Líder religioso da Assembleia de Deus, o candidato à Presidência da República pelo PSC, Pastor Everaldo, lançou sua candidatura com a proposta de defender os valores cristãos e a família. Na economia, ele é a favor de austeridade fiscal, livre concorrência e redução da presença do Estado. Segundo o presidenciável, caso eleito, seu governo vai frear a expansão monetária e cortar gastos para conter a inflação. Ele também é favorável à redução da carga tributária.
Confira trechos da entrevista concedida à Agência Brasil:
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Agência Brasil: As estimativas de inflação oficial pelo IPCA para o próximo ano estão em torno de 6,2%, próximo do teto da meta. Como pretende atuar para conter o aumento de preços?
Pastor Everaldo: Atacando as duas principais causas da inflação: a desenfreada expansão monetária, promovida pelo atual governo, e a falta de austeridade fiscal. No nosso governo não gastaremos mais do que arrecadamos e conduziremos uma exemplar e responsável gestão pública, cortando gastos desnecessários e focando nossos esforços em serviços públicos essenciais.
Agência Brasil: Apesar de todo o seu potencial energético, o Brasil continua com uma tarifa alta. O que fazer para evitar mais aumentos?
Pastor Everaldo: Uma real abertura do mercado de energia e garantia de direitos de propriedade para os novos investidores, sem nenhum tipo de preconceito contra qualquer matriz energética, buscando sempre garantir o respeito ao meio ambiente. Vamos investir em aumentar a pluralidade de matrizes energéticas para barateamento da energia, com esforço nos setores de energia solar, hidrelétrica, eólica, nuclear, fóssil e biomassa.
Agência Brasil: Quais os planos do seu governo para resolver gargalos de infraestrutura?
Pastor Everaldo: Historicamente, o modo de produção da infraestrutura no Brasil foi estatal, ou seja, feito pelo Estado por meio do recolhimento de impostos. Esse arranjo é extremamente maléfico para a sociedade porque funciona com base em péssimos incentivos econômicos. A partir da década de 90, foi aplicado o modelo da concessão pública ao setor privado, que se mostrou superior por trazer elementos de mercado, mas em longo prazo o empresário perde o interesse em investir, pois precisa devolver o bem que explora, recorrendo então ao BNDES [Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social]. Cria-se um incentivo para que o empresário invista o mínimo e explore ao máximo o bem em questão. Vamos mudar essa lógica. O projeto do PSC para a infraestrutura é a abertura do mercado para livre concorrência sem concessão, com desestatização do setor. Todo e qualquer agente econômico disposto a investir em energia, telecomunicações, saneamento básico, estradas, hidrovias, ferrovias, portos, aeroportos e demais serviços de infraestrutura estará livre para fazê-lo, em livre concorrência, sendo dono do seu negócio para investimento e lucratividade em longo prazo e com menos dinheiro público.
Agência Brasil: O debate sobre a reforma política se arrasta há anos e, recentemente, houve a aprovação de um texto que ficou conhecido como minirreforma. Pontos como o voto facultativo, a reeleição e o financiamento de campanha não foram aprofundados devido ao impasse em torno dessas questões. Qual é a sua posição sobre cada um desses pontos e como o chefe do Executivo pode contribuir para que essa discussão efetivamente avance, respeitando a prerrogativa de independência entre os Poderes?
Pastor Everaldo: O PSC, por meio do deputado Filipe Pereira, apresentou a PEC [Proposta de Emenda à Constituição] 159/2012, que defende a adoção de voto facultativo no país. O candidato a vice-presidente na nossa chapa, Leonardo Gadelha, sempre foi um dos mais atuantes deputados em defesa do fim da reeleição. Somos contra o financiamento público de campanha, pois além de não combater o caixa 2, retira dinheiro de serviços públicos essenciais para sustentar políticos, e isso não está certo. Temos que buscar fórmulas que reduzam os gastos de campanha com financiamento transparente e desburocratização da legislação aplicada, que também aumenta os custos, mas com financiamento privado e voluntário de quem pretende mudar o país investindo em ideias.
Agência Brasil: O Brasil é apontado como um dos países com a maior carga tributária do mundo. No Congresso, tramita uma proposta de reforma tributária que pouco tem avançado. Quais os planos do seu governo para equacionar essa questão e minimizar o desgaste político que isso pode gerar?
Pastor Everaldo: Nossos planos imediatos incluem a isenção no Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil por mês, além de cortarmos as contribuições sociais, que vão apenas pro caixa do governo federal, na proporção de um vinte avos por ano, ao longo de 20 anos. Pretendemos também simplificar cada vez mais a legislação tributária. Não dá mais para o país impor um fardo tão grande ao setor produtivo. Vamos acabar com a tributação sobre produtos e serviços ligados a saúde e educação. Se ambos são direitos fundamentais, por que o Estado tributa esses setores? Isso simplesmente não faz sentido. Para compensar a perda dessas receitas, vamos reduzir o subsídio desenfreado patrocinado pelo governo a diversos setores econômicos que podem se sustentar sozinhos.
Agência Brasil: O Plano Nacional de Educação (PNE) é considerado uma grande conquista para o setor. Como pretende, em quatro anos, avançar nas pautas indicadas na lei? Como pretende resolver a questão do financiamento?
Pastor Everaldo: A questão do financiamento já está resolvida. A sociedade brasileira está envelhecendo e teremos proporcionalmente cada vez menos crianças entrando no sistema educacional, ao passo que os recursos aumentarão cada vez mais em virtude dos royalties do pré-sal. O desafio agora está na melhoria da gestão, não no financiamento. Para isso, propomos a inserção de mecanismos típicos de eficiência dentro do sistema público, como meritocracia e o plano de metas, premiando as melhores escolas e servidores, com foco nas matérias citadas; no estimulo à municipalização das decisões educacionais, com especial estímulo à participação de pais e mestres na elaboração do plano educacional da criança; investimento em processos educacionais de longa distância e informatizados para reduzir o custo do ensino em todo o país; entre outras ações.
Agência Brasil: A Constituição Federal de 1988 estabeleceu um prazo de cinco anos para que todas as terras indígenas fossem identificadas e demarcadas. Passados 21 anos do fim desse prazo, pouco mais de 44% foram homologados. A falta de definição sobre essas áreas acaba sendo uma das principais causas do aumento de conflitos e da violência no campo. Como o senhor pretende resolver a questão da demarcação de terras indígenas?
Pastor Everaldo: Discordamos da tese de que a falta da demarcação de terras indígenas é uma das principais causas do aumento de conflitos no campo. De acordo com o IBGE, 12% de todo o território nacional já estão demarcados e reservados para apenas 0,005 milhão de índios que moram no campo, enquanto 200 milhões dos demais brasileiros vivem nos 88% restantes, mostrando claramente uma desproporção em favor dos índios. O que causa violência no campo é a falta de autoridade do Estado em manter a ordem pública e o direito de propriedade no campo, seja em favor de brasileiros índios ou não índios. Vamos reestabelecer essa ordem.
Agência Brasil: É possível tornar o passe livre uma realidade? Como? Como o governo federal pode atuar para garantir melhorias na mobilidade urbana nos grandes centros?
Pastor Everaldo: Essa reivindicação não é um bom projeto de política pública. Criar um sistema totalmente subsidiado pelo Estado vai gerar superutilização do transporte, aumento dos custos e consequente aumento da tributação e uma maior corrupção entre agentes públicos e empresários do setor. Precisamos, em vez disso, expandir o livre mercado no setor, aumentando a concorrência e acabando com o oligopólio hoje existente nas grandes e médias cidades. É a concorrência que vai diminuir os custos do setor, sem necessidade de aporte de recursos públicos, que devem ser aplicados em setores como educação, saúde e segurança.
Agência Brasil: Como garantir a manutenção de um sistema de saúde público, universal e gratuito e enfrentar esses gargalos? Como suprir a falta de médicos nas regiões mais isoladas?
Pastor Everaldo: Devemos sempre lembrar que a falta de médico se dá em virtude de uma política implementada pelo governo impedindo a criação de cursos de medicina. Chegaram a tentar aprovar uma proposta impedindo a criação de vagas de medicina por dez anos, o Projeto de Lei 65/2003. Portanto, o Mais Médicos acabou por se tornar uma necessidade. Planejamos manter o programa, mas sem pagar qualquer quantia para o governo cubano. Todo médico cubano que quiser permanecer terá seu salário pago integralmente para si próprio e receberá asilo político. Com isso, teremos tempo para investir na expansão das vagas de medicina tanto na rede universitária pública quanto na privada. Investiremos maciçamente na saúde pública e vamos desonerar de tributação os remédios e aparelhos médicos, além de facilitar a adesão de brasileiros a planos privados de saúde.