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O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, cassou a tutela de urgência da 13ª Vara da Fazenda Pública que havia suspendido o processo de licitação para conceder quatro presídios paulistas em construção à iniciativa privada. O novo modelo teria gestão compartilhada entre administração pública e iniciativa privada, e foi uma das promessas de campanha do governador João Doria (PSDB).

Os serviços relacionados no edital de Concorrência n. 02/2019 - Processo SAP/GS n. 849/2019 não violam a relação de funções indelegáveis à iniciativa privada, argumentou o juiz. "Estão devidamente resguardadas pelo edital, em análise sumária, 'as funções de direção, chefia e coordenação no âmbito do sistema penal' (caput), bem como as funções típicas de poder de polícia, arroladas nos incisos do mesmo artigo, de 'classificação de condenados', 'aplicação de sanções disciplinares', 'controle de rebeliões' e 'transporte de presos para órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros locais externos aos estabelecimentos penais'."

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Na última sexta-feira, 11, a juíza Luiza Barros Rozas Verotti, da 13ª Vara da Fazenda Pública do Tribunal de Justiça de São Paulo, entendeu que havia evidências de que o governo quer repassar a empresas "diversos serviços inerentes ao poder de polícia do Estado". A decisão era provisória, até que o julgamento decidisse se o governo estadual tem o direito de repassar penitenciárias à iniciativa privada ou não. Ela atendeu a pedido da Defensoria Pública estadual e outras três entidades de defesa dos direitos humanos endossado pelo Ministério Público Estadual.

A suspensão de efeito de tutela por um presidente do TJ não tem natureza recursal, explica o juiz em sua decisão. Seria, na verdade, uma medida excepcional "destinada a evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia públicas".

"Por não ter natureza recursal, este incidente não admite, ordinariamente, a apreciação das provas ou o reconhecimento de nulidades processuais no feito de origem, cabendo apenas o exame da efetiva ou possível lesão aos interesses públicos tutelados."

Impedir a realização do processo licitatório ofereceria risco à ordem pública, expõe Calças, uma vez que "interfere sem razão legítima manifestamente demonstrada, do regular andamento de serviços públicos ou do devido exercício das funções da administração pelas autoridades constituídas".

"Com efeito, a decisão com relação à conveniência e oportunidade de valer-se ou não de agentes privados em sistema de cogestão para a prestação do serviço público em tela, desde que observados os limites legais, compete, em linha de princípio, à autoridade política democraticamente eleita para tanto. Não se pode subtrair da autoridade eleita a estratégica decisão que carrega em si grande carga ideológica, aliás de buscar apoio ou não na iniciativa privada para a gestão compartilhada de estabelecimentos prisionais, desde que tal decisão não viole a legislação aplicável à hipótese, o que, como visto, não ficou evidenciado".

Ele continua. "Não se pode subtrair da autoridade eleita a estratégica decisão que carrega em si grande carga ideológica, aliás de buscar apoio ou não na iniciativa privada para a gestão compartilhada de estabelecimentos prisionais."

Sobre o edital, Calças diz que "é claro, ainda, em excluir o uso de quaisquer meios de coerção física por parte dos empregados da contratada, em relação a presos ou visitantes". "Quando muito, nos termos do edital, os empregados da contratada prestarão apoio aos agentes públicos que atuarem na unidade, realizando atividades materiais acessórias.

Defesa

Em nota, "a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) informa que ontem, 14, foi acolhido pelo Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) o pedido de suspensão da tutela de urgência da liminar que determinava a paralisação do certame licitatório de gestão compartilhada com a iniciativa de quatro unidades prisionais.

Na decisão, o presidente do TJ-SP, desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, fundamentou que os serviços constantes do edital não violam frontalmente a relação de funções indelegáveis pelo Estado à iniciativa privada na gestão de presídios, expressa nos art. 83-A e 83-B da Lei de Execução Penal, na medida em que estão devidamente resguardadas pelo edital as funções de direção, chefia e coordenação, bem como aquelas típicas de poder de polícia. O edital é claro, ainda, afirmou Pereira Calças, no sentido de excluir o uso de quaisquer meios de coerção física por parte dos empregados da contratada, restringindo a atuação destes a funções de apoio. Calças também destacou que cabe ao Executivo a decisão de buscar apoio ou não na iniciativa privada para a gestão compartilhada de estabelecimentos prisionais, desde que não viole a legislação."

Estão abertas as inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio Para Pessoas Privadas de Liberdade e Jovens Sob Medida Socioeducativa (Enem PPL) 2019, que será aplicado nos dias 10 e 11 de dezembro, nas unidades prisionais e socioeducativas.

As inscrições são gratuitas e só devem ser feitas exclusivamente pelos responsáveis pedagógicos das unidades prisionais e socioeducativas, até 4 de outubro, por meio de endereço eletrônico. O responsável pedagógico também deve ficar à frente do acompanhamento das inscrições e de possíveis alterações cadastrais, entre outras ações.

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A prova tem como finalidade avaliar individualmente o desempenho do participante que está no final do ensino médio. Treineiros também poderão fazer a prova, desde que não estejam cursando ou não concluíram o ensino médio ou que só irão concluir após o ano letivo de 2019.

Além da redação, os candidatos responderão a duas provas objetivas com 45 questões cada abordando todas as áreas do conhecimento. No primeiro dia do Exame serão aplicadas as provas de Linguagens Códigos e suas Tecnologias e Redação e Ciências Humanas e suas Tecnologias. No segundo e último dia, os alunos farão as provas de Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias.

Nesta edição, pessoas que necessitam de atendimento especializado terão direito a mais recursos de acessibilidade, como prova em braile e tempo adicional para fazer o exame. Outra novidade é que o Enem PPL vai atender os públicos com cegueira, visão monocular, surdocegueira, dislexia, déficit de atenção, autismo, discalculia, deficiência física, deficiência auditiva, surdez e deficiência intelectual.  

Acesse o sistema online de inscrição

Edital PPL 2019

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O massacre na cadeia de Altamira, que deixou 57 mortos nesta segunda-feira, 29, repete a estratégia usada por facções para, com brutalidade, tentar dominar parte de uma importante rota de tráfico de drogas na região amazônica. Os assassinatos cometidos pelos integrantes do Comando Classe A (CCA) contra filiados do Comando Vermelho (CV) é mais um capítulo de uma briga nacional que se expressa com maior frequência na Região Norte.

A rota, que começa na tríplice fronteira entre Brasil, Peru e Colômbia e segue pelo Rio Solimões até Manaus, transformou-se em uma das maiores portas de entrada de cocaína do País, segundo especialistas e investigadores. É o controle desse mercado lucrativo que move a maior parte dos conflitos entre as organizações criminosas que atuam na região.

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Relembre os massacres nos presídios do Norte e no Nordeste

Uma briga entre a Família do Norte (FDN), o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV) já deixou, desde outubro de 2016, 188 pessoas mortas dentro de presídios de Rondônia, Roraima e Amazonas - sem contar os 57 óbitos desta segunda, em Altamira.

No dia 16 de setembro de 2016, dez detentos foram mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Boa Vista, durante uma briga entre integrantes do PCC e do CV. Poucas horas depois, outra briga entre membros dessas duas facções criminosas provocou a morte de oito homens na Penitenciária Estadual Ênio dos Santos Pinheiro, em Porto Velho.

Em 1º de janeiro de 2017, um ataque da FDN contra o PCC deixou 56 mortos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus. Cinco dias depois, como resposta, a organização criminosa paulista foi responsável pela morte de 33 pessoas em Monte Cristo.

Também em janeiro de 2017, um motim do PCC no dia 14 matou 26 presos ligados à facção Sindicato RN, que era aliada ao CV e à FDN, na Peniteciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na Grande Natal.

Já entre os dias 26 e 27 de maio de 2019, uma briga interna na FDN causou o massacre de 55 detentos em quatro cadeias: Compaj, Centro de Detenção Provisória Masculino 1, Unidade Prisional do Puraquequara e Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat).

No Pará, não há hegemonia

"O Pará é um espaço que também vem sendo disputado pelas facções em função da sua posição geográfica e da importância que tem para o narcotráfico", explica o pesquisador Aiala Colares, da Universidade Estadual do Pará (Uepa).

Segundo ele, o CCA ganhou força nos últimos anos, ao fazer alianças e entrar na disputa pela cocaína da região. "Se a Amazônia é a porta de entrada dessa droga, é importante para as facções estarem perto dessa porta", acrescenta Colares.

As cidades, onde antes só existiam pequenas gangues, viram os criminosos se organizarem agora em facções. E esses grupos formaram alianças para ganhar ainda mais força, processo que ocorreu ao longo da última década.

No Pará, ao contrário do que ocorre em São Paulo com o PCC, não há hegemonia. "O Pará tem muitas facções criminosas em disputas que às vezes chegam a ocorrer dentro de bairros, de tão pequenas que são. Há disputa o tempo todo, levando a uma taxa de homicídio muito alta, como a que vemos nos últimos cinco anos", diz o professor da Universidade Federal do Pará (UFPA) Jean-François Deluchey.

Ele acredita que, apesar de o CV ter dados sinais de que se consolidava no Estado, uma hegemonia ainda seja imprevisível. "A disputa é total e sempre há reações. Agora, o CCA atuou, mas já há expectativa de que o CV vai realizar uma retaliação enorme em todos os outros presídios."

O massacre acontece em meio ao aumento da sensação de insegurança em todo o Estado, com a força dos traficantes sendo testada pela atuação de milícias, principalmente na região metropolitana de Belém. Chacinas e as numerosas mortes causadas por policiais em supostos confrontos contribuem para um clima de violência crescente.

"Se há controle de toda essa rota, do Solimões à exportação, a facção deixa as outras mais dependentes dela. Caso contrário, é necessário buscar outros caminhos, que necessariamente serão mais longos e, principalmente, mais caros", explica Colares. Deluchey vê o massacre de Altamira como "a consequência do fracasso da política criminal brasileira". (Colaborou Felipe Cordeiro)

O ministro da Justiça, Sérgio Moro, conversou nesta segunda-feira, 29, com o governador do Pará, Helder Barbalho, e se comprometeu a transferir para presídios federais líderes de facções criminosas responsáveis pelas mortes no Centro de Recuperação Regional de Altamira, na manhã de hoje. Uma briga no local deixou ao menos 52 mortos, 16 deles decapitados.

Segundo o Ministério da Justiça, Moro ligou para Barbalho para oferecer ajuda e faria uma reunião ainda hoje para tratar do tema. O governo do Pará disse que o ministro pediu que sejam identificados os líderes das facções que atuam no centro de recuperação para poder providenciar a transferência a presídios federais.

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No início do ano, alguns chefes do Primeiro Comando da Capital (PPC), incluindo Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, foram transferidos de Rondônia para a penitenciária de Brasília.

De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), o massacre em Altamira foi motivado por uma briga entre as facções rivais Comando Classe A (CCA) e Comando Vermelho (CV) e teve início por volta das 7 horas, quando detentos do bloco A, onde estão custodiados presos do CCA, invadiram o anexo que funciona em um contêiner adaptado onde ficavam os presos ligados ao CV. No início da tarde, o motim estava encerrado.

Um confronto de facções dentro do Centro de Recuperação Regional de Altamira, no sudoeste do Pará, terminou com 52 detentos mortos. Dois agentes prisionais foram feitos reféns, mas libertados em seguida.

De acordo com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), o massacre teve início quando detentos do bloco A, onde estão custodiados presos de uma organização criminal, invadiram o anexo onde estão internos de um grupo rival. "Encontramos corpos decaptados e outros por asfixia. Estão removendo os corpos", afirmou o representante da Susipe.

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Após a primeira ação, o anexo foi trancado e os presos atearam fogo no espaço. Segundo a Susipe, a fumaça invadiu o anexo e há presos mortos por asfixia.

Segundo a Susipe, o Centro de Recuperação Regional de Altamira tem capacidade para pouco mais de 200 presos e tinha 311 até esta segunda (29).

Com informações da Agência Estado

A principal hipótese para explicar a nova onda de mortes que atingiu as cadeias de Manaus nesta semana é um racha entre lideranças da facção Família do Norte (FDN), a mais poderosa da região Norte. Parte dessa suspeita surgiu por meio de informações fornecidas pelos próprios criminosos em mensagens enviadas aos "filiados".

O chamado "salve geral", obtido pelo jornal O Estado de S. Paulo, explica em 1,6 mil palavras as razões para a divisão e como um dos grupos prepara a continuidade das atividades criminosas no Estado. O salve data de 27 de maio, segundo dia de ataques nas cadeias, que terminou com 55 mortos. "Esse salve é para expor a todos a maior conspiração de todos os tempos, toda sujeira que vamos apresentar aqui foi orquestrada pelo JB e passada através da mulher dele, a Sheila, para seus subordinados", diz a mensagem.

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JB é João Pinto Carioca, o João Branco, um dos expoentes da FDN, detido em uma unidade prisional federal, e a mulher citada é Sheila Maria Faustino Peres. O texto é escrito por quem supostamente João Branco pretendia atacar: aliados de José Roberto Fernandes, o Zé Roberto da Compensa, outro fundador da facção, também detido em presídio federal e chamado pelo Ministério Público Estadual de "o capo de tutti capi" (chefe de todos os chefes).

Investigação da polícia e do MP mostrou que Branco, Zé Roberto e um terceiro cabeça, Gelson Lima Carnaúba, o Mano G, articularam as ordens para a eliminação de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), no massacre que ocorreu em 2017, com 56 mortes.

Depois da eliminação dos rivais, a FDN passou a enfrentar divergências internas. "Tudo começou há muito tempo atrás quando o JB decidiu que queria ser o dono de tudo. Ele sabia que para ter sucesso teria que tirar nosso número 1 de cena", continua o salve, referindo-se a Zé Roberto. Os investigadores têm delineado que João Branco pretendia criar uma dissidência maior que a facção original, que seria denominada FDN Pura.

Relatório de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária (Seap) do Amazonas, de 22 de maio, também mostrou que o sistema poderia sofrer uma nova instabilidade diante da tentativa do grupo de João Branco de tomar o poder.

Isso se deveria principalmente por uma suspeita de que o grupo de Zé Roberto estava perdendo espaço na venda de drogas e no interior dos presídios

Reviravolta

A inteligência mostrou, segundo o secretário da Administração Penitenciária, Marcus Vinícius Almeida, que o grupo dissidente pretendia atacar na madrugada de segunda para terça e o principal foco seria o Centro de Detenção Provisória Masculino. Mas o plano foi descoberto, e quem seria vítima agiu primeiro.

"O plano era matar de forma covarde, à base de trairagem, os principais cabeças da FDN-AM", relata o salve do grupo de Zé Roberto. "Porém o plano não saiu como JB desejava e graças a Deus eles não conseguiram dar sequência na conspiração porque nós descobrimos."

"Poucas pessoas na organização poderiam desafiar o Zé Roberto. João Branco é uma delas", diz o procurador da República Edmilson Barreiros, que participou da Operação La Muralla, a primeira a investigar a organização da FDN em 2015.

Os investigadores acreditam que o grupo de Zé Roberto tenha deflagrado o ataque e assassinado 15 presos no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj). No dia seguinte, morreram 5 no CDPM e outros 25 no Instituto Penal Antônio Trindade. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária começa atuar no interior dos presídios de Manaus onde ocorreram os massacres que vitimaram 55 detentos nesse domingo (26) e segunda-feira (27). A Portaria nº 564, do Ministério da Justiça e Segurança Pública está publicada na edição desta quarta-feira (29) do Diário Oficial da União. A medida atende à solicitação feita pelo governo do Amazonas.

De acordo com a portaria, a força-tarefa permanecerá por 90 dias, a contar dessa terça-feira (28), exercendo as atividades e serviços de guarda, vigilância e custódia de presos, em apoio ao governo do estado, que dará estrutura logística e sob a supervisão dos órgãos de administração penitenciária e segurança pública do estado.

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“O número de profissionais a ser disponibilizado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública obedecerá ao planejamento definido pelos entes envolvidos na operação”, diz ainda o documento.

Presídios federais

Nessa terça-feira (28), vários detentos, considerados líderes dos massacres, começaram a ser transferidos para presídios federais. Outros presos serão transferidos hoje.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, em uma postagem na sua conta no Twitter, ontem, disse que o ministério disponibilizaria vagas nos presídios federais para transferência das lideranças envolvidas nos “massacres”.

O governo do Amazonas confirmou que 46 presos foram encontrados mortos em celas de três presídios do Estado nesta segunda-feira, 27.

As mortes, segundo a secretaria estadual de Administração Penitenciária (Seap), ocorreram por enforcamento no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat), na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP) e no Centro de Detenção Provisória Masculino (CDPM I), em Manaus.

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Agentes do Grupo de Intervenção Prisional (GIP) e do Batalhão de Choque da Polícia Militar fazem nesta segunda revista e a recontagem dos presos. Um inquérito será aberto para investigar os homicídios.

As mortes ocorrem um dia depois que 15 detentos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, foram assassinados. (Com Agência Brasil)

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, defendeu, hoje (6), que as empresas brasileiras contratem pessoas que cumprem pena ou que deixaram o sistema prisional. Para o ministro, é importante que os empresários ofereçam oportunidades aos presos que buscam uma oportunidade de se reinserir na sociedade por meio do trabalho e do estudo.

"Temos que acreditar na ressocialização do preso. Este é um objetivo importante. Nunca podemos perder a fé e a esperança de que as pessoas podem se redimir. E uma das melhores maneiras é dar uma oportunidade para estas pessoas”, disse o ministro durante a cerimônia de entrega do Selo Resgata a 198 empresas de 15 estados. Juntas, estas empresas contratam 5.603 pessoas. No primeiro ciclo de certificação das companhias, em 2017/2018, 112 instituições receberam o selo. A maioria delas, órgãos públicos. A expectativa do ministério é ampliar este número para mil empresas em 2020 e atrair mais empresas privadas.

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Lançado pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública no fim de 2017, o selo é uma estratégia federal de estímulo às empresas públicas e privadas, bem como a órgãos públicos e empreendimentos de economia solidária, para que contratem pessoas privadas de liberdade que estejam cumprindo penas alternativas ou que já tenham deixado o sistema prisional.

A contratação dos presos é feita por meio de convênios que as empresas habilitadas a apoiar o trabalho de ressocialização assinam com os governos dos estados onde atuam. A certificação da habilitação é a obtenção do próprio Selo Resgata. Para obtê-lo, a empresa tem que contar com entre 1% e 3% de presos no total de mão de obra contratada, mediante o que, recebem algumas vantagens, como redução das despesas trabalhistas.

Presente à cerimônia de habilitação de mais 198 empresas, o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Fabiano Bordignon, lembrou que a Lei de Execução Penal prevê que os presos trabalhem, não podendo, em nenhuma circunstância, receber menos que 75% do salário-mínimo (R$ 998), não tendo algumas das garantias trabalhistas. Deste valor, um percentual pode ser descontado a título de custeio das unidades prisionais, como já acontece em Santa Catarina, apontado como um estado-modelo.

Para Bordignon, o maior benefício para os presos é a possibilidade de reduzir sua pena, já que, a cada três dias de trabalho, um dia é abatido da sentença a cumprir. “A Lei de Execução Penal diz que o preso condenado é obrigado a trabalhar. Claro que tratamos isto como um direito, já que a maioria dos detentos do Brasil quer trabalhar. A dificuldade é que dar trabalho para os presos dá trabalho. Então, precisamos criar estruturas nas unidades prisionais para que elas recebam parte deste trabalho”, comentou o diretor do Depen, admitindo que um dos desafios à iniciativa é o convencimento de mais empresas privadas.

“Temos que romper um certo preconceito. Também precisamos classificar melhor os presos para que as empresas saibam que podem recebê-los. A Lei de Execução Penal prevê as Comissões Técnicas de Classificação para fazer isso, mas, hoje, com as estruturas prisionais, a deficiência de servidores e de sistemas informatizados, isso é uma dificuldade”, pontuou o diretor-geral do Depen.

Microempresário do ramo da construção civil, José Geraldo Rosa Júnior era o responsável por um dos estabelecimentos que receberam o selo. Embora esteja afastado da direção da empresa, ele compareceu à cerimônia e garantiu que repetiria a experiência encerrada em 2018.

“Para nós, empresários, é uma maravilha; uma vantagem”, disse Júnior, revelando àAgência Brasil que os custos com a contratação de um apenado podem chegar a ser 65% inferiores aos de outro trabalhador. O que lhe permitiu, inclusive, vencer licitações para fornecer serviço a órgãos públicos. “Eu fiz um teste com alguns reeducandos e consegui êxito porque o meu valor [do serviço] era menor porque minha mão de obra era mais barata”, acrescentou o microempresário que chegou a ter sete apenados entre seus funcionários.

“Nunca tive problemas. Até porque, quando você dá uma oportunidade para eles, eles te vêm como um amigo e dão o seu melhor. Eles costumavam chegar antes do horário e, geralmente, eram os últimos a sair”, comentou o microempresário, explicando que o contrato que assinou com a Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap), do Distrito Federal, previa que, caso houvesse algum problema, a entidade prestaria todo o auxílio necessário – o que nunca foi necessário.

A morte de três detentos por meningite chamou atenção na semana passada para a questão da saúde nos presídios do Rio de Janeiro. Um levantamento realizado pelo Mecanismo para Prevenção e Combate à Tortura, órgão vinculado à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), revela que as mortes nas unidades prisionais fluminenses aumentaram 114% em sete anos, subindo de 125 em 2010 para 268 em 2017 - a maior parte delas relacionadas a doenças.

De acordo com a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap), os casos de meningite já estão controlados. O estudo, porém, revela que as maiores preocupações se relacionam a outras enfermidades. Cita que há "um colapso" no controle da tuberculose - há registro de um detento que foi reinfectado sete vezes -, violência obstétrica antes e durante partos e a ausência de audiências de custódia para presos hospitalizados.

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O órgão aponta que há "uma cadeia de decisões institucionais" que acabam não garantindo o atendimento à saúde aos presos. Dados do estudo foram apresentados na última segunda-feira (15), durante uma audiência pública convocada pela Comissão de Direitos Humanos da Alerj após os casos de meningite. No encontro, representantes de diferentes instituições e órgãos públicos concordaram com a necessidade de melhorar o quadro da saúde do sistema prisional.

"Estamos falando só dos que morreram dentro do sistema prisional. Tem os que morrem depois porque saíram debilitados. Tem os que saem com pulmões praticamente sem funcionar. E a maioria dessas mortes poderiam ser evitadas. As pessoas não estão morrendo porque estão sendo massacradas umas pelas outras. Não são mortes violentas. Elas estão morrendo em decorrência de problemas de saúde simples, que se complicam", diz Alexandre Campbell, um dos responsáveis pelo estudo.

Desde 2007, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro já moveu 18 ações civis públicas relacionadas com a violação do direito à saúde nas unidades prisionais do estado. Em uma delas, foi anexada um estudo que investigou 83 mortes entre abril de 2014 e abril de 2015, 64% delas por tuberculose, pneumonia e sepse de foco de pulmonar. De acordo com o estudo, 30 tinham "registros de cachexia e mal estado nutricional em seu laudo cadavérico". Do total, 57,8% tinham menos de 40 anos. O estudo questiona se quando ingressam no sistema prisional, é identificado se os pacientes têm hipertensão ou diabetes, por exemplo, e se são feitos exames periódicos e aferição da pressão.

"Me parece que o problema muitas vezes não é o medicamento. É a detecção da doença. E nesse caso estamos falando de um problema que não está ligado a recursos materiais, e sim a recursos humanos", diz o defensor público Marlon Barcelos.

Queda no número de profissionais

Dados da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) apontam que, em 1998, o Rio tinha 18 mil presos. Passados 20 anos, esse número saltou para 54 mil. Nesse mesmo período, o número de profissionais de saúde para atender os presos caiu de 1,2 mil para 450. O órgão, que está sob nova gestão desde o início do ano com a posse o governador Wilson Witzel, reconhece o cenário.

"No passado, a saúde prisional do estado do Rio de Janeiro tinha excelência reconhecida nacionalmente, com hospitais que inclusive faziam complexas cirurgias e atendimentos aos privados de liberdade. Infelizmente, a população carcerária multiplicou-se por três e o quadro técnico da saúde prisional foi praticamente dividido em três. As perdas do sistema de saúde prisional não foram somente materiais e não atingiram somente detentos. Atingiram também o corpo funcional, que não é reposto há anos. E não existe mais um plano de cargos e salários para estes funcionários", diz Nice Carvalho, coordenadora de gestão em saúde penitenciária da Seap.

Mesmo com a situação financeira crítica do estado, a coordenadora estabelece metas, tais como a redução dos casos de tuberculose, a estruturação da atenção à gestante, a implantação de sistemas informatizados, a regulamentação funcional e a recuperação da estrutura. Entre medidas adotadas nos primeiros 100 dias de governo, Nice Carvalho cita a busca por recursos junto ao governo federal e ajustes para melhorar a qualidade do atendimento na UPA do Complexo Penitenciário de Gericinó.

"Foi assinado agora com o município um acordo para o preso poder sair para trabalhar. Vai reformar escolas, vai reformar hospitais. O município vai bancar e o preso poderá melhorar a situação de sua família. O apenado, o paciente, o preso tem que sair muito melhor do que ele entrou. E é isso o que nós queremos. Peço desculpa pelo Estado, não pela gente", acrescentou.

Desestruturação

Por volta dos anos 2000, o sistema penitenciário do Rio de Janeiro era de fato bem avaliado na visão da pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Alexandra Sanches. De lá para cá, porém, o crescimento do encarceramento, a desestruturação das unidades e a adoção de políticas na contramão do que indicavam estudos acadêmicos contribuíram para a mudança do cenário. "É possível ter um sistema prisional que funcione, que respeite os direitos humanos e ofereça um serviço de saúde da mesma qualidade do que é oferecido fora dos presídios. Essa é a meta constitucional", diz a pesquisadora.

Segundo a pesquisadora, as ocorrências de tuberculose entre presos, que já eram preocupantes, cresceram após o fechamento do Complexo Penitenciário da Frei Caneca, na região central do Rio, implodido em 2010. As unidades de saúde que funcionavam no local não foram realocadas no Complexo Penitenciário de Gericinó, o maior do estado, localizado no bairro de Bangu, na região oeste da capital fluminense. "A solução achada foi a colocação de uma UPA [Unidade de Pronto Atendimento] que obviamente não substitui os hospitais clínicos que fazem investigação clínica, hospitalização, tratamento".

O quadro, de acordo com a pesquisadora, se deteriorou ainda mais a partir de 2016, quando o Hospital Albert Schweitzer, até então gerido pelo estado, foi municipalizado. "Deixaram de aceitar os pacientes do sistema penitenciário". Ela lamenta que a tuberculose, embora seja uma doença de diagnóstico e tratamento fácil, seja a principal causa de morte entre os presos do Rio de Janeiro.

De acordo com o estudo do Mecanismo, a UPA no Complexo Penitenciário de Gericinó fica isolada e não está articulada com o restante do sistema de saúde, dificultando o encaminhamento dos pacientes. "Primeiro já é difícil conseguir que o nome dele vá para o ambulatório. E o que estamos chamando de ambulatório é uma sala pequena que as vezes tem só um técnico de enfermagem. E esse técnico, sem enfermeiro e sem médico, não pode fazer nada. O que ele faz é encaminhar para a UPA. E, nos casos que demanda deslocamento a um hospital fora da unidade prisional, o detento é massacrado em um veículo até o hospital. Nem sempre é atendido. Fica em uma sala de espera que pode ser até mais massacrante que a cela onde ele estava. E depois faz o caminho inverso. Todas as vezes que tem um problema ele passa por isso", relata Alexandre Campbell.

A construção de uma unidade hospitalar para atendimento dos internos de Gericinó é considerada uma medida urgente pelo defensor público Marlon Barcelos. Ele pede que o Executivo assuma a responsabilidade, mas também destaca que decisões judiciais têm permitido que unidades prisionais recebam mais pessoas que o número de vagas, contrariando a Súmula Vinculante 56 do Supremo Tribunal Federal (STF), que determina que "a falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso".

Repasses

O Fundo Penitenciário Nacional (Funpen), administrado pelo Ministério da Justiça, destinou R$ 44,8 milhões a cada unidade da Federação em 2017. No ano passado, a distribuição dos recursos deixou de ser igualitária e passou a considerar alguns fatores, entre eles a população carcerária de cada estado. Com a mudança, apenas o valor destinado à São Paulo subiu. Os demais estados receberam menos recursos na comparação com o ano anterior.

A falta de transparência sobre a aplicação desses repasses é um dos principais problemas na visão da psicóloga Márcia Badaró, integrante do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro (CRP-RJ) e do Fórum Permanente de Saúde do Sistema Penitenciário do Rio de Janeiro.

"O dinheiro veio, mas onde foi aplicado? Conforme a legislação, é para obras de restauração, adaptação e inclusive para assistência social e médico-hospitalar. É um fundo que não tem um colegiado como gestor. É preciso se movimentar para ver como isso está sendo aplicado. E outra fonte de recursos, segundo a lei, é o dinheiro arrecadado nas cantinas dos presídios e nós sabemos que aí também há problemas", diz.

Karen Athie, superintendente de atenção psicossocial e populações em situação de vulnerabilidade da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES-RJ), afirma que o cenário deve melhorar com a retomada das discussões em torno da Política Nacional de Segurança Pública (Penasp), instituída no ano passado pelo Ministério da Justiça. "Houve um vácuo nos últimos anos. Sabemos que a gestão anterior declaradamente não apoiava a política, o que era um dificultador do processo, diferente do que ocorre agora. A gente entra nessa gestão com os primeiros 100 dias já tendo feito, a cada mês, uma atividade do grupo condutor da Penasp no Rio". Ela informou que os municípios do Rio de Janeiro, Volta Redonda, Japeri e Itaperuna já concordaram em aderir à Penasp.

A Semana Santa está sendo celebrada em algumas unidades prisionais do estado de Pernambuco com diversas atividades. Os detentos estão tendo a oportunidade de acompanhar missas e encenações teatrais da Paixão de Cristo. Além disso, muitos deles tornaram-se atores para contar a história de Jesus.

O Presídio Ronildo da Rocha Leão (PRRL), em Palmares, Zona da Mara Sul, realizou na última terça (16) a apresentação da Paixão de Cristo. O espetáculo foi produzido pela Escola Padre André Coopman, que funciona na unidade prisional, e contou com a participação de 28 detentos. A encenação ocorre no PRRL desde 2014.

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Já no Presídio de Vitória de Santo Antão (PVSA), foi encenada a Missa de Lava Pés - um rito religioso em que Jesus lava o pé direito de 13 discípulos. A unidade também recebeu um culto de Páscoa, realizada em apoio da Pastoral Carcerária e da Igreja Batista do município. Na Região Metropolitana, o Presídio Marcelo Francisco de Araújo (PAMFA), no Complexo do Curado, promoveu a peça da SAnta Ceia. E no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (HCTP), em Itamaracá, houve uma palestra sobre o período pascal com um representante do Mosteiro do Discípulo Amado, de Abreu e Lima.

Aparelhos celulares apreendidos nas entradas e revistas de unidades prisionais em Pernambucos serão destinados para estudantes de cursos de tecnologias sustentáveis, do Centro de Recondicionamento de Computadores do Recife (CRC). As entregas serão realizadas pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH).

Segundo a SJDH, cerca de 600 celulares, apreendidos de janeiro a março deste ano pela Secretaria Executiva de Ressocialização (Seres), serão triturados. Os pedaços das peças serão utilizados durante aulas de robótica de alunos do ensino médio de escolas públicas. A previsão é que cerca de 40 jovens sejam beneficiados.

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A proposta é garantir o correto descarte dos aparelhos, conforme orientações da Política de Resíduos Sólidos. Nesta quarta-feira (17), um termo de cooperação técnica será assinado pelo secretário da SJDH Pedro Eurico e representantes do CRC, para a realização do procedimento.    

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, atribuiu hoje (27) a dificuldade para reforma e construção de novos presídios no país à incapacidade técnica dos estados e do Distrito Federal para elaborar projetos e à falta de capacidade do ministério de analisar propostas nesse sentido.

“Temos dados que apontam que, desde 2016, foram passados quase R$ 2 bilhões da União pelo Funpen [Fundo Monetário Nacional] a estados e ao Distrito Federal para construção e reforma penitenciária. Mas, dado que nós levantamos no final do ano passado, 27% apenas dessa verba haviam sido executados”, afirmou o ministro, ao participar de audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

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Segundo Moro, faltam engenheiros. “Temos hoje três engenheiros do Depen apenas, queremos contornar esse problema com uma autorização legislativa para contratar temporariamente engenheiros para se poder dar vazão a esse problema”, disse.

Uma das alternativas, de acordo com o ministro, é fazer modelos pré-prontos de estabelecimentos penitenciários. Assim, os estados que queiram construir uma penitenciária poderiam escolher um projeto já existente numa espécie de catálogo. “A ideia é que nós tenhamos ainda no ano 2019 pelo menos dois projetos padrões e, até o final da gestão, termos um rol de projetos bem maior.”

Coaf

Sobre o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), que passou a integrar sua pasta, Sergio Moro disse que o órgão continua a ser de inteligência, e não de investigação. “Não existe nenhum plano de transformá-lo num órgão policial, mas nós ampliarmos a estrutura dele, ele estava um tanto quanto negligenciado no Ministério da Fazenda anterior por questões provavelmente fiscais e de dificuldade de recursos humanos. Nós o estamos reforçando”, explicou, ao acrescetar que a equipe passou de 31 para 64 pessoas, transferidas da área administrativa para a área fim.

Combate ao crime

Aos senadores, o ministro da Justiça destacou ainda o aumento de oito para 42 agentes no número de policiais federais que investigam políticos e demais autoridades com foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). A forças-tarefa e equipes policiais da Lava Jato em Curitiba, Rio de Janeiro,São Paulo e Brasília também foram reforçadas.

O massacre de 126 detentos há quase dois anos em três presídios brasileiros não foi suficiente para impulsionar mudanças significativas nesses locais. Superlotadas, as unidades prisionais em Manaus, Boa Vista e de Alcaçuz, na Grande Natal, ainda convivem com uma rotina de violações distante de representar o efetivo controle e a adequada assistência do Estado aos detentos. No caso da prisão potiguar, há até relatos de agressões a presos.

Relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura, órgão do Ministério dos Direitos Humanos, aponta que os três Estados cumpriram menos de 5% das 185 recomendações feitas visando a melhorar a estrutura das cadeias, garantir direitos dos apenados e apurar devidamente a responsabilidade dos massacres, reparando os parentes das vítimas.

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Os peritos, que visitaram os presídios logo após as mortes e voltaram neste ano, constataram diversos problemas. Em Alcaçuz, onde 26 detentos foram assassinados, a rotina imposta pelos agentes do local configura, segundo os especialistas, tortura física e psicológica semelhante à notada na cadeia de Abu Ghraib, no Iraque.

Dizem os peritos que a rotina de revistas em Alcaçuz expõe os detentos a nudez. Os procedimentos de abordagem dos agentes, em que detentos não podem olhar ou se dirigir a eles, e os relatos de "agressões preventivas" criam "ambiente de profundo constrangimento e humilhação, que agride a autoestima", e provoca "intenso sofrimento psíquico" do preso. Há recorrentes relatos de violência nos dedos e nas mãos como castigo ou prevenção a eventuais reações dos presos em casos de conflito.

Além disso, no Rio Grande do Norte e em Roraima há presos apontados pelos peritos como desaparecidos, pois estavam na prisão no momento dos massacres, mas não foram dados como mortos nem considerados foragidos. São 15 nessas condições em Alcaçuz, mas o número pode subir para 32, pois para outros 17 o Estado não explica os elementos que o levaram a considerá-los foragidos. Em Roraima, são sete nessa situação.

Segundo o relatório, que será divulgado nesta quarta-feira (28), após as mortes nas prisões, foram repetidas "soluções paliativas e ações reativas, com maior ênfase em afastar-se de suas responsabilidades sobre os massacres do que em dar conta das questões que envolvem os grupos vitimados". Ainda conforme o documento, "a visão e a determinação para sair do ciclo vicioso de repressão-violência não se colocaram como prioritárias".

Os peritos dizem não ter observado resultado satisfatório quanto à apuração e responsabilização dos casos. No Amazonas, mais de 200 pessoas foram denunciadas à Justiça pelo envolvimento com as mortes. Mas nos outros dois Estados, as apurações pouco caminharam. Destacam ainda que nenhuma investigação dedicou atenção ao papel de gestores nas causas dos ataques - desde as diretas, como a facilitação da entrada de armas, até indiretas, como a precariedade das prisões.

Esquecidos

"O Estado tem baixa capacidade de resposta tanto em situações de crise como no desenvolvimento de políticas mais estruturais para a área. No momento dos massacres, foram tomadas medidas de urgência, mas o assunto acabou esquecido tempos depois", disse a coordenadora-geral do Mecanismo, Valdirene Daufemback.

Apesar desse cenário, verbas milionárias repassadas pelo Fundo Penitenciário, fonte federal de receita, têm sido subutilizadas. Em dezembro de 2016, a União enviou cerca de R$ 44 milhões a cada Estado; o Rio Grande do Norte aplicou 17% da verba, o Amazonas, 14,8%, e Roraima, 2,8%. Em 2017, foram mais R$ 21 milhões. O governo potiguar gastou 4,5% e os Estados do Norte não aplicaram nenhum centavo da verba até outubro deste ano, segundo dados do Ministério da Segurança.

A pasta não comentou o relatório. O Estado do Amazonas destacou as melhorias em infraestrutura e realização de revistas. Procurados pela reportagem, Roraima e Rio Grande do Norte não se manifestaram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Justiça de São Paulo determinou a transferência de pelo menos seis integrantes da cúpula da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) a um presídio federal. Os envolvidos foram investigados pela Operação Echelon, que apontou o controle de negócios da facção por detidos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior paulista.

Nas decisões, o juiz Paulo Sorci, da 5.ª Vara de Execuções Criminais de São Paulo, cita as atividades realizadas pelos detentos no presídio. "O grupo criminoso mantém em andamento projetos de tomada de pontos de vendas de drogas que estão sob controle de facções rivais, mantém o propósito de cometer assassinatos e, inclusive, idealizaram os atentados contra agentes públicos e prédios públicos no início de junho de 2018 nos Estados de Rio Grande do Norte e Minas", escreveu o juiz. "Como se verifica, o grande objetivo desse núcleo criminoso está na disseminação do modo de agir da facção criminosa autodenominada PCC, para os demais Estados brasileiros."

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As decisões foram assinadas entre o dia 19 de outubro e o dia 15 deste mês e referem-se a Cláudio Barbosa da Silva, o Barbará, Almir Ferreira, o Nenê da Simioni, Reginaldo do Nascimento, José de Arimateia Pereira, Cristiano Gangi e Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden (foto abaixo).

Os presos citados nas sentenças chefiavam a célula do PCC encarregada de expandir os negócios da quadrilha fora de São Paulo. Eles haviam assumido a função após outros 14 detentos, incluindo o líder do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, terem sido transferidos para o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), área de isolamento no presídio de Presidente Bernardes, também no interior paulista, no ano passado.

As sentenças proferidas por Sorci são desdobramentos da Echelon e não têm relação com um pedido feito à Justiça este mês pelo Ministério Público Estadual (MPE) para transferir chefes do PCC a presídios federais. Em outubro, a polícia descobriu um plano de resgatar a cúpula da facção da penitenciária em Presidente Venceslau - até o aeroporto da cidade foi fechado para impedir essa ação.

O Estado cogitou transferir os líderes do PCC, mas a ideia dividia opiniões dentro do governo paulista. O Primeiro Comando é a única organização do crime organizado no Brasil cujos membros da cúpula não estão em um presídio federal.

Salves

Nas sentenças, Sorci cita a troca de mensagens entre os detentos. "Descobriu-se que aqueles presos 'escolhidos' escreviam 'mensagens', conhecidas como 'salves', que deveriam ser enviadas para líderes que se encontravam livres (foragidos e libertados), sendo que outros detidos codificavam os bilhetes."

A investigação que culminou na Echelon, deflagrada pela Polícia Civil e pelo MPE em junho contra membros do PCC, partiu de uma "pescaria" feita nos dutos de esgoto das raias da Penitenciária 2. A interceptação das mensagens foi feita com a instalação de telas.

A investigação também apontou a existência de ordens para matar policiais e agentes penitenciários. Para o juiz, mesmo detidos em penitenciária de segurança máxima, houve "práticas delitivas gravíssimas", o que justificaria a transferência.

O juiz determinou a transferência dos detentos pelo prazo de 360 dias. Procurada pela reportagem nesta quarta-feira, 21, a Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) não quis se manifestar sobre as sentenças. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Militar da Paraíba prendeu nesta segunda-feira, 10, dez pessoas suspeitas de ligação com a fuga em massa na penitenciária de segurança máxima Romeu Gonçalves Abrantes, o PB1, em João Pessoa. A quadrilha estava em um flat na praia de Manaíra, na capital paraibana. Segundo o comandante-geral da PM, coronel Euller Chaves, os cinco homens e cinco mulheres são da cidade de Campina Grande, no interior do Estado, e com eles foram encontradas armas, munições e drogas.

A ação no presídio tinha como objetivo libertar quatro homens que foram presos no mês passado, suspeitos de integrar uma quadrilha especializada em roubos a bancos e carros-fortes. Eles haviam sido presos em Lucena, na região metropolitana de João Pessoa, após atacarem uma equipe que fazia transporte de valores na BR-230, próximo à cidade de Cruz do Espírito Santo.

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Até as 19h, a Secretaria de Administração Penitenciária (Seap) havia informado que 49 foragidos já foram recapturados. Pela manhã, o órgão havia divulgado que 105 presos fugiram, mas depois de uma recontagem o número foi corrigido para 92.

Governador diz que polícia não tem como reagir

O governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), admitiu que a Polícia Militar não tem como reagir a ataques como o que aconteceu no presídio PB1. Ele disse que as armas que a quadrilha utilizou na ação possuem as mesmas características das que são usadas por terroristas e, por isso, as forças de segurança do Estado não possuem liberação.

"É um ataque de uma organização criminosa utilizando recursos de terrorismo, que usa armas proibidas até para a polícia. As polícias não podem ter essas armas, mas aqui no Brasil os criminosos comumente têm acesso. Tem coisas que você consegue evitar e tem coisas que não são possíveis", falou.

O Ministério Extraordinário da Segurança Pública e o da Saúde firmaram um acordo para garantir o repasse de R$ 27,5 milhões do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen) para atividades de combate à tuberculose em presídios brasileiros.

O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) informou que a proposta é aumentar a campanha de educação em saúde para a comunidade carcerária, com os objetivos de tornar mais visível a doença no sistema prisional, sensibilizar o diagnóstico precoce e o tratamento apropriado e diminuir o estigma e o preconceito.

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De acordo com o secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Osnei Okumoto, a população carcerária corresponde a 10,5% dos novos casos da doença registrados no país, além da chance de um preso contrair a doença ser 28 vezes maior do que a população em geral.

Segundo a coordenadora-geral de Promoção da Cidadania do Depen, Mara Fregapani, a campanha será realizada em mais de 1.440 unidades prisionais. Além disso, as ações serão voltadas para familiares de presos e profissionais que trabalham nas unidades.

Dezenas de presos se amontoam no corredor de um presídio formando uma longa fila que termina em uma mesa servida fartamente com 146 linhas de cocaína. Um a um, os presos a aspiram em meio a um clima de festa e ostentação.

Essas imagens, registradas com o celular por um detento e publicadas nas redes sociais, integram uma antologia alucinada de vídeos divulgados nos primeiros dias de 2018, pouco depois do assassinato de nove reclusos em uma penitenciária de Goiás, que voltou a trazer à tona o descontrole do sistema penitenciário brasileiro.

A rebelião começou em 1º de janeiro, exatamente um ano depois do massacre de 56 internos em um presídio de Manaus, que deu início a um ano com muitas mortes nas prisões.

O Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo: 726.712 presos, segundo os últimos dados oficiais de junho de 2016. Com edifícios anacrônicos e superlotados, escasso orçamento e a metade dos detentos sem pena definitiva, o Estado foi perdendo o controle para as facções criminosas.

Marcos Fuchs, diretor da ONG Conectas, dedicada a cuidar dos direitos humanos, considera que 75% dos centros de detenção são controlados pelo crime organizado.

"O Estado não cuida do preso, não zela pela saúde dele, coloca mais presos dentro da unidade, ele perde o controle. Perdendo o controle, quem manda é um comando paralelo", disse ele à AFP.

"Não há scanners corporais, funcionários treinados, tem corrupção, tolerância de permitir a entrada de celulares, bebida alcoólica, drogas. E aí tem essas imagens feitas pelo próprios presos para que o Brasil veja", acrescentou.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, reconheceu o vácuo de autoridade.

E ele sabe do que fala. Em 2017, o Exército apreendeu 10.882 armas em 31 prisões que alojavam 22.910 internos. Uma a cada dois presos.

"A metade da população (carcerária) brasileira está armada. É um absurdo incompreensível e evidentemente isso maximiza os massacres e a violência", assinalou.

Durante essas apreensões, que usaram equipamentos de segurança dos Jogos Olímpicos de 2016, foram encontrados quase 2.000 celulares e drogas em abundância.

- (In)segurança -

Os massacres de 2017 deixaram mais de 100 presos mortos em uma guerra travada dentro dos presídios de todo o país entre as facções Primeiro Comando da Capital (PCC), originária de São Paulo, e Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.

O ano de 2018 também começou violento.

Os nove internos assassinados em Goiás despertaram o temor de outras ações de violência, mas a crise foi sufocada depois de três rebeliões.

Durante o motim, 243 presos escaparam e a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, teve que cancelar a sua visita à prisão na segunda-feira porque não podiam garantir a sua segurança.

As imagens que circulam na Internet incluem festas regadas a álcool e drogas em plena luz do dia, registros de homicídios e fugas, como a filmada na prisão de Luziânia, em Goiás, na qual dois homens forçam as grades de uma cela até abrir espaço para que 10 detidos saíssem.

Para Julio Waiselfiz, coordenador do programa de estudos sobre violência da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, o problema excede os muros das prisões.

"Nada indica que os problemas vão acabar. Haverá novas rebeliões e massacres dentro e fora das cadeias porque a crise de segurança não é exclusiva dos presídios", disse.

O Brasil registrou 61.619 homicídios em 2016, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O dado superou o que em 2015 levou o Instituto Igarapé, dedicado à questão da segurança, a listá-lo como o país com mais assassinatos no mundo.

"O Estado não tem respostas, não tem políticas para conter essa violência", acrescentou o sociólogo.

- Votos -

Após as rebeliões de 2017, o presidente Michel Temer anunciou a construção de novas prisões.

Esses centros separarão os presos por crimes menores dos criminosos mais perigosos - algo que não ocorre atualmente - e terão bloqueadores de celulares, que além de servirem para divulgar os festas carcerárias, são usados para comandar operações criminosas.

Investimento e segregação por periculosidade são parte das soluções propostas por especialistas, junto com mudanças na Justiça e na política.

"Os juízes acham que a solução é privar de liberdade as pessoas. Teríamos que ter juízes mais criativos, aplicando penas com uso maior de tornozeleira, regime aberto e ter menos presos provisórios", disse Fuchs.

"Vamos ser sinceros, essa não é uma pasta que seja popular e dê votos. Nenhum governante que fala que vai cuidar do sistema prisional vai ganhar votos", encerrou.

O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que o Exército restabeleceu a segurança no Rio Grande do Norte e que o fato de o Estado ter decretado estado de calamidade no Sistema de Segurança Pública "não muda nada" no trabalho que está sendo feito. "O estado está seguro pelo Exército. A segurança está conosco e a situação está normal", disse.

A Operação de Garantia da Lei da Ordem (GLO) no Estado, denominada de Potiguar III, garantiu ao Rio Grande do Norte a presença de 2,8 mil homens do Exército desde o último dia 29. Segundo o ministro, não há previsão de aumento de efetivo.

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No dia 1º, quando apresentou um balanço dos primeiros dias da operação no Estado, o ministro afirmou que a segurança proporcionada pela presença das Forcas Armadas pôde ser comprovada na festa da virada do ano nas ruas. "Nós prometemos trazer tranquilidade, trouxemos. Nós prometemos restaurar a ordem, ela está restaurada", disse o ministro na ocasião.

Jungmann ressaltou, no entanto, que o apoio das Forças Armadas é uma situação extraordinária. "As Forças Armadas não podem ficar permanentemente, nem aqui, nem em nenhum outro Estado. Primeiro, porque a Constituição não permite. Em segundo lugar, o custo é muito elevado", destacou. "Nós sabemos que existem outros custos, mas esta (a segurança pública) é uma atribuição do Estado do Rio Grande do Norte e compete ao Estado restaurar de forma permanente", destacou o ministro.

Crise financeira e greve

O Rio Grande do Norte tem atravessado uma crise financeira e, com o decreto de calamidade, o Estado pode pleitear mais recursos. Durante a coletiva no dia 1º de janeiro, o ministro da Defesa anunciou que o governo federal liberou R$ 225 milhões para o Rio Grande do Norte para que salários atrasados possam ser quitados.

Ele destacou ainda a decisão do desembargador Cláudio Santos, do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte (TJRN), que determinou que os comandantes da Polícia Militar, do Corpo de Bombeiros e o delegado-geral da Polícia Civil do Estado prendam os policiais responsáveis "por incitar, defender ou provocar" a paralisação iniciada no último dia 19.

Os governos estaduais utilizaram apenas R$ 45 milhões do Fundo Penitenciário Nacional liberado em dezembro de 2016, ou 3,72% de R$ 1,209 bilhão. Isso é o que mostra relatório do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), do Ministério da Justiça, obtido pelo jornal O Estado de S.Paulo. Os recursos foram liberados no mês anterior ao massacre de mais de cem detentos em penitenciárias do País em janeiro.

O período para utilizar a verba terminava no fim de 2017, mas uma portaria do ministério publicada neste mês prorrogou o prazo para o fim de 2018.

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Os recursos, de R$ 44 milhões para cada Estado, foram enviados principalmente para que os governos locais criassem 23.540 vagas no sistema penitenciário. No entanto, de R$ 862,4 milhões para obras, apenas R$ 11,8 milhões haviam sido usados. Quatro Estados sequer apresentaram projeto.

A verba foi liberada direto do fundo nacional para os fundos estaduais, mesmo sem a existência de um projeto, com a ideia de desburocratizar. Em planos anteriores, houve entrave na assinatura de convênios.

Quando os projetos chegaram à pasta, porém, muitos foram rejeitados. Foi o que aconteceu com 21 dos 71 projetos que haviam chegado até novembro. Apenas sete, ou 10%, haviam sido aprovados. A maior parte, no entanto, ainda estava em análise pela pasta. Essa era a situação de 27 deles.

Desafio

Uma dificuldade apontada por secretários estaduais é a rigidez das normas técnicas exigidas para os projetos. Neste mês, essas regras foram flexibilizadas, o que agradou aos Estados. Mas houve críticas de especialistas, que veem problemas na retirada da obrigação da presença de espaços de educação e trabalho.

O Depen diz, no documento, que "tem feito questionamentos por meio de ofício na busca da otimização da execução dos recursos, em relação a não apresentação de projetos". As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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