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Quase 260 ONGs pediram aos líderes mundiais que destinem os 5,5 bilhões de dólares solicitados pelas agências da ONU para salvar 34 milhões de pessoas da fome em 2021, em uma carta aberta publicada nesta terça-feira (20).

"Pedimos que entreguem os 5,5 bilhões de dólares de fundos suplementares reclamados para levar ajuda urgente a mais de 34 milhões de meninos e meninas, de homens e mulheres em todo o mundo, que estão a um passo da fome", afirma a carta assinada por ONGs do mundo inteiro.

A mobilização respalda o apelo do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que solicitaram o fundo adicional para o ano de 2021.

De acordo com as organizações, bastaria dedicar o equivalente a 26 horas do gasto militar mundial para arrecadar a quantia.

Até o momento foram registradas promessas de contribuição que alcançam apenas 5% dos 7,8 bilhões de dólares solicitados para 2021 pela ONU para garantir a segurança alimentar, destacam os signatários.

No fim de 2020, a ONU anunciou que 270 milhões de pessoas no mundo passavam fome ou estavam perto de não ter o suficiente para comer.

Um total de 174 milhões de pessoas em 58 países correm o risco de morrer por desnutrição ou falta de alimentos "e o número aumentará nos próximos meses se nada for feito", denunciaram as ONGs.

Neste sábado (17), o ex-presidente Lula visitou a campanha de doação de alimentos do Sindicato de Metalúrgicos do ABC Paulista, na Grande São Paulo. De máscara e já imunizado, o petista foi ao drive-thru acompanhado da namorada Janja.

"Uma coisa grave é que a fome não é um fenômeno da natureza. Esse país tem terra, tem capacidade de produção. A gente provou que era possível esse país tomar café, almoçar e jantar todo dia. Ou seja, não tem explicação, a não ser a irresponsabilidade das pessoas que governam", lamentou Lula aos voluntários.

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Ele ressaltou a necessidade de aproveitar os recursos tecnológicos do agronegócio e disse que a fome é uma realidade nas periferias do país. Lula também lembrou que ajudou a tirar o Brasil do Mapa da Fome da ONU em 2002, quando a taxa de subalimentados caiu 82% por meio de investimentos e programas de combate à miséria como o Fome Zero e o Bolsa Família.

Aos 75 anos, o líder da esquerda no Brasil encerrou ciclo de imunização contra a Covid-19 em abril, quando tomou a segunda dose da Coronavac, desenvolvida em parceria com o Instituto Butantan.

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Até dentro das dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19 existem grupos que conseguem se sair melhor ou pior que outros no Brasil. A população preta, desempregada - ou em trabalhos informais - que vive em áreas mais precárias e com difícil acesso aos serviços de saúde de qualidade é a mais impactada pelos resultados da doença que já matou mais de 362 mil brasileiros.

Segundo pesquisa da revista científica The Lancet, publicada neste mês de abril, as dificuldades socioeconômicas afetaram fortemente o curso da pandemia no país, mais do que a idade e as comorbidades das pessoas infectadas. Dentro dessas desigualdades, a população preta/parda do Brasil é a que mais morre em decorrência do vírus - podendo estas mortes estarem relacionadas às diferenças na sustentabilidade ao Covid-19 e no acesso aos cuidados de saúde, incluindo cuidados intensivos para essa população.

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A análise do The Lancet reforça que os negros e pardos brasileiros têm, em média, menos segurança econômica, são menos propensos a ficar em casa e trabalhar remotamente e representam uma proporção substancial de profissionais de saúde. Além disso, comparando os índices de vulnerabilidade socioeconômica dos estados aos registros de casos e mortes provocadas pelo novo coronavírus, o levantamento mostra que as regiões mais pobres do Brasil, como o Norte e o Nordeste, foram as mais impactadas.

A cidade de Manaus, Amazonas, por exemplo, viveu o pior cenário pandêmico do país entre os meses de janeiro e fevereiro deste ano. Sem oxigênio e com hospitais lotados, a grande demanda obrigou que as equipes de saúde precisassem realizar ventilações manuais para manter os pacientes vivos, enquanto familiares, amigos e até artistas de outros Estados lutavam para conseguir oxigênio para os manauaras que, sem esse suporte, iam morrendo ‘asfixiados’ por conta de um sistema de saúde colapsado. 

"Nossa análise apóia um esforço urgente por parte das autoridades brasileiras, para considerar como resposta nacional ao COVID-19, poder proteger melhor os pardos e os negros brasileiros, bem como a população dos estados mais pobres, de seu maior risco de morrer de COVID-19", publicou a revista.

Não bastasse os 13,7 milhões de infectados e mais de 362 mil pessoas que perderam a briga desigual para o vírus, no Brasil, a fome bate à porta de milhares de brasileiros que vivem o dilema diário sobre o que comer.

Pesquisadores da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e com a Universidade de Brasília (UnB) divulgaram que 59,4% dos lares brasileiros apresentaram algum grau de insegurança alimentar no último quadrimestre de 2020. 

Outros dois quintos dos lares diminuíram o consumo de alimentos importados, como carnes e frutas. Os pesquisadores mostram que a situação mais grave da insegurança alimentar está no Nordeste. Por aqui, 73% das casas não tinham o que comer, ou tiveram que diminuir drasticamente o que vinha na sua cesta básica.

Os resultados desta pesquisa, que considera a insegurança alimentar a incerteza do que irá comer, foram divulgados na última terça-feira (13), tendo sido feita entre novembro e dezembro de 2020. 

A insegurança alimentar só piora no Brasil. Foto: Fotos Públicas

O Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) também indica que nos últimos meses de 2020, cerca de 19 milhões de brasileiros passaram fome.

Além disso, do total de 211,7 milhões de brasileiros, 116,8 milhões conviviam com algum grau de insegurança alimentar e, destes, 43,4 milhões não tinham alimentos suficientes dentro de casa.

No Alto do Pascoal, periferia localizada na Zona Norte do Recife, Ruth* sentiu na pele as dificuldades impostas pela pandemia da Covid-19. Antes dos primeiros casos surgirem no Brasil, ela trocou as ruas do Recife e de João Pessoa, Paraíba, onde trabalhava como profissional do sexo, pelas cozinhas. Ela tinha conseguido um emprego, ainda na informalidade, mas que garantia um salário fixo, sem ter que ficar na espera de clientes.

“Todo mundo sabe que conseguir trabalho é difícil, ainda mais quando você é uma travesti. Ninguém quer dar oportunidade, então eu conseguia meu dinheiro com o meu corpo. Depois de um tempo a gente vai cansando e eu tinha conseguido a oportunidade de ser cozinheira - e como eu gosto de cozinhar - agarrei logo”, exclama Ruth. 

No entanto, depois de alguns meses nesse novo trabalho, ela lembra que os casos de Covid-19 começaram a crescer e a situação começou a “apertar”, não tendo mais garantido pelos seus patrões o salário. “A mulher só queria me dar comida, até quando eu pedia dinheiro para comprar o meu cigarro ela dizia que não tinha. Não estou podre pra ficar me humilhando, não. O jeito que eu encontrei foi voltar pras ruas, meu filho. Hoje mesmo eu fui pra um motel belíssimo, tô aqui com o meu dinheirinho e minhas duas carteiras de cigarro”, disse a profissional. 

Mesmo voltando para a prostituição, Ruth aponta que está passando por dificuldades, tendo que “correr atrás de comida”, seja ela ofertada pelo governo municipal ou por pessoas próximas que sabem das dificuldades que ela enfrenta dentro de casa. 

Neste momento de pandemia, o número de pessoas desempregadas no Brasil foi estimado em 14,3 milhões no trimestre encerrado em janeiro deste ano, o maior contingente desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), divulgado no dia 31 de março, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Em Pernambuco, entre janeiro e fevereiro 37.044 pessoas perderam o seu emprego. Além disso, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostra que, de abril até dezembro de 2020, 808.334 pessoas fizeram acordos trabalhistas no Estado. Esse número inclui contratos intermitentes, suspensão de trabalho e redução de 70%, 50% ou 25% do salário - tudo no período pandêmico.

O Auxílio Emergencial deve ser disponibilizado poucas pessoas, se comparado ao ano passado. Foto: Júlio Gomes/LeiaJá Imagens/Arquivo

Auxílio Emergencial

Na nova fase do auxílio emergencial deste ano, apenas uma pessoa poderá acessar o benefício por família. Além disso, o valor médio das novas parcelas é de R$ 250, variando de R$ 150 a R$ 375, a depender do perfil do beneficiário e composição de cada família.

Segundo dados do Ministério da Cidadania, as famílias em geral vão receber R$ 250; a família monoparental, chefiada por uma mulher, vai receber R$ 375. Essa queda brusca nos valores recebidos pelas pessoas, que estão vivendo uma situação complicada com o desemprego e o desaquecimento da economia, deve ajudar, mas não como das primeiras vezes que o auxílio foi liberado, com valores variando entre R$ 300 e R$ 1.200.

Tendo que pagar água, luz, internet e aluguel, a manicure Sônia Pereira Barbosa, 47 anos, aponta estar vivendo um dos momentos mais difíceis de sua vida. Como não tem contrato com a empresa que trabalha, ela ganha pela quantidade de unhas que cuida. Na necessidade do isolamento social e das restrições impostas pelo governo de Pernambuco, Sônia se viu sem trabalho e sem dinheiro para comprar o básico.

“Desde quando a quarentena começou, pra mim ficou muito difícil porque eu trabalho como Microempreendedor Individual (MEI), então a empresa que eu trabalho não tem vínculo comigo. Eu ganho pelo que faço, então pra mim ficou muito difícil, principalmente por não ter minha carteira assinada”, explica.

Ela diz que junto com sua filha chegou a ter acesso ao auxílio emergencial prorrogado, que se encerrou em dezembro do ano passado. A junção do dinheiro recebido por mãe e filha ajudava a manter a casa onde moram, juntamente com mais duas crianças de 5 e 2 anos. 

Neste ano, sem trabalho certo, Sônia soube que apenas sua filha, de 22 anos, vai ter acesso ao auxílio, já que apenas um CPF por família vai ser beneficiado nesta nova rodada. O valor que a jovem deve receber é de R$ 375. A manicure está preocupada, sem saber como vai fazer para pagar o aluguel de R$ 400, pagar água, luz, internet, comprar o gás e ainda colocar comida na mesa com esse valor. “O que dá pra fazer com isso? É praticamente o valor do gás de cozinha”, lamenta a manicure. 

Essa segunda onda da pandemia deixa latente que as piores vítimas da crise sanitária são, ‘escancaradamente’, os trabalhadores temporários e mal pagos, aqueles que vivem na informalidade, não têm trabalho e vivem nas áreas mais pobres das cidades brasileiras, com destaque para o Norte e Nordeste do País.

*Nome fictício

Um ano após a chegada do novo coronavírus ao Brasil, os impactos sociais e econômicos causados pela pandemia dividem espaço com o luto coletivo e a preocupação com a saúde da população. Nas periferias do país, a situação é ainda mais preocupante. Com o aumento do desemprego e o fim do auxílio emergencial, cerca de 84 milhões de pessoas enfrentam algum grau de insegurança alimentar, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e um cenário de fome - já visto pela nação em um passado não tão distante - volta a ser realidade para milhares de famílias. 

As periferias da Região Metropolitana do Recife (RMR) integram o grupo de risco da fome da pandemia. No entanto, as áreas menos favorecidas da capital de Pernambuco, contam com diversas ações que buscam ajuda para minimizar os danos da grave crise sanitária que assola o país e o mundo. Algumas delas vêm dos barracões que, durante o Carnaval, produzem alegria e muito batuque: as nações de maracatu de baque virado. Várias delas têm somado forças para ajudar a seus integrantes e demais moradores das comunidades onde estão sediadas. 

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É possível fazer doações por diferentes canais. Veja como ajudar. 

Maracatu Nação Cambinda Estrela

Sediado na comunidade de Chão de Estrelas, Zona Norte do Recife,  o Cambinda se juntou ao G10 Favelas e ao Casa Amarela Social na ação #panelasvazias. O objetivo é arrecadar alimentos não só para sua comunidade mas, também para as do entorno. 

PIX: cambindaestrelaproducoes@gmail.com

Contato (WhatsAPP): (81) 98150-9354

Maracatu Nação Aurora Africana

No ano em que completa duas décadas de história, a nação sediada em Jaboatão (RMR) trocou as comemorações pela solidariedade. O Aurora Africana também tem arrecadado doações para ajudar a seus integrantes e demais moradores da sua comunidade. 

Banco do Brasil

Ag: 0934-2

Poupança: 28608-7

Fabio de Souza Sotero

Itaú

Ag: 7125

CC: 17176-4

Lysandra Felizardo P. da Paz

Caixa Econômica

Ag: 0648

OP: 003

CC: 0001108 - 6

Nação do Maracatu Aurora Africana

Maracatu Nação Encanto da Alegria

Para ajudar aos seus, o Encanto da Alegria, localizado na Bombado Hemetério, Zona Norte do Recife, lançou a campanha Ajude os Trovões. As doações podem ser feitas através do PIX da nação.

PIX: 04246947000138

Informações (WhatsApp): (81) 98672-4870

Maracatu Nação Cambinda Africano

Também sediado na Zona Norte do Recife, no Córrego do Deodato, o Cambinda Africano conta com a ajuda dos amigos e do público que aprecia o seu baque para ajudar à sua comunidade. As doações podem ser feitas via depósito bancário.

Caixa Ecônomica

Ag: 0048

OP: 13

CC: 00181170-7

Arlindo Carneiro Santos

Quase um bilhão de toneladas de alimentos é desperdiçado a cada ano no mundo, quase 20% dos alimentos à disposição dos habitantes do globo, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira (4) pela ONU.

"O problema é enorme. É custoso do ponto de vista ambiental, social e econômico", declarou à AFP Richard Swannel, diretor de desenvolvimento da ONG britânica Wrap, co-autor do relatório sobre o índice de desperdício de alimentos, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

De acordo com seus autores, "o relatório apresenta a coleta, análise e modelagem mais abrangente de dados de resíduos alimentares até hoje". Os dados (para o ano de 2019) foram coletados de 54 países, desenvolvidos e de baixa renda, sobre varejo, restaurantes e residências.

Resultado das compilações, então modeladas em escala global: 931 milhões de toneladas de alimentos jogados fora por ano (o relatório leva em conta as partes comestíveis e não - ossos, cascas).

E ao contrário da crença popular, esses dados mostram que o fenômeno atinge todos os países, independente de seus níveis de renda, ainda que, segundo a ONU, cerca de 700 milhões de pessoas no mundo passem fome e que três bilhões não tenham acesso a alimentos saudáveis, para uma população mundial estimada em 7,8 bilhões.

"Até o momento presente, o desperdício de alimentos tem sido visto como um problema para os países ricos", comentou à AFP a co-autora do PNUMA Clementine O'Connor. "Mas nosso relatório mostra que em todos os países que o mediram, o lixo doméstico é um problema"

Para 121 kg de alimentos desperdiçados a cada ano por habitante da Terra, 74 kg - bem mais da metade - são desperdiçados no nível doméstico.

- Consertar o sistema -

Em termos de percentual do total disponível aos consumidores, 11% são jogados fora em domicílio, 5% nos restaurantes e 2% no varejo.

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), por sua vez, elabora um relatório sobre as “perdas” alimentares, medidas ao nível da produção e distribuição agrícola.

De acordo com esses números, cerca de 14% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos antes mesmo de chegar ao mercado, totalizando cerca de 400 bilhões de dólares por ano, aproximadamente o PIB da Áustria.

"Se o desperdício e a perda de alimentos fossem um país, seria o terceiro maior emissor de gases de efeito estufa do mundo", observa Richard Swannel.

"Temos que consertar o sistema alimentar se quisermos enfrentar a mudança climática, e uma das prioridades é lidar com o lixo".

Os autores do estudo desta quinta destacam que os alimentos não devem, sobretudo, acabar em aterros, onde não são valorizados e onde seu processo de decomposição emite metano, um poderoso gás de efeito estufa.

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU prevê a redução pela metade do desperdício de alimentos dos consumidores e no varejo até 2030.

As Nações Unidas também devem organizar no outono a primeira "cúpula sobre sistemas alimentares", voltada para modos de produção e consumo mais "saudáveis, sustentáveis e equitativos".

A ONU espera arrecadar US$ 3,85 bilhões em uma conferência de doadores nesta segunda-feira (1°) para evitar uma fome em grande escala no Iêmen devastado pela guerra, onde "a infância agora é um inferno".

Mais de 100 governos e doadores individuais estão participando de uma reunião virtual - patrocinada conjuntamente pela Suécia e Suíça - enquanto a violência local aumentou recentemente em Marib, no norte deste país pobre da Península Arábica.

Os rebeldes houthis retomaram a ofensiva no início de fevereiro para tomar este último reduto do governo no norte, enquanto intensificaram os ataques da vizinha Arábia Saudita. O conflito, que já dura mais de seis anos, matou dezenas de milhares de pessoas e deixou milhões à beira da fome.

Segundo a ONU, é a pior crise humanitária do mundo. A queda no financiamento da ajuda no contexto da pandemia de coronavírus piorou a situação.

A ONU, que arrecadou apenas metade da ajuda necessária no ano passado, pediu "financiamento imediato" nesta segunda-feira.

"Para a maioria das pessoas, a vida no Iêmen agora é insuportável. A infância agora é um inferno".

"Esta guerra está acabando com uma geração inteira de iemenitas", disse o secretário-geral da ONU, Antonio Guterres. "Este não é o momento de virar as costas ao Iêmen", acrescentou o alto diplomata em um comunicado.

- "Situação urgente" -

A ONU está contando, em particular, com os países ricos do Golfo que cercam o Iêmen para levantar os US$ 3,85 bilhões (cerca de € 3,18 bilhões) necessários.

No ano passado, faltaram US$ 1,5 bilhão dos US $ 3,4 bilhões esperados.

Os Emirados Árabes Unidos prometeram US$ 230 milhões na sexta-feira.

De acordo com os últimos dados da ONU, mais de 16 milhões de iemenitas, cerca de metade da população de 29 milhões, passarão fome este ano.

Cerca de 50.000 pessoas já estão "morrendo de fome ou em condições de quase fome" e 400.000 crianças menores de cinco anos podem morrer de desnutrição aguda "sem tratamento de emergência".

Em setembro de 2020, a ONU revelou que a ajuda essencial foi cortada em 300 centros de saúde no Iêmen devido à falta de financiamento, e que mais de um terço de seus principais programas humanitários no país foram cortados ou interrompidos completamente.

Doze organizações humanitárias, incluindo Save the Children, Oxfam e Action Against Hunger, alertaram sobre um "desastre" no caso de falta de financiamento.

"Com cinco milhões de pessoas à beira da fome e mais de dois terços da população do país necessitando de ajuda humanitária ou proteção, a situação não poderia ser mais urgente", afirmaram em um comunicado conjunto.

O Programa Mundial de Alimentos, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2020, anunciou no domingo que "enfrenta uma lacuna de financiamento significativa".

A conferência ocorre em um momento em que os Estados Unidos tentam reativar o diálogo político para resolver o conflito no Iêmen.

Washington retirou os rebeldes houthis da lista de "organizações terroristas" e parou de apoiar a intervenção militar da coalizão liderada pelos sauditas no país desde 2015.

Escassez e desnutrição em alguns países, abundância e obesidade em outros. Antes da Assembleia da ONU em setembro, o Fórum de Davos se propôs a tentar consertar os "sistemas alimentares" mundiais, fragilizados pela pandemia e pelas mudanças climáticas.

O Fórum Econômico Mundial de Davos, celebrado virtualmente este ano, reuniu ministros da Agricultura, diplomatas e outros responsáveis encarregados do combate à fome no mundo. Equilibrar oferta e demanda: a equação é bem conhecida, mas se tornou mais complexa com a pandemia de Covid-19.

Atualmente, 2 bilhões de pessoas no mundo não comem o suficiente ou se alimentam mal. O planeta terá que alimentar 2 bilhões de bocas a mais em 2050 (9,7 bilhões de pessoas previstas na Terra para esta data) e, ao mesmo tempo, conter a destruição de seus recursos e espaços naturais.

A produção de alimentos é considerada responsável por um quarto das emissões de gases de efeito estufa, por uma boa parte do desmatamento e pela perda da biodiversidade. Além disso, 30% dos alimentos produzidos são perdidos ou desperdiçados.

E agora as redes logísticas de abastecimento são colocadas à prova pela pandemia: portos, matadouros, fábricas e fronteiras foram fechados, e o movimento dos trabalhadores agrícolas foi paralisado.

- Risco de "fome em massa" -

Em uma mesa redonda com outros líderes, o primeiro-ministro holandês Mark Rutte defendeu a inovação e a agricultura de precisão mediante satélites e bases de dados. Segundo ele, a cúpula da ONU prevista para setembro sobre o tema será "um ponto de virada".

A Holanda registrará todas as inovações locais que facilitarão as associações com o setor privado, disse ele.

No entanto, "as técnicas usadas nas montanhas da Síria ou Afeganistão não necessariamente funcionarão no Níger, Mali ou Burkina Faso", alertou David Beasley, diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA), a agência da ONU responsável pela ajuda humanitária de emergência, que recentemente recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Beasley convocou os gigantes do agronegócio para fornecer assistência e tecnologia, e "integrar" os pequenos agricultores, sem deslocá-los de suas terras.

"Mais de 600 milhões de explorações agrícolas em todo o mundo são administradas por famílias ou povos indígenas", lembrou Amina Mohammed, vice-secretária-geral das Nações Unidas. "Enquanto isso, apenas 1% das explorações usa mais de 70% da superfície agrícola disponível", acrescentou.

Um dos desafios é "reconfigurar" o uso da terra agrícola no planeta, disse.

Se nada for feito, "teremos fome em massa, países desestabilizados e migrações maciças", alertou Beasley.

Antes que a pandemia fechasse sua escola e os funcionários da imigração dos EUA deportassem seu pai para El Salvador, Kimberly Orellana, de 14 anos, não tinha medo de passar fome.

Mas o salário de sua mãe, agora o único ganha-pão de sua casa, não é suficiente para alimentá-la e às duas irmãzinhas.

Assim, Kimberly faz fila em frente a uma escola para aproveitar a distribuição de alimentos organizada ali por uma associação sem fins lucrativos.

"Às vezes, precisamos de um pouco de comida para manter nossa geladeira cheia", diz Kimberly, em Cockeysville, ao norte de Baltimore City (leste), durante um intervalo de suas aulas que agora são ministradas online.

Cada vez mais crianças passam fome nos Estados Unidos. A epidemia de coronavírus, que matou cerca de 280.000 pessoas no país, causou uma crise econômica histórica.

De acordo com o Departamento de Comércio, 12% dos adultos dizem que "às vezes" ou "frequentemente" não comeram o suficiente no último mês.

Cerca de 10% das mães de crianças com menos de cinco anos disseram que passaram fome em algum momento de outubro e novembro, de acordo com uma pesquisa da Brookings Institution.

A instituição de caridade Feeding America estima que cerca de 50 milhões de pessoas serão consideradas em situação de insegurança alimentar este ano, incluindo cerca de 17 milhões de crianças.

“Você pode dizer que a insegurança alimentar é atualmente a mais alta da era moderna”, disse Lauren Bauer, chefe de estudos econômicos da Brookings Institution, à AFP.

- Números alarmantes -

Os números são alarmantes para a maior economia mundial e um dos principais países doadores de ajuda alimentar a outras nações.

“Alimentos e agricultura representam cerca de 20% da economia dos Estados Unidos, mas 100% das pessoas comem”, lembra Chloe Waterman, diretora de programas do grupo Amigos da Terra, que enfatiza o papel do Departamento de Agricultura para neutralizar o problema.

O início da pandemia em março, os fechamentos de empresas e o desemprego em massa levaram a uma severa recessão.

Escolas também fecharam, impedindo que crianças de famílias mais pobres recebessem alimentação gratuita.

Segundo Bauer, a escassez de produtos básicos nos supermercados também afetou os pais de baixa renda em primeiro lugar.

O Congresso dos EUA respondeu permitindo que os estados dessem às famílias cartões de benefícios no valor da merenda escolar, enquanto muitos continuaram a fornecer alimentos aos alunos.

Mas há obstáculos nessa rede de segurança, diz Bauer, especialmente para os pais que não conseguem chegar aos locais onde as escolas distribuem suas refeições gratuitas.

E o principal plano do governo para fornecer alimentos às famílias carentes, o Programa de Assistência à Nutrição Suplementar (SNAP), é insuficiente para cobrir todas as refeições, transferindo o fardo do desemprego crescente para instituições de caridade, argumenta Waterman.

É o caso da associação Baltimore Hunger Project, que oferece produtos alimentícios nos finais de semana na cidade de Maryland e seus subúrbios. As inscrições triplicaram desde o início da pandemia e a associação agora está ajudando 2.000 famílias.

Entre elas a de Kimberly, que pôde receber ovos, pão e outros produtos básicos para ela e sua mãe, ambas sem documentos, e suas duas irmãs nascidas nos Estados Unidos.

“Às vezes é muito difícil, mas você tem que continuar”, diz ela.

"Isso parte meu coração", disse Ayo Akinremi, um imigrante nigeriano que começou a buscar comida para sua esposa e filhos depois de perder o emprego, mas agora é voluntário.

“Foi um choque cultural para mim vir para os Estados Unidos e sentir tanta insegurança alimentar”, diz ele.

Jason Momoa deu uma entrevista para a revista In Style e abriu o coração sobre a sua carreira. Ele, que começou a atuar aos 19 anos de idade, revelou que passou muitas dificuldades mesmo após estrelar um dos papéis mais importantes de sua vida: o do guerreiro Khal Drogo, na série Game of Thrones.

- Quero dizer, nós estávamos passando fome após Game of Thrones. Eu não conseguia trabalho. É muito desafiador quando você tem filhos e está totalmente endividado.

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Felizmente, as coisas melhoraram em 2016 - e agora Momoa tem trabalhos garantidos até, pelo menos, 2024! A vida dá muitas voltas, não é mesmo?

O artista, que costuma fazer papéis onde exibe as suas habilidades de luta corporal, ainda deu uma lição a todos os homens que possuem preconceito com a cor rosa.

- Rosa é uma cor linda. E eu sou muito seguro com a minha masculinidade. Eu realmente não dou a mínima para o que as pessoas pensam.

Mas a vida de Momoa não foi mesmo fácil. Ele sofreu bastante bullying na escola, principalmente quando começou a praticar arte e skate.

- Me batiam muito. Só por ser um pouquinho diferente - era desagradável. Eu usava Birkenstocks [um tipo de sandália] no ensino médio, e era tipo, Você é uma aberração.

Atualmente aos 41 anos de idade, o ator recorre à terapia para lidar com as suas questões internas.

- Estou me exercitando o dia todo, então meu sistema nervoso parece não saber que eu não estou constantemente cortando a cabeça das pessoas fora [falando sobre seus personagens valentões]. Para mim, relaxar e sentar quieto é quase impossível.

Além disso, o astro está entendendo como foi crescer sem um pai em casa e como isso afeta o seu relacionamento com seus filhos, Wolf e Lola - principalmente com o menino, de 12 anos de idade.

- Eu não sabia o que era preciso para ser um pai. E eu não quero só dizer para o meu filho Porque sim, porque eu disse. Eu realmente quero me conectar, e quero que ele seja aberto e vulnerável.

A ONU alertou, nesta sexta-feira (6), que Burkina Faso, Sudão do Sul, nordeste da Nigéria e Iêmen estão a um passo de cair na fome devido ao agravamento dos conflitos e à difícil distribuição de ajuda alimentar nessas áreas.

Uma parte da população desses países já se encontra em "situação crítica de fome" e pode em breve entrar em fome se as condições "se agravarem ainda mais nos próximos meses", segundo relatório da Organização para Agricultura e Alimentação (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA).

No entanto, esses quatro países estão longe de ser os únicos onde os níveis de insegurança alimentar aguda estão atingindo novos patamares globalmente.

Outros 16 países, incluindo a Venezuela, correm alto risco de aumentar os níveis de fome aguda, alertaram os autores do relatório das duas agências das Nações Unidas.

“A crise macroeconômica, agravada ainda mais pelos efeitos socioeconômicos das medidas relacionadas à pandemia de covid-19, será particularmente preocupante para a Venezuela”, afirmam a FAO e o PMA.

Os autores do relatório também estão preocupados com a situação de risco alimentar que os imigrantes venezuelanos enfrentam em países vizinhos, como Colômbia, Equador ou Peru.

A Venezuela está imersa desde o final de 2015 em uma crise econômica, política e social que obrigou cerca de 5 milhões de venezuelanos a deixar seu país, segundo dados do Alto Comissariado da ONU publicados no início do ano.

Pesquisas realizadas pelo PMA também mostram que na Guatemala, El Salvador, Honduras e Nicarágua os níveis de consumo de alimentos pioraram desde o início da pandemia de covid-19, com 2,2 milhões de pessoas que podem cair em uma situação grave de insegurança alimentar, em comparação com os 1,4 milhão em 2019.

"Estamos em um ponto crítico com consequências catastróficas", afirmou Dominique Burgeon, diretor da Divisão de Emergência e Resiliência da FAO, em um comunicado à imprensa. "Este relatório é um apelo claro para uma ação urgente", acrescentou.

A situação de catástrofe-fome é a mais grave das cinco fases utilizadas pelo sistema de Classificação Integrada de Segurança Alimentar em Fases (CIF) para indicar os graus de insegurança alimentar.

Quando essa fase extrema é declarada, significa que as pessoas já começaram a passar fome, observa o relatório.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) usou as redes sociais para fazer mais um pronunciamento nacional, nesta sexta-feira (16). O líder petista falou sobre a fome, aproveitou o Dia Mundial da Alimentação para alertar quanto ao retorno do problema ao país e afirmar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deu um "tiro de misericórdia" nos pobres ao reduzir pela metade o auxílio emergencial. 

"A fome é um tormento social que resulta, principalmente, de opções econômicas feitas governantes. A fome é um flagelo que só terá fim quando distribuirmos a riqueza. Não podemos naturalizar a fome", cravou Lula, após fazer um discurso incisivo sobre o contexto do país ao  mencionar impactos da Covid-19. 

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“Bolsonaro disparou um tiro de misericórdia contra os pobres e reduziu pela metade o valor do auxílio emergencial, de R$ 600 para R$ 300, além de excluir um grande número de beneficiários do programa. E avisou: o auxílio emergencial acaba em dezembro, mesmo que a pandemia continue. É imperioso manter o auxílio emergencial de 600 reais enquanto durar a pandemia. Conclamo todos a apoiarem a campanha lançada pelas centrais sindicais, exigindo do Congresso a imediata votação dessa medida. Nenhum real a menos”, enfatizou.

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O ex-presidente lamentou o fato dos preços dos alimentos estarem em alta. “Lamentavelmente o Brasil não tem o que festejar no Dia Mundial da Alimentação. Ao contrário. Vivemos dias muito difíceis. Em meio a uma pandemia que já ceifou 150 mil vidas, os preços dos principais alimentos dispararam. O arroz subiu quase 20% desde o início do ano. O feijão, quase 30%. O leite, mais de 20%. Alguns produtos de primeira necessidade desapareceram dos supermercados. Tudo indica que os preços continuarão subindo nos próximos meses. É a face mais cruel do terrível fantasma da fome”, frisou o ex-presidente.

Lula aproveitou o discurso também para lembrar que durante a gestão petista, o país foi declarado fora do Mapa Mundial da Fome da ONU, mas, segundo ele, “depois do golpe contra a presidenta Dilma, o país deu marcha a ré”.

“É inaceitável que no Brasil tantos homens, mulheres e crianças não tenham o que comer. Afinal, somos um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Este ano, a safra de grãos deve bater novo recorde: 257 milhões de toneladas. Ou seja, produzimos mais de uma tonelada por habitante, o suficiente para que cada brasileiro tivesse acesso a três quilos de grãos por dia”, afirmou.

“Saber que a Humanidade produz mais alimentos do que consome significa afirmar que a fome não é um problema causado pela natureza. A fome é resultado da irresponsabilidade e da insensibilidade de governantes que não têm interesse em enfrentar e curar essa chaga”, completou.

Ainda na ótica de Lula, “a fome é a arma de destruição em massa mais poderosa e perigosa que qualquer outra que o homem tenha inventado”. Por fim, o ex-presidente também disse que seu desabafo era um “chamamento a todos os homens e mulheres de bem que ainda conseguem se indignar com a volta da fome ao nosso país”.

Durante uma live na noite desta quinta-feira (24), o ex-presidente Lula (PT) falou sobre as dificuldades do País e relembrou ações feitas enquanto ele era chefe do Executivo. O petista aponta que, no seu governo, a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu a erradicação da fome no Brasil. "Agora, ela (a fome) voltou, e voltou forte. Hoje, mais de 15 milhões de brasileiros vão dormir sem ter o que comer", aponta. 

Lula reclamou do preço da cesta básica "no país que não tem nem inflação de alimentos". O ex-presidente confirma que os preços dos alimentos estão altos porque o governo Bolsonaro preferiu dar destaque para as exportações. 

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"O país sério e um governo sério só exportam para o exterior aquilo que é o excedente da sua produção. Primeiro, eu dou comida para o meu povo, depois eu vou dar um pouquinho de comida para o chinês, para o alemão e o americano", explica. 

Ainda durante a live, o petista aponta que a atenção aos pobres deveria ser prioridade de qualquer governo. "A gente conseguiu provar que o povo pobre não é problema de um país, é a solução quando você inclui esse povo dentro do orçamento", disse.

Ele aponta que os pobres são os melhores consumidores que o país pode ter, já que com dinheiro em mãos, ele "vai fazer investimento na sua barriga" comprando comida. Lula defende que o programa Bolsa Família possibilitou que as pessoas pudessem comprar aquilo que antes não podiam.

"Para cuidar do povo pobre você não precisa ter curso de economia, precisa ter coração. Você tem que ter consciência, respeito e solidariedade. É isso que faz as pessoas se diferenciarem no governo", avalia o ex-presidente.

SUS durante a pandemia

O ex-presidente Lula avalia que, neste momento pandêmico que o país está vivendo, se não fosse o Sistema Único de Saúde (SUS), o "país estaria num caos". 

"Quem está cuidando da saúde é o Estado brasileiro, é o SUS. Eu não quero um Estado empresário, quero um Estado que tenha competência de ser forte para o atendimento daquilo que o povo brasieliro precisa", diz o petista.

A insegurança alimentar grave, em que as pessoas relataram chegar a passar fome, atingiu 4,6% dos domicílios brasileiros, o equivalente a 3,1 milhões de lares, em 2017-2018. Esse percentual significa que 10,3 milhões de pessoas residem em domicílios nessa situação, sendo 7,7 milhões moradores na área urbana e 2,6 milhões na rural.

Os dados constam da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018: Análise da Segurança Alimentar no Brasil, divulgada hoje (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A insegurança grave aparece quando os moradores passaram por privação severa no consumo de alimentos, podendo chegar à fome.

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Em 2017-2018, dos 68,9 milhões de domicílios no Brasil, 36,7%, o equivalente a 25,3 milhões de lares, estavam com algum grau de insegurança alimentar: leve (24%, ou 16,4 milhões), moderada (8,1%, ou 5,6 milhões) ou grave (4,6%, ou 3,1 milhões).

Segundo o IBGE, na população de 207,1 milhões de habitantes em 2017-2018, 122,2 milhões eram moradores em domicílios com segurança alimentar, enquanto 84,9 milhões moravam aqueles com alguma insegurança alimentar, assim distribuídos: 56 milhões em domicílios com insegurança alimentar leve, 18,6 milhões em domicílios com insegurança alimentar moderada e 10,3 milhões de pessoas residentes em domicílios com insegurança alimentar grave.

De acordo com a Escala Brasileira de Medida Direta e Domiciliar da Insegurança Alimentar, a segurança alimentar está garantida quando a família tem acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Na insegurança alimentar leve, há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos no futuro e qualidade inadequada dos alimentos resultante de estratégias que visam a não comprometer a quantidade de alimentos. Na moderada, há redução quantitativa de alimentos entre os adultos e/ou ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos.

Na insegurança alimentar grave, há redução quantitativa severa de alimentos também entre as crianças, ou seja, ruptura nos padrões de alimentação resultante da falta de alimentos entre todos os moradores. Nessa situação, a fome passa a ser uma experiência vivida no domicílio.

Captada por três suplementos da antiga Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), a prevalência nacional de segurança alimentar era de 65,1% dos domicílios do país em 2004, cresceu para 69,8% em 2009 e para 77,4%, em 2013.

Já a POF 2017-2018 mostra que essa prevalência caiu para 63,3%, ficando abaixo do patamar encontrado pela PNAD em 2004. A insegurança alimentar leve teve aumento de 33,3% frente a 2004 e 62,2% em relação a 2013. A insegurança alimentar moderada aumentou 76,1% em relação a 2013 e a insegurança alimentar grave, 43,7%.

Segundo o gerente da Pesquisa de Orçamentos Familiares, André Martins, o aumento da insegurança alimentar está relacionado, entre outros motivos, à desaceleração da atividade econômica nos anos de 2017 e 2018.

Menos da metade dos domicílios do Norte (43%) e Nordeste (49,7%) tinham segurança alimentar, isto é, acesso pleno e regular aos alimentos. Os percentuais eram melhores no Centro-Oeste (64,8%), Sudeste (68,8%) e Sul (79,3%). A prevalência de insegurança alimentar grave do Norte (10,2%) era cerca de cinco vezes maior que a do Sul (2,2%).

A rede geral de esgotos está presente em menos da metade dos domicílios em insegurança moderada (47,8%) e grave (43,4%). Em ambos os casos, a existência de fossa não ligada à rede é bastante relevante (43%).

O uso de lenha ou carvão na preparação dos alimentos foi mais frequente nos domicílios com insegurança alimentar moderada (30%) e grave (33,4%). Já o uso de energia elétrica foi mais frequente (60,9%) nos lares em segurança alimentar e menos (33,5%) nos lares com insegurança alimentar grave.

A POF pediu a avaliação subjetiva (bom, satisfatório ou ruim) dos moradores sobre seus padrões de alimentação, moradia, saúde e educação. Quase a metade (49,7%) das famílias com insegurança alimentar grave classificaram como ruim o seu padrão de saúde, enquanto quase dois quintos (33,9%) dessas famílias avaliaram como ruim o seu padrão de alimentação.

Mais da metade dos pernambucanos vive em domicílios com insegurança alimentar, ou seja, sem acesso a alimentos em quantidade e qualidade adequadas, é o que mostram os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018 divulgados nesta quinta-feira (17) pelo IBGE. O levantamento também aponta que 661 mil pernambucanos, ou seja, 7% da população mora em residências com insegurança alimentar grave, que leva à fome.

O percentual de domicílios em Pernambuco que se encontravam em algum grau de insegurança alimentar quase dobrou em cinco anos, passando de 25,9% em 2013 para 48,3% em 2017-2018. Nessas residências, moravam 4,8 milhões de pessoas, ou seja, 52% da população do estado.

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A pesquisa utiliza a classificação da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), considerando o período de referência dos três últimos meses anteriores à data da entrevista. São domicílios considerados em condição de segurança alimentar aqueles em que os moradores têm acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais.

Entre 2017 e 2018, 1,4 milhão de lares em Pernambuco tinha algum grau de insegurança alimentar. Das pessoas que viviam em lares com restrições no acesso à comida, 2,9 milhões (30,8% do total da população) habitavam locais com insegurança leve, 1,3 milhão de pessoas (14,2%) moravam em domicílios com insegurança alimentar moderada e 661 mil pessoas (7%) residiam em lares com insegurança alimentar grave. Com isso, houve um aumento de 156% no número de pessoas com insegurança alimentar moderada ou grave entre 2013 e o período 2017-2018, passando de 777 mil para 1,9 milhão de pessoas em Pernambuco. Este também é o pior desempenho do estado desde 2004, quando apenas 43% dos domicílios tinham segurança alimentar.

Os lares com insegurança alimentar leve são aqueles com alguma preocupação com a quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis, tendo incerteza quanto ao acesso no futuro. Nas casas com insegurança alimentar moderada, os moradores conviveram com restrição quantitativa de alimento entre adultos. Já nos domícilios com insegurança alimentar grave, além dos membros adultos, as crianças também passavam pela privação de alimentos, levando à fome.

A pesquisa registrou, no período 2017-2018, pouco mais de 3 milhões de domicílios particulares no estado. Destes, 1.5 milhão (51,7%) estava em situação de segurança alimentar. Nesses lares, moravam aproximadamente 4,5 milhões de pessoas. A comparação com 2013, a última vez em que o tema foi investigado pelo IBGE, na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), aponta o salto no contingente de pernambucanos que passaram a se preocupar em conseguir comida. Naquele ano, eram 74,1% dos domicílios - nos quais viviam 6,5 milhões de pessoas - em situação de segurança alimentar. Isso significa que, em meia década, cerca de 2 milhões de pernambucanos passaram a ter algum tipo de restrição no acesso à alimentação.

A piora nos índices de segurança alimentar não é exclusiva de Pernambuco. Na região Nordeste, 50,3% dos lares estavam em situação de insegurança alimentar em 2017-2018, contra 46,1% em 2009 e 38,1% em 2013. A mesma tendência ocorreu em quase todos os estados brasileiros, exceto no Piauí, única localidade onde a proporção de domicílios com insegurança alimentar diminuiu entre 2013 e 2017-2018. Com esse desempenho negativo, a porcentagem de domicílios brasileiros que tinham algum grau de insegurança alimentar também cresceu, chegando a 36,9% das residências, pior número desde o início da pesquisa, em 2004.

Nos primeiros resultados da POF 2017-2018, divulgados em outubro do ano passado, a alimentação respondia por 21,71% das despesas com consumo das famílias pernambucanas. Entre 2008 e 2009 esse índice era de 24,08% e 27,22% em 2002-2003. Isso significa que outras despesas passaram a consumir uma fatia maior da renda das famílias, reduzindo o percentual destinado a alimentação.

O ex-terrorista italiano Cesare Battisti, de 65 anos, iniciou uma greve de fome na cadeia para protestar contra o regime de isolamento diurno ao qual está submetido desde o início de 2019.

Condenado por quatro homicídios cometidos na década de 1970, Battisti cumpre pena de prisão perpétua em uma penitenciária na ilha da Sardenha desde que foi entregue pela Bolívia às autoridades italianas, em janeiro do ano passado.

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"Tendo exaurido todos os meios para fazer valerem os meus direitos, me encontro obrigado a recorrer à greve de fome total e à rejeição de tratamentos", afirma o ex-terrorista confesso em uma carta divulgada por seu advogado, Davide Steccanella.

A defesa de Battisti alega que o isolamento diurno estava previsto para durar apenas de seis meses. Desde que voltou à cadeia depois de cerca de 40 anos de fuga, o italiano já entrou na Justiça para tentar diminuir sua pena, pediu prisão domiciliar por causa da pandemia do novo coronavírus e reclamou da comida no cárcere.

Em sua carta, Battisti diz que todas as suas solicitações foram sempre "obstinadamente negadas". "A Cesare Battisti, não é sequer permitido se surpreender se, no seu caso, algumas leis forem suspensas. É o que me foi passado, sem meios-termos, por diferentes autoridades", acrescenta o ex-terrorista.

Além do "isolamento forçado", o italiano também reclama de "atendimento médico insuficiente" e da "retenção arbitrária de textos literários". Battisti cobra sua transferência para um centro de detenção que "facilite suas relações com a família" e as "conexões profissionais voltadas à sua reinserção" na sociedade.

"Peço também que seja revista minha classificação no regime de alta segurança para terroristas, já que não existem mais as condições de risco que a justifiquem", conclui.

Já o advogado Steccanella afirma, em um pedido enviado recentemente às autoridades penitenciárias, que os "mínimos direitos humanos do detento" devem ser garantidos "até para Cesare Battisti", para que a "legítima execução de uma pena não assuma os contornos de um vingativo sepultamento tardio de um indivíduo 40 anos após os fatos cometidos".

A defesa alega que a atual condição do ex-terrorista impede a visita de seu filho brasileiro de quase seis anos de idade.

Battisti pertencia ao grupo terrorista Proletários Armados pelo Comunismo (PAC) e foi condenado por quatro assassinatos cometidos na década de 1970.

Após ter passado quase 40 anos foragido e alegando inocência, Battisti admitiu, em março de 2019, ter sido o autor material de dois homicídios e seu envolvimento nos outros dois.

Os crimes

A primeira vítima de Battisti foi Antonio Santoro, um marechal da polícia penitenciária de 52 anos. Ele vivia uma vida tranquila com a mulher e três filhos em Údine, mas, em 6 de junho de 1978, foi morto pelo PAC, acusado pelos terroristas de "perseguir presos políticos".

Segundo os investigadores, os assassinos o esperaram na saída da prisão e o balearam. A Justiça diz que Battisti e uma cúmplice foram os autores dos disparos, e os dois teriam trocado falsas carícias até o momento do atentado.

Em 16 de fevereiro de 1979, o PAC fez uma ação dupla, assassinando o joalheiro Pierluigi Torregiani, em Milão, e o açougueiro Lino Sabbadin, em Veneza. Tanto Torregiani quanto Sabbadin haviam matado ladrões a tiros em tentativas de roubo, e os atentados teriam sido uma vingança.

No primeiro caso, Battisti diz ter participado do planejamento, mas que não estava presente no momento do crime; já no segundo, ele afirma ter feito a cobertura dos assassinos. O açougueiro também era militante do partido neofascista Movimento Social Italiano (MSI).

A quarta vítima foi o policial Andrea Campagna, morto por Battisti a sangue frio em 19 de abril de 1979, em Milão. Em sua confissão, o italiano afirmou que acreditava lutar uma "guerra justa" e que mais tarde reconheceria a "loucura dos Anos de Chumbo". 

Da Ansa

Tradicionalmente consumidos como um lanche, eles foram transformados pela pandemia do coronavírus em um prato de resistência: os ratos se tornaram um ingrediente essencial na alimentação da população mais pobre do Malauí, ameaçada pela fome.

Ao longo dos 320 quilômetros de estrada que separam Blantyre e Lilongwe, as duas maiores cidades do país, dezenas de vendedores oferecem aos viajantes espetos de carne do roedor.

No meio do caminho, no distrito de Ntcheu (centro), Bernard Simeon virou um dos "chefs" informais. "Caçamos os ratos para viver. Nós usamos como complemento da dieta diária e vendemos aos viajantes para complementar a renda", explica o agricultor.

"Já era difícil antes do coronavírus, agora se tornou muito mais difícil", desabafa. Localizado na África austral, Malauí é considerado um dos países mais pobres do planeta. Mais da metade dos quase 18 milhões de habitantes sobrevivem abaixo da linha de pobreza.

Como no restante do continente, as medidas de saúde adotadas para frear a propagação de covid-19 - mais de 5.400 casos e quase 170 mortos no balanço oficial mais recente - afetaram a economia, amplamente informal e rural, e a população.

O Banco Mundial projeta uma queda de 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2020. Uma federação industrial local (ECAM) registrou a perda de 1.500 empregos por dia, em média, e calculou que o número acumulado pode alcançar 680.000 até o fim do ano.

O governo do ex-presidente Peter Mutharika, que perdeu a eleição de maio, havia prometido um programa de ajuda urgente aos mais pobres que nunca foi adotado. O sucessor, Lazarus Chakwera, ainda trabalha no próprio plano de subsídios.

A crise de saúde e econômica aumentou a insegurança alimentar de vários malauianos, obrigados a adotarem medidas alternativas para saciar a fome.

- Assado em espetos -

"Normalmente, contamos com meu marido e seu trabalho", afirma a esposa de Bernard Simeon, Yankho Chalera. "Mas quando os tempos são duros, temos os ratos porque não conseguimos comprar carne".

Assados no espeto e salgados, os ratos são tradicionalmente consumidos entre as refeições em localidades do centro do país.

"Quando era criança, nos ensinavam a caçar ratos a partir dos três anos", recorda o ex-deputado e músico de sucesso Lucius Banda. "No vilarejo, esta atividade não é considerada una obrigação, e sim um entretenimento, tanto para meninos como meninas", contou.

A variedade mais popular na região é cinza, de cauda curta, e conhecida entre os amantes da gastronomia pelo nome "kapuku".

"Continuo comendo (ratos), mais como recordação da infância do que outra coisa", explica Luciius Banda.

As autoridades de saúde recomendaram há alguns meses o consumo de rato, uma alternativa à carne que se tornou inacessível. "É uma fonte valiosa de proteínas", alega Sylvester Kathumba, nutricionista chefe do Ministério da Saúde.

E, como a epidemia afeta em especial "pessoas com baixa resistência imunológica, recomendamos uma dieta rica", explica o diretor de alimentação da secretaria de Saúde do distrito de Balaka, Francis Nthalika.

O interesse renovado nos pequenos roedores, que são alimentados com sementes, frutas ou ervas, provoca preocupação entre os defensores do meio ambiente, devido aos métodos utilizados na caça.

Para retirar os ratos de suas tocas, os caçadores costumam queimar a mata. "Ao fazer isso, os caçadores destroem o ecossistema", lamenta Duncan Maphwesesa, diretor da ONG Azitona Development Services, no distrito de Balaka.

"Entendemos que as pessoas pobres precisam viver", mas "não percebem que provocam um impacto no meio ambiente e que, assim, participam no aquecimento global", conclui.

Os meses da pandemia multiplicaram as iniciativas para aliviar um drama que o Chile acreditava ter erradicado: a fome. As 'panelas comuns' (movimento voluntário para combater a fome) se multiplicaram nos bairros mais pobres e vários restaurantes, alguns gourmet, acionaram suas cozinhas para que ninguém durma sem comer.

Em Lo Hermida, uma das localidades mais combativas de Santiago, nove mulheres se uniram para criar "Las Guerreras", uma panela comum que entrega 175 almoços todos os dias aos vizinhos que lutam contra a fome, mas também contra o coronavírus que atingiu duramente a este setor da comuna de Peñalolén, no leste de Santiago.

“Nunca pensei que seria tão necessário aqui”, disse Ruth Lagos à AFP, surpresa com as deficiências que a pandemia expôs neste bairro de classe baixa onde moram famílias sustentadas com empregos precários, gravemente afetados pela pandemia e a quem os auxílios estatais não chegaram ou demoraram demais.

Primeiro, elas começaram a reunir ingredientes e depois montaram uma cozinha no quintal de uma casa de Lo Hermida.

A população local se formou a partir de uma ocupação de terras e é considerada uma das mais emblemáticas na luta contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). Também foi muito ativa nas mobilizações de outubro de 2019.

Embora não tivessem muita experiência na cozinha, as voluntárias recorreram ao que vivenciaram neste mesmo local nos anos 1980, quando a aguda crise econômica levou à multiplicação das panelas comuns no Chile, em um drama que parecia ter ficado no passado.

“Lutamos para não passar por isso. Lutamos por um Chile melhor e fica pior a cada dia”, diz Ruth, que aos 48 anos lembra de ter “descascado batatas” quando criança com os pais no panela comum criada em Lo Hermida na época.

Junto com "Las Guerreras" há outras três panelas comuns, e em toda Peñalolén cerca de 80, formadas no calor da solidariedade e com a ajuda de vizinhos e amigos.

Dados de fundações e organizações comunitárias estimam pelo menos 400 cozinhas populares que surgiram em Santiago, onde vivem mais de 7 milhões de habitantes, e em muitos casos servem a única refeição diária para as famílias.

“Sobrevivemos graças à panela comum”, admite Paola, ao receber de “Las Guerreras” um prato de arroz com frango com mostarda. Desempregada há cinco meses, até agora não recebeu nenhum auxílio estatal.

Comida para todos e para a alma

Mas, além das panelas comuns, vários restaurantes, alguns deles com comida gourmet, reativaram suas cozinhas para preparar refeições e distribuí-las entre famílias pobres.

O sistema também permite atender restaurantes que ficaram fechados por meses por conta de restrições sanitárias, pequenos fornecedores e transportadores escolares que a pandemia deixou sem apoio após o fechamento de escolas.

“Eles nos ajudam muito, ajudam muita gente porque uma rede se forma ”, disse à AFP a renomada chef Carolina Bazán, dona do restaurante Ambrosía Bistró, eleita no ano passado como a melhor chef latino-americana entre os 50 melhores restaurantes da América Latina.

Carolina manteve seu restaurante fechado por dois meses, mas depois decidiu reabri-lo com entrega em domicílio, e também aderiu à iniciativa “Comida para Todos”, que hoje reúne 14 restaurantes que entregam cerca de 6.000 almoços por semana.

Junto com dois ajudantes, Carolina prepara 450 pratos de comida por semana que são entregues às famílias no centro de Santiago. Para fazer isso, ele teve que abrir mão das preparações elaboradas de seu restaurante em estilo francês para se concentrar na comida mais simples.

“A ideia é que seja comida caseira, mas o mais importante é que seja comida deliciosa, que preencha a alma e que seja nutritiva”, acrescenta a chef de 39 anos e mãe de dois filhos.

A iniciativa “Comida para Todos” é financiada por meio de doações, que pagam pelos ingredientes, os funcionários dos restaurantes e transportadoras que fazem as entregas.

“Quando começamos (segunda semana de maio) havia três refeitórios populares ou panelas comuns; depois de duas semanas eram 25 e em um mês eram 78, isso é a escalada da fome no Chile”, diz Ana Rivero, da equipe de comunicação desta iniciativa que atende também as cidades de Santiago, Antofagasta (norte), Valparaíso e Viña del Mar (centro).

Quase uma em cada nove pessoas sofreu de desnutrição crônica em 2019, uma proporção que deve se agravar com a pandemia de Covid-19 - aponta um relatório anual da ONU divulgado nesta segunda-feira (13).

De acordo com as últimas estimativas, no ano passado, a fome afetava quase 690 milhões de pessoas, ou seja, 8,9% da população mundial, relata o documento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), redigido com a colaboração do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), o Programa Mundial de Alimentos e a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Isso representa 10 milhões de pessoas a mais que em 2018 e 60 milhões a mais que em 2014.

"Se a tendência continuar, estimamos que, até 2030, esse número excederá 840 milhões de pessoas. Isso significa claramente que o objetivo (erradicar a fome até 2030, estabelecido pela ONU em 2015) não está no caminho certo", declarou à AFP Thibault Meilland, analista de políticas da FAO.

E isso sem contar o choque econômico e de saúde provocado pela pandemia de COVID-19, que causou perda de renda, aumento dos preços dos alimentos, interrupção das cadeias de suprimentos, etc.

Segundo o relatório, é provável que a recessão global causada pelo novo coronavírus leve à fome entre 83 e 132 milhões de pessoas a mais.

"Ainda são hipóteses relativamente conservadoras, a situação está evoluindo", observa Meilland.

A estimativa de subnutrição no mundo é muito menor do que nas edições anteriores: o relatório do ano passado mencionou mais de 820 milhões de pessoas com fome. Mas os números não podem ser comparados: a integração de dados recentemente acessíveis - em particular de pesquisas realizadas pela China em residências no país - levou à revisão de todas as estimativas desde 2000.

"Isso não é uma queda (no número de pessoas que sofrem de desnutrição), é uma revisão. Tudo foi recalculado com base nesses novos números", insiste Meilland.

"Como a China representa um quinto da população mundial, esta atualização tem consequências importantes para os números globais", aponta o analista da FAO.

"Mesmo que o número global seja inferior, a constatação de um aumento da desnutrição desde 2014 se confirma", acrescenta.

- Custo da má alimentação -

Entre os pontos de melhoria, a prevalência de atraso de crescimento entre crianças de cinco anos caiu um terço entre 2000 e 2019, com cerca de 21% das crianças afetadas em todo o mundo. Mais de 90% delas vivem na Ásia ou na África.

Além da desnutrição, o relatório aponta que um número crescente de pessoas "teve que reduzir a quantidade e a qualidade dos alimentos que consome".

Assim, dois bilhões de pessoas sofrem de "insegurança alimentar", ou seja, não têm acesso regular a alimentos nutritivos em qualidade e quantidade suficientes, indica.

São ainda mais numerosos (3 bilhões) aqueles que não têm meios para manter uma dieta considerada equilibrada, com, em particular, ingestão suficiente de frutas e legumes.

"Em média, uma dieta saudável custa cinco vezes mais do que uma dieta que só atende às necessidades de energia com alimentos ricos em amido", diz Meilland.

Desta forma, a obesidade está aumentando tanto em adultos quanto em crianças.

As agências especializadas da ONU estimam que, se os padrões de consumo de alimentos não mudarem, seu impacto nos custos diretos de assistência médica e na perda de produtividade econômica deve atingir 1,3 trilhão de dólares por ano até 2030.

O atacante Tiago Chulapa procurava ser sempre o primeiro a chegar ao vestiário do Al Arabi, dos Emirados Árabes Unidos, antes dos treinos em 2014. O jogador não via a hora do funcionário do clube preparar as frutas servidas como aperitivo ao elenco porque as bananas e maçãs colocadas na bandeja eram as únicas garantias de que conseguiria comer no dia. Mesmo em um ambiente tão rico quanto o futebol, muitos brasileiros, todos os anos, enfrentam experiências como a de Tiago ao se aventurarem no exterior e terem de lidar com abandono dos clubes, promessas não cumpridas, falta de estrutura e até fome.

Segundo dados do registro de transferências da CBF, uma média de 600 jogadores brasileiros se transferem por ano ao exterior. Os destinos preferidos são geralmente Portugal, Arábia Saudita, Japão, Malta e Ucrânia, por vezes em divisões inferiores e com realidades financeiras distantes de salários altos e boas condições de trabalho. Um estudo feito em 2016 pelo sindicato mundial dos atletas, o FIFPro, revela que 21% dos jogadores profissionais do mundo ganha menos de R$ 1,5 mil por mês e 41% convive com rotineiros atrasos salariais.

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Esses problemas se tornam ainda mais complicados quando se trata de um jogador brasileiro no exterior. Muitos mudam de país sozinhos, sem o conhecimento básico de outro idioma e longe de terem informações sobre o futuro clube. Um estudo divulgado em maio mostra o quanto a mão de obra nacional é a mais valorizada (e talvez uma das mais baratas) do mundo do futebol. Segundo um trabalho do Centro Internacional de Estudos do Futebol, na Suíça, o Brasil é a nação com mais jogadores em atividade fora do próprio país. Eram mais de 1,5 mil em 2019.

Por isso, jogadores como Tiago Chulapa por vezes precisam encarar muitos obstáculos fora do esporte. "Infelizmente é comum a gente passar dificuldade por confiar na pessoa errada. Eu fui para os Emirados Árabes pensando que seria contratado, mas na verdade eu fui enganado e estava só passando por testes. Não me deram nenhum papel para assinar", disse o jogador, que atualmente está no Nongbua Pitchaya, da Tailândia.

O atacante brasileiro passou um mês morando no Al Arabi. A equipe estava em crise financeira e em alguns dias não conseguia nem servir as refeições regulares ao jogador. "Tinha vezes que eu passava mal nos treinos, porque não tinha comido. Eu procurava dormir o máximo de tempo possível para não sentir fome", contou. A situação só melhorou depois que Tiago tentou a sorte no país vizinho, Omã, para onde foi se arriscar em um teste. Conseguiu passar e foi contratado.

Ao deixar o São Paulo no fim de 2015, o zagueiro Edson Silva aguentou ficar só cinco meses no Estrela Vermelha, da Sérvia. A dificuldade com o idioma, o atraso salarial e a falta de apoio à adaptação pesaram muito. "O clube estava em crise e não conseguia me pagar. Ainda bem que eu tinha guardado um dinheiro. Se não fosse isso, teria sido pior. Eu sofri também porque minha mulher estava grávida de oito meses e o clube prometeu me ajudar com isso e não cumpriu. Não conseguimos arrumar um médico adequado para que ela se sentisse à vontade", comentou o defensor, atualmente no Novorizontino.

Edson Silva conseguiu voltar ao Brasil e retomar a carreira com a certeza de que para jogar no exterior não vale só ficar atento ao dinheiro previsto no contrato. É preciso também observar se a estrutura para a família, acomodação e até a presença de um tradutor serão contemplados. "Quando o jogador vai para o exterior, precisa estar amparado para que ele só se preocupe com o futebol. Se não, você não vai se adaptar nem vai render", disse.

A falta de amparo do time fez o atacante Renan deixar o Wisla Krakow, da Polônia, sem nem avisar a diretoria. Após se transferir para lá em 2013 pela insistência do empresário, ficou só 40 dias. Hoje em dia no Santo André, ele disse ter sido vítima de xenofobia pelos colegas e sofrido com a falta de auxílio para se adaptar. O único que lhe ajudava era um colega hondurenho de time. "Eu fui buscar meu espaço, mas a realidade é bem diferente de quem tem contrato milionário. Eu deveria ter pesquisado mais, só que fui sem saber nada, sem referência", contou.

AUXÍLIO DOS COMPATRIOTAS - O meia Felipe Wallace encarou um revés no novo clube em plena pandemia do novo coronavírus. O jogador chegou ao Trang, da terceira divisão tailandesa, e logo depois teve o contrato rescindido. Sem poder voltar ao Brasil nem ter dinheiro para buscar um abrigo, ele teve as diárias em um hotel bancadas pelo clube. "Eles me pagaram 50% do salário até maio. Mas eu estava ficando sem condições. Eu almoçava, mas não tinha dinheiro para jantar. Me sentia como em um deserto", contou.

A situação dele só melhorou porque pelas redes sociais, conheceu outros jogadores brasileiros que jogam na Tailândia e que lhe ofereceram moradia e ainda o auxiliavam com alimentação. Agora, ele já negocia com outras equipes para disputar a próxima temporada da liga local.

Até o fim de 2020, o número de mortes relacionadas à fome no mundo chegará a 37 mil por dia. A previsão consta no relatório da ONG Oxfam, divulgado na quarta-feira (8), com base em dados da ONU. Em 2019, as mortes diárias em razão da crise alimentar chegaram a 25 mil, mas os efeitos da pandemia devem ampliar em 12 mil o total neste ano - alta de 48%.

O estudo identifica que os casos mais graves se concentram em nove países e uma região onde vivem 65% da população global em situação de crise alimentar. A maior parte está em áreas de conflito, na África e no Oriente Médio, mas países como Brasil, Índia e África do Sul também terão de lidar com aumento da fome. "Veremos um aumento das pessoas passando fome no Brasil e precisamos tomar as medidas necessárias. Agora e depois da pandemia", afirmou Maitê Guato, gerente de programas da Oxfam Brasil.

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De acordo com ela, programas como o auxílio emergencial enfrentam dificuldades para atingir todos os necessitados e milhares de cidadãos não têm celular, acesso à internet ou e-mail para se cadastrar e receber o recurso. "Os impactos sociais e econômicos vão perdurar por um tempo mais longo que a pandemia. Se suspendermos esses auxílios, tanto o emergencial quanto o apoio para manutenção de emprego e renda, empurraremos milhões de pessoas para a extrema pobreza e a fome", disse.

Para o Brasil, que deixou o Mapa da Fome em 2014, a Oxfam faz um alerta. José Graziano, ex-diretor da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), sustenta que a fome no Brasil é um problema de acesso. "Produzimos e exportamos em grande quantidade. A questão é como fazer o alimento chegar às pessoas", afirma.

Na visão dele, o País vem desmontando as políticas públicas de redução da insegurança alimentar, citando a extinção do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) como exemplo.

Graziano, ministro petista entre 2003 e 2004, diz ainda que há a necessidade de cooperação entre os setores privado, público e a sociedade civil para chegar a resultados melhores. "Não são os governos que acabam com a fome, são as sociedades. O governo sozinho pode fazer pouco sem o setor privado, que é fundamental no equacionamento de um sistema alimentar mais justo", afirma.

Em seu relatório, a Oxfam cita seis ações necessárias para reduzir a insegurança alimentar no mundo, que em 2019 afetou a vida de 821 milhões de pessoas - quatro vezes a população do Brasil. Com a pandemia, mais 122 milhões podem entrar na estatística, chegando a mais de 900 milhões de indivíduos em situação de extrema vulnerabilidade.

Uma das medidas propostas é financiar o envio de ajuda humanitária da ONU, considerada fundamental para garantir a vida e a subsistência de milhões em países pobres. Em um contexto de recrudescimento do nacionalismo, a Oxfam considera as ações multilaterais coordenadas.

Um segundo ponto é o fortalecimento de sistemas alimentares, deixando-os mais sustentáveis e menos suscetíveis a interrupções, como fechamento de fronteiras. "Vivemos em um mundo que produz mais alimentos do que seria necessário e ainda assim temos índices altíssimos de fome", afirmou o economista Walter Belik, professor da Unicamp, especializado em segurança alimentar e um dos criadores do Programa Fome Zero no Brasil.

Neste ano, o FMI prevê queda de 4,9% na economia global, o que acabaria com 300 milhões de empregos em tempo integral e dificultaria o acesso à renda para outros 2 bilhões de trabalhadores informais em todo o mundo. "A pessoa perde trabalho, renda e não tem como ter acessar a comida", diz Belik.

Segundo o economista, os países deveriam elevar a produção local de alimentos e deixar de depender tanto de exportações. "Seria muito mais viável e saudável produzir localmente, ter circuitos curtos e depender menos de fluxos internacionais. Uma paralisação como essa fez cargueiros ficarem parados em portos e criou crises de abastecimento sérias em muitos países", afirma Belik, que defende também a criação de estoques estratégicos para que países evitem o desabastecimento.

Em junho, a ONU estimou que a pandemia jogaria mais 49 milhões de pessoas na pobreza extrema. "O número de pessoas expostas a uma grave insegurança alimentar vai crescer rapidamente. A queda de um ponto porcentual no PIB global significa mais 700 mil crianças desnutridas", disse António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas.

Os países em desenvolvimento são particularmente afetados pelo confinamento em razão da dependência que têm da economia informal. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), 1,6 bilhão dos 2 bilhões de trabalhadores informais serão afetados pelas restrição de movimento, a maioria em países da América Latina, Ásia e África.

 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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