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Ana Flor Fernandes Rodrigues, 23, aluna do curso de pedagogia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), será a primeira travesti a se formar educadora pela instituição. Em 69 anos de funcionamento da UFPE, o exemplo de Ana Flor abre espaço para reflexões sobre discriminações e os lugares em que a comunidade LGBTQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros) está começando a ocupar no Brasil.

 Ao ser a primeira travestia a ser formada pelo Centro de Educação da UFPE (CE), a jovem recifense Ana Flor diz que este marco a faz pensar na dimensão na desigualdade ainda existente no país e que este é apenas um caminho para que outras pessoas tenham a oportunidade de chegar a esse e a outros setores da educação. "Anseio que mais travestis venham para a educação e que possamos construir estratégias de disputas e rupturas de um campo que, quase sempre, se faz minado", completa.

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Segundo a Diretoria LGBT da instituição, antes de Ana Flor, houve uma universitária travesti que cursou alguns períodos do curso de pedagogia, mas que não chegou a se formar, pois precisou se mudar para São Paulo. De acordo com Luciana Vieira, diretora da Diretoria LGBT, o impacto da conquista de Ana Flor vai muito além do curso de pedagogia. "É um marco histórico que faz abalar as estruturas retrógadas de um país violentamente homofóbico. Só de conseguir concluir um curso e ocupar lugares que historicamente foram formados por pessoas brancas e Cis, já contribui para uma sociedade mais igualitária", celebra.

A violência homofóbica a qual Luciana se refere diz respeito aos dados alarmantes que faz do país o lugar que mais mata transexuais, segundo dados da organização não governamental (ONG) austríaca Transgender Europe.

Para Ana Flor, a univesidade não é o ambiente mais seguro para a população LGBT e ela por si só não transforma vidas. "Enquanto a universidade for uma possibilidade, nós precisamos disputá-la. Desde suas estruturas, até sua forma de construir conhecimento", acredita. 

E é por meio da docência que Ana Flor vinslumbra outros projetos do mundo e também de vida. "Tenho 23 anos e espero continuar escrevendo, pesquisando, convidando mais meninas e torcendo para que elas consigam ter acesso, ingressar e permanecer no ensino superior. E não quero com isso dizer que é 'fácil', mas que é possível e que podemos", finaliza.

Silvio Santos fez questão de analisar uma foto sua exibida no programa deste domingo (30). Interagindo com a plateia, o apresentador opinou sobre uma montagem de como seria se fosse mulher. "Esse aí sou eu? Mas nesse tempo eu trabalhava de travesti. Eu não estou bem aí? Eu era travesti, trabalhava numa boate. Estava bem maquiado, não estava? Até cantava igual aquela moça que trabalha no cinema americano, agora não lembro mais", disse.

"Como é que descobriram essa foto minha? [...] Está vendo só, quando eu era travesti era mais bonito. Se aparecesse uma moça igual a essa aqui eu ia querer beliscar ela. Era um travesti legal, não era? E quando eu botava meus vestidos apertados, todo mundo vinha conversar comigo", declarou.

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Confira o vídeo:

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Desde junho de 2018, é garantida a toda população transexual e travesti do Brasil, a possibilidade de alterar o nome e o gênero em documentos oficiais, de uma forma menos burocrática. O provimento assinado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) facilitou o processo, e pretende coibir situações discriminatórias e constrangedoras no cotidiano. O LeiaJá conversou com personagens que iniciaram a mudança para certificar se, em um ano da medida, realmente houve melhoria.

Antes da mudança proposta pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o pedido devia ser ‘judicializado’ em um processo desgastante, no qual eram necessários laudo psiquiátrico e exames que comprovassem que a solicitante realizou cirurgia de mudança de sexo ou tratamento hormonal. Mirela Thalia já havia tentado dar entrada, porém, era encaminhada para diversos órgãos e nenhum resolvia a questão. Após a ação promovida pelo Centro Estadual de Combate à Homofobia do Recife, no último dia 5, conseguiu reuniu todos registros e foi encaminhada ao Fórum do Recife. Ela está mais próxima da conquista e acredita que, em menos de um mês, receberá a nova documentação.

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"É importante para que as pessoas consigam respeitar e ser reconhecidas como se enxergam. Essa retificação traz essa dignidade e esse reconhecimento social", afirmou a advogada da Secretaria Executiva de Direitos Humanos (SEDH) Natalia Kajiya. Ela explicou que o Estado entende que a população trans vive em situação de vulnerabilidade, por isso, oferece atendimento multidisciplinar com assistentes sociais, psicólogos e profissionais de saúde. Para iniciar o processo, a solicitante deve procurar a própria secretaria, a Defensoria Pública ou o cartório. Mas, a advogada recomenda ir aos órgãos públicos para receber orientações na documentação e gratuidade nas emissões.

"Nosso nome importa. Ele faz referência de quem somos", afirmou Maria Elisa   Foto: Arthur Souza/ LeiaJá Imagens arquivo 

"Ter a oportunidade de poder resolver todas as situações burocráticas pra que as pessoas entendam que o nosso nome importa, faz toda diferença na vida de uma pessoa e evita constrangimento que passamos em diversos espaços, e faz com que a gente se sinta mais realizada como pessoa", pontuou Maria Elisa, que aguarda pela alteração.

Documentos necessários

Para dar entrada no processo, é necessário reunir 17 certidões para apontadas no documento da CNJ, são elas:

I – certidão de nascimento atualizada;

II – certidão de casamento atualizada, se for o caso;

III – cópia do registro geral de identidade (RG);

IV – cópia da identificação civil nacional (ICN), se for o caso;

V – cópia do passaporte brasileiro, se for o caso;

VI – cópia do cadastro de pessoa física (CPF) no Ministério da Fazenda;

VII – cópia do título de eleitor;

IX – cópia de carteira de identidade social, se for o caso;

X – comprovante de residência;

XI – certidão do distribuidor cível do local de residência dos últimos cinco anos (estadual/federal);

XII – certidão do distribuidor criminal do local de residência dos últimos cinco anos (estadual/federal);

XIII – certidão de execução criminal do local de residência dos últimos cinco anos (estadual/federal);

XIV – certidão dos tabelionatos de protestos do local de residência dos últimos cinco anos;

XV – certidão da Justiça Eleitoral do local de residência dos últimos cinco anos;

XVI – certidão da Justiça do Trabalho do local de residência dos últimos cinco anos;

XVII – certidão da Justiça Militar, se for o caso.

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Em ação voltada para o empoderamento e garantia de direitos, a população transexual e travesti da Região Metropolitana do Recife (RMR) teve a oportunidade de mudar o nome e o gênero em documentos oficiais de forma gratuita. A intenção do evento, realizado nesta quarta-feira (5), é coibir situações cotidianas de constrangimento e a violação contra a dignidade humana.

"É um sonho. Porque, assim como eu, várias trans lutaram por muitos anos. Isso é uma conquista, para mim está sendo perfeito", declarou Mirella Thalia ao expressar a felicidade em sentir o nome social cada vez mais próximo de ser registrado.

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"O nome chega primeiro que a pessoa nos espaços. Ele carrega quem a gente é, e ter esse direito adquirido em um processo simplificado faz a vida da gente melhor. Evita que eu passe por constrangimentos", afirmou Maria Elisa. Ela também foi atendida na sede da Secretária Executiva de Direitos Humanos (SEDH), no Espinheiro, Zona Norte do Recife e conseguiu o encaminhamento facilitado para a formalização em cartório.

Mesmo com a regulamentação da mudança de nome assinada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em junho de 2018, Mirella contou que passou por dificuldades nos cartórios, que não resolveram a demanda e a encaminhava para outros estabelecimentos. Assim como toda população trans, ela passou por situações incômodas por não se sentir representada pelo antigo nome. "No dia que fui resgatar meu chip em uma loja de telefonia, me chamaram pelo 'nome normal' e todo mundo me olhou. Quando o atendente me viu, perguntou pelo titular do cartão. Foi um momento constrangedor", relembrou.

"Para um trans, ser chamado pelo nome social é uma vitória. Ele passou anos sendo chamado por um prenome que não representa ele", explicou Thomas Miguel. Desde o ano passado, a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SEDH), em parceria com a Defensoria Pública, encaminhou cerca de 200 pessoas aos cartórios. "Nosso nome é uma extensão da nossa personalidade e garantir a alteração do prenome e gênero contribui para o fim dos constrangimentos que a população trans passa. Nossa ação tem o intuito de pôr fim na LBGTfobia em Pernambuco", finalizou o secretário executivo de Direitos Humanos Diego Barbosa.

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Com o objetivo de fortalecer a garantia de direitos da população transexual e travesti, na próxima quarta-feira (5), será realizado um mutirão para mudança de nome e gênero no registro civil. A ação do Estado junto com a Defensoria Pública (DPPE), terá início das 9h às 16h, no auditório da Secretaria Executiva de Direitos Humanos (SEDH), que fica na Rua Santo Elias, número 535, localizada no bairro do Espinheiro, na Zona Norte do Recife.

Para participar do mutirão, os interessados devem apresentar as certidões originais e cópias de nascimento ou casamento atualizada, além de carteira de identidade, CPF, título de eleitor, comprovante de residência e outros. Confira a documentação necessária no fim da matéria.

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"Ter seus prenomes e gêneros retificados em seus respectivos registros civis e adequados às suas identidades autopercebidas, contribui para o fim de situações cotidianas de constrangimentos, preconceitos e violações contra a dignidade humana”, declarou o secretário executivo de Direitos Humanos Diego Barbosa. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone (81) 3182-7665 ou através do e-mail centrolgbtpe@gmail.com.

Documentos necessários para participar do mutirão:

1. Certidão de nascimento;

2. Certidão de casamento atualizada, se a pessoa for ou tiver sido casada;

3. Cópia do registro geral de identidade (RG); 

4. Cópia da identificação civil nacional (ICN), se tiver (trata-se de documento em implementação, que substituirá todos os demais documentos de identidade); 

5. Cópia do passaporte brasileiro, se tiver; 

6. Cópia do cadastro de pessoa física (CPF) no Ministério da Fazenda; 

7. Cópia do título de eleitor; 

8. Comprovante de endereço.

O corpo da travesti identificada como Sandrielly Vasconcelos, de 24 anos, foi encontrado nesse sábado (6), na estrada que dá acesso ao Balneário do Crocodilo. A vítima teve parte do corpo queimado, mão e pés amarrados e um ferimento profundo no pescoço. O caso deve ser acompanhado pela Associação de Travestis, Transexuais e Transgêneros do Estado de Roraima, para saber se foi motivado por homofobia.

A Polícia Militar foi chamada por um morador da área que disse ter saído de casa para pescar, por volta das 8h30. Segundo o G1, as informações da PM são de que Sandrielly trajava apenas roupas íntimas e havia outras roupas envolta do corpo. 

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A vítima tinha diversas perfurações a faca. O caso está sendo investigado pela Delegacia Geral de Homicídios (DGH) e nenhum suspeito de ter cometido o crime foi identificado.

Por Waleska Andrade

A primeira advogada trans do Norte e Nordeste, Robeyoncé Lima, co-deputada estadual eleita pelas Juntas, fez história na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), nesta sexta-feira (1°), ao tomar posse do cargo junto da ambulante Jô Cavalcanti; da produtora audiovisual Carol Vergolino, da estudante de Letras Joelma Carla, e da professora Kátia Cunha. Em entrevista concedida ao LeiaJá, logo após a solenidade, a deputada garantiu que não se incomodou com alguns olhares diferentes porque enfrentou preconceito a vida inteira. 

“Eu sei lidar com as críticas. Preconceito a gente já sofre a vida toda muito antes da gente entrar aqui, a gente sofria preconceito e risco de vida, inclusive. A gente provoca um incômodo, mas é um incômodo que, no final das contas, é bom porque traz para a sociedade a necessidade de mudar esses paradigmas, de mudar esses padrões”, declarou. 

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Robeyoncé expôs que muitos chegaram a duvidar da vitória. “Quem diria que teria uma advogada travesti e, agora, quem diria uma deputada travesti na Alepe. O sentimento é de alegria, de muita felicidade, mas ao mesmo tempo é uma vontade de fazer uma política nova, de fazer algo diferente, de trazer o povo para ir a um projeto político participativo, que a gente diz que é cinco, mas na verdade somos cinquenta, quinhentas, cinco mil, somos cinquenta mil pessoas em um projeto de política popular com as pessoas”. 

A parlamentar pediu por reflexão sobre essa nova forma de fazer política em Pernambuco. “No sentido de desconfigurar esta política porque, caso não, a gente vai continuar nessa mesma estatística de mais de 180 anos de historia de assembleia legislativa, mas de mil deputados em toda essa história, e menos de 50 mulheres deputadas”. 

“Será um mandato histórico. Já está sendo. Nós, cinco mulheres, co-deputadas em um espaço institucional como este de tomada de decisão já é um fato político. Nosso corpo está aqui neste plenário já é um fato histórico”, concluiu. 

O quinteto do Psol quer presidir Comissão de Cidadania, Direitos Humanos e Participação Popular da Casa. Esta é a primeira vez que a Alepe terá entre seus 49 deputados um mandato coletivo. Em outubro, na corrida por uma cadeira na Casa, elas pretendiam reproduzir no Estado uma iniciativa do PSOL que deu certo na Câmara dos Vereadores de Belo Horizonte e conquistaram êxito. Elas foram eleitas com quase 40 mil votos.  

Silvero Pereira ficou conhecido entre o grande público após interpretar Nonato, o motorista que à noite se travestia como a cantora Maria Elis, na novela A Força do Querer, em 2017. O personagem caiu no gosto do público e colocou em pauta um tema há muito trabalhado por Silvero, o universo trans dentro das artes.

O assunto tem sido seu objeto de pesquisa e trabalhodesde 2000. Foi naquele ano que o ator formou, em Fortaleza, sua cidade natal, o coletivo As Travestidas, composto por atores e atrizes transexuais, travestis e transformistas. A motivação para a criação do grupo foi a quantidade de artistas desistindo do teatro por também trabalharem travestidos na noite cearense. “As pessoas do teatro diziam que eles não faziam teatro, que eles tinham que trabalhar em boate”, diz o ator. A partir de então, as histórias com as quais se deparou, entre seus colegas de cena, deram o mote para o espetáculo BR Trans.

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A montagem leva para o palco a própria relação de Silvero com essas diversas histórias vividas sob o julgo da marginalidade, medo e preconceito, mas, sobretudo, resistência. Segundo Silvero, apesar de se ancorar no universo trans, a peça fala a toda pessoa que se sente excluída na sociedade. O espetáculo entra em cartaz no Recife, para uma curta temporada até o dia 9 de fevereiro, na Caixa Cultural, com estreia nesta quinta (31). O ator recebeu a reportagem do LeiaJá, no teatro do equipamento cultural e falou sobre a peça, televisão, liberdade e luta.

 

LJ - BR-Trans é resultado de uma longa pesquisa, mas o que especificamente te tocou e motivou a montar esse espetáculo?

Tudo que eu fiz no coletivo (As Travestidas) entre 2002 e 2012 eram questões muito intuitivas. A gente brincava de ouvir histórias e construir cenas em cima disso, mas nada era muito consciente. O BR-Trans foi minha primeira possibilidade de me afastar de Fortaleza, ir pra uma outra região, no Rio Grande do Sul, para construir um primeiro trabalho totalmente consciente nas questões de estética de encenação, atuação e dramaturgia. Primeiro eu iria pensar no método, pra depois fazer o trabalho acontecer e construir um primeiro trabalho consciente em metodologia para as Travestidas.

LJ - O espetáculo traz alguns relatos reais, há nele algo mais pessoal?

A peça é uma expressão do meu relacionamento com esse universo. As histórias são contadas através do meu contato com elas. A peça revela o SIlvero entrando em contato com essas pessoas e como elas foram atravessando a minha vida, meu emocional, meu lado artístico e ativista e como isso foi me mudando enquanto pessoa; e pensando ainda mais na arte como um lugar de potência social. De questionar e provocar a sociedade. Não é uma peça onde eu me visto ou represento essas histórias, é onde eu exponho o próprio Silvero em contato com elas.

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LJ - BR-Trans já circulou por algumas capitais e interiores brasileiros e já foi pra Alemanha e para os EUA; você sentiu diferença na resposta do público em algum desses lugares?

A resposta do público sempre é muito positiva e sempre muito surpreendente no sentido do positivo. Às vezes as pessoas perguntam se na capital é mais aceito do que no interior, e em várias cidades do interior do Brasil a gente teve reações muito mais positivas, de pais de família, de senhoras, de carolas de igreja, que na verdade absorveram a peça e que depois deram o feedback pra gente do quanto elas não pensavam como o preconceito  é tão violento e às vezes tão imperceptível no dia a dia. Ao contrário de outras montagens que a gente já fez, que a gente sofria muito preconceito - tem isso: ‘você é cearense, você tá se travestindo em cena’, então as pessoas já acham pelo estereótipo do humor cearense que você tá fazendo uma comédia. Outros trabalhos a gente teve muito preconceito de as pessoas não acreditarem que a gente tava fazendo um trabalho sério. Já no BR Trans, não.

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LJ - Recentemente a atriz trans Renata Carvalho teve sua peça, O Evangelho Segundo Jesus - Rainha do Céu cancelada em festivais. Como você vê esse tipo de reação?

Eu acho lamentável. É sempre muito lamentável quando se há censura em um lugar que aparentemente deve ser de liberdade. Acho que a Renata tá passando por um processo que é um preço que se paga. Acho que nesse momento ela tá pagando um preço para que outras gerações paguem preços menores. Dentro da minha trajetória, nas Travestidas, a gente pagou preços muito altos entre 2000 e 2013, fomos um grupo muito insultado e taxado, pra hoje ser um grupo aclamado no Ceará. Então, outras gerações hoje podem se travestir, podem fazer teatro, estão fazendo universidade, as travestis e transexuais estão dentro das faculdades de artes cênicas graças a um processo que aconteceu e a um preço que foi pago. Esse é um momento de revolução, com a chegada das travestis e transexuais dentro da arte com mais força e presença, não só no teatro mas na televisão e no cinema, e essa luta é exatamente pra que daqui há cinco, 10 anos a gente não precise mais ficar discutindo sobre isso.

LJ - Você realmente acredita que daqui há cinco, 10 anos esse preço vai estar menor?

Eu acredito. Acho que inclusive o preço diminuiu bastante ao longo do que eu enxergo, de quando eu comecei, em 2000, pra hoje, os conceitos de gênero e diversidade cresceram muito e eles se difundiram muito na sociedade. Acho que agora a gente passa por um período um pouco tenebroso, porque nossa bancada política tá bem mais conservadora, a gente tem um presidente que anuncia abertamente na sua posse que é contra a ideologia de gênero, depois de tantas conquistas alcançadas, a gente tem o caso do Jean Willys tendo que abrir mão disso por causa de ameaças, mas eu acho que a gente não pode dar passo pra trás. Se eles insistem em censurar e talvez promover retrocesso, a gente conquistou liberdades e a gente abriu cabeças pra não voltar pra trás. Se tiver que lutar, se tiver que enfrentar, se tiver que ir pro campo de batalha a gente vai arregaçar as mangas e vai pra rua e vai brigar junto.

LJ  - E quanto aos projetos na TV? Quando o público poderá te ver na tela novamente?

Eu fiquei dois anos e meio na Globo e esses anos me deixaram um pouco fora do teatro. Eu sou um bicho do teatro, a minha casa é o teatro. Esse ano eu pedi um tempo pra que eu pudesse executar meus projetos no teatro. Planos para TV, em 2020.

O ator deixa o convite para o público recifense assistir a Br-Trans.

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Todo dia 29 de janeiro, dia da Visibilidade Trans, a população LGBTQ+ tenta chamar a atenção da sociedade para os problemas que essa população enfrenta diariamente, tendo os seus direitos negados e suas vidas ceifadas. Há 15 anos que a última semana de janeiro é voltada fortemente para as causas trans, em especial.

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Nesta data, "as lutas são comemoradas junto com as histórias de resistência da população de travestis, mulheres transexuais, homens trans e demais pessoas trans que tem urgência de visibilidade, representatividade e ocupação de espaços que sempre foram negados historicamente para a nossa população", aponta o dossiê elaborado pela Associação Nacional De Travestis e Transexuais Do Brasil (Antra), junto com o Instituto Brasileiro Trans De Educação (Ibte).

O documento traz o levantamento sobre o número de pessoas trans mortas no Brasil que, inclusive, segue na liderança no ranking dos assassinatos de pessoas trans no mundo, sendo o país responsável pelos 41% de todos trans assassinados no planeta.

De acordo com o dossiê, no ano de 2018 ocorreram 163 assassinatos de pessoas trans, sendo 158 travestis e mulheres transexuais, 4 homens trans e 1 pessoa não-binária (pessoas cuja identidade de gênero não é nem inteiramente masculina nem inteiramente feminina).

Separando os assassinatos de pessoas trans por estado, em dados absolutos, no Rio de Janeiro foi onde mais se matou trans em 2018, com 16 assassinatos. A Bahia ficou em segundo lugar, com 15 casos. Pernambuco aparece em décimo lugar, com 7 assassinatos de transexuais.

Acre e Amapá foram os únicos estados que não tiveram nenhum caso notificado. O levantamento é feito de forma quantitativa e a partir de pesquisas dos casos em matérias de jornais e mídias veiculadas na internet. "vale ressaltar que houve um aumento de 30% na subnotificação dos casos pela mídia. O que compromete os resultados e faz parecer que houve uma queda nos assassinatos, quando na verdade houve um aumento na invisibilidade destas mortes", frisa os elaboradores do Dossiê.

O Mapa dos Assassinatos de 2017 contabilizou 179 assassinatos de travestis e transexuais. Em 94% dos casos, os assassinatos foram contra pessoas do gênero feminino.

O nordeste é a região de maior concentração dos assassinatos de pessoas trans no Brasil, com 36,2% dos casos, seguido da Região Sudeste, com 27,6%. Os Jovens são os que mais estão diretamente ligados às diversas formas de violência. O Mapa dos assassinatos aponta que 60,5% das vítimas tinham entre 17 e 29 anos.

Tanto a Antra, quando o IBTE, salientam que, apesar de não haver dados oficiais sobre a população de travestis e transexuais no Brasil, a estimativa das entidades é de que 1,9% da população seja "não-cisgênera", ou seja, que não se identificam com o seu gênero de nascença.

Contexto Social

Em levantamento, a Antra aponta que 90% da população de travestis e transexuais utilizam a prostituição como fonte de renda, devido à falta de escolaridade e à exclusão familiar. A entidade estima que aos 13 anos de idade, travestis e mulheres transexuais são expulsas de suas casas pelos pais.

São exatamente esses profissionais do sexo que foram massivamente assassinados em 2018. O Mapa dos Assassinatos detectou que 65% dos casos aconteceram contra aquelas que usavam o próprio corpo para sobreviver.

"O que denota o ódio às prostitutas, em um país que ainda não existe uma lei que regulamenta a prostituição que, apesar de não ser crime, sofre um processo de criminalização e é constantemente desqualificada por valores sociais pautados em dogmas religiosos que querem manter o controle dos seus corpos e do que fazemos com eles", salienta os elaboradores do dossiê.

É diante desse contexto catastrófico que o Mães Pela Diversidade se reúnem e tentam chamar a atenção da sociedade. Tudo na tentativa de parar com o extermínio sofrido pela população LGBTQI+, de uma forma em geral.

O levantamento organizado pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais e o Instituto Brasileiro Trans de Educação trazem apenas um recorte das mortes, que neste caso foram direcionadas contra a vida de Travestis e Trans. O que o Mães Pela Diversidade e tantas outras pessoas que se enquadram nessa comunidade querem é que todas as vidas sejam preservadas, seja de uma pessoa hétero ou não. Eles só pedem por um direito constitucional: viver.

Um jovem de 20 anos, identificado como Caio Santos de Oliveira, foi preso nesta segunda-feira (21), após confessar ter matado uma travesti, arrancado e guardado o coração da vítima que tinha nome de registro Jenilson José da Silva, 35 anos. O caso aconteceu em Campinas, São Paulo.

O órgão arrancado da travesti foi encontrado enrolado em um pano, debaixo do guarda-roupas do suspeito, segundo informado pela polícia. Aos agentes, Caio admitiu ter mantido relação sexual com a vítima. Ele ainda teria levado pertences e eletrônicos da travesti.

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Sorridente em declaração à imprensa sobre o crime, o suspeito fala coisas desconexas e mostra-se sem arrependimento pelo o que fez. Segundo reportagem da EPTV, Caio disse que havia conhecido a vítima na noite deste último domingo (20). "Ele era um demônio", disse o suspeito ao justificar o assassinato.

O corpo da travesti foi encontrado pelos agentes com o tórax aberto e com uma imagem de santo sobre ela.

O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) solicitou a instauração de inquérito para avaliar o motivo da retirada da peça "O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu" da grade da programação do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos. A decisão foi publicada nesta terça-feira (15) no Diário Oficial.

O assunto da audiência, que será realizada no próximo dia 28, às 14h, discutirá a garantia do direito à liberdade de expressão e criação artística. O inquérito investigará a Secretaria Estadual de Cultura de Pernambuco, Secretaria de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Fundação de Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (FUNDARPE), Prefeitura do Recife e Fundação de Cultura da Cidade do Recife.

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Ao vetar a peça do festival, a Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) alegou que o espetáculo ‘extrapola os critérios artísticos’. "O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu" é um drama sobre opressão e intolerância, interpretado pela atriz transexual Renata Carvalho.

Após a obra ser retirada do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos, outras peças decidiram abandonar o evento, em solidariedade à Renata, que faz o papel de Jesus no espetáculo, e contra a censura e intolerância.

A Associação dos produtores de artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) anunciou, nesse domingo (23), o cancelamento da peça "O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu". O espetáculo teatral integrava a grade do 25° Janeiro de Grandes Espetáculos e, seria apresentado nos dias 12 e 13 de janeiro, no Teatro Barreto Júnior, no Pina.

Interpretada pela atriz transexual Renata Carvalho, a peça é um polêmico drama sobre opressão e intolerância, além de exibir Jesus vivendo nos dias atuais como travesti. A apresentação já foi cancelada anteriormente em Jundiaí (SP), Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ), além de também ter sido vetada da grade oficial do Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), em julho deste ano e, encenada em programação paralela. Na época, o cantor Johnny Hooker, que se apresentava no festival, se manifestou sobre a proibição e gerou polêmica ao afirmar que Jesus era transsexual.

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Na última sexta-feira (21), o deputado federal eleito André Ferreira (PSC) criticou a peça e disse que a apresentação “afronta” às famílias cristãs do estado. De acordo com a Apacepe o espetáculo “extrapolam os critérios artísticos” e por esse motivo não será apresentada.

Leia a nota na íntegra:

De forma a garantir a realização do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos, a Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco (Apacepe) informa a retirada da peça "O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu" da programação do festival. Por questões que extrapolam os critérios artísticos, o espetáculo, que já motivou ações judiciais e passou por outros cancelamentos, infelizmente não estará mais na grade do Janeiro 2019. A Apacepe reitera seu compromisso com a liberdade de expressão e mantém seu propósito de abrir as portas para toda e qualquer manifestação artística.

O deputado federal eleito André Ferreira (PSC) criticou, por meio de nota, na noite desta sexta-feira (21), o retorno da polêmica peça “O Evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu” a Pernambuco. O espetáculo esta na grade do 25º Janeiro de Grandes Espetáculos, que inicia no dia 28 de janeiro. De acordo com o parlamentar, o Governo do Estado e a Prefeitura do Recife “afrontam” as famílias cristãs do estado, realizando a contratação com recursos públicos.   

“A apresentação no Festival de Inverno de Garanhuns foi repudiada pela sociedade e saiu da programação. Agora, os Governos de Paulo Câmara e Geraldo Julio, mais uma vez, incluem a peça na programação do Janeiro de Grandes Espetáculos”, recordou. 

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 Ferreira falou que é preciso reagir novamente à “ofensa” aos princípios cristãos com uso do dinheiro dos cidadãos. “Devemos, claro, investir na cultura para que seja acessível a todos, desde que realizada com respeito. Mas não é o caso dessa peça teatral absolutamente fora de propósito”.   

Ele ainda lembrou que muitos artistas pernambucanos aguardam os pagamentos de cachê. “Inegavelmente Pernambuco é um celeiro de artistas e grande parte não recebe qualquer oportunidade para mostrar seus trabalhos. Nosso Estado é rico em cultura popular e caberia ao Governo incentivar de forma concreta, não só contratando, mas não deixando os artistas esperando um ano para receber os pagamentos de cachê”, criticou. 

Muitos duvidaram que a candidatura da Juntas, do Psol, formada por cinco mulheres, sendo uma delas trans, conseguiria conquistar uma vaga na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) na disputa eleitoral deste ano. Mas o fato é que a vitória deve entrar para a história de Pernambuco já que esta é a primeira vez que haverá um mandato coletivo dentro da assembleia. 

A advogada trans Robeyoncé Lima, nesta semana, deixou um recado por meio das redes sociais. “Tem deputada travesti em Pernambuco sim”, ressaltou. A afirmativa foi em uma publicação no qual aparece em uma foto ao lado de Erica Malunguinho, negra, pernambucana e primeira trans eleita para a Assembleia Legislativa de Pernambuco pelo PSOL.  Robeyoncé ressaltou que haverá resistência. “Nós, juntas com Erika Hilton, formamos o trio de deputadas trans eleitas pelo Brasil dando o recado que o conservadorismo pode avançar, mas a resistência será ainda maior e ela será feminista, negra e travesti”. Somos muitas e estamos Juntas”, salientou. 

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Nessa quarta-feira (17), ao completar aniversário, a advogada falou que não é fácil completar 30 anos em meio ao avanço fascista e transfóbico dos dias atuais. “Mas cada mensagem de amor e carinho me reenergizaram e deram força para seguir”, agradeceu. Ela aproveitou para pedir voto para o candidato à presidente Fernando Haddad (PT). “Se querem me presentear, no dia 28, naquela ‘urna’ da democracia, vote 13 para que o mundo seja melhor para mim e tantas outras como eu. É Haddad e Manu para presidentes”, ressaltou.

Antes da vitória, em entrevista ao LeiaJá, a Juntas chegaram a afirmar que acreditavam em algo novo diante de “uma política velha fadada ao fracasso”. Na ocasião, garantiram que o mandato iria visar a luta pelos direitos das classes minoritárias como o movimento LGBT, negros, sem-teto e outros segmentos menos favorecidos na sociedade. 

Além de Robeyoncé, o grupo é formado pela ambulante Jô Cavalcanti, 36 anos; a produtora audiovisual Carol Vergolino, 39 anos; a estudante de Letras Joelma Carla, 20 anos; e a professora Kátia Cunha, 43 anos. 

A travesti de 21 anos baleada na madrugada desta quarta-feira (17) no bairro da Iputinga, Zona Oeste do Recife, não conhece o autor do disparo, informou a Polícia Civil. Ela está em quadro estável no Hospital da Restauração (HR), centro da capital.

A vítima estava na Rua Celestino Neves, próxima ao restaurante Gota Serena por volta das 4h. Um homem em um carro prata se aproximou e efetuou um disparo de arma de fogo. Ela estava travestida no momento do ocorrido.

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Atingida no rosto, a travesti foi encaminhada à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Caxangá e, de lá, transferida ao HR. Segundo a assessoria do HR, a vítima encontra-se estável e em observação. Após o edema baixar, a equipe médica avaliará se será necessária cirurgia.  A Polícia Civil investiga a motivação do crime e o autor do disparo.

 

Uma travesti, que ainda não foi identificada, foi assassinada a facadas durante uma briga na madrugada desta terça-feira (16) no Largo do Arouche, região da República, Centro de São Paulo. Uma testemunha relatou ao portal G1 que durante a discussão, ouviu alguns homens gritando o nome do candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro.

"Ela estava com quatro ou cinco homens em frente ao bar. E daí eu comecei a ouvir gritos, uma discussão, uma briga. Chamavam ela de vários nomes, agressões verbais, e gritavam 'Bolsonaro'", disse a testemunha. Em seguida, a mulher, que preferiu não se identificar, os homens fugiram e ela ouviu a travesti pedindo ajuda. Outra vizinha do bar contou ao G1 que chegou a ouvir gritos de "Bolsonaro, ele sim!" durante a discussão.

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De acordo com a Polícia Militar, o crime aconteceu por volta das 4h50. A vítima chegou a ser levada pelo Corpo de Bombeiros ao Pronto-Socorro da Santa Casa, mas morreu a caminho da unidade de saúde. Ainda segundo a PM, o caso foi registrado no 3º Distrito Policial (Campos Elíseos).

Após defender sua amiga de um assédio, ser chamada de travesti e "escória da humanidade", a empresária Sandy Salum, de 36 anos, foi agredida por um homem na saída de uma festa na Zona Oeste de Manaus, Amazonas. Em um vídeo que circula na internet, é possível ver o momento em que a mulher chama o homem para a briga e acaba apanhando do rapaz, que não foi identificado.

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A agressão aconteceu na última sexta-feira (12) e vem ganhando repercussão no Facebook por conta do flagra compartilhado na rede. Em entrevista à Rede Amazônica, a empresária disse que o indivíduo começou a passar a mão no cabelo da sua amiga e puxou. "Eu disse deixa ela", lembra Sandy.

Pelo fato de ter a voz grossa, a mulher conta que foi chamada de travesti "escória da humanidade" e "p***". "Ele veio pra cima e me empurrou (depois) ele saiu correndo a ladeira e entrou no táxi. Eu fui atrás dele, entrei no táxi e falei 'agora tu me chama de travesti de novo", disse a empresária. Nesse momento começa a agressão.

O vídeo, que não tem o flagra de toda a discussão, mostra o que seria o desfecho da briga. Pessoas se aglomeram e, depois de alguns segundos da luta corporal travada pelo homem e pela mulher, apartam a briga.

Sandy Salum registrou um Boletim de Ocorrência e fez exame de corpo e delito. A Polícia Civil deve investigar os fatos. O caso foi registrado no 19º Distrito Integrado de Polícia (DIP).

Uma travesti foi socorrida embriagada após pular no recinto das onças no Bosque e Zoológico Fábio Barreto, em Ribeirão Preto-SP, na manhã da quinta-feira (27). Os animais estavam presos nas jaulas no momento do ocorrido. A travesti sofreu ferimentos leves. 

A invasão ocorreu por volta das 6h30, segundo nota do zoológico. A travesti chegou ao local após percorrer uma trilha em área de preservação no Parque Morro do São Bento. A invasão foi flagrada por funcionários do bosque.

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A invasora pulou o alambrado do recinto das onças e mergulho no tanque onde os animais bebem água, segundo o G1. Ela segurava uma garrafa de conhaque. Corpo de Bombeiros e guardas civis municipais negociaram com ela por cerca de 30 minutos.

Em um vídeo que circula nas redes sociais, a travesti se identifica como Nina de Oliveira. Aparentando passar por algum surto, ela diz ter gente no fundo da lagoa a esperando. "Tem gente me esperando, de tocaia, vão me dar uma gravata", diz.

Enquato falava, ela é imobilizada por trás por um guarda civil. Os bombeiros, em seguida, a colocam em uma maca. A travesti foi levada a uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde foi medicada e encaminhada para acompanhamento psiquiátrico.

A Prefeitura de Ribeirão Preto informou que reforçará a segurança no local. Câmeras do zoológico não funcionam há anos.

A jornalista transexual Lara Pertille, de São Paulo, deu um ultimato nas redes sociais. Ela anunciou que vai expor todos os seus ex que manifestarem apoio ao candidato Jair Bolsonaro (PSL). A decisão de Lara repercutiu bastante na internet e ela chegou a receber ameaças. 

Tudo começou quando um ex da jornalista publicou uma mensagem apoiando o candidato. Ela comentou a postagem dizendo: "Oi? Vamos relembrar o passado?"; o rapaz, então, apagou a postagem, excluiu Lara de seus contatos e voltou a repetir a mesma publicação. Foi aí que ela resolveu compartilhar um vídeo como forma de protesto, ameaçando divulgar os nomes dos ex que declararem apoio ao mesmo candidato: "Se eu abrir minha boca, não vai sobrar pedra sobre pedra", disse. 

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Após a repercussão do vídeo, Lara perdeu alguns seguidores - segundo ela, homens com quem já havia se relacionado -, e também passou a ser ameaçada. "As ameaças vieram em massa, do tipo: 'tem que morrer mesmo', 'o tal candidato tem que ganhar para exterminar esse povo da face da terra'. Não são essas ameaças que vão calar a minha boca. Eu resisto todos os dias. Eu estou tirando print de tudo e já mandei para o meu advogado", disse, em entrevista ao Catraca Livre. 

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De fato, as ameaças não amedrontaram Lara e ela continua postando vídeos, em suas redes sociais, abordando o tema. Em um deles, ela diz, indignada: "Vocês apoiam candidato machista, trasnfóbico, porque ele é um reflexo do seu caráter. O que eu não consigo entender é a hipocrisia de vocês pra cima da classe transexual. Vote em quem você quiser, mas não venha procurar travesti e transexual para suprir as necessidades sexuais de vocês. Assumam suas posições. Família tradicional brasileira, onde?"

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Por Eduarda Esteves e Marília Parente

Violência física, sexual ou doméstica, abandono da família, preconceito e sobrevivência econômica. Situações de hostilidade como essas perpassam o ambiente da prostituição em que estão inseridas as travestis no Brasil. Para muitas profissionais, no trabalho com o sexo, além da questão financeira, elas buscam amor, atenção e o acolhimento que faltou em casa ao assumir sua travestilidade.

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Aos 40 anos, a pernambucana Cláudia Morena passou boa parte da vida trabalhando com o seu corpo. Ela relembra que se descobriu travesti aos 12 anos e por conta da não aceitação da família e falta de dinheiro, entrou na prostituição por achar que era o único caminho possível. “Durante muitos anos me prostitui nas avenidas, nas BRs. Já levei carreira, fui jogada em um açude, apanhei, e também tomei tiro. Um cliente fez de tudo comigo e no fim mandou nem olhar para trás e disse que iria atirar. Eu não acreditei e dei as costas para ele. Alguns segundos depois comecei a andar, ele sacou a arma e disparou. A minha sorte foi que eu, maloqueira de rio e criada nas comunidades, fiz um zigue-zague e pulei dentro dos matos. Não fui atingida e fiquei por horas escondida com medo dele me achar”, relembra Cláudia, ainda com calafrios ao pensar sobre o fatídico dia.

Em 2002, ela descobriu que era soropositiva, estava infectada com o vírus HIV, após ser socorrida e internada. “Eu não me protegia e não tinha muito conhecimento sobre proteção”. Cláudia foi encaminhada para o Hospital Otávio de Freitas, no Recife, e o diagnóstico era pneumonia. “Tinha juntado um trocado bom com a prostituição e ia construir a minha casa. Mas a doença me pegou de jeito e tive que me tratar com o dinheiro”, disse. De acordo com a estudiosa Lidiana Diniz, na pesquisa “Silenciosas e silenciadas: descortinando as violências contra a mulher no cotidiano da prostituição”, a prostituição para as mulheres oriundas de camadas sociais mais baixas não é algo transitório e temporário. Se torna uma alternativa em busca da sobrevivência.

Na profissão, ela diz ter ganho dinheiro, mas também muita desgosto pela vida, vícios no álcool e nas drogas e o ódio dos homens com quem se relacionava. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

“Eu pensava que eu ia morrer e estou viva há 16 anos e não sinto quase nada. Pensei muito em sair da prostituição porque muitos clientes não querem usar camisinha e eu não queria prejudicar ninguém e também me proteger. Estava vulnerável”, diz.

Cláudia conta que a vida deu uma guinada quando conheceu o Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP+), organização não governamental que auxilia pessoas vivendo com o vírus HIV e doentes de Aids em Pernambuco. “Eu era muito humilhada na rua, todo mundo me chamava de frango. Foi quando me deram um cartão do GTP e eu aprendi meu nome social, eu sou Cláudia. Também ganhei uma profissão, sou auxiliar de cozinha e de recepcionista, além de fazer faxinas para me manter”, pontua a ex-garota de programa.

Na profissão, ela diz ter ganho dinheiro, mas também muita desgosto pela vida, vícios no álcool e nas drogas e o ódio dos homens com quem se relacionava. Apanhou, apanhou, foi roubada, enganada e só teve novamente esperança em viver quando encontrou o homem de sua vida. “Eu o achei em um barzinho. Eu estava do outro lado da rua e o avistei. Ele tinha um porte e os cabelos lisos. Era lindo. Pensei logo, achei o amor da minha vida. E foi dito e feito. Ele me viu e achou que eu era mulher mesmo, de cara. Eu gostava de beber também e a gente se dava muito bem. Fomos morar juntos, ele me aceitou como travesti e também portadora do HIV. Mas, foi uma luta porque a mãe dele não aceitava ele namorar um homem que virou mulher e nos expulsou da casa dela. Fomos morar em um barraco no meio do mato”, relembra Cláudia.

Em meados de 2012, ela ainda trabalhava com prostituição quando o conheceu, mas detalha que relação dos dois era muito além da cama, até porque a doença do Marcelo, o seu marido, prejudicava a sua vida sexual. “Ele bebia muito e muitas vezes nem conseguimos ter relações sexuais. Mas a gente trocava carinho, se ajudava em casa, ficava na cama. Era um casal de verdade”, orgulha-se Morena.

"Eu chorava muito sentindo falta dele, ainda choro. Perdi o amor da minha vida”. Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens

Ela estava feliz com a nova vida e relata que ele entendia a profissão dela na época porque trazia renda para casa. Cláudia já tinha se relacionado com outros homens, mas eles a batiam e não queriam nada além de sexo. “É muito complicado encontrar o amor para uma travesti. Muitos homens são interesseiros e pensam na nossa casa, na comida no prato, na lavagem de roupa e no sexo. Alguns me diziam que eu dava de dez a zero nas mulheres que eles já tinham morado, mas era um elogio falso porque só éramos boas se a gente fosse dona de casa e transasse com eles. Dizem que amam por dinheiro. Muitas vezes eu precisei de um amor na vida toda. Não tive isso da minha família”, lamenta ao contar um pouco sobre a trajetória de vida.

Cláudia Morena viveu com Marcelo por pouco mais de três anos e foram muitas dificuldades, financeiras e familiares. “Eu cuidei dele a vida toda e ele caiu muito doente. Em uma época, ficou internado grave. Eu ia visitá-lo no hospital e ele dizia às enfermeiras que eu era a mulher dele e era travesti. Eu me orgulhava disso, ele dizer que a esposa dele era grande e bonita”. Mas, em 2015, Marcelo morreu nos braços dela dentro da casa dos dois, por causa da bebida. “Eu chorava muito sentindo falta dele, ainda choro. Perdi o amor da minha vida”.

Para ela, o amor só chegou mais tarde, mas valeu a pena esperar e viver três anos felizes. "Quem me ensinou a amar foi Marcelo. Ele me botou dentro de uma casa, enfrentou a família e fez tudo por mim. Morreu nos meus braços o meu eterno amor”.

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Comércio ou afeto? Os dois

O suor ainda escorre pelos poros da profissional do sexo A.B quando ela se lembra do primeiro espancamento. Aos 24 anos de idade, a gigante de um metro e noventa dois centímetros de altura volta se parecer com o adolescente de quinze anos exasperado que apanhou de mais de dez colegas de sala. “Meu pensamento era dizer que eu era inútil. Desisti de ir à escola”, conta. Irredutível em ser quem era, A.B largou o nome civil e passou a se apresentar com o nome que escolheu aos comércios em que buscou emprego. Após inúmeros currículos enviados e nenhuma admissão, viu na prostituição o único espaço de trabalho possível. Entre as performances quentes na internet e o perigo das ruas, conta com os clientes fixos para manter alguma segurança física e financeira, cultivando com eles uma complexa relação afetiva e comercial. 

“Tem um cliente meu que desde os 16 anos mantenho contato. Conheci através de um amigo e já deixei claro que era garota de programa, fui para cima dele e pedi dinheiro. Eu estava precisando muito e ele me deu”, conta. Com um ano de “batalha”, conforme as profissionais do sexo denominam as jornadas de trabalho, veio o primeiro casamento. “Passamos quatro anos juntos. Ele era mais velho e muito possessivo. Não queria que eu saísse de casa e ficava me mandando cuidar da vida doméstica. Um dia, ele chegou em casa bêbado com uma crise de ciúmes e me bateu, puxei um facão para ele e acabei o casamento”, lembra. Divorciada e emocionalmente fragilizada, A.B. voltou à rotina de prostituição. 

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Se, durante o casamento, a mínima estabilidade financeira era dada pelo companheiro, com o fim dele, no primeiro aperto, era ao mais antigo cliente que ela recorria. “Até hoje, peço para ele comprar um gás, pagar uma conta ou até depositar dinheiro para mim se faltar algo em casa. Sou como uma amante, uma rapariga”, relata. Na cama, ele lamenta pela diabetes e os problemas de pressão. Depois do sexo, ou até mesmo sem deixar tempo para que ele seja praticado, por vezes os encontros são marcados por desabafos íntimos sobre a esposa e os filhos, que nem sequer sabem da existência do relacionamento extraconjugal. “Ele se abre sempre comigo e, independentemente da gente acreditar ou não, está sendo paga pra isso”, completa A.B.

Quando um namorado ou affair se apresenta na vida pessoal, precisa dividir os carinhos e atenção com os clientes. Os caminhoneiros, garante A.B., são os mais carentes. “Acontece de eles quererem passar até um pernoite com a gente só pra estar falando, nem tanto pelo sexo. Falam muito sobre os locais que estão indo e as viagens e me perguntam sobre a minha vida”, afirma. A.B. precisa ainda ouvir as esposas, quando desconfiam da traição. “Elas pegam o telefone e ligam para dizer coisa comigo. Vão mais em cima de mim do que do marido delas. Acho que têm que ir atrás deles”, opina. 

A.B. sobre desabafos e lamúrias dos clientes: "A gente está sendo paga para isso". (Júlio Gomes/LeiaJá Imagens)

Com os rendimentos do trabalho, A.B. constrói uma casa para ela e outra para sua mãe, acometida por infecção causada pela bactéria H.Pylori, que ocasiona fortes dores de estômago e pode aumentar o risco para o desenvolvimento de um câncer. “Tudo que faço é pela minha mãe, penso muito em dar conforto para ela e poder ir viver minha juventude. Quando ela passa mal, sou eu que cuido”, lamenta. Orientada pelas colegas de trabalho mais experientes, A.B. acredita que mulheres transexuais têm “prazo de validade” no mundo da prostituição. “Trinta anos. Depois disso, a gente fica velha. Ninguém mais quer”, opina. Inspirada pela irmã graduada em enfermagem, A.B. acaba de voltar ao ensino médio, que espera concluir para realizar o sonho de sair da prostituição. “Acho que nessa área tem mais espaço para as trans e travestis. Quero entrar na faculdade e fazer um concurso público. Meus clientes não são meus amigos: quando ele deixa de pagar, para mim, não tem valor nenhum. Da mesma forma que não tenho para ele”, divide.

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