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Um vídeo que circula nas redes sociais mostra um policial militar do 17° BPM (Ilha do Governador) xingando moradores, fazendo ameaças e atirando para o alto durante uma operação. O caso aconteceu no último sábado (23), em uma ação policial na Vila Joaniza, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio de Janeiro. 

O vídeo mostra o policial com um fuzil na mão, dirigindo-se a um grupo de pessoas. Os moradores alegavam que um homem que havia sido atingindo e morto era inocente. As pessoas pediam que uma equipe de socorro fosse logo acionada.

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Nas imagens o agente aparece deixando a comunidade e discutindo com um morador: "Fica de graça mesmo, filho da p***", afirma o PM. "'Tá pensando o quê? Acabou a bagunça. Você vai ser o próximo", o agente xinga, enquanto dá um tiro para cima.

Conforme o Extra, a Polícia Militar informou que a 1ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) 'apura as circunstâncias e a conduta adotada pela equipe policial'. Com relação ao morto, a polícia afirma que se tratava de um criminoso atingido durante um confronto iniciado após traficantes atirarem contra os PMs.

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Por Waleska Andrade

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Com o fim do prazo para desocupação do edifício Holiday, no bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife, um Comitê Operacional foi montado para, segundo a Polícia Militar, preservar a segurança durante a retirada dos moradores. Para prestar o apoio, diversos órgãos se uniram em uma operação nesta quinta-feira (21). Os arredores da edificação serão isolados com tapumes, a fim de controlar o acesso de pessoas.

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Ainda de acordo com a PM, os residentes do Holiday que ainda não conseguiram deixar o prédio vão continuar recebendo assistência da Prefeitura do Recife, sobretudo, em relação ao processo logístico de mudança. Com agendamentos realizados pela Defesa Civil e Secretaria de Desenvolvimento Social, caminhões estão disponíveis para o transporte de móveis e encaminhamento das pessoas que serão destinadas à abrigos municipais.

A prioridade é dada aos idosos, crianças e a pessoas com dificuldades de mobilidade. Além disso, as equipes estão presentes no local para negociar a saída daqueles que se negam a cumprir a ordem judicial. De acordo com a Polícia, a prefeitura pretende encontrar uma solução pacífica para desocupar o edifício.

Nesta quinta-feira (21), apenas as pessoas deixarão as residências, enquanto seus móveis e bens serão removidos nos dias seguintes. O Edifício Holiday está voltado para a Avenida Conselheiro Aguiar e para as ruas Ribeiro de Brito e Salgueiro. Dentro desse perímetro, conforme a PM, haverá um controle de acesso, para entrada e saída de pessoas autorizadas pela coordenação da operação.

Participam do comitê operacional: a Secretaria de Defesa Social do Estado, a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros Militar, a Polícia Civil, outros órgãos e secretarias do Estado (de Saúde; de Desenvolvimento Social, Criança e Juventude; de Justiça e Direitos Humanos; Compesa; Casa Militar), Celpe e Crea.

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Com informações da assessoria

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Após o fim do prazo para desocupação, entre 50 a 60 famílias ainda permanecem no Edifício Holiday, segundo o síndico do histórico prédio do bairro de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Um número elevado de guardas municipais, a presença de um veículo de monitoramento da Secretaria de Defesa Social (SDS), além da informação de que a Polícia Militar está chegando são indícios de que eles deverão ser retirados nesta quinta-feira (21). 

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Os moradores ainda se apegam a esperança de que a primeira Câmara de Direito Público defira um agravo de instrumento protocolado pela advogada voluntária Maiza Amaral. "O desembargador relator pode decidir monocraticamente ou passar para a Câmara decidir. Foi apresentado um laudo técnico assinado por engenheiro civil com ART (atestado responsabilidades técnica) do Crea. O que consta nesse laudo é que o prédio não corre risco de desabamento", resume a advogada.

O síndico do prédio, Rufino Neto, disse temer a chegada da polícia militar. "Toda hora isso não sai da nossa cabeça. Estamos esperando ser enxotados feito marginais das nossas próprias residências", lamentou.

A moradora e comerciante Jeane da Silva, que é inquilina no 15° andar, também se mostrou abatida com a saída iminente. "A esperança está se apagando. A gente está com vontade de lutar, mas agora falta pouco tempo. Já acabou o prazo. A gente está no automático agora", diz.

Ela continua: "não é fácil sair assim, como se fosse um bandido. Eu nunca me senti tão humilhada. Como esse povo que não tem para onde ir ou idade para se mudar, eu me sinto um lixo".

Jeane culpa a prefeitura do Recife pela situação. "Do jeito que Geraldo Julio promoveu força-tarefa para jogar as pessoas fora, ele poderia de fato ajudar, fazer força-tarefa para reerguer o quadro de energia. Fico sem entender como eu, que sou pobre, consigo me sensibilizar mais do que quem tem o poder", completa.

As deputadas das Juntas (Psol) estiveram no local e informaram que vão dar entrada hoje com um pedido de tombamento do edifício no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). "É um prédio histórico. Queremos garantir que ele fique de pé", destaca a deputada Carol Virgulino.

O arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, realiza uma reunião emergencial, nesta segunda-feira (18), para discutir alternativas para os moradores do Edifício Holiday. No último domingo (17), o arcebispo celebrou uma missa na capela Nossa Senhora das Graças, localizada na área externa do Holiday.

Foram convidados para a reunião representantes da sociedade civil, do poder público, autoridades locais, além de moradores do imóvel. O encontro ocorrerá na Cúria Metropolitana, no bairro das Graças, às 15h.

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Segundo a Arquidiocese, o arcebispo não se opõe à medida judicial de interdição e de desocupação do prédio e entende que ela foi necessária para preservar vidas. "No entanto, a convocação do arcebispo metropolitano para a reunião desta segunda-feira reflete a preocupação da Igreja Católica no tocante à garantia dos direitos dos moradores do Edifício Holiday", diz nota.

Constam na pauta da reunião as seguintes propostas: apoio às famílias de proprietários residentes que não disponham de meios para a locação de imóvel até que sejam sanados os problemas motivadores da ordem de desocupação; garantia de imóveis desocupados até a volta de seus proprietários; convocação de entidades e órgãos com expertise em projetos de engenharia, para sanar os riscos motivadores da ordem de desocupação; estudo de financiamento das obras necessárias.

Na missa do domingo, Saburido cobrou mobilização da sociedade. “Convidamos quem possa contribuir para a solução desta problemática enfrentada pelos moradores. Vi lá fora da capela o síndico do prédio chorando, aflito, por não ter para onde ir, com a sua família. É papel da igreja e da sociedade lutar contra a indiferença ao sofrimento humano", afirmou. A decisão judicial colocou prazo para desocupação do prédio até a próxima quarta-feira (20). Segundo o síndico do Holiday, Rufino Neto, cerca de 70% dos moradores já haviam deixado o prédio no domingo.

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 Após 8 dias sem energia e vivendo em situação precária, os moradores do edifício Holiday, localizado em Boa Viagem, Zona Sul do Recife, receberam uma resolução quanto as condições de moradia no local. Após a Prefeitura do Recife solicitar judicialmente a interdição do edifício, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) acolheu ao pedido e emitiu, nessa quarta-feira (13), uma ordem de desocupação imediata do imóvel.

O juiz Luiz Gomes da Rocha Neto, da 7ª Vara da Fazenda Pública da Capital determinou, na terça-feira (12), em caráter liminar, que os moradores do edifício deixem os apartamentos em cinco dias úteis. O prazo começa a valer a partir desta quinta-feira (14) e se encerra na próxima quarta (20). No entanto, muitos moradores alegam não ter para onde ir com a interdição do imóvel. Nesse caso, o que acontece com essas pessoas?

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A visão do TJPE

 Após o fim do prazo de evacuação voluntária, os moradores que não deixarem o edifício sofrerão com uma desocupação compulsória. De acordo com a decisão, a “Polícia Militar de Pernambuco – PMPE, Polícia Civil de Pernambuco, Corpo de Bombeiros Militares de Pernambuco – CBMPE, Guarda Municipal do Recife, Autarquia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife – CTTU e o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU” estão convocados à promoverem a “desocupação com uso das forças policiais e municipais”.

“A desocupação será feita com ponderação, mas caso a Polícia precise agir, ela saberá como atuar”, disse o juiz Luiz Gomes, em entrevista ao LeiaJá.

O magistrado ainda falou que o prazo para saída dos moradores foi estipulado de acordo com a gravidade e circunstâncias em que o edifício se encontra e foi tomado em caráter de emergência. No dia 28 de fevereiro, o juiz participou de uma inspeção judicial e constatou a urgência da desocupação do imóvel.

O que dizem os Bombeiros?

A avaliação do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco é de que a situação do Edifício Holiday constitui uma ‘tragédia anunciada’. Na decisão proferida pelo juiz, o órgão aponta diversas irregularidades do imóvel como cozinhas clandestinas e depósitos de gás. Assim como as demais instituições convocadas na decisão, o Corpo de Bombeiros também prestará apoio na desocupação.

Auxílio-moradia

Em nota, a Prefeitura do Recife informou que a partir desta quinta-feira (14) começará a prestar auxílio aos moradores do edifício e a Defesa Civil do Recife (Sedec) está fornecendo apoio aos moradores com a logística das mudanças.

Já as pessoas que não têm para onde ir, irão ser acolhidas em abrigos públicos do município provisoriamente. No entanto, a assessoria da Sedec informou que nenhum tipo de auxílio-moradia será prestado à essas pessoas, pois o edifício é particular e cabe aos moradores realizar a reparação dos ajustes solicitados, para que o prédio volte a ser habitável.

Famílias não podem ficar desamparadas

Para o advogado Rafael Accioly, especialista em Direito Imobiliário do escritório Queiroz Cavalcanti Advocacia, se o caso não for solucionado em curto ou médio prazo, o governo pode disponibilizar medidas assistencialistas de moradia para as pessoas que não têm onde viver. “É uma questão de não deixar essas pessoas desamparadas”, ressalta.

O advogado também explica que toda pessoa que tenha se sentido prejudicada com a desocupação do imóvel (no caso de moradores com imóveis próprios e que pagam regularmente o condomínio) podem recorrer da decisão. No entanto, para reverter a ordem os quesitos apontados como motivo para interdição teriam que ser desconstruídos, o que no caso do Holiday, seria difícil, visto que um dos motivos da desocupação visa proteger a vida os moradores.

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Com a determinação judicial para que os moradores do Edifício Holiday, localizado em Boa Viagem, deixem o prédio devido problemas estruturais, a maioria dos moradores e comerciantes garante que não deixará o local. Para eles, o prazo de cinco dias é inviável. Equipes da prefeitura e uma comissão de moradores prestam assistência às famílias.

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Há 56 anos morando no 2° andar, com a esposa e quatro filhos, Ibege Frazão, de 73 anos, afirma que não deixará o edifício. "Não tenho destino. O pior já está acontecendo, sem água e no candeeiro", relatou. O proprietário do bar mais antigo do condomínio também conta que ainda não foi negociado nenhum tipo de indenização.

Um dos participantes da comissão dos moradores Fernando Leão mora há 37 anos no prédio e garante que os 2.500 moradores não vão ceder. "A gente não invadiu. Isso aqui foi comprado! Nós não estamos pedindo esmola", afirmou.

"É revoltante! A gente não tem para onde ir. Eles tão tirando o que a gente lutou. Eu mesma batalhei a vida toda por isso, e moro aqui há 50 anos", relatou a moradora do apartamento 112, Luzinete Silva, que reitera o sofrimento vivido para quitar as dívidas apenas com o Bolsa Família.

Equipes da prefeitura estão no local oferecendo assistência aos que desejam sair. A intenção é realocar os moradores em abrigos do município. O secretário executivo da Defesa Civil Coronel Cassio Sinomar explicou o trabalho realizado pelas equipes. "Com a interdição, o que cabe à prefeitura é dar esse apoio logístico às pessoas que desejam se deslocar para um local. A gente sabe que é dificultoso conseguir um caminhão", esclareceu.

Sem vontade alguma de deixar o lar para ficar em um abrigo, a moradora do apartamento 128, Girlene Santos, revela a preocupação de deixar sua residência. "Nem os idosos querem ir. A preocupação também é com nossos móveis. Eu mesma não deixo minhas coisas nesses abrigos, é capaz de se perder", finalizou.

As famílias do edifício contam com apoio de voluntários. Um deles é o engenheiro Lupercio Luizines, que mora em um prédio a frente do Holiday e se solidarizou com a situação. Ele explica que o projeto inicial apontava que a edificação teria 27 andares, porém, apenas 17 foram construídos, o que - segundo ele - garante uma margem de segurança estrutural de aproximadamente 40%, porcentagem que "é muito tratando-se de engenharia".

Há duas semanas ele ajuda os moradores e afirma que já conseguiu melhorias com a retirada de alguns componentes elétricos até o 7° andar, para que tudo seja refeito do zero. Ele exemplifica: "se em um hospital for necessário trocar a rede elétrica, vão retirar os pacientes também?", questionou.

Outro grupo de apoio presente é o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). A coordenadora estadual Cristiane Pedrosa defende a moradia digna aos residentes e reafirma que sua equipe está à disposição das famílias para que continuem em seus lares.

Mesmo com alguns optando pela mudança, a maioria aguarda uma reconsideração judicial e uma nova vistoria, visto que modificações já foram realizadas pelos próprios moradores, sob supervisão do engenheiro voluntário.

A mineradora Vale assinou nesta quarta-feira (20) um Termo de Acordo Preliminar (TAP) para antecipar os pagamentos emergenciais a todos os moradores da cidade de Brumadinho, município atingido pelo rompimento da barragem de rejeitos da Mina Córrego do Feijão. Em nota, a companhia informou que serão beneficiadas as comunidades que vivem até um quillômetro do leito do Rio Paraopeba, de Brumadinho até a cidade de Pompéu, na represa de Retiro Baixo.

Segundo a empresa, o acordo preliminar com a Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais, o Ministério Público do Estado de Minas Gerais, a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, a Advocacia-Geral da União, o Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União foi fechado durante audiência no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na presença ainda de representantes dos atingidos pelo rompimento da barragem.

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Entre outras medidas, o TAP estabelece o adiantamento da indenização por meio de pagamentos mensais a partir de 25 de janeiro, pelo prazo de um ano, com valores equivalentes a um salário-mínimo por adulto, meio salário-mínimo por adolescente e um quarto do valor do salário-mínimo para crianças.

Está definida ainda assessoria técnica independente para que os atingidos possam negociar suas indenizações individuais. Para o governo de Minas Gerais, está previsto reembolso ou custeio direto das despesas extraordinárias feitas pelo executivo mineiro, seus órgãos de atuação direta e sua administração indireta, inclusive mediante o custeio das despesas de transporte, alojamento e alimentação dos servidores envolvidos nos trabalhos de resgate e demais ações emergenciais.

Jorge dos Santos de Souza, 34 anos, conhecido como Salve Jorge, saiu da cidade de São Luís, no Maranhão, para tentar uma vida nova em Outeiro, distrito de Belém, no Estado do Pará, com a mãe e 15 irmãos. Ele tinha apenas 21 anos e deixou para trás um filho pequeno. Não conseguiu arranjar emprego. Como forma de ganhar dinheiro rápido, envolveu-se no crime e acabou sendo preso. Quando cumpriu uma parte da pena, conseguiu regime aberto. Constrangido com tudo o que aconteceu, para não desapontar mais ainda a mãe, ele resolveu ganhar o mundo das ruas. Nunca mais voltou para casa.

Seus primeiros dias nas ruas foram em Icoaraci, também distrito de Belém, com hippies que ficavam embaixo do trapiche da orla. Por causa de uma namorada, Jorge se mudou para o bairro do Telégrafo, próximo à região central da capital paraense. Era para ser apenas um encontro na praça Brasil, mas ele não voltou mais para Icoaraci.

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Hoje, Salve Jorge sobrevive cuidando de carros em frente ao campus da Universidade Estadual do Pará (Uepa), na rua Djalma Dutra, catando latinhas e fazendo favores. Com o dinheiro que ganha às vezes consegue comprar algo para comer. Também busca ajuda de alguns estabelecimentos e conhecidos da vizinhança. “Tem restaurante que eu vou lá e peço se não tem nada para comer e eles me dão”, conta Jorge.

Sujeitos invisíveis, os moradores de rua retratam a exclusão social. Segundo o psicólogo Marcio Valente, professor doutor em Psicologia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), muitos passam a compor um cenário urbano. “Essas pessoas se confundem com o cenário. Elas vão virando fundo, e sempre quando somos fundos da vida de alguém a gente some. A gente vira cenário. Se a gente nunca vira figura, não se define. Essas pessoas se confundem nesse processo, elas vão se perdendo”, disse. “Por conta de passarmos todos os dias pelo mesmo local, tem vezes que enxergamos essas pessoas e outras vezes, não. Nesse ponto, ocupando esse lugar da cidade, vão se tornando tão comuns.”

 Para tomar banho, Jorge usa a torneira de um posto de gasolina. A vizinhança tem um grande apreço por ele, sempre muito educado e gentil. Ele diz que já chegou a fazer tratamento em uma clínica de reabilitação em Marituba, mas não deu certo.

Jorge não tem um canto fixo para dormir, mas sempre anda com uma mochila com menos de meia dúzia de roupas e alguns pertences. “Gosto de andar com minhas coisinhas, enquanto não me roubam”, disse.

O apelido Salve Jorge vem da novela que passava em 2012, na Rede Globo, chamada “Salve Jorge”.  “Foi o pessoal mesmo da rua que colocou, por causa que na abertura da novela gritava SALVE, JORGE”. Seu corpo é todo musculoso e cheio de cicatrizes. As cicatrizes são da infância e de um atentado que sofreu quando dormia nas casas abandonadas da Vila da Barca, bairro da periferia de Belém.

Jorge relatou que perdeu o contato com os irmãos. Um morreu em São Paulo, outro em um acidente de ônibus em Outeiro, disse. O caçula mora em Outeiro. Faz tempo que Jorge não visita a mãe. Ele não tem certeza se ela ainda está viva.

No dia da entrevista, estava deitado em frente à Fundação Curro Velho, nas margens da baía do Guajará, quando recebeu a proposta de um conhecido das ruas de furtar uma loja de peças de carro e recusou. “Nem se me dessem mil reais, já fiz muita coisa errada nessa vida, mas estou me esquivando desse tipo de coisa”, disse, lembrando seu passado que ocasionou em prisão. Futuramente, afirmou, pretende tirar identidade, CPF, ter um trabalho, tirar fotos para os documentos, cortar o cabelo e sair dessa vida.

Rede de amparo é deficiente

O psicólogo e professor Marcio Valente explica que não existe uma resposta concreta para as pessoas acabarem indo morar nas ruas. Mais simples é falar sobre as coisas de ordem macro, psicossociais. “As pessoas que perdem suas moradias, caso elas não tenham uma rede social de amparo, e a rede social de amparo estatal não é eficaz, essa pessoa vai naturalmente parar na rua. E uma vez na rua, vai ficar próximo de lugares que ofertem para essa pessoa bens de consumo. Quando eu digo bens de consumo não é comprar um celular. É bens de consumo tipo de alimentos, afeto, ela vai ficar próxima a esses lugares. Dificilmente ela se afasta desses lugares”, explica o psicólogo.

Marcio esclarece por que essas pessoas procuram os centros da cidade para habitar. “Esses espaços são de grande circulação, espaços de visibilidade. Dificilmente encontram-se essas pessoas dormindo em becos muito entocados. Os becos muito entocados são onde as pessoas são assassinadas, elas morrem, onde ninguém pode ser visto”, observou.

Para o psicólogo, a percepção que as pessoas têm da rua é relacionada ao perigo. “Às vezes a gente não entende que a rua também é o lugar da possibilidade. Então de alguma forma essas pessoas vão carregar esses preconceitos, que não necessariamente são ruins, mas em algumas circunstâncias podem ser. Os nossos preconceitos vão desde querer ajudar essas pessoas nessa condição. Ou se incomodar com elas, sujando e excluindo do convívio”, diz o psicólogo.

Marcio Valente, que já trabalhou no Ministério Público, relatou um fato curioso: “Foi quando uma pessoa com histórico de morar na rua não queria dormir na cama do alojamento, do abrigo. Ele gostava de dormir olhando para o céu, isso gerou um problema. Tentamos negociar com ele. A instituição tem o dever de dar as mínimas condições para aquele indivíduo, não poderíamos deixar ele dormir no chão”.

Segundo Marcio, há indivíduos que preferem viver nessas condições. “Tem pessoas que se eu oferecer uma casa, não vão querer, porque a casa vem com obrigações, uma rotina de trabalho, ser um assalariado, e isso traz outras obrigações e tem um preço. Elas conseguem fazer esse processo. Alguns não se enquadram a esse padrão, ou são mais saudáveis que nós, menos domesticáveis ou mais resistentes.”

Ele diz que é muito importante o meio acadêmico promover atividades e trabalhos voltados ao meio social, como olhar as pessoas em situação de rua. “A gente quer mudar o mundo, mas precisamos fazer parte da realidade, e essas pessoas fazem parte dessa realidade. Sempre tem um grupo excluído do maior.”

No ano de 2016, a Universidade da Amazônia promoveu uma sarau para todos os alunos do curso de Psicologia. Foi um evento que durou o dia todo e mobilizou toda a universidade. Um grupo específico escolheu tratar de pessoas em situação de rua.

Os alunos queriam fazer um estudo sobre quem era o “morador de rua”. E daí surgiram os questionamentos. “Quem são essas pessoas? Por que moradores de rua? Morar é um direito? “Ninguém mora na rua, a pessoa que está na rua não está tendo a acesso a um direito à moradia que é previsto por lei, um princípio fundamental da nossa Constituição. Então não existem moradores de rua, existem pessoas que estão tendo os direitos violados de moradia”, exemplificou o professor para aquele grupo.

O trabalho foi intitulado “Os invisíveis”. Nessa pesquisa, os alunos fizeram entrevistas e encontraram inúmeras razões para as pessoas saírem de casa, desde brigas familiares, até sonhos que acabaram, crises econômicas, pessoais. Muitos entrevistados falaram que eles não costumavam dormir e que a vida na rua exigia entorpecimentos. “Que em geral a vida exige, desde sair para beber, comer, ir para festa. Na rua não é diferente, em geral a droga mais comum e a mais popular de todas é a bebida alcoólica. A famosa buchudinha. Dificilmente vai cheirar pó, isso é caro”, diz o professor. Os alunos decidiram criar uma página no facebook - “Os invisíveis” -, vinculando as entrevistas a histórias mais amplas, e até encontraram conhecidos das pessoas que vivem na rua. 

Reportagem: Trayce Melo.

Edição de texto: Antonio Carlos Pimentel.

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A Caixa Econômica Federal informou nesta segunda-feira, 28, que vai conceder uma pausa no pagamento de operações de crédito feitas pela população de Brumadinho (MG), onde uma barragem da Vale se rompeu na última sexta-feira, dia 25, e ainda isenção de tarifas. As ações, conforme o banco, visam a atender clientes, empresas, beneficiários de programas sociais e os moradores em geral, atingidos na região.

Para os clientes do município, a Caixa vai oferecer pausa especial de pagamento até 90 dias nas operações de Crédito Pessoal e Crédito Direto ao Consumidor (CDC), além de até 60 dias de carência para 1ª parcela em novos contratos. Haverá isenção de três meses também nas tarifas da cesta serviços para os correntistas.

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Para as empresas da região, o banco concederá pausa de até três meses para pagamento das parcelas das operações de crédito e isenção de cesta de serviços pelo período de três meses para correntistas. No crédito habitacional, haverá pausa de até 90 dias nas prestações do financiamento imobiliário.

Os trabalhadores que tiverem residência na área afetada poderão solicitar o saque do FGTS, conforme previsto na Lei 10.878/04. O limite máximo será R$ 6.220,00 por pessoa.

A Caixa estendeu o horário de atendimento das agências de Brumadinho e próximas ao município e deslocou um caminhão-agência, para reforçar o atendimento bancário na cidade a partir desta terça-feira, dia 29. O banco também abriu uma conta para que brasileiros de todo o país possam enviar ajuda aos atingidos pela tragédia. Os dados da conta poupança, com nome "Juntos por Brumadinho", são: agência 2808, operação 013, conta 3-5.

"O que dói é a ausência e essa dúvida", disse Luiza Soares, de 75 anos, na manhã deste domingo (27), caminhando à beira do Rio Paraopeba, amarelado pela lama, ao lado da filha, Rosimeire. Na tragédia de Brumadinho, as duas moradoras da cidade vivem o drama de uma espera que pode não ter fim. Elas buscam notícias de Rogério Antônio dos Santos, de 58 anos, funcionário da administração da Vale, que desde sexta-feira (25) está desaparecido na lama da barragem que se rompeu. Rogério e o irmão, Ronaldo Aparecido dos Santos, de 54 anos, motorista de caminhão, são filhos de Luiza. Ambos estavam no local do desastre. Ronaldo, escapou. O irmão não teve a mesma sorte.

Mãe de seis filhos, criados à beira do rio que já não existe mais, Luiza se esforça para parecer forte e conta que eles, quando meninos, costumavam pescar naquelas águas. "Dava para ver o cascalho no fundo", lembra Luiza.

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"Eles traziam o peixe fresquinho pra fritar", conta, olhando o Paraopeba. "Olha isso, agora", aponta. Luiza tenta se distrair no caminho e telefona para Ronaldo, que mora do outro lado do rio. "Vem pra cá, meu filho."

Ronaldo tentou atender ao pedido da mãe. Mas a travessia pela ponte, único acesso entre os dois lados do rio, está proibida. Ronaldo foi barrado. Telefonou para a mãe avisando que não poderia se encontrar com ela.

A mesma dúvida sobre o que aconteceu com Rogério aterroriza a família de Wilson de Brito, genro de Luiza. Uma prima dele, a advogada Shirley de Brito, também está desaparecida. "É uma tragédia, moço", disse dona Luiza, amparada pela filha.

Na pequena pracinha do centro de Brumadinho, perto da ponte interditada pelos bombeiros, a arquiteta Sayuri Osawa andava de um lado para outro desorientada, acompanhada pelas sobrinhas Estela de Lima e Marina Yumi Osawa. O marido de Sayuri, Max Elias Medeiros, de 37 anos, técnico de qualidade da Vale, também não é visto desde o acidente. "Apareceu uma informação sobre ele, que estaria num hospital, mas não era verdade", conta o pai de Sayuri, Kenitiro Osawa, de 68 anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Populares que moram embaixo de um viaduto no município de São João do Meriti, localizado na Baixada Fluminense, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, impediram uma série de assaltos nessa quarta-feira (26). A atitude popular reprimiu a ação do assaltante, com o intuito de não “sujar” a localidade onde residem.

A falta de policiamento local e a normalização da impunidade aos criminosos de todo o país fizeram com que populares insatisfeitos de São João do Meriti organizassem uma espécie de vigília para evitar novos crimes no local. Com gritos de “vai embora”, eles tentavam alertar aos motoristas que seriam vítimas do assaltante. Confira o vídeo:

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Com a primeira tentativa de roubo frustrada, o criminoso que, aparentemente, portava um simulacro de arma de fogo, tentou efetuar outro assalto. Nesse momento, foi retaliado pelos populares que conseguiram tomar seu instrumento, antes de linchá-lo. Ao perceber que foi salvo por populares, o motorista arranca com o carro e sai do local.

Com informações JM meriti notícias

A explosão de um transformador em uma empresa de energia causou um clarão azul no céu de Nova York, nos Estados Unidos, assustando moradores da região. O curto-circuito aconteceu na noite desta quinta-feira (27), em uma repartição da companhia Con Edison, no bairro do Queens.

O chefe do Departamento de Segurança de Nova York, Terence Monahan, informou pelo Twitter que as chamas estão sob controle e que não há feridos. Mas o que assustou os moradores foi a luz azul em meio ao céu noturno, que gerou centenas de vídeos e fotos nas redes sociais. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, explicou que a luz fora causada por uma queda de energia na subestação.

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A explosão provocou também quedas de energia na região e atrasos no aeroporto La Guardia, que pediu aos clientes que verificassem o status de seus voos com as companhias aéreas. Já o trem 7, que sai do Queens e vai até a ilha de Manhattan, funciona com paradas mais prolongadas.

Esse foi o segundo incidente envolvendo a Con Edison nos últimos seis meses. Em julho deste ano, uma explosão expeliu grandes fumaças de amianto no ar de Manhattan, forçando a evacuação de 49 edifícios e desabrigando mais de 500 moradores.

Da Ansa

Algo comum na época natalina, os enfeites de Natal acabaram sendo motivo de multa em um condomínio em Samambaia, no Distrito Federal. É que sete moradores foram multados por pendurarem os adereços fora das janelas. De acordo com o síndico, os arranjos e pisca-piscas ferem as regras internas, por apresentarem o risco de cair e por alterarem a estética da fachada.

Os moradores multados vão precisar pagar um valor que é de 25% da taxa de condomínio, que varia para cada apartamento. “Mexeu com os sentimentos das crianças, dos idosos, de todo mundo daqui. Fiquei perplexo com isso. Natal é um momento de amor, de paz. Ele poderia ter sido mais razoável", disse um morador em entrevista ao portal G1.

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Ainda em entrevista ao G1, o síndico do condomínio, o tenente da Polícia Militar Alan Almeida, disse que "os enfeites podem causar problemas muito mais graves. Tem uma parte de segurança para avaliar. Além de estragar a fachada, está correndo risco de eletrocussão”.

Segundo os moradores do Boulevard Jardim das Acácias, a discussão sobre o assunto começou desde novembro, quando um morador foi notificado pelo síndico por ter exposto uma bandeira de time para fora do prédio. Ele argumentou que a multa era injusta, já que outros moradores estavam expondo enfeites de Natal.

Há três anos, cerca de 400 famílias viram suas casas serem engolidas pela lama na maior tragédia ambiental do país. Desde então, moradores dos distritos de Bento Rodrigues e Paracatu, vinculados a Mariana (MG), e de Gesteira, vinculado a Barra Longa (MG), sonham com o dia em que poderão viver novamente em suas comunidades. O cronograma de reconstrução, divulgado há dois anos, não se converteu em realidade e a esperada entrega dos novos distritos em 2019 não vai ocorrer.

A reconstrução é uma obrigação da Fundação Renova, que foi criada conforme previsto em acordo firmado no início de 2016 entre a União, os governos de Minas Gerais e Espírito Santo e as mineradoras responsáveis pela tragédia: a Samarco, dona da barragem que se rompeu, e suas acionistas Vale e BHP Billiton. Cabe à Fundação Renova, com recursos das empresas, reassentar as famílias e reparar todos os danos ambientais e socieconômicos decorrentes do episódio.

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Apesar dos atrasos, os moradores de Bento Rodrigues comemoraram uma vitória recente: o canteiro de obras foi implantado em maio desse ano, as licenças necessárias obtidas em julho e o trabalho de supressão de vegetação e abertura das vias já está em curso. A próxima etapa deve ser a instalação de rede de esgoto e em seguida a pavimentação. As obras devem ser concluídas em aproximadamente 22 meses e a entrega está prevista para agosto de 2020.

"As coisas não evoluíram como nós queríamos. Dois anos e meio só para sair o licenciamento. As crianças vão crescendo num ambiente diferente. Eu nunca gostei de cidade. Gostava da minha roça. Colher a couve, colher a cebolinha, tirar leite, fazer queijo. Tudo isso eu quero de novo aqui", diz José do Nascimento de Jesus, conhecido como Zezinho do Bento, presidente da Associação Comunitária de Bento Rodrigues e integrante da comissão de atingidos.

Aos 73 anos, ele visita a obra quase todos os dias e é conhecido, pela equipe da Fundação Renova, como “o maior e mais rigoroso fiscal”. "Estou aqui defendendo a minha comunidade. Tem que ser entregue do jeito que a gente quiser", acrescenta. Ele avalia que agora a obra está atingindo o ritmo desejado.

No novo Bento Rodrigues serão reassentadas cerca de 240 famílias e a reconstrução segue o projeto urbanístico aprovado pelos próprios atingidos em fevereiro, que levou em conta as atingas relações de vizinhança. Elas também escolheram o terreno, que antes pertencia à siderúrgica Arcelor Mittal e foi comprado pela Fundação Renova. No local, havia uma produção de eucalipto. A pedido dos atingidos, a madeira suprimida está sendo armazenada. Segundo o presidente da associação comunitária, a ideia é guardá-la para abastecer os fogões a lenha das futuras casas.

"Na próxima semana, começam as visitas das famílias aos lotes para que elas autorizem a construção e a entrada no projeto individual das residências na prefeitura", diz Patrícia Lois, engenheira civil e gerente dos reassentamentos da Fundação Renova, explicando que o alvará de cada casa é individual.

O desenho das casas já está sendo desenvolvido. São 28 arquitetos designados apenas para fazer os projetos. "Muitos atingidos estão optando por não repetir o desenho das casas antigas. As famílias estão muito ligadas ao futuro. Novas atividades econômicas, novos hábitos que elas adquiriram nesses três anos que se passaram. Isto tudo está sendo considerado por elas", diz o arquiteto Alfredo Zanon.

Mesmo quem mantêm suas atividades pode querer um espaço mais adequado do que o anterior. "Tem o exemplo da família que produz geleia de pimenta biquinho. Como vai ser essa nova indústria deles? Na comunidade de Paracatu, tem gente pensando em agroecologia e em agroturismo. Estamos incorporando tudo isso no projeto", acrescenta Zanon.

Uma das promessas da Fundação Renova é empregar nas obras cerca de 80% de mão de obra local. Um acordo com o Ministério Público de Minas Gerais foi firmado dando aos atingidos o direito de serem contratados, caso queiram. Estima-se que, em meados do próximo ano, quando as obras estiverem mais avançadas, 2 mil pessoas possam ser empregadas.

Distrito de Paracatu

Romeu Geraldo de Oliveira, de 43 anos, morava em Paracatu e decidiu colocar a mão na massa. "Estou bem satisfeito pela comunidade de Bento Rodrigues. Mas a felicidade só estaria completa se eu estivesse trabalhando na reconstrução de Paracatu. Enquanto não começar a terraplanagem, a gente ainda fica com receio. A gente ainda tem essa sensação de que pode não sair a comunidade como a gente quer", diz.

Em sua visão, a cobertura da imprensa contribuiu para que as soluções para Bento Rodrigues tivessem prioridade. "É a menina dos olhos da mídia. Paracatu fica esquecido e a lama atingiu nossas casas do mesmo jeito. Foi questão de horas para tudo ser arrasado. Mas estou satisfeito pelos moradores de Bento Rodrigues. Eles não têm culpa de ter começado a construção da sua comunidade, enquanto a nossa está atrasada", acrescenta Romeu, que também é integrante da comissão de atingidos de Mariana.

As características do distrito de Paracatu geraram um contratempo, pois foi necessário que a Câmara dos Vereadores de Mariana aprovasse uma lei alterando o plano diretor do município. Na comunidade, os sítios ficavam no meio do núcleo urbano, o que não era previsto na legislação da cidade. Dessa forma, foi incluído no plano diretor uma nova zona especial de reassentamento. Os atingidos de Paracatu aprovaram o projeto urbanístico da nova comunidade em setembro. Cerca de 140 famílias serão reassentadas. Segundo Patrícia Lois, tão logo o licenciamento seja obtido, as obras também terão início.

Gesteira ainda sem terreno

A apreensão que toma conta dos moradores de Paracatu também é a mesma que atinge os que ficaram desabrigados em Gesteira. Lá, a situação se agrava porque nem mesmo a compra o terreno para a reconstrução foi concluída. "A gente fica sem notícias e parece que tudo caminha bem devagar", lamenta Antônio Marcos da Costa. Ele perdeu a casa onde morava, que pertenceu aos avós, e também viu a mercearia que gerenciava ser devastada pela lama.

"Tivemos uma dificuldade grande na compra do terreno. O proprietário pedindo um valor muito maior do que o valor de mercado. Agora estamos conseguindo evoluir na negociação", diz Andrea Aguiar Azevedo, diretora-executiva de engajamento, participação e desenvolvimento institucional da Fundação Renova.

A gerente dos reassentamentos Patrícia Lois diz que a Aedas, assessoria que atende os atingidos de Gesteira, começou a atuar apenas no início em novembro de 2017 e realizou um processo de escuta até fevereiro de 2018 com as 37 famílias que serão atendidas.

"Diferente de Bento Rodrigues e Paracatu, a comunidade de Gesteira não quer a construção do novo reassentamento baseada nas relações de vizinhança. Lá teremos o que chamamos de reassentamento de futuro". Ela diz que, por ter menos atingidos, as obras de Gesteira serão mais rápidas.

Gesteira não foi totalmente devastada, pois a maior parte das edificações ficava em uma área mais elevada. Antônio Marcos da Costa vive hoje neste local, em uma residência alugada pela Fundação Renova.

Mesmo tendo se mantido na comunidade, ele diz que a vida mudou completamente pois a renda atual é muito aquém da que ele tinha gerenciando a mercearia, cujo dono mora no centro de Mariana. Além disso, precisa lidar com a depressão que tomou conta de sua mãe, problema recorrente entre os atingidos, e comprar os medicamentos. "Faço o que posso. Peguei minhas economias e abri um barzinho. Mas não ganho igual, mesmo somando com o auxílio mensal da Fundação Renova".

O auxílio mensal, acordado com o Ministério Público meses após o rompimento da barragem, é destinado a todos os que perderam renda em decorrência da tragédia. Os valores são pagos por meio de um cartão e cada beneficiário recebe um salário mínimo, acrescido de 20% para cada dependente, além do valor de uma cesta básica. O auxílio não configura verba indenizatória e, no caso dos desabrigados dos três distritos, deverá ser pago por pelo menos um ano após o reassentamento.

A exemplo de Antônio, Romeu também conta que sua renda atual é insuficiente. O salário que recebe na obra de Bento Rodrigues chega a ser quatro vezes inferior ao que ele conseguia com a sorveteria em Paracatu. Além disso, morando em uma casa oferecida pela Fundação Renova na área urbana de Mariana, ele diz ter gastos superiores aos que tinha antes.

"Essa casa aqui é até muito boa, mas não é minha. Lá eu tinha um amor por cada tijolo, que fui eu que coloquei. Foram décadas de construção, fazendo tudo aos poucos, e perdi em 10 minutos. Minha casa era menor do que essa, mas lá é outro ambiente. Tinha horta, tinha galinha, tinha tudo e não precisava comprar. E tinha a sorveteria que era a única da região. Não estou nem mais ligando para indenização. Se derem minha casa de volta eu já estou feliz".

Atrasos serão cobrados

De acordo com a Fundação Renova, os atrasos ocorreram pelo tempo levado para compreender a legislação e para atender os anseios da comunidade, através de um processo de escuta. Em meio a esse processo, foi fechado um acordo com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) que estabeleceu a contratação de assessorias técnicas para os atingidos. A Cáritas vem atendendo os atingidos de Bento Rodrigues e Paracatu, e a Aedas é a instituição que atende os moradores de Gesteira.

"Precisamos respeitar também o tempo de discussão dos atingidos porque não adianta apenas fazer uma casa e colocá-los lá dentro. Eles precisam ser ouvidos para que a nova comunidade lhes permita resgatar seus modos de vida e suas tradições. E precisam estar amparados pelas suas assessorias", diz Patrícia Lois.

Para o promotor do MPMG, Guilherme Meneghin, a Fundação Renova cometeu falhas ao regular o espaço de participação das vítimas. "Nós tivemos que atuar, cancelar uma assembleia que havia sido convocada onde as vítimas poderiam ser manipuladas a aprovar um projeto que não lhes atendia. Uma coisa é destruir a casa da pessoa, comprar outra e colocar ela lá dentro. Isso é muito fácil. Outra coisa é fazer com que as pessoas retomem os seus modos de vida e, assim, realmente reparar os danos".

O promotor conta que o processo começou a deslanchar apenas este ano. Em audiências realizadas em fevereiro e em março, o MPMG e a Fundação Renova chegaram a um acordo que estabelece 78 diretrizes de reassentamento. Ficou pactuado, por exemplo, que as casas deverão ter, pelo menos, 20 metros quadrados a mais do que a que foi devastada. Uma vez reassentados, os atingidos também terão direito à assistência técnica para desenvolvimento de atividades agro-silvo-pastoris e deverão receber ração, adubo e demais insumos necessários.

"Se eles tivessem adotado essas cautelas um ano antes, não haveria esse atraso", lamenta Meneghin. Ele diz que o tempo perdido será cobrado. "Já temos um processo na Justiça onde pedimos a aplicação de uma multa em benefício das vítimas por conta dos atrasos".

O presidente da República Michel Temer (MDB) passou por um momento de constrangimento nesta sexta-feira (14). Segundo o jornal O Globo, o emedebista prestigiou a entrega de chaves de 528 unidades do programa Minha Casa, Minha Vida, em Guaratinguetá, interior de São Paulo. Durante o discurso, os moradores gritaram o nome do ex-presidente Lula. 

Na plateia, toda vez que o nome do programa criado na gestão petista era citado no microfone, as pessoas entoavam o nome “Lula”. Para evitar maiores problemas, Temer que costuma fazer longos pronunciamentos, apenas falou por quatro minutos. 

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Durante coletiva de imprensa, após o evento, ele se mostrou tranquilo em relação ao ocorrido. “É natural, estamos em período eleitoral. É natural que as pessoas torçam por seus candidatos. Embora o Lula não seja candidato, o candidato é Haddad”, desconversou. 

O presidente, durante a entrevista, garantiu que a emenda do teto de gastos, aprovada em seu governo, não irá prejudicar o lançamento de novos empreendimentos. Segundo ele, foram entregues mais de 700 mil casas em dois anos de gestão e mais de 30 mil a entregar. Ainda afirmou que há uma sobra de “quase R$ 20 bilhões” para investimentos no setor habitacional. 

 

Moradores do Sítio Histórico de Olinda, no Grande Recife, estão passando por muitas dificuldades. Há mais de 15 dias sem água por conta de um trabalho que está sendo realizado pela Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), parte dos olindenses está tendo que pagar por caminhões-pipa, garrafões de água ou, para aqueles que não têm dinheiro, precisando contar com a boa vontade de outras pessoas que cedem um pouco de água. Cozinhar, tomar banho e até lavar roupas virou luxo para algumas pessoas.

Segundo Jailson Martins, 21 anos, mesmo após o ligamento dos canos novos feito pela companhia, apenas algumas casas da localidade estão sendo abastecidas. “Tem gente que há 20 dias não tem uma gota de água na torneira. A solução que alguns encontraram foi de fazer uma escavação até encontrar o cano antigo e pegar água dele”, informa o comerciante.

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Laice Pinto, 77 anos, reclama que mesmo antes da reforma da Compesa, o abastecimento de água para a sua casa só era feito de cinco em cinco dias. “É uma dificuldade muito grande. Eu tenho que sempre pedir ao meu filho ou aos meus netos para pegarem água para mim na casa da vizinha”, aponta. Além da falta de abastecimento que engrossou com essa reforma, os buracos e pedras espalhados pelas ruas também dificultam a locomoção da aposenta e de outros moradores com alguma limitação.

Cega de um olho, Dona Laice teme sofrer algum acidente enquanto caminho pelo local em obra. “Antes dessa desorganização aqui eu só saía pela manhã, por conta da minha visão.  Agora, nem mais pela manhã eu consigo andar por aqui, e quando saio é com muita dificuldade e medo de cair”, reclama a aposentada.

Morando na Rua Nossa Senhora da Guadalupe, José Marcos , 64 anos, cadeirante, agora só consegue sair de sua residência quando a van da AACD, onde faz reabilitação, vem busca-lo. “Está muito difícil pra mim. Eu não consigo mais ir à rua devido a tanto buraco e pedras que estão espalhadas”, reclama o cadeirante.

Moradores reclamam que a companhia não avisou à comunidade sobre o que iria ser feito e muito menos ofereceu algum suporte para que eles. “Se vai passar tanto tempo sem água, a Compesa deveria ao menos mandar um caminhão pipa para que a gente pudesse encher as coisas”, aponta Italo Nunes. Segundo relatos, algumas pessoas tiveram que desembolsar 40 reais por 1 mil litros de água do carro pipa.

Cleber da Silva, 38 anos, vende garrafões de água mineral na comunidade do Guadalupe, ele relata que com essa crise no abastecimento público da água no Sítio Histórico, a demanda aumentou para ele, que chegou a vender cerca de 150 garrafões por dia, cobrando o mesmo valor: R$ 4,50. “As pessoas aqui já ganham pouco e agora tem mais esse custo. Um absurdo”, exclama o comerciante

Resposta da Compesa

Em nota, a Compesa informou que "uma equipe foi enviada hoje na Rua Nossa Senhora de Guadalupe, no bairro de Guadalupe, em Olinda, e constatou que o abastecimento na rua está normal.  Porém, foi encontrada uma obstrução no ramal no imóvel 327, um problema localizado. Os técnicos estão no local realizando os serviços de desobstrução  do ramal e a previsão é finalizar os trabalhos ainda hoje".

Ainda no texto, a Companhia esclareceu que a maioria dos vazamentos foi provocada pelos próprios moradores, quando tentam realizar ligações irregulares, "mas essa situação já foi contornada". A Compesa explica que a nova rede de distribuição ainda está em fase de testes por meio do Projeto Olinda+Água. "O projeto prevê ações de melhorias da rede de abastecimento com o objetivo de ofertar água todos os dias para 15 bairros de Olinda ao término do projeto, previsto para 2021", conclui a nota.

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A maioria dos moradores qualifica Pacaraima como uma cidade pacata e receptiva com migrantes de qualquer origem. Fora das comunidades indígenas, é difícil achar um pacaraimense de nascimento. Moradores de diferentes cidades e histórias escolheram a sede do município pela tranquilidade do lugar, por razões familiares, pela oportunidade de empreender no comércio ou para atuar na área pública.

É o caso do professor Agamenon Santos, nascido no Maranhão, onde se formou em pedagogia, e morador de Pacaraima há 19 anos. Ele chegou à cidade para trabalhar na rede de ensino.
 “Vim pra Pacaraima recém-formado. Sou professor concursado. Aqui construí minha família. O município me ofereceu oportunidades e eu vi a cidade crescer”, informou Agamenon, hoje secretário municipal de Educação.

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Pároco da cidade, padre Jesus Lopes Fernandez Bobadilla vive há nove anos em Pacaraima. Por ser da Espanha, ele escolheu o local pela facilidade da língua, já que se fala muito espanhol no município.

“Pacaraima é uma cidade com gente muito boa, gente de bem. Não é uma cidade amaldiçoada pela violência como alguns dizem. É um povo trabalhador, um povo bom, uma cidade super tranquila e amena”, afirmou o padre.

Socorro Maria Lopes é natural de Manaus (AM) e também vive em Pacaraima desde 2009, atraída pela qualidade de vida. Desde que chegou, atuou no serviço público como secretária municipal de Assistência Social e assessora pedagógica na Secretaria de Educação.

Segunda ela, a cidade sempre foi muito tranquila. “Até três, quatro anos atrás a gente andava na cidade a qualquer hora. Podíamos sair de madrugadinha, caminhando e chegar tarde. Dormíamos com portas e janelas abertas”, acrescentou.

Os moradores também revelam que a relação com Santa Elena de Uairen, primeira cidade venezuelana depois da fronteira, sempre foi de parceria e dependência. A cidade vizinha é destino comum dos brasileiros para abastecer veículos com combustível mais barato e fazer compras de produtos importados com menos incidência de impostos.

“Pacaraima e Santa Elena sempre foram cidades que se ajudaram. Problema de crise lá se ajuda aqui. Problema aqui se ajuda lá. Era uma região de fronteira normal. São duas comunidades fortemente ligadas e costumavam se proteger e se resguardar. Era uma coisa só. A gente só via divisão quando passava pelas bandeiras da fronteira”, destacou Socorro Maria Lopes, formada em letras e línguas aplicadas.

Integração

De Santa Elena também saem muitos venezuelanos todos os dias para utilizar o comércio ou serviços públicos de Pacaraima, principalmente a educação. Na Escola Estadual Cícero Vieira Neto, a única de ensino médio em Pacaraima, de 900 alunos matriculados, 230 são venezuelanos. Muitos deles vivem em Santa Elena e cruzam diariamente a fronteira para estudar.

Mariangel Del Carmen Polido Carvajal, 16 anos, estuda em Pacaraima há um ano e meio. “Penso que a educação aqui é melhor que lá. O índice de estudo é mais alto, porque tem professores e um conteúdo mais avançado que nossa educação”, comentou a estudante.

Filha de um brasileiro com uma venezuelana, Gabriela Olinda Lima estuda em Pacaraima desde a creche e quer continuar no país. “Sempre morei em Santa Elena e estudei no Brasil. Provavelmente, vou estudar medicina em Boa Vista.”

Segundo o diretor administrativo da escola, coronel Júlio César, os alunos venezuelanos estão bem adaptados, porque essa relação existe há muito tempo. “Com exceção de alguns venezuelanos que chegaram agora com o fluxo migratório, a maioria está bem adaptada e fala bem o português. Não existe um choque cultural, porque essa adaptação não é de hoje.”

Diretora pedagógica da escola, Maria de Jesus disse que o atendimento a alunos estrangeiros ocorre desde que a escola foi inaugurada, em 2001. “As salas de aula são heterogêneas. A língua estrangeira da escola é o espanhol. Temos dois ônibus que fazem o transporte desses alunos. Eles são tratados de igual para igual, tanto que nunca tivemos conflitos dentro da escola”.

Muitos dos alunos venezuelanos não foram às aulas na última semana, depois da repercussão dos conflitos envolvendo brasileiros e imigrantes. A intenção da maioria dos alunos da Venezuela é construir a carreira no Brasil, pelo menos enquanto durar a crise no país vizinho.

Este é o desejo de Elian Eduardo Guadarismo, 16 anos. Sua família tem um restaurante em Santa Elena, mas o movimento caiu muito depois da crise venezuelana. Seus pais só não se mudaram ainda para o Brasil por medo do preconceito. Entretanto, Elian já está decidido a continuar por aqui. “Quero estudar direito no Brasil. Na Venezuela não tenho futuro”, concluiu o jovem.

Exatamente uma semana depois dos protestos que culminaram em atos violentos entre brasileiros e imigrantes venezuelanos, os moradores de Pacaraima, cidade do norte de Roraima que faz fronteira com a Venezuela, fizeram nova manifestação neste sábado (25). Segundo moradores da cidade, desta vez participam do protesto imigrantes venezuelanos e indígenas brasileiros que pedem apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e investimentos do governo federal na cidade.

O local do manifesto foi novamente a rua principal do comércio de Pacaraima, ponto de maior movimento da cidade. Também houve foco de protesto nas imediações da rodoviária, na BR-174, porta de entrada dos venezuelanos recém-chegados ao município brasileiro. Não há relatos de nenhum incidente.

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Para quem chega da Venezuela, a rua do comércio de Pacaraima é praticamente a primeira a ser vista pelos visitantes. É nela que ficou marcada a imagem dos últimos anos de centenas de famílias venezuelanas perambulando, pedindo ajuda ou simplesmente sentadas à beira do caminho.

Nessa rua teve início o protesto de moradores na semana passada contra a agressão a um comerciante idoso assaltado e espancado por assaltantes venezuelanos. A manifestação avançou pela rodovia, onde grande parte dos imigrantes ficava aglomerada, e culminou em atos violentos entre brasileiros e venezuelanos que estavam em situação de rua.

Enquanto a Polícia Civil de Roraima ainda investiga o que aconteceu no último sábado, o fato tornou-se um marco na história de Pacaraima. Em apenas uma semana, o clima mudou na cidade, e o drama dos imigrantes que ali se instalaram ganhou páginas de jornais do mundo todo.

Há nove anos vivendo em Pacaraima, o padre espanhol Jesús López Fernández de Bobadilla relata que os desdobramentos do conflito entre brasileiros e venezuelanos representam um dos maiores desafios de sua vida. O pároco da cidade avalia que não se pode confiar na aparente calma da cidade, porque ainda há omissão do poder público e um clima de intolerância contra estrangeiros.

“Aparentemente há uma calma, mas é uma calma fictícia, falsa, enganosa. Não confio nada nela porque a violência continua no espírito das pessoas. Sempre digo que compreendo este vulcão que lança sua lava, mas não se justifica. Em alguns dias, não mudou nada. A raiva, a ira contra venezuelanos continuam. Aparentemente está oculta, mas a qualquer momento vai reaparecer. Isso vai depender das ações que a partir de agora o governo federal e as polícias mantiverem”, analisa.

O padre lamenta que a ação violenta tenha desembocado em pessoas inocentes, como crianças. Ele ressalta também que faltaram medidas que pudessem evitar o crescimento da xenofobia. “Essa ira deveria ser dirigida contra a passividade das autoridades. Confio em que o bom juízo e a cidadania voltem e cesse a violência dos dois lados. Porque, também da parte dos venezuelanos, há violências. Não cumprem nossas leis, há muito roubo, prostituição, drogas. E isso tudo desencadeia [violência]”, diz.

Desde a intensificação do fluxo migratório de venezuelanos para Pacaraima, o pároco da cidade atua na assistência social aos estrangeiros mais necessitados. Além de auxiliar na acolhida das famílias peregrinas, a paróquia oferece diariamente um café da manhã para os refugiados. Ali também são doadas roupas e outros itens de necessidade básica.

“Não houve medidas paliativas para conter essa violência por parte das autoridades ou foram muito escassas. De todo dinheiro que chegou aqui em favor dos venezuelanos, por que não destinou uma parte também para as necessidades dos pobres brasileiros? Essa é uma queixa que está no ar, na rua, e eu compartilho também. Houve também falta de integração de todas as instituições, a Igreja Católica incluída, para favorecer esta parte dessa população que se queixou”, comenta.

Segundo o representante da Associação Comercial de Pacaraima, João Kleber Soares, os protestos do fim de semana passado começaram de forma pacífica devido à revolta da população de Pacaraima com a agressão cometida contra o comerciante idoso na semana passada e os impactos negativos da migração venezuelana sobre a cidade.

Soares relata que pelo menos 80% dos comerciantes da cidade foram vítimas de assaltos, furtos ou arrombamentos desde 2015. Alguns dos casos foram registrados inclusive depois dos conflitos que motivaram a expulsão e fuga de milhares de venezuelanos de Pacaraima na última semana.

O comerciante conta que a manifestação estava tranquila até que alguns venezuelanos em situação de rua teriam se ofendido e reagido contra a passeata. Imagens feitas por Cléber também mostram brasileiros agredindo os venezuelanos com paus, pedras e ateando fogo nos locais de acampamento dos refugiados.

“Nós não pudemos julgar a pessoa por onde ela nasce e tampouco condenar ninguém. A manifestação que eu vi lá não foi contra venezuelano, nem pra expulsar quem quer que seja. A manifestação foi em busca dos direitos dos cidadãos brasileiros, que também são seres humanos”, afirma Soares.

Os moradores relatam que a força policial não está intimidando os atos criminosos e que o reforço no policiamento não foi suficiente para dar sensação de segurança. Muitos ainda temem que a situação não se resolverá tão cedo, por causa da disputa política em torno do problema. “Existe aí uma disputa de poderes entre a esfera federal e a esfera estadual, que estão em campanha [eleitoral]”, relata Soares.

Entre diferentes perfis de moradores, profissionais e autoridades da cidade ouvidos pela reportagem, é unânime a sensação de que o problema da segurança tem se agravado na região. Uma autoridade policial relatou à Agência Brasil que têm ingressado no país muitas pessoas com antecedentes criminais e falta filtro do serviço de inteligência da fronteira, principalmente do lado venezuelano.

Os principais flagrantes na fronteira da cidade são descaminho, contrabando, tráfico de armas e drogas. Há ainda a confirmação de que integrantes de dois grandes grupos do crime organização – Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho – continuam atuando na região, aliciando imigrantes e alimentando o tráfico.

Questionado sobre esta questão pela Agência Brasil, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, em visita a Pacaraima, disse que o ministério reforçou os recursos e o contingente de policiais que atua na região. Ele disse que o governo está adotando medidas para agilizar a interiorização dos imigrantes para evitar que eles fiquem expostos na fronteira.

“Infelizmente, esse processo de aliciamento das grandes facções não acontece só aqui em Roraima, mas evidentemente estamos preocupados com isso. Daí o reforço que estamos fazendo na Polícia Federal e também na Força Nacional é a reposta que damos a esta situação”, declarou o ministro.

Moradores do município de Pacaraima (RR), que fica na fronteira com a Venezuela, expulsaram venezuelanos de barracas e abrigos e atearam fogo a seus pertences, num princípio de revolta contra a presença deles na cidade.

A população local realizou neste sábado (18) um ato em frente ao Comando Especial de Fronteira do Exército, que fica na cidade, contra a presença de refugiados do país vizinho. A manifestação pacífica culminou com os episódios de violência.

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Nessa sexta-feira (17), um comerciante local foi assaltado e espancado em casa supostamente por quatro venezuelanos, provocando revolta nos moradores. Também irritou a população a falta de uma ambulância para socorrer o comerciante, que ao final foi atendido no hospital local e encontra-se em estado estável.  

O prefeito da cidade, Juliano Torquato, que está fora do estado, disse que a situação ainda não está controlada e que, segundo sabe, venezuelanos continuam a ser perseguidos para fora de Pacaraima.

“Lamentamos muito que isso esteja ocorrendo, mas não foi por falta de aviso. Ficamos tristes pelo lado dos venezuelanos, a gente sabe a situação difícil deles, mas infelizmente entram [no Brasil] essas pessoas que não tem boas intenções”, disse Torquato à Agência Brasil.

O governo de Roraima informou, em nota, ter enviado reforços da Polícia Militar para conter os ânimos, bem como profissionais de saúde e medicamentos para suprir as necessidades do hospital de Pacaraima. O texto também afirma ser “preciso que o Exército Brasileiro garanta a ordem na fronteira com a Venezuela”.

Na nota, o governo de Roraima voltou a reivindicar o fechamento da fronteira com a Venezuela e uma maior atuação do governo federal para lidar com a crise humanitária. Neste mês, a ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), negou uma liminar (decisão provisória) que havia sido pedida para fechar a fronteira entre os dois países. Procurada, a Polícia Federal não informou como está a situação na fronteira do Brasil, em Pacaraima.

A Força-Tarefa Logística Humanitária, composta pelas Forças Armadas e integrada por organismos internacionais, organizações não governamentais e entidades civis, divulgou nota em que diz prestar apoio aos atendimentos no hospital local e que “repudia atos de vandalismo e violência contra qualquer cidadão, independentemente de sua nacionalidade”.

Nas mediações do Marco Zero, na área central do Recife, uma cena incomum em pleno dia de jogo do Brasil na Copa do Mudo, na última quarta-feira (27), chamou de imediato a atenção da equipe do LeiaJá. Em meio a uma estrutura pequena, mas sofisticada com direito a um mini-camarim, um homem cortava o cabelo de uma pessoa que, visivelmente, parecia precisar de cuidados. Fomos conhecer o que se passava por ali, bem em frente a uma parada de ônibus.

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Abordamos o barbeiro que conversava com o “cliente” ali sentado: um morador de rua, que parecia admirado ao olhar para si próprio em direção ao espelho repleto de luzes. Sim, Pedro, 24 anos, o barbeiro que nos contou a sua história e que prefere se identificar apenas com o primeiro nome, é o responsável por levar luz para a vida dos mais necessitados, para essa parte da sociedade em geral excluída ou que passa despercebida pela sociedade.

Os moradores de rua têm direito a tudo para melhorar o visual sem pagar nada: “cabelo, barba e bigode” como se costuma falar. Ele não cobra nada. Pedro contou que para ele há coisas que não se pagam, nesse caso, fazer o bem e resgatar em muitos casos a autoestima perdida. Pode ser morador de rua ou qualquer outra pessoa de baixa renda, todos saem com o visual diferente, mas principalmente com o sentimento de terem valor diante da sociedade.

Exatamente quando o profissional ressaltava o significado da palavra valor, um trabalhador se aproxima devagar e desconfiado. O novo cliente pergunta a Pedro o valor do corte, que responde imediatamente: “Não há preço”. O homem, que posteriormente se torna personagem do vídeo produzido pelo LeiaJá, não se dá por satisfeito e volta a interrogá-lo: “Não há nada de graça nesse mundo”. Pedro também não pensa e rebate na mesma hora: “Não há nada de graça nesse mundo, mas tudo tem seu valor”.

O homem não entende direito, mas senta com desejo de ser atendido. Em pouco tempo, o jovem barbeiro consegue quebrar o gelo e o homem que se torna cliente revela seu nome, Kia. Ele, mais à vontade, se mostra agradecido. “Há poucas pessoas assim com um bom coração”, salientou timidamente.

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Qual o seu valor?

Pedro explicou a declaração "não há nada de graça nesse mundo, mas que tudo tem seu valor". Afirmou que todas as pessoas têm o seu valor, independente da classe social. Por isso, para ele, é preciso fazer o bem sem esperar nada em troca. Não são às pessoas carentes que ele não cobra pelo serviço personalizado que faz, e sim a qualquer um. Qualquer pessoa, independente do status social, paga o valor que puder.

Ele garante que não é marketing e sim amor à profissão e ao próximo, por acreditar na boa-fé de cada um. “Acredito que se a gente for sozinho conseguimos chegar rápido, mas em grupo ajudando um ao outro, a gente chega longe. Cada um dá o que puder seja dinheiro ou um aperto de mão. Eu tenho a minha história e tento aprender com a história do próximo, tento aprender com os erros do próximo. Eu crio laços e é muito gratificante ser bem recebido em qualquer lugar. A profissão me tornou muito mais humano porque para mim não importa se é um morador de rua ou um prefeito. Acredito que quando a gente faz de coração, as coisas acontecem. Não tem como você plantar o bem e colher o mal e assim vou levando a minha vida”, garantiu. 

A trajetória de vida de Pedro também é de se admirar. Ele conta que é autor da sua própria história e, depois de ter uma vida conturbada por algumas “escolhas erradas”, decidiu mudar. Escolheu a profissão ao entrar em uma barbearia e pensar que com a profissão poderia estar em qualquer lugar do mundo bastando os equipamentos necessários. “Nada de rotina me satisfaz e tenho vontade de conhecer o mundo. Então pensei que  nessa profissão dá para ganhar dinheiro em qualquer lugar e de forma honesta. Fiz algumas faculdades, mas decidi atingir meus objetivos dessa forma, acreditando nos meus sonhos, do que seguir a carreira acadêmica”, explicou. 

Para dar uma reviravolta em sua vida, decidiu se empenhar. Na mesma barbearia que foi como cliente e pensou na ideia, se tornou funcionário. Ali aprendeu todas as técnicas para corte e barba, como atender o cliente e até mesmo a lavar chão. Depois, já fora, foi aperfeiçoando seu trabalho em cursos. Há dois anos trabalhando na área, ele diz que a profissão virou uma paixão por se sentir liberto.

 

Pedro tem uma visão empreendedora. Criou um projeto inovador de uma barbearia itinerante, mas com uma estrutura sofisticada. “No começo não sabia se iria dar certo, mas quando vi que deu certo não parei mais. A barbearia itinerante tem esse objetivo de conhecer gente e criar conexões, que é o essencial para a vida de qualquer pessoa. O que me faz bem é sair de casa, ajudar as pessoas e mostrar que não precisa de uma mega estrutura, uma grande barbearia esperando o cliente vir até mim para ganhar dinheiro e ajudar os outros”, explicou. Ele também pretende trabalhar um dia na semana em uma barbearia para complementar a renda, mas sem desviar do conceito desenvolvido que se tornou estilo de vida.

O profissional pensa muito além. O foco agora é montar uma mini franquia do “Eu Barbeiro”. Os interessados vão ter não somente a estrutura da maleta com a marca para poder realizar todo o serviço com perfeição, como também ele vai oferecer todo o treinamento necessário, bem como o coaching. A cada curso que vender, Pedro pretende profissionalizar uma pessoa sem condições financeiras para seguir a carreira. 

Na bela área da capital pernambucana, diz que foi abraçado pelo pessoal da área. “Eu ajudo o pessoal e o pessoal também me ajuda, sempre estão indicando outras pessoas e assim nos ajudamos e assim escolhi também o Marco Zero porque é de onde vai partir para qualquer lugar”. 

 Uma maleta camarim

O equipamento de trabalho de Pedro chama bastante atenção. Dentro da maleta que se torna camarim, tudo parece ter sido escolhido a dedo. Além das máquinas, vários pentes de diversos tamanhos para cortes diversos, tesouras especializadas, espelho todo decorado e outras peças. Para transportar a maleta, ele precisa de determinação. São mais de 35 quilos que carrega dentro do ônibus sem horário para voltar para casa. Isso depende da quantidade de clientes e para onde for chamado, o barbeiro vai. “Eu consigo vender o meu produto já com a estrutura como deve ser feito, quando armo a estrutura, o cliente já sabe um pouco do que pode ser esperado”, declarou com confiança. 

Mesmo com a onda de violência, Pedro diz que não sente medo das maldades do mundo. “Essa estrutura é tudo o que eu tenho, mas eu saio de casa sabendo que nada vai me acontecer porque se planto o bem, nada de mal pode me acontecer”. 

Pedro diz que tem muito orgulho de fazer parte de uma profissão milenar e que é respeitada em qualquer lugar, embora não raro pareça ser imperceptível aos olhos de alguns. “Não é só cortar cabelo, cuidamos da autoestima das pessoas. O cliente às vezes não sabe o que vai acontecer, mas vai sair dali melhor do que chegou e eu sempre dou o melhor de mim”, ressaltou enquanto se aproximou mais uma pessoa que escutava de longe apenas para elogiar. “Eu nunca vi na rua alguém trabalhar sem dar preço, eu pagaria R$100 reais só pelo que você está falando, parabéns pelo trabalho”, ressaltou o jovem no momento em que Pedro dizia exatamente que todo o esforço vale a pena. “Se o sol não sair, irradie a sua própria luz”, retrucou em forma de agradecimento no final da entrevista.

 

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