Enquanto as alternativas de lazer no Bairro do Recife são priorizadas pela Prefeitura (ciclofaixa aos domingos, transformação da Avenida Rio Branco em via exclusiva de passeio), a realidade de pessoas que residem no bairro continua em segundo plano. Após realizarem protesto em frente à sede da Prefeitura, em fevereiro, moradores da comunidade do Pilar seguem à espera de soluções.
Iniciada no ano de 2010, a construção do conjunto habitacional do local ainda não foi concluída. A reportagem do Portal LeiaJá visitou a comunidade, nesta terça-feira (1°), e constatou: não há um operário em atividade e as obras estão completamente paradas. Entulhos, telhas empilhadas e o mato crescido reforçam o cenário de abandono no terreno. Segundo os moradores, nenhum trabalhador aparece na construção há muito tempo.
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“Depois do protesto, entregaram uma parte deste segundo bloco e pronto, mais nada. Muitas pessoas que tiveram seus barracos destruídos ainda não foram alojadas e nem receberam auxílio-moradia. Só fica um vigia aí na obra, mas tudo parado, cheio de bicho, um perigo para as crianças”, disse a moradora Clementina Feliciano ao afirmar que parentes já encontraram escorpiões dentro dos apartamentos já entregues, por conta do terreno abandonado.
Outro morador, Tony Silva, que já está em um dos apartamentos prontos, afirmou que outras pessoas, de outras comunidades, estão sendo levadas para o Pilar para serem acomodados no habitacional que nunca termina. “Estamos todos revoltados. Não é porque eu já estou com meu apartamento que estou satisfeito. Cadê o colégio, a upinha, a academia que prometeram e até agora nada também?”, indaga Tony.
No projeto da Prefeitura, além do conjunto habitacional, ainda são previstos para a comunidade a construção de uma escola municipal, Unidade de Saúde da Família, mercado público, praças, espaços para atividades artístico-culturais, quadra poliesportiva, entre outras ações que tinham a promessa de “transformar a região num grande atrativo turístico”.
A culpa é de quem? De acordo com a Prefeitura, as construtoras responsáveis pela obra desistiram de continuar no local, porque estariam tendo prejuízos por causa da demora devido a uma pesquisa do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). No local, foram descobertos vários esqueletos humanos e um grupo de arqueólogos do Instituto acredita que ali existia um cemitério, aproximadamente do século 16.
Com a desistência das construtoras, uma nova licitação precisará ser aberta pela Prefeitura para a contratação de novas empresas. A Empresa de Urbanização do Recife (URB) informou que dentro de três meses as obras serão retomadas. Segundo a URB, 84 apartamentos foram entregues, de um total de 588, divididos em 17 blocos. Ainda em abril, a Empresa garante o lançamento da licitação de conclusão de três blocos com 36 unidades cada, além da escola e do posto de saúde.
Espera - A pavimentação das ruas e a construção de uma praça serão licitadas de forma separada, ainda no primeiro semestre. Apesar do prazo, a moradora Severina Santana, de 84 anos, não se conforma com a demora. “Há um ano estou morando aqui no Habitacional e é assim, com essa catinga e esse lixo todo”, aponta ao se referir ao esgoto a céu aberto na porta de casa.
Na Rua Bernardo Vieira de Melo, o morador Claudemir Nascimento abordou a equipe de reportagem. Ele estava no espaço onde, antes, era o seu barraco, demolido há mais de um ano. Atualmente, mora com conhecidos por não ter sido ainda alojado nos blocos, e exige do poder público. “Sempre estou nas reuniões com a Prefeitura e não adianta de nada. A pior coisa é você não estar na sua casa. Por isso a gente espera por uma solução”.