para buscar uma cura alternativa. A meta era arrecadar R$ 20 mil para arcar com medicação, cuidadora, terapia, alimentação saudável, terapias alternativas, fisioterapia, adaptações para home care e custos adicionais.

Com a repercussão da campanha, mais de 2.480 pessoas enviaram doações e conseguiram ultrapassar a meta, com mais de R$ 121.908. Contudo, Stephany não resistiu à doença e não pôde usufruir da arrecadação. O sepultamento está previsto às 11h desta terça-feira (14), no cemitério Santa Cândida, em Curitiba.

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) realizaram um estudo em escala global com pessoas infectadas pelo HIV e conseguiram eliminar o vírus do organismo de um paciente brasileiro de 35 anos que teve o diagnóstico em 2012. A estratégia foi intensificar o tratamento, e a pesquisa será apresentada nesta terça-feira, 7, na 23ª Conferência Internacional de Aids, o maior congresso sobre o tema do mundo. Apesar do resultado promissor, ainda não é possível falar em cura da aids.

De acordo com a universidade, os resultados representam mais um avanço nas pesquisas que, um dia, podem levar à descoberta da cura da aids. No mundo, três casos já são considerados como cura erradicativa, em que o HIV foi completamente removido: um paciente de Berlim, outro de Londres e um em Düsseldorf, também na Alemanha. Todos eles passaram por transplante de medula óssea, então este caso brasileiro seria o primeiro a conseguir um bom resultado apenas com tratamento medicamentoso.

##RECOMENDA##

Coordenada pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz, diretor do Laboratório de Retrovirologia do Departamento de Medicina da instituição, a pesquisa da Unifesp contou inicialmente com 30 voluntários que apresentavam carga viral do HIV indetectável no organismo e faziam tratamento padrão com coquetéis antirretrovirais. Eles foram divididos em seis grupos e cada um recebeu uma combinação de medicamentos, além do tratamento padrão.

O grupo que apresentou melhor resultado recebeu dois antirretrovirais a mais que os outros: uma droga mais forte chamada dolutegravir e o maraviroc, que "força" o vírus a aparecer, fazendo com que ele saia do estado de latência, uma espécie de esconderijo no organismo. Com isso, ele pode ser destruído pelo medicamentos. Ainda segundo a Unifesp, outras duas substâncias prescritas potencializaram os efeitos das substâncias, a nicotinamida e a auranofina. Diaz constatou que os testes em células, em animais e em humanos confirmam a maior eficiência da nicotinamida contra a latência do que outros dois medicamentos usados para esse fim e testados conjuntamente.

O paciente brasileiro começou a se tratar com medicamentos antirretrovirais dois meses após o diagnóstico de HIV, em 2012. Quatro anos depois, ele participou da pesquisa da Unifesp e realizou o tratamento por 48 semanas. Depois de 14 meses, o vírus continua sem ser detectado o organismo dele. "Esse caso é extremamente interessante, e eu realmente espero que possa impulsionar mais pesquisas sobre a cura do HIV", disse Andrea Savarino, médica do Instituto de Saúde da Itália que co-liderou o estudo.

O infectologista José Valdez Ramalho Madruga, coordenador do Comitê de Aids da SBI, destaca que a grande vantagem desse estudo é que o resultado foi obtido apenas com medicamento oral. Os outros casos conhecidos na ciência tiveram o transplante de medula como princípio. "É uma pesquisa muito interessante e um dado extremamente promissor. A chance de reproduzir isso em larga escala e muito maior", diz o pesquisador do Centro de Referência e Tratamento DST/Aids.

Ele pondera, no entanto, que esse foi um estudo à prova de conceito, ou seja, com um número pequeno de participantes para ver se a metodologia funciona. "Cabe estudo maior. A perspectiva agora é reproduzir esse estudo com maior número de pacientes."

Andrea Savarino também alertou que os outros quatro pacientes do grupo que recebeu a mesma combinação medicamentosa não tiveram o vírus eliminado do organismo. "Pode ser que o resultado não seja passível de reprodução. Este é um primeiro estudo, que precisará ser ampliado." Na conferência em que o estudo foi apresentado, médicos discutiram os resultados e pediram cautela, segundo relata o jornal The New York Times.

Steve Deeks, pesquisador de HIV na Universidade da Califórnia, San Francisco (UCSF) disse que é muito cedo para dizer se o homem está realmente livre do vírus até que outros laboratórios independentes confirmem os resultados. Ainda assim, afirmou, não está claro se o status do paciente é resultado da combinação de tratamento que ele recebeu. "Essas são descobertas empolgantes, mas são muito preliminares", disse Monica Gandhi, especialista em HIV da UCSF.

Segundo ela, a nicotinamida tem sido usada em outros estudos sem esses resultados e nenhuma droga "funcionou até agora em termos de remissão a longo prazo". O fato de ser apenas um caso levanta dúvidas, apesar de ser promissor. Os pesquisadores do estudo devem testar o sangue do paciente para identificar se ele continuou ou não com os medicamentos antirretrovirais, o que poderia ter comprometido os resultados.

A pesquisa em torno de um tratamento eficaz contra o HIV também incluiu o desenvolvimento de uma espécie de vacina com as chamadas células dendríticas (células imunes), que conseguiu "ensinar" o organismo a encontrar as células infectadas e destrui-las.

Os desafios para a cura da aids

A infectologista Tania Vergara, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que, atualmente, dois tipos de cura são consideradas para a aids: uma erradicativa ou esterilização, em que o HIV é completamente removido, e outra funcional ou chamada remissão do HIV, cujo objetivo é atingir um controle da infecção que se sustente mesmo na ausência de terapia antirretroviral (TARV). Esse tratamento atua para impedir a replicação do vírus nas células ativas.

Porém, o maior desafio para a cura é atingir o reservatório de células inativas onde o vírus fica adormecido, ou latente, nas quais os medicamentos atuais não são capazes de agir. Porém, sabe-se que a latência viral é um processo reversível e o HIV volta a se multiplicar na ausência da terapia antirretroviral eficaz.

"No período de uso da TARV, esse pool latente de células diminui lentamente, mas pode levar em torno de 70 anos para ser extinto, embora haja evidências de que ocorra uma redução em quatro anos seguido por um platô, o que pode estar relacionado à capacidade das células infectadas de se proliferarem", diz Tania.

Segundo ela, outro entrave é que o reservatório latente pode se formar em compartimentos do corpo humano onde o sistema imunológico e a terapia não o reconhecem devido a barreiras físicas e celulares. "Para pensar em cura, o caminho parece ser de abordagens múltiplas. Quanto mais precoce o início da TARV e o controle da replicação viral, menor poderá ser o reservatório latente do HIV, melhor a imunidade inata e melhor a resposta imunológica", afirma a especialista da SBI. Para ela, o protocolo apresentado no evento pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz "parece representar um grande avanço no sentido da cura".

A Conferência Internacional de Aids é organizada pela Sociedade Internacional de Aids (International Aids Society, ou IAS, em inglês) a cada dois anos e tem apoio do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids). O evento, que debate descobertas científicas sobre o HIV no mundo todo, ocorreria neste ano em San Francisco, nos Estados Unidos, mas será realizado de maneira virtual por causa da pandemia.

A pandemia do coronavírus também está afetando a distribuição de medicamentos para pacientes do HIV ao redor do mundo. Nesta segunda-feira, 6, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que 73 países alertaram que correm o risco de ficar sem antirretrovirais. Vinte e quatro países relataram que estão com baixo estoque e sofrem com interrupções no fornecimento desses medicamentos que salvam vidas.

Até o fim de 2018, o mundo tinha 37,9 milhões de pessoas vivendo com HIV, segundo a Unaids. De acordo com o Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2019, do Ministério da Saúde do Brasil, a taxa de detecção de aids vem caindo no País nos últimos anos. Em 2012, a taxa foi de 21,7 casos por 100 mil habitantes, passando para 20,6 em 2014 e 18,9 em 2016. Em 2018, a taxa chegou a 17,8. O documento informa, ainda, que de 1980 a junho de 2019, foram identificados 966.058 casos de aids no Brasil, sendo que a média anual é de 39 mil novos casos nos últimos cinco anos.

Casos descritos na ciência

Tania Vergara diz que existem três casos considerados como cura erradicativa. O pioneiro foi o do americano Timothy Ray Brown, hoje com 54 anos, que, além de HIV, também tinha leucemia. Para superar a doença, após sessões de quimioterapia sem grandes efeitos, a equipe médica realizou um transplante de medula. O HIV precisa de uma proteína presente no sangue para se reproduzir e algumas pessoas não a produzem, em razão de uma rara mutação genética que as deixam imunes ao vírus.

A estratégia - inédita e certeira - foi encontrar um doador que se encaixasse nesses parâmetros para destruir o sistema imunológico original e criar um novo mecanismo de defesa para eliminar o vírus. Após vencer o HIV, em 2007, Brown ficou conhecido como "paciente de Berlim", já que vivia na cidade alemã. Para combater a leucemia, o americano precisou de um novo transplante de medula, do mesmo doador.

Cerca de 12 anos depois, a estratégia da doação de medula voltou a dar certo, dessa vez em um paciente de Londres. Os cientistas descreveram o caso como "remissão em longo prazo".

O terceiro caso seria de uma pessoa conhecida por "paciente de Düsseldorf", cidade na Alemanha, que ainda está em acompanhamento após fazer tratamento para leucemia mieloide aguda. Ele também recebeu transplante de medula óssea, em fevereiro 2013, de um doador que não tinha o receptor ao qual o HIV se liga para penetrar nas células. A pessoa teve a terapia antirretroviral suspensa em novembro 2018 e continua com a carga viral do HIV indetectável.

Além de ter causado 445.535 mortes em todo o mundo até sexta (19), o novo coronavírus impôs cuidados que, se por um lado ajudam a conter a disseminação da Covid-19, por outro criaram desafios adicionais ao enfrentamento de outras doenças.

Uma das consequências da pandemia foi o atraso no diagnóstico e a interrupção do tratamento de casos de câncer. Situações que, segundo especialistas, podem contribuir para o agravamento da enfermidade.

##RECOMENDA##

Uma pesquisa que o Instituto Oncoguia realizou entre os dias 29 de março e 10 de maio revelou que 43% dos 429 pacientes oncológicos que responderam ao questionário foram impactados pela pandemia, contra 55% de entrevistados que disseram não ter sido prejudicados.

Entre os que declararam ter sido afetados pela crise sanitária, 15% afirmaram que seus tratamentos tinham sido adiados. Dez por cento relataram que não conseguiam agendar consultas e 6% que seus tratamentos haviam sido cancelados, sem previsão de retorno. Os 12% restantes relataram diferentes efeito da pandemia sobre suas rotinas.

Quarenta e três por cento dos pacientes afetados responderam que o adiamento ou a interrupção dos tratamentos ou procedimentos foi decidido por clínicas e hospitais, unilateralmente, por necessidade de priorizar o atendimento a pacientes infectados pelo novo coronavírus; incertezas quanto ao risco de propagação da Covid-19; falta de profissionais de saúde ou outros fatores associados à pandemia.

Apenas 12% dos que responderam ao questionário disseram ter decidido eles próprios interromper a rotina de cuidados médicos. Em geral, por medo do contágio da Covid-19. Em 3% dos casos a decisão foi compartilhada entre médico e paciente. Dois por cento dos pesquisados não tinham uma justificativa e 10% apresentaram outras razões.

Seis em cada dez dos pacientes oncológicos que responderam ao questionário e que utilizam o Sistema Único de Saúde (SUS) declararam que seu tratamento sofreu impacto, contra 33% dos usuários de hospitais particulares.

Analisadas por regiões, as respostas indicam que os entrevistados da Região Norte (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins) foram mais impactados que a média (43%) nacional: 63% deles responderam que seus tratamentos foram sim afetados em razão do contexto.

A presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, acredita que a situação se alterou após o fim da coleta das respostas, em 10 de maio, quando a sociedade já tinha mais clareza quanto aos riscos da doença e a forma como o novo coronavírus se propaga. Mesmo assim, ela sustenta que os resultados são preocupantes e merecem atenção.

“Os resultados comprovam os relatos de suspensão e cancelamentos que vínhamos recebendo e, em parte, refletem o que foram os dois primeiros meses [da doença no Brasil]. Tudo virou de ponta cabeça. As pessoas tinham muito medo de sair às ruas e tivemos que nos organizar para compreender o real impacto do novo coronavírus nos hospitais”, disse Luciana a Agência Brasil.

“Agora que já estamos vendo pessoas e serviços se reorganizando, modificando padrões e comportamentos e, pouco a pouco, retomando os tratamentos, estes dados servem de alerta para os gestores”, acrescentou Luciana, defendendo que hospitais devem informar seus pacientes sobre os protocolos de segurança adotados para garantir a integridade de todos. “Isso será importante para a reconquista da confiança.”

Diagnósticos

A partir de um levantamento realizado junto a serviços especializados de todo o país, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica e a Sociedade Brasileira de Patologia estimam que ao menos 70 mil pessoas com câncer deixaram de receber o diagnóstico da doença entre março e o fim de maio.

As duas entidades calculam que cerca de 70% das cirurgias oncológicas deixaram de ser realizadas nos primeiros três meses após a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretar a situação de pandemia. Além disso, em alguns lugares, o número de biopsias realizadas em determinados períodos chegou a cair 80% em comparação ao mesmo período de um ano antes.

Questionado, o Ministério da Saúde se limitou a informar que a organização e o controle da Rede de Atenção às Pessoas com Câncer são de responsabilidade dos estados e municípios. “Quanto ao impacto nos tratamentos desse grupo [pacientes oncológicos], o gestor tem quatro meses de prazo para lançar os dados de atendimentos nos Sistemas de Informação Hospitalar (SIH) e no Sistema de Informação Ambulatorial (SIA), do Ministério”, acrescentou a pasta.

Doenças crônicas

Desde que o primeiro caso da Covid-19 no Brasil foi confirmado, em 26 de fevereiro deste ano, entidades médicas e profissionais de saúde vêm manifestando preocupação com pacientes com doenças crônicas.

Conforme a Agência Brasil noticiou em abril, enquanto os números de casos e de mortes causadas pelo novo coronavírus aumentavam dia após dia, hospitais, laboratórios e clínicas públicas e privadas registravam o esvaziamento de setores destinados a pacientes com outras doenças.

Fosse pelo medo dos próprios pacientes que temiam sair de casa e serem infectados, fosse pelas dificuldades de agendar consultas ou seguir com seus tratamentos, pacientes cardíacos, diabéticos, imunodeprimidos, oncológicos, entre outros, deixaram de procurar ou receber a adequada assistência médica.

Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp), o número de exames gerais caiu cerca de 80% entre fevereiro e março, enquanto o total de cirurgias caiu pela metade. No mesmo período, as clínicas de diagnóstico por imagem registraram uma redução de 70% na realização de exames.

Ainda em meados de abril, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou uma nota reafirmando que, apesar da recomendação para as pessoas manterem o distanciamento social, permanecendo o máximo de tempo possível em suas casas, tratamentos contínuos não deveriam ser interromper sem orientação médica.

A recomendação da ANS se aplica não só a pessoas com doenças crônicas, mas também àquelas que necessitam de atendimentos associados ao pré-natal e pós-parto; revisões pós-operatórias; tratamentos psiquiátricos e outros “cuja não realização ou interrupção coloque em risco o paciente”.

Além disso, para tentar reduzir a demanda nos hospitais particulares e a exposição desnecessária dos pacientes ao novo coronavírus, o Conselho Federal de Medicina (CFM) admitiu e o Ministério da Saúde regulamentou o uso da telemedicina no país, para algumas modalidades.

Assim como qualquer remédio tarjado, o corticóide dexametasona só deve ser utilizado com prescrição médica, afirmaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e o Conselho Federal de Farmácia (CFF). O medicamento, que é um forte anti-inflamatório e imunossupressor usado em doenças reumatológicas e alérgicas, se mostrou, em pesquisa, eficaz no tratamento de doentes graves de coronavírus.

"Porém, os resultados positivos observados referem-se apenas a pacientes graves e sob suporte respiratório, não havendo benefício aparente entre aqueles pacientes leves e moderados de covid-19", escreveu o CFF sobre o estudo batizado de Recovery, que ainda não foi publicado em nenhuma revista científica.

##RECOMENDA##

A Anvisa lembrou que para incluir a eficiência contra o coronavírus na bula do dexametasona, que é utilizado em doenças como reumatismo e asma, é preciso que haja a comprovação por meio de estudos desenvolvidos pelos laboratórios farmacêuticos. "Atualmente, existe um estudo aprovado e em desenvolvimento no Brasil para o uso de dexametasona no tratamento de covid-19. O tempo para o desenvolvimento destes estudos depende do patrocinador da pesquisa e das instituições de pesquisa envolvidas", disse em nota.

Efeitos colaterais

O dexametasona tende a diminuir a produção natural do cortisol ou hidrocortisona, dois hormônios reguladores do corpo, além de induzir uma queda de imunidade, escreveu o sanitarista Gonzalo Vecina Neto em sua coluna no Estadão.

O Grupo DPSP, que detém as Drogarias Pacheco e a Drogaria São Paulo, disse que ainda não notou aumento na demanda do medicamento em suas redes e esclareceu que o papel do farmacêutico é orientar os clientes sobre o risco de automedicação e que o uso de remédios deve ser feito sempre com orientação médica.

Atualmente, não existem tratamentos ou vacinas aprovados para a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus que matou mais de 440 mil pessoas em todo o mundo. No Brasil já são mais de 45 mil vítimas.

Mas, até o início de junho, havia 153 drogas e vacinas sendo testadas em 1.765 estudos com pacientes que contraíram Covid-19. A maioria dos remédios, porém, ainda está em fase muito inicial dos estudos. Alguns dos trabalhos que mais avançaram foram com os antimaláricos cloroquina e a hidroxicloroquina, mas os resultados são pouco animadores. As drogas têm se mostrado pouco eficazes para tratar a doença.

##RECOMENDA##

"Diferentemente da cloroquina, a dexametasona é um medicamento com plausibilidade biológica para que seja adjuvante no tratamento da Covid-19. Os resultados anunciados mostram diferença expressiva de mortalidade. No entanto, para que essa medicação seja realmente tão efetiva na vida real quanto foi no estudo científico, os cuidados intensivos oferecidos em nossas UTIs precisam ser de alta qualidade. O básico precisa ser bem feito para que a dexametasona possa realmente salvar um terço dos tratados", afirma o médico e pesquisador Ricardo Schnekenberg, que tem acompanhado os estudos clínicos contra a doença.

Outra droga que chama atenção é o antiviral remdesivir, usado originalmente contra o ebola. Estudo preliminar publicado em 22 de maio no New England Journal mostrou que o tempo de recuperação em pacientes hospitalizados por coronavírus foi menor (11 dias) para aqueles que tomaram o medicamento em comparação com os pacientes que receberam placebo (15 dias). A mortalidade foi menor, mas não significativamente.

Também se destaca o tocilizumabe, que impede a chamada tempestade inflamatória, mas o estudo feito com o remédio até agora teve poucos pacientes. O Brasil também está testando o medicamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

O número de casos confirmados, de óbitos e de solicitações de vagas de UTI para pacientes com a Covid-19 vêm caindo em Pernambuco desde a segunda quinzena do mês de maio. Nesta segunda-feira (15), a Central de Regulação de Leitos de Pernambuco registrou a menor taxa de ocupação desde o dia 10 de abril, com 87%. O percentual indica que, no momento, há 115 vagas de terapia intensiva disponíveis para o tratamento da doença provocada pelo novo coronavírus.

Essa taxa de ocupação integra um conjunto de dados consolidados nesta segunda (15) pela Secretaria Estadual de Saúde, que apontam para uma tendência de queda dos indicadores no mês atual. O Ministério da Saúde divide o ano em 52 semanas epidemiológicas. A primeira semana de 2020 teve início no domingo, 29 de dezembro de 2019, e se encerrou no sábado, 4 de janeiro deste ano. O pico de óbitos e casos do novo coronavírus em Pernambuco foi registrado na semana epidemiológica 20 – de 10 a 16 de maio. Já o sistema de saúde teve a maior demanda por leitos de terapia intensiva na semana seguinte, de 17 a 23 de maio.

##RECOMENDA##

“Analisando os dados, é possível perceber claramente uma redução nas últimas três semanas. São números importantes, mas precisamos manter a cautela e a responsabilidade na condução dos próximos passos. A epidemia não tem se comportado de maneira uniforme em todo o Estado. Tivemos um aumento de demanda por leitos de UTI no Agreste e Zona da Mata, motivo pelo qual essas regiões não acompanharam a reabertura do varejo nesta segunda-feira, como o restante do Estado”, afirmou o governador Paulo Câmara.

Para estabelecer os gráficos da evolução dos casos, óbitos e demandas de UTI por semana epidemiológica, o Gabinete de Enfrentamento à Covid-19 utilizou os dados da saúde relativos à data de ocorrência do fato. “Estamos sendo bem conservadores na avaliação dos dados ao utilizar as informações de casos e óbitos até a semana 23. Não avaliamos a semana 24, encerrada no último sábado, por admitir que os números podem sofrer uma variação significativa, com exames ainda a serem concluídos. Já os dados de solicitações de UTI não sofrem esse atraso, e os indicadores mais recentes estão nas nossas planilhas”, explicou o secretário de Planejamento e Gestão, Alexandre Rebêlo.

Por sua vez, o secretário de Saúde, André Longo, adiantou as próximas etapas do enfrentamento da epidemia. “Teremos ainda a expansão do número de leitos, tanto na Região Metropolitana do Recife quanto no interior, além do aumento na capacidade de testagem e o reforço da mensagem para que as pessoas continuem fazendo o isolamento social e saindo de casa apenas em casos de extrema necessidade. Ainda teremos um tempo longo de convívio com a doença e todos precisamos nos adaptar”, concluiu Longo.

*Da assessoria 

 

Páginas

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando