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O Teatro Estação Gasômetro, em Belém, recebeu na sexta-feira (17) a quarta edição do UNAMA Fest Dance, festival de dança organizado pelo curso de bacharelado de Educação Física da UNAMA – Universidade da Amazônia. O festival reuniu dançarinos de companhias de Belém e 20 pessoas em tratamento oncológico monitoradas pela equipe da OncoFit.

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Segundo a professora do curso de Educação Física Mariela Maneschy, o evento é organizado pelos alunos da disciplina Metodologia da Dança e faz parte de uma atividade avaliativa. “A verba arrecada é usada para pagar os custos do teatro, porque a gente não consegue que o teatro saia gratuitamente. Os ingressos são só para o aluguel”, informou a professora.

Matheus Lima, aluno e representante geral da comissão do UNAMA Fest Dance, disse que o trabalho expandiu o seu conhecimento sobre os diversos estilos de dança. “É de extrema importância estar organizando esse evento, porque a gente conhece um pouco de cada estilo de dança. É uma forma de demonstrar o próprio sentimento através do corpo”, contou o aluno.

Cristina Caxias, participante do grupo de dança Laços de Amor, da OncoFit, e paciente oncológica, disse que a proposta é mostrar para as pessoas que estão passando pelo mesmo processo a ressignificação no processo terapêutico. No caso, por meio da dança.

Dançarina da Companhia Folclórica do Pará, Carla Costa disse que o convite para apresentação no festival teve um gosto especial. Ela destacou a importância do evento por abrir espaço para mostrar a cultura paraense. 

O público prestigiou o espetáculo. “Ano passado eu participei como aluno, me apresentei e hoje eu vim só prestigiar. São vários tipos de ritmos, estilos diferentes e a cada ano vem inovando”, disse Agnaldo Braga, que estava na plateia.

 

Um médico anestesista acusado na França de 24 envenenamentos, incluindo nove fatais, em pacientes foi colocado em liberdade condicional nesta sexta-feira (17), para a decepção e incompreensão de suas vítimas.

Os pacientes, submetidos a intervenções cirúrgicas de menor importância, sofreram paradas cardíacas durante as operações em Besançon, onde atuava o dr. Frédéric Péchier, de 47 anos.

Os investigadores suspeitam que o médico alterava intencionalmente as injeções a serem aplicadas nos pacientes, a fim de causar incidentes operatórios para, em seguida, exercer o seu talento e reanimar as vítimas.

Após várias horas de audiência na quinta-feira (16), a juíza decretou a liberdade condicional do médico, enquanto o Ministério Público havia solicitado a sua detenção provisória. "É uma decisão justa e oportuna", reagiu à AFP Randall Schwerdorffer, um dos advogados do anestesista.

Já proibido de exercer a profissão, o médico também está proibido de ir a Besançon e à cidade vizinha onde mora.

"O MP vai obviamente apelar desta decisão", disse à AFP o procurador da República em Besançon, Etienne Manteaux. Este recurso será examinado "dentro de 15 dias", informou.

Para as vítimas, "que vivem há dois anos um verdadeiro elevador emocional", a liberdade "é bastante incompreensível", disse Frédéric Berna, advogado das partes civis.

Acusado em 2017 por sete primeiros casos de envenenamento - incluindo dois fatais - e deixado em liberdade condicional, Péchier voltou a ser acusado na quinta-feira de "envenenamento de pessoas vulneráveis" por outras 17 pessoas. Sete desses pacientes morreram.

Segundo Manteaux, o anestesista admitiu no final de seu interrogatório que "atos criminosos, envenenamentos, foram cometidos na Clínica Saint-Vincent", onde trabalhava, mas ele negou ser o autor.

"Eu não vi (no arquivo) que houve qualquer reconhecimento de envenenamento pelo dr. Péchier", reagiu Jean-Yves Le Borgne, um de seus advogados.

Para o procurador, o médico "apareceu como o denominador comum" dos eventos relatados pelo corpo médico entre 2008 e 2016. Os 17 novos casos, identificados entre 66 casos suspeitos, referem-se a pacientes com entre 4 e 80 anos.

Este caso faz lembrar o de um ex-enfermeiro alemão, acusado de cerca de 100 assassinatos de pacientes por injeção letal, para o qual a prisão perpétua foi solicitada na quinta-feira. Niels Högel é acusado de injetar drogas nos pacientes para causar parada cardíaca antes de tentar revivê-los, na maioria das vezes sem sucesso.

Péchier nunca foi apanhado em flagrante, mas está no centro de "um conjunto de elementos concordantes", garantiu o magistrado. Segundo ele, os eventos suspeitos se deram "num contexto de conflito com seus colegas anestesistas ou cirurgiões" da Clínica Saint-Vincent de Besançon.

O anestesista "costumava ficar nas imediações da sala de cirurgia", apresentando "diagnósticos precoces" quando "não havia evidência, nesta fase, de suspeita de uma overdose de potássio ou anestésicos locais", apontou o procurador.

O advogado dos pais da mais jovem suposta vítima, uma criança de quatro anos operada de amigdalite em 2016 e que sobreviveu a duas paradas cardíacas, Jean-Michel Vernier, expressou sua "raiva" e sua intenção de ele mesmo se tornar uma parte civil.

Sem cortar o cabelo desde fevereiro de 2017, um garoto de 14 anos resolveu ceder as madeixas para confeccionar perucas que serão doadas a pacientes com câncer. Ele revelou que a iniciativa surgiu após assistir uma matéria sobre crianças com a doença. O caso aconteceu em Mongaguá, Litoral de São Paulo e foi divulgado pelo G1.

Desde os 12 anos, Miguel Conceição da Silva - atualmente com 14 anos - deixou o cabelo crescer pelo desejo de doá-lo para pessoas com câncer. "A iniciativa partiu toda dele após ver a matéria que, inclusive, mostrava as perucas que eram feitas para serem doadas as vítimas da doença. Para a família toda é um orgulho", afirmou o pai, Itaci Paulo da Silva.

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No último 8 de abril, dia do seu aniversário, Miguel foi a um salão da cidade e cortou o cabelo. Um dia depois, foi ao Hospital Guilherme Álvaro para realizar seu desejo. "No dia da doação me senti muito feliz", declarou. Miguel também contou que foi difícil enfrentar o calor durante dois anos, mas não pretendia desistir do objetivo. "Meus pais acharam muito legal, pensaram que eu não iria aguentar no verão, porque realmente dava muito calor, mas eu estava muito motivado a doar".

O pai se surpreendeu com os 40 centímetros doados, distribuídos em aproximadamente 12 mechas, e falou sobre a reação dos pacientes ao receber a doação. "As pessoas não têm noção da importância do cabelo para a autoestima dessas vítimas de câncer. Quando as mulheres do hospital viram a doação do Miguel se surpreenderam. Ele é um excelente filho, fiquei muito emocionado com essa atitude".

O número de pessoas que procuraram atendimento médico alegando terem sido furadas durante as festas de Carnaval em Recife e Olinda só cresce. Desde o último dia 2 de março que 273 pessoas deram entrada no Hospital Correia Picanço. Todos os pacientes foram admitidos na unidade que é tida como referência estadual em doenças infecto-contagiosas.

Após triagem, 157 pessoas realizaram a profilaxia, que são medidas de preservação dos pacientes pós-exposição, para prevenir a infecção pelo vírus HIV. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES), as demais pessoas que procuraram atendimento se recusaram a fazer o teste rápido, que é pré-requisito para o uso da medicação e, consequentemente, o tratamento.

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"Com isso, todos foram orientados a realizarem o monitoramento de possíveis infecções no Próprio Hospital Correia Picanço", acentua a SES

Para além do Correia Picanço, a secretaria confirma que os atendimentos podem acontecer nos Serviços de Atenção Especializada (SAE) dos municípios de São Lourenço da Mata (Hospital e Maternidade Petronila Campos); Caruaru (UPA Vassoural), Pesqueira (Hospital Dr. Lídio Paraíba) e Serra Talhada (Hospital Professor Agamenon Magalhães - Hospam).

"É importante ressaltar que os índices de transmissão por meio de picadas com agulhas infectadas são considerados baixos, em média 0,3%", garantiu a Secretaria Estadual de Saúde.

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A Polícia Civil e a Vigilância Sanitária interditaram na manhã de terça-feira (29) uma clínica psiquiátrica, que fica no Setor Aeroporto Sul, em Aparecida de Goiânia, por uma série de irregularidades no funcionamento. De acordo com a delegada Cybelle Tristão, responsável pela investigação, no estabelecimento foram constatadas receitas preenchidas em branco, pessoas internadas sem vontade própria, documentos vencidos e pacientes com sinais de agressão.

Cerca de 60 pacientes foram retirados da unidade e encaminhados para outras clínicas. Segundo a delegada, a polícia, a Vigilância e os conselhos regionais de Farmácia e Medicina chegaram até a clínica depois de uma denúncia feita ao Ministério Público. “Foram encontradas irregularidades na farmácia do local, com alguns medicamentos vencidos, receitas assinadas por um médico psiquiatra em branco, e alguns relatos de pacientes alegando maus tratos. Esse tipo de tratamento constitui o crime de cárcere privado, lesão corporal”, explicou Cybelle.

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Foram conduzidos para o 4º Distrito Policial de Aparecida de Goiânia o dono da clínica, além de funcionários, para prestar esclarecimentos. A documentação falsificada foi apreendida e a polícia segue investigando o caso.

Parte do forro do teto do Hospital Geral de Areias (HGA), na Zona Oeste do Recife, caiu em decorrência das chuvas. Setores do hospital, que é referência no tratamento cirúrgico de doenças bucais, também ficaram alagados.

A direção do hospital confirmou que áreas foram afetadas pela força das águas, mas não deu detalhes das ocorrências. Segundo a direção, não houve prejuízo para pacientes nem profissionais de saúde. 

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Alguns pacientes estão sendo encaminhados para outras unidades de referência até a normalização da situação. A equipe de manutenção já está realizando os reparos nas áreas atingidas.

No final de 2018, o Hospital Geral de Areias passou por uma reforma no telhado. A empresa responsável pela obra foi contatada para realizar vistoria. A direção afirma realizar periodicamente a limpeza do telhado e das canaletas, serviço que foi feito na semana passada.

A partir desta quarta-feira (12), os interessados em presentear os pacientes do Hospital de Câncer de Pernambuco (HCP) poderão adotar uma das cartinhas expostas na árvore de Natal da instituição. A ação, intitulada Natal dos Sonhos, é promovida pela Rede Feminina Estadual de Combate ao Câncer, movimento de voluntários que atua no HCP, e já está na sua quinta edição: no ano passado, foram distribuídos cerca de 150 presentes. As cartas poderão ser adotadas até o próximo dia 21.

Grande parte das cartinhas foi escrita por pacientes da ala pediátrica da instituição. Videogames, celulares e computadores estão na lista dos presentes mais pedidos. “Nós incentivamos os pacientes a escreverem algo que realmente desejam ganhar. São sonhos e é possível realiza-los em grupos. Em muitas cartinhas, eles também pedem orações e saúde, para que possam passar o Natal com a família. Nos empenhamos para que eles possam associar o HCP à alegria e à vida”, diz a presidente da Rede Feminina, Maria da Paz. 

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Os padrinhos podem entregar os presentes diretamente aos pacientes, mas é preciso deixar o contato (nome e telefone) cadastrado com os voluntários da Rede Feminina. “Fazemos questão de acompanhar e registrar essa visita, que é acompanhada pela gratidão dos nossos pacientes”, declara Maria da Paz.

Panetones

A Rede Feminina também está realizando, até o próximo dia 31, a arrecadação de panetones, item indispensável nas festas de fim de ano. “Os panetones serão entregues para todos os pacientes da instituição, incluindo os que estão recebendo alta e os que estão vindo para consultas. Quem recebe cesta básica, já está recebendo com o panetone”, reforça Maira da Paz.

Uma paciente que sofre com um linfoma de hodgkin denuncia que está sem poder continuar o tratamento de quimioterapia no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), localizado no bairro dos Coelhos, no Centro do Recife, por falta de um dos medicamentos utilizado no tratamento. Segundo Adriana Almeida, de 32 anos, os funcionários do local informaram que o remédio Gencitabina está sem previsão de chegada.

Na sexta-feira (30), Adriana foi até o local para realizar o tratamento e foi orientada a voltar para casa. "Eles disseram que não há previsão para o remédio chegar e remarcaram a quimioterapia para a próxima sexta, dia 7. Mesmo assim, não deram certeza se será possível fazer", explica Fabio Thigre, marido da paciente. Ainda de acordo com ele, outros dez pacientes que aguardavam no local também foram mandados para casa. Segundo informações apuradas pelo LeiaJa.com, outros medicamentos da área de oncologia do IMIP também estão em falta. Atualmente, quase 2 mil adultos fazem sessões de quimioterapia no hospital.

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Adriana começou o tratamento em outubro deste ano e precisa realizar o procedimento a cada 15 dias para tratar o linfoma que atinge o seu pulmão. Após a quimioterapia, ela precisa, também, tomar alguns medicamentos que ajudam a diminuir as reações ao tratamento. Segundo Fábio, esses remédios também estão em falta na farmácia do Imip."Isso é tão constante que os nossos amigos criaram a campanha #todoscomAdriana para nos ajudar a pagar os remédios", revela.

Procurado pelo LeiaJa.com, o Imip enviou apenas uma linha de resposta. "O IMIP informa que os medicamentos estão sendo adquiridos e nenhum paciente será prejudicado", disse o instituto através de nota.

Um tratamento inovador envolvendo o estímulo elétrico da medula espinhal permitiu a pacientes com paralisia voltar a andar, aparentemente reativando conexões nervosas. A novidade reacende as esperanças de recuperação dos movimentos mesmo anos depois da ocorrência de uma lesão.

Uma equipe de cientistas, incluindo neurocirurgiões e engenheiros, usaram impulsos elétricos direcionados para obter os resultados, ativando músculos individuais em sequência, da forma como o cérebro faz.

Os impulsos são produzidos por um implante posicionado sobre a espinha, cuidadosamente alinhado com áreas que controlam os músculos na parte inferior do corpo. Até o momento, os resultados foram promissores.

"Este teste clínico me deu esperança", disse Gert-Jan Oskam, de 35 anos, que após um acidente de trânsito em 2011, ouviu que nunca mais voltaria a andar. Após cinco meses de tratamento, ele agora consegue andar curtas distâncias mesmo sem a ajuda dos estímulos elétricos.

Trata-se do clímax de "mais de uma década de pesquisa cuidadosa", afirmou à Gregoire Courtine, neurocientista do Instituto Federal de Tecnologia da Suíça, que ajudou a chefiar a pesquisa.

Testes anteriores usaram o chamado estímulo elétrico contínuo da espinha, que funcionou bem em camundongos, mas obteve resultados menos impressionantes em humanos.

Depois de alguns meses de treinamento com os impulsos direcionados, no entanto, "nossos participantes foram capazes de ativar seus músculos previamente paralisados sem o estímulo elétrico", disse Courtine.

"O resultado foi completamente inesperado", acrescentou, em um vídeo que será divulgado na quinta-feira por ocasião da publicação da pesquisa. "Eles conseguiram até dar alguns passos sem qualquer suporte, sem ajuda das mãos. Para mim, ver esta recuperação foi incrível".

- 'Reativando' conexões nervosas -

Filmagens feitas do estudo mostram claramente a forma como o estímulo direcionado difere dos impulsos contínuos. Com o estímulo direcionado, o paciente caminha de uma forma quase normal, com os pés subindo e descendo a cada passo.

O estímulo continuado, ao contrário, produz um movimento mais desengonçado, com os pés do indivíduo se arrastando, tirando-lhe o equilíbrio. Além disso, o impulso direcionado, combinado com um programa de fisioterapia extensivo, aparentemente conseguiu reativar as conexões nervosas que ficaram inativas após a lesão sofrida.

David Mzee, de 28 anos, sofreu paralisia completa na perna esquerda após um acidente em 2010, mas depois do programa de cinco meses, ele é capaz de caminhar por até duas horas com um andador usando o estímulo elétrico, ou dar passos em distâncias mais curtas sozinho.

O estímulo começa com um impulso direcionado a um músico para incitar o paciente a começar um movimento - um passo por exemplo. Sensores no pé detectam o movimento como a fase inicial de um passo e impulsos direcionados adicionais ativam os movimentos musculares necessários para completar o passo e repeti-lo.

Ao mesmo tempo, os pacientes pensam em mover estes músculos e caminhar. Uma vez que os neurônios no cérebro disparam quase ao mesmo tempo em que os impulsos elétricos estimulam os músculos, a técnica parece eventualmente "reconectar" o cérebro aos músculos.

Os pacientes conseguem, então, comandar o movimento muscular mesmo sem o impulso elétrico.

- 'Muito trabalho a fazer' -

"Foi incrível ver todos estes pacientes mexendo suas pernas sem o estímlo elétrico", disse Jocelyne Bloch, neurocirurgiã do Hospital da Universidade de Lausanne, que ajudou a conduzir o estudo.

Em uma avaliação independente, Chet Moritz, professor associado do departamento de medicina de reabilitação da Universidade e Washington, elogiou o trabalho.

"O campo da lesão na medula espinhal está destinado a dar um salto gigantesco no tratamento daquilo que era até muito recentemente considerado paralisia incurável", escreveu.

Courtine alertou, no entanto, que é "muito importante calibrar as expectativas", destacando que os três pacientes ainda dependem na maior parte do tempo de suas cadeiras de rodas.

O estudo também se concentrou apenas em pacientes que preservaram algum tipo de sensação na parte inferior do corpo. Courtine disse esperar para ver a técnica combinada com tratamentos biológicos no reparo neuronal.

Ele e Bloch fundaram uma start-up que irá refinar o tratamento e testá-lo em pessoas que sofreram lesões recentes na coluna espinhal, quando a técnica é mais propensa a ter sucesso. "Ainda há muito trabalho a fazer para mudar as vidas destas pessoas", disse Courtine.

O aposentado Carlos Alberto (de camisa azul) passou a receber atendimentos de saúde nas próprias farmácias. Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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Disposto a uma conversa agradável e sempre pronto para compartilhar uma boa piada, o aposentado Carlos Alberto Fernandes Seixas, de 56 anos, reflete bem-estar. Além da feição feliz, o recifense demonstra uma saúde admirável e revela ser um dos brasileiros que não abrem mão de manter consultas médicas rotineiras. Ele entende que cuidar do próprio corpo, sob orientações de profissionais especializados, é fundamental para quem almeja uma boa condição física. Mais do que isso, Paulo também faz questão de praticar exercícios com regularidade, guardando um carinho especial pelas suas indispensáveis caminhadas em ruas da Zona Norte da capital pernambucana.

Morador do tradicional bairro de Casa Amarela, um dos mais populosos do Recife, ele revela que - entre uma caminhada e outra - um endereço é destino obrigatório na sua rota. Há pelo menos dois anos, ele frequenta com regularidade uma das farmácias da rede Pague Menos. Na unidade, o aposentado descobriu e incluiu em sua rotina os atendimentos clínicos realizados por farmacêuticos, que vão de testes rápidos, como o de glicemia, até aferição de pressão arterial. Sua confiança pelo serviço ganhou mais força quando, ao ser orientado por um desses profissionais, checou uma informação junto a sua médica.

“Uma pessoa maravilhosa é o Adriano, o farmacêutico que me atende sempre. Inclusive, tive um problema na próstata; falei com Adriano, ele viu todos os exames e informou que estava tudo bem comigo. Como sou exigente, levei os exames para a minha médica, que confirmou e elogiou o serviço da farmácia. Isso me fez dar mais crédito ainda. É uma prova de que o serviço farmacêutico mudou, antigamente os farmacêuticos apenas entregavam o remédio para comercializar. Hoje, no entanto, eles olham o lado humano do cliente. Estou tendo um atendimento maravilhoso”, conta o aposentado.

Cliente assídua da farmácia, assim como Seu Carlos, a dona de casa Valdenice Almeida, 69 anos, também adotou o serviço farmacêutico. Ela reside no bairro há 18 anos, mas só há cerca de três anos passou a ter orientação sobre saúde na própria unidade. “Passo aqui, faço aferição e recebo muitas informações. Antes, o cliente só consumia remédio, mas após esse serviço ficou muito melhor. A gente compra e ainda cuida da nossa saúde. O próprio atendimento melhorou”, opina.

 Outro cliente que passou a receber atendimentos farmacêuticos regularmente, o aposentado José Arthur de Sá, 73, acredita que o serviço é um diferencial importante no concorrido mercado de farmácias. Sempre que volta da academia onde pratica exercícios físicos, Seu José faz questão de entrar na unidade recifense para realizar exames rápidos ou simplesmente bater um papo descontraído com a equipe farmacêutica. Na sua ótica, esse tipo de emprendimento não é um simples ponto comercial; é também, para ele, um espaço de saúde que tem o objetivo de contribuir para a população brasileira.

“Diariamente, mais ou menos umas 10h, passo aqui para comprar produtos. Além disso, no meio da semana, venho aferir a pressão e fazer um exame rápido. Preciso me cuidar porque tenho 73 anos e quero ter um final feliz de vida" afirma José, que ainda elogia as conversas e orientações atenciosas dos farmacêuticos.

  

O aposentado José Arthur de Sá incluiu em sua rotina a assistência farmacêutica / Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

Todo esse serviço clínico aplicado desde 2014 pelas grandes redes era chamado por especialistas do segmento como “revolução silenciosa”. Hoje, no entanto, a revolução já ecoa em alto tom por muitas unidades. Encabeçada pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), a ação pretende massificar nos estabelecimentos o serviço de saúde no âmbito da assistência farmacêutica. Empresas do setor estão recebendo consultoria sobre a iniciativa, bem como profissionais da área têm à disposição inúmeras capacitações contínuas - que facilitam a adequação à essa nova realidade de mercado -. O conjunto dessas ações impacta, consequentemente, nas esferas econômica, profissional e - principalmente -na saúde dos clientes. Praticamente, todos os serviços são gratuitos. 

Adriano Costa, o farmacêutico elogiado por Seu Paulo e outros clientes, acredita que os atendimentos começaram a modificar a formação dos profissionais da área. De acordo com ele, o mercado não tem espaço para um farmacêutico que se atenha apenas a vender ou encontrar o produto do cliente na prateleira. É preciso, sobretudo, segundo Adriano, se enxergar como profissional da saúde, que tem um papel importante em prol do bem-estar da sociedade.

>> Fortalecimento das salas clínicas e um mercado que propaga saúde

De acordo com a Abrafarma, a quantidade de estabelecimentos com salas onde são realizados os serviços farmacêuticos mais do que dobrou nos últimos 12 meses. O número saiu de 605 para 1.670 unidades, que corresponde a um avanço de 176%. Ainda segundo a Associação, a previsão é que, até o final deste ano, sejam realizados 2,6 milhões de atendimentos nas grandes redes de farmácias. Essa estimativa otimista reflete explicitamente o crescimento exponencial desse tipo de atividade, uma vez que a projeção representa praticamente o dobro do número de ações registradas em 2017 no setor: 1,4 milhão de atendimentos.

Os levantamentos da Abrafarma ainda vislumbram uma expansão nos serviços realizados nas unidades, principalmente os que são considerados como "avançados". Segundo a instituição, dos 1.670 estabelecimentos que dispõem de salas clínicas, mais de 900 contam com oito programas de saúde apontados nessa categoria. A projeção é que, até o final de 2018, esse número passe de 2 mil estabelecimentos. 

 

Na Pague Menos, o serviço de atendimento farmacêutico, iniciado em 2014, foi batizado de 'Clinic Farma'. A rede estipula que realizou, apenas no primeiro semestre deste ano, cerca de 3 milhões de procedimentos clínicos, duas vezes mais do que o ano passado. Das quase mil lojas da rede distribuídas em 26 estados brasileiros, mais de 700 unidades contam com salas clínicas. De acordo com a gerente nacional da Clinic Farma, Socorro Simões, todo o trabalho voltado para a saúde, além de ser uma exigência do mercado farmacêutico, empodera os profissionais da área e fideliza ainda mais a relação da empresa com os clientes.

“Cada vez mais, queremos levar saúde à população brasileira - que está sempre procurando esse serviço -. É um atendimento que acaba empoderando o profissional a atuar, prestando uma atenção farmacêutica eficiente. Hoje a gente já nota que o cliente entende que é um serviço diferenciado. O público pode agendar para um atendimento contínuo ou pode começar a receber orientação quando chega às nossas unidades dentro do horário comercial”, explica Socorro Simões.

Segundo a coordenadora farmacêutica da Pague Menos em Pernambuco, Micalyne Egito, o avanço dos serviços farmacêuticos não dispensa o atendimento médico. De acordo com ela, esse é o alerta feito pelos profissionais da área durante os contatos com os clientes. No áudio a seguir, Micalyne dá mais detalhes do serviço e faz uma projeção sobre as tendências do segmento.

Presidente-executivo da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto aposta nas experiências internacionais para continuar o fortalecimento do atendimento farmacêutico no Brasil. O gestor ainda reforça que é importante para os especialistas do segmento de saúde e, principalmente, para a própria população, um trabalho conjunto entre, por exemplo, os profissionais de farmácia e os médicos de diferentes áreas.

“No mundo inteiro, a farmácia tem ocupado um papel de mais protagonismo na saúde, por ser um local de maior proximidade com a população e o farmacêutico por ser um profissional que entende de doença e medicamentos. O farmacêutico pode ser um protagonista, auxiliando o tratamento médico. Para se ter uma ideia, nos Estados Unidos, o governo ou planos de saúde pagam para o farmacêutico organizar ou gerir medicamentos de um paciente, porque não é o médico que faz isso, e sim o profissional de farmácia”, explica o presidente da Abrafarma. 

Barreto valoriza ainda o contato profissional que é feito com o cliente. É um vínculo, segundo ele, que perpassa a questão comercial da venda de um medicamento ou qualquer outro produto, passando a permear o âmbito da saúde. “É ali, no atendimento clínico farmacêutico, que o cliente pode ter uma conversa muito mais franca sobre como ele se sente, sobre algum medicamento que ele usa ou por que não conseguiu mudar o hábito alimentar. O serviço ainda é uma novidade no Brasil, a gente aprovou uma lei em 2014 trazendo de novo este papel para as farmácias. Defendemos que a farmácia pode fazer três coisas: a primeira delas é identificar risco, fazendo testes rápidos. Você faz 25 testes na ponta do dedo, como diabetes, colesterol, dengue, um verdadeiro painel de identificação. Isso já tinha na Europa há muito tempo. Muito em breve vai se ver nas farmácias pequenas. O segundo ponto: imunização, ou seja, prevenção por meio de vacinas. Além disso, o terceiro é fazer com que o paciente que é crônico não abandone o tratamento”, detalha.

Campanhas compartilham saúde - Com o objetivo de combater doenças que afetam a população brasileira, grandes redes de farmácias, sob organização da Abrafarma, realizam, desde março deste ano, campanhas de saúde que conscientizam os clientes, de maneira gratuita, sobre os riscos de diferentes diagnósticos. A primeira ação tratou de obesidade. De acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), quase 20% dos brasileiros sofrem com o problema e mais da metade da população é acometida por sobrepeso. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, uma em cada cinco pessoas é obesa.

De 26 a 30 de março, os consumidores puderam solicitar aos farmacêuticos avaliação de peso, altura, taxa de gordura corpórea e orientações para controle do peso. O balanço da Abrafarma aponta que, especificamente nessa campanha, mais de 14 mil pessoas foram atendidas. Além disso, outro recorte impressiona: sete a cada dez clientes atendidos apresentaram sobrepeso.

Em junho deste ano, mais de mil farmácias, oriundas de dez grandes redes, realizaram a campanha de combate à asma. Segundo balanço das empresas, 7.211 clientes receberam atendimentos; foram realizados testes de controle da doença categorizados da seguinte maneira: "Excelente", "Bom" e "Mau".

Outro destaque foi a campanha realizada em agosto deste ano, direcionada a ações de combate ao colesterol. Segundo pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 60 milhões de brasileiros apresentam níveis altos de colesterol. Durante a campanha, 7.508 clientes foram atendidos em mais de 180 lojas.

Até novembro deste ano, vários problemas de saúde que devem ser combatidos estarão em pauta nas campanhas das grandes redes. Os calendários são divulgados nas redes sociais da Abrafarma e das farmácias envolvidas. 

Em 2017, foram realizadas nove campanhas de saúde no período de março a novembro. Mais de mil farmácias participaram das ações, promovendo um número superior a 80 mil atendimentos. Segundo levantamento da Abrafarma, cerca de 3 mil farmacêuticos atuaram durante as intervenções.

>> Vacinação amplia leque de serviços nas farmácias 

Em dezembro do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio da sua Diretoria Colegiada, aprovou resolução que permite qualquer estabelecimento de saúde realizar vacinações, como farmácias e drogarias. “A norma dá ao setor regulado mais clareza e segurança jurídica quanto aos requisitos que devem ser seguidos em todo o território nacional. Além disso, as vigilâncias sanitárias das Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde poderão exercer a fiscalização a partir de norma mais objetiva e uniforme quanto às diretrizes de Boas Práticas em serviços de vacinação, independentemente do tipo de estabelecimento”, informou o órgão em seu site oficial.

De acordo com a Anvisa, a população poderá identificar os pontos de farmácias que dispõem do serviço. Esses estabelecimentos deverão respeitar requisitos de qualidade e segurança já definidos pela Agência, “além de ter sua rotina facilitada pelo aumento das opções de escolha quanto ao local de prestação do serviço”. 

A seguir, é possível conferir ponto a ponto dos requisitos mínimos estabelecidos pela Anvisa para essa prática nos estabelecimentos em todo o país:

• Licenciamento e inscrição do serviço no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES);

• Afixação do Calendário Nacional de Vacinação, com a indicação das vacinas disponibilizadas;

• Responsável técnico;

• Profissional legalmente habilitado para a atividade de vacinação;

• Capacitação permanente dos profissionais;

• Instalações físicas adequadas, com observação da RDC 50/2002 e mais alguns itens obrigatórios a exemplo do equipamento de refrigeração exclusivo para a guarda e conservação de vacinas, com termômetro de momento com máxima e mínima;

• Procedimentos de transporte para preservar a qualidade e a integridade das vacinas;

• Procedimentos para o encaminhamento e atendimento imediato às intercorrências;

• Registro das informações no cartão de vacinação e no Sistema do Ministério da Saúde;

• Registro das notificações de eventos adversos pós vacinação e de ocorrência de erros no Sistema da Anvisa;

• Possibilidade de vacinação extramuros por serviços provados; e

• Possibilidade de emissão do Certificado Internacional de Vacinação ou Profilaxia (CIVP).

Inicialmente, a vacinação em farmácias era realizada nos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e em Brasília. Agora, a partir da regulamentação da Anvisa, o serviço está sendo levado para as demais regiões. “Vacina é um problema no Brasil. A gente tem uma cobertura boa com crianças e idosos, mas da população de 20 a 59 anos, 64% das pessoas não se vacinam. E o adulto, nessa faixa a partir dos 20, deveria tomar umas 12 vacinas. A gente vai começar a viver uma nova era na saúde brasileira por causa dos novos papéis das farmácias”, explica presidente-executivo da Abrafarma.

Ainda de acordo com a gestão da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias, é de se comemorar a autorização por parte da Anvisa. Além disso, para Sérgio Mena Barreto, a questão financeira terá um impacto positivo para a população, já que a tendência é que as vacinações sejam barateadas, em comparação com clínicas privadas.“O custo é outro problema importante. Em uma vacina de gripe, por exemplo, se cobra até R$ 180. Uma farmácia pode trabalhar em uma faixa entre R$ 70 e R$ 80”, opina.

Em artigo publicado no último mês de julho, a Associação reitera sua posição sobre o trabalho dos profissionais de farmácia também na vacinação. Segundo o texto, as unidades vinculadas a grandes redes estão pontas para oferecer o serviço. 

“O estímulo ao autocuidado torna-se uma estratégia ainda mais necessária em razão da baixa cobertura vacinal no Brasil. Essa realidade contribui para que doenças já erradicadas voltem a preocupar autoridades sanitárias e profissionais de saúde. A ameaça do ressurgimento de males como sarampo, rubéola e poliomielite levou até a criação de uma força-tarefa envolvendo Brasil, Argentina, Chile e Paraguai. Entidades como a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) mostram-se atentas ao tema e alertam para a importância de incentivar a vacinação especialmente entre crianças. As farmácias podem ter um importante papel no aumento da cobertura vacinal, atuando na imunização e também como pontos de educação em saúde. Desde 2017, esses estabelecimentos podem oferecer vacinação e centenas de farmácias em todo o país já contam com o serviço”, diz trecho do artigo.

Um posicionamento oficial da Sbim orienta que sejam respeitadas exigências importantes para o funcionamento dos serviços de vacinação humana. “A entidade participou ativamente no período da consulta pública da proposta, com o envio de várias sugestões, e elaborou uma Nota Técnica sobre a questão, disponibilizada na página da entidade (sbim.org.br) em 13/07/2017. Na ocasião, já ressaltávamos algumas situações de risco que necessitam ser muito bem avaliadas na nova realidade”, consta no posicionamento. Confiram alguns pontos reforçados pela Sociedade Brasileira de Imunizações em um comunicado oficial:

A SBIm entende que os imunobiológicos só devem ser ofertados se for possível cumprir todos os processos que garantam a segurança dos pacientes, entre os quais: triagem de indicações e contraindicações; correto manuseio, conservação, preparo e administração das vacinas; registro e descarte apropriado de resíduos, assim como atendimento e notificação de eventos adversos imediatos e tardios.

Além disso, a estrutura física deve ser adequada para que todos os procedimentos (antes, durante e após a vacinação) possam ser desenvolvidos com segurança. As boas práticas incluem, ainda, fornecer orientações, zelar pelo indivíduo em todas as fases do processo e se responsabilizar pela conduta diante de quadros adversos. Ou seja, serviços de vacinação não podem ser confundidos com administradores de produtos segundo protocolos.

As atividades de vacinação são complexas e somente podem ser exercidas por profissionais capacitados e em estabelecimentos devidamente licenciados para esse fim pela autoridade sanitária. O trabalho de fiscalização por parte dos órgãos competentes se tornará cada vez mais importante. Do contrário, a população pode ser penalizada.

Segundo estudo realizado pelo Ibope Inteligência, com a participação de mais de 2 mil pessoas, 52% dos entrevistados aprovam a implementação do serviço de vacinação nas farmácias. Em outro recorte, a pesquisa aponta que 81% dos participantes do levantamento demonstram segurança para receberem vacinas em estabelecimentos farmacêuticos.  

>> Um mercado ainda mais exigente

A propagação dos serviços de saúde que beneficiam os clientes das grandes redes proporciona ainda um impacto profundo na formação dos farmacêuticos brasileiros. Com a adesão das empresas ao fortalecimento da assistência farmacêutica em seus estabelecimentos, consequentemente, o próprio mercado passou a exigir profissionais ainda mais qualificados e empoderados, cientes de que têm um papel importante em prol da população.

Para especialistas e professores da área de farmácia, os cursos de graduação precisam intensificar uma formação que trate o farmacêutico como um autêntico profissional de saúde, que não se resumirá a entregar os produtos exigidos pela clientela. Aos 26 anos, Robson Oliveto dos Santos, natural de Recife, ingressou na graduação atento às exigências do mercado. O jovem sempre quis atuar nas redes de farmácia e, para isso, compreendeu que o hoje o mercado cobra, além de formação superior, capacitações contínuas.

“Há alguns anos, prestei serviço em uma rede de drogarias e percebi como o mercado era amplo para os farmacêuticos. Inicialmente fiz o curso técnico e posteriormente entrei na graduação. O profissional farmacêutico é preparado para atuar em várias áreas, mas o meu intuito é trabalhar nas empresas. Gosto bastante do trabalho voltado para os atendimentos farmacêuticos, porque todos esses projetos valorizam os profissionais”, diz o graduando do quinto período.   

De acordo com o farmacêutico da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e chefe do setor de farmácia do Hospital das Clínicas, localizado no Recife, José de Arimateia Rocha, a profissão ganhou novos ares. Para ele, o farmacêutico passou a ser visto como um profissional de saúde que está pronto para atender a população. 

“Com a industrialização dos medicamentos, a função do farmacêutico boticário foi sendo desvalorizada, porque no lugar de você fabricar o medicamento, apenas entregava o produto. No Brasil, na década de 60, essa industrialização foi muito forte. Mas o tempo todo as entidades e universidades reivindicavam a volta da atuação dos profissionais para as farmácias, porque o medicamento, mesmo industrializado, requer uma orientação especializada para o público. E hoje, com a exigência da presença de farmacêuticos nas lojas, nossa profissão ficou fortalecida. Foi um retorno importante desse trabalhador ao mercado”, explica José de Arimateia.

“Essa atividade nas farmácias é um ganho significativo para a população. Fora do Brasil, por exemplo, não existe farmácia sem farmacêutico. Nós despertamos nos últimos quatro, cinco anos. A população é quem ganha. Vale lembrar que o médico ainda é quem define o diagnóstico. Se o farmacêutico tiver algum questionamento, ele precisa levar a informação ao médico”, acrescenta o especialista.

O farmacêutico ainda explica que o foco principal do mercado é o comércio no âmbito das farmácias e drogarias, pois são os principais empregadores. Por isso, é preciso conhecer bem os medicamentos e os serviços. "Hoje são oferecidos muitos cursos de atualização e pós-graduação, que são atividades essenciais para a formação de um bom profissional de farmácia. Há uma evolução de profissionais no mercado e quem se qualificar e tiver mais competência vai ficar no mercado. Até os bons profissionais precisam se qualificar mais”, finaliza.

Segundo dados do ‘Perfil do Farmacêutico no Brasil’, produzido em 2015 pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), 27% dos profissionais da área atuavam em drogarias e farmácias das grandes redes. Em 2016, o CFF divulgou que há mais de 200 mil farmacêuticos inscritos nos conselhos regionais do país, mas não detalhou quantos desses estão trabalhando. A Abrafarma estipulou, no ano passado, que as grandes redes contam com mais de 22 mil farmacêuticos empregados, conforme levantamento feito pela Universidade de São Paulo (USP). 

Com a área de atuação fortalecida pelos serviços clínicos, a formação do farmacêutico precisa dedicar boa parte da sua duração às experiências de atendimento aos clientes. Qualificação contínua, nesse quesito, é primordial. Em entrevista ao LeiaJá, a doutora em Fármaco e Medicamentos pelo Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP), Maria Aparecida Nicolettis, contextualiza de maneira aprofundada os cenários que vão da graduação à atuação dos profissionais no mercado. Confira a entrevista: 

LeiaJá: Como a senhora explica o trabalho realizado pelos profissionais de farmácia no Brasil? O que mudou desde que os atendimentos clínicos passaram a ser fortalecidos nas grandes redes?

Doutora Maria Aparecida Nicolettis: A Farmácia Clínica teve origem nos Estados Unidos, na década de 60, quando - ao final dessa década - houve a inclusão de disciplinas dessa área no currículo dos cursos de farmácia norte-americanos e é entendida como uma filosofia na qual o farmacêutico deve utilizar seu conhecimento profissional para promover o uso seguro e apropriado de medicamentos, em equipe multiprofissional de saúde. A Farmácia Clínica surgiu em ambiente hospitalar e estabelece uma supervisão contínua do paciente. Atualmente, incorpora a filosofia do Pharmaceutical Care (Cuidado Farmacêutico) e, como tal, expande-se a todos os níveis de atenção à saúde e pode ser desenvolvida em hospitais, ambulatórios, unidades de atenção primária à saúde, farmácias comunitárias, instituições de longa permanência e domicílios de pacientes, entre outros.

Segundo Robert Miller (1968), “A Farmácia Clínica é a área do currículo farmacêutico que lida com a atenção ao paciente com ênfase na farmacoterapia. A Farmácia Clínica procura desenvolver uma atitude orientada ao paciente. A aquisição de novos conhecimentos é consequência do desenvolvimento de habilidade de comunicação interprofissional e com o paciente”.

O Conselho Federal de Farmácia conceitua Farmácia Clínica como “área da farmácia voltada à ciência e prática do uso racional de medicamentos, na qual os farmacêuticos prestam cuidado ao paciente, de forma a otimizar a farmacoterapia, promover saúde e bem-estar, e prevenir doenças”.

Portanto, as atribuições clínicas do farmacêutico visam proporcionar cuidado ao paciente, família e comunidade, de forma a promover o uso racional de medicamentos e otimizar a farmacoterapia, com o propósito de alcançar resultados definidos que melhorem a qualidade de vida do paciente.

No contexto da Farmácia Clínica foram estabelecidas as atividades clínicas do farmacêutico relacionadas ao cuidado ao paciente e, portanto, o cuidado farmacêutico deve ser realizado em modelo biopsicossocial - entendendo o indivíduo em sua integralidade.

LeiaJá: Em termos de formação universitária, de que maneira as nossas universidades devem formar os futuros farmacêuticos, levando em consideração as exigências do mercado?

 Nicolettis:  A Farmácia Universitária deve estar alinhada ao Projeto Político Pedagógico dos Curso de Farmácia da IES e apresenta uma importância fundamental na formação acadêmica por meio na integração do conteúdo teórico de sala de aula à prática na vivência com o paciente e, também, o desenvolvimento da prática em equipe multiprofissional. O egresso do Curso de Farmácia deve apresentar uma formação sólida para o entendimento e manejo das necessidades do paciente, família e comunidade na prática do cuidado farmacêutico.

LeiaJá: Como a senhora detalha a importância do profissional de farmácia para a saúde da população brasileira? Como deve ser a interação desse profissional com os médicos?

Nicolettis:  O profissional está diretamente em contato com o usuário do medicamento e oportuniza a educação em saúde de maneira muito efetiva. O contato com o indivíduo possibilita ao profissional identificar falhas no uso racional de medicamentos, de maneira que possa fazer as intervenções cabíveis para a segurança do usuário. O profissional, também, se torna referência no esclarecimento de dúvidas e no fornecimento de informação técnica-científica a outros profissionais. Nos últimos anos, detectou-se a necessidade da integração com equipe multiprofissional da saúde devido ao grau de expertise profissional das diferentes áreas de atuação. Em doenças crônicas não-transmissíveis, por exemplo, é fundamental que o farmacêutico atue em equipe multiprofissional não somente com médicos, mas também, com outros profissionais da saúde no cuidado integral. A atuação em equipe multiprofissional de saúde deverá ser incorporada a todos os profissionais objetivando a obtenção dos melhores resultados em relação à qualidade de vida do paciente/indivíduo.

LeiaJá: No que diz respeito à aplicação de vacinas nas farmácias, como a senhora analisa o serviço?

Nicolettis:  Para a disponibilização do serviço, o profissional deve estar capacitado e atualizado, além de cumprir com as competências que lhe são atribuídas em seu âmbito profissional. Sem dúvida que esse serviço trará benefícios à população, entretanto, todas as exigências legais para sua prática deverão ser estabelecidas por meio de procedimentos operacionais padrão e treinamentos realizados para que a qualidade do serviço seja assegurada à população.

LeiaJá: De que maneira os profissionais de farmácia devem se qualificar para atender exigências de mercado das grandes redes? Quais áreas de especialização a senhora indicaria?

Nicolettis:  Os profissionais têm cenários diferentes em relação às populações que atendem, bem como, em relação aos serviços de saúde da região onde estão localizados. A qualificação profissional e a atualização constante são imprescindíveis a qualquer indivíduo para exercer a sua profissão.

Portanto, as características epidemiológicas da população da região de onde está localizada a farmácia precisa ser conhecida para que o profissional possa atuar de maneira abrangente e ter sua especialização direcionada às necessidades avaliadas.

A divulgação de conhecimento é uma das atribuições do profissional da saúde e a orientação para ações preventivas é essencial para o indivíduo, a coletividade e o serviço público de saúde, considerando nesse último, os gastos com internações e medicamentos que poderiam ser evitados e aplicados em outras situações.

Há muito que se fazer em termos de melhoria de conhecimento da população. Todas as ações desde que praticadas com fundamentação técnico-científica contribuirão em algum grau para a melhoria do conhecimento na área da saúde pela população. O País precisa urgentemente melhorar a qualidade de informação da população que, além de heterogênea, tem características distintas dependendo da classe social a qual pertence.

Outro aspecto que deverá ser salientado é a responsabilidade do usuário do medicamento em utilizá-lo de maneira correta porque, para o sucesso terapêutico, todos devem desempenhar as ações de competência que lhes são inerentes, ou seja, tanto o prescritor, o dispensador e o usuário de medicamento têm cada um no seu nível, a responsabilidade pela recuperação da saúde. Se o paciente não utiliza o medicamento adequadamente, a resposta terapêutica ficará prejudicada ou ausente. É muito importante reiterar a participação e responsabilidade do paciente no processo de recuperação da saúde. O medicamento tem um papel importantíssimo e, para tanto, deverá ser usado adequadamente com a responsabilidade compartilhada.

LeiaJá – Por fim, como a senhora define a profissão de farmacêutico e a atuação das grandes redes no futuro? É possível dizer que as farmácias passarão a ser, de fato, uma alternativa ao SUS no que diz respeito aos atendimentos clínicos, como a realização de exames rápidos?

Nicolettis:  A atualização profissional e o trabalho em equipe multiprofissional da saúde são exigências para a prática das atividades clínicas do farmacêutico. A legislação tem avançado bastante nas competências atribuídas ao farmacêutico, entretanto, a qualificação profissional deverá ser uma condição indispensável. Não penso que a farmácia deva ser uma alternativa ao Sistema Único de Saúde, mas sim, agregar práticas que possibilitem a prática do cuidado farmacêutico em seu âmbito de competência. Todos devem cumprir o seu propósito estabelecido em relação à sua estrutura de atendimento, entretanto, as carências do sistema público de saúde deverão ser sanadas, bem como, implementadas, e não delegadas a outras entidades relacionadas ao atendimento de saúde à população. O cuidado farmacêutico estabelece a provisão dos serviços e a responsabilidade é atender as necessidades de saúde do paciente no contexto da competência profissional a ele atribuída. Os exames rápidos, para auxiliarem no acompanhamento farmacoterapêutico do paciente, são necessários, entretanto, não deverão substituir os exames clínicos. A prática farmacêutica deve estar regulamentada para legitimar os profissionais e a segurança aos pacientes, nos serviços prestados.

“O Brasil precisa da farmácia clínica” - Em artigo publicado na ‘Revista Excelência Farmacêutica’, o presidente do Conselho Federal de Farmácias (CFF), Walter da Silva, valoriza a atuação profissional do farmacêutico e o fortalecimento dos serviços clínicos para a população. Em sua ótica, diante de um país que sofre os efeitos de uma saúde castigada, as farmácias clínicas podem ser um alento para a sociedade.

“O modelo de farmácia clínica avança, recebendo a aprovação da população à medida que promove a saúde e ajuda a diminuir os prejuízos nos sistemas público e privado, entre outros benefícios. Imaginem um país com a saúde pública marcada por dificuldades de gestão, falta de recursos, atraso tecnológico, uma corrosiva burocracia, carência de profissionais especializados, longas filas para o atendimento. Por outro lado, imaginem a existência de ilhas de prosperidade, no mesmo país e no mesmo setor. Estou falando do Brasil. Estou falando, também, do poder que as práticas de farmácia clínica têm de melhorar a saúde dos cidadãos. Essa área profissional apresenta um grande alcance sanitário, com profunda repercussão social. Por isso, o Conselho Federal de Farmácia (CFF) vem adotando políticas com vistas a fortalecê-la”, defende Silva.

No decorrer do texto, o representante da entidade continua defendendo sua ótica de que o serviço clínico proporciona qualidade em saúde para o público. “Agora, imaginem o país puxado para trás por dificuldades no setor de saúde. Pois este mesmo país também é puxado para a frente por um vasto elenco de serviços clínicos prestados pelos farmacêuticos. Nas farmácias, eles orientam sobre o uso correto e revisam a utilização de cada um dos medicamentos e a forma de organizar o tratamento; fazem o acompanhamento farmacoterapêutico, para garantir que os medicamentos alcancem os resultados esperados e não produzam efeitos colaterais, interações indesejáveis. Mais: prescrevem medicamentos – que não exigem receita médica – para o tratamento dos sintomas e de mal-estares de baixa gravidade (problemas de saúde autolimitados); e fazem exames preventivos para algumas doenças. Educadores em saúde por excelência, os farmacêuticos também atuam nos programas de tratamento e acompanhamento para emagrecimento e gerenciamento do peso e no abandono do tabagismo”, opina o presidente do Conselho Federal de Farmácias.

Walter da Silva também sustenta o discurso de que a população brasileira, em decorrência do seu envelhecimento, tende a consumir produtos de saúde com mais frequência, o que, para o presidente, mais do que comprova a relevância de profissionais farmacêuticos qualificados durante os atendimentos aos clientes. “O Brasil vem apresentando novas necessidades em saúde, com o envelhecimento da população. Entre os idosos, há uma prevalência de doenças crônicas. Cerca de 80% deles têm pelo menos uma doença crônica. Isso significa dizer que é três vezes maior a necessidade do uso de medicamentos por esses pacientes. Até porque o uso de medicamentos é um poderoso, se não o maior, processo de intervenção para melhorar o seu estado de saúde”, argumenta.

O presidente do CFF finaliza o artigo reiterando as exigências do mercado farmacêutico quanto às qualificações contínuas de seus profissionais. “As redes estão implantando um centro de cuidados clínicos, exigem que seus farmacêuticos se qualifiquem e prestem serviços humanizados e de alta qualidade aos seus clientes. É a virada na saúde”, conclui.

>> Qualificações enchem os currículos de saúde 

Olhares atentos às palestras, conversas profissionais e milhares de currículos sendo enriquecidos. Os encontros que reúnem farmacêuticos de todo o Brasil provam quão necessária é a capacitação contínua que esses colaboradores devem abraçar para dar prosseguimento aos serviços de saúde oferecidos nas farmácias brasileiras. Promovido pela Abrafarma, o Rood Show Care Center é um dos principais eventos da área que disseminam experiências em prol da saúde.

Recife, Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre são as capitais que recebem neste ano as edições do evento que projeta impactar cerca de 6 mil farmacêuticos. Durante os encontros, além de fortalecerem o networking com profissionais e gestores de outras empresas, os participantes consumem conteúdo de especialistas em saúde.

“São palestras ao longo de um dia, temas atuais que tem a ver com a prática, como por exemplo Vitamina D, diabetes, gravidez segura, obesidade, desnutrição. Tudo muito vinculado ao dia a dia do farmacêutico nos balcões das farmácias e principalmente para os que trabalham nos consultórios dentro das farmácias”, comenta o coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Abrafarma, Cassyano Correr.

Em maio deste ano, na edição recifense do Rood Show Care Center, centenas de farmacêuticos lotaram um centro de convenções para discutir saúde e fomentar práticas de serviços clínicos nas farmácias. A palestrante Eliete Bachrany, pós-graduada no segmento, compartilhou sua vivência em serviços farmacêuticos realizados em São Paulo. De acordo com a especialista, os eventos de qualificação contínua para profissionais da área são fundamentais porque, em sua análise, a assistência farmacêutica nas grandes redes “é um caminho sem volta”. No áudio a seguir, Eliete dá mais detalhes sobre suas experiências no mercado e no Rood Show Care Center:

Correr reitera o pensamento de Eliete em relação às farmácias como pontos onde, definitivamente, as pessoas terão acesso a serviços rápidos de saúde. “As farmácias estão se tornando grandes espaços de saúde, porque elas apoiam os médicos, hospitais, onde as pessoas encontram soluções para problemas básicos do dia a dia. É uma mudança radical. Há quatro anos, a gente praticamente não tinha isso no Brasil. A gente quer continuar as salas de atendimentos”, opina.

Reforçando a necessidade dos profissionais participarem de cursos e outras atividades de capacitação, o coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica detalha as qualificações presenciais e no formato EAD disponíveis para farmacêuticos de todo o Brasil. Confira no vídeo a seguir:

>> Números do setor farmacêutico 

De acordo com dados da Abrafarma compilados pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP), no primeiro semestre deste ano, as grandes redes de farmácias e drogarias movimentaram um montante de R$ 22,79 bilhões. O valor, segundo a Associação, corresponde a um crescimento de 7,54% sobre o mesmo período em 2017. A média do varejo brasileiro neste ano, conforme indicação do Boa Vista SCPC, foi de 3,1%.

Das vendas totais, os remédios isentos de prescrição médica foram responsáveis por 16% das transações e chegaram a um faturamento de R$ 3,5 bilhões. O levantamento indica ainda que o comércio geral de medicamentos somou mais de R$ 15 bilhões, um aumento de 8,08% em relação aos primeiros seis meses do ano anterior. 

De acordo com o balanço, só no primeiro semestre deste ano, os medicamentos genéricos movimentaram R$ 2,63 bilhões; foram mais de 169 milhões de unidades comercializadas. O valor de vendas desses produtos representa um aumento de quase 5% na comparação com o mesmo período em 2017.

No que diz respeito aos não medicamentos, tais como cosméticos, perfumes e conveniência, as vendas chegaram a um montante de R$ 7,13 bilhões. Na prática, o valor representa um acréscimo de 6,37% em relação ao ano de 2017. 

A previsão é que haja em 2018 um crescimento em torno de 10% no número de vendas em geral, incluindo medicamentos e não medicamentos. Ainda segundo o levantamento, o quadro de geração de empregos no setor farmacêutico também registrou crescimento. A quantidade de contratações saiu de 114.154 mil para 122.673 trabalhadores, em que desses, mais de 22 mil são profissionais farmacêuticos.

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“O aumento da quantidade de farmácias é reflexo de uma busca crescente dos brasileiros por mais qualidade de vida e estar bem consigo mesmo. É uma demanda dos tempos modernos. O Brasil está envelhecendo e o sistema de saúde público não consegue absorver tanta demanda em um território imenso. Já as farmácias têm plenas condições de agirem com zeladoras do bem-estar populacional, especialmente pela sua proximidade com o cidadão. Não podemos ignorar a abrangência física das grandes redes, que possuem mais de 7 mil lojas espalhadas por 795 municípios brasileiros, alcançando regiões carentes em assistência médica e até mesmo, com pouca atuação do governo. Por isso, defendo que a prestação de serviço à população é o que deve determinar o número”, pontua o presidente executivo da Abrafarma Sergio Mena Barreto.

O balanço da epidemia de febre hemorrágica ebola no leste da República Democrática do Congo (RDC) subiu a 75 mortos, informou nesta segunda-feira (27) o ministério da Saúde.

"No total, 111 casos de febre hemorrágica foram notificados na região", aponta o último boletim do ministério sobre a situação da epidemia. Há uma semana, o balanço era de 55 mortos.

O ministério da Saúde contabiliza 47 mortes entre os 83 casos confirmados por análise em laboratório, além de 28 mortes provavelmente devido ao vírus ebola, a maioria registrada antes da epidemia ser declarada em 1º de agosto.

"Desde 8 de agosto de 2018, 4.130 pessoas foram vacinadas", continua o ministério, que também relata o monitoramento de 2.445 "contatos" (pessoas que poderiam ter tido contato com o vírus).

Há também 18 recuperações, 18 pacientes hospitalizados e 10 casos suspeitos que estão sendo investigados, segundo a direção para o combate à doença.

Nenhum novo caso foi registrado em 26 de agosto, diz o boletim.

Em 1º de agosto, detectou-se um novo surto de ebola nas províncias de Kivu do Norte e Ituri, no leste do país. Este é o décimo surto desta epidemia que afeta a RDC desde 1976.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- Diagnosticado com hanseníase, Fernando foi vítima do internamento compulsório em Pernambuco. Ele revela memórias sobre a "Cidade do Medo"

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Um esmorecimento nada comum para um jovem de 17 anos despertou a curiosidade alheia. Isolado, no canto mais brando de uma residência, o adolescente, claramente debilitado, não demonstrava energia para reerguer-se. Desconfiada da condição do rapaz, uma vizinha identificou um grande ferimento em uma das pernas do garoto, que logo se tornou claro indício de que a saúde dele precisava de sérios cuidados. A mulher tomou a iniciativa de procurar um médico e, ao fazer contato com um especialista, foi orientada a levar o jovem para uma unidade hospitalar. Seria nobre a atitude da senhora aos olhos de muitos cidadãos. Para Fernando Antônio de Paula, o rapaz enfermo, no entanto, foi o começo de um de seus piores pesadelos.

Fernando residia com sua mãe e algumas tias no bairro de Águas Compridas, em Olinda, na Região Metropolitana do Recife. A vizinha conhecia seus familiares; sob a orientação do médico, convenceu o rapaz a procurar a unidade de saúde, contudo, não revelou que se tratava na época de um “leprosário”, como eram chamados os locais que recebiam pessoas acometidas de hanseníase. Há exatos 33 anos, o verdadeiro destino foi o Hospital Colônia da Mirueira, situado na cidade pernambucana de Paulista. Fernando foi diagnosticado com hanseníase. Nunca mais viu grande parte de seus familiares. A vizinha não passou do portão e retornou a sua rotina social.

Entenda: A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo agente etiológico é o  Mycobacterium leprae (M. Leprae). Esse bacilo tem a capacidade de infectar grande número de indivíduos, no en­tanto poucos adoecem. A doença acomete principalmente pele e nervos periféricos podendo levar a sérias incapacidades físicas. É de notificação compulsória em todo o território nacional e de investigação obrigatória. Essa doença pode acometer pessoas de ambos os sexos e qualquer idade em áreas endêmicas. Entretanto, é necessário um longo período de exposição e apenas uma pequena parcela da população infectada adoece. Fonte: Ministério da Saúde.

Em poucas horas, tudo se tornou uma incógnita para o futuro de um jovem de apenas 17 anos. Dificilmente ele aceitaria ir para a colônia caso descobrisse, antes do isolamento, que se tratava, na verdade, de um "leprosário". Nada incomum para a sociedade da época, uma vez que desde a década de 30, por meio de uma política governamental do presidente Getúlio Vargas, os brasileiros identificados com hanseníase eram obrigados a ser separados do restante da população considerada saudável. Na ótica da gestão pública do período, foi uma ação emergencial de saúde, sob o argumento de que a medicina não reunia conhecimentos suficientes para tratar a doença que apresentava alto poder de transmissão. Já na visão das vítimas do isolamento compulsório, foi uma devastadora segregação social que durou mais de 40 anos e castigou cerca de 50 mil brasileiros.

Para manter os enfermos longe do restante da população, o governo federal construiu hospitais colônias em vários estados brasileiros. Nesses locais, verdadeiras cidades foram erguidas para que os doentes construíssem laços sociais entre eles próprios. Quem era diagnosticado com hanseníase só podia se relacionar com outros acometidos pela mesma doença. Nas ruas, fora dos muros das colônias, uma espécie de polícia sanitária tinha a missão de encontrar as vítimas da enfermidade e levar a força para o isolamento.

De bens materiais a vínculos sentimentais com familiares e amigos, quase nada restou para Fernando. Se já não bastasse a alcunha de conviver com uma doença taxada de “incurável” na época, era preciso adaptar-se a uma realidade que deixava marcas na pele e principalmente na alma. Do lado de fora das colônias, o preconceito preso à raiz da população oprimia os doentes; a maioria dos sadios não queria “leprosos” por perto. Até mesmo na literatura bíblica, a doença era sinônimo de castigo contra os pecadores. Além disso, o receio de contágio, as deformações nos corpos das vítimas e a falta de tratamento adequado para curar a hanseníase, entre outros fatores, estimularam uma mancha negativa no imaginário da população: o Hospital Colônia da Mirueira, que abriga uma vila de convivência onde os pacientes construíram novas famílias, foi batizado de “Cidade do Medo”.

“Perdi o contato com todo mundo, ninguém veio aqui. Tive que fazer minha vida neste local. O que me choca até hoje eram as dores, vi os pacientes rolarem no chão frio para poder passar! Precisei conviver com tudo isso. Mesmo doentes, eu e outros homens tínhamos que ajudar a tratar os demais pacientes, porque não havia profissionais de saúde suficientes para prestar atendimento. Aqui aprendi a vida. Foi aqui que aprendi a ter amor ao próximo. Possuo lembranças de vários amigos que morreram sofrendo; acredito, no entanto, que tudo é determinado por Deus. Perdi minha família lá fora, mas construí uma nova família aqui com uma mulher que também era doente”, relata Fernando, hoje aos 50 anos, casado e pai de três filhos, com 17, 18 e 23 anos. Nenhum deles tem hanseníase.  

“Quando eu dizia que era da colônia, as pessoas tinham medo. Na época que fiz 23 anos, fomos liberados para sair do hospital. Então, resolvi tentar ver o povo e fui ao encontro de uma antiga namorada que tive aos 17 anos. Nos encontramos, mas ela estava com um banquinho e sentou-se a uma distância de uns dez metros. Ela até conversou, perguntou como eu estava, mas não chegou perto de mim. Não me tocou. Isso me deixou marcado, porque, há um tempo, eu estava deitado com essa mulher e depois ela não queria chegar perto de mim”, conta Fernando.

Em tom de desabafo, ele continua seus relatos e retorna às memórias da “Cidade do Medo”. “O isolamento era uma coisa desumana. O pessoal doente, cheio de ferimentos, sem ter ninguém capacitado para apoiar. A gente que ajudava um ao outro. Não tinha como este hospital oferecer um tratamento correto. Era Cidade do Medo porque, antigamente, existiam pessoas com orelhas enormes, nariz inchado ou despedaçado. As pessoas eram todas deformadas”. Fernando deixou de morar no Hospital da Mirueira em meados de 1990. Hoje, reside no Recife com sua esposa e os filhos.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- Mesmo sem morar mais no Hospital da Mirueira, Fernando visita com frequência os residentes que foram internados junto com ele

“Cidade do Medo”. E da resistência

De acordo com o livro “Histórias vividas na terra dos esquecidos”, das autoras Rosa Maria Carlos de Albuquerque e Maria José Dantas Mesquita, a construção do Hospital Colônia da Mirueira se deu em 1936, à época, “a cargo do Ministério da Educação e Saúde”.  Estrategicamente, a colônia foi erguida em um local afastado da área urbana, “cercado por mata virgem e intensa circulação de ar”; há quem diga que o objetivo era evitar fugas e isolar os enfermos para mantê-los longe da sociedade. “Foi construído para ser uma microcidade e com capacidade para internar 400 doentes. Foi projetado para possuir o caráter de uma cidade, com ruas, praças, templo religioso, área para administração, prefeitura, delegacia, escola, áreas de lazer, além dos complexos médicos necessários para o tratamento”, diz trecho do livro.

A obra ainda traz os seguintes detalhes: “Era divido em zonas A, B e C, sendo a zona C considerada área de contágio, onde ficavam os internos. Somente com a devida permissão era possível transpor-se a barreira e penetrar-se além das linhas demarcatórias, sob pena de repreensão, mediante a proibição imposta a todos aqueles que habitavam a zona do medo”. A inauguração oficial do Hospital Colônia da Mirueira foi realizada em 26 de agosto de 1941. “O Hospital foi símbolo do isolamento social das pessoas com hanseníase em Pernambuco. O leprosário foi construído para prestar serviço inestimável de ordem técnica, sanitária, social e humana, com a visão de proteger a coletividade. Em relação aos doentes, falava-se em vantagens e promessas redentoras, pois o medo e o preconceito eram muito maiores. Esses internamentos eram o grande pavor dos hansenianos. Geralmente os primeiros dias eram difíceis, custando noites de insônia, lágrimas, muita aflição e enorme saudade dos familiares”, traz o livro “Histórias vividas na terra dos esquecidos”.

Nos registros históricos da unidade hospitalar, a capacidade inicial era para abrigar 400 doentes, no entanto, a colônia chegou a ter 500 pacientes. “Sofreram com o preconceito e o abandono, mas criaram uma sociedade só sua. Não tiveram o direito de criar seus filhos, mas agiam como se fosse uma grande família, mesmo a colônia sendo chamada a Cidade dos Mortos-Vivos e Cidade do Medo”, acrescentam as autoras Rosa Maria Carlos de Albuquerque e Maria José Dantas.

De fato, muitos internos não tiveram o direito de criar seus próprios filhos. Pacientes grávidas, quando entravam em trabalho de parto, eram submetidas a uma separação cruel e que deixaram marcas até hoje. Seus bebês eram levados para um local chamado de preventório, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife. Não havia mais contato entre pais e filhos. Os bebês eram adotados ou passavam a viver em orfanatos. Atualmente, ainda existem relatos de famílias que nunca chegaram a conhecer seus filhos.

Fernando presenciou esses e outros tristes episódios que marcaram o isolamento compulsório. Porém, ele resistiu aos impactos da doença, mesmo com o tratamento ineficiente na época, e persistiu ante uma considerável parcela da população brasileira que via os enfermos como seres à margem da possibilidade de conviver em uma sociedade digna. Na colônia, trabalhou em atividades de agricultura, pecuária, além dos esforços para dar assistência aos demais pacientes. A rotina dos internos nos hospitais colônias, em geral, se resumia aos afazeres que geravam os próprios bens de consumo, como os alimentos oriundos das plantações, além de se submeterem aos tratamentos médicos. Ao caminhar pela “Cidade do Medo”, Fernando faz uma viagem pelas memórias que rementem a um período de dor e ao mesmo tempo de bravura dos que resistiram à doença e ao preconceito.

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O discurso de Fernando, por mais que em vários momentos remeta a memórias tristes da “Cidade do Medo”, reforça o auxílio humano que um paciente dava ao outro durante o internamento na colônia. Os que sentiam menos efeitos da doença ajudavam os internos mais castigados pela hanseníase. Sobretudo, além do auxílio físico, existia o aparato psicológico que, para Fernando, era tão importante quanto o tratamento corporal. Ele recorda do amigo Juliano Vieira de Farias. “Seu Juliano me ajudou muito mesmo. Quando cheguei à colônia, fiquei desesperado, era a primeira vez que seria vítima de um isolamento compulsório. Ele me deu palavras de conforto, pediu paciência e me fez acreditar que um dia tudo seria resolvido. Juliano foi um dos que mais me ajudaram dentro do hospital”, relembra.

Seu Juliano, bastante conhecido entre as vítimas do isolamento compulsório em Pernambuco, foi diagnosticado com hanseníase aos 14 anos, idade em que passou a viver entre os muros do Hospital Colônia da Mirueira. Em 2016, conhecemos Juliano – na época com 71 anos - em uma reportagem do LeiaJa.com e registramos um depoimento forte, sem rodeios e que não ocultou as marcas na alma de quem “sobreviveu” na “Cidade do Medo”.

“Se você fosse jogado dentro de um leprosário como eu fui com 14 anos de idade e te falassem que dali só sairia para o cemitério, o que você faria? Não existia perspectiva de uma vida digna e caí no mundo das drogas, após ser arrastado de dentro de casa e jogado no Hospital da Mirueira. Morava no bairro da Várzea, no Recife, com meus pais e mais sete irmãos. Me deixaram longe deles e passei a viver em um lugar que classifico como depósito de lixo humano”, desabafou Seu Juliano à época.

Se Juliano foi uma das pessoas que resistiram ao isolamento compulsório. Tocou sua vida nas dependências do Hospital da Mirueira – mesmo após o fim do internamento obrigatório - até 1994, quando decidiu residir sozinho em uma casa no mesmo bairro. Não se não casou na colônia, mas construiu uma "família" graças ao aparato emocional que dava aos demais internos. Ele faleceu em 2017, aos 72 anos.

Ainda residindo em uma das casas do Hospital da Mirueira, uma vez que por determinação federal os ex-pacientes do isolamento compulsório têm direito a morar nas antigas estruturas das colônias, Marly Ferreira, 67 anos, resiste à doença à rejeição social. Na pele, existem marcas da hanseníase, mas, segundo Marly, não se comparam às cicatrizes em sua memória. Recordar da época em que o hospital era chamado de “Cidade do Medo”, consequentemente a faz lembrar do preconceito da sociedade da época. “As pessoas tinham medo da gente. Nossa própria família não nos queria por perto. E isso dói, porque até os nossos familiares não nos tocavam. Muitos nos abandonaram”, revela Marly.

Hoje, Marly convive com o marido, também acometido pela doença, e com um filho sem o diagnóstico. Assim como os outros cidadãos vítimas do isolamento que conseguiram comprovar a segregação, ela recebe uma pensão mensal de um salário mínimo e meio, desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou uma lei que oferece ajuda de custo para aqueles que passaram pelo interno. Marly considera que atualmente o preconceito diminuiu bastante, porém, acredita que ainda é necessário disseminar informação para a população entender de vez que a hanseníase tem cura. No áudio a seguir, ele conta detalhes da sua história e desperta tristes recordações da “Cidade do Medo”.

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Um médico diante de um “depósito de pacientes”

Há 40 anos, José Carlos de Lima Cavalcante encarava um de seus maiores desafios profissionais. Na época, aos 24 anos de idade, o jovem médico recebia a missão de tratar os internos do Hospital Colônia da Mirueira, sem ter sequer o auxílio de outros profissionais de saúde, como enfermeiros, terapeutas e técnicos em enfermagem. Eram apenas ele e mais três médicos que se revezavam na colônia. De acordo com José Carlos, como o tratamento – a base de fortes de medicamentos - da hanseníase era longo – média de dez anos -, muitos pacientes não continuavam o procedimento e sofriam sérias consequência em decorrência da doença. “Os casos de antigamente eram muito mais agressivos e havia muita amputação. Hoje, o mais difícil é ver alguém falar de uma amputação. Antigamente eram umas seis amputações por ano”, diz. 

José Carlos não esquece tudo que presenciou durante o período do internamento compulsório. Sem a estrutura necessária para cuidar dos acometidos pela doença, ele e os demais médicos se viam em um local inadequado para um auxílio minimamente humano. “Cheguei como médico em 1978. A questão é que a colônia era diferente de tudo o que você pode imaginar. Era um depósito de pacientes. Porque começa que não foi programada realmente para ser um hospital. Pegavam esses pacientes, que eram um incômodo para a sociedade e um peso para a família, e jogavam aqui”, recorda em tom crítico. Até as faixas de curativo dos internos eram lavadas e utilizadas novamente.

De acordo com José Carlos, com a proximidade do fim do isolamento obrigatório, alguns pacientes que respondiam bem aos tratamentos e apresentavam pequenas sequelas, ganharam alta hospitalar, mas não tinham trabalho e muito menos para onde ir. Para dar um suporte básico a eles, a gestão da unidade, que no período já era de responsabilidade do Governo de Pernambuco, oferecia remuneração para esses internos, que passavam a ajudar os doentes graves. “Ficavam dando assistência. Aplicavam injeção, carregavam defuntos”, detalha o médico. “Havia criação de porcos, bois... Era tudo diferente de um hospital de verdade”, complementa.

Sobre a forma como a sociedade definia a colônia, José entende que pelo contexto da época, em que no Brasil a cura ainda era difícil e havia chances claras de contágio, expressiva parte da população tinha receio de chegar próximo ao hospital e principalmente tocar os doentes. “Tudo fruto da ignorância, aquilo que a gente não conhece, teme. Através dos anos, a doença ia deformando a pessoa e por isso há o medo. A segregação sempre existiu por causa do terror e do medo. Por conta das deformações, as pessoas se sentiam verdadeiros monstros. Na época não tinha nada de hospital, era um leprosário, as pessoas simplesmente eram jogadas aqui”, opina o médico. 

O internamento obrigatório na colônia pernambucana durou de 1941 a 1986. Alguns pacientes continuaram vivendo nas dependências da colônia, outros adquiriram residências e passaram a morar fora do hospital. Hoje, José Carlos é o diretor do Hospital da Mirueira.

O Hospital da Mirueira nos dias de hoje

Sob a gestão estadual, a unidade é referência em Pernambuco no tratamento de hanseníase e de dependentes químicos. Hoje, existem 22 moradores que foram vítimas do internamento compulsório e continuaram residindo nas casas da antiga colônia. Somando-se os parentes dos ex-internos, há cerca de 40 pessoas vivendo nas dependências do Hospital da Mirueira.

Segundo a assistente social da unidade, Ieda Saraiva, o hospital possui com 28 leitos exclusivos para o tratamento da hanseníase. Os próprios moradores, principalmente os idosos que não possuem familiares para auxiliá-los, contam com consultas semanais.

Além dos ex-internos, pacientes diagnosticados atualmente com a doença recebem os serviços médicos do Hospital da Mirueira. A depender do nível da enfermidade, eles podem ficar internados na unidade hospitalar. É o caso de *Maria, 54, natural do Maranhão. Há mais de dez anos, ela residia na cidade de Bezerros, Agreste de Pernambuco.

Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens --- *Maria se apega à fé e afirma que está confiante nos médicos para ser curada

De acordo com *Maria, há cinco anos ela passou a apresentar os sintomas da doença, mas os médicos não afirmavam que era hanseníase. Até que, em uma consulta particular no Recife, o diagnóstico foi oficializado. Há três anos, ela se internou no Hospital da Mirueira, onde apesar de enfrentar as consequências da doença, alimenta a esperança pela cura. “Tenho uma fé muito grande de alcançar a cura. Já vi uma pessoa que teve o mesmo problema e depois de dez anos ela foi curada. Converso muito com Deus pedindo a minha libertação, porque eu não era assim. Eu trabalhava muito e hoje não posso. E aqui os médicos cuidam bem da gente, somos bem tratados”, diz a paciente.

*Alfredo, de 58, também foi diagnosticado com a doença. Natural de Goiana, Região Metropolitana do Recife, há cerca de um mês ele apresentou hematomas no corpo; ao ser atendido por uma médica de sua cidade, o senhor foi encaminhado para o Hospital da Mirueira. “A médica mandou logo eu vir para cá. Estou me tratando e espero sair daqui logo”, comenta.

Há 13 anos trabalhando como cuidadora de uma ex-interna idosa, Rosete Lourdes Souza é exemplo de resistência ao preconceito. Antes de atuar na função, ouvia relatos amedrontadores sobre o Hospital da Mirueira. O termo “Cidade do Medo” era comum aos seus ouvidos. “As pessoas lá fora criticaram muito, diziam de maneira muito preconceituosa que era hospital de leproso, e que quem entrasse iria pegar a doença. O pessoal dizia que havia ‘paga-fígado’ e eu não sabia que era uma referência aos próprios humanos que existiam aqui. Mas não dei ouvidos, porque comigo não tem isso de preconceito”, conta a cuidadora.  

Ela auxilia Maria Bernadete Cabral, que reside no Hospital da Mirueira há 47 anos. Aos 17, morava com os pais na cidade de Orobó, interior de Pernambuco, e ao apresentar sintomas da hanseníase, foi levada a médicos particulares. Posteriormente, Maria Bernadete foi encaminhada à colônia, e diferente de outros ex-internos, a família continuou visitando ela. “Eu não estudei, não fiz coisa nenhuma, por causa do preconceito que as pessoas tinham diante da doença. Nossa família era de Orobó, no interior, e por causa do preconceito meu pai vendeu tudo e veio para Recife para me ajudar a tratar a doença”, relembra.

O atual quadro do Hospital da Mirueira possui mais de 30 médicos. A população pode marcar atendimentos para os especialistas, caso apareçam sintomas da doença. A marcação de consultas é realizada de segunda à sexta-feira, das 8h às 12h; todo serviço é totalmente gratuito.

De acordo com a direção do hospital, a unidade custa aos cofres do Estado um valor de R$ 1,7 milhão mensais. O montante atende, principalmente, aos pagamentos dos servidores concursados. Ainda segundo José Carlos, desse total, são destinados à sua gestão R$ 105.600 que servem para alimentação dos pacientes, compra de medicamentos, material de curativo, água, oxigênio e manutenção da estrutura física.

Alguns ex-internos ainda recebem cestas básicas mensais e todos os pacientes internados também contam com alimentação. Ao todo, são oferecidas mais de 90 refeições. José Carlos argumenta, no entanto, que há alguns problemas no Hospital da Mirueira, como a falta de roupas para pacientes, déficit de ventiladores e ar-condicionado. De acordo com diretor, já foi solicitado à Secretaria de Saúde de Pernambuco um aumento na verba para o orçamento do hospital, porém, até então, o valor é o mesmo. José Carlos estima que um acréscimo em torno R$ 105 mil mensais seria suficiente para amenizar as dificuldades do Hospital da Mirueira.  

Atual paranorama da doença no Brasil - De acordo com o mais recente levantamento do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 25,2 mil casos de hanseníase em 2016. O quantitativo representa 11,6% dos diagnósticos do mundo. Ainda no cenário global, nosso país só perde para Índia – mais de 27 mil casos - em números oficiais da doença.

Fundado em 1981, o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan) é uma das instituições de referência no combate à doença e principalmente contra o preconceito. Artur Custódio, coordenador nacional do Morhan, alerta que os números da doença no Brasil, mesmo apresentando queda nos últimos anos, ainda são preocupantes e exigem atenção contínua do Ministério da Saúde. “Em números absolutos, só perdemos para Índia”, comenta Custódio.

Além de atuar com foco educativo, por meio da realização de eventos para apresentar à sociedade informações sobre a hanseníase, o Morhan também presta auxílio jurídico às vítimas da doença, inclusive os ex-internos do isolamento compulsório. A busca por pensão para quem viveu a segregação é um aos auxílios dados pelo Movimento, além da procura por filhos que foram separados dos pais no período do internamento obrigatório. 

Segundo Artur Custódio, é necessário o fortalecimento de um trabalho com a sociedade para propagar informações que possam diminuir o preconceito e acabar com estigmas negativos da doença. “O isolamento tem um impacto até na questão do estigma; ainda há pessoas que moram nos hospitais colônias. O preconceito vai além da imagem, além da questão física. Ele pega também o campo social e o psicológico. E essas pessoas têm dificuldade de se recuperar, e para isso ser revolvido, tem que haver um processo longo educacional”, opina o coordenador nacional do Morhan. 

A NHR Brasil, instituição sem fins lucrativos que tem o objetivo de “promover a melhoria na qualidade de vida e a reabilitação das pessoas atingidas pela hanseníase e por outras deficiências físicas no Brasil, através do desenvolvimento e implementação compartilhada de serviços efetivos, eficientes e sustentáveis para que tenham plena participação na sociedade”, também realiza trabalhos sobre a doença. Segundo a assessora técnica da NHR Brasil, Rejane Almeida, é notório que o preconceito tem diminuído pela disseminação das informações de que a hanseníase tem cura, no entanto, ela reforça que o trabalho de conscientização deve ser contínuo.

“Na atualidade, o tratamento é em nível ambulatorial. Todas as equipes de saúde têm trabalhado para reduzir o preconceito e para mostrar que hoje a hanseníase tem cura. É uma doença que pode provocar sequelas, mas não significa que vai provocar. Por isso, há a importância do diagnóstico precoce, porque quanto mais rápido ele acontecer, menor será a possibilidade de desenvolver incapacidade física. E o medo da hanseníase vem justamente das sequelas que ela pode provocar, porque ninguém quer ficar com as mãos atrofiadas ou com déficit de força no pé, por exemplo”, explica a assessora técnica.

Rejane informa que os hospitais do Sistema Único da Saúde (SUS) oferecem atendimentos gratuitos para as pessoas que apresentarem os sintomas da hanseníase. Ele alerta que a partir de qualquer indício, é muito importante a procura de um médico especializado, principalmente para a realização do diagnóstico precoce. “Isso torna a hanseníase uma doença com tratamento igual às demais e requer uma responsabilidade grande dos pacientes, porque os tratamentos podem durar de seis meses a um ano”, comenta. 

“Ainda não estamos em um patamar totalmente tranquilo, porque o Brasil ainda é o segundo país em números da doença no mundo. Mas, hoje contamos com atendimentos descentralizados para toda a população. Qualquer programa de saúde da família próximo da casa do paciente está apto a tratar a doença”, acrescenta Rejane.

* Nomes fictícios utilizados para preservar a identidade dos personagens

Fotos em preto em branco são do arquivo do Hospital da Mirueira 

Serviço:

Hospital da Mirueira

Endereço: Estrada de Santa Casa, sem número, bairro de Mirueira, em Paulista-PE

Contatos: (81) 3185-4415 / hgmses@yahoo.com.br

Agendamento de consultas: segunda à sexta-feira, das 8h às 12h. Gratuito.

--> Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan)

  --> NHR Brasil

Expediente:

Reportagem - Nathan Santos

Imagens: Chico Peixot

Edição de vídeos: Danillo Campelo

Artes: Raphael Sagatio

Elizabeth descobre seu seio esquerdo, transformado em uma massa de carne enegrecida do qual escorre pus por causa de uma metástase. Condenada a morrer se não fizer quimioterapia, pedia em Caracas, junto a dezenas de pacientes crônicos, o acesso a tratamento e medicamentos.

"Não sou só eu. Milhares estão morrendo", disse à AFP Elizabeth Salazar, de 63 anos, que há oito meses foi diagnosticada com câncer e não pôde fazer nenhuma sessão de quimioterapia prescritas.

Vítimas de câncer e de outras doenças crônicas, trasplantados com risco de perder seus órgãos, e familiares protestaram nesta terça-feira em frente à sede do Ministério da Saúde para exigir respostas.

Levantando a camiseta em frente às câmaras, Elizabeth, que vive em um setor popular a uma hora de Caracas, conta que às vezes as dores são tão intensos que provocam alterações da pressão arterial, enjoos e vômitos.

Cerca de 50.000 pacientes de câncer não recebem tratamento na Venezuela, segundo a ONG Fundação para as Garantias, Prevenção e Defesa dos Direitos Humanos, à qual pertence Elizabeth e é presidido por seu marido, Luis Escobar Ugas.

Afogados por uma aguda crise socieconômica, os venezuelanos sofrem uma escassez de 95% dos remédios para doenças crônicas e os hospitais funcionam com apenas 20% de material médico cirúrgico que requerem, segundo o sindicato médico.

Os manifestantes pediam se reunir com o ministro da Saúde, Luis López, mas acabaram indo embora sem serem recebidos.

Em um comunicado, a Codevida e outras associações exigiram que o governo "adote todas as ações necessárias" para reativar programas de doação de órgãos pedidos desde maio de 2017 e que "garanta o fornecimento" de medicamentos para diferentes doenças.

As manifestações por falta de medicamentos, insumos médicos e tratamentos são frequentes na Venezuela, em meio a pedidos de abertura de "um corredor humanitário" para a chegada de fármacos do exterior.

- "Condenada à morte" -

"Minha esposa está praticamente condenada à morte (...) São oito longos meses esperando. O câncer já invadiu a axila e a lateral", contou Luis, sem conseguir evitar o choro.

Por lei, o Estado subsidia medicamentos de alto custo em farmácias do Seguro Social, mas a entrega é esporádica.

Os preços dos medicamentos escassos que podem ser obtidos nas redes privadas são inalcançáveis para a grande maioria da população.

"Eu tomo três medicamentos. Uma caixa de apenas um deles pode custar mais de 200 dólares", disse à AFP Eduardo Cohen, que recebeu um rim há 13 anos. O montante equivale a aproximadamente 140 salários mínimos mensais em Venezuela.

Eduardo carregava um cartaz com a mensagem "SOS. Trasplantes em risco".

O governo de Nicolás Maduro nega que na Venezuela haja uma crise humanitária e ultimamente atribui o desabastecimento às sanções financeiras impostas pelos Estados Unidos contra o país, alegando que prejudicam as importações.

Rejeita ainda a possibilidade de um "corredor humanitário", por considerá-lo uma desculpa para uma intervenção estrangeira.

Um grande incêndio de origem indeterminada foi declarado nesta quinta-feira em um importante hospital de Istambul, informou a imprensa turca, acrescentando que os pacientes foram rapidamente transferidos pela equipe médica.

O hospital, localizado no distrito de Gaziosmanpasa, no lado europeu de Istambul, estava completamente envolto em chamas e fumaça preta, enquanto os bombeiros tentavam controlar o incêndio, de acordo com as imagens transmitidas pelo canal de notícias CNN-Türk.

"O incêndio foi parcialmente controlado", declarou no início da noite o governador de Istambul, Vasip Sahin, durante uma coletiva de imprensa improvisada em frente ao hospital. "Nesta fase não há vítima a lamentar", acrescentou o governador de Istambul, indicando que "o fogo não se espalhou no interior do edifício, apenas fora".

Segundo testemunhas, pacientes e parentes, entrevistados pela mídia turca, as chamas se espalharam muito rapidamente do lado de fora do prédio. Uma mulher declarou na CNN-Türk que "o fogo batia contra as janelas, foi assustador". As pessoas evacuadas relataram cenas de caos quando os pacientes tentavam alcançar as escadas de incêndio nos corredores cheios de fumaça.

Questionado pela CNN-Türk, o prefeito do distrito de Gaziosmanpasa, Hasan Tahsin Usta, afirmou que neste momento não foram registradas mortes, embora várias pessoas tenham sido transportadas para outros hospitais. O presidente Recep Tayyip Erdogan foi informado do incidente pelo ministro da Saúde, anunciou a presidência turca.

É domingo, 24 de dezembro de 2017, véspera de Natal. Boa parte dos brasileiros corre contra o tempo. Na agenda, muitos planos: as últimas compras para uma das datas festivas mais esperadas do ano. Os shoppings e supermercados, provavelmente, ficarão cheios e, os salões de beleza, ainda mais. A ceia da meia-noite, certamente, também será cuidadosamente preparada sem contar na decoração impecável para a esperada foto que deverá ser publicada nas redes sociais. Poucos devem parar para imaginar o outro lado da história: como é festejada a data entre os pacientes internados em hospitais? Um momento de tristeza, surpresa ou reflexão?

O LeiaJá, neste domingo (24), dia de festa, mas também de reflexão, conta a reviravolta na vida de seis pacientes internados no Pronto-Socorro Cardiológico Universitário de Pernambuco (Procape), ligado à Universidade de Pernambuco (UPE), localizado em Santo Amaro, na área central do Recife: seu José Luiz, seu Amaro Severino, dona Maria Luiza, a senhora Inaídes Souza, seu Cícero Vicente, além de Edvaldo Lima possuem algo em comum além de terem sido pegos de forma inesperada vítimas de infarto ou pré-infarto: o desejo de passar a véspera de Natal em casa ao lado dos amigos e familiares. 

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No entanto, eles se mostram confiantes em um recomeço. Seu José Luiz, aos 58 anos, teve um infarto há 20 dias. O motorista aposentado foi pego de surpresa, mas falou que a vida é assim mesmo: “Cheio de surpresas no meio do caminho”. Garantiu que vai tirar uma lição disso tudo: “Qualquer um queria estar em casa, principalmente nesta época do ano, mas a gente segue em frente. Vamos aprendendo: deixar de comer qualquer coisa que não seja saudável é uma delas. A gente vai aprendendo aqui coisas simples”, contou. 

                  Seu José Luiz disse que a vida é cheio de surpresas e que é necessário tirar uma lição de tudo 

Seu Amaro Severino, 71 anos, mora em Xexéu, na Mata Sul de Pernambuco, e sentiu uma dor muito forte no peito justamente na entrada do esperado mês: 1 de dezembro. Ele aguarda a cirurgia e garante que está tranquilo. “Estou me sentindo bem mesmo aqui dentro porque o importante, primeiramente, é a minha saúde”, ressaltou. A cunhada Maria das Dores, está acompanhando dia e noite seu Severino. “Todos esses dias aqui e é verdade que aprendemos muito: se antes já existia o cuidado, se já tinha valor, agora temos ainda mais”.

Mais tempo em um dos leitos do Procape está a senhora Inaídes Souza: há um mês e dois dias está internada e com a rotina transformada, mas também afirma que o importante agora é se cuidar e dar mais valor à vida. “Claro que muda passar o Natal e o Ano Novo aqui, mas agora é hora de se cuidar para passar os próximos com a família". 

No apoio encontrado nos amigos como Deise Valeria e da cunhada Sueli Martins, Inaídes vai se recuperando. “É tudo muito diferente, ficamos bem preocupados, mas estamos vem porque sabemos que tudo isso aqui é importante para a melhoria dela”, ressaltou Sueli. 

                Dona Anaídes Souza recebe visitas de amigos e familiares para se reerguer, após o susto

Em busca de uma nova chance

Em conversa ao LeiaJá, o paciente Cícero Vicente, 56 anos, já sonha com uma vida diferente. Ele estava em casa quando começou a passar muito mal. “Tive um princípio de infarto. Eu estava em casa no momento e senti uma queimação, aí me encaminharam para a UPA. Depois do resultado do eletro, fui transferido e aqui estou”.

Ele está realizado todos os exames para saber o seu estado, mas nesse tempo livre seu Cícero diz que está refletindo bastante. “Quanto somos mais novos tudo é mais complicado, você não pensa muito nas coisas e colhe o fruto lá na frente. Alguns precisam apanhar como eu para começar a me cuidar. Eu quero uma vida nova e eu sei que tudo vai ficar bem”. 

              Cícero Vicente sonha com uma vida nova e dando mais atenção à saúde 

Seu Edvaldo Lima, 73 anos, que mora em Santa Cruz do Capirabibe, revelou que “nunca tinha se tratado na vida”. “Em um domingo qualquer, eu senti uma queimação e um cansaço. Eu não me cuidava, mas agora vai ser diferente”, prometeu. Ele, que também aguarda o resultado dos exames, diz que vai ser do jeito que Deus quiser. “Tem que aceitar, está bom demais porque é do jeito que Deus quer”.

A filha de Edvaldo, Elisângela Marques, vai passar o Natal no pronto socorro ao lado do pai. Ela falou que não importa onde estejam, mas que o importante é que ele fique bem. “Quando soube que ele passou mal, o sentimento foi de perda. Vem muita coisa na mente e dá aquele nervoso. Perdi minha mãe há pouco tempo, cinco anos, só temos ele agora. Não importa aonde vamos passar o Natal, o importante é que ele está sendo tratado”. 

                      O pai Edvaldo e filha Elisângela vão passar o Natal juntos no Procape

Bem atendidos

Em meio aos problemas recorrentes na saúde pública do estado, chama a atenção as declarações dos pacientes entrevistados, que garantem que estão sendo bem atendidos. O Procape foi idealizado pelo cardiologista Professor Enio Lustosa Cantarelli, que percebeu a carência de hospitais estaduais especializados em cardiologia.

Seu Erivaldo, filho de dona Maria Luiza, 77 anos, também internada, tomou um susto quando soube da notícia do infarto da mãe, mas se sentiu melhor após todo o cuidado que ela tem recebido. Dona Maria Luiza, que já está internada há 40 dias, já fez a cirurgia e passa bem. 

                Dona Maria Luiza e o filho Erivaldo elogiaram o atendimento do Procape em meio aos caos na rede pública do estado

 

Pelo menos 904 mil pessoas esperam por uma cirurgia eletiva - não urgente - no Sistema Único de Saúde (SUS). Parte desses pacientes aguarda o procedimento há mais de 10 anos. Isso é o que mostra levantamento inédito feito pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) com dados das secretarias da Saúde dos Estados e das capitais brasileiras obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação. A demora para realizar procedimentos, afirmam especialistas, pode agravar o quadro dos pacientes.

Segundo a entidade, o número de demandas represadas é provavelmente mais alto, já que somente 16 Estados e 10 capitais responderam. Há ainda a fila por procedimentos nos serviços de saúde federais.

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O levantamento revela também que a quantidade de pessoas que aguardam cirurgia no sistema público é maior do que o medido pelo Ministério da Saúde. Em julho deste ano, a pasta divulgou a primeira lista única desse tipo de procedimento - antes disso, os números eram registrados só pelos Estados e municípios e nunca haviam sido centralizados.

Na ocasião, a pasta informou que a fila era de 804 mil solicitações no País. Na última semana, novo balanço apresentado pelo ministério apontou que, após avaliação feita pela ouvidoria, o número caiu para 667 mil pedidos porque havia duplicidade de cadastros na primeira lista.

"Tanto o número do ministério quanto o levantado pelo CFM são subestimados porque parte dos Estados não respondeu ou não tem os dados organizados. Há ainda aquelas pessoas que precisam da cirurgia, mas nem sequer têm acesso ao especialista que dá o encaminhamento", destaca o presidente em exercício do CFM, Mauro Luiz de Britto Ribeiro.

O próprio ministro da Saúde, Ricardo Barros, admitiu ao jornal O Estado de S. Paulo haver falhas de informação nas listas passadas pelos governos locais à pasta. "Quando os Estados começaram a fazer mutirões, constatamos que a maioria das pessoas que passaram pelas cirurgias não constavam da lista inicial passada pelo Estado. Isso demonstra que nossa fila não era exata", diz ele, referindo-se aos mutirões realizados pelos Estados com verba extra federal repassada após a criação da fila única, em julho.

Complicações

A demora na realização de cirurgias pode levar ao agravamento do quadro de saúde do paciente, piorando o prognóstico e aumentando os custos para o próprio sistema. Quem não faz a cirurgia eletiva, diz Britto Ribeiro, "vai acabar caindo um dia no sistema de urgência e emergência ou operado num quadro muito pior do que no início da doença."

É o caso da comerciária Ana Célia Gonçalves, de 52 anos, que aguarda cirurgia renal desde 2012. Quando seu nome foi incluído na lista, ela tinha quadro leve de cálculo renal. Neste ano, descobriu que o rim direito perdeu totalmente a funcionalidade com o agravamento da doença. Agora, a cirurgia será de retirada completa do rim.

"O exame deste ano mostrou que o órgão está com 13% da capacidade, o que, para os médicos, já é considerado perdido. O rim esquerdo também está em risco, tenho medo de perdê-lo também", afirma. "Mas, quando reclamo, só ouço que tenho de ter paciência e aguardar na fila", conta Ana Célia, que se trata no Hospital Universitário Walter Cantídio, em Fortaleza.

Ela diz sofrer de dores agudas e segue dieta restrita para o problema não piorar ainda mais. "Tenho medo de perder o outro rim e precisar, então, de diálise e entrar na fila de transplante." Procurado pela reportagem, o hospital não se manifestou.

Longa espera

Ao menos 750 pedidos de cirurgias no País estão na fila há mais de 10 anos. No Estado de São Paulo, há casos em que o paciente aguarda desde 2005, recorde entre os Estados que responderam ao CFM. Na rede paulista, 143 mil esperam por cirurgia eletiva.

À reportagem, a secretaria paulista disse que a demanda reprimida por cirurgias eletivas é uma realidade nacional, causada sobretudo pela defasagem na tabela de valores de procedimentos hospitalares do ministério, "congelada há anos e que não cobre os reais valores dos atendimentos". Disse também que o número anual de procedimentos feitos sob gestão do Estado subiu 21% nos últimos sete anos, de 179,2 mil para 217,1 mil. Segundo o órgão, também são feitos mutirões de cirurgias.

Entre os procedimentos com o maior número de demandas represadas no Brasil estão as cirurgias de catarata (113.185), correção de hérnia (95.752), retirada da vesícula (90.275), varizes (77.854) e de amídalas ou adenoide (37.776). Só estes cinco tipos concentram quase metade de todos os pedidos na fila.

Verba repassada

O Ministério da Saúde diz investir na informatização das unidades de saúde para ter noção exata da demanda por cirurgias eletivas no Brasil. Além disso, segundo a pasta, recursos têm sido repassados aos Estados para ajudar a resolver o problema.

"O nosso objetivo é estabelecer a fila única e informar no aplicativo e-saude a posição de cada paciente na lista de espera. Esperamos que isso esteja disponível até o fim de 2018, mas reconheço que há uma dificuldade nas informações", declarou o ministro Ricardo Barros.

Após a criação da fila única em julho, segundo Barros, o ministério liberou R$ 250 milhões extras aos Estados para investimento nas cirurgias eletivas. Até agora, R$ 100 milhões já foram faturados. A maior parte do repasse está sendo usada em mutirões de procedimentos.

O total de cirurgias eletivas feitas no País, diz a pasta, cresceu 39% - de 109,7 mil em janeiro para 152,6 mil em setembro.

Desequilíbrios

Os mutirões de cirurgias podem ajudar a aliviar as filas, mas não são a solução definitiva, alertam especialistas. Para Walter Cintra Ferreira, coordenador do Curso de Especialização em Administração Hospitalar e de Sistemas de Saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), os governos federal, estadual e municipal precisam investir na ampliação dos serviços de saúde, na melhor distribuição dos especialistas e na informatização da rede.

"Temos um sistema subdimensionado para a demanda que tem. Para piorar, os profissionais não estão distribuídos de forma equitativa pelo País. Há uma concentração muito grande de especialistas nos grandes centros, principalmente no Sul e no Sudeste", avalia. "Os mutirões são plenamente válidos, mas é uma medida para mitigar uma situação de crise. A solução verdadeira está em investir em maior qualidade dos serviços públicos", acrescenta.

Outro desafio é saber o tamanho real da fila. "Uma das coisas que falta ao SUS é integrar informações. Se tivéssemos todos os sistemas integrados, teríamos ideia melhor da demanda e das prioridades", diz Ferreira.

De acordo com o CFM, uma fila maior na pesquisa não significa, necessariamente, ser pior no atendimento, mas, sim, que a regulação está melhor sistematizada. Alguns Estados que não responderam, por exemplo, justificaram não ter controle da demanda. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Pacientes que entraram na Justiça para receber o medicamento de alto custo Eculizumabe, conhecido pelo nome comercial Soliris, afirmam que a distribuição do remédio, feita pelo Ministério da Saúde, está atrasada há um mês, afetando a saúde deles e causando até internações. A medicação, que recebeu registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março deste ano, é importada e o valor anual para o tratamento supera R$ 1 milhão. O ministério informou que enviou edital com proposta de fornecimento do medicamento para os fornecedores e que a previsão é que a distribuição seja feita no final deste mês.

O gerente administrativo Ricardo Ferreira de Souza, de 34 anos, ficou internado por dez dias. Ele tem hemoglobinúria paroxística noturna (HPN) - uma mutação genética que destrói os glóbulos vermelhos do sangue -, diagnóstico que recebeu em 2009, e recebe a medicação desde 2014. Antes de iniciar o tratamento com o Soliris, era internado e precisava de transfusões de sangue constantemente.

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"Comecei a sentir muitas dores abdominais e precisei ser internado. Estava na (unidade de tratamento intensivo) UTI. Não sabia se iria voltar para casa, estava tomando morfina de quatro em quatro horas, urinando sangue e com risco de trombose. Os médicos estavam falando que estou correndo risco de morte", diz Souza.

Segundo ele, já houve um atraso na entrega neste ano, fazendo com que ele passasse uma semana no hospital.

O gerente administrativo conta que, quando que foi internado, tomou medicamentos para ajudar a circulação do sangue, mas que a medida não é eficaz como o remédio que estava tomando. "A Justiça me deu direito ao tratamento. A única saída é o remédio. Não escolhi ter uma doença rara."

A cientista social Margareth Maria Araújo Mendes, de 44 anos, é representante nacional dos pacientes com HPN e Síndrome Hemolítico-Urêmica Atípica (SHUa) - grupos que necessitam da medicação - da Associação dos Familiares, Amigos e Portadores de Doenças Graves (Afag) e afirma que as mais de 400 pessoas que necessitam da medicação estão sem as doses. Margareth também é uma das pacientes. "Já tem um mês de atraso e ninguém está passando bem. Recebemos um lote para três meses em junho."

Ela diz que precisou comprar um anticoagulante, que custou R$ 400, e que mudou a rotina temendo um agravamento de seu estado de saúde. "Já tive trombose depois do diagnóstico e estou fazendo de tudo para evitar a hemólise, que é quando começa a ter a destruição das hemáceas e a pessoa começa a perder sangue. Estou de quarentena, só saio de casa para o hospital."

Margareth diz que amigos que também têm HPN estão abalados emocionalmente com a falta do medicamento. "Cada vez que um adoece, a gente pensa que vai ser o próximo. Não existe uma forma de evitar que a doença te faça muito mal enquanto esperamos, dependemos de outros para ter acesso à medicação. Sei de amigos que estão em depressão. Estamos sofrendo os danos e sintomas agressivos por falta do medicamento."

Membro do Comitê de Falências Medulares da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), Phillip Scheinberg explica que os pacientes com HPN podem ter fadiga intensa, dores abdominais e anemia, mas que a maior preocupação é em relação à trombose. "Essa doença é uma alteração genética que faz com que as células vermelhas fiquem mais susceptíveis a serem destruídas. Elas estouram na corrente sanguínea, porque são atacadas por substâncias chamadas complementos, que fazem parte do nosso sistema de defesa. O maior temor é que esse quadro de destruição acentuada e contínua cause a trombose, que é a principal causa de morte. São tromboses graves, em locais importantes, como o cérebro."

Scheinberg diz que o Soliris atua inibindo o complemento, de modo que ele para de destruir as células. "É a única forma de tratamento. O medicamento não cura, mas controla. Se deixar de tomar , o problema volta."

Auditoria

Em nota, o Ministério da Saúde informou que realizou uma auditoria sobre os 414 pacientes que têm decisões judiciais para receber o medicamento e que, no início de setembro, iniciou um novo processo de compra do medicamento para as demandas judiciais. Na última compra, realizada em junho, foi feita a aquisição de nove mil frascos, que seriam destinados a essas demandas "por, pelo menos, três meses", segundo o ministério.

A pasta informou que enviou o edital para proposta de fornecimento aos fornecedores e que "a previsão de distribuição, após cumprir todos os trâmites legais, é para final de outubro". Segundo o ministério, a aquisição será para um período de cinco meses. O tratamento anual custa R$ 1,3 milhão por paciente.

Ainda de acordo com o ministério, a auditoria apontou que, entre as pessoas que entraram na Justiça para receber o Eculizumabe, "28 não foram localizadas, cinco não residem no endereço informado, seis se recusaram a prestar informações e 13 já faleceram". A pasta afirmou que "cerca da metade não apresentou diagnóstico da doença para a obtenção do medicamento".

Indagado se haveria distribuição emergencial para os pacientes internados, o ministério informou que "a área técnica segue os trâmites legais de compras de medicamentos"

O Ministério da Saúde ampliou o acesso ao remédio Dolutergravir para toda a população que vive com HIV e Aids no país. Até o final de 2018, 300 mil pacientes poderão utilizar o medicamento.

Segundo o ministério, o produto é considerado um dos mais eficazes para o tratamento de Aids no mundo pela alta potência, pelo nível muito baixo de eventos adversos, pela comodidade para o paciente (uma vez ao dia), assim propondo um tratamento eficaz por mais tempo e menor resistência.

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“Essa ampliação decorre dessa nossa prática de economizar e reaplicar essa economia nos serviços de saúde e melhorar a qualidade de vida de todos os brasileiros. Tenho certeza de que todos ficaram satisfeitos com essa ampliação do melhor medicamento do mundo para todos os portadores de HIV, além dos aplicativos que ajudarão profissionais e população”, explica o ministro Ricardo Barros.

A medida de prevenção pretende reduzir o risco da infecção pelo HIV antes da exposição, por meio da utilização de medicamentos antirretrovirais em pessoas não infectadas e que mantêm relações de risco com maior frequência. Entre o público-alvo da medida estão gays, travestis, transexuais, profissionais do sexo e casais sorodiferentes.

O Banco de Perucas Móvel iniciou neste mês de setembro uma ação nos hospitais estaduais de São Paulo. Ao todo, 500 perucas serão doadas a pacientes com câncer, das 8h às 17h.

Participam do programa os hospitais: Pérola Byington, Brigadeiro, Heliópolis, Darcy Vargas, Instituto de Tratamento do Câncer Infantil (ITACI), na capital; o Hospital das Clínicas Luzia de Pinho Mello, em Mogi das Cruzes; Hospital das Clínicas de Botucatu; Mario Covas, em Santo André e o Hospital Estadual de Bauru.

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O Hospital Guilherme Álvaro, localizado em Santos, vai receber a unidade móvel que permanecerá até o dia 16 de setembro.

O Banco ainda atua como ponto de coleta de doações de cabelo para confecção das perucas. Os interessados podem doar mechas com 20 cm, no mínimo. É fundamental que o cabelo esteja completamente seco. O banco aceita fios com química. A orientação é amarrar a mecha e acondicionar em um saco plástico. Não é possível realizar corte de cabelo no local. As doações podem ser enviadas via Correios.

Para outras informações acesse: http://www.cabelegria.org/?page_id=987

Um enfermeiro foi acusado de assassinar 84 pacientes durante sua carreira em clínicas nas cidades de Delmenhorst e Oldenburg, anunciou a polícia da Alemanha nesta segunda-feira (28). Niels Hoegel, de 40 anos, está preso desde 2015, quando foi apontado como o causador da morte de dois pacientes devido a uma overdose de medicamentos para o coração. Ele tinha sido condenado à prisão perpétua pelos dois crimes, mas, desde então, a polícia investiga casos similares.

Agora, as autoridades alemãs chegaram à conclusão de que Hoegel matou 84 pacientes. O chefe da polícia, Johann Kuehme, afirmou que há provas de ao menos 84 homicídios, baseados em materiais recolhidos em autópias. Mas o número pode ser maior, já que muitos pacientes do enfermeiro foram cremados.

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"São 84 homicídios. Estamos sem palavras", admitiu Kuehme em uma coletiva de imprensa. "E a coisa mais terrível é que esse balanço deve ser bem pior, bem maior". A polícia também abriu inquéritos contra a administração dos dois estabelecimentos onde o enfermeiro trabalhou, alegando que os crimes poderiam ter sido evitados se tivessem sido denunciados e apurados. 

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