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O ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, disse nesta sexta-feira (03) ser "ilusório pensar" que qualquer presidente, ministro ou político tem poder de ingerência na Polícia Federal. Mendonça assumiu a pasta após o ex-ministro Sergio Moro sair do governo alegando que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir politicamente na corporação. O caso é apurado em inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

"Então elucubrar uma interferência no trabalho da Polícia Federal é impensável. E não é nesse governo. É em qualquer governo. Qualquer governo que tente isso não vai ter êxito. Pelo contrário. Terá contra si uma avaliação não só política, mas de uma situação de risco jurídico evidente", disse o ministro em live promovida pelo BTG Pactual, conduzida pelo ex-ministro do STF, Nelson Jobim, que hoje é presidente do conselho de administração do banco.

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Mendonça ponderou, por sua vez, que a autonomia e independência da corporação não "significa soberania de atuação". "Eu, como ministro, demando atuação efetiva da PF, cobro resultado, quero saber se estão fazendo operações, quais dificuldades estão tendo. Seria irresponsável se eu não o fizesse, se presidente da República não cobrasse isso", disse.

"O que a gente cobra é que persigam crime de modo parcial, de modo isento, sem perseguição de grupo A ou B, que tenham atuação responsável", continuou.

Na reunião ministerial do dia 22 de abril, que se tornou pública após decisão da Justiça, Bolsonaro afirmou que não poderia "viver sem informação" e ser "surpreendido com notícias". "Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações", disse o presidente na ocasião.

"E não dá pra trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final, pô!", disse também Bolsonaro. Ao sair do Ministério da Justiça, Moro alegou que a reunião seria uma prova da tentativa de interferência do presidente na PF.

O procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o presidente Jair Bolsonaro possa escolher a forma como prefere depor no inquérito que apura interferência na Polícia Federal. Em parecer enviado à Corte, Aras diz que o presidente tem o direito de optar por enviar uma manifestação por escrito, ir pessoalmente ou mesmo ficar em silêncio. A consulta a Aras foi feita pelo relator do caso, o decano Celso de Mello, que decidirá como Bolsonaro será ouvido no processo.

Na manifestação, Aras cita um precedente no Supremo, quando o ministro Luís Roberto Barroso autorizou depoimento por escrito do então presidente Michel Temer em outro caso.

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Bolsonaro é suspeito de interferência indevida na PF. A investigação foi aberta a partir de afirmações do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, que deixou o governo após o presidente demitir o então diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo, seu indicado.

A lei permite que o presidente da República preste testemunho por escrito, em casos nos quais não é investigado, mas não cita como deve ser tomado um depoimento se ele for o alvo da investigação. "Dada a estatura constitucional da Presidência da República e a envergadura das relevantes atribuições atinentes ao cargo, há de ser aplicada a mesma regra em qualquer fase da investigação ou do processo penal", disse Aras, ao justificar o depoimento por escrito.

A apuração sobre desvio de finalidade do presidente foi prorrogada nesta quarta-feira, 1º, por mais 30 dias. O depoimento de Bolsonaro é uma das medidas que ainda faltam ser cumpridas na investigação.

A Justiça Federal intimou o presidente Jair Bolsonaro, por meio da Advocacia-Geral da União, a dar explicações sobre a publicação de uma portaria que aumentou em três vezes a quantidade de munições que pode ser comprada por cada pessoa. A ação foi aberta após o Estadão revelar que a norma foi fundamentada em parecer do general de brigada Eugênio Pacelli Vieira Mota, que já havia sido exonerado e não tinha mais função no governo.

A portaria foi publicada por ordem do presidente Jair Bolsonaro e elevou de 200 para 600 o número de projéteis permitidos anualmente por registro de arma de pessoa física.

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O despacho da 25ª Vara Cível Federal de São Paulo atende a um pedido do deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP). Na ação, que tem Bolsonaro como réu, o parlamentar também cobra a revogação da portaria.

Ao citar reportagens do Estadão, a ação afirma que "os documentos oficiais do Exército demonstraram que a elaboração do parecer de Pacelli ocorreu em menos de 24 horas - às 22h do dia 15 de abril, e consistiu em um e-mail pessoal de três linhas".

O documento foi baseado, ainda, em outro parecer produzido em tempo recorde. Subscrito por Fernanda Regina Vilares, chefe da Assessoria Especial de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, essa segunda peça limita-se a um "Ok" em mensagem de WhatsApp.

A Justiça Federal deu prazo de 72 horas para a AGU dar suas explicações sobre os argumentos apresentados na ação, a contar do último dia 3 de junho. Procurado, o Palácio do Planalto e a AGU ainda não se manifestaram sobre o assunto.

A pressão de Bolsonaro para armar a população e aprovar a portaria foi evidenciada com a divulgação da tensa reunião ministerial do dia 22 de abril. O vídeo foi tornado público no mês passado por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) e mostra Bolsonaro determinando, nominalmente, que o seu então ministro da Justiça Sérgio Moro, e da Defesa, Fernando Azevedo, providenciem a portaria que ampliava o acesso a munições. A norma foi publicada no dia seguinte.

"Peço ao Fernando e ao Moro que, por favor, assinem essa portaria hoje que eu quero dar um puta de um recado pra esses bosta! Por que eu tô armando o povo? Porque eu não quero uma ditadura! E não dá para segurar mais! Não é? Não dá pra segurar mais", disse Bolsonaro, na frente dos outros ministros.

O ex-ministro Sérgio Moro revelou ao Estadão, em entrevista no dia 24 de maio, que não se opôs ao presidente para não abrir um novo "flanco" de conflito no momento em que tentava evitar a troca no comando da Polícia Federal, o que ele considera que daria margem para uma interferência indevida no órgão.

"A portaria elaborada no MD (Ministério da Defesa) foi assinada por conta da pressão do PR (Presidente da República) e naquele momento eu não poderia abrir outro flanco de conflito com o PR", explicou.

Principais especialistas em direito administrativo no País ouvidos pelo Estadão consideraram "grave" e possível "fraude" a decisão do Ministério da Defesa de utilizar um parecer de um general exonerado e sem função numa portaria para aumentar o limite de compra de munições. O número de balas passou de 200 para 600, por registro de arma de fogo, com a portaria. No País, 379.471 armas estão nas mãos da população, segundo a Polícia Federal. Dessa forma, o novo decreto pode possibilitar a compra de 227.682.600 balas (600 munições por arma).

Após a divulgação da reportagem, o Ministério da Defesa encaminhou nota ao jornal para afirmar que "o militar estava em pleno exercício legal do seu cargo ao assinar os documentos". No entendimento da Defesa, uma regra expressa do art. 22 da Lei 6.880/80 permite que o militar possa assinar atos mesmo já exonerado e com um substituto nomeado em seu lugar.

Há pouco mais de uma semana, Fernando Cesar Borba de Oliveira, 41, foi desligado do setor de comunicação da Polícia Rodoviária Federal no Paraná. O agente, que estava na função há três anos e na corporação há sete, recebeu a notícia de que voltaria ao serviço operacional, nas estradas de Curitiba e no litoral do estado, em razão de um 'desgaste' com o departamento geral da corporação, sediado em Brasília. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União da última segunda, 25.

"'Desgaste', 'desalinhamento', 'momento político', basicamente foram essas as expressões utilizadas", conta o ex-assessor da PRF paranaense sobre a justificativa para seu afastamento do cargo de intermediário nas relações com a imprensa.

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Sua saída do setor foi anunciada após a participação em uma reportagem, veiculada na TV Globo, que associava o aumento do número de acidentes nas rodovias federais ao afrouxamento da quarentena. Na reportagem, Oliveira, na qualidade de porta-voz da PRF no Paraná, expressa a preocupação em aumentar a fiscalização para evitar acidentes com feridos graves - o que, segundo ele, poderia sobrecarregar ainda mais o sistema de saúde do país, que já têm dificuldade de prestar atendimento após o aumento exponencial do volume de pacientes que precisam de internação em UTIs por complicações no quadro de infecção pelo novo coronavírus.

"Minutos após a veiculação da reportagem, houve ao menos um telefonema de Brasília para a superintendência no Paraná, no qual o diretor executivo da PRF alegaria um 'desalinhamento' da matéria, pelo simples fato de mostrar uma ação de fiscalização de radar e de supostamente conter uma defesa das medidas de isolamento social - dois temas considerados 'sensíveis' aos olhos do presidente da República", afirmou Oliveira.

O Estadão entrevistou o ex-assessor passado a agente operacional para saber detalhes do caso.

Estadão: A que exatamente você atribui seu afastamento do setor de comunicação da PRF?

Fernando Cesar Borba de Oliveira: Setores da direção da polícia em Brasília não gostaram do teor de uma reportagem televisiva sobre acidentes de trânsito nas rodovias federais, veiculada em rede nacional, na manhã do último dia 15. Minutos após a exibição da reportagem, houve ao menos um telefonema para a superintendência no Paraná, no qual o diretor executivo da PRF alegou um 'desalinhamento' da matéria, pelo simples fato de ela ter mostrado uma ação de fiscalização com uso de radar portátil, e por supostamente estar contida nela uma defesa das medidas de isolamento social. Todos sabemos que esses dois assuntos - controle de velocidade em rodovias e o confinamento por conta da pandemia - são considerados sensíveis aos olhos do presidente da República. Mas, na verdade, a reportagem apenas tratava de dados sobre acidentes que são públicos e que obviamente estão relacionados, entre outros fatores, ao fluxo maior ou menor de veículos nas rodovias federais. Apesar disso, a reportagem provocou uma reação desproporcional.

Estadão: Quando você foi informado do afastamento e qual foi a justificativa?

Fernando Oliveira: No dia 18 deste mês. Contraditoriamente, o meu trabalho à frente do Setor de Comunicação da PRF no Paraná, que vinha desde 2017, foi elogiado. A alegação para a saída é de que haveria um desgaste em relação ao Departamento, em Brasília. 'Desgaste', 'desalinhamento', 'momento político' - basicamente foram as expressões utilizadas. Acredito que o termo chave seja esse: desalinhamento. Mas a pergunta que cabe nesse caso é: desalinhamento em relação a que exatamente?

Estadão: Você consegue responder a essa pergunta?

Fernando Oliveira: A postura da área de comunicação de qualquer órgão público deve estar alinhada sempre com os princípios constitucionais, como o da transparência e o da impessoalidade. Se estiver alinhada a uma interferência sem amparo técnico, ainda que ela tenha partido do presidente da República, não se trata de algo legítimo. Pelo contrário, é algo irregular e que deve ser combatido. A comunicação de um órgão policial não pode ser instrumentalizada para servir a interesses pessoais. Não por acaso, a suspensão do uso dos radares portáteis acabaria sendo derrubada, meses depois, pelo poder judiciário. Mas é triste constatar que tal medida presidencial ainda exerça efeitos negativos no dia a dia dos serviços de fiscalização de trânsito e de comunicação da Polícia Rodoviária Federal. Assim como a Polícia Federal, na condição de órgão policial da União, a PRF também deve funcionar como uma polícia de estado, livre de interferências políticas ou meramente pessoais.

Estadão: Então você enxerga uma tentativa de politização da PRF?

Fernando Oliveira: Enxergo e se trata de um processo mais do que nítido. Em determinado momento do segundo semestre de 2019, por exemplo, a situação ficou tão bizarra que, quando a pauta de uma entrevista dizia respeito a trânsito, o policial na função de porta-voz chegava à situação extrema de ter que memorizar de antemão a lista de temas proibidos, sobre os quais ele não poderia falar, porque o presidente havia feito declarações polêmicas sobre ele nas últimas semanas. Desde radar até a exigência de cadeirinha para transportar crianças, passando por exame toxicológico, entre outros assuntos. E uma fala presidencial tem um grande potencial para deseducar a população. Na época, houve casos de motoristas abordados pela PRF com crianças no colo ou soltas dentro de carros que alegavam: 'mas a exigência e a multa não foram derrubadas pelo presidente?'

Estadão: Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro suspendeu o uso de radares nas rodovias federais para evitar 'utilização meramente arrecadatória'. Houveram manifestações contrárias e, em abril deste ano, a Justiça barrou a remoção dos radares fixos. Como o tema é tratado entre os agentes?

Fernando Oliveira: A divulgação de imagens com flagrantes de velocidades muito superiores aos limites máximos sempre foi algo de praxe, comum no dia a dia na área de comunicação da PRF, até agosto de 2019. O mesmo vale para dados relacionados à quantidade de imagens captadas. De lá pra cá, porém, ficamos impedidos de fazer esse tipo de divulgação nos estados, tanto das imagens quanto dos números. O assunto 'radar' passou a ser um tabu. Mesmo após a decisão judicial, que segue válida até hoje, e o retorno da utilização dos radares, a proibição quanto à menção ao tema se manteve intacta. Inclusive os números e imagens de flagrantes eventualmente captados deixaram de ser divulgados, como era feito regularmente, até agosto de 2019. Na prática, assim como não houve amparo técnico nem jurídico para a decisão que suspendeu o uso de radares, também não há uma justa motivação para proibir os policiais de abordar o tema controle de velocidade em entrevistas, divulgar fotos de operações com radar, exibir o equipamento em reportagens de TV, etc.

Estadão: Como a centralização de pedidos e dados por veículos de comunicação atinge as superintendências?

Fernando Oliveira: Foi uma espécie de mordaça aos policiais, uma sonegação de informações. Houve centralização extrema na assessoria de comunicação em Brasília, que também não responde parte dos pedidos, obrigando jornalistas a recorrer à lei de acesso à informação. Algo lamentável e que acaba por afetar a credibilidade de qualquer assessoria de imprensa, especialmente na área pública.

Estadão: Antes da sua demissão, você chegou a receber uma ordem para excluir fotos de radares do acervo on-line disponibilizado pela PRF. Já houve outras solicitações nesse sentido em alguma outra ocasião?

Fernando Oliveira: A ordem foi transmitida poucas horas após a veiculação da reportagem que desagradou Brasília, através da Superintendência Executiva da PRF no Paraná. Mantemos nessa plataforma online um repositório de quase 9 mil fotografias em alta resolução. É um acervo histórico que registra parte da história da polícia desde 2014. Não vi motivação justa nem amparo legal nessa ordem, de caráter pra lá de duvidoso. Tanto que não a cumpri. Ainda não sei de onde partiu exatamente.

Estadão: Você vê riscos nessas tentativas de esconder o uso da fiscalização com radares?

Fernando Oliveira: O excesso de velocidade está entre as quatro principais causas de mortes em rodovias federais no Brasil. Não é por acaso que a PRF, ao longo dos anos, fez um investimento alto na aquisição de tais equipamentos. Cada radar portátil custa mais de R$ 100 mil. Apenas no Paraná, onde há 25 deles, são R$ 2,5 milhões em equipamentos. Não há razão de ordem técnica para deixá-los subutilizados ou mesmo escondidos. Mostrar que a polícia está preocupada com o excesso de velocidade e punindo os infratores é uma medida que tende inclusive a aumentar as condições de segurança das rodovias. Além da multa, conforme o nível da velocidade registrada pelo radar, o motorista terá a carteira de habilitação suspensa de forma direta, por períodos de dois a oito meses. Não é pouca coisa. Ontem mesmo uma equipe da PRF flagrou um motociclista a 189 km/h em um trecho de Serra do Mar onde o limite é 80 km/h, na BR-376, divisa entre Paraná e Santa Catarina. Mas a imagem infelizmente não pôde ser divulgada à imprensa, por conta de todas essas restrições impostas desde o ano passado. A gente sabe que, quanto maior é a percepção de que a fiscalização policial está acontecendo, maior é a tendência de um contingente mais expressivo de motoristas de respeitar as normas de trânsito, o limite de velocidade. Se a polícia deixa de mostrar esse tipo de trabalho, deixa de exibir casos extremos de excesso de velocidade, bem superiores aos limites máximos, deixa de divulgar o número de pessoas autuadas por radares, por uma questão de mero capricho pessoal, ainda que seja do chefe do executivo, não tem como não enxergar um problema grave aí. Na minha avaliação, teria que ser apurado um possível desvio de finalidade, porque interferência política indevida é um fato mais que concreto.

Estadão: Como você enxerga a exoneração do diretor-geral da PRF, Adriano Furtado, afastado do comando da corporação depois de assinar uma nota de pesar pelo falecimento de um agente? Na reunião ministerial do dia 22, o próprio presidente conta que ligou para repreender o ex-diretor.

Fernando Oliveira: O ataque à nota de pesar foi algo profundamente lamentável, especialmente porque ela estava correta e o colega morto por coronavírus não tinha nenhuma doença pré-existente.

Estadão: Qual a sua opinião sobre o isolamento social como medida para conter a disseminação de coronavírus? Você acha que o governo está certo ao pregar a flexibilização da quarentena?

Fernando Oliveira: Antes de responder, preciso registrar que minhas opiniões pessoais nunca afetaram a função de porta-voz da PRF no estado, que vinha exercendo desde 2017. Com ou sem pandemia, quando o assunto é trânsito, nosso trabalho vai sempre na direção de buscar reduzir danos, para que ocorram menos acidentes e, por consequência, menos pessoas mortas ou feridas. Minha opinião sobre isolamento coincide com a da maioria dos médicos, pesquisadores e epidemiologistas: como não há vacina, nem remédio para o novo coronavírus, e mesmo o uso de máscaras não é algo 100% eficaz, as medidas de isolamento e distanciamento são imprescindíveis para conter o ritmo de novas infecções. Ocorre que o contexto daquela reportagem que desagradou alguém em Brasília ia justamente no sentido de tentar reduzir o número de leitos do SUS ocupados por vítimas de acidentes de trânsito no Brasil, que historicamente representam mais da metade das internações. Reduzir os acidentes de trânsito é uma medida importante para, no mínimo, não agravar ainda mais uma situação de provável colapso do sistema público em todo o país.

A ativista Mônica Tereza Benício, viúva da vereadora Marielle Franco (PSOL) que foi executada a tiros junto com seu motorista, Anderson Gomes, na noite de 14 de março de 2018 no Rio de Janeiro, declarou em entrevista à coluna de Jamil Chade que Jair Bolsonaro (sem partido) age como um imperador ao tentar interferir na Polícia Federal. Apesar da prisão de Ronie Lessa, apontado como atirador, e de Elcio Vieira de Queiroz, motorista do carro de onde partiram os disparos, os motivos e mandantes do crime continuam sem resposta. 

O Superior Tribunal de Justiça (STJ) votará, na próxima quarta-feira (27), para decidir se o caso de Marielle deve ou não ser federalizado. A possibilidade, segundo Mônica, assusta a família, que teme que as investigações passem para a Polícia Federal, diante das últimas notícias sobre possíveis tentativas de intervenção de Bolsonaro na instituição. A família, inclusive, criou o site www.federalizacaonao.org, opondo-se à federalização do caso.

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“Considerando as últimas falas do presidente que colocou publicamente que intervir na Polícia Federal, que pediu interferência no caso da Marielle, que mandou a PF interrogar o suspeito de ser atirador e que tem cópia do inquérito, a maior preocupação é que a PF, que Bolsonaro quer intervir, controlar, comande o caso da Marielle. Ele sempre desrespeitou a memória dela e as bandeiras dela. Temos, portanto, muito medo de que o caso vá para as mãos da PF e que seja conduzido para um final que não tenha compromisso com as verdades do fato. Ou que seja arquivado ou postergado”, disse a viúva da vereadora. 

Mônica afirma ainda que o temor da família não é infundado nem parte de suposições, uma vez que o próprio Bolsonaro afirmou que pediu informações e interferiu nas investigações do caso do assassinato de Marielle e Anderson. 

“Não é uma especulação. Ele declarou isso, que fez uma intervenção, que pediu para a PF fazer uma intervenção no caso. Independente de qual motivo seja, ele não poderia ter feito isso (...) Em muitos episódios já tivemos o nome da família Bolsonaro sendo mencionado nas investigações por alguns motivos. Seja pelo filho 04 ter podido namorar a filha do Roni Lessa, que é o acusado de ser o atirador, seja pelo porteiro. São muitos os fatores que mencionaram o nome da família. Se tem responsabilidade ou não, se tem envolvimento ou não, são as investigações que devem mostrar. Mas é inaceitável que o presidente se comporte como um imperador. E é o que ele tem feito”, disse Mônica. 

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O Ministério Público Federal (MPF) acionou a Justiça para que o Exército retome a validade de portarias sobre controle de armas e munições revogadas no mês passado por ordem do presidente Jair Bolsonaro. Como revelou o Estadão, procuradores investigam se houve interferência indevida do presidente na Força ao determinar a suspensão das normas.

Na ação, enviada à 22ª Vara de Justiça Federal do Distrito Federal, os procuradores pedem, em caráter de liminar, a declaração de ilegalidade sobre tais revogações. As três portarias, publicadas entre março e abril, estabeleciam regras mais rígidas de controle, rastreabilidade e identificação de armas e munições importadas e fabricadas pela indústria nacional, sob a finalidade de atividades esportivas, de colecionador e também para abastecer os quartéis.

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"Infelizmente, com a realidade criminosa do nosso País, vivenciamos inúmeros casos de furtos e desvios de armamentos e munições. E essas armas acabam sendo disponibilizadas para facções e organizações criminosas que se utilizam do armamento sem que as autoridades públicas possam localizar esse material, tendo em vista a inadequação dos métodos de rastreabilidade e controle", destaca a ação do MPF.

Ao solicitar a investigação, a procuradora regional da República Raquel Branquinho relatou a possibilidade de Bolsonaro ter agido para beneficiar uma parcela de seus eleitores, que defendem o setor das armas. Segundo a procuradora, não há espaço na Constituição "para ideias e atitudes voluntaristas" do presidente, ainda que pautadas por "bons propósitos".

Pedido

A ação civil que pede a retomada das portarias, no entanto, não tem como finalidade apontar eventual interferência no Exército por parte do Bolsonaro. "O objetivo da peça foi apenas apontar as irregularidades nas revogações e os graves prejuízos gerados por essas medidas", afirma o MPF.

"A Procuradoria da República no Distrito Federal não possui atribuição para investigar e processar atos do presidente da República - nem por conduta criminal, nem por ação ímproba. Nesses casos, cabe ao Senado Federal apurar crimes de responsabilidade e ao Supremo Tribunal Federal, crimes comuns", diz o órgão.

Em resposta ao MPF, o Comando Logístico do Exército (Colog) admitiu que revogou três normas de controle de armas e munições para atender a questionamentos e questões levantadas pela "administração pública e as mídias sociais".

Em ofício à Procuradoria no último dia 28, o general Laerte de Souza Santos, chefe do Colog, tentou justificar o cancelamento das portarias 46, 60 e 61. "Ocorre que, tão logo publicadas oficialmente as referidas portarias, surgiram inúmeros questionamentos e contrapontos levantados por diversos setores da sociedade, especialmente nas mídias sociais, e da administração pública em razão da tecnicidade do tema", escreveu o general.

Responsável pelas portarias, o general de Brigada do Exército Eugênio Pacelli Vieira Mota afirmou, em carta, que as normas visavam à segurança nacional e não atenderam "interesses pontuais" do setor armamentista. O general deixou o cargo de diretor de fiscalização de produtos controlados uma semana depois de os atos terem sido publicados pelo Exército. Durante o período em que esteve na vaga, ele chefiou o grupo que elaborou os textos.

Congresso

A investigação sobre interferência de Bolsonaro no Exército aumentou o desgaste do chefe do Planalto no Congresso Nacional.

Na Câmara, deputados do PSB, que apresentaram um pedido de impeachment com base nas acusações de interferência na Polícia Federal (PF), avaliam incluir a acusação por ingerência no Exército no processo. Além disso, parlamentares do partido apresentaram há uma semana um projeto de decreto legislativo para resgatar a validade das portarias anuladas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Mudanças feitas no governo 28 dias antes da reunião ministerial gravada que é alvo de polêmicas e disputa judicial entre Bolsonaro e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro contradizem a versão apresentada pelo próprio presidente sobre seus desejos de mudanças no comando da Polícia Federal.

De acordo com informações do Jornal Nacional, apesar de ter afirmado que ao se referir a “gente da segurança nossa no Rio de Janeiro” ameaçando até fazer demissões de chefes e ministros na reunião Bolsonaro falava de sua própria segurança e da de sua família, 28 dias antes o presidente fez o oposto.

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Em vez de demitir, promoveu o diretor do Departamento de Segurança Presidencial, general André Laranja Sá Correa, a comandante da Oitava Brigada de Infantaria Motorizada do Exército, localizada em Pelotas (RS), e o até então diretor-adjunto Gustavo Suarez assumiu o posto. A lei que trata da promoção de oficiais das Forças Armadas, como as do dia 31 de março, determina que a escolha de quem é promovido é feita pelo presidente da República.

Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI)

O Departamento de Segurança Presidencial integra a Secretaria de Segurança e Coordenação Presidencial do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), e consequentemente subordinado ao General Augusto Heleno, ministro do GSI. Algumas das obrigações do gabinete são:

Zelar pela segurança pessoal do presidente da República, do vice-presidente da República e de seus familiares; zelar pela segurança dos palácios presidenciais e das residências do presidente da República e do vice-presidente da República; e estabelecer e manter os escritórios de representação como bases operacionais avançadas para a garantia da segurança do presidente da República, do vice-presidente da República e de seus familiares.

A contradição de Bolsonaro vem de sua fala na reunião ministerial gravada no dia 22 de abril, que já foi transcrita para o processo que investiga se ele tentou intervir na Polícia Federal. Na ocasião, o presidente afirmou “Já tentei trocar gente da segurança nossa no Rio de Janeiro oficialmente e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar f. minha família toda de sacanagem, ou amigo meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura. Vai trocar. Se não puder trocar, troca o chefe dele. Não pode trocar o chefe, troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira”.

Quando questionada, a Advocacia Geral da União (AGU) afirmou que “importa lembrar que a segurança presidencial é realizada pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República" e que nesse momento da reunião "em nenhum momento, o presidente da República menciona ou refere-se, direta ou indiretamente, a 'superintendente', 'diretor-geral' ou 'Polícia Federal'”.

Apesar da afirmação, a troca feita por Bolsonaro de que sua afirmação se referia a dificuldades de mexer em sua segurança institucional, o presidente já havia feito alterações no GSI dias antes, não com a intenção de punir mas de promover o diretor do órgão, colocando no lugar o “número dois” da diretoria.

Houve, ainda, uma terceira mudança em um posto mais baixo do GSI do Rio de Janeiro. Em 28 de fevereiro, menos de dois meses antes da reunião ministerial, o chefe do escritório, o coronel Luiz Fernando Cerqueira, foi substituído pelo tenente coronel Rodrigo Garcia Otto. O escritório do Rio funciona como uma extensão da sede em Brasília, apurando e repassando informações. O Palácio do Planalto não comentou o tema.

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O Ministério Público do Tribunal de Contas da União solicitou que a corte abra uma investigação para apurar suposta interferência política do presidente Jair Bolsonaro no Exército. Conforme revelou o jornal O Estado de S. Paulo na última segunda-feira (27), Bolsonaro também é investigado pelo Ministério Público Federal por determinar a revogação, por parte da Força, de três portarias que tratavam do controle e do rastreamento de armas e munições no País.

Em despacho ao qual a reportagem teve acesso, o MP de Contas sugere que o presidente cometeu "grave violação" dos princípios administrativos ao tomar para si atribuições que são de exclusividade do Exército. A avaliação é a de que Bolsonaro estaria "interferindo politicamente" na Força.

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Por esse motivo, o MP emitiu uma representação pedindo que o TCU decida "pela adoção das medidas necessárias a apurar a ocorrência de desvio de finalidade, caracterizando flagrante e grave violação aos princípios administrativos da impessoalidade e da moralidade".

O MP diz que uma inovação trazida na portaria, agora revogada, era a obrigação de que estojos adquiridos com finalidade de recarga de munição também deverão possuir o código de rastreabilidade. "Atiradores desportivos e clubes de tiro costumam recarregar munição em estojos sem marcação", diz.

A portaria também determinava que somente munições do mesmo tipo e calibre poderiam ser inseridas no mesmo número de lote. O documento deixava claro, ainda, que o tamanho máximo dos lotes de munição marcada com um mesmo código deveria ser de 10 mil unidades, para facilitar o rastreamento. Mas deixava aberta a possibilidade de lotes ainda menores, de mil projéteis.

Pressão

A representação do MP de Contas aponta para a possibilidade de o anúncio de Bolsonaro, feito nas redes sociais, sobre a revogação, ter sido resultado da pressão feita pela categoria dos caçadores, atiradores e colecionadores, chamada pela sigla CAC. "Eles sempre se colocaram como base de apoio do presidente e contrários a medidas que amplie o controle de munições", diz o despacho.

"Há notícias de que a decisão de revogar aquelas portarias não se pautou em critérios técnicos, mas, sim, em posicionamento político do Presidente da República decorrente de pressão exercida por clubes de colecionadores, atiradores e caçadores", destaca o documento, assinado pelo procurador Lucas Furtado.

O Comando Logístico do Exército (Colog) admitiu ao Ministério Público Federal que revogou três portarias de controle de armas e munições para atender à "administração pública e às mídias sociais". A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão investiga uma possível interferência do presidente Jair Bolsonaro em atos exclusivos dos militares para atender grupos armamentistas que têm influência nas redes sociais.

Foram abertos dois procedimentos para apurar a ordem dada por Bolsonaro ao Colog, no último dia 17, que revoga as três portarias publicadas entre março e abril sobre monitoramento de armas e munições.

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Em ofício enviado à Procuradoria na terça-feira, o general Laerte de Souza Santos, chefe do Colog, deu sua justificativa para o cancelamento das portarias 46, 60 e 61. "Ocorre que, tão logo publicadas oficialmente as referidas portarias, surgiram inúmeros questionamentos e contrapontos levantados por diversos setores da sociedade, especialmente nas mídias sociais, e da administração pública em razão da tecnicidade do tema", escreveu o general.

A procuradora Deborah Duprat ainda considerou insuficientes as explicações e cobrou, do Exército, que informe quais foram os setores que levantaram os questionamentos.

Em outro trecho de seu ofício, o general argumentou que a revogação das normas 46, 60 e 61 buscou aprimorar "pontos" de difícil compreensão pelo público. "A afirmação, no entanto, não conta com indicação de quais seriam esses pontos e, especialmente, sua importância estrutural para fundamentar a revogação integral dos três atos normativos", avaliou a procuradora Deborah Duprat, em relação às respostas do Colog.

Armas

O inquérito sobre a suposta interferência de Bolsonaro em atos do Exército foi revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo na última segunda-feira. Em suas investigações, a Procuradoria aponta pelo menos quatro atos "infraconstitucionais", editados pela Força, desde janeiro de 2020. Dentre os atos citados no inquérito está a revogação de três portarias, que, segundo especialistas, dificultavam acesso do crime organizado a armas e munições desviadas de quartéis.

As portarias 46, 60 e 61 foram elaboradas em conjunto por militares, policiais federais e técnicos do Ministério da Justiça. Essas normas estabeleciam o controle, rastreabilidade e identificação de armas e munições importadas e fabricadas pela indústria nacional, sob a finalidade de atividades esportivas, de colecionador e também para abastecer os quartéis. Na avaliação dos procuradores, ao revogá-las, o governo facilita o acesso do crime organizado a armas e munições desviadas.

"A cidade do Rio de Janeiro é a face mais visível dessa ausência de efetivo controle no ingresso de armamento no País", observou a procuradora regional Raquel Branquinho em ofício obtido pelo Estado. Raquel aponta a possibilidade de Bolsonaro ter agido para beneficiar eleitores e que não há espaço na Constituição "para ideias e atitudes voluntaristas" do presidente, ainda que pautadas por "bons propósitos".

Responsável por assinar as portarias que depois foram revogadas a pedido do presidente, o general de Brigada Eugênio Pacelli Vieira Mota afirmou, em carta enviada quando deixou o , que as normas visavam à segurança nacional e não atenderam "interesses pontuais" do setor armamentista.

Líder do governo na Câmara dos Deputados, o Major Vitor Hugo (PSL-GO) criticou a decisão liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que suspende a nomeação do delegado Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal. Para o parlamentar, a interferência de um Poder no outro não é positiva para a democracia. 

"O ministro Alexandre de Morais acaba de suspender a nomeação do Dr Alexandre Ramagem para o cargo de Diretor-geral da Polícia Federal. Interferência de um Poder no outro não é saudável para a democracia e deveria ser a exceção das exceções. Esperamos que o Plenário reveja a decisão", escreveu em publicação no Twitter. Vitor Hugo e mais cerca de 20 deputados do PSL se encontraram na manhã de hoje com o presidente Jair Bolsonaro.

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Também na manhã de hoje, Alexandre de Moraes divulgou a decisão liminar sobre Ramagem, que tomaria posse em cerimônia às 15h. Segundo o ministro, pode ter ocorrido "desvio de finalidade" na nomeação de Ramagem, "em inobservância aos princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade e do interesse público." Ramagem é amigo do vereador e filho do presidente, Carlos Bolsonaro.

Além do Ministério Público Federal, a Câmara deve analisar a revogação de portarias que previam regras mais rígidas de controle de armas e munições no País. Como revelou o jornal O Estado de S. Paulo ontem, o presidente Jair Bolsonaro entrou na mira de procuradores por indícios de violar a Constituição ao mandar suspender as normas. Um projeto de lei, apresentado pelo deputado Beto Pereira (PSB-MG), retoma os atos derrubados.

As portarias 46, 60 e 61, revogadas pelo comandante do Comando Logístico do Exército (Colog), general Laerte de Souza Santos, por exigência de Bolsonaro, foram elaboradas em conjunto por militares, policiais federais e técnicos do Ministério da Justiça. "Determinei a revogação das portarias (...) por não se adequarem às minhas diretrizes definidas em decretos", escreveu Bolsonaro no Twitter em 17 de abril.

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Essas portarias estabeleciam o controle, rastreabilidade e identificação de armas e munições importadas e fabricadas pela indústria nacional, sob a finalidade de atividades esportivas, de colecionador e também para abastecer os quartéis. Na avaliação dos procuradores, ao revogá-las, o governo facilita o acesso do crime organizado a armas e munições desviadas. "A cidade do Rio de Janeiro é a face mais visível dessa ausência de efetivo controle no ingresso de armamento no País", observou a procuradora Raquel Branquinho em ofício obtido pelo Estado.

O projeto de Pereira foi protocolado na semana passada, mas foi atualizado após a reportagem revelar que o Ministério Público Federal apura se houve interferência de Bolsonaro na revogação. A proposta pede que sejam sustados os efeitos da Portaria nº 62, do Colog, que revogou as portarias 46, de 18 de março de 2020, 60, de 15 de abril e 61, de 15 de abril de 2020.

Caso seja aprovado, o projeto de Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação. O deputado argumenta, na proposta, que o presidente Jair Bolsonaro afirmou nas redes sociais que as portarias não se adequam às diretrizes definidas por ele em decretos sobre o tema. E não deu mais justificativas.

"A revogação nos causou grande estranheza e fez com que o Ministério Público Federal abrisse investigação para apurar a interferência do Presidente da República em atos de exclusividade do Exército. Procuradores apontam suspeita que o presidente possa ter agido para beneficiar uma parcela de eleitores e que não há espaço na Constituição Federal para ideias e atitudes voluntaristas do presidente, ainda que pautadas por bons propósitos", diz o deputado.

A primeira portaria criava o Sistema Nacional de Rastreamento de Produtos Controlados pelo Exército (SisNaR), que teria como finalidade rastrear os chamados Produtos Controlados pelo Exército (PCE), que incluem armas de fogo e explosivos.

As outras duas ampliavam pontos da primeira, trazendo regras sobre munição, definindo, por exemplo, que toda munição de órgão público, nacional ou importada, deveria conter código de rastreabilidade gravado na base dos estojos, estabelecendo ainda que estojos adquiridos com finalidade de recarga de munição também deveriam possuir o código de rastreabilidade entre outras disposições.

"Diante a aparente gravidade do ato do Presidente da República em ordenar de forma arbitrária e sem justificativa plausível a revogação de normas, numa clara interferência no Exercito Brasileiro, apresento o presente Projeto de Decreto Legislativo para que essa Casa, possa discutir e analisar o ato do Presidente da República e, se assim entender, sustá-lo."

Defesa

Após o jornal O Estado de S. Paulo revelar que o Ministério Público Federal apura possível interferência "inconstitucional" de Bolsonaro no Exército, o Ministério da Defesa procurou a reportagem, nesta terça-feira, 28, para dizer que as portarias revogadas, depois de determinação do presidente, estão passando por aperfeiçoamento em sua redação.

O ministério admitiu, ainda, ter tomado conhecimento das investigações em curso no MPF. E informou que prestou esclarecimentos, nesta terça-feira, sobre a revogação das portarias, um dia após a reportagem ter noticiado o caso com exclusividade.

"O Ministério da Defesa, por intermédio do Exército Brasileiro, informa que o Comando Logístico do Exército (COLOG) revogou as Portarias nº 46, 60 e 61, que entrariam em vigor em 4 de maio de 2020, a fim de aperfeiçoar sua redação, de modo a dirimir questionamentos recebidos por intermédio da sociedade em geral e da Administração Pública", diz trecho da nota.

A reportagem questionou ao ministério quais são os nomes das entidades que pediram aperfeiçoamento da redação das leis. Perguntou ainda qual setor da Administração Pública sugeriu alterações, e aguarda uma resposta.

Responsável pelas portarias sobre armas e munições revogadas pelo presidente Jair Bolsonaro, o general de Brigada do Exército Eugênio Pacelli Vieira Mota afirmou, em carta, que as normas visavam à segurança nacional e não atenderam "interesses pontuais" do setor armamentista.

O general deixou o cargo de diretor de fiscalização de produtos controlados uma semana depois de os atos terem sido publicados pelo Exército. Durante o período em que esteve na vaga, ele chefiou o grupo que elaborou os textos.

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O jornal O Estado de S. Paulo revelou ontem que o Ministério Público Federal abriu duas investigações para apurar indícios de interferência do presidente em atos exclusivos do Exército por ter revogado as três portarias sem qualquer justificativa plausível. Segundo a procuradora regional da República Raquel Branquinho, o presidente pode ter agido para beneficiar uma parcela do seu eleitorado, que defende a indústria das armas.

A carta do general foi entregue aos seus subordinados e superiores na sua despedida. O documento foi visto como uma demonstração de que as normas feriam os interesses dos eleitores do presidente. "... Desculpe-me se por vezes não os atendi em interesses pontuais... Não podia e não podemos: nosso maior compromisso será sempre com a tranquilidade da segurança social e capacidade de mobilização da indústria nacional", escreveu o general em referência a empresários do setor.

Na avaliação dos procuradores, as normas revogadas dificultavam o acesso do crime organizado a munições e armas desviadas de quartéis. O cancelamento das portarias e a saída do general do cargo ocorreram sob pressão de lobistas de empresas de armas e munições.

Na carta, Pacelli ressaltou "conquistas" relacionadas à modernização no controle de armamentos durante sua gestão e citou as portarias. "Foram quatro importantes decretos presidenciais a serem normatizados", afirmou o general. Pacelli não faz qualquer agradecimento ao seu ex-chefe, o general Laerte de Souza Santos, que assinou a revogação das portarias, por determinação de Bolsonaro. Laerte é chefe do Comando Logístico do Exército, ao qual o setor de Pacelli estava subordinado.

Exoneração

À reportagem, o Centro de Comunicação Social do Exército ressaltou que a exoneração do oficial não ocorreu por pressão política ou interferência da Presidência. A assessoria destacou que a mudança no cargo é uma "atividade de rotina", feita regularmente para promoção de generais.

Pacelli entregou o cargo numa "cerimônia de passagem de posse" a 16 de abril. No dia seguinte, Bolsonaro foi ao Twitter para informar que tinha determinado o cancelamento das portarias elaboradas pelo grupo do general. A ordem do presidente de revogar as normas foi aceita pelo Comando Logístico do Exército (Colog) no dia 18.

Havia dois meses que Pacelli sofria pressão nas redes sociais de grupos armamentistas por conta da publicação das portarias. Clubes de colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), além de páginas no Facebook que vendem armas, vinham ironizando a atuação do general por causa das portarias. Esses grupos, segundo procuradores ouvidos pela reportagem, cobram para que o presidente interfira em funções que, por lei, são atribuídas ao Exército.

A investigação sobre interferência de Bolsonaro no Exército aumentou o desgaste do chefe do Planalto no Congresso e a pressão pela abertura de um processo de impeachment. Deputados do PSB avaliam incluir a acusação por ingerência no Exército no pedido que haviam por ingerência na PF.

Investigação amplia pressão no Congresso

A investigação sobre interferência no Exército, revelada ontem pelo jornal O Estado de S. Paulo, aumentou o desgaste do presidente Jair Bolsonaro no Congresso e a pressão pela abertura de um processo de impeachment. Bolsonaro entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF) por indícios de violar a Constituição ao interferir em atos exclusivos do Exército e dar o comando para que três portarias da instituição militar - que tratavam sobre monitoramento de armas e munições - fossem derrubadas.

Na Câmara, deputados do PSB, que apresentaram um pedido de impeachment com base nas acusações de interferência na Polícia Federal, avaliam incluir a acusação por ingerência no Exército no processo. Além disso, parlamentares do partido apresentaram há uma semana um projeto de decreto legislativo para resgatar a validade das portarias anuladas.

"É muito grave ter editado uma portaria no meio da pandemia para não se ter controle sobre armas e munições", afirmou o deputado Aliel Machado (PSB-PR), que assina o projeto de decreto legislativo com Alessandro Molon (PSB-RJ).

A ala do Congresso favorável à ampliação do porte e posse de armas, por outro lado, tentou justificar afirmando que o presidente tem poder para chamar para si esse tipo de decisão administrativa. Na avaliação do líder do PSL no Senado, Major Olimpio (SP), a iniciativa de Bolsonaro é mais uma tentativa de permitir a abertura do mercado de armas de fogo no País, hoje controlado por uma empresa. "Esse caso é diferente de interferência em um inquérito da Polícia Federal. Bolsonaro tenta mexer no regramento de produtos controlados e a força do lobby é terrível, mas ele vem tentando promover uma abertura", afirmou.

Sob suspeita de ingerência na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro entrou agora na mira do Ministério Público Federal (MPF) por indícios de violar a Constituição ao interferir em atos de exclusividade do Exército, destaca o jornal O Estado de S. Paulo. Procuradores abriram dois procedimentos de investigação para apurar uma ordem dada por Bolsonaro ao Comando Logístico do Exército (Colog), no último dia 17, que revoga três portarias publicadas entre março e abril sobre monitoramento de armas e munições.

A procuradora regional da República Raquel Branquinho aponta a possibilidade de Bolsonaro ter agido para beneficiar uma parcela de eleitores e que não há espaço na Constituição "para ideias e atitudes voluntaristas" do presidente, ainda que pautadas por "bons propósitos". O desdobramento do caso pode levar a uma ação de improbidade na Justiça Federal ou à abertura de um inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF).

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As portarias 46, 60 e 61, revogadas pelo comandante do Colog, general Laerte de Souza Santos, por exigência de Bolsonaro, foram elaboradas em conjunto por militares, policiais federais e técnicos do Ministério da Justiça. "Determinei a revogação das portarias (...) por não se adequarem às minhas diretrizes definidas em decretos", escreveu Bolsonaro no Twitter em 17 de abril.

Essas portarias estabeleciam o controle, rastreabilidade e identificação de armas e munições importadas e fabricadas pela indústria nacional, sob a finalidade de atividades esportivas, de colecionador e também para abastecer os quartéis. Na avaliação dos procuradores, ao revogá-las, o governo facilita o acesso do crime organizado a armas e munições desviadas. "A cidade do Rio de Janeiro é a face mais visível dessa ausência de efetivo controle no ingresso de armamento no País", observou Raquel Branquinho em ofício obtido pelo Estado.

Ex-braço direito da então procuradora-geral da República Raquel Dodge na área criminal e uma das integrantes do grupo escolhido pelo atual chefe do MPF, Augusto Aras, para atuar na Lava Jato, Raquel Branquinho é considerada uma procuradora linha dura, conhecida por seu trabalho em processos importantes, como o mensalão.

As normas estabeleciam diretrizes para identificação de armas de fogo, bem como para a marcação de embalagens e cartuchos de munições. Umas das regras revogadas, por exemplo, determinava que armas apreendidas pela Justiça cuja identificação tenha sido suprimida ou adulterada poderiam ganhar uma nova numeração.

O pedido de investigação foi enviado por Raquel Branquinho no dia 20 deste mês ao chefe da Procuradoria da República no Distrito Federal, Claudio Drewes José de Siqueira. No ofício, a procuradora argumenta que Bolsonaro fere princípios constitucionais.

"Ao assim agir, ou seja, ao impedir a edição de normas compatíveis ao ordenamento constitucional e que são necessárias para o exercício da atividade desempenhada pelo Comando do Exército, o Sr. Presidente da República viola a Constituição Federal, na medida em que impede a proteção eficiente de um bem relevante e imprescindível aos cidadãos brasileiros, que é a segurança pública, e possibilita mecanismos de fuga às regras de controle da utilização de armas e munições", escreveu Raquel Branquinho.

Agora, o MPF vai avaliar os motivos da conduta de Bolsonaro de determinar a derrubada das portarias do Exército. Numa avaliação inicial, Raquel Branquinho entendeu que a finalidade da revogação das portarias pode ter sido a de "atender uma parcela de eleitores."

Procuradores ouvidos pelo jornal sob a condição de anonimato observaram que o texto de cancelamento das portarias, publicado no Diário Oficial da União, no dia 17, não apresentou motivação. "Caso o Exército não apresente justificativas plausíveis, que não seja uma postagem do presidente no Twitter, tudo fica ainda mais grave", disse um procurador.

'Voluntarismo'

A tentativa de ingerência de Bolsonaro num órgão de Estado foi o argumento usado pelo ex-ministro Sérgio Moro para pedir demissão na sexta-feira passada. O ex-juiz da Lava Jato acusou o presidente de tentar interferir politicamente ao trocar o delegado-geral da Polícia Federal e de cobrar acesso a relatórios sigilosos de inteligência.

Ao analisar o caso envolvendo o Exército, Raquel Branquinho diz "não restar dúvidas" da competência da Força na fiscalização de armas e munições. A procuradora ressalta, ainda, que a atitude de Bolsonaro nesse caso de derrubada das portarias "representa uma situação extremamente grave" e que tem o potencial de agravar a crise de segurança pública vivenciada no País. Outro risco, argumenta, é que organizações criminosas podem ser "fortalecidas na sua estrutura operacional, abastecidas por armas e munições, cujas origens são desconhecidas pelo Estado".

Outra frente

Além do procedimento aberto a pedido de Raquel Branquinho, uma outra frente para apurar interferência de Bolsonaro no Exército foi iniciada em conjunto pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e pela Câmara de Controle Externo da Atividade Policial e Sistema Prisional (7.ª CCR). Os dois órgãos são vinculados diretamente à chefia da Procuradoria-Geral da República (PGR), mas podem abrir processos sem passar pelo comando do órgão.

Neste procedimento, os procuradores Deborah Duprat e Marlon Alberto Weichert, dos Direitos do Cidadão, e Domingos Sávio Dresch da Silveira, da 7.ª CCR, pediram, no dia 20 último, explicações ao Comando Logístico do Exército para prosseguirem no trabalho. Eles querem saber se o órgão vai admitir a suposta ingerência do presidente. No ofício ao general Laerte de Souza Santos, comandante Logístico do Exército, os procuradores solicitam ainda o envio da cópia integral do procedimento de origem da portaria que revogou os atos.

Os procuradores ressaltam que as portarias revogadas concretizavam os princípios estabelecidos pelo Estatuto do Desarmamento e seus regulamentos e "preenchiam relevante lacuna" na regulamentação do rastreamento de produtos controlados pelo Exército. "Essas providências, imprescindíveis para a fiscalização do uso de armas de fogo e para a investigação de ilícitos com o emprego de armas de fogo, eram reclamadas por especialistas em segurança pública e também pela Procuradoria Federal", diz trecho do ofício.

O Irã acusou o governo dos Estados Unidos de interferência em seus assuntos internos depois do apoio de Washington às manifestações do "povo iraniano", em uma referência aos protestos contra o aumento do preço da gasolina registrados nos últimos dias.

"Como afirmei ao povo iraniano há quase um ano e meio: EUA está com vocês", escreveu no sábado no Twitter o secretário de Estado americano, Mike Pompeo.

"A declaração expressa o apoio do secretário de Estado americano a um grupo de amotinados", afirma o ministério das Relações Exteriores em um comunicado publicado nesta segunda-feira.

O ministério "condena os comentários intervencionistas", completa a nota.

"O nobre povo iraniano sabe que os comentários hipócritas deste tipo não representam nenhuma marca honesta de simpatia", acrescenta.

Duas pessoas (um civil e um policial) morreram nas manifestações contra o aumento do preço da gasolina, que começaram na sexta-feira.

Com o cargo ameaçado, o delegado da Receita no Porto de Itaguaí (RJ), José Alex Nóbrega de Oliveira, enviou uma mensagem a colegas do órgão relando interferência política de "forças externas que não coadunam com os objetivos de fiscalização" da Receita Federal. A autenticidade e autoria da carta, enviada em um grupo de Whatsapp de delegados da Receita, foram confirmadas pelo jornal O Estado de S. Paulo.

Os auditores fiscais que ocupam as mais altas posições de chefia da Receita Federal ameaçam entregar os cargos caso sejam efetivadas indicações políticas na superintendência do Rio de Janeiro e em outros postos chaves do órgão. O órgão se encontra em crise, pressionado pelo Executivo, Legislativo e Judiciário para mudanças em sua estrutura e na forma de atuação.

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A situação se agravou com os relatos nos bastidores do órgão de que o secretário especial da Receita, Marcos Cintra, pediu ao superintendente da Receita no Rio de Janeiro, Mário Dehon, a troca de delegados chefes de duas unidades no Estado - a Delegacia da Alfândega da Receita Federal no Porto de Itaguaí e da Delegacia da Receita Federal no Rio de Janeiro II, na Barra da Tijuca. O pedido teria partido de familiares do presidente Jair Bolsonaro. No entanto, Dehon, que está com o cargo ameaçado, se recusou a fazer a troca. Procurado por meio da assessoria de imprensa, Cintra não se manifestou sobre a informação de que sugeriu troca de delegados na Receita.

Na carta, José Alex Nóbrega de Oliveira escreveu que Dehon o informou, há três semanas, sobre uma "indicação política" para assumir a Alfândega de Itaguaí, com a qual o superintendente não concordou.

O substituto, escreveu o delegado na mensagem, seria um auditor lotado em Manaus sem experiência em aduana ou chefias. "Venho relatar o que está ocorrendo, pois existem forças externas que não coadunam com os objetivos de fiscalização da RFB, pautados pelo interesse público e defesa dos interesses nacionais", diz a mensagem assinada por Oliveira, que ainda reitera seu compromisso institucional com a Receita e afirma estar aguardando "o desenrolar dos fatos".

A Delegacia da Alfândega da Receita Federal no Porto de Itaguaí é estratégica no combate a ilícitos praticados por milícias e pelo narcotráfico em operações no porto, que incluem contrabando, pirataria e subvaloração de produtos.

No contato com delegados do grupo, Oliveira relata dificuldades de localização do porto e escassez de funcionários para processar mercadorias de 856 contêineres bloqueados "por todo o tipo de irregularidade" na região, que movimenta produtos vindos da China e exportações para a Europa.

Na última quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro foi questionado sobre a intenção de substituição na Receita Federal no Rio. Ele declarou que poderia trocar postos em que pessoas se julgavam "donos do pedaço". "Não é fácil você fazer aquilo trabalhar para o bem comum. Então tem algumas instituições que estão com problema. Se por ventura, se por ventura, tiver um foco desse na Receita, vai ser mexido", afirmou.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender a economia norte-americana no Twitter. "Os pedidos de auxílio-desemprego nos Estados Unidos atingiram seu nível mais baixo (MELHOR) em mais de 50 anos!", disse Trump. Em outra mensagem, ele voltou a criticar a investigação sobre a interferência russa na eleição dos EUA e os Democratas. "Você pode acreditar que eu tive que passar pela pior e mais corrupta Caça às Bruxas na história dos Estados Unidos (sem conluio) quando foi o 'outro lado' que criou ilegalmente o evento diversionista e criminoso e até mesmo espionou minha campanha? Vergonhoso!"

Mais cedo, ele já havia criticado os Democratas pelo pedido da íntegra do relatório do procurador Robert Mueller sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016 e pela mobilização para um processo de impeachment. Trump também já havia desejado Feliz Páscoa e falado sobre os ataques no Sri Lanka, dizendo que os EUA "estão prontos para ajudar".

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Neste domingo, o presidente dos EUA participou de culto de Páscoa em uma igreja episcopal com a primeira-dama Melania Trump e a filha Tiffany. "Feliz Páscoa a todos, tenham um ótimo dia", disse Trump ao chegar à igreja. "Muitas coisas boas estão acontecendo para o nosso país." (Leticia Pakulski - leticia.pakulski@estadao.com; com informações da Associated Press).

O Kremlin voltou a rejeitar, nesta segunda-feira (25), qualquer ingerência na eleição presidencial dos Estados Unidos em 2016, em reação ao relatório do procurador especial Robert Mueller.

O documento destacou a ausência de elementos comprobatórios de conluio entre a equipe de campanha de Donald Trump e a Rússia. "Não vimos o relatório" de Mueller e, "portanto, não podemos comentá-lo", disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

"Mas nossa posição de princípio (...) é sabida: nosso país nunca interferiu nos assuntos internos de outros países, incluindo dos Estados Unidos", frisou.

Nem completou dois meses e o mandato do presidente Jair Bolsonaro (PSL) ainda deixa muitas dúvidas e divide opiniões. Um dos pontos mais comentados é a interferência dos seus três filhos: Carlos, Flávio e Eduardo Bolsonaro, vereador, senador e deputado federal respectivamente, no governo. Um dos assuntos mais comentados nos últimos dias foi a briga travada envolvendo o vereador e agora ex-ministro da Secretaria-Geral, Gustavo Bebianno. 

A família parece ser, até agora, uma parte indissociável do governo Bolsonaro. Assim foi durante a carreira de Jair Bolsonaro como parlamentar e está sendo assim no começo da presidência. Para o cientista político Rodolfo Costa Pinto, o que muda agora é que a competição pela atenção de Bolsonaro é maior. “Os filhos disputam espaço com as diversas alas de poder dentro do governo. Por exemplo: militares, equipe econômica, justiça”.

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De acordo com o especialista, o ideal era que o presidente de um País seja ou pelo menos tente ser o mais independente possível do ponto de vista de terceiros. “A interferência constante dos filhos nos atos da presidência é prejudicial ao Brasil na medida em que afeta a previsibilidade das ações do Executivo. Essa imprevisibilidade é negativa para o planejamento de futuros investimentos”.

“Empresas podem ficar receosas de investir em um ambiente em que, a qualquer momento, o humor do presidente pode alterar as condições dos investimentos. Dito isso, os eventos dos últimos dias mostram que a ala dos filhos no governo Bolsonaro está cada vez mais forte. Mesmo os militares saíram enfraquecidos do recente embate entre Bebbiano e Carlos Bolsonaro”, complementou. 

Costa Pinto ainda avaliou que o presidente acredita que a sua família é o único grupo de pessoas em que ele pode confiar completamente. “Então, é possível que vejamos a ala familiar ganhando ainda mais influência daqui pra frente”.

O cientista político Vitor Diniz também expõe que os filhos do presidente “claramente” influenciam o seu comportamento no comando do Brasil, o que acaba gerando conflitos com outros membros do Executivo e também com parlamentares. "O cargo de Presidente carrega toda uma liturgia que precisa ser respeitada. Bolsonaro tem todo o direito de ouvir os conselhos dos seus filhos, mas isso não pode atrapalhar o trabalho de seus auxiliares oficiais, em especial os ministros, que podem ser enfraquecidos por uma atuação mais incisiva dos filhos do presidente.   

No entanto, Diniz avalia que, por enquanto, a área econômica do governo está blindada dessas interferências. 

Uma promotora do Ministério Público do Rio afirmou em depoimento que o ex-procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes, preso na quinta-feira, 8, 'fazia diversas intervenções' junto à equipe da Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal (Coesf). O relato da promotora consta do pedido de prisão de Cláudio Lopes, levado à Justiça pelo procurador-geral de Justiça em exercício, Ricardo Ribeiro Martins.

Os autos contêm depoimentos de membros do Ministério Público que denunciam 'as constantes interferências' do ex-procurador-geral de Justiça em investigações ligadas ao grupo do ex-governador do Rio Sérgio Cabral (MDB).

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"Em diversas ocasiões, a partir de 2009, a depoente pôde perceber que o então procurador-geral de Justiça Cláudio Lopes fazia diversas intervenções junto à equipe da Coesf sempre procurando saber informações acerca do andamento das investigações que envolviam secretarias estaduais, muitas vezes solicitando que o andamento das investigações aguardasse eventos políticos importantes acontecerem, tais como, votação de orçamento, eleição para governador etc., notadamente nas investigações da Saúde e naquelas referentes à refinaria de Manguinhos", relatou a promotora de Justiça.

Como procurador-geral, Lopes chefiou a instituição no Estado do Rio entre 2009 e 2012. Cláudio Lopes é procurador de Justiça e, até ser preso, estava em exercício perante a Sexta Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio e integrava o Conselho Superior do Ministério Público, colegiado que detém poderes para analisar arquivamentos de inquéritos da área civil.

Em outubro passado foi denunciado pelo próprio órgão por associação criminosa, corrupção e quebra de sigilo funcional. No mesmo processo, que tramita em segredo de Justiça, também foram denunciados o ex-governador Cabral, o ex-secretário estadual de governo Wilson Carlos e Sérgio de Castro Oliveira, suposto operador financeiro de Cabral.

Segundo a promotora, as ações 'só puderam ser propostas quando a chefia do Parquet estava ocupada interinamente pelo procurador Calos Antonio Navega, que substituiu o procurador Cláudio Lopes quando de seu afastamento para concorrer à recondução'.

A promotora contou que a Coordenadoria 'não conseguiu oferecer as denúncias antes porque o procurador Cláudio Lopes pouco antes de se afastar requisitou as investigações para analisar possível envolvimento de pessoa com foro especial'.

Um promotor destacou 'o constrangimento causado pelas constantes interferências' de Cláudio Lopes nas investigações ligadas ao esquema atribuído a Sérgio Cabral.

O emedebista está preso desde novembro de 2016 e já foi condenado a mais de 180 anos de prisão na Operação Lava Jato.

O promotor contou que havia determinado a abertura de procedimentos 'envolvendo fraudes na manutenção de viaturas do Estado' e fraudes em licitação. O investigador relatou que 'foi chamado ao gabinete do então procurador-geral Claudio Lopes, que queria saber do andamento das mesmas e afirmou que não seria conveniente o oferecimento de eventual denúncia antes da eleição para o Governo do Estado, que se realizaria em outubro daquele ano (2010)'.

"O depoente afirmou ao procurador-geral que apenas não ofereceria a denúncia porque até as eleições, provavelmente, não conseguiria concluir as investigações, porque ainda havia várias oitivas e diligências a realizar; que, nesta ocasião, o procurador-geral mandou mensagem via celular para alguém, afirmando ao depoente que estava avisando "a ele", entendendo o depoente se tratar do governador", narrou o promotor.

Um terceiro promotor destacou, em depoimento, 'o peculiar interesse' de Lopes em um procedimento investigatório que envolvia Wilson Carlos. O promotor contou que foi ao gabinete do então procurador-geral de Justiça após ter verificado indícios envolvendo Wilson Carlos.

"Foi ao gabinete do procurador-geral Cláudio Lopes para relatar o fato, ocasião em que este determinou ao depoente que deixasse o inquérito ali em seu gabinete naquele momento e que era desnecessário formalizar a entrega através de ofício e de guia de remessa, pedindo ao depoente que fizesse ali na hora um despacho declinando de sua atribuição; que o depoente achou estranha a atitude do procurador-geral, decidindo que dali por diante qualquer forma de remessa deveria ser precedida de ofício e se necessário com extração de cópias para não paralisar a investigação", contou.

A reportagem está tentando localizar a defesa de Cláudio Lopes. O espaço está aberto para manifestação.

As tentativas de manipulação política por entidades ligadas a Moscou nas redes sociais durante a campanha presidencial nos Estados Unidos foram maiores do que o estimado inicialmente, afirmaram diversas fontes.

Facebook, Google e Twitter estão na mira do Congresso americano, que investiga uma possível interferência russa na campanha que resultou na vitória do presidente Donald Trump. Muitos consideram que as redes sociais foram usadas como plataforma para propaganda russa.

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Representantes das três empresas devem comparecer a comissões parlamentares, nos próximos dois dias, para relatar o que descobriram sobre possíveis conexões entre entidades russas e mensagens nas redes sociais, incluindo vídeos no YouTube.

O Facebook indicou no início de outubro que quase 10 milhões de pessoas podem ter assistido os anúncios divulgados por uma entidade russa - "Internet Research Agency" - que pareciam destinados a provocar a divisão e desconfiança.

De acordo com a inteligência americana, Moscou pagou a grupos de "trolls" como o "Internet Research Agency" para difundir mensagens prejudiciais à candidata democrata Hillary Clinton e favoráveis ao republicano Trump.

Além dos anúncios, a entidade, baseada em São Petersburgo, também teria divulgado conteúdo tradicional não pago, o que aumentaria consideravelmente o número de internautas atingidos, de acordo com um relato preparado pelo Facebook para as audiências parlamentares.

Segundo o documento, o número de internautas americanos que podem ter lido mensagens ou outro conteúdo de fontes russas chegaria a 126 milhões, uma parte considerável do eleitorado.

O Facebook não respondeu os pedidos de consulta da AFP.

O Google admitiu na segunda-feira pela primeira vez ter encontrado conteúdos similares, de acordo com um blog oficial. A empresa detectou que duas contas vinculadas à "Internet Research Agency" gastaram 4.700 dólares em alerta durante a eleição presidencial.

"Encontramos evidência de esforços para abusar de nossas plataformas durante a eleição americana de 2016 por atores ligados à Internet Research Agency na Rússia", escreveu a gigante da internet, que se refere a "atividade limitada" em sua ferramenta de buscas e ao site de vídeos YouTube.

No YouTube, o Google identificou 18 canais "possivelmente associados" com a campanha que publicaram 1.108 vídeos em inglês que pareciam ter um conteúdo político. Os vídeos acumularam 309.000 views nos 18 meses anteriores às eleições.

Uma fonte que conhece o relato do Twitter ao Congresso afirmou que a plataforma identificou 36.746 contas (0,12% do total de contas do Twitter) que "automaticamente geraram conteúdo relacionado com as eleições" nos três meses anteriores e que pareciam estar ligadas a uma conta russa.

As contas geraram aproximadamente 1,4 milhão de tuítes automatizados sobre as eleições, que receberam quase 288 milhões de respostas de algum tipo dos eleitores.

Moscou nega qualquer tentativa de manipular as eleições americanas.

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