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Um estudo realizado pela Academia Chinesa das Ciências descobriu dois medicamentos específicos para serem usados contra o novo coronavírus e que impedem que o Sars-CoV-2 se multiplique dentro do corpo humano.

A pesquisa, publicada na revista especializada "Science", foi coordenada por Wenhao Dai e conseguiu projetar as moléculas para bloquear a enzima protease, o "motor" que permite que o vírus consiga se multiplicar.

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Com isso, os dois medicamentos chineses juntam-se a um outro descoberto na Holanda, que atua contra a mesma enzima, e um na Alemanha, que age contra a proteína spike - o arpão com o qual o vírus agride a célula para invadi-la. Assim, as quatro moléculas tornam-se candidatas a se tornarem os primeiros remédios a serem usados contra a Covid-19, uma doença da qual se sabe ainda muito pouco.

De acordo com a publicação, o estudo foi realizado através da análise estrutural do vírus, em particular nesse caso, com a enzima protease. As moléculas chamadas de inibidores de protease 11a e 11b enfrentaram os primeiros testes com resultados encorajantes. Testadas em um cultura celular, ambas "inibiram fortemente a protease da SarsCoV-2".

Com os experimentos feitos em ratos, os inibidores da protease 11a mostraram, em particular, baixa toxicidade. Para essa molécula, os testes agora seguem para a fase pré-clínica para obter novos resultados sobre os efeitos tóxicos. Se forem considerados seguros, poderão ser testados em seres humanos em breve.

No entanto, assim como ocorre com os possíveis medicamentos descobertos por holandeses e alemães, ainda não há data para que eles possam ser disponibilizados aos humanos.

Desde 2018, para acelerar o processo de localização de remédios que podem ser usados contra doenças novas, foi criada a coalizão Reframe, a mais vasta busca por fármacos já em uso promovida pelo Instituto Scripps, na Califórnia (EUA), e com apoio financeiro da Fundação Bill & Melinda Gates.

Por conta disso, o combate à Covid-19, por exemplo, está usando drogas já conhecidas para outras doenças para acelerar o processo.

Entre os medicamentos testados em hospitais e pesquisas contra o novo coronavírus estão o remdesivir, nascido para combater o ebola, a cloroquina e a hidroxicloroquina, usados para combater a malária, artrite reumatoide e lúpus, e alguns antirretrovirais, como o lopinavir e o ritonavir usado no combate ao HIV, o camostat usado contra doenças de fígado e pâncreas, e o tocilizumabe, utilizado para combater as inflamações causadas pela crise imunitária provocada pelo HIV. 

Da Ansa

Pacientes portares de Parkinson lamentam a falta no repasse de dois dos principais medicamentos para o tratamento da doença. Segundo a Associação de Parkinson de Pernambuco (ASPPE), a farmácia do Governo do Estado deixou de garantir a entrega e as substâncias estão em falta para mais de 180 associados.

"O Estado precisa fazer a parte dele. Diante dessa situação que está se repetindo, iremos acionar o Ministério Público de Pernambuco”, garantiu a presidente da ASPPE, Maria José. A indignação é resultado do atraso de seis meses do remédio Mantidan e, da falta de repasse de aproximadamente uma semana do Propola 200mg/50mg. De acordo com a representante, uma unidade do Prolopa custa cerca de R$ 100 e, por mês, os pacientes precisam de pelo menos três doses.

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Procurada pela reportagem do LeiaJá, a Secretária de Saúde de Pernambuco (SES) informou que os medicamentos ainda estão em processo de aquisição e não deu prazo para que a Farmácia do Estado os disponibilize. Apenas o Propola está abastecido, porém na apresentação de 100mh/25mg. Confira a resposta da SES na íntegra:

"A Farmácia de Pernambuco informa que está abastecida do medicamento ledovopa + cloridrato de benserazida (nome comercial Prolopa) na apresentação 100mg/25mg. Em relação à apresentação 200mg/50mg do fármaco, tramitam, atualmente, processos de aquisição do medicamento. Sobre o cloridrato de amantadina 100mg (nome comercial Mantidan), os últimos processos de compra para o medicamento deram fracassado, ou seja, as empresas não atenderam as especificações do certame. Com isso, a SES precisou iniciar outro processo de aquisição, que está em fase final de andamento."

A Câmara aprovou a autorização para o governo importar e distribuir medicamentos e insumos da área de saúde ainda sem o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) durante a pandemia da covid-19. O projeto precisa ainda passar pelo Senado.

O texto aprovado, do relator Hiran Gonçalves (PP-RR), dá prazo de 72 horas, a partir da solicitação feita à agência, para a liberação dos produtos para serem distribuídos ou importados. Atualmente, esse tempo legal previsto para o registro de medicamento varia de 120 a 365 dias, dependendo da categoria da medicação. A medida será incluída na lei que trata das ações para conter o vírus (Lei 13.979/20), que já permite a autorização temporária de novos produtos médicos, mas sem estabelecer prazo e a partir de ato do Ministério da Saúde, pontos modificados pela proposta aprovada.

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"Nós sabemos que a Anvisa é o órgão regulador no Brasil e ela tem feito o trabalho com muita decência. Mas é preciso também comentar que às vezes a burocracia brasileira entra no circuito e vai impedir que possamos ser mais ágeis no sentido de ajudar as pessoas para que elas continuem vivendo e não percam sua vida", afirmou o deputado Eli Borges (Podemos-TO).

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda não usar ibuprofeno, e os remédios que contêm essa substância, para tratamento contra o novo coronavírus, mas indica paracetamol como automedicação.

A informação foi passada pelo porta-voz da organização, Christian Lindmeier, nesta terça-feira (17) durante reunião.

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"Não foram publicadas novas evidências de que o ibuprofeno aumente o risco de mortalidade [com COVID-19]. Não há estudos suficientes, e os especialistas ainda estão estudando os dados. Por enquanto, recomendamos escolher o paracetamol e não usar o ibuprofeno para automedicação", disse Lindmeier.

O porta-voz da OMS informa que se o ibuprofeno for prescrito por um médico e necessário por razões médicas, então ele pode ser tomado.

No dia 11 de março, a OMS declarou o surto do novo coronavírus uma pandemia. Mais de 160.000 pessoas estão infectadas em 150 países, sendo que a maioria já se recuperou, e mais de 6.000 mortes foram registradas.

Da Sputnik Brasil

Cinco cientistas de áreas como Farmácia, Biologia Molecular e Agronomia deram subsídios técnicos aos integrantes da comissão especial que examina o projeto de lei sobre a permissão do uso da cannabis para fins medicinais. Em audiência pública nesta terça-feira (10) na Câmara dos Deputados, eles explicitaram tanto os benefícios da planta para dar mais qualidade de vida a pacientes de várias doenças quanto a viabilidade do plantio da cannabis em solo brasileiro.

Os pesquisadores resumiram as vantagens do Brasil: uma imensa área cultivável e boas condições de luminosidade, temperatura e umidade. Ao contrário dos países mais frios, aqui não é preciso fazer o plantio em estufas, como salientou o biólogo Fabian Borghetti, um dos participantes do debate.

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“No nosso país, o cultivo outdoor permite uma expressão mais rica de características, que gera produtos mais diversificados. Seria o equivalente, à expressão que se usa para os vinhos, na indústria vinícola, o terroir. Quem aprecia vinhos sabe que o local de produção – a uva é a mesma, mas a variedade é diferente e o ambiente é superdeterminante para as características organolépticas (cor, brilho e textura, por exemplo) daquela bebida”, disse.

O farmacêutico bioquímico Euclides Cardozo lembrou que já existe legislação para punir desvios de finalidade no plantio, uma das preocupações na discussão do uso da cannabis como matéria-prima para remédios. Mas o país não tem regras para o cultivo de plantas controladas, aquelas que podem ter efeitos psicoativos.

“Como sociedade, a gente não priorizou, até hoje, o potencial terapêutico das plantas. Quando a gente fala de planta medicinal, no meio profissional, muitas vezes é carregado de preconceitos. Os profissionais, por desconhecimento, na maioria das vezes, não conseguem observar a capacidade que o nosso país tem de desenvolver produtos a partir de espécies vegetais”, observou.

Marco regulatório

Para o deputado Luciano Ducci (PSB-PR), relator do projeto de regulamentação do uso medicinal da cannabis, as informações dos pesquisadores podem colaborar para que seu parecer seja um marco regulatório do tema. O parlamentar vê benefícios para o país.

“O Brasil pode ser um protagonista mundial na questão tanto do plantio como da produção de medicamentos, pesquisa de outros insumos, outros derivados da cannabis, fazendo com que o Brasil assuma um papel muito importante, a nível mundial. Nós temos uma Embrapa muito forte, uma agricultura forte, a parte de pesquisa muito forte”, disse.

Representantes da sociedade civil interessados na regulamentação do uso de remédios à base de cannabis acompanharam a audiência pública. Como Rafael Ladeira, da Aliança Verde, organização de Brasília que reúne pacientes, médicos e pesquisadores. Ele destacou as vantagens deste marco regulatório.

“A primeira é a possibilidade de pesquisa científico, de plantios com quimiotipos específicos, que possibilitem um tratamento mais adequado para cada um. Outro fator é o custo, que é um dos fatores, mas não é talvez nem o principal. O principal é a gente sair dessa amarra da ilegalidade, porque hoje uma mãe ou um pai ou uma associação que cultiva de forma não autorizada é considerada um criminoso”, afirmou.

Quarentena

De acordo com o relato dos cientistas, se for permitido o plantio, Amazônia e Pantanal são duas regiões onde a aptidão da cannabis é baixa. Roberto Vieira, da Embrapa, ressaltou também a importância de se estabelecer uma quarentena no caso de o país tomar a decisão de importar plantas e sementes, providência necessária para evitar pragas e doenças.

O presidente da Comissão, deputado Paulo Teixeira (PT-SP) e o relator, deputado Luciano Ducci, planejam fazer mais duas audiências públicas, nos dias 24 e 31 de março. A expectativa é que o parecer final comece a ser discutido na segunda quinzena de abril.

Da Agência Câmara de Notícias

As medidas para conter o coronavírus na União Europeia (UE) não provocaram, até o momento, escassez de medicamentos - informou a agência europeia do setor nesta terça-feira (10).

A Agência Europeia de Medicamentos (EMA) descartou que haja problemas nas cadeias de abastecimento e prometeu ações coordenadas da UE, em caso de "confinamento temporário de fábricas manufatureiras em lugares afetados pela Covid-19, ou em caso de restrições que afetem o transporte".

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"Podemos esperar problemas de abastecimento, se continuarem os confinamentos e/ou se houver outras alterações do fornecimento", indicou a EMA.

A maioria dos medicamentos usados na Europa é elaborada com moléculas produzidas na Ásia, em particular na China. A epidemia de coronavírus surgiu no gigante asiático em dezembro passado.

As autoridades chinesas impuseram quarentena a dezenas de milhões de pessoas e obrigaram o fechamento de fábricas, o que afeta as exportações de todo o tipo de produto.

A Polícia Civil indiciou um ex-presidente do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado de Goiás (Ipasgo) e uma médica pela morte de um idoso que estava em tratamento contra o câncer no Instituto Goiano de Oncologia e Hematologia (Ingoh). Segundo o inquérito, houve prescrição e liberação fraudulenta de uma medicação ineficiente ao paciente, o que contribuiu para antecipação da morte.

Alexandre Francisco de Abreu tinha 78 anos e usou um medicamento prescrito pelo hospital que não tinha indicação para o tipo de câncer que ele tratava. A morte do idoso é investigada dentro da Operação Metástase, que apura suposto desvio de R$ 50 milhões do Ipasgo por fraudes em auditorias e tratamentos inadequados.

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A investigação da Polícia Civil aponta que o Ingoh e o Ipasgo fraudaram auditorias médicas que desviaram cerca de R$ 50 milhões do plano de saúde. O faturamento do Ingoh, segundo a denúncia, cresceu quatro vezes entre 2013 e 2018, com salto de recebimentos anuais do Ipasgo de R$ 30 milhões para R$ 120 milhões.

A investigação durou seis meses e identificou três formas que os investigados usavam para fraudar as auditorias médicas. A primeira acontecia automaticamente com a ajuda de um robô. A segunda, por meio de empresas terceirizadas. Outra forma era com a ajuda de médicos a serviço do Ipasgo e do Ingoh.

Com informações de assessoria

Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que veda a realização, fora da rede do Sistema Único de Saúde (SUS), de consultas ou exames médicos gratuitos ou a doação de medicamento, órtese ou prótese de forma a beneficiar candidato, partido ou coligação durante as eleições.

O texto altera a Lei das Eleições e será analisado pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania, depois seguirá para o Plenário.

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“A ideia é evitar a utilização imprópria de programas assistenciais por intermédio de investidas oportunistas que, muitas vezes, visam a obtenção de vantagens à custa de situações de miséria humana”, disse o autor da proposta, deputado Paulo Bengtson (PTB-PA).

O texto insere dispositivos no trecho da legislação eleitoral que trata das condutas vedadas aos agentes públicos em campanhas eleitorais. Essa norma já equipara à condição de agente público qualquer pessoa que esteja a serviço da administração pública, seja servidor concursado ou não.

*Da Agência Câmara

Série de reportagens explica a expansão do segmento farmacêutico no Brasil. (Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens).

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Considerado um dos mais fortes setores da economia brasileira, o segmento farmacêutico continua apresentando resultados que vão de encontro aos efeitos da crise econômica que castiga o País. Enquanto empresas de diferentes ramos sentem o peso da retração financeira, as grandes redes de farmácias registram aumentos em seus percentuais de faturamento.

De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), o faturamento das grandes farmácias passou de R$ 42,58 bilhões em julho de 2017 para R$ 50,94 bilhões no mesmo período deste ano. Em outro recorte que descreve a expansão do setor, o número de pontos de vendas passou de 6.533 para 7.782 unidades.

Para entender a evolução das grandes redes de farmácias brasileiras, o LeiaJá publica, nesta nesta segunda-feoira (28), a série de reportagens ‘Expansão farmacêutica: dos primórdios ao futuro’. Além de comercializar medicamentos e produtos do dia a dia, as marcas passaram a investir em serviços de saúde e já planejam ações que prometem estreitar a relação com os consumidores. Saiba mais nas matérias da nossa série:

Na reportagem ‘Após boticas, ondas farmacêuticas formam expansão do setor’, o LeiaJá mostra a origem das farmácias no Brasil. Relembramos da época dos boticários até o modelo farmacêutico inspirado nos Estados Unidos, detalhando todas as fases da expansão do segmento.

Em ‘Redes de farmácias combatem crise com aumento de vendas’, são detalhados os dados que justificam os bons resultados das grandes redes de farmácias, além de análises econômicas. Já na reportagem ‘Novo farmacêutico está transformando clientes em pacientes’, traçamos o perfil dos trabalhadores da área, que passaram a realizar serviços de saúde nas próprias lojas em prol dos clientes.

Por fim, na reportagem 'As projeções do segmento farmacêutico', especialistas e representantes de empresas revelam suas previsões para o setor, além das expectativas de faturamento.

As reportagens da série são assinadas pelos jornalistas Nathan Santos e Marília Parente, com imagens dos repórteres fotográficos Chico Peixoto e Rafael Bandeira. As artes são do designer João de Lima e a montagem a cargo de Danillo Campelo. A edição de vídeos é de Caio Lima. Confira, a seguir, os links de todas as matérias:

Após boticas, ondas farmacêuticas formam expansão do setor

Redes de farmácias combatem crise com aumento de vendas

Novo farmacêutico está transformando clientes em pacientes

As projeções do segmento farmacêutico

Farmácia localizada em Fortaleza, com dois mil metros quadrados, é considerada a maior da América Latina. (Nathan Santos/LeiaJáImagens)

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Com 2 mil metros quadrados de área construída e um conjunto de 15 mil produtos, a unidade da rede de farmácias Pague Menos, em Fortaleza, considerada a maior da América Latina, é a representação nata da expansão de um dos segmentos econômicos mais fortes do Brasil. As escadas rolantes da loja, dando ao local um ar de centro de compras, conduzem clientes impressionados com a grandeza física do empreendimento, em um exemplo claro de como as empresas de ponta do ramo farmacêutico ampliam suas lojas, quadro de funcionários e gama de produtos, obtendo resultados lucrativos e remando contra a crise econômica que afeta diferentes setores da sociedade.

Ao passear entre os corredores do estabelecimento, o professor de matemática Ricardo Rocha, de 35 anos, compara a unidade a um shopping. Cliente assíduo de farmácias, Rocha questiona, porém, como o segmento expandiu largamente sua atuação no Brasil? O professor nunca imaginou que, por trás de toda a criação da gigantesca farmácia em Fortaleza e do intenso crescimento das demais companhias nação a fora, existe uma longa história que perpassa pelos principais capítulos da abrangência do setor farmacêutico no País.

No Brasil, os primeiros relatos de atuações que antecedem o trabalho farmacêutico são oriundos do período colonial. Segundo publicação de 2011 da Revista Brasileira de Farmácia (RBF), de autoria dos farmacêuticos Mariana Linhares e Mariana Martins Gonzaga do Nascimento, os boticários, apontados como “curandeiros ambulantes”, percorriam as populações a burros “mascateando remédios e drogas para doenças humanas e animais (Gomes-Júnior, 1988)”. Existe ainda, conforme o estudo, a informação de que os jesuítas também criaram farmácias e boticas, com o objetivo de prestar assistência em seus colégios, “colocando um irmão para cuidar dos doentes e outro para preparar remédios”.

De acordo com a RBF, em São Paulo, o “irmão que preparava os remédios era José de Anchieta, por isso podemos considerá-lo o primeiro boticário de Piratininga (Gomes-Júnior, 1988)”. Conforme o professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e doutor em ciências farmacêuticas, Danilo Bedor, a história aponta que o boticário, de fato, deu origem ao farmacêutico. “O farmacêutico vem do boticário, aquele que preparava os medicamentos nas boticas, no Brasil Colônia. Existe o pensamento que vem dos jesuítas. Quando eles chegam ao Brasil e começam a tratar as doenças dentro das escolas, passam a manipular medicamentos em maior quantidade, criando estoques”, comenta o professor. No áudio a seguir, o docente explica como se dava a preparação dos remédios do período.

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Em 1640, as boticas foram autorizadas como comércio no Brasil. Nesse período, de acordo com a publicação da Revista Brasileira de Farmácia, iniciou-se o que podemos considerar um processo de expansão desses estabelecimentos, ainda de maneira rústica. “Elas se multiplicaram de norte a sul, e devido à facilidade de abertura, muitos o faziam, principalmente, devido à expectativa de bons lucros com o negócio. Consistiam em casas comerciais ou lojas onde o público se abastecia de remédios. Eram dirigidas por boticários, que nada mais eram que profissionais empíricos, às vezes analfabetos, possuindo apenas conhecimento de medicamentos corriqueiros e possuindo uma carta de aprovação do físicomor de Coimbra. Botica também era a denominação do compartimento existente nos hospitais, civis e militares, destinado ao preparo e à administração de medicamentos aos doentes internados (Gomes-Júnior, 1988; Filho & Batista, 2011)”, diz trecho da publicação da Revista Brasileira de Farmácia.

A publicação indica ainda que o ensino de farmácia no Brasil começou no ano de 1824, a princípio como uma cadeira da formação em medicina. Posteriormente, em 1839, duas escolas de farmácia foram criadas em Minas Gerais, sendo uma em Ouro Preto e outra em São João del Rey. “Porém, apesar das diversas instituições de ensino de farmácia distribuídas pelo país, no século XIX, a passagem do comércio de botica para farmácia, com um farmacêutico formado em sua direção, não foi nada fácil. Os farmacêuticos e boticários tinham pouca diferença para a maioria da população e para os legisladores, e o farmacêutico só toma seu espaço exclusivo na produção de medicamentos definitivamente depois de 1886 após diversas batalhas. Já no início do século 20, o farmacêutico tornou-se o profissional de referência para a sociedade nos aspectos do medicamento, dominando não só a prestação de um serviço que visava a ‘correta utilização do medicamento’, mas também a produção e comercialização do arsenal terapêutico disponível na época (Valladão et al., 1986)”, consta na pesquisa da RBF.

O estudo explica ainda que a farmácia se tornou um centro de irradiação cultural, aproximando não apenas as pessoas que buscavam remédio, “mas também os demais que procuravam novidades e notícias do mundo quando eram escassos os meios de comunicação dos acontecimentos político-sociais (Gomes-Júnior, 1988)”. Porém, a partir da segunda metade da década de 30, diante da expansão da indústria farmacêutica, os “preparados magistrais foram quase inteiramente substituídos pelas especialidades, ou seja, medicamentos preparados industrialmente com antecedência e apresentados sob uma embalagem particular”. Como reflexo, a atividade de “fazer” o medicamento, que tradicionalmente caracterizava o perfil do farmacêutico, despareceu quase por completo, de acordo com o texto da RBF. “O modelo de prática predominante na farmácia comunitária passou a ser a orientação e dispensação farmacêutica (Dupuy & Karsenty, 1974; Reis, 2003; Filho & Batista, 2011). Esse processo transformou as ações que aproximavam o farmacêutico do médico e de seus clientes em atos vazios de um sentido transcendente às relações comerciais”, consta na publicação da Revista Brasileira de Farmácia.

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De acordo com o conselheiro do Conselho Federal de Farmácia (CFF) Gerson Pianetti, após a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento industrial disparou e, por consequência, o setor farmacêutico não ficou para atrás. Pianetti explica que o Brasil e outros países passaram a consumir produtos e serviços oriundos dos Estados Unidos; empresas farmacêuticas seguiram essa dinâmica de “cópia de experiências exitosas dos americanos”.

No decorrer da história, no período dos anos 80, os consumidores tinham à disposição as farmácias tradicionais. Eram estabelecimentos que apenas vendiam medicamentos; lojas pequenas, com balcão e prateleiras com remédios, marcaram a fase.

Primeira onda

Já nos anos 90, diante da influência americana oriunda das grandes drugstores, o Brasil começa a implantar modelos de farmácias que fogem do tradicional, formando o contexto de primeira “onda” que explica a expansão do setor farmacêutico no País. As lojas dessa época eram estabelecimentos que possuíam, além de remédios, produtos para o dia a dia, como itens de beleza e até de alimentação. “Nos Estados Unidos, na drogaria você encontra de tudo. É quase um mini supermercado. Além disso, todo medicamento ético, de prescrição, fica em uma área restrita e reservada onde existe um profissional farmacêutico”, explica a doutora em engenharia de produção e pesquisadora do segmento de farmácias pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), Vânia Passarini Takahashi.

Segundo o coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Cassyano Correr, a diversidade de produtos marca a primeira onda da expansão das grandes redes no Brasil. “Nos anos 90, a farmácia começou a diversificar os produtos que vendia, começando um movimento que ficou popularizado como drugstore a partir da influência americana. Empresários do Brasil, em viagem para os Estados Unidos, viram o que estava acontecendo lá. As farmácias passaram a vender, além de remédios, alimentos, presentes, brinquedos, entre outros”, detalha o coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Abrafarma.

Essa mistura de produtos e o tamanho físico das lojas, que passou a ser maior, são as principais características dos estabelecimentos da primeira onda. “No modelo tradicional, o cliente ia até a farmácia para comprar um medicamento porque tinha receita, o que chamados de destino. Na medida em que você passa a ter muitas farmácias à disposição, elas ficam mais próximas das pessoas. A vantagem de você investir em um mix de produtos é que, além de atrair as pessoas que têm que comprar medicamento, você atrai as pessoas que estão em rotina. Um modelo alimenta o outro. Tem a ver com a vida moderna, congestionamento no trânsito, entre outros aspectos”, comenta o representante da Abrafarma.

Assim como Cassyano Correr, a farmacêutica mestra em gerontologia e especialista em Saúde Pública e Saúde da Família, Alamisne Gomes da Silva, aponta que o modelo de farmácias americano influenciou, de maneira considerável, o mercado brasileiro. “Inicialmente, os empresários donos de farmácias no Brasil queriam uma forma de rentabilizar mais seus negócios, e uma das estratégias foi utilizar justamente a comercialização de outros produtos não farmacêuticos. Para os empresários foi interessante porque aumentou a questão do lucro e das vendas, não só de produtos farmacêuticos. Para o consumidor, ele passou a se comportar de uma forma diferenciada, uma vez que passou a ter acesso a produtos de utilidades básicas, até mesmo próximo de suas residências. No Brasil, as grandes redes pioneiras nesse processo foram a ‘Araújo’ no Sul e aqui no Nordeste temos a Pague Menos. Produtos de perfumaria, dermocosmético, sorvete e refrigerante estavam à disposição dos clientes nas farmácias”, comenta a mestra.

Segunda onda

No decorrer do processo de expansão econômica do segmento farmacêutico no Brasil, o período a partir dos anos 2000 é considerado a segunda onda. Essa fase é marcada pelo início da venda de dermocosméticos. “Aqui você tem o movimento da beleza. Com a influência das farmácias americanas e europeias, de países como França e Itália, você passa a ter diversidade grande de produtos, muitos lançamentos no mercado da dermatologia. Foi nessa época que as farmácias começaram a colocar dermoconsultores para atender os clientes”, descreve Cassyano Correr.

Terceira onda

“Desde 2014 passamos a viver a terceira onda. É a fase da diversificação de serviços, que tem a ver em converter os espaços da farmácia em espaços de saúde. Esse movimento significa oferecer serviços de vacinação, acompanhamento de pacientes crônicos, consultas com farmacêuticos e outros profissionais. É o que a gente chama de revolução da saúde por meio das farmácias”, explana o integrante da Abrafarma.

Uma nova onda começa a ganhar forma. Ainda lenta, sem prazo claro para ser colocada em prática. É notório, no entanto, que a tecnologia será uma figura primordial do processo de reformulação na relação entre as grandes redes e os consumidores. Confira as próximas reportagens e saiba mais detalhes sobre a quarta onda da expansão farmacêutica na última matéria da nossa série, que aborda o futuro do segmento no Brasil.

Matéria integra a série do LeiaJá ‘Expansão farmacêutica: dos primórdios ao futuro’. Trabalho explica como as grandes redes de farmácias expandem seus negócios no Brasil e registram faturamentos que contrariam a crise econômica. Leia, a seguir, as demais reportagens:

Expansão farmacêutica: dos primórdios ao futuro

Redes de farmácias combatem crise com aumento de vendas

Novo farmacêutico está transformando clientes em pacientes

As projeções do segmento farmacêutico

Instalação de clínicas farmacêuticas nas lojas é forte tendência do setor. (Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)

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De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a relação ideal do quantitativo de médicos em relação ao número de habitantes de uma localidade é de um para mil. Cruzando dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Conselho Federal de Medicina, é possível constatar que regiões brasileiras como o Nordeste (1141/1) convivem com uma proporção bem acima do recomendado. É neste contexto que o varejo farmacêutico aposta na ampliação do número de consultórios farmacêuticos, que, após crescimento de 9,4% em relação ao primeiro trimestre de 2018, saltou para 2.964, segundo a Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma). A nova estrutura permitiu que mais de 7.800 farmacêuticos já tenham realizado 862.623 atendimentos entre 2018 e 2019, a maior parte deles focada em serviços como testes de colesterol e perfil lipídico. Assim, esses profissionais vêm se distanciando das atividades burocráticas de balcão para protagonizar uma evolução na saúde: à medida que passam a atuar nas clínicas, junto aos pacientes, os farmacêuticos solidificam-se como um novo ponto de partida no contato dos pacientes com o sistema de saúde.

A aposentada Fátima Gameiro já estava com a glicemia acima dos 200 mg/dl- limite para indicação de diabetes- quando foi atraída para um consultório farmacêutico em busca de uma aferição de pressão. “Sou hipertensa e passei na frente de uma farmácia, onde os atendimentos estavam sendo divulgados. A farmacêutica mediu minha glicemia e logo me perguntou se eu estava tomando meus remédios, porque minha glicemia estava alta. Eu respondi que não era diabética e ela me encaminhou para o médico”, lembra Fátima. No hospital, a suspeita da farmacêutica foi confirmada. “Fui diagnosticada como diabética. Inicialmente fiquei muito assustada, fiz todos os exames que o médico pediu e fui encaminhada para uma nutricionista. Voltei à farmacêutica com essas informações e, desde então, me consulto com ela de quinze em quinze dias. Desenvolvi uma relação de confiança com a farmacêutica, afinal foi quem descobriu minha diabetes”, completa Fátima.

Fátima Gameiro teve sua diabetes descoberta pela farmacêutica Marcela Cruz. (Chico Peixoto/LeiaJáImagens)

Desde então, a cliente tornou-se também paciente da farmácia. Periodicamente, Fátima realiza pequenos exames de rotina com a mesma farmacêutica, Marcela Cruz. “Se a gente for parar pra pensar a quantidade de vezes que o paciente vem pra farmácia, ela é muito maior do que a das idas ao hospital. Continuamos fazendo o acompanhamento e conquistamos progressos significativos, graças ao trabalho de uma equipe multidisciplinar, que envolve também médicos e nutricionistas. Fátima vem tirar suas dúvidas acerca dos medicamentos e novos questionamentos sempre vão surgindo”, afirma a profissional. Marcela lembra que pacientes recentemente diagnosticados costumam apresentar uma grande demanda por informações. “Hoje a gente tem um trabalho importantíssimo, muito mais focado na educação em saúde. É muito gratificante você receber pessoas que chegam doentes, precisando da tua ajuda e você acompanhar e estabelecer um vínculo com ela. A gente como profissional de saúde precisa acreditar que essa atenção faz toda a diferença”, conclui.

A coordenadora farmacêutica das Farmácias Pague Menos Mikalyne Egito alerta que o tratamento farmacêutico não substitui as consultas médicas. “É um trabalho que podemos fazer em associação ao médico e aos demais profissionais de saúde, mas não é substitutivo. O que a gente faz é orientar a respeito da tomada de medicamentos, os horários corretos e armazenamento, além de acompanhamentos como o de pressão arterial, glicemia e perda de peso”, explica. A coordenadora esclarece ainda que o farmacêutico não pode dar qualquer tipo de diagnóstico. “Posso encaminhar o paciente após perceber que seu exame é sugestivo de, por exemplo, diabetes. Também estamos autorizados a solicitar exames e prescrever alguns medicamentos, os Medicamentos Isentos de Prescrição Médica (MIP’s), que não são tarjados”, comenta.

Assim, o sistema da Pague Menos reúne todos os dados periódicos do paciente em fichas individuais salvas no sistema da farmácia, que pode ser acessada por seu médico, em caso de consulta. “Se a pessoa quiser, a gente imprime todo o histórico, então já temos uma relação de confiança com esse público. Hoje a população enxerga sim o farmacêutico como um profissional importante e isso vem sendo um diferencial para as lojas que oferecem esse serviço”, completa Mikalyne.

O coordenador do projeto de assistência farmacêutica avançada da Abrafarma, Cassyano Correr, ressalta a importância da Lei 13021/2014, sancionada pela presidente Dilma Rousseff, no sentido de regulamentar as farmácias como unidades de prestação de serviços de assistência à saúde e assistência farmacêutica, transcendendo a antiga função de apenas comercializar medicamentos. Em seu artigo 6º, o texto exige, para funcionamento de farmácias de qualquer natureza, “a presença de farmacêutico durante todo o horário de funcionamento”. “Isso ampliou muito o leque do que a farmácia pode fazer. Atualmente, oferecemos oito grupos de serviço, que, juntos, cobrem uma parcela muito grande da população e de problemas de saúde para os quais as pessoas podem encontrar solução. A vacinação, por exemplo, já retornou às farmácias”, coloca Cassyano.

Mikalyne Egito lembra que atendimento farmacêutico não substitui consultas médicas. (Rafael Bandeira/LeiaJáImagens)

A coordenadora farmacêutica da Farmácia Permanente Karina Henrique Santos coloca que a resposta, não apenas dos clientes, mas dos fornecedores, à presença dos farmacêuticos durante todo o horário de funcionamento, seja nos balcões ou na clínica farmacêutica é positiva e aumentou a credibilidade do serviço. “A confirmação disso é que todas as nossas novas lojas já são projetadas com sala farmacêutica, na qual o atendimento do farmacêutico está sempre pautado de forma a respeitar o diagnóstico médico. Nosso maior objetivo é garantir que o paciente não abandone o tratamento ou pare a medicação”, afirma.

O CEO da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, confessa que, informalmente, gosta de tratar a Lei 13021/2014 como a “lei do ato farmacêutico”, devido às novas potencialidades desses profissionais no sistema de saúde, de forma complementar ou suplementar. “Este é um problema mundial: cerca de 50% das pessoas abandonam seus tratamentos médicos após seis meses, quando passam os sintomas. Além disso, por ano no Brasil, 100 mil pessoas morrem de derrame e outras 300 mil morrem de problemas no coração, doenças evitáveis se você tratar diabetes e hipertensão”, afirma. Desta forma, Barreto defende que o problema é que as pessoas acabam só indo ao médico uma vez por ano. “O paciente agora pode contar com o acompanhamento do farmacêutico, uma transformação cultural dos dois lados. Do nosso, investimos em um programa de capacitação muito grande. Das 7.800 farmácias da Abrafarma, a gente tem 26 mil farmacêuticos, dos quais já capacitamos 12 mil em cursos livres”, comenta Barreto.

CEO da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, destaca que associação já conta com 26 mil farmacêuticos. (Divulgação)

A Abrafarma ainda oferece programas de pós-graduação presenciais e online. “O que fizemos foi montar toda uma estrutura, um padrão de atendimento. A gente produziu mais de 1300 páginas de material científico, toda uma qualificação, um formato para os serviços para que tenhamos uma farmácia tão boa quanto as de China, Canadá e toda a Europa, onde as clínicas já existem”, completa Barreto.

Matéria integra a série do LeiaJá ‘Expansão farmacêutica: dos primórdios ao futuro’. Trabalho explica como as grandes redes de farmácias expandem seus negócios no Brasil e registram faturamentos que contrariam a crise econômica. Leia, a seguir, as demais reportagens:

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As projeções do segmento farmacêutico

Em um mercado desafiador, em que o cliente preza por atendimento de qualidade e diversificação de produtos, o segmento farmacêutico segue sua trajetória, até em então, com projeções positivas. Com previsões para o setor, especialistas e empresários revelam suas opiniões acerca dos fatores que devem influenciar a atuação das grandes redes no futuro, além de mudanças que podem mudar a relação das grandes marcas com os clientes.

De acordo com Cassyano Correr, coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), a quarta e nova onda da expansão das grandes redes de farmácias deverá englobar o que ele chama de transformação digital. Para Correr, as empresas passarão a digitalizar toda a experiência do cliente, uma vez que o consumidor deverá conversar e acessar a farmácia pelo celular ou computador.

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Cassyano Correr, coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias. (Foto: LeiaJáImagens).

Na prática, no processo de vendas dos produtos farmacêuticos, a prioridade é que tudo seja feito pela internet. “O que vai levar o cliente para o ponto físico é a experiência”, diz o coordenador do Programa de Assistência Farmacêutica da Abrafarma. Nesta onda, os clientes poderão solicitar os produtos de maneira virtual e receber suas aquisições sem precisar sair de casa. “A quarta onda tem uma característica exponencial: quando começa a acontecer, ela é muito rápida. De cinco a dez anos deveremos ter um impacto muito grande de transformação digital em todas as esferas do setor farmacêutico”, acrescenta Correr.

Professor e pesquisador de serviços farmacêuticos pela Universidade de Brasília (UnB), Rafael Santana, em sua análise sobre o futuro do segmento , aposta na intensificação dos serviços de saúde oferecidos nas farmácias. “É uma tendência, não só no Brasil. Além de uma estratégia de diferenciação em um setor cada vez mais competitivo, trata-se de uma reorganização do setor para atender a uma demanda de resolução de pequenos problemas de saúde pouco valorizado tanto pelo serviço público quando pelos planos de saúde. Acho difícil a curto e médio prazo os médicos assumirem esse papel nas farmácias brasileiras, pela já disponibilidade de farmacêuticos que podem assumir a resolução de pequenos problemas”, diz o docente.

No aspecto econômico, o professor prevê a junção de companhias e o fortalecimento das grandes redes. “O que prevemos é a fusão de empresas e predomínio cada vez maior de grandes redes. Em um futuro próximo de oligopólios de empresas, o preço não será mais um diferencial competitivo e o investimento em serviços clínicos e outras atividades que agreguem valor ao setor será cada vez mais necessário”, projeta.

A tecnologia, segundo o professor da UnB, deverá influenciar o segmento farmacêutico. ”Esse é um setor que pode ser bem impactado pelo avanço tecnológico. A venda de medicamentos on-line, por exemplo, já é uma realidade, porém, deve estar sempre mais restrito a uma parcela de usuários de doenças crônicas com medicamentos de uso contínuo. Nas farmácias existe uma tendência de novos softwares para apoiar os serviços clínicos farmacêuticos, equipamentos para rastreamento de doenças e pequenos exames clínicos ou mesmo aplicativos e ferramentas para apoiar os pacientes no autocuidado”, explica o docente.

Para o Marcelo Rosa, conselheiro do Conselho Federal de Farmácia (CFF) e coordenador da Comissão de Farmácia Comunitária, os serviços dos consultórios farmacêuticos instalados nas próprias lojas, além de já serem uma realidade, deverão ser intensificados nos próximos anos. “É um caminho sem volta e a tendência é de crescimento, com uma participação cada vez mais efetiva, com o incentivo do Conselho Federal de Farmácia, que tem buscado todos os meios junto aos órgãos governamentais e à sociedade para que isso ocorra.  Com o advento da Lei 13.021/14, o conceito de farmácia no país mudou radicalmente. As farmácias deixaram de ser classificadas como simples comércio, passando a ser reconhecidas, de fato e de direito, como estabelecimentos de saúde. Elas também puderam passar a dispor de vacinas para o atendimento direto à população. Isso representou um marco para o cuidado a saúde da população”, crava o conselheiro.

No quesito tecnologia, Rosa enxerga diversos caminhos para a atuação das grandes redes de farmácias. “Todos os caminhos devem ter como foco o cuidado ao paciente. A tecnologia é um instrumento para que os serviços e produtos possam ser disponibilizados à população com qualidade e segurança. Eu reforço: a tecnologia deve ser um instrumento e não deve substituir os profissionais. O cuidado ao paciente requer habilidades, experiência e conhecimento. O farmacêutico é o único profissional que tem formação e habilitação para a prática do cuidado ao paciente na farmácia”, acrescenta o representante do CFF.

O conselheiro também analisa como será o consumidor do futuro. “Podemos dizer que o consumidor é cada vez mais consciente e crítico. A disputa por preços baixos já não é o ponto mais importante para a conquista e fidelização do consumidor. Estruturas confortáveis, profissionais preparados para cuidar do paciente e a oferta de serviços são fatores indispensáveis para que o estabelecimento farmacêutico prospere, seja uma rede ou uma farmácia de menor porte”, aponta.

No que diz respeito à indústria farmacêutica, representantes do setor também traçam planos para o processo de fabricação, distribuição e comercialização de produtos farmacêuticos. Segundo o vice-presidente institucional da EMS, uma das principais empresas da área, Marcus Sanches, o futuro exige que continuem as apostas na criação de soluções que sejam capazes de auxiliar e atender "as necessidades da classe médica e dos pacientes". "Hoje, o processo de desenvolvimento de medicamentos inovadores na EMS ocorre por meio, principalmente, do Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da EMS no Brasil, que recebe 6% do faturamento anual do laboratório em investimentos e possui mais de 400 pesquisadores. No seu P&D, a companhia trabalha em diferentes frentes de inovação, como a inovação incremental e a inovação com genéricos de alta complexidade. Nos Estados Unidos, a EMS trabalha com uma frente de inovação radical (disruptiva), por meio da Brace Pharma, empresa da EMS fundada em 2013, com foco em trazer terapias inovadoras aos pacientes. Hoje, a Brace possui 13 parcerias vigentes em áreas como oncologia, cardiologia e sistema respiratório e doenças neurodegenerativas, metabólicas e autoimunes", detalha Sanches.

A "Indústria.4.0", de acordo com o representante da EMS, é o que molda, atualmente, o futuro do setor, além de ser uma iniciativa importante para o futuro das companhias. "A modernização das unidades fabris também faz parte dos investimentos em inovação da EMS. A empresa já deu início à adoção da Indústria 4.0 em seu processo de produção, tendo sido a primeira do setor farmacêutico na América Latina a adotar soluções neste modelo. A implementação tem ocorrido, inicialmente, por meio de um projeto-piloto em uma linha de embalagem de medicamentos sólidos e no processo de Gerenciamento da Manutenção, na planta de Hortolândia da EMS. As máquinas conectadas devem tornar a produção do laboratório ainda mais inteligente e eficiente, trazendo um crescimento significativo na capacidade produtiva da empresa nos próximos 3 a 5 anos. A utilização da inteligência artificial na indústria tem uma série de pontos positivos, como ganho de eficiência, elevação da produtividade, economia e otimização dos recursos, entre outros.

Em entrevista ao LeiaJá, o CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto, também revelou suas projeções para o setor. Segundo Barreto, as grandes redes deverão continuar apresentando números considerados positivos e prezando por melhorias em prol da relação com os clientes. Confira:

LeiaJá: Hoje o setor farmacêutico tenta se fortalecer como um espaço de saúde por meio dos espaços de saúde instalados nas próprias lojas. Pensando no futuro, o senhor acredita que essa estratégia será consolidada e ampliada, por exemplo com a participação de médicos nas farmácias? O que o senhor prevê para a relação farmácia e saúde?

CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto: Isso já é uma realidade. As farmácias estão se tornando a porta de entrada do sistema de saúde para a população brasileira, atuando no incentivo à adesão ao tratamento, na identificação de risco e na prevenção de doenças por meio da aplicação de vacinas.

Desde o lançamento do programa de Assistência Farmacêutica Avançada pela Abrafarma, em 2014, as salas clínicas vêm registrando um crescimento exponencial. Só no primeiro semestre deste ano, o número de consultas para serviços farmacêuticos aumentou 62% em relação ao mesmo período de 2018. Foram realizados 862.623 atendimentos. As grandes redes que integram o projeto já contabilizam 2.964 espaços do gênero, um incremento de 9,4%. Somente no ano passado foram realizados mais de 2,4 milhões de serviços especializados nesses novos espaços. Entre os serviços mais demandados, destaque para os testes de colesterol e de perfil lipídico, que são realizados por mais de 300 farmácias em todo o Brasil.

Trata-se de um recurso que facilita a interação dos profissionais de saúde com os pacientes e desafoga o sistema público. É super prático para quem precisa resolver problemas simples, mas não tem tempo de ir a um hospital. Além disso, o atendimento profissional pode estimular o paciente a exercitar o autocuidado.

O farmacêutico e o médico atuarão de forma colaborativa. Mas é bom ressaltar que o serviço de assistência farmacêutica não substitui o médico, mas funciona e seguirá atuando como um elemento complementar para orientar e garantir maior adesão ao tratamento.

LeiaJá: E em relação à tecnologia? Quais são os rumos das grandes redes de farmácia nesse sentido, tanto no processo de comercialização dos produtos, como também na relação com seus funcionários, principalmente os farmacêuticos?

CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto: O momento atual do grande varejo é de investir em transformação digital, melhorar a jornada do paciente e os serviços clínicos nas lojas. O atendimento mudará bastante nos próximos anos, caminhando para um modelo mais proativo na oferta de soluções digitais, com um sistema integrado de informações, que estará acessível aos pacientes: haverá cada vez mais ofertas personalizadas, curadoria de doenças e ofertas de serviços de prevenção. E tudo isso na palma da mão do consumidor, com base em sua jornada individual de compra.

Os serviços clínicos oferecidos nas farmácias também serão influenciados. Muito em breve será possivel realizar pequenos check-ups e testes laboratoriais para o acompanhamento de doenças. É de se esperar também que os aplicativos e sistemas de atendimento das redes se integrem ao prontuário dos pacientes, aprimorando a interação medicamentosa.

A área de e-commerce também tem sido alvo de investimento constante de nossos associados. Entendemos que o consumidor é cada vez mais omnichannel, que busca experiências sem fricção, e quer maior comodidade. Então, todos os processos estão sendo revistos para integrar o negócio de tijolos ao digital. Daqui a alguns anos também poderemos falar em telemedicina, que teria o papel fundamental de desafogar nosso sistema de saúde, evitando consultas e exames desnecessários.

LeiaJá: Os não medicamentos continuam sendo muito vendidos nas grandes redes. Isso deve continuar ou novos produtos serão acrescentados às prateleiras?

CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto: A categoria continua expressiva, representando em torno de 33% do faturamento total das 25 redes, sobretudo agora, quando está em curso uma retomada de consumo dos não medicamentos (itens de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos), que estava estagnado nos últimos anos por causa do cenário de recessão.

Porém, atualmente, os medicamentos isentos de prescrição (MIPs) são o segmento de maior influência. O faturamento com a venda desses produtos aumentou quase 20% nas grandes redes. Como podemos observar na tabela abaixo, entre janeiro e agosto deste ano, as redes afiliadas à Abrafarma registraram um faturamento de R$ 34,69 bilhões, índice 10,22% maior que o do oito primeiros meses do ano passado. O percentual supera o crescimento de 7,86% obtido entre janeiro e agosto de 2018, estimulado principalmente pela venda dos MIPs e dos não medicamentos.

Também vale destacar outras duas categorias. O cuidado ao paciente (PAC) e os Nutricionais (NTR). No período de julho/2018 a julho/2019, o faturamento dessas categorias registrar aumento de 17,2% e 12,4%, atingindo R$ 4 bilhões e R$ 6,9 bilhões, respectivamente. 

LeiaJá: Apesar da crise, as grandes redes continuaram aumentando o número de lojas e faturamento. Em termos econômicos, quais são as suas previsões para o setor?

CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto: As redes associadas encerrarão o ano com um desempenho positivo. O faturamento ultrapassará R$ 50 bilhões, com crescimento acima de 10%. Ao fim de 2019, o segmento chegará a um market share total de 44%, mesmo com menos de 8 mil lojas de um total de 78 mil farmácias existentes no país. Para 2020, projetamos um faturamento próximo dos R$ 55 bilhões, se mantido o ritmo de crescimento.

Grandes redes de farmácias devem melhorar faturamento em 2019 na comparação com o ano anterior. (Foto: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens).

LeiaJá: Por fim, como o senhor prevê o consumidor de produtos farmacêuticos? Qual será o perfil e suas necessidades? O que o segmento precisa mudar para continuar forte na economia brasileira?

CEO da Abrafarma, Sergio Mena Barreto: Um consumidor cada vez mais omnichannel, empoderado e mais exigente. Ele é o centro das decisões e estratégias de negócios das redes. Mas o segmento varejista deve continuar perseguindo melhorias no nível de serviço, com oferta de produtos correta. Também têm de apostar na customização de ofertas para um perfil específico, tendo por objetivo aumentar o volume da cesta de compra, ampliando o tíquete médio geral da loja.

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Concentradas em áreas de grande concentração, farmácias investem em serviços para vencer concorrentes. (Foto: Chico Peixoto/LeiaJáImagens).

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Uma farmácia a cada 175 metros. Essa é a média de unidades encontradas em um trecho de apenas 1,4 km da Avenida Conselheiro Rosa e Silva, uma das principais vias da Zona Norte do Recife. Longe de serem frequentadas apenas por clientes em busca de medicação, elas desafiam a crise econômica e continuam em expansão, buscando inovar no repertório de produtos. De acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), as 25 maiores varejistas do país registraram um faturamento de R$ 25,5 bilhões no primeiro semestre de 2019, índice 9,7% maior que o do mesmo período do ano passado, alavancado, sobretudo, pelas venda dos medicamentos isentos de prescrição (MIPs) e pelas mercadorias conhecidas no jargão do setor como “não medicamentos”- isto é, itens de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos.

O conselheiro federal de economia e professor do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lauro Chaves Neto, defende que, para iniciar o debate sobre a expansão do varejo farmacêutico, é necessário compreender a transformação econômica pela qual o Brasil passou após a aplicação do Plano Real. “A partir daí, houve um inegável ganho de renda da maior parte da população brasileira, aumentando o poder aquisitivo das classes mais pobres. Pessoas que dependiam exclusivamente de fornecimento nos postos de saúde passaram a frequentar as farmácias”, introduz Chaves. O economista também associa o fenômeno à mudança nas configurações familiares. “Antigamente as famílias eram maiores, hoje muitas pessoas vivem sozinhas, em unidades habitacionais cada vez menores, sem tanto espaço para armazenar as coisas. Isso aumenta a necessidade de compras de conveniência”, completa.

Aposentada, Letícia Danzi sempre vai à farmácia, mas raramente em busca de remédios. (Rafael Bandeira/LeiaJá Imagens)

Com o aumento do ritmo de vida nas grandes cidades, ir a um supermercado para comprar apenas um shampoo ou pasta de dente parou de fazer sentido para boa parte dos consumidores. De acordo com a Abrafarma, o lucro obtido com a comercialização dos não-medicamentos saltou de R$ 4.906.062.751, em 2018, para R$ 5.423.697.005 em 2019, um aumento de 10,55% em apenas um ano. Desta forma, os não-medicamentos são responsáveis por cerca de 32% das vendas do setor. “Normalmente, as farmácias estão localizadas em espaço de grande circulação. Elas viraram lojas de conveniência, oferecendo refrigerante, chocolate e recarga de celular. São estabelecimentos que também investiram na prestação de serviços para aumentar a circulação”, reforça Chaves. O economista também associa o fenômeno à mudança nas configurações familiares. “Antigamente as famílias eram maiores, hoje muitas pessoas vivem sozinhas, em unidades habitacionais cada vez menores, sem tanto espaço para armazenar as coisas. Isso aumenta a necessidade de compras de conveniência”, completa.

Sempre na farmácia, nunca em busca de remédios, a aposentada Letícia Danzi aproveita uma unidade na rua de casa para fazer pequenas compras sem a fila do supermercado. “Compro fixador, tinta de cabelo, sabonete líquido para as netas...Sempre na farmácia. Graças a Deus, não preciso de remédio”, comemora. Já a vendedora Maria Severina Joaquim costuma frequentar as drogarias em busca de produtos de higiene pessoal. “Eu tenho só uma hora de intervalo, então não dá para me deslocar para um lugar distante e demorar na compra. Por uma questão de tempo, venho à farmácia”, completa.

Para Lauro Chaves, o exemplo de Letícia dá pistas sobre o futuro do setor farmacêutico. “A chave da questão é a inovação. Se as farmácias continuassem como eram há vinte ou trinta anos atrás teriam perdido muito mercado. A enorme concorrência força as empresas a procurarem diversificar e melhorar os serviços, como entrega, atendimento e segurança”, afirma o economista.

O presidente da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, defende ainda que os preços dos não medicamentos não sofrem interferência do governo federal e que as vendas dos remédios cresceram (8,10%, de 2018 para 2019) porque os consumidores estão mais preocupados com a saúde. “A população está envelhecendo e está tomando ciência da importância do autocuidado para prevenção de doenças e administração de pequenos sintomas”, argumenta. Neste ano, o varejo farmacêutico já vendeu R$ 25.502.064.602 produtos, contratou 3.828 colaboradores e abriu 428 novas lojas, representando o último número um crescimento de 6,65% em relação a 2018. 

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a proporção entre o número de farmácias e o de habitantes de uma cidade seja de, no máximo, uma para cada oito mil. No ano de 1996, a Câmara Municipal de Cuiabá (MT) chegou a aprovar um projeto de lei que limitava a distância mínima entre farmácias a 150 metros de distância. Em 2005, o então prefeito do Rio de Janeiro César Maia (DEM) estabeleceu que pelo menos 200 metros deveriam separar um estabelecimento do setor do outro, regra revogada na gestão de Eduardo Paes (PMDB). “A distância tem que ser até maior. O governo precisaria fazer um mapeamento e ver a necessidade de farmácias para a atender a cada região, estabelecendo uma legislação. Países como Holanda, Alemanha, Dinamarca e Suécia regulamentam isso”, argumenta professor aposentado do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP) e do curso de extensão em Uso Racional de Medicamentos, ministrado na instituição, Moacyr Aizenstein

Lauro Chaves também traz uma visão sobre o setor. “Deverá haver algum tipo de seleção natural do mercado, ou seja, com o tempo, algumas farmácias vão sobreviver e outras não. Localização, serviço e conveniência serão os critérios do consumidor para definir o destino de cada estabelecimento, porque os produtos em si são iguais, neste caso”, acredita o economista. Não é a toa que as esquinas entre vias importantes costumam ser os locais mais disputados pelas empresas do setor. “São as ‘cornershops’ (do inglês, lojas de esquina), que têm maior visibilidade e pegam o fluxo de mais de um rua, gerando mais estímulo de compra. A facilidade no estacionamento é um grande diferencial, assim como a entrega em domicílio”, completa. Chaves

Chaves aposta que, a longo prazo, mesmo as farmácias que primam pelo serviço de qualidade precisarão continuar inovando. “O cenário que vemos para o futuro é o de uma geração que busca uma vida mais saudável e sustentável, praticando atividades físicas e pondo em prática novos hábitos de consumo. Caso o consumo de remédios caia, a farmácia não precisa perder, ela pode entrar nesse outro mercado”, conclui.

Outra clara tendência do mercado é a fusão entre grandes empresas do setor. De acordo com a KPMG, que realiza a Pesquisa de Fusões e Aquisições no Brasil, 967 fusões foram concretizadas no varejo em geral, o equivalente a um crescimento de 16,5% transações do tipo em relação a 2017, um recorde histórico. No final de 2011, as drogarias Raia e Drogasil transformaram-se na poderosa rede Raia Drogasil, que atualmente está presente em 22 estados brasileiros, empregando mais de 36 mil funcionários em mais de 1900 lojas, sendo abertas, em média, 22 delas por mês.

“Aquele momento era propício para as duas empresas se unirem e formarem uma única empresa de varejo farmacêutico, muito mais forte, mais experiente e com capacidade de atuação em todo o território nacional. Os resultados foram ótimos”, garante o presidente da Raia Drogasil, Marcílio Pousada.

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Novo farmacêutico está transformando clientes em pacientes

As projeções do segmento farmacêutico

A discussão em torno da liberação da Cannabis medicinal nunca esteve tão em alta como nos últimos meses. A nova regulamentação da ANIVSA que deve aumentar o acesso de pacientes a medicamentos com base na planta é visto como um avanço para especialistas, médicos e, principalmente, pacientes.

Atualmente, já é possível que um paciente doente acesse o remédio a partir de um pedido que deve ser feito junto à ANVISA e que deve reunir pelo menos quatro formulários, como, por exemplo, o termo de responsabilidade, formulário de solicitação, laudo médico e a receita. 

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No entanto, ainda que os pedidos junto à agência reguladora tenham aumentado significativamente em 2019, o número de médicos que prescrevem medicamentos à base de Cannabis medicinal ainda é tímido. Cerca de mil médicos, em um universo de 400 mil profissionais da saúde no Brasil, receitam medicamentos à base Cannabis medicinal no país, segundo um levantamento realizado pelo conselho médico da OnixCann, healthtech brasileira, que recentemente lançou uma plataforma que deve ampliar o conhecimento da classe médica sobre o uso da Cannabis medicinal no Brasil e no mundo.  

Chamada de CanTera, a plataforma se baseia em um banco de dados global com estudos científicos, referências bibliográficas e protocolos médicos que auxiliam o médico na escolha do melhor tratamento a ser prescrito ao paciente.

Todo o levantamento de dados inseridos na plataforma é validado e acompanhado por um conselho médico da OnixCann, formado por especialistas, nas mais diversas áreas de atuação, como Oncologia, Neurologia, Hematologia, Geriatria, Gastroenterologia, entre outros. “A plataforma possibilita o acesso da classe médica a protocolos médicos com indicações terapêuticas à base de Cannabis medicinal, contribuindo para que cada vez mais brasileiros sejam beneficiados por este tipo de terapia, assim como já acontece com outros pacientes ao redor do mundo”, afirma Marcelo Galvão, CEO da OnixCann.  

Além disso, a plataforma, que é disponibilizada ao médico gratuitamente, indicará qual a melhor posologia para o tratamento e qual empresa farmacêutica no mundo tem disponível o medicamento com a dosagem necessária. “Investimos U$S 2 mi nessa ferramenta que tem no Big Data o seu maior diferencial. Em questão de minutos o médico consegue, após o seu diagnóstico técnico, apresentar ao paciente o melhor tratamento possível para seu trauma”, destaca Marcelo Galvão.

“Nosso objetivo é entregar aos médicos o que há de mais atual no mundo em relação a estudos sobre o uso de Cannabis medicinal e estimular que cada vez mais profissionais prescrevam medicamentos à base de Cannabis medicinal, devolvendo bem-estar e qualidade de vida aos pacientes”, finaliza.

Outra inovação oferecida por CanTera ao médico é possibilidade de elaborar, em poucos minutos, todos os formulários necessários para que o paciente possa fazer o pedido de liberação junto à Anvisa. 

A plataforma foi lançada em junho deste ano e já está disponível para uso. Para solicitar o acesso, é necessário que o médico acesse o site www.canteramed.com, faça o cadastro e aguarde a liberação pelo conselho médico da empresa. 

Da assessoria

O Ministério da Saúde disse nesta terça-feira, 16, que, para garantir que não faltem medicamentos de distribuição obrigatória no Sistema Único de Saúde (SUS), os remédios que eram fornecidos por laboratórios públicos e tiveram contratos suspensos serão adquiridos da iniciativa privada.

O jornal O Estado de S. Paulo revelou que a pasta suspendeu, nas últimas três semanas, contratos com 7 laboratórios públicos nacionais para a produção de 18 medicamentos e uma vacina distribuídos gratuitamente pelo SUS. Documentos obtidos pelo Estado apontam que houve suspensão de projetos de Parcerias para o Desenvolvimento Produtivo (PDPs) destinados à fabricação de remédios para pacientes que sofrem de câncer e diabete, por exemplo.

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Em nota, o ministério justificou que a suspensão das parcerias aconteceu por seis motivos principais: Recomendação de órgãos de controle (como a Controladoria-Geral da União e o Tribunal de Contas da União), decisão judicial, descumprimento de cronograma, falta de avanços esperados, falta de investimentos em estrutura ou solicitação de saída do parceiro privado.

Em nota nesta terça, a pasta disse que a etapa atual permite que os laboratórios públicos apresentem medidas para reestruturar o cronograma de ações e atividades dos contratos suspensos. "Trata-se de uma medida regular e recomendada pelos órgãos de controle, como Tribunal de Contas da União (TCU) e Controladoria-Geral da União (CGU), além de estar prevista no marco regulatório das PDPs e realizada com normalidade. Toda e qualquer parceria que estiver em desacordo é suspensa para avaliação".

A Associação de Laboratórios Farmacêuticos Oficiais do Brasil (Alfob), porém, disse que foi pega de surpresa com as suspensões e vai ingressar com ações na Justiça contra a pasta.

"Para suspender um PDP precisa ter uma avaliação de um comitê técnico, de um comitê deliberativo, ter aprovação do grupo executivo do complexo industrial da saúde", disse à reportagem o presidente da Bahiafarma, Ronaldo Ferreira Dias, que também preside a associação de laboratórios.

"Muitos dos laboratórios estão em fase de importação de insumo, ou desenvolvendo tecnologias," afirmou Dias. Segundo o ministério, cinco das parcerias suspensas estavam em fase avançada para a aquisição dos medicamentos produzidos. O ministério informou ainda que vem realizando compras desses produtos "por outros meios previstos na legislação", como pregões, licitações (ou dispensa desses processos) e outros mecanismos.

Economia

De acordo com cálculos da associação de laboratórios públicos as PDPs significaram, ao longo dos últimos oito anos, em mais de R$ 20 bilhões em economia para o Tesouro Nacional.

Por isso, para a entidade, a suspensão de 19 contratos "não apenas coloca em risco o abastecimento de medicamentos estratégicos", mas também difere dos esforços de outros ministérios de aquisição de tecnologia pela indústria nacional.

Problemas recorrentes

Defendidas por especialistas em inovação como um caminho para modernizar laboratórios públicos nacionais, as Parcerias de Desenvolvimento Produtivo (PDPs) têm acumulado problemas em sua execução no País. Segundo dados do próprio Ministério da Saúde, não é a primeira vez que convênios do tipo são suspensos. Desde 2015, 46 PDPs já foram interrompidas. Hoje, 87 estão vigentes.

Em uma PDP, a farmacêutica privada firma acordo com o ministério, comprometendo-se a repassar a um laboratório público, em um período de cinco anos, tecnologia para a produção de um determinado produto. O laboratório privado, por sua vez, recebe como contrapartida a garantia de tornar-se o único fornecedor daquele item ao ministério durante os cinco anos da parceria.

No Brasil, as PDPs sofrem com as condições precárias de alguns laboratórios públicos, que nem sempre conseguem alcançar estrutura e tecnologia adequadas para assumir a produção dos medicamentos. Outro problema é que, ao fim da PDP, o produto foco da parceria pode já estar com a tecnologia ultrapassada. Para Fadlo Fraige Filho, presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabete (Anad), esse é o caso das insulinas que tiveram os contratos suspensos. "Insulinas de NPH são tecnologias antigas, de 30 anos atrás. Não há necessidade de o governo investir em uma fábrica que produz insulina de tecnologia ultrapassada", defendeu ele, que não vê risco de desabastecimento.

Outro que acredita que a suspensão não afetará pacientes é Carlos Varaldo, do Grupo Otimismo de Apoio a Portadores de Hepatite. Ele diz que o sofosbuvir, usado no tratamento da hepatite C, que também teve seu processo de PDP suspensa, tem estoque garantido por um pregão realizado no início do ano. "Não nos interessa se é medicamento de PDP ou de marca. Queremos preço justo. Sou a favor (das PDPs), mas todo ano deveria ter uma licitação e, se houver medicamento mais barato, baixar (o preço)." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Uma paciente que sofre de hipertensão estava enfrentando dificuldades para tomar as medicações de forma correta. O motivo? Analfabetismo. A senhora, de quase 60 anos, precisava conter a pressão para fazer a extração de um dente. Observando a dificuldade da paciente, o cirurgião dentista Ricardo Cayres fez uma ilustração para auxiliar a mulher. Essa atitude postada pelo profissional bombou nas redes sociais.

Da primeira vez que a paciente procurou o dentista, ele recomendou que ela procurasse um médico para avaliar o seu quadro de saúde - já que ela era hipertensa e precisava estar com sua condição normalizada.

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"Ao retornar ao consultório ela trouxe algumas embalagens de dois tipos diferentes de remédios para pressão, prescrita pelo médico do posto de saúde", revela Ricardo Cayres. Ele complementa dizendo que ao examinar a paciente, ela ainda estava com a pressão alta.

Ao lembrar que a idosa não havia assinado um prontuário, revelando ser analfabeta, Ricardo criou a ilustração para auxiliar a paciente. "Um pouco de boa vontade, criatividade e humanização foram suficientes para eu criar esse esqueminha. Montei na mesma hora, imprimi, e a fiz entender, repetir, garantir que de fato ela entendeu, e só então ela foi liberada. Em breve, ela retornará para continuarmos os nossos procedimento (sic)", pontua.

O Poupatempo de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, passa a fornecer gratuitamente medicamentos de alto custo e controlados. A distribuição está vinculada aos critérios dos protocolos clínicos de cada doença, definidos pelo Ministério da Saúde.

Para ter acesso é necessário apresentar documentos pessoais, receita médica e exames específicos para cada situação. A cada 90 dias, o usuário deve renovar a solicitação dos medicamentos.

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O projeto "Farmácia de Medicamentos Especializados" no Poupatempo São Bernardo faz parte do plano para descentralizar a distribuição desse tipo de remédio na região do ABC, atualmente realizada no Hospital Mario Covas, em Santo André. O projeto quer atender 35% do público da região que, atualmente, recorre ao serviço da farmácia do hospital.

Serviço

Poupatempo São Bernardo do Campo

Endereço: Rua Nicolau Filizola, 100, Centro

De segunda a sexta-feira, das 7h às 19h, e aos sábados das 7h às 13h

Aposentados e pensionistas que ganham até o teto estabelecido pelo Regime Geral da Previdência Social (RGPS) poderão ter desconto de 50% na compra de medicamentos. O benefício, a ser subsidiado pelo governo federal, está previsto no Projeto de Lei do Senado (PLS) 235/2018, aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta quarta-feira (10). A proposta segue para a Câmara dos Deputados.

PLS 235/2018 altera a Lei Orgânica da Saúde (Lei 8.080, de 1990) e foi apresentado pelo senador Paulo Paim (PT-RS). A proposta mantém duas ações já adotadas pelo Programa Farmácia Popular, mantido pelo Sistema Único de Saúde (SUS): fornecimento gratuito e subsidiado na compra de medicamentos com base em critérios epidemiológicos.

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“É necessário ampliar a abrangência do Programa Farmácia Popular para beneficiar esse segmento da nossa população [aposentados e pensionistas], independentemente das moléstias de que padecem. Por isso, propomos criar uma terceira modalidade para fornecer a esse segmento o acesso a medicamentos a baixo preço, mediante subsídios que lhes possibilitem adquirir quaisquer remédios que lhes sejam prescritos com desconto de 50% no preço de referência”, destacou Paim.

Diabetes e IR - Portadores de diabetes mellitus poderão conquistar o direito à isenção de Imposto de Renda (IR) sobre os proventos de aposentadoria ou reforma. O benefício está previsto no Projeto de Lei (PL) 585/2019, do senador Alvaro Dias (Pode-PR), também aprovado pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS), nesta quarta-feira (10).

A proposta muda a Lei 7.713, de 1988, que dispõe sobre a legislação do Imposto de Renda, com efeitos no primeiro dia do ano seguinte à sua conversão em lei. O relator, senador Romário (Pode-RJ), considerou a medida importante para a promoção da saúde e aumento da qualidade de vida dos diabéticos no Brasil.

O projeto seguiu para análise final da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Da Agência Senado

O uso indevido de medicamentos, sem ajuda de um profissional, é muito frequente, mas prejudicial à saúde. A professora e coordenadora do curso de Farmácia da UNAMA - Universidade da Amazônia, farmacêutica Marcella Almeida, alerta sobre os riscos da automedicação e orienta sobre o caso de venda indevida de remédios controlados. “A venda não autorizada de medicamentos controlados é considerada um tráfico de drogas”, disse Marcella Almeida. 

A maneira correta de adquirir remédios é com prescrição médica. O uso sem a receita médica, adverte Marcella, é um risco para a saúde das pessoas. “Isso acontece continuamente dentro das farmácias. Muitos medicamentos hoje, no Brasil, são vendidos sem receita, até mesmo aqueles que precisam de receita médica, isso é uma prática que infelizmente ocorre no nosso país.”

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Para entender melhor sobre o assunto, o LeiaJá entrevistou Marcella Almeida. Siga a entrevista na íntegra.

LeiaJá - Que cuidados as pessoas precisam ter ao comprar medicamentos?

Marcela Almeida  - O primeiro cuidado que devemos ter é comprar em um local com orientação do médico ou farmacêutico. Quando vamos fazer a automedicação, aqueles remédios para sintomas comuns como a dor de cabeça, a febre, a gripe e o resfriado, que estão tendo agora nessa época do ano, a gente precisa sempre ter a orientação dos farmacêuticos porque ele irá indicar um medicamento correto. O ideal é sempre buscar a ajuda deste profissional para fazer o uso do medicamento correto.

LeiaJá - O uso de medicamentos sem receita é um risco para as pessoas?

Marcela Almeida  - Isso acontece continuamente dentro das farmácias. Muitos dos medicamentos vendidos hoje no Brasil são vendidos sem receita, até mesmo aqueles que precisam de receita médica, isso é uma prática que infelizmente ocorre no nosso país. O ideal é que sempre se tenha orientação. O profissional farmacêutico precisa estar presente para tirar dúvidas de como se deve usar o medicamento, como armazenar, e principalmente, no final da medicação, como você deve descartar.

LeiaJá - Qual o papel do farmacêutico? De que forma ele contribui para a indicação de medicamentos?

Marcela Almeida  - Hoje, o papel do farmacêutico tem uma nova cara. Além de ter a capacitação para indicar e orientar sobre a medicação, ele também está habilitado para fazer outros serviços, como orientação da glicemia, da pressão arterial, o que o paciente pode associar com outros medicamentos. Nas grandes redes de farmácias ainda observamos esse papel do farmacêutico. Já nas farmácias menores, em que o farmacêutico geralmente é dono, a gente não vê essa práatica com tanta rotina, mas existe.

LeiaJá - É frequente as pessoas procurarem a ajuda de um farmacêutico para usarem determinados medicamentos em vez de procurar um médico?

Marcela Almeida  - Existem algumas situações que fazem a população procurar diretamente o profissional farmacêutico. Uma muito comum é o acesso da população aos serviços de saúde, principalmente quando eles utilizam o serviço público, pelas dificuldades e filas. Por nós termos farmácias em cada esquina e sempre ter a presença do farmacêutico, isso faz com que eles nos procurem para indicar medicamentos, ainda mais quando são para pequenos males como dor de cabeça, diarreia, problemas dermatológicos. Eles geralmente nos procuram pela facilidade de ter um profissional farmacêutico sempre perto e muito mais acessível. Hoje nós temos respaldadas pela legislação as consultas farmacêuticas. Foi o que o nosso Conselho Federal de Farmácia conseguiu em uma luta de anos, para regulamentar uma prática que já fazíamos informalmente. Porém, essa consulta farmacêutica sempre estará relacionada aos medicamentos e não a diagnosticar uma doença.

LeiaJá - A senhora acha que as pessoas precisam ser mais informadas sobre o risco de se automedicarem?

Marcela Almeida  - Com toda certeza. Apesar de a gente já ter várias propagandas, inclusive do Ministério da Saúde, quem acompanha nas redes sociais verifica que uma vez ou outra tem umas chamadas em relação à automedicação. Mas isso é uma prática cultural do país. A gente se automedica e ainda indica para o vizinho, o pai, a mãe. Se a automedicação for orientada por um farmacêutico, ela é segura; mas se for por pessoas leigas, isso traz um sério risco à saúde. A maioria dos registros por intoxicação é por medicamentos, está registrado no banco de dados do Ministério da Saúde, e umas das primeiras causas de internação de crianças e idosos. A automedicação precisa ser levada a sério e a população precisa ser informada.    

LeiaJá - Nos dias de hoje, vemos casos de suicídios através da automedicação. Se alguém chegar a uma farmácia para comprar várias medicações tarja preta, o profissional tem como identificar? De que forma?

Marcela Almeida  - Existe, sim, essa possiblidade. Quando a pessoa tem a intenção de utilizar medicamentos com o intuito de suicídio ela sempre vai buscar uma grande quantidade de medicamentos ou medicamentos mais fortes, que são os de tarja preta ou controlados, mas somente o farmacêutico pode vender. Nem o balconista pode vender e tem que ter a receita médica, o que inibe a venda desses tipos de medicamentos. Porém, se a pessoa já faz a utilização desses medicamentos, existe um grande risco de ela usar o próprio medicamento do tratamento, como pacientes que têm depressão ou ansiedade. Por isso a grande importância desse profissional estar sempre junto nas farmácias, orientando.

LeiaJá - Referente às farmácias clandestinas, já se ouviu algum caso de venda de remédios controlados de forma indevida?

Marcela Almeida  - Em relação aos medicamentos controlados, as farmácias precisam de uma autorização da Vigilância e o Conselho precisa estar respaldado. Em Belém, a nossa fiscalização é muito atuante nesse papel. Temos fiscalização frequente e isso vem se expandindo no Pará inteiro, graças à ação do nosso Conselho. A venda não autorizada de medicamentos controlados é considerada um tráfico de drogas.

LeiaJá - São grandes os problemas com medicamentos?

Marcela Almeida  - Sim, muitos, principalmente em pessoas que têm uma doença de base, como os hipertensos, os asmáticos, os diabéticos, que já fazem a utilização de uma determinada medicação e acabam, pela automedicação, tomando outros. E esses trazendo novos problemas ou agravando o problema que o paciente já tem. Essas informações dos medicamentos são mapeadas para que assim a gente possa ter uma noção de quais os problemas estão acontecendo dentro da população.

Por Suellen Cristo.

 

O preço dos remédios vendidos no país pode aumentar até 4,33% a partir desta segunda-feira (1º). O valor, definido pela Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos, ficou acima da inflação de 2018, que fechou o ano em 3,75%.

De acordo com o Ministério da Saúde, o percentual é o teto permitido de reajuste. Cada empresa pode decidir se vai aplicar o índice total ou menor. Os valores valem para os medicamentos vendidos com receita.

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Ainda segundo a pasta, o cálculo é feito com base em fatores como a inflação dos últimos 12 meses – o IPCA, a produtividade das indústrias de remédios, o câmbio e a tarifa de energia elétrica e a concorrência de mercado.

A Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos publica, todo mês, no site da Anvisa, a lista com os preços de medicamentos já com os valores do ICMS – o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços, que é definido pelos estados.

As empresas que descumprirem os preços máximos permitidos ou aplicarem um reajuste maior do que o estabelecido podem pagar multa que varia de R$ 649 a R$ 9,7 milhões.

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